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AULA 5 – NOÇÕES DE ATUÁRIA

1. Conceitos e características dos seguros

Tão importante quanto compreender a atividade do atuário é o entendimento sobre


seu objeto de trabalho, ou seja, sobre o conjunto de informações com as quais lida em
seu cotidiano.
Sabemos que o cálculo do valor a ser pago por um seguro é um dos objetivos da
atuária. Agora, você verá alguns dos aspectos principais sobre os elementos e variáveis
que compõem esse cálculo.
Quando alguém faz a contratação de um seguro, seja para a garantia de
ressarcimento do capital no caso de roubo ou deterioração, seja para a garantia de uma
reserva financeira para os herdeiros, no caso do seguro de vida, o contratante paga um
valor por essa garantia. Esse valor é denominado de prêmio de seguros.
O prêmio de seguros é, portanto, o valor pago pelo contratante do seguro de tal
forma que lhe seja garantido o ressarcimento do valor do capital no caso de roubo ou
deterioração, ou o pagamento a título de indenização aos herdeiros no caso de morte
do segurado.
A dinamicidade do mercado de capitais, no que se refere à compra e venda de
títulos, tem incentivado a criatividade das empresas de seguro. O grande número de
compras e recompras de dívidas oriundas de financiamentos diversos, somados ao
estiramento dos prazos dos financiamentos derivado da estabilidade econômica dos
países desenvolvidos e eminência de estabilidade nos países emergentes, como é o caso
do Brasil, fez crescer a oferta de outros tipos de seguros além dos já conhecidos de
bens de capital e de vida.
O pagamento do prêmio de seguros pode ser entendido como um prêmio pago
pela transferência de risco ao qual o contratante de uma empresa de seguro está
sujeito. Esse é o negócio desse tipo de empresa, ou seja, vender o serviço de assumir
riscos no lugar de seus contratantes.
Na verdade, muitas operações podem ser consideradas um seguro, mesmo na
hipótese de não funcionarem como um seguro convencional. Isso ocorre, por exemplo,
no caso dos planos de previdência quando há a figura dos benefícios de risco.
Na prática, esses benefícios funcionam como um seguro. Para comprá-los, você
faz uma contribuição extra, que é cobrada junto com os aportes mensais ao plano. Entre
as possibilidades estão o pecúlio (importância em dinheiro paga aos beneficiários do
titular do plano), a pensão aos filhos menores ou pensão vitalícia ao cônjuge.
Todo o processo de contratação e elaboração das cláusulas contratuais de um
seguro se dá em cima de expectativas e previsões, uma vez que ocorre antes da
ocorrência do fato negativo objeto do seguro.
De uma forma simplificada, a expressão que representaria a relação entre o prêmio
e os desembolsos de uma empresa seguradora seria:

Valor dos prêmios = Expectativa de desembolso

A expressão acima demonstra o equilíbrio entre a somatória dos prêmios e a


expectativa de desembolso calculada atuarialmente.
Destaca-se que os cálculos atuariais desenvolvidos no caso de seguros estão muito
atrelados ao evento risco e derivam de contribuições de muitas décadas de estudos,
envolvendo aplicação de metodologias de cálculos de probabilidades e estimativas de
ocorrências de eventos.
Muitas têm sido as contribuições no campo da teoria do risco intimamente
relacionada com a área das ditas matemáticas atuariais. Podemos atribuir a Sir Edmund
Halley (sec. XVII) a primeira contribuição de relevo, com a construção da primeira
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tabela de mortalidade, permitindo o tratamento e cálculo dos valores de anuidade no


ramo do seguro vida, o campo clássico de aplicação. Posteriormente, no sec. XVIII,
Daniel Bernoulli, deu a sua contribuição relevante, através do desenvolvimento da ideia
de maximizar a utilidade esperada com regra de decisão.
Além da expectativa de desembolso que dá base à determinação do valor do
prêmio, outros componentes o integram:
 Valor do carregamento — que compreende às despesas administrativas,
custos com corretagem, impostos e também o lucro esperado pela seguradora.
São elementos que não estão diretamente relacionados ao risco, mas, sim, à
manutenção da continuidade do negócio da seguradora.
 Fator financeiro — é a aplicação de taxas de descontos e juros de forma a
igualar o valor dos prêmios pagos no tempo atual com o valor dos benefícios
estimados no tempo futuro. Esse processo se dá pela aplicação dos fatores
financeiros sobre a tábua biométrica (tábua de vida), no caso dos seguros de
vida, visando levar e trazer a valores presentes o prêmio pago e os desembolsos
previstos.

Como se pode perceber, o fator de maior relevância no caso de seguro de vida é


a expectativa de vida do segurado, mas outros fatores podem contribuir
concomitantemente para o cálculo do valor do prêmio.
A seguir, se abre uma espécie de parênteses no assunto prêmio de seguros para
que possamos analisar alguns problemas ocasionados pela não observação dos aspectos
técnicos e formais previstos nos regulamentos da área de seguros.
Para que possamos compreender essa importante atividade empresarial,
precisamos conhecer algumas características que lhe são peculiares.
Assim como em cada atividade, detalhes às vezes as tornam diferentes umas das
outras, exigindo que os profissionais que nelas atuam, bem como os demais indivíduos
que com elas se relacionam tomem conhecimento a fim de se evitar problemas e
garantir uma gestão eficaz da atividade, seguros possuem características importantes
que devem ser observadas.
Desde o início da humanidade, desde o momento que o homem passou a se
conhecer como tal, parece evidente que ele também obteve a consciência de que para
sobreviver é necessário que se assumam riscos de todas as formas e intensidades
dependendo do momento e das circunstâncias.
Na verdade, o maior objetivo que a maioria das pessoas de nossa sociedade busca
em muitos momentos é fugir, contornar as situações de riscos. Porém, infelizmente, a
vida em suas várias perspectivas (profissional, familiar, social etc.) nos mostra que é
infrutífera a fuga em relação aos riscos que nos surgem cotidianamente.
Torna-se necessário enfrentarmos esses riscos se quisermos realmente evoluir
enquanto pessoas, profissionais, cidadãos, enfim, é necessário superar as situações
adversas.
Ocorre que a luta pelo enfrentamento do risco em muitos casos é solitária e sofrida
a ponto de custar mais do que estamos dispostos ou temos condições de suportar; os
mecanismos que nos permitem dividir os riscos podem ser úteis nesse sentido.
Ao dividirmos ou distribuirmos nossos riscos com mais pessoas que possuem a
mesma característica, acabamos dissolvendo parte do custo que suportaríamos
sozinhos.
Em algumas situações mais radicais, podemos até mesmo fazer a transferência de
nossos riscos para terceiros.
A origem da distribuição dos riscos de perdas pode ser atribuída a muitos fatos em
termos históricos.
Temos, por exemplo, evidências que datam de 2.500 A.C., quando na Babilônia já
se discutia a situação da perda de camelos. Deve-se também aos marinheiros, navega-
dores e comerciantes no auge das grandes navegações contribuições importantes, pois,
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para evitar as perdas com os naufrágios, eles passaram a se reunir de forma a distribuir
seus riscos.
Esse conceito de mutualismo pode ser considerado a origem da ideia do seguro e
significa uma reunião de pessoas a fim de distribuir possíveis perdas entre si, evitando
que tais perdas recaiam sobre um único indivíduo.
Temos justamente nessa ideia o surgimento também dos cálculos probabilísticos
necessários para o estabelecimento do prêmio a ser pago pelos participantes da
associação a fim de garantir as possíveis perdas.
Em sua origem, os prêmios relativos a esses eventos de naufrágio eram calculados
com base na probabilidade de ocorrência do naufrágio e de forma a subsidiar a
recuperação do barco e da carga naufragados.
Em termos simplificados, o processo se dava da seguinte forma: todos os
participantes da associação pagavam uma cota (prêmio) para que, no caso de haver o
naufrágio, aquele que fosse o dono do barco pudesse reaver o valor perdido
correspondente ao barco e à carga transportada.
Em termos conceituais, o que os marinheiros, navegadores e comerciantes fizeram
foi estabelecer um seguro que atualmente envolve pelo menos duas partes. Os
conceitos oficiais desses elementos são:

 Seguro: Contrato mediante o qual uma pessoa denominada Segurador, se


obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a indenizar outra pessoa,
denominada Segurado, do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no
contrato. (CIRCULAR SUSEP 354/07). [...]
 Segurado: Pessoa física ou jurídica que, tendo interesse segurável, contrata o
seguro em seu benefício pessoal ou de terceiro. [...]
 Segurador: Empresa autorizada pela SUSEP a funcionar no Brasil e que,
recebendo o prêmio, assume os riscos descritos no contrato de seguro.
(CIRCULAR SUSEP 306/05). [...]
 Apólice: Documento que formaliza o contrato de seguro, estabelecendo os
direitos e as obrigações da sociedade seguradora e do segurado e discriminando
as garantias contratadas. (CIRCULAR SUSEP nº 308/05). [...]
 Prêmio: Importância paga pelo Segurado ou estipulante/proponente à
Seguradora para que esta assuma o risco a que o Segurado está exposto
(CIRCULAR SUSEP 306/05)

Vale destacar que em determinadas atividades com alto risco existe ainda a figura
do ressegurador, que visa garantir o seguro oferecido pelas seguradoras dessas
atividades.
O resseguro também possui normalização pela Susep e será tratado na seção 3
desta unidade. Como fica evidente, ao compreendermos a função do seguro
infelizmente os eventos que os motivam continuam ocorrendo, ou seja, não é o fato de
fazermos um seguro que elimina o risco de ocorrência do sinistro, o que ocorre é
simplesmente a garantia de reparação do dano. Para entendermos a função dos cálculos
atuariais no que se refere aos seguros, vamos analisar algumas variáveis que
influenciam na determinação do prêmio de seguro e do valor do ressarcimento no caso
de nosso cotidiano?
Vamos analisar, por exemplo, um simples grupo de indivíduos segurados em
relação aos seus veículos.
Qual o comportamento de cada um ao volante?
Todos oferecem o mesmo risco de acidente?
Qual a idade de cada um?
Todos possuem as mesmas condições de saúde ou têm a mesma preocupação
familiar, são mais responsáveis?
Têm filhos? São casados?
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O condutor é o homem ou a mulher?


Se for a mulher e ela não trabalha, geralmente utiliza menos o carro?
Qual o motivo de utilização do veículo?
É para trabalho?
Isso aumenta o risco de exposição do veículo a acidentes?
Onde o veículo fica tem garagem?
Isso reduz o risco de roubo?
Qual a marca e o modelo do veículo?
É um veículo visado por ladrões?
O tipo de combustível do veículo (por exemplo, diesel) o torna mais visado?
Qual o ano de fabricação do veículo?
Ele tem mais chances de quebra com risco de acionamento de mecânicos e demais
benefícios oferecidos pelo seguro?
O veículo possui trava de segurança adicional, travas elétricas nas portas, ou
algum tipo de dispositivo de rastreamento?

Essas e outras questões acabam influenciando nos cálculos de nossos seguros


pessoais devido ao fato de que interferem no nível de risco para a empresa seguradora
de nosso veículo.
São muitas as atividades envolvidas em um contrato de seguro: Realização dos
cálculos atuariais baseados nos dados históricos levanta- dos ao longo do tempo, que
devem servir como fonte para atualizações e remodelagens constantes dos planos de
seguros. Venda, arrecadação, aplicação dos recursos advindos dos prêmios de seguros
pagos pelos contratantes. Prospecção de novos clientes a fim de aumentar o volume de
recursos que garantem as apólices de todos os contratantes. Vistoria dos veículos e
demais bens para averiguação das condições declaradas no ato da contratação. Calcular
e reembolsar todos os casos de sinistros comunicados pelos contratantes, de forma a
não causar descontentamentos e consequente fuga de clientes.
Para atuar nesses processos, todos temos pelo menos as seguintes figuras: a
seguradora, o corpo de funcionários administrativos e os corretores. Algumas
características dos seguros são importantes para que sejam preservadas suas condições
básicas de funcionamento e eficácia como forma de divisão de riscos e garantia
patrimonial. Nesse sentido, o seguro é:

UNIVERSAL — ele se aplica em qualquer parte do mundo e cabe a cada país


regular seu funcionamento segundo os preceitos da divisão do risco conforme vimos.
Ele faz parte da natureza humana que desde sua origem está em meio ao convívio com
o risco e com o objetivo de evitá-lo ou minimizá-lo ao máximo.
COMUNITÁRIO — porque envolve um conjunto de ações em prol do benefício de
cada indivíduo participante da comunidade segurada.
DEMOCRÁTICO — uma vez que até certo ponto está disponível para todos.
ECONOMICAMENTE EFICAZ — porque representa um modelo autossustentável
em termos econômicos, desde que devidamente gerido e amparado pelos cálculos
atuariais.

Podemos considerar que a atividade de seguro é uma forma de contribuição para o


enfrentamento das adversidades de cunho econômico e financeiro, podendo contribuir
para uma maior segurança nos investimentos daqueles que enfrentam altos riscos em
suas atividades.

2. Tipos de seguros públicos e privados


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Temos muitos tipos de seguros e a cada dia surgem novas modalidades oferecidas pelas
seguradoras. Entre as principais, podemos citar.
 Automóvel — que visa à proteção sobre danos ocorridos no veículo, roubo, perda
ocasionada por acidente, indenizações de prejuízos causados pelo veículo perante
terceiros, incluindo despesas medidas, danos morais, danos materiais etc.
 Residencial ou Patrimonial — que objetiva o ressarcimento de valores sobre a
propriedade em situações nas quais estejam envolvidos danos ao patrimônio
segurado que podem ser derivados de: roubo, vendavais, enchentes ou
inundações, incêndio, desmoronamento etc.
 Empresarial (crédito, cível...) — que envolve a cobertura de riscos relacionados
à atividade profissional como, por exemplo, garantia de contratos,
responsabilidades cíveis, danos morais e ou materiais causados pela em- presa,
assédio moral, perdas com créditos oriundos de inadimplência etc.
 Vida e saúde — que diz respeito a indenizações em casos de mortes, invalidez ou
doença do segurado.
 Multirrisco — que contempla várias modalidades de seguros em um único seguro,
no qual são expostas as condições variadas de risco que estão cobertas de acordo
com cada situação etc.

Um tipo especial de seguro que talvez possa ter um significado negativo para
muitos, por envolver o risco de morte, é o denominado seguro de vida.
Em cada etapa de nossa vida temos necessidades e preocupações diferentes.
Portanto, é importante que saibamos onde se encaixa essa figura do seguro de vida
nesse contexto e sua função.
O indivíduo quando jovem possui como principal preocupação suas realizações
imediatistas, sua felicidade que geralmente está amparada em aquisições de bens
básicos como carro, moto, primeiro apartamento etc. Nessa etapa da vida, a maior
preocupação da pessoa talvez seja com ela mesma.
À medida que as pessoas vão envelhecendo e adquirindo novas responsabilidades
familiares, certamente suas preocupações vão se ampliando, o que gera novas
necessidades de segurança, dessa vez envolvendo sua família, que poderá perder muito
em caso de ausência da fonte geradora de renda e de sustentação financeira.
É exatamente nesse contexto que se encontram os seguros de vida, que possuem
várias classes, dependendo do tipo de garantia que se pretende.

 Invalidez — que beneficia o contratante com o pagamento de uma remuneração


ou o pagamento em uma única parcela do valor contratado em caso de perda
total ou parcial da capacidade de trabalho.
 Vida — que beneficia o dependente com o pagamento de uma remuneração ou
o pagamento em uma única parcela do valor contratado em caso de morte do
segurado.
 Acidente — que beneficia o dependente com o pagamento de uma remuneração
ou o pagamento em uma única parcela do valor contratado em caso de acidente
que cause interrupção temporária do recebimento de renda do segurado.

Em termos estruturais, os seguros privados são regulados, como se verá na seção


seguinte, por basicamente dois órgãos: o Conselho Nacional de Seguros Privados —
CNSP — e a Superintendência de Seguros Privados — SUSEP —, sendo que os seguros
privados representam a maior parte do volume de seguros praticados no país.
2.1. Seguros públicos
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Os seguros públicos são aqueles exigidos e geridos pelo poder público com a
finalidade de garantia de direitos da sociedade de modo geral.
Temos como um exemplo de seguro público o seguro contra danos pessoais
causados por veículos automotores de via terrestre — DPVAT.
O famoso, mas nem tão utilizado seguro contra danos pessoais causados por
veículos automotores de via terrestre — DPVAT — existe no Brasil desde o ano de 1974.
Atualmente a gestão desse seguro é feita pela seguradora Líder.
Para aprimorar ainda mais o Seguro DPVAT, o Conselho Nacional de Seguros
Privados — CNSP, através da sua Resolução n° 154 de 08 de dezembro de 2006, deter-
minou a constituição de dois Consórcios específicos a serem administrados por uma
seguradora especializada, na qualidade de líder. Para atender a essa exigência, foi
criada a Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT, ou simplesmente
Seguradora Líder DPVAT, através da Portaria n° 2.797/07, publicada em 07 de
dezembro de 2007 (DPVAT, 2014, p. 1).
A finalidade do DPVAT é garantir indenizações a vítimas de acidentes causados por
veículos automotores ou até mesmo cargas por eles transportadas, desde que o
acidente tenha ocorrido dentro do território nacional e por veículos que transitam via
terrestre.
No caso do DPVAT, não existe a necessidade de se atribuir a culpa pelo acidente
como critério para a indenização, ou seja, independentemente de quem causou o
acidente; havendo alguma vítima, esta tem o direito à indenização de acordo com a
apólice do seguro público DPVAT.
O pagamento do prêmio de seguro para gerar a apólice que dará o direito à
indenização acima descrita é feito concomitantemente com o pagamento do imposto
anual pago denominado de Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores —
IPVA.
Vale destacar que o não pagamento do IPVA pelo proprietário do veículo não
implica em prejuízo ao direito de indenização da vítima, cabendo ao estado propor ação
de ressarcimento se for o caso.
A posição do Detran do Rio de Janeiro exposta a seguir evidencia como se dá esse
processo em relação ao aspecto da culpabilidade.
O DPVAT é um seguro pago junto com o IPVA para indenizar vítimas de acidentes
de trânsito, sejam elas motoristas, passageiros ou pedestres, inclusive estrangeiros. As
indenizações pagas pelas seguradoras são posteriormente ressarcidas pelo proprietário
do veículo causador do acidente. Se esse veículo não estiver em dia com o seguro, o
proprietário, se acidentado, também perde o direito ao DPVAT. Esse seguro não cobre
danos materiais (DETRAN-RJ, 2014, p. 1).
A garantia de indenização é feita pelas seguradoras que gerem os recursos obtidos
pelo pagamento dos prêmios pelos proprietários de veículos. Essas seguradoras são
credenciadas junto ao poder público para fazer parte da rede credenciada de gestora
do DPVAT.
O seguro do DPVAT visa garantir indenizações para a cobertura de prejuízos
causados por morte, invalidez e com despesas médicas.
Outro aspecto da questão do seguro no sentido público não reside no fato de ser
ou não gerido ou promovido pelo poder público, mas de haver uma função social
envolvida na atividade de seguros, o que de certa forma atinge uma área que é de
responsabilidade do poder público. A do bem-estar social.
O valor a ser pago pelo proprietário de veículo em função do DPVAT também é
estabelecido por lei e regulamentado pela Resolução CNSP Nº 273, de 2012, que
estabelece o seguinte.

Art. 2º O valor do Seguro DPVAT é fixado pelo CNSP, para cada categoria
de veículo automotor terrestre, em decisão administrativa na qual
considera a estimativa de sinistralidade em cada uma delas, o princípio da
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solidariedade entre os segurados, os repasses previstos em lei ao Fundo


Nacional de Saúde — FNS e ao Departamento Nacional de Trânsito —
DENATRAN, as despesas administrativas, a constituição de reservas
técnicas e o lucro das seguradoras integrantes dos dois consórcios que
administram o sistema.
§ 1º O proprietário de veículo sujeito a registro e a licenciamento, na forma
estabelecida no Código Nacional de Trânsito, deve pagar o Seguro DPVAT
à seguradora líder dos consórcios de que tratam esta Resolução (RESOLU-
ÇÃO-DPVAT, 2014, p. 1).

Como pode ser observado, cada proprietário de veículo é responsável pelo


pagamento de sua parcela relativa ao prêmio de seguro DPVAT, o que é feito à
seguradora líder conforme previsto na resolução acima citada.
O não pagamento do seguro implica em pagamento de multa e juros de mora até
que seja regularizada a situação, sendo que segundo o parágrafo 3º do artigo 2º da
Resolução 273/2012 da SUSEP diz que “Os veículos automotores que não estiverem
com o pagamento respectivo seguro DPVAT regular não poderão ser licenciados e não
poderão circular em via pública ou fora dela” (RESOLUÇÃO-DPVAT, 2014, p. 1).
O seguro DPVAT é administrado por dois consórcios, sendo a distribuição de
responsabilidades feita de acordo com categorias que são descritas na Resolução
273/2012 da SUSEP conforme o quadro que elaboramos com base nas informações
contidas em seu artigo 3º.

 Categorias de veículos para o DPVAT:

Descrição da Tipos de veículos integrantes da categoria Valor em


categoria 2014
Categoria 1 Automóveis particulares R$
105,65
Categoria 2 Táxis e carros de aluguel R$
105,65
Categoria 3 Ônibus, micro-ônibus e lotação com cobrança de frete R$
(urbanos, interurbanos, rurais e interestaduais). 396,49 à
vista ou
3x de R$
134,00
Categoria 4 Micro-ônibus com cobrança de frete, mas com lotação R$
não superior a 10 passageiros, e ônibus, micro-ônibus e 247,42 à
lotações sem cobrança de frete (urbanos, interurbanos, vista ou
rurais e interestaduais). 3x de R$
84,30
Categoria 9 Motocicletas, motonetas, ciclomotores e similares. R$
292,01 à
vista ou
3x de R$
99,17
Categoria 10 Máquinas de terraplanagem e equipamentos móveis em
geral, quando licenciados, camionetas tipo “pick-up” de R$
até 1.500 kg de carga, caminhões e outros veículos. Veí- 110,38
culos que utilizem “chapas de experiência” e “chapas de
fabricante”, para trafegar em vias públicas,
dispensando-se, nos respectivos bilhetes de seguro, o
preenchimento de características de identificação dos
veículos, salvo a espécie e o número de chapa. Tratores
de pneus, com reboques acoplados à sua traseira
destinados especificamente a conduzir passageiros a
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passeio, mediante cobrança de passagem,


considerando-se cada unidade da composição como um
veículo distinto, para fins de tarifação. Veículos enviados
por fabricantes a concessionários e distribuidores, que
trafegam por suas próprias rodas, para diversos pontos
do País, nas chamadas “viagens de entrega”, desde que
regularmente licenciados,
terão cobertura por meio de bilhete único emitido
exclusivamente a favor de fabricantes e
concessionários, cuja cobertura vigerá por um ano.
Caminhões ou veículos “pick-up” adaptados ou não,
com banco sobre a carroceria para o transporte de
operários, lavradores ou trabalhadores rurais aos
locais de trabalho. Reboques e semirreboques
destinados ao transporte de passageiros e de carga.

Parece incoerente o valor da categoria 10 ser menor do que os valores observados para
as demais categorias, uma vez que inclui tratores e caminhões que possuem valores
elevados, não é mesmo?

Vamos utilizar justamente esse caso para exemplificar a importância dos cálculos
atuariais para que sejam estabelecidas as bases de cálculo e valores relativos aos
prêmios de seguros.
Mesmo se tratando de bens com valores considerados elevados em relação aos
automóveis de menor porte, por exemplo, aqueles constantes da categoria 9, que
contempla as motocicletas, devemos nos lembrar do conceito do valor do prêmio de
seguro.
O prêmio de seguro é o valor pago para garantir a cobertura do seguro, ou seja,
para garantir a indenização em caso de ocorrência do sinistro para o qual se efetuou a
contratação do seguro, por exemplo: incêndio, acidentes pessoais, desmoronamentos,
acidentes de trânsito etc.
O elemento principal, portanto, para o cálculo do valor prêmio é o risco de
ocorrência do sinistro e a magnitude da indenização envolvida no sinistro.
No caso, embora os valores das motocicletas (categoria 9) sejam bem menores do
que a dos caminhões e tratores (categoria 10), o risco de que as motocicletas gerem a
necessidade de acionamento do seguro devido à ocorrência de acidente é bem maior
do que a dos tratores, por exemplo.
O mesmo raciocínio podemos fazer no caso dos ônibus e outros meios de
transporte que envolvem muitas pessoas sendo transportadas ao mesmo tempo. Todas
expostas simultaneamente ao risco de um acidente.
O valor do prêmio é estabelecido com base no risco que o gestor do DPVAT avalia
ter em relação a indenizações por acidentes de trânsito calculado com base nos critérios
atuariais.
Vale destacar que os reboques, mais conhecidos popularmente como caminhões
guinchos, não pagam o seguro DPVAT por serem beneficiados de isenção como forma
de incentivo relativo à função que exercem, mas, sobretudo, pelo fato de estarem em
processo de transporte justamente envolvendo veículos acometidos por acidentes de
trânsito.

2.2. A função social do seguro


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Todas essas situações possuem um caráter social à medida que envolvem o bem-
estar individual e coletivo em algum nível, independentemente da condição econômica
da pessoa envolvida.
Quando pensamos que uma pessoa muitas vezes trabalha grande parte de sua
vida para se capitalizar o suficiente para adquirir seu tão sonhado imóvel, veículo, barco,
moto ou qualquer outro bem material, podemos imaginar que esses bens possuem valor
muitas vezes maior do que aquele efetivamente pago pelo adquirente. Estamos falando
na existência de valores emocionais envolvidos na relação entre o sujeito e seu
patrimônio.
A possibilidade de se perder de um momento para outro esse bem certa- mente
representa algo que poderá comprometer bastante o bem-estar do indivíduo, sendo o
contrário disso, ou seja, a possibilidade de recuperação desse bem no caso de perda,
um fator social importante. Não queremos aqui discutir a função do Estado no que se
refere à segurança da sociedade a fim de se evitar, por exemplo, situações de perdas
de bens ocasionadas por roubos. Isso certamente é evidente e deveria ser uma
preocupação do Estado, porém, sabemos que a violência e a possibilidade de perdas
existem mesmo em países desenvolvidos; estamos apenas destacando que fatores de
minimização de prejuízos são bem-vindos quando as ações de governo não são
suficientes. Nesse sentido, podemos considerar que a atividade seguradora tem uma
função social importante, uma vez que possibilita em certo nível a manutenção das
condições de bem-estar e segurança dos indivíduos.
No caso do seguro de vida, a situação é bem mais séria, uma vez que estamos
nos referindo a “vidas” e isso implica em uma carga emocional infinitamente maior do
que quando nos referimos a perdas materiais. A qualidade de vida de uma família passa
em certo nível e dependendo das características sociodemográficas da mesma por sua
segurança quanto ao que ocorrerá no caso de uma perda importante de um membro
familiar, como no caso do mantenedor financeiro do lar. Vamos imaginar uma situação
nada agradável, na qual uma família venha a ter parte de sua renda sacrificada em
função da morte de um membro que era responsável por uma parcela do rendimento
bruto familiar. Primeira hipótese: não há um seguro de vida — certamente essa família
sofrerá com a perda do membro familiar e terá adicionado a esse sofri- mento a
preocupação e as consequências futuras de uma redução de renda ocasionada pela
morte do não segurado.
Segunda hipótese: há um seguro de vida — certamente essa família sofrerá com
a perda do membro familiar, porém, sob o aspecto de futuro sem o ente querido, ao
menos haverá um efeito amenizador: o fato de haver uma indenização securitária capaz
de manter a renda e, consequentemente, o padrão de vida. Se pensarmos de forma
objetiva, veremos que a existência de um seguro não resolve a perda do ente a quem
se estimava, mas contribui para a superação de situações naturais que se desenrolarão
no futuro em consequência da queda da renda. Podemos afirmar que o seguro de vida
possui um caráter social e que o poder público deve estar atento a essa função, como
de fato está ao interferir por meio do Conselho Nacional de Seguros Privados — CNSP
— e da Superintendência de Seguros Privados — SUSEP. Muitos outros aspectos da vida
e infelizmente da morte e suas consequências acabam não sendo ponderados, gerando
contratempos e situações desagradáveis desastrosas para aqueles que continuam sua
vida depois de perderem um ente querido. Podemos exemplificar a situação do indivíduo
que julga não necessitar de um seguro pelo fato de possuir um volume satisfatório de
patrimônio, o que pode se tornar algo não justificável na prática.
É necessário compreender, por exemplo, que a transferência do patrimônio, bem
como o desembaraço dos processos relacionados ao espólio e ao inventário têm um
custo, fazendo com que parte do patrimônio seja utilizado para o pagamento dele. Vale
destacar que o patrimônio que uma pessoa possui é bruto, sendo que depois de
custeadas as despesas para o desembaraço do inventário, parte desse patrimônio terá
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sido deixado com os profissionais que executaram o trabalho de gestão do espólio e


transferência da herança.
Em síntese, o papel do seguro de vida para quem tem um volume significativo
patrimonial é o de preservação do valor bruto desse patrimônio, servindo como um
apoio para o custeamento dos processos burocráticos de transferências dos bens aos
respectivos herdeiros.
Já no caso de pessoas com pouco patrimônio, o seguro de vida cumpre o papel de
manter o padrão de vida por ocasião de oferecer uma renda aos beneficiários do
segurado falecido.

2.3. Por que a atividade de seguro integra o SFN

Diante do que já foi dito há pouco, ou seja, que a atividade de seguros é


importantíssima para o mercado e para a sociedade como um todo, não poderia o
governo deixar de colocar sua atenção sobre os fluxos financeiros gerados por essa
atividade, principalmente porque envolve questões sociais, conforme demonstramos
em nosso tópico anterior, por exemplo.
Para entendermos o motivo pelo qual a atividade de seguros integra o Sistema
Financeiro Nacional — SFN —, precisamos antes entender o próprio SFN.
Podemos ver o SFN como um regulador de fluxos de capital que derivam de várias
fontes, mas, em especial das famílias, das empresas, do próprio governo e de outros
países.
Os fluxos financeiros entre essas entidades ocorrem devido às relações
estabelecidas entre as mesmas, como o fato de empresas contratarem pessoas para o
trabalho, o governo cobrar os impostos das empresas e os outros países negociarem
operações comerciais e financeiras com o governo, e assim por diante.
Como podemos observar, o fluxo financeiro gerado pelas operações entre essas
entidades necessita ser de alguma forma gerido e controlado para que não ocorram
desequilíbrios que possam comprometer o mercado financeiro e toda a economia do
país.
O Sistema Financeiro Nacional efetua, portanto, o controle de todos esses fluxos
financeiros, agindo de forma regulada e evitando os desequilíbrios já mencionados.
Principalmente velocidade e volume desses fluxos passam pelo controle do SFN.
O maior órgão normativo do SFN e que influencia a prática de seguros no Brasil é
o Conselho Monetário Nacional — CMN.
As diretrizes emanadas do CMN devem ser seguidas por todos os demais órgãos
que formam o SFN, sendo que, conforme apresentamos no início desta seção, o CNSP
está ligado a esse sistema, portanto, está sujeito às normas e regulamentações dele
emanadas.
Abaixo do CMN, estão as entidades supervisoras que verificam se as normas estão
sendo seguidas adequadamente. Temos como exemplo o Banco Central do Brasil, que
fiscaliza as operações dos bancos.

3. Classificação dos seguros

A estrutura de seguros no Brasil conta com o Conselho Nacional de Seguros


Privados — CNSP.
Essa estrutura, criada nos anos 1960, representa uma derivação do Sistema
Financeiro Nacional, uma vez que a atividade de seguros envolve a movimentação de
grandes volumes de recursos financeiros no mercado.
Estão vinculadas a essa estrutura todas as entidades que de certa forma atuam
no mercado de seguros privados no país.
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Vale destacar que o CNSP é parte integrante do SFN, sendo formado por órgãos
relacionados a seguros, capitalização e previdência complementar aberta, ou seja,
comercializada para qualquer pessoa física ou jurídica.

3.1. Alguns tipos de seguros

Entre os tipos mais comuns de seguros se destacam o de pessoas. Nesse tipo de seguro,
as pessoas podem contratar quantas empresas quiserem e quais valores julgarem
necessários para garantir sua segurança financeira futura, principalmente no que se
refere ao risco de morte.
Geralmente esses seguros se classificam em: de sobrevivência, de morte, de invalidez
ou mistos, sendo que o que lhes garante o seguro é o prêmio pago.
Dentre os planos mais conhecidos atualmente estão o Plano Gerador de Benefício Livre
(PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). São seguros que oferecem comple-
mentação de aposentadoria em seu escopo.

3.1.1.Total puro a prêmio único

É um tipo de seguro no qual há uma espécie de aposta por parte do contratante e


também da própria seguradora sobre a possibilidade de sobrevivência do segurado. No
futuro, na idade x + n, o contratante terá direito a um valor determinado que pode ser
convertido numa renda. Isso se estiver vivo, pois no caso de fale- cimento o valor irá
compor o capital da empresa seguradora, que passa a ser a proprietária do valor
contribuído pelo segurado.

3.1.2.Rendas

As rendas derivadas dos planos de seguros se dividem em certas e aleatórias. As


rendas certas são tratadas pela matemática financeira, enquanto as aleatórias o são
pela matemática atuarial. As rendas certas são aquelas que independem de uma
eventualidade externa, enquanto as aleatórias dependem de fatores de risco, como
possibilidade de sobrevivência ou de morte.
As rendas oriundas dos seguros que estão atreladas à sobrevivência, ou seja,
pagas enquanto o segurado estiver vivo, possuem várias classificações.
 Renda aleatória, periódica anual, imediata, temporária, postecipada, que é uma
renda que o indivíduo receberá no final de cada ano no qual esteja vivo, porém
possui uma limitação em termos de tempo no qual esse benefício será pago pela
seguradora.
 Renda aleatória constante, periódica anual, imediata, vitalícia e antecipada, que
é uma renda que o indivíduo receberá no início de cada ano no qual inicie vivo.
 Renda aleatória constante, periódica anual, vitalícia, diferida de n anos,
postecipada, que se difere das demais pelo fato de prever um prazo de carência,
ou seja, o segurado passa a receber a renda após determinado período de espera.
 Renda aleatória, periódica anual, imediata, temporária, antecipada, que é uma
renda unitária pagável a um indivíduo no início de cada ano no qual inicie com
vida, porém limitada ao tempo contratado; as demais rendas alteram apenas um
ou outro elemento na sua concepção, sempre envolvendo o pagamento no início
ou final do ano, sendo ou não constantes, tendo ou não prazo limitado.
 Renda aleatória, periódica anual, vitalícia, diferida de n anos, antecipada.
 Renda aleatória constante, periódica anual, diferida, temporária antecipada; e
 Renda aleatória constante, periódica anual, temporária, diferida e postecipada.
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Os vários tipos de rendas citados servem de parâmetro para a compreensão e


muitos são os detalhes envolvendo os seguros de pessoas, porém, geralmente estão
atrelados ao risco de sobrevivência ou de morte do segurado.

3.2. Cosseguros e resseguros

Existem determinadas atividades empresariais que oferecem alto risco para as


seguradoras e, dessa forma, envolvem outra modalidade de seguro denominada de
resseguro. O resseguro representa uma garantia secundária feita por uma seguradora
de que determinado contrato de risco será suportado em caso de haver o sinistro
descrito no contrato entra as partes. A atividade de resseguro é regulada assim como
a atividade de seguro, e no Brasil também segue as determinações normativas emitidas
pela SUSEP para as empresas seguradoras. Podemos citar algumas atividades que
exigem o resseguro, tendo em vista serem de alto risco para as seguradoras. Fábrica
de colchões. Indústrias de tintas.
Indústrias petroquímicas e de derivados de petróleo em geral. Indústrias que
beneficiam a madeira. Indústrias que fabricam ou beneficiam o papel. Supermercados.
Armazéns.
Pela própria descrição das atividades, não é difícil entendermos por que essas
atividades são de alto risco para as seguradoras, uma vez que todas elas envolvem
produtos de alta combustão e, no caso de pegarem fogo, em poucos minutos terão uma
grande área destruída. Qualquer evento que venha a ocorrer em uma dessas indústrias
certamente poderá comprometer milhões de reais em indenizações à própria indústria
e adjacências. O instituto de resseguro no Brasil foi criado por Getúlio Vargas em 1939
e seu objetivo é o de garantir a liquidez do sistema de seguros no país. Até o ano de
2008, o instituto teve o monopólio do mercado, quando se abriu a oportunidade para
empresas de outros países aqui atuarem. Nem sempre é possível para uma empresa
seguradora a manutenção de capital e estrutura o suficiente para garantir
adequadamente os lastros de alguns tipos de seguros com característica de envolverem
grandes montantes.
Tanto o resseguro como o cosseguro são operações que dizem respeito à
transferência de responsabilidade por parte da seguradora para outras companhias que
dividem os riscos das operações.
O cosseguro se dá pela distribuição dos riscos entre outras companhias. O termo
cosseguro significa seguro conjunto.
Outras formas mais complexas de transferências de responsabilidades sobre riscos
assumidos se dão pelo resseguro. Neste caso trata-se de empresas que seguram as
seguradoras no sentido de garantia de seus contratos.
Apresentam-se nesse momento alguns aspetos importantes dos resseguros, que
compõem mais um tópico sobre a visão geral dos cálculos atuariais no qual você
aprenderá como se processam as operações principais.
Para que compreenda essa operação, sugere-se que você reveja como se dá a
relação da empresa seguradora com os segurados.
Abaixo você pode recordar essa relação:

SEGURADO contrata a SEGURADORA, que cobra o PRÊMIO DE SEGURO e emite a


APÓLICE, que determina o valor segurado e as condições do seguro.

Ao recapitular essa relação, fica mais fácil entender o que vem a ser o resseguro. De
forma resumida, ele é um seguro do seguro, ou seja, na relação acima, a seguradora
vai para o papel de segurado e a empresa de resseguro faz o papel de seguradora da
seguradora.
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Esse processo se faz necessário sempre que a empresa seguradora entender que
há um excesso de risco assumido ou a assumir. Nesse caso, é viável que a seguradora
se alie a uma empresa de resseguro a fim de dividir o risco.
O maior objetivo desse tipo de operação é dar maior liquidez e capacidade de
solvência para a contratada original. Serve como uma forma de evitar insolvências
ocasionadas por excesso de sinistros, ou, materializações dos riscos acima das
previsões atuariais.

3.2.1.Situação do resseguro no Brasil e os contratos de resseguro

Até 1939, ano em que foi criado o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), os resseguros
no país eram feitos por empresas estrangeiras. Após sua criação, o IRB monopolizou
essa prática e assumiu a regulamentação das operações.
O fato de haver monopólio do IRB traz a vantagem de contar com a garantia do Tesouro
Nacional, o que dá credibilidade aos contratos que envolvam uma operação de
resseguro. Mas esse monopólio está com os dias contados, pois já há uma lei
complementar (126/2007) autorizando a reabertura desse mercado. Faltam alguns
detalhes de regulamentação para que se abra novamente o mercado para empresas
estrangeiras. Embora ainda com a preferência, o IRB poderá abrir a possibilidade de
contratação de empresa estrangeira quando houver a recusa de determinado risco,
segundo o que se discute dessa nova legislação.

Os contratos de resseguros são divididos basicamente de acordo com o tipo de risco,


sendo que os mais encontrados são:
Automático: tipo de contrato no qual qualquer seguro feito pela empresa ressegurada
terá a cobertura secundária. Funciona como se fosse uma cláusula fixa na apólice emitida
pela empresa contratada originalmente. Nos casos nos quais haja excesso de risco, acima
do que pode assumir a empresa resseguradora, faz-se um novo resseguro.
Facultativo: ocorre quando não há um contrato que preveja resseguro automático ou
nos casos em que o valor do risco excede a capacidade ou interesse da empresa de
resseguro. Nesse caso, são analisados contrato a contrato.
Catástrofe: o nome já dá indício do que se trata. São as transferências de risco ou
prejuízos ocasionados por eventos de grande proporção. Geral- mente, a empresa de
resseguro estabelece um limite de cobertura para os prejuízos ocasionados por esses
eventos, sendo que, dependendo do volume, pode-se formar consórcios de seguradoras
para darem cobertura a esse tipo de seguro. Geralmente o resseguro se dá apenas sobre
o valor do prejuízo excedente ao que seria considerada uma situação normal, já que esta
faria parte dos cálculos atuariais que determinam os valores dos prêmios puros.
Diferenciado: é o sistema cujas cláusulas contratuais que preveem as condições dos
planos de resseguro são específicas e especialmente negociadas a cada caso, geralmente
fugindo aos padrões normais, haja vista se darem sobre tipos específicos de carteiras.
Em condições originais: é o resseguro no qual a empresa de resseguros assume os
mesmos riscos, nas mesmas condições que a empresa de seguros. É um tipo de resseguro
no qual a resseguradora está obrigada nas mesmas condições de constituírem reservas
para solvência dos valores segurados, embora não tenha relação direta com o segurado,
mas sim com a seguradora originalmente contratada para o seguro.
Excedente de responsabilidade: é a mais comum contratação de resseguro no
mercado e prevê que a empresa de resseguro assuma parte ou totalmente os valores
que excederem o limite de retenção das seguradoras originalmente contratadas.
Excesso de danos: é similar ao excedente de responsabilidade no que se refere à
obrigação da empresa de resseguro, porém, nesse caso, há um valor limite estabelecido
até o qual a responsabilidade de ressarcimento é integralmente da resseguradora.
Havendo extrapolação dos valores- -limite estabelecidos pelas seguradoras, primeiro a
empresa de seguro originalmente contratada irá garantir o pagamento ao contratante e
depois buscará ressarcimento da resseguradora, fazendo valer suas obrigações
contratuais e o pagamento dos valores segurados. Não há, portanto, proporcionalidade
em relação aos valores segurados, mas sim um teto de garantia estabelecido para cada
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contrato ou para o total dos contratos assinados pela seguradora contratante do


resseguro.
Excesso de sinistralidade: conforme visto durante o estudo da seção referente aos
cálculos dos prêmios, há um importante coeficiente utilizado pela atuária na determinação
dos valores a cobrar dos contratantes. Trata-se do coeficiente de sinistros, ou seja, a
divisão entre o número de sinistros pelo número de contratos assinados. Outro índice
similar a esse é utilizado no caso do seguro por excesso de sinistralidade. A empresa de
resseguro assume os valores resultantes do excesso no coeficiente resultante da razão
entre os sinistros e os prêmios pagos para sua garantia. A empresa de resseguro garante
o que passa de certo valor especificado no contrato de resseguro.
Facultativo: esse tipo de contrato não estabelece obrigatoriedade quanto a todos os
aspectos relacionados aos riscos assumidos. Possibilita uma maior liberdade nas
negociações entre a empresa de seguro e a de resseguro.
Facultativo/obrigatório: esse tipo de contrato, inversamente ao que estabelece o
facultativo puro, permite à empresa seguradora contratada originalmente escolher e
determinar quais riscos a empresa de ressegura irá assumir de sua carteira. Não dá
liberdade para a empresa de resseguro fazer opções do que dar ou não garantia.
Misto: refere-se aos contratos que combinam características de mais de um tipo dos
acima definidos, ou seja, possui cláusulas mistas em termos de responsabilidades perante
os riscos contratados.
Não proporcional: ocorre sempre que a resseguradora assume integralmente os riscos
que excedam os limites estabelecidos pelas seguradoras.
Obrigatório: é o resseguro que deve ser efetuado por força de lei (legalmente
obrigatório) ou em decorrência de um contrato (contratualmente obrigatório).
Percentual: é um resseguro proporcional, que garante o excesso de responsabilidade,
porém convertido em percentual.
Por quota: funciona similarmente a uma sociedade entre a seguradora e a
resseguradora. Nesse caso, a seguradora originalmente contratada repassa uma parte de
suas carteiras para a resseguradora, sendo que esta assume na mesma proporção as
responsabilidades sobre os riscos assumidos.
Proporcional: diz respeito à forma com que a empresa de resseguro assume os riscos
da seguradora, ou seja, proporcionalmente aos riscos e definidos em contrato.
Stop loss: o resssegurador se obriga a assumir a parte da carga de sinistros anual que
supera a prioridade. Geralmente está atrelado a uma proporção da receita dos prêmios
anuais ou a valores previamente estabelecidos. Não há uma participação da
resseguradora nos riscos, ela apenas é acionada quando há um prejuízo comprovado
ocasionado por excesso de sinistros em relação aos prêmios recebidos. A empresa de
seguros se responsabiliza, além do total da receita dos prêmios, pelos custos adicionais
no caso de prejuízos que ultrapassem o total das receitas dos prêmios e também os
valores acordados com a resseguradora.

Para melhor entendimento desse tipo de seguros, veja o seguinte exemplo: uma
empresa de seguro possui uma receita de prêmios de seguro de 100 milhões e um custo
operacional de 20%, ou seja, 20 milhões. A empresa de resseguro é contratada para
garantir 30% de prejuízo.

Os seguros geralmente cobrem algumas garantias relacionadas à propriedade e


ao uso de bens, podendo se estender à prestação de serviços no caso de seguros de
contratos bem como a responsabilidades legais.
Podemos destacar alguns tipos de garantias que os seguros dão aos segura- dos
e que estão previstos na apólice. Vale a ressalva de que em muitos casos existem
cláusulas restritivas quanto ao direito à indenização. As restrições se dão em função de
que o prejuízo que está sendo requerido ressarcimento pode ter sido causado por
negligência, imperícia ou imprudência do segurado.

 Negligência — representa a situação na qual o causador de um dano,


embora não se possa afirmar que tenha agido por vontade própria, foi o
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responsável pelo dano na condição de agente com capacidade de evitar o


dano, mas que, na ocasião, não lançou mão dessa capacidade por mera
desatenção quanto aos riscos que aquela situação oferecia.
 Imprudência — representa a situação na qual o causador de um dano,
sabendo e consciente dos riscos oferecidos pela situação geradora do dano,
resolveu assumi-lo independentemente das consequências já previstas.
 Imperícia — representa a situação na qual o causador de um dano, sem
capacidade e habilidade para o exercício de uma determinada atividade, a
executa gerando o respectivo dano a partir da má condução da atividade.

É importante também que o atuário conheça o instrumento de formalização do


seguro representado pelo contrato de seguro. Ele deve dominar as principais partes
integrantes, suas definições e finalidades em termos de formalização e garantias legais.
É indiscutível sua importância como instrumento de organiza- ção da estrutura
securitária, que tem de garantir a segurança do segurado em relação às garantias
contratadas.
Outra questão que as seguradoras procuram contemplar em seus contratos com
vista a se eximir de prejuízos envolve a caracterização de dolo ou culpa quando da
ocorrência de um sinistro causador do dano.

 Dolo — significa uma ação consciente por parte do indivíduo que assume os
riscos de causar danos a terceiros.
 Culpa — significa a geração de danos a terceiros sem a consciência ou
vontade de causar esse dano.

Essas situações todas de alguma forma acabam sendo contempladas nos contratos
de seguros, de tal forma que seja possível se estabelecer critérios mínimos para a
indenização segura.
Existem jurisprudências em todos os sentidos no que se refere a essa temática,
ou seja, decisões judiciais que deram ganho de causa ao segurado em relação a não
perda da cobertura causada por algum problema como, por exemplo, a imperícia
durante a condução de seu veículo, como também casos de perda da cobertura gerada
por motivo de oferecimento de risco por parte do condutor do veículo, que, por exemplo,
estivesse embriagado. Como exemplo, podemos citar um caso corriqueiro: a falta de
habilitação para dirigir um veículo.

Fica evidente que cláusulas que gerem prejuízos exagerados aos segurados ou que
não estejam devidamente explicadas e destacadas em contrato ferem o Código de
Direito do Consumidor — CDC —, perdendo sua validade por serem consideradas
inconstitucionais e ilegais.
Isso nos leva à conclusão de que deve haver uma preocupação com o conteúdo
dos contratos, bem como com as consequências de determinadas exceções para que
essas estejam constituídas e integradas nos cálculos e pareceres atuariais, protegendo,
assim, o patrimônio garantidor das coberturas dos seguros contratados.
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AULA 5 – NOÇÕES DE ATUÁRIA

1) Em termos conceituais, por que estamos afirmando que o seguro possui caráter
social? Que justificativas poderíamos dar para afirmarmos isso?
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2) Analise a descrição a seguir.


“A empresa de resseguro assume os valores resultantes do excesso no coeficiente
resultante da razão entre os sinistros e os prêmios pagos para sua garantia. A
empresa de resseguro garante o que passa de certo valor especificado no
contrato de resseguro.”
Essa definição se refere a uma cobertura de resseguro denominada:
a) Excesso de cobertura.
b) Falta de sinistros.
c) Excesso de sinistralidade.
d) Falta de sinistralidade.

3) Em termos estruturais, os seguros privados são regulados, como se verá na seção


seguinte, por basicamente dois órgãos. Quais seriam esses órgãos dentre os
listados a seguir, segundo sua hierarquia respectivamente?
a) Susep e o CNSP.
b) CNSP e o IBA.
c) IBA e o CNSP.
d) CNSP e a Susep.

4) Analise a seguinte definição:


“Ele se aplica em qualquer parte do mundo e cabe a cada país regular seu
funcionamento segundo os preceitos da divisão do risco. Ele faz parte da natureza
humana, que desde sua origem está em meio ao convívio com o risco e com o
objetivo de evitá-lo ou minimizá-lo ao máximo.”
Essa característica do seguro diz respeito a ele ser mais especificamente:
a) Universal.
b) Comunitário.
c) Democrático.
d) Mensurável.

5) Analise a seguinte definição:


“Envolve um conjunto de ações em prol do benefício de cada indivíduo
participante da comunidade segurada.”
Essa característica do seguro diz respeito a ele ser mais especificamente:
a) Universal.
b) Comunitário.
c) Democrático.
d) Mensurável.

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