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Editorial
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

Pensar Seguro não é a expressão da opinião quadro de colaboradores, constituído


deste Instituto sobre algum assunto, mas basicamente por representantes de todas as
representa a liberdade da expressão de seus partes do Sistema Nacional de Seguros Privados.
articulistas no contexto da evolução científica Assim, fazemos a diferença: ignorando as
e motora do Seguro. diferenças. Esta foi a melhor forma de reunir
Não há aqui condução ou indução de qualquer todos no mesmo barco em direção ao mesmo
linha de pensamento. Apenas registram-se as rumo.
idéias, não importando avaliá-las, mas Se pensar é existir, escreve-se aqui a razão dos
divulgá-las para haver possível embate, pensadores em linhas que, amplamente
comunhão ou construção. divulgadas, servirão para consolidar a existência
Portanto, não será surpresa ocorrer do Seguro.
divergência ou semelhança entre conteúdos
elaborados por diferentes autores. Este
Instituto entende essas ocorrências como Christina Roncarati
possibilidades normais diante do perfil de seu Plínio Satoru Nakagawa

Índice
2. Plínio Satoru Nakagawa
5. Acacio Queiroz
6. Alberto Oswaldo Continentino de Araújo
7. Angélica Lúcia Carlini
14. Antonio Penteado Mendonça
15. Celso Paiva
17. Cláudio Afif Domingos
18. Heitor Rigueira
19. Hermínio Mendes Cavaleiro Neto
40. M. Helena Gurgel Prado
44. Jayme Brasil Garfinkel Companhia de Seguros
45. Nelson Fontana
Aliança do Brasil
47. Leoncio de Arruda
49. Patrick Larragoiti Lucas
50. Ricardo Bechara Santos

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Aliança do Brasil

Plínio Satoru Nakagawa


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Presidente da Qualicon Consultores e


Presidente do Conselho Deliberativo do
Instituto Roncarati de Ciências do Seguro

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

As diferenças de critérios, na avaliação de riscos em sua primeira contratação, pague o prêmio cheio da
entre seguradoras, sempre existiram. Grosso modo, massa segurada na qual ingressa e passe a adquirir
anteriormente ao perfil autografado pelo proponente, o privilégios de acordo com a experiência; e não percebê-
objeto da contratação era o bem econômico, legitimando- los ou ser diferenciado, antes disso.
se o negócio pela comprovação de sua existência, em Com a introdução do perfil do proponente à
condições de preservação e uso. contratação do seguro, agregou-se um instrumento
A tecnologia avançou e melhorou a relação custo subjetivo de diferenciação à aceitação e à tarifação do
x benefício na acumulação de informações, pelas risco, que corre independentemente da experiência, ou do
empresas. Esse fato privilegiou o segurador, que opera que o bônus representa. Esse dispositivo foi considerado
baseado em dados históricos e em sua permanente como fator variável na tarifação do prêmio, produzindo
atualização. uma sorte de conseqüências.
Quando da importação do modelo do perfil do O mercado segurador acatou a idéia do perfil do
segurado, estabeleceu-se o valor em risco com base na segurado sob o pretexto da personalização do seguro,
relação do bem econômico e seu proprietário. Todavia, o com o favorecimento do perfil menos arriscado, em
perfil do segurado deveria servir de instrumento à análise relação a um padrão ou a uma média, da massa segurada.
do risco pelo segurador e à geração de estatísticas, sem Na prática, acarretou diferentes preços para o mesmo
inverter na cobrança diferenciada de prêmios, assim serviço.
como se observa nas transações dos ramos de vida e Não se considerou criar categorias ou contratos
saúde. diferenciados para admitir os diferentes perfis de
A função da declaração do perfil do segurado segurados, formando massas seguradas homogêneas e
deveria ser restrita à apresentação do proponente ao diferentes entre si. Em outras palavras: deveria
segurador, para que esse pudesse decidir sobre sua personalizar o contrato, ao invés de diferenciar o
admissão na massa segurada. segurado em meio a massa segurada. Talvez funcionasse
Cabe-nos falar do bônus, que se tornou moeda melhor se existissem diferentes contratos, cada qual com
no mercado segurador, uma espécie de direito seu preço fixo de adesão.
intransferível que o proponente do seguro pode exercer, O perfil do proponente não tem padrão de
na maioria das seguradoras. Na prática, o bônus é a mercado. Opera em ampla subjetividade e com
informação histórica mais simples e objetiva sobre a informações requeridas que podem ser alteradas durante
relação entre o segurado e o bem econômico, cuja a vigência da apólice. O segurado é responsável por
estratificação por classes apresenta a experiência real do declará-lo e atualizá-lo constantemente, o que vem
segurador que o concede. Assim, o segurado acumula ou causando transtornos no processo de indenização.
perde bônus, proporcionalmente ao tempo e aos Muitas vezes, a boa fé do segurado é colocada em dúvida
eventuais sinistros, na sua experiência com o seguro. Em quando, na realidade, ele realmente esqueceu-se de
outras palavras, o bônus demonstra a avaliação sumária atualizar a informação de seu perfil. Em bom termo, o
do segurado e do objeto contratado, em termos reais. segurador deveria certificar-se sobre a veracidade da
Parece-nos justo que o proponente do seguro, declaração inicial e analisar os eventos subseqüentes,

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considerando, com naturalidade, os eventuais


esquecimentos. No entanto, esse procedimento
inviabilizaria o negócio, pois acarretaria o atraso das
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enquanto a arrecadação de prêmios diminuiu, por conta


dos descontos. Obviamente, isso não afetou apenas o
segurador, mas toda a teia de agentes envolvidos na
emissões e eventual exposição do proponente ao risco, atividade.
sem cobertura, até a sua efetiva averiguação. A percepção de uma redução no montante de
Na prática estranha, a análise do perfil do prêmios observada na média de mercado revela certa
segurado ocorre, na maioria das vezes, no processo de obviedade ou efeito que poderia ser previsto. Isso porque
liquidação do sinistro. Aparentemente, tendo em vista que o potencial de mercado ainda é grande, diante da baixa
os sinistros são eventuais, essas rotinas são atreladas às difusão da Cultura do Seguro. Assim, o segurado habitual,
ocorrências, tornando-se igualmente eventuais e menos além de transferir o risco, também procura outras formas
onerosas ao segurador. de proteger seu patrimônio. E essa natureza não é
Por outro aspecto, ampliou-se o risco de fraude, exclusiva daquele que contrata o seguro, mas de todos os
uma vez que a declaração do segurado carece de proprietários de algum bem valioso. Para esse cenário
averiguação, e influência na sua tarifação. Como existe um único sentido que é a redução no montante de
exemplo, temos a falsa declaração sobre o condutor prêmios com a oferta de desconto ao segurado habitual.
principal, preferindo um terceiro com idade e sexo mais Uma carga significativa do prêmio é a despesa
vantajosos financeiramente; e que no momento do sinistro administrativa do segurador, que com o advento do perfil
apresenta-se como condutor eventual, garantido pela do proponente teve aumento de gastos com tecnologia,
margem tradicional de cinco por cento. De certo modo, o comunicação, sistema de controles internos, recursos
questionário sobre o perfil do proponente induz o humanos, registro físico e o precioso tempo, entre outros;
declarante a simular possibilidades que lhe tragam sem contar a despesa de sinistro que é considerada na
privilégios financeiros, sem questionamentos do carga de sinistros.
segurador. Temos ainda que o perfil do segurado, ao afetar
Essas questões, analisadas no momento do diretamente a tarifação do prêmio, impacta na formação
sinistro, e não solucionadas amigavelmente, da base das provisões técnicas de prêmios, demandando
incrementam o dispêndio de recursos com advogados e custo adicional com atuários e auditorias contábil, interna
envolvem um custo social ignorado pelas partes: o Poder e atuarial, que precisam atestar a exatidão e a integridade
Judiciário, que se inverte na forma de elevação de desses montantes. Como exemplo, o escopo das
tributos. auditorias passou a requerer a confirmação das
O custo da fraude reflete boa parte da carência informações junto ao segurado, mas limitado à outra
estrutural do segurador na administração dos riscos, que declaração, por motivo prático.
é assumido pelos segurados. Por outro lado, o corretor de seguros também
O perfil do segurado acontece em meio a grande teve o seu custo aumentado proporcionalmente ao
discussão sobre fraude no seguro, e veio a colaborar com segurador. Ele é o braço do segurador que escritura o
o seu crescimento. perfil do proponente, cujo trabalho adicionado não se
O mercado ainda não tem um banco de inverteu em receita adicional e não foi valorizado como
informações centralizado, a exemplo do SERASA, que custo na operação. Além disso, passou a responder mais
poderia prestar referências aos casos confirmados de pelo segurado, uma vez que o representado passou a
fraude, alertando os seguradores e beneficiando os prestar informações adicionais e expõem-se mais diante
segurados com a redução do vício na carga do prêmio. nos eventuais sinistros em que as partes se conflitam,
Esse discurso é crítico ao processo evolutivo do desgastando sua imagem junto ao segurado e não
Seguro no Brasil. raramente sendo incluído como parte em questões
Na experiência consolidada com o advento do judiciais, assumindo o ônus da defesa.
perfil do segurado, a sinistralidade vem mantendo sua Ainda no contexto do corretor de seguros, cabe
evolução tradicional e as demais cargas aumentaram, expor a avaliação implícita do perfil desse profissional

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realizada pelo segurador e que afeta o preço final do


prêmio, pago pelo segurado. Trata-se da tradicionalização
da comissão variável paga pelo segurador ao corretor em
O pensamento de quem faz a diferença

processamento de dados.
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Portanto, há que se criar a objetividade no


negócio e levar a subjetividade como instrumento de
função da sinistralidade ocorrida na carteira de seus análise estatística para se formular serviços mais
representados. Não cabe ao corretor a aceitação do risco específicos ou adequados aos diferentes perfis do
e a indenização do sinistro; mas transferiu-se a ele a segurado.
participação e a responsabilidade somente no prejuízo do
segurador. Para manter sua margem de lucratividade, já
premida por um prêmio menor em decorrência do perfil do
segurado, o corretor tende a elevar o seu
Plínio Satoru Nakagawa
comissionamento. Assim, formou-se um mecanismo
vicioso que afeta e diferencia o segurado por um outro Consultor Organizacional, Presidente do Conselho Deliberativo do
Instituto Roncarati de Ciências do Seguro, Diretor Presidente da
perfil implícito: o perfil do corretor. Qualicon Consultores, Diretor Presidente da Associação do
O perfil do segurado parece disfarçar uma forma Loteamento Chácaras City Castelo, Conselheiro Fiscal do Instituto
Sete Ondas de Educação e Pesquisa Ambiental, entre as principais
de desconto sistematizado no prêmio, com o qual os atividades.
seguradores podem conquistar vantagens competitivas.
psn@qualicon.com.br
Há uns quinze anos, o desconto no prêmio era explícito e a
autoridade instituiu um tratamento especial na formação
das provisões técnicas diante de uma série alarmante de
insolventes. O tempo parece ter apagado esse registro ou
ainda não se percebeu que o mal mudou de nome.
Afinal, quem ganhou com o perfil do segurado?
Alguns seguradores afirmam que os prêmios
foram reduzidos com os descontos, assim como a
margem de lucratividade também, pressionados pelo
aumento dos custos operacionais. Já os corretores vêem-
se forçados a aumentar as taxas das comissões. Grosso
modo, essa soma não parece indicar uma redução
significativa no dispêndio do segurado.
Muito se fala sobre o potencial do mercado
segurador brasileiro, que há tempo não se realiza por
motivo da falta da Cultura do Seguro. Porém, acrescente-
se a essa afirmação algum descrédito à Instituição, muitas
vezes fomentada por mecanismos mal estruturados.
Não há dúvida sobre a importância da
informação oriunda do perfil do proponente do Seguro,
que pode ser trabalhada pela ampliação das
possibilidades tecnológicas.
As questões estão na objetividade dessa
apuração e na melhor forma de aplicá-la no
desenvolvimento do Seguro. Considere-se que
informação demais é uma carga, e quanto maior ela for,
mais lentamente se conclui o negócio. O trabalho
humano, necessário na maior parte das rotinas da
atividade seguradora não é tão rápido como o

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Acácio Queiroz
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Presidente da Chubb Seguros

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Para a Chubb Seguros, o questionário de


avaliação de risco é um importante instrumento de coleta
de informações em qualquer ramo, no qual as respostas
servem de base para a composição do preço da apólice de
seguro. Por exemplo, dados como sexo e idade dos
condutores, hábitos de utilização e guarda do veículo,
entre outros fatores, personalizam a apólice e o preço do
seguro de Automóvel para o consumidor.
No seguro Residencial as informações
relevantes são sobre o tipo de residência: apartamento ou
casa, permanente ou veraneio; e para o seguro de
embarcações são avaliadas as questões sobre a
experiência da tripulação/comandante, local de guarda e
tipo de embarcação, além de outros.
Partindo do princípio que o seguro é regido pela
lei do mutualismo e os prêmios são calculados de acordo
com a experiência do ramo, à medida que o consumidor
fornece as informações completas, o questionário de
avaliação de risco possibilitará uma tarifa mais precisa e
justa para o patrimônio do cliente. É com base nos dados
deste questionário que a seguradora tem a possibilidade
de entender, mensurar e adequar o preço com eficiência.
Faz parte do compromisso da Chubb ratificar ao
corretor e ao segurado a importância de se conhecer em
detalhes as condições contratuais da apólice. Desta
forma, as implicações referentes às respostas fornecidas
no questionário de avaliação de risco ficam claras e no
final todos se beneficiam: o consumidor, que de acordo
com seu perfil terá um preço justo, o corretor que obterá
um índice de satisfação melhor e um produto específico
para atender ao seu cliente e as seguradoras, que além
da exatidão atuarial conseguem competir com bases
técnicas.

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Alberto Oswaldo Continentino de Araújo


Presidente do SINDSEG MG/GO/MT/DF
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Conceitualmente, todo e qualquer tipo de seguro O corretor de seguros, responsável pelo


leva em consideração, desde os primórdios, o perfil, ou assessoramento e esclarecimentos ao cliente tanto na
seja as características próprias do risco e do segurado. contratação quanto na vigência do contrato, teve que
No seguro de pessoas, se o proponente tem reciclar seus conhecimentos e manter atualizado sobre os
idade mais avançada ou profissão de risco mais evidente, diversos modelos de questionários de avaliação de risco.
certamente terá a taxa de seu seguro mais elevada do que No mercado internacional esta forma de taxação
a de um jovem escriturário. do seguro de automóvel é praticada há muito mais tempo
Nos seguros patrimoniais, a “ocupação” do risco e com um número de questões, que são levadas em conta
é fator determinante do preço, tendo variações para a taxação do seguro, quatro a cinco vezes superior
consideráveis entre os extremos. Não se pode comparar o ao praticado no Brasil.
custo da cobertura do seguro incêndio de uma residência Com o tempo a taxação pelo perfil do segurado
com o de uma loja de venda de fogos. vai aprofundar, consolidando, ainda mais, essa nova
Vou focar o meu pensamento na precificação do cultura em nosso País.
seguro automóvel, por ser hoje o seguro mais popular do O impacto dessa nova cultura na indenização do
nosso mercado e por representar, estatisticamente, uma seguro também foi relevante. Nos primeiros anos, apesar
das maiores carteiras. de todos os investimentos feitos em treinamento e
A adoção do perfil tem por objetivo o que divulgação, ocorreram casos de não se confirmar, na
chamamos de “justiça tarifária”, onde a taxa do seguro é regulação do sinistro, as informações prestadas pelo
proporcional ao risco. Este princípio, que resulta na segurado quando da contratação do seguro. As
diferenciação de custos, não choca com o mutualismo, divergências surgidas, muitas vezes, resultaram em
que é a principal base do seguro, mas na verdade o torna processos judiciais, gerando decisões e jurisprudências .
viável. Somente com a correta proporção entre o risco e a Hoje o segurado já absorveu, de forma
taxa, é possível atrair, para a massa segurada, os riscos consistente, os princípios de taxação do seguro de
de menor probabilidade de ocorrência, tornando o seguro automóvel pelo seu perfil e o corretor de seguro teve papel
acessível a todos. preponderante para a disseminação dessa nova cultura.
Com estas premissas, há cerca de dez anos, as Paralelamente ao perfil, uma nova cultura se
seguradoras passaram a considerar dados do segurado desenvolveu e também já se consolidou. Referimos às
para a precificação do seguro automóvel. Os dados dos novas coberturas e serviços incorporados ao seguro de
veículos tais como marca, tipo, ano de fabricação, automóvel com o objetivo de prestar assistência e
nacionalidade, região de circulação e outros já eram proporcionar facilidades aos clientes e aos corretores de
considerados, face às diferenças de custo de reparação e seguros. Centrais de atendimentos telefônico, assistência
índices de colisão e roubo existentes entre eles. Após 24 horas, carro reserva, atendimento rápido, redução de
profundos estudos atuariais, o mercado segurador franquia, cobertura para danos morais, coberturas
passou a considerar, também, o perfil do cliente tal como específicas para vidros, faróis, lanternas, eram, até pouco
sexo, idade, estado civil, tempo de habilitação, profissão, tempo, considerados como luxo e com custos adicionais
local de guarda do veículo e outros, sem, no entanto, ter relevantes. Hoje são oferecidos por todas as seguradoras
havido uma padronização das informações. com pouca alteração no custo final do seguro.
Esta prática gerou forte impacto no próprio Destacamos, ainda, a importância da criação das
mercado, pois foi necessário criar e incentivar uma cultura ouvidorias, que têm como atribuições a defesa do direito
a este respeito junto aos funcionários das seguradoras e do consumidor, a solução de conflitos e o
junto aos corretores, com fortes investimentos em encaminhamento das demandas.
softwares, programas de treinamento e marketing. O O mercado brasileiro continua evoluindo na
impacto junto aos segurados foi ainda maior no momento busca da justiça tarifária, da máxima assistência ao
de responder, com exatidão, os questionários com os cliente, ao controle rigoroso da solvência das
seus dados pessoais e hábitos que oferecessem as seguradoras e pronto para crescer sempre em ritmo
melhores condições de segurança e proteção do veículo. acima da economia nacional.

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Angélica Lúcia Carlini


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Advogada

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1. Introdução 2. SEGURO DE PERFIL OU SEGURO DE AVALIAÇÃO


DE QUESTIONÁRIO DE RISCOS.
A Constituição da República Federativa do Brasil, em
seu artigo 5º, caput, determina que “ (...) todos são iguais O mercado de seguros, no Brasil, introduziu o seguro
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)”. O a partir do perfil do segurado na década de noventa, e
mesmo texto legal, no artigo 170, determina que “A ordem essa nova modalidade de contratação trouxe vantagens e
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e desvantagens para os consumidores de seguros.
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência A principal vantagem é que o estudo dos hábitos e das
digna, conforme os ditames da justiça social (...).” características de cada segurado, permite à seguradora
À luz desses dois artigos constitucionais é que esse precificar o seguro em conformidade com a análise, de tal
texto se propõe a refletir sobre o contrato de seguro sorte que prevalece a regra: quem expõe o veículo a maior
formulado a partir de dados do perfil do segurado, obtidos risco paga mais seguro; e quem expõe o veículo a uma
mediante preenchimento de um questionário de avaliação quantidade menor de risco, paga menos seguro.
de riscos, no qual o segurado deve declinar com a mais De fato, o segurado que mantém o carro em garagem
absoluta boa-fé e transparência as possibilidades de risco fechada durante o dia e durante a noite, que viaja poucas
que ele é passível de criar para o objeto sobre o qual tem vezes, que utiliza o veículo basicamente para seu lazer,
interesse segurado. que é habilitado há mais de dez anos, que não divide o
A partir da análise desses dados, os seguradores carro com outras pessoas, entre outros aspectos, vai
fixam os valores que deverão ser pagos a título de prêmio, despender um valor menor com o prêmio do seguro.
estabelecendo uma ligação direta entre o nível de risco e o Por outro lado, um segurado que utiliza o veículo
montante de prêmio a ser pago. profissionalmente, que viaja com habitualidade, que não
A contratação a partir do perfil do segurado é uma pode dispor de local fechado para guardar o veículo na
prática comercial lícita, não obstante provoca algumas residência ou no trabalho, que partilha o carro com outras
reflexões a respeito da igualdade e da justiça social, pessoas, inclusive seus filhos na faixa etária entre 18 e 24
sabido que são exatamente os menos favorecidos anos, e outras características da mesma natureza, terá
aqueles que terão menores condições de atingirem um que despender uma importância maior a título de
maior desconto no valor do prêmio a ser pago ao pagamento de prêmios.
segurador. Essa modalidade de seguro, amplamente praticada
Em um momento histórico em que a sociedade no Brasil, impõe um especial cuidado e atenção no
brasileira tenta alavancar o crescimento econômico e com preenchimento da proposta de seguro para serem
isso diminuir as distâncias sociais, em que ilhas de evitadas controvérsias posteriores.
qualidade continuam convivendo com bolsões de miséria, Antes do advento do seguro de automóvel na forma
em que discutimos para tentar solucionar os problemas de de análise do perfil do segurado, as informações
violência urbana e rural e a falta de acesso ao mercado fornecidas para a seguradora eram basicamente,
formal de produção, trabalho e renda, é preciso pertinentes ao veículo, ou seja, ano, modelo, cor, marca,
reconhecer que todos os segmentos econômicos estão número de licença e do chassis e, algumas informações
convocados a refletir sobre formas de diminuir a má básicas sobre o segurado, como nome, documento de
distribuição da renda e as distâncias sociais dela identificação, endereço, e nada mais.
decorrentes. Na atualidade as propostas de seguros são
Esse trabalho tem a pretensão de contribuir para esse verdadeiros questionários que disparam várias
debate. perguntas, algumas das quais nem sempre
compreensíveis para o segurado, ou ainda, nem sempre
fáceis de serem respondidas.
Quantos de nós contratantes de seguro sabemos

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responder, com precisão, a quantidade de quilômetros


rodados em média na semana? Para aqueles que utilizam
seus veículos na vida profissional nem sempre é fácil ter
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também necessita da contratação de seguros, em


especial para seus veículos?
Esse questionamento merece uma reflexão.
essa precisão, salvo quando a contagem da
quilometragem é necessária para garantir o reembolso de
despesas. Na maioria das vezes, nem os que utilizam o 3. A ORDEM ECONÔMICA E A CONSTITUIÇÃO
veículo profissionalmente, nem aqueles que o utilizam em FEDERAL DE 1988.
suas vidas pessoais, sabem exatamente qual sua média
de quilometragem mensal. Os princípios constitucionais da ordem econômica
A propósito, não é difícil encontrar proponentes de são tratados a partir do artigo 170 da Constituição Federal
seguro que sequer saibam o número do Código de brasileira e se fundamentam, principalmente, na proteção
Endereçamento Postal de sua residência ou trabalho, em à dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do
vista da notória dificuldade que algumas pessoas têm em trabalho e da livre iniciativa, na construção de uma
memorizar números. sociedade mais livre, justa e solidária, na garantia do
O preenchimento da proposta de seguro no sistema desenvolvimento nacional, na liberdade de associação
de análise de perfil é fundamental para que o segurado profissional ou sindical, na garantia do direito de greve, na
não venha a ter nenhum problema no futuro, mas essa justiça social, na soberania nacional, na propriedade e
importância nem sempre é satisfatoriamente esclarecida função social da propriedade, na livre concorrência, na
pelo corretor de seguros ou pelo agente, nos casos de defesa do consumidor, na defesa do meio ambiente, na
contratação de seguro por meio de agência bancária. Por redução das desigualdades regionais e sociais, na busca
vezes essa falta de esclarecimento é decorrência da do pleno emprego e na integração do mercado interno ao
necessidade de celeridade. Contratantes e corretores de patrimônio nacional.
seguro têm pressa, assim como toda a sociedade Esses princípios podem ser encontrados nos artigos
contemporânea, e não há tempo disponível para discutir 1º, 3º, 8º, 9º e 170, todos da CF de 1988, e perpassam
adequadamente todas as minúcias da contratação, toda a interpretação do texto constitucional, como sempre
embora discutir cada detalhe fosse essencial para uma acontece com os princípios.
perfeita compreensão. A dignidade da pessoa humana é, sem dúvida, o mais
Por isso, não é raro encontrar casos em que as importante princípio constitucional seja porque se
seguradoras negam o pagamento de indenizações ao constitui em fundamento da República Federativa do
segurado quando constatam que houve preenchimento Brasil, conforme disposto no inciso III do artigo 1º, seja
incorreto da proposta, sob alegação de que as partes porque é a finalidade da ordem econômica, conforme
devem guardar a mais absoluta boa-fé nas declarações disposto no artigo 170, caput.
que prestam nos contratos de seguro. Essa boa-fé, a A esse respeito, o Ministro Eros Roberto Grau, do
propósito, é uma exigência da legislação civil, artigo 765 Supremo Tribunal Federal, afirma:
do Código Civil 2002. “A dignidade da pessoa humana comparece, assim,
Casos concretos de negativa têm desaguado no na Constituição de 1988, duplamente: no art. 1º como
Judiciário brasileiro que, muitas vezes, também não princípio político constitucionalmente conformador
compreende adequadamente as razões do segurador, (Canotilho); no artigo 170, caput, como princípio
nem tão pouco as causas em que se funda a negativa no constitucional impositivo (Canotilho) ou diretriz (Dworkin)
pagamento da indenização. – ou, ainda, direi eu, como norma-objeto.
As recorrentes condenações em juízo, as avaliações Nesta sua segunda consagração constitucional, a
realizadas pelos departamentos de sinistro e jurídico dos dignidade da pessoa humana assume a mais pronunciada
seguradores, o diálogo com corretores de seguros, entre relevância, visto comprometer todo o exercício da
outros fatores, motivaram os seguradores brasileiros a atividade econômica, em sentido amplo – e em especial, o
aprimorar continuamente o sistema de contratação por exercício da atividade econômica em sentido estrito – com
perfil, tornando-o mais simples e compreensível para os o programa de promoção da existência digna, de que,
segurados. repito, todos devem gozar. Daí porque se encontram
Com isso diminuíram as hipóteses de negativas de constitucionalmente empenhados na realização desse
pagamento integral das indenizações e, é certo que o programa – dessa política pública maior – tanto o setor
sistema caminha para cada vez maior aprimoramento, o público quanto o setor privado. Logo, o exercício de
que vai continuar determinando a diminuição dos qualquer parcela da atividade econômica de modo não
problemas nas relações entre segurados e seguradores. adequado àquela promoção expressará a violação do
Subsiste, porém, a dúvida: esse sistema de princípio duplamente contemplado na Constituição.”(
contratação não pode se constituir em uma forma de 2006, p. 196-197)
discriminação contra uma parcela da população brasileira De acordo com o Ministro Eros Roberto Grau,
menos favorecida economicamente mas que, no entanto, portanto, a iniciativa privada tem obrigação oriunda da

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Constituição Federal de pautar sua atividade econômica


também para a proteção da dignidade da pessoa humana,
contribuindo para que todos os cidadãos brasileiros
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muito mais amplo, e importa na '(...) releitura do Código


Civil e das leis especiais à luz da Constituição República'.
Propriedade, posse, contrato, empresa e família são
possam gozar de uma condição de vida que lhes permita o exemplos de institutos centrais do Direito Privado, que
alcance da dignidade em todas as nuances possíveis que terão de ser redefinidos para harmonizarem-se com os
esse termo comporta, tais como, acesso ao trabalho, à princípios solidarísticos inscritos na Constituição. E não
educação, saúde, moradia, proteção contra a violência e a apenas as normas especificamente relacionadas às
discriminação, entre tantos outros. relações privadas hão de comparecer nesta reconstrução
Essa reflexão, a propósito, já tinha sido realizada na conceitual do Direito Privado. Nela terão papel essencial
esfera do chamado direito civil constitucional, novel os direitos fundamentais, portadores dos valores mais
escola do direito privado à qual se filiam no Brasil Gustavo relevantes da ordem constitucional, além das grandes
Tepedino, Renan Lotufo, Teresa Negreiros e Maria Celina diretrizes políticas do Estado, consagradas nas normas
Bodin de Moraes, entre outros, que na Europa encontra programáticas.” (2003, p. 102)
estudos importantes em Pietro Perlingieri e na Argentina É possível afirmar, com o apoio dos autores retro
com Ricardo Lorenzetti. mencionados, todos eles ligados à pesquisa acadêmica e
Este último jurista, membro da Suprema Corte à vida docente em universidades de qualidade
argentina, afirma que: comprovada neste país, que a chamada
“(...) os códigos perderam a sua centralidade, constitucionalização do direito privado é um fenômeno
porquanto esta se desloca progressivamente. O Código é instalado no direito brasileiro e que esse processo
substituído pela constitucionalização do Direito Civil, e o contempla, em última análise, algo que é desejado por
ordenamento codificado pelo sistema de normas todos os cidadãos deste país, ou seja, o tratamento
fundamentais”. ( 1998, p. 45). solidário e justo às justas necessidades de cada qual, em
A Profª Dra. Teresa Negreiros, afirma: qualquer âmbito, seja no do direito público ou no do direito
“O direito civil voltado para a tutela da dignidade da privado.
pessoa humana é chamado a desempenhar tarefas de Os contratos de seguro, a propósito, atendem a essa
proteção, e estas especificam-se a partir de lógica muito mais do que outros contratos disponibilizados
diferenciações normativas correspondentes a cotidianamente ao grande público consumidor. De fato, é
diferenciações que implodem a concepão outrora unitária na lógica de um mutualismo solidário e em alguns
de indivíduo, dirigindo-se, não a um sujeito de direito aspectos até fraterno, que se sustenta toda a idéia dos
abstrato dotado de capacidade negocial, mas sim a uma contratos de seguro, bem como parte importante de sua
pessoa situada concretamente nas suas relações viabilidade econômica.
econômico-sociais (é o caso, no âmbito do direito Estudos de estatística e probabilidade de
contratual, das normas de proteção ao consumidor, ao materialização de riscos é que permitem que os
locatário, ao usuário de plano de saúde, etc. – as chamas seguradores constituam um fundo comum, que será
person-oriented rules). alimentado pela contribuição pecuniária de todos aqueles
(...) que possuem riscos semelhantes e que, para isso, se
A dignidade da pessoa humana não é apreendida, associam a outros, individualmente desconhecidos uns
pois, como um pólo de irradiação de direitos, somente, dos outros, mas que ao final, propiciam com sua
mas também de deveres. No campo do direito civil, como contribuição que cada qual esteja devidamente
já referido, esta mudança valorativa deriva para a amparado, e possa ver ressarcidos os valores de que
construção de uma nova ética em termos de relações necessita para a recomposição de seu patrimônio, nos
privadas.” casos de concretização do risco.
A temática de um direito privado voltado Portanto, a viabilização de princípios solidários é
primordialmente para a proteção da dignidade da pessoa parte da natureza dos contratos de seguro que, a
humana, relativizando por exemplo, a força de antigos propósito, se sustentam nessa mutualidade e a têm como
princípios como o pacta sunt servanda, vem sendo sua principal função social. Em outras palavras, se o
estudada e pesquisada no universo acadêmico brasileiro contrato de seguros se sustenta na mutualidade que
a partir da década de 90 e, portanto, não pode ser antecede a formalização de cada contrato individual, é na
considerada uma novidade. preservação da higidez dessa mutualidade que se
Em sua tese de doutorado, defendida perante a exprime a função social primeira dos contratos de seguro.
Universidade Estadual do Rio de Janeiro em 2003, o Manter a mutualidade preservada é o dever essencial do
jurista Daniel Sarmento afirma: administrador do fundo comum que é o segurador.
“Cumpre, por outra banda, destacar que a Há na verdade, em relação ao seguro contratado a
constitucionalização do Direito Privado não se resume ao partir da análise das respostas do questionário de
acolhimento, em sede constitucional, de matérias que no avaliação de risco, ou simplesmente seguro de perfil, uma
passado eram versadas no Código Civil. O fenômeno é operação técnica e econômica que visa aglutinar

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contratantes que representem riscos semelhantes,


afastando, desse modo, todos os que representem riscos
maiores que deverão ser por sua vez, aglutinados em um
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O pensamento de quem faz a diferença

uma falha de mercado e como tal, deve gerar uma


obrigação tributária, como acontece para os adeptos da
economia do bem-estar social. E, para o grupo da análise
grupo que apresente essas características. econômica do mercado, os próprios interessados devem
Ocorre que em última análise, ficam foram da negociar a internalização das externalidades, cabendo ao
possibilidade de contratação aqueles que por razões direito a função de reduzir ao máximo os custos que essa
alheias à sua vontade representam um volume de risco transação possa ter.
que torna a precificação do contrato de seguro de No caso dos seguros de perfil essa internalização
automóvel inviável, como acontece, por exemplo, com os vem ocorrendo, em parte, na linha do pensamento do
que residem em áreas de muito risco de assalto, ou os que bem-estar social, com sentenças judiciais que obrigam as
utilizam muito o veículo por conta de sua atividade seguradoras ao pagamento de indenizações em casos
profissional, como é o caso de representantes comerciais, em que, comprovadamente, o segurado deixou de
ou profissionais de assistência técnica, entre outros. atender às características do perfil declinado no
Ou seja, ao criar condições de precificação mais questionário de avaliação de risco, durante o período de
benéficas para aqueles que representem um risco menor vigência do contrato, porém sem informar previamente o
para a mutualidade, o inverso acaba igualmente se segurador.
materializando, como um resultado indesejado tanto para Assim ocorre, comumente, quando o segurado muda
os seguradores como para os segurados. sua residência para uma cidade durante o período de
Fabio Ulhoa Coelho ensina que vigência do contrato, sem informar o segurador. Se essa
“Externalidade é todo efeito (negativo ou positivo) que cidade representa um risco maior em termos de roubou ou
uma pessoa produz sobre a atividade econômica, a renda furto de veículo, entendem muitos seguradores que,
ou o bem-estar da outra, sem compensar os prejuízos que ocorrido o sinistro, não é devida a indenização em razão
a causa nem ser compensada pelos benefícios que traz. do fato de que o valor do prêmio do seguro foi precificado
(...) para uma região e o veículo estava sendo utilizado em
Não há como eliminar, na exploração de atividades outra.
econômicas, uma determinada margem de produção de Uma parcela do judiciário brasileiro tem entendido
efeitos negativos ou positivos não compensáveis. Nessa que essa falha de comunicação do segurado com o
margem, correspondente às externalidades irrelevantes, segurador não ofende o princípio da boa-fé objetiva que
os efeitos gerados pela empresa não merecem sequer a deve reger essa relação contratual, conforme determina o
atenção do direito. Correspondem a fatos não jurídicos, próprio Código Civil. Não vê maiores conseqüências no
isto é, ignorados pela ordem jurídica, tendo em vista a fato do segurado deixar de informar àquele que protege
irrelevância dos interesses atingidos, segundo seu patrimônio a mudança de endereço de residência,
ponderações de valor variáveis historicamente.”(2005, p. dado que aliás é bastante relevante e que é lembrado pelo
32-33) segurado em relação à assinatura de revistas e jornais, a
Tratando do mesmo assunto, externalidades, Fabio informação para bancos e operadoras de cartão de
Nusdeo destaca crédito, por exemplo, para garantir a continuidade do
“As externalidades correspondem, pois, a custos ou envio de extratos, talões de cheque e faturas.
benefícios circulando externamente ao mercado, vale A realidade é que essa externalidade provocada
dizer, que se quedam incompensados, pois, para eles, o pelos contratos de seguro de perfil demanda a
mercado, por limitações institucionais, não consegue contribuição do próprio Estado para ser sanado, o que se
imputar um preço. E, assim, o nome externalidade ou dá, por exemplo, com a garantia de maior segurança
efeito externo não quer significar fatos ocorridos fora das social para que as pessoas possam possuir patrimônio
unidades econômicas, mas sim fatos ou efeitos ocorridos com um pouco mais de garantia.
fora do mercado, externos ou paralelos a ele, podendo ser Assim, não se pode esquecer que é dever do Estado
vistos como efeitos parasitas. garantir que veículos estacionados nas ruas das cidades
(...) não sejam furtados por meliantes, tanto quanto é dever de
Um ponto essencial é este: não se trata, em nenhum o Estado garantir que bandidos armados não circulem
dos casos aqui citados, de uma ação delituosa ou ilegal livremente pelas ruas, abordando motoristas em
por parte dos causadores dos custos. Eles exercem-na semáforos e saindo com seus carros como produto de
dentro das regras do jogo de mercado.” (2006, p. 155) roubo; ou, ainda, é dever do Estado fiscalizar
Ambos os estudiosos apontam que a internalização rigorosamente a atividade dos desmanches e oficinas
das externalidades é a forma encontrada para compensar mecânicas, impedindo que se transformem em locais
o desequilíbrio causado pela externalidade negativa. onde veículos roubados ou furtados são destruídos para
Essa internalização pode ocorrer por dois modos que sejam aproveitadas suas partes de carroceria e de
diferentes, segundo Fabio Ulhoa Coelho: o primeiro com o mecânica.
reconhecimento de que a externalidade é decorrente de Nessa mesma linha de raciocínio, não é exagero

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lembrar que é dever do Estado garantir que as vias


públicas estejam em perfeitas condições de tráfego, com
placas de sinalização visíveis e tecnicamente bem
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O pensamento de quem faz a diferença

Assim é que o consumidor decide a compra do carro


e, somente após analisar os riscos a que o patrimônio
estará sujeito quando estiver sendo utilizado, decide pela
colocadas; que é dever do Estado fiscalizar a obtenção de contratação de um seguro para protegê-lo desses riscos.
carteiras de habilitação e a forma como os condutores se Portanto, se não há impulso é mais plausível exigir do
comportam nas vias públicas; que é dever do Estado consumidor que busque entender adequadamente os
multar os infratores e retirar de circulação veículos sem termos do negócio contratual que está realizando.
condições de uso, que são mais susceptíveis de causar Não é demais recordar que a política nacional de
acidentes e prejuízos materiais e corporais expressivos relações de consumo expressa no artigo 4º da Lei
por falta de adequada manutenção. 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, prevê
Enfim, não é exagero exigir que o Estado cumpra seu como princípio “V – educação e informação a
papel e com isso, permita a muitas atividades econômicas fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e
que tenham maior facilidade para cumprirem seus deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo.”
próprios papéis. Isso significa que o consumidor tem deveres
Afinal, como já afirmado neste trabalho, compete à inerentes à sua condição de contratante de seguros, deve
iniciativa privada e à iniciativa pública garantir a dignidade conhecer esses deveres e cumpri-los rigorosamente. O
da pessoa humana em suas diferentes atividades. conhecimento de seus deveres deverá ser feito,
principalmente, pelo segurador, a quem competirá
municiar o segurado com informações sobre o contrato
4. EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO E PARA O desde o momento da publicidade, passando pela
CONSUMO DE SEGUROS. apresentação da proposta, até chegar ao manual do
segurado, que deverá ser cada vez mais uma peça
Educar para o consumo de produtos e serviços é um transparente, clara, didática e formulada de modo a
tema que vai ocupar muito o debate nos mercados permitir a ampla compreensão dos vários termos e
econômicos neste século, porque a sofisticação de cláusulas do contrato de seguro.
produtos e serviços é uma tendência cada vez maior. O Estado, em um regime de livre iniciativa, também
Produtos com utilização já consagrada em todas as deverá permitir aos cidadãos que conheçam melhor as
camadas sociais se sofisticam a cada dia. Geladeiras, práticas de mercado, sobretudo em relação ao consumo.
fogões, televisores e aparelhos celulares incorporam um Não é utópico desejar que os currículos das escolas de
número cada vez maior de funções, tornando-se mais ensino fundamental e médio contemplem aspectos
atrativos, é certo, mas tornando-se também mais difíceis básicos de economia e proteção ao consumidor, ambos
de serem utilizados sem a necessária orientação dos conhecimentos fundamentais na formação de cidadãos
vendedores e dos manuais que acompanham os em condições de participar ativamente da construção de
produtos. uma sociedade mais solidária e mais justa, conforme
Os serviços também se sofisticam na medida em que determina a Constituição Federal.
agregam outras possibilidades. Assim, o mercado de A experiência educacional em outros países do
seguros, por exemplo, objeto das nossas reflexões, mundo aponta que as crianças, desde muito cedo,
incorporou aos seguros de automóvel o atendimento 24 recebem informações sobre consumo e economia de
horas, o carro reserva, o desconto em estacionamentos, mercado, de modo a se prepararem adequadamente para
entre inúmeras outras vantagens para os consumidores viver e agir em sociedade.
que, no entanto, precisam estar satisfatoriamente É certo que àqueles que oferecem o serviço ou
informados para que possam utilizar melhor. produto compete a maior responsabilidade sobre a
Ocorre, no entanto, que o próprio contrato de seguro informação e a formação de consumidores responsáveis.
ainda é, em muitos casos, um ilustre desconhecido para o No caso dos contratos de seguro é dos seguradores,
consumidor, que sequer se atenta adequadamente para sem dúvida alguma, a grande responsabilidade por
as cláusulas do contrato, muito menos para sua educar o consumidor e permitir a ele que compreenda,
terminologia, inegavelmente ainda complexa para o fundamentalmente, que é parte de uma mutualidade para
entendimento de grande parte dos consumidores a qual todos devem contribuir não apenas com o
(“Prêmio???? Mas isso não é o que eu vou receber????”) pagamento de prêmios, mas principalmente com atitudes
Seguro raramente é uma compra motivada por pró-ativas que impeçam o risco de se materializar, porque
impulso, como acontece com produtos como veículos, o risco ocorrido com um dos segurados alcança, sem
eletro-eletrônicos, ou mesmo com alguns serviços, como dúvida alguma, todos os demais.
viagens, participação em clubes sociais, ou assinatura de É preciso pensar em políticas mais agressivas e
revistas. Seguro é um valor que o consumidor agrega, efetivas de educação dos consumidores de seguro,
quase sempre sem desejar, a um produto ou serviço que iniciando esse trabalho nas escolas e faculdades, onde
ele já decidiu comprar. certamente se encontram os consumidores de amanhã.

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Um consumidor de seguro consciente de seus


deveres e direitos, consciente de sua participação em
uma mutualidade, consciente dos prejuízos que pode
O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

hercúlea, exige esforço diário e sistemático.


Enquanto esse esforço não se materializa em
mudanças significativas, não é demais lembrar com Fabio
causar a todo o grupo, será por certo alguém menos Ulhoa Coelho que
suscetível a participar ou mesmo a tolerar a prática de “O sistema econômico fundado na livre iniciativa, o
fraudes. Será, também, alguém mais informado sobre os princípio geral é o da liberdade de composição dos
benefícios da contratação do seguro e, certamente, com preços. Consoante estabelecem as legislações civil e
maior consciência de que o seguro é também um agente comercial, relativamente aos contratos de compra e
econômico importante para construir a sociedade mais venda, as partes podem livremente determinar o preço da
solidária e mais justa com a qual todos sonhamos. coisa transacionada. Qualquer outra regra jurídica, de
caráter geral e vigorante sem prazo, que dispusesse em
sentido contrário acerca dos preços dos negócios seria
5. CONCLUSÃO. inconstitucional, em face do desenho da ordem
econômica elaborado pelo constituinte.” (1994, p. 180)
O seguro de automóvel contratado a partir da análise Assim, no mercado brasileiro de seguros a livre
de riscos, ou seguro de perfil, não caracteriza uma fixação de preço a partir de critérios fixados por aquele
discriminação contra pessoas que tenham uma incidência que vai disponibilizar o serviço e a partir de informações
maior de possibilidade de riscos. É uma prática lícita de disponibilizadas por quem vai contratar o serviço, é
mercado que como tal, gera conseqüências positivas e garantida pela Constituição Federal.
negativas, reconhecidas como externalidades, e que não A eliminação dessa liberdade de precificação
precisam ser necessariamente internalizadas para contraria pressupostos da ordem econômica garantidos
suprirem essa falha de mercado. no texto constitucional, e a melhoria dessa forma de
Ideal seria que pudessem ser internalizadas por estabelecer o preço depende de condições que não se
cooperação mútua envolvendo segurados, seguradores e cingem exclusivamente ao mercado de seguros,
Estado, todos atendendo seus deveres e, passando por condições de segurança que envolve todo o
conseqüentemente, usufruindo de seus direitos. conjunto da sociedade brasileira.
Ao Estado o dever de garantir segurança a todos os A construção de justiça social e a diminuição das
cidadãos, prevenindo roubos e furtos, punindo seus diferenças são, portanto, tarefa de toda a sociedade civil.
praticantes, fiscalizando atividades que podem se tornar Mas, sem dúvida, o Estado tem o papel essencial de
criminosas na área de desmanche de veículos e de produzir as mudanças estruturais que permitirão essa
oficinas, fiscalizando o estado dos veículos em circulação, construção, ampliando enormemente o acesso à
diligenciando para que somente pessoas efetivamente educação, à saúde, à moradia, à formação técnica para o
habilitadas recebam autorização para guiar veículos mundo do trabalho e, consequentemente, à segurança e
automotores, garantindo boas condições nas vias bem-estar social.
públicas e fiscalizando efetivamente as privatizadas, A atividade de seguros depende disso, diretamente,
garantindo sinalização tecnicamente eficaz nas vias, para poder fornecer cada vez mais, uma atividade
educando sistematicamente motoristas e consumidores marcada pela excelência, qualidade e compromisso
de contratos de seguro, cumprindo enfim seu papel social.
constitucional.
Aos seguradores, com o cumprimento do dever de
colocar no mercado uma prestação de serviços em área 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de seguros que seja eficiente e transparente, que respeite
os consumidores e contratantes, com cláusulas COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. S.Paulo:
tecnicamente bem redigidas e compreensíveis, com Saraiva, 2005, p. 32.
melhoria constante da capacidade técnica de O Empresário e os Direitos do Consumidor. S.Paulo: Saraiva,
funcionários, prestadores de serviços e corretores e 1998.
agentes, com educação para o consumo de contratos de GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de
seguro. E aos próprios contratantes de seguro, 1988. 11ª edição, S.Paulo: Malheiros, 2006.
cumprindo o dever de se informar melhor sobre o que LORENZETTI, Ricardo. Fundamentos do Direito Privado. 1ª
contratam, sobre seus direitos e deveres, sobre as edição, S. Paulo:Revista dos Tribunais, 1998.
peculiaridades dos contratos que assinam, sobre as NUSDEO, Fabio. Curso de Economia – Introdução ao Direito
informações que devem prestar e em que momento Econômico. 4ª edição, S.Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
devem fazê-lo. SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações
Esse seria o quadro ideal, difícil de ser alcançado, Privadas. Tese de Doutorado apresentada perante a Universidade
mas não impossível. Para chegar a ele é preciso modificar Estadual do Rio de Janeiro, 2003, não publicado.
muitas práticas e ações, e isso é tarefa que de tão

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Angélica Lúcia Carlini

FORMAÇÃO ACADÊMICA
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O pensamento de quem faz a diferença


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É professora concursada de Direito Comercial I, II e III no Instituto de


Formada em Direito pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Ciências Jurídicas da Universidade São Francisco, campus de
Universidade Católica de São Paulo, em 1.982. Bragança Paulista, desde agosto de 2.001, tendo sido aprovada em
Mestre em História Brasileira Contemporânea, pelo Programa de Pós primeiro lugar em concurso público.
Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica de São É professora de Direito Comercial I, II e III, de Direito Civil –
Paulo, tendo defendido sua dissertação em sessão pública, em 10 de Responsabilidade Civil e de Direito do Consumidor no Curso Anglo-
agosto de 1.995, quando obteve grau dez. Jurídico, em Campinas, desde 2.002.
Tem Curso de Extensão Universitária na Área de Contratos, realizado É professora orientadora de monografias dos alunos do Instituto de
em 1.984, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ciências Jurídicas da Universidade Paulista de Campinas, e do
Mestre em Direito Civil pela Universidade Paulista – UNIP, Campinas, Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade São Francisco, campus
tendo sido aprovada em defesa pública realizada em 10 de maio de de Bragança Paulista, nas áreas de Direito Comercial e Direito do
2.002 . Tema da dissertação: “Cláusulas Restritivas de Direito nos Consumidor. É orientadora de projeto de iniciação científica de aluno
Contratos de Seguro de Automóvel.” do Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Paulista, campus
É aluna do programa de Doutorado em Educação da Pontifícia Campinas, na área de Regulamentação Tarifária do Setor Elétrico no
Universidade Católica de São Paulo, onde realiza pesquisa sobre Brasil.
Formação de Professores para o ensino de Direito Público e Privado.

ATUAÇÃO PROFISSIONAL
É sócia proprietária de CARLINI ADVOGADOS ASSOCIADOS desde
2.000, escritório de advocacia que atua diretamente nas áreas de
Direito do Seguro, Reparação de Danos e Direitos do Consumidor,
situado em Campinas/SP, e que estende sua atuação a todo interior de
São Paulo, sul do Estado de Minas Gerais e norte do Estado do
Paraná.
Foi sócia proprietária de CARLINI E MACHADO ADVOGADOS, no
período de 1.991 a 2.000, atuando em Direito do Seguro e Reparação
de Danos, bem como em Direito Empresarial e Civil.
Atuou como advogada associada de 1.982 a 1.991 junto a escritórios
de advocacia em São Paulo, nas áreas de direito de seguro,
empresarial e civil.
É sócia do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor,
BRASILCON, e conselheira do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro
- IBDS, desde 2.000.

ATUAÇÃO COMO PROFESSORA E CONFERENCISTA


Foi professora de Ética Profissional e Estudo de Problemas Brasileiros,
na Faculdade Marcelo Tupinambá, em São Paulo, no período de 1.988
a 1.992, para os cursos de Educação Artística, Bacharelado em Música
e Musicoterapia.
Foi professora de Direito Comercial na Central de Concursos, em
Campinas, de 1.993 a 1.997.
Foi professora de Seguros de Responsabilidade Civil, Facultativa e
Geral, de Direito e de Ética Profissional, no Curso Preparatório Hélio
Lebre, em Campinas, de 1.994 a 1.997.
Foi professora de Direito Comercial I, no Instituto de Ciências Jurídicas
da Universidade Paulista em São José dos Campos, de março a
dezembro de 2.000.
Foi professora de Responsabilidade Civil e Seguro de Pessoas, nos
Cursos Preparatórios para Exame de Habilitação de Corretores de
Seguro, promovidos pela CARLINI E MACHADO CONSULTORIA DE
SEGUROS, de 1.996 a 2.000.
Foi professora de Direito Civil - Parte Geral de Obrigações, Parte
Especial, Responsabilidade Civil e Direitos do Consumidor, no Curso
Triumphus, preparatório para ingresso nas Carreiras Jurídicas da
Magistratura e do Ministério Público, em Sorocaba, de fevereiro de
2.000 a dezembro de 2.000.
Foi professora de Direito do Consumidor, Direito das Obrigações e
Responsabilidade Civil no Curso Ductor, em Campinas, preparatório
para ingresso nas Carreiras Jurídicas da Magistratura e do Ministério
Público, de agosto de 2.000 a dezembro de 2.001.
É professora de Direito Comercial I, II e III, no Instituto de Ciências
Jurídicas da Universidade Paulista de Campinas, desde março de
1.998.

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Antonio Penteado Mendonça


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O pensamento de quem faz a diferença

Advogado

PERFIL DO SEGURADO:
Uma Solução Importante

Quando o perfil do segurado foi desenvolvido o la, com base nas disposições legais que exigem a boa fé
que se queria era uma forma de beneficiar o bom do segurado na contratação do seguro.
segurado, cobrando mais barato dele e trazendo, se Com base nisto, o questionário de perfil do
possível, o seu seguro para dentro da companhia. O perfil segurado passou a ser uma ferramenta importante em
não foi pensado para a seguradora negar a indenização. qualquer processo de regulação de sinistro. Começando
Conceitualmente ele se baseia no princípio básico da estes procedimentos pela verificação das informações do
operação de seguro, qual seja, dividir proporcionalmente questionário, a seguradora pode balizar melhor os
e da forma mais exata possível, os diferentes riscos de um trabalhos de seus prepostos, além do que, tem como
determinado grupo entre seus integrantes. situar melhor o seu segurado, usando para isto os
A questão que se colocava à época era como parâmetros do questionário como referencial para
fazer para o bom segurado não pagar a indenização do análise.
mau segurado, fato que acontecia regularmente pela Num primeiro momento houve uma grita ampla e
transferência para quem não devia do ônus de arcar com a quase geral contra o questionário de perfil do segurado.
alta sinistralidade causada por segurados menos Afinal, não era comum as seguradoras negarem as
cuidadosos. indenizações com base em eventuais informações
Desenhado para levar em conta uma série de incorretas, não porque não o quisessem, mas porque não
fatores físicos, geográficos, de idade e sexo, o perfil do tinham um mecanismo legal que as permitissem fazê-lo. O
segurado é uma tabela de bonificação que sai de um que não estava claro era que se elas começavam a negar
patamar máximo semelhante para todos e favorece os indenizações por conta do perfil do segurado, de outro
que conseguem a maior pontuação dentro dos itens lado o bom segurado estava pagando menos pelo seu
elencados para medir o risco. seguro. Além disto, não era justo o mau segurado se valer
Assim, marca e modelo do veículo, garagem em de uma regra de desconto para o bom segurado para levar
casa e no trabalho, cidade, bairro, idade e sexo passaram uma vantagem indevida, transferindo para o bom
a contar pontos para diminuir o prêmio dos seguros de segurado o ônus de complementar parte da indenização
automóveis. para a qual ele não havia pago o prêmio.
Ao mesmo tempo, serviram também, como Com o passar do tempo as vantagens do perfil do
vantagem indireta, mas não menos importante, para segurado foram se tornado evidentes e hoje ninguém
melhorar o relacionamento entre segurados e mais, de boa fé, discute sua aplicabilidade para colocar
seguradores, já que o preenchimento indevido do preço nos seguros e para negar indenizações, quando
questionário do perfil, caso dê uma vantagem indevida seu preenchimento é feito com o intuito claro de pagar
para o segurado, pode significar o não pagamento da menos por um seguro que deveria custar mais caro.
indenização. Em outras palavras, o perfil do segurado veio
Um dos pressupostos essenciais para o bom para ficar. Graças a ele o bom segurado paga menos pelo
funcionamento do instituto do seguro é a boa fé entre as seu seguro. E o mau segurado, merecidamente, tem a
partes. No Brasil este conceito é tão valorizado pelo indenização negada.
legislador que, ao contrário do que acontece na maioria
dos contratos reguladores das outras atividades
econômicas, o contrato de seguro tem três vezes a
exigência legal da boa fé.
Ao preencher o questionário com informações
incorretas, o segurado não está necessariamente agindo
com dolo, mas se esta informação representar uma
diminuição no prêmio, uma agravação de risco, ou uma
indenização maior ou indevida, a seguradora pode negá-

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Celso Paiva
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Diretor da Alfa Seguradora

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

O seguro de Automóvel no Brasil se tornou um O mercado segurador, sem exceção, tem sofrido
dos produtos mais modernos do nosso mercado com situações particulares, e podemos dizer até mesmo
segurador. A construção da tarifa é baseada numa multi “generalizadas”, quanto ao conceito “quanto melhor for o
combinação de fatores: o veículo, sua utilização, sua risco” - na visão de cada seguradora – “menor será o
circulação habitual, as características do seu proprietário custo”, pois esse é o ponto principal que deverá nortear a
e/ou usuário principal e o histórico, tanto do veículo quanto apuração do custo para angariar/reter aquele risco (
do motorista. sempre lembrando a “dupla dinâmica”: bem/usuário ).
Com essa variedade de componentes, que leva Se por um lado já se percebe o amadurecimento
cada dia mais, a uma taxação individualizada do binômio técnico das seguradoras, no investimento de ferramentas
veículo/usuário, muitos são os critérios (questionário para estatísticas de última geração, contratação de “birôs” de
apuração do perfil do motorista e sua ponderação) taxação especializados na carteira de AUTOMÓVEL na
existentes no nosso mercado, haja vista que cada comparação dos seus produtos com a concorrência,
seguradora considera os fatores de maior ou menor planilhas atuárias complexas, entre outros, há uma ponta
importância na sua “precificação”. nessa equação que se não atuar firmemente treinada e
Pela teoria atuarial dos Grandes Números, o comprometida neste mesmo sentido, compromete todo o
resultado individual para o mesmo tipo de bem patrimonial trabalho percorrido até aqui, na fixação do conceito
é tendencioso a ser um número parecido, principal “Melhor risco, menor custo”: o canal de vendas.
independentemente da seguradora, mas devido aos Esse conceito, que está implícito pela utilização
fatores descritos anteriormente, mostra-se totalmente do Questionário de Avaliação de Risco (QAR), que
particularizado para cada uma delas. deveria agradar em cheio todo tripé da cadeia de seguros
Ainda devemos levar em consideração outros (seguradora/corretor/segurado ) quando não praticado
tantos tipos de variações existentes: tamanho da frota por qualquer desses participantes, com a seriedade que
segurada, atuação regional, direcionamento da carteira deve ser praticado, leva a um descompasso sem
por tipo de segurados e/ou veículos, capacidade de precedentes, e com o qual ainda convivemos hoje,
retenção da seguradora, além de acordos comerciais com mesmo que já tenha se passado tanto tempo desde a
montadoras, rede de concessionárias, venda por nichos chegada no Brasil da “aplicação do perfil “ no risco
específicos, canais de vendas, etc “Automóvel” ( e depois utilizado também para outros
Todos esses aspectos somados, diminuídos, segmentos do mercado segurador: “riscos patrimoniais”,
multiplicados e divididos em “n” combinações levam o seguros de vida individual, etc) no início da década de 90 (
corretor de seguros e consequentemente nossos século passado ! ).
segurados, a uma gama de opções, que em média, O sistema de vendas, muito influenciado pelas
resultam em três cotações por elaboração de proposta regras básicas do mundo capitalista - “vender muito”,
para escolha do melhor “custo/benefício” na compra da ”sempre”, ”o mais rápido possível” e com o “menor custo” -
cobertura mais apropriada para o risco. leva ao desgaste dessa ferramenta, “democrática” e justa,
Os fatores mais comuns na determinação dessa de como determinar quanto cada um de nós, baseados
influência do “perfil” no custo do seguro são as “já famosas nas nossas próprias características e histórico pessoal,
respostas” quanto a : sexo, idade, tempo de habilitação, deveríamos pagar para ter protegidos nossos bens;
utilização do veículo, guarda do mesmo dia e noite , mesmo que muito parecidos com o dos outros, mais muito
quilometragem média anual e o compartilhamento da influenciado por nosso próprio comportamento.
utilização do veículo ( e é aí que reside o maior desgaste O canal de vendas precisa, cada vez mais,
na relação seguradora/corretor/segurado – muitas regras abordar o “comprador” com rapidez ( a pressa está nas
diferenciadas existentes para o mesmo fator, conceitos duas pontas – ninguém hoje em dia “pode” perder “um
subjetivos,...). minuto do seu precioso tempo” nem para perguntar nem

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para responder ) e aí ocorrem todos os maus entendidos


comuns aos que já nos habituamos a presenciar, e que
atualmente, em número cada vez mais crescente,
O pensamento de quem faz a diferença

Celso ( Luiz do Barrio de ) Paiva


Número 3 . Agosto 2007

Graduado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); pela


Faculdade de Engenharia de Campinas, em Engenharia Elétrica,
acabam na frente de um sistema judiciário desconhecedor ingressou no mercado de seguros desde 1980, no antigo Grupo
desse mecanismo todo, e quase sempre propenso a Atlântica Boa Vista (hoje Bradesco Seguros), iniciando sua carreira no
favorecer a parte mais fraca da cadeia comercial, leia-se: departamento de Engenharia, como inspetor e perito técnico para
o consumidor. Riscos Industriais.
Atuou posteriormente como gerente/diretor nas seguradoras Argos
Não que realmente ele não o seja, mas é certo Companhia de Seguros (hoje Chubb do Brasil),e INTERAMERICANA
que esse mesmo consumidor passou a conhecer, a cada CIA DE SEGUROS GERAIS/AIG-BRASIL/UNIBANCO AIG BRASIL)
dia mais, todos esses trâmites da influência de que suas respectivamente, acumulando experiência nas áreas Técnica,
respostas determinam o seu “custo”. Comercial e Operacional, em todos os ramos.
Desde o final de 1998, está no Grupo ALFA de SEGUROS participando
E tudo isso desencadeia na tentativa de nós, desde o início da sua implantação/estruturação, até hoje.
seguradores, neutralizarmos os abusos decorrentes da Como Diretor do Grupo, é o responsável operacional para todos os
falta de seriedade e postura dos “poucos” que ainda ramos de atuação das duas seguradoras, Alfa Seguradora S.A. e Alfa
permanecem com o espírito envelhecido, daquele Previdência e Vida S.A.
“cidadão retrógrado”, que ainda quer levar “vantagem em
tudo”, baseado na conhecida, e tomara que tendendo ao
desaparecimento, “Lei de Gerson”. Por sinal, excelente
jogador do futebol brasileiro , peça fundamental na
conquista do TRI Campeonato Mundial (1970),
injustamente associado a essa péssima prática cultural,
fruto de uma frase dita por ele num comercial de cigarros,
que só os “da velha guarda” assistiram.
E a disputa permanece acirrada: “ninguém me
explicou nada sobre isso quando fechei meu seguro”...
“mas o senhor não respondeu corretamente essa
pergunta”... “mas eu não assinei esse questionário”...
“mas na sindicância apuramos que...”
Se a mentalidade de todos nós não estiver
mudando para melhor, abandonando esses velhos maus
vícios da nossa cultura, ainda conviveremos com esse
desgaste desagradável entre “indústria” e “consumidor”
que permanecerá “puxando a brasa, cada uma para a sua
sardinha “ impedindo o fortalecimento desse conceito tão
importante e básico que deveria prevalecer sempre:
“ Para o melhor risco, o menor custo”.

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Aliança do Brasil

Cláudio Afif Domingos


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Diretor

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

O questionário denominado “perfil do segurado”,


se devidamente preenchido com as informações
necessárias, é um hábil instrumento de justiça tarifária na
contratação de um seguro, tratando, “justamente e
desigualmente os desiguais”.
Em comparação paralela, esse perfil, se adotado
pelas financeiras, poderiam baratear os juros quando da
concessão de créditos.
Um cidadão casado, com mais de 30 anos,
morador em Guaxupé – MG, não pode pagar o mesmo por
um seguro de carro que um jovem de 20 anos, solteiro,
morador na cidade do Rio de Janeiro; também não pode
um indivíduo, que paga todas suas contas no vencimento,
ter a mesma taxa de juros de um outro que sempre paga
após prazo, mas que não tem seu nome no Cadastro
Negativo.
Como não há Cadastro Positivo, a taxa é única,
baseada somente no risco da inadimplência.
As Seguradoras vêm praticando, desenvolvendo
e aperfeiçoando questionários com as informações
necessárias para uma taxação certa e justa. Um seguro
bem contratado não terá problemas quando da regulação
e indenização.
Os problemas maiores ocorrem por omissões ou
falsas informações, sendo as principais, o condutor real
do veículo e a forma e local de uso. Alguns poucos
corretores usam esse expediente para competir com
preços mais baixos e, infelizmente os segurados
acabaram por conhecer essa prática, muitas vezes dando
eles mesmos falsas informações ao corretor. Quando da
regulação, se o fato for descoberto e hoje é mais fácil
apurar, gerará a negativa da indenização.
Por isso sempre digo que um dia descobrirão
que a maior “malandragem” será ser honesto. Leis fortes
contra as fraudes de toda espécie poderão colaborar para
esse novo tempo.

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Aliança do Brasil

Heitor Rigueira
O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

Atuário

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

Toda a atividade seguradora está centrada no risco acompanhamento.


assumido ao garantir o pagamento de indenização no caso Para a apuração do Capital Base e do Capital
de ocorrência de determinado evento futuro e incerto. Em Adicional referente aos riscos de subscrição, as referidas
função das características desse risco devem ser definidos Resoluções apresentam critérios de cálculo, sendo que, se
todos os parâmetros que irão conduzir a operação do constatada insuficiência do Patrimônio Líquido Ajustado em
seguro: tarifação, estratégias de comercialização com relação ao Capital Mínimo, deve ser implementado Plano de
destaque à política de subscrição, mensuração e Recuperação, Plano Corretivo, Direção Fiscal ou até
gerenciamento das reservas técnicas, estratégias de mesmo Cassação de Operação, tudo em função do grau de
comercialização, dentre outros. insuficiência. Essa é mais uma evidência da importância de
Nesse contexto, a identificação e a análise das adequada política de seleção de riscos como condição para
variáveis relativas ao perfil do segurado em relação aos o controle da saúde financeira da seguradora.
riscos cobertos são, sem dúvida, fundamentais para Com relação aos reflexos do perfil do segurado
propiciar ao segurador maior conhecimento sobre a nas indenizações, destaca-se a aquisição, por parte do
dinâmica de ocorrência dos sinistros, e conseqüentemente segurador, de uma visão mais crítica para avaliar se os
fornecer subsídios para que as tomadas de decisão sejam sinistros ocorridos estão aderentes ao esperado para cada
mais seguras e precisas, impactando na contratação do grupo. Com base no conhecimento adquirido do estudo das
seguro, no acompanhamento do nível de ocorrência dos variáveis correlacionadas ao risco, a seguradora pode criar
sinistros e no pagamento das indenizações. regras estatísticas para identificação dos sinistros que
No que tange aos impactos na contratação, a fogem ao esperado para cada perfil, de forma que os
identificação dos perfis de segurados que compõem uma eventuais desvios encontrados sejam investigados de forma
determinada carteira influencia diretamente no processo de mais minuciosa a fim de averiguar se estes são fraudes ou
tarifação. A segmentação dos segurados em grupos situações atípicas, porém verdadeiras.
homogêneos quanto ao risco permite a cobrança de prêmios Aliás, a questão da fraude é muito relevante visto
condizentes com a expectativa de sinistros de cada grupo, o que estima-se que cerca de 20% dos gastos com
que, além de justo, salvaguarda a solvência da seguradora. indenizações são relativos a pagamentos fraudulentos.
O correto delineamento dos perfis do segurado, o Além de ser um crime, a fraude compromete a solvência da
que deve ser realizado a partir de métodos estatísticos, é o seguradora e acaba por onerar o prêmio pago por todos os
norteador do desenho dos produtos a serem segurados. Geralmente a fraude ocorre por omissão de
comercializados, mais especificamente na adequada informações relevantes para o dimensionamento do risco e
redação do clausulado das Condições Gerais, pela apresentação de documentos falsos. Por este motivo,
particularmente quanto à definição dos riscos cobertos e as informações sobre a relação entre os perfis dos
excluídos, periodicidade de vigência, regras de renovação e segurados e o risco a ser assumido pela seguradora são
endossos, etc. importantes na avaliação de toda a documentação relativa
Ainda sobre os impactos na contratação, é ao processo de liquidação de sinistros.
destaque a exigência do Capital Mínimo Requerido, tema Os pontos aqui levantados refletem apenas alguns
que tem sido bastante discutido ultimamente em função das dos principais aspectos da operação da seguradora que
Resoluções CNSP nº 155 e 158 de 2006, que entrarão em podem ser influenciados pelo conhecimento do perfil dos
vigor a partir de 1º de janeiro de 2008. Essas Resoluções segurados. Muito há para se abordar sobre esse vasto
disciplinam que o Patrimônio Líquido Ajustado deve ser assunto, contudo, mister é salientar que, antes de todo esse
superior ao Capital Mínimo Requerido para autorização e processo de avaliação do risco, é indispensável que a
funcionamento das sociedades seguradoras, o qual é seguradora possua sistemas de informação confiáveis,
composto por capital base mais capital adicional relativo a eficazes e consistentes, tanto para cada risco
diversos riscos, com destaque para o de subscrição, primeiro individualmente quanto para dados agregados, de modo a
dentre vários outros riscos, sobre o qual se deseja cuidadoso viabilizar as análises estatístico-atuariais.

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Herminio Mendes Cavaleiro Neto


O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

Advogado e Corretor de Seguros

A ilegalidade da negativa de atendimento do Artigo publicado em Dezembro de 2003 no website Jus Navegandi e
sinistro baseada no questionário de avaliação de aqui reproduzido com a permissão do Autor
riscos, no contrato de seguro de automóvel

01 BREVE HISTÓRICO DO CONTRATO DE SEGURO cobertura. Através dele os navegantes associados tinha em
comum acordo que todos os membros da seita contribuiriam
com uma nova embarcação caso a de um dos associados
1.1 O surgimento do contrato de seguro. viesse a ser perder por motivo fortuito, em que este não pudesse
prever ou evitar de maneira alguma. Segundo o Talmud dos
O contrato de seguro surgiu na Idade Média, como Palestinos, o proprietário que perdesse um asno, devorado por
forma dos navegadores fossem assegurados dos riscos das feras, furtado ou sumido, tinha o direito de auxílio da sua
viagens que empreendiam para desbravar novas terras e poder comunidade para comprar outro.
comercializar em pontos distantes da Europa. Este ponto já é de Os Gregos herdaram das civilizações anteriores
pacífico entendimento dos historiadores. muitas instituições, que aprimoraram e desenvolveram. Com
No entanto, as suas origens ainda são pontos de base na mutualidade, organizaram entidades cooperativas para
controvérsia entre os profissionais do ramo. Entendem que uma indenizar as perdas nos transportes terrestres e marítimos.
das origens do contrato teria sido nos primórdios da civilização, Conheceram e divulgaram importantes instituições jurídicas de
quando a assistência era dada pelos membros da mesma outros povos, como a contribuição para o salvamento marítimo
família, sempre cooperando para a própria defesa e e o empréstimo para operações no mar, já praticadas pelos
desenvolvimento; pelos vizinhos, depois, movidos por fenícios e outros povos mais antigos.
sentimentos de amizade; pelos companheiros de trabalho; pelo Em Roma, onde se desenvolveu a civilização mais
empregador ou proprietário de terras. Mais tarde, quando o importante depois da grega, floresceram vários tipos de
espírito associativista ganhou maior estimulo, surgiriam as sociedades, visando o amparo recíproco de seus membros e de
corporações de caráter religioso ou leigo. seus familiares, quando atingidos por doença ou velhice.
Essas associações se chamavam Sheni, na antiga Começava-se a se vislumbrar ai o esboço do que vem a ser hoje
Índia, segundo os textos do Código de Manu. Há notícias de sua o nosso Seguro de Vida.
existência entre os egípcios, com denominações diversas. Na Leis das Doze Tábuas, por volta de 450 AC, foram
Entre os gregos eram mais conhecidas como Koinonia. Na incluídos dispositivos sobre as sociedades, sob a forma de
civilização romana eram as Collegia Tenuiroum, Collegia normas costumeiras, a ponto de despertar a atenção do
Funeraticia ou os Sadalitia. Que tinha como objetivo a ajuda na legislador. Havia sociedades de várias espécies, atendendo a
cura da enfermidade dos associados ou quando morria um de objetivos diferentes, desde os interesses particulares de uma
seus membros. determinada classe profissional até de natureza religiosa.
Na Idade Média, apareceram as corporações de As operações de seguros de forma semelhante a
ofício, primeiros exemplos de agremiações profissionais, que atual só apareceram no último período da Idade Média. As
impuseram a seus integrantes o dever de auxílio mútuo em caso corporações, que surgiam como solução para enfrentar a
de enfermidade, tal qual na Roma Antiga. insegurança decorrente da falta de poder central atuante,
Baseadas no sentimento cristão, surgem, igualmente reforçaram o espírito de comunidade e a solidariedade entre
as confrarias medievais, como instituições associativas de seus membros facilitava a solução dos problemas de proteção
caráter geral, destinadas ao culto religioso, a ajudar os contra os riscos que lhe ameaçavam vida e bens, em especial
confrades enfermos e a realizar os funerais. Das confrarias os que eram transportados nas embarcações que viajavam da
nasceram, posteriormente, as irmandades de socorro mútuos, Europa até as Índias.
que constituíam sociedades organizadas com tal perfeição O País pioneiro no Contrato de Seguro foi Portugal, à
técnica que, nada tinham a dever às mutualidades modernas do época mais o avançado na Europa no tocante ao comércio
século XX. O benefício neste momento já não era ajuda marítimo, que deu forma escrita ao fato social. Durante o
meramente discricionária, e sim através sistema de cotização, reinado de D. Fernando (1373-1383), os súditos muito
bem estruturado e regulado por um regime de prestações pré- reclamam por medidas que lhes assegurassem nas viagens
estabelecidas. náuticas. E em 11 de agosto de 1791, é instituída a Casa de
Na era cristã, aparece no Oriente Médio uma Seguros de Lisboa, através do Alvará de 11 de agosto de 1971.
coletânea de sentenças e pareceres proferidos pelos rabinos. O Órgão, que era público, tinha como principal
Era um dos Talmud (356/425 DC), que regulamenta com maior finalidade o registro de Contratos de Seguros Marítimos que se
precisão uma das formas societárias dotadas para disciplinar a destinava a indenizar somente cascos e cargas.

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Aliança do Brasil

Em pouco tempo, generalizou-se o uso do seguro.


Cidades como Gênova, Florença, Veneza, na Holanda, na
França e Grã-Bretanha, logo adotaram o mesmo sistema, posto
O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

também passam a ser efetivamente supervisionadas, já com


base em legislação nacional. Normas e instituições sucederam-
se ao longo das décadas, até que, em 1901, é editado o
que estavam também adentrando no concorrido comércio Regulamento Murtinho (Decreto n.º 4.270/01), pelo qual é
marítimo. criado a Superintendência Geral de Seguros, subordinada ao
Na França, por exemplo, em 1686, Luiz XIV manda Ministério da Fazenda, que tinha como função única a de
organizar em Paris uma Companhia de Seguros estatal com £$ fiscalizar todas as Companhias Seguradoras que
300.000,00 (trezentas mil libras) de capital, subdividida em comercializavam em solo brasílico.
setenta e cinco quotas de £$ 4.000,00 (quatro mil libras), que Após este início esplendoroso, o Contrato de Seguros
poderiam ser subscritas por no máximo trinta acionistas. Ainda no Brasil cresceu avidamente, como iremos notar nas páginas
no mesmo reinado, outras duas companhias, desta vez de seguintes.
caráter privado, foram autorizadas a funcionar, mediante a paga
ao município de Paris alguns milhões de francos que
garantiriam os riscos dos segurados. 1.3 O crescimento do contrato de seguro no Brasil.
Estas companhias francesas tinham o objetivo de
garantir os riscos decorrentes do fogo nas empresas (um A comercialização deste contrato de risco encontrou
seguro-incêndio). Por isso, cada edifício segurado tinha uma no Brasil um terreno fértil para expandir-se, e sentiu-se a
placa em sua entrada com as letras M.A.C.I. (iniciais da frase, necessidade de expandir os sistemas regulatórios.
em francês de " casa segurada contra incêndio). Em 1932, com o objetivo de proteger o mercado
brasileiro das seguradoras internacionais que agiam
avidamente no mercado segurador nacional, é criado o IRB –
1.2 O contrato de seguro no Brasil. Instituto de Resseguros do Brasil, para que este regulasse as
operações de resseguro e fomentasse as operações de seguro
O Brasil, herdeiro das tradições comerciais em geral.
portuguesas e sob forte influência da atividade comercial da Entretanto, com o passar do tempo, devido a um
Inglaterra, foi sem dúvida o principal beneficiário da abertura forma de atuação extremamente centralizadora e monopolista,
dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal, no início o IRB acabou por ultrapassar seus limites, exorbitando de
do século XIX, e começa então a despertar para a atividade regular o apenas o sistema de resseguro e passando a ser um
securitária ainda em tempos de colônia. órgão com caráter eminentemente fiscalizador. Neste
Sob a influência da primeira Companhia Seguradora disparate, ao invés de estimular o crescimento do comercio
do mundo, foi autorizada no Brasil a funcionar a sua primeira local, acabou por inibir a criatividade e a livre concorrência.
Companhia de Seguros, em 1808. Era a Companhia de Para corrigir esta anomalia institucional a qual tinha
Seguros Boa Fé (em 24 de fevereiro), que tinha sede na então se instalado no IRB, foi instituído em 1966, através da edição do
Capital da Colônia, Salvador. Era estatal e conforme o artigo 5.º Decreto-lei 73, o Sistema Nacional de Seguros Privados,
do seu Estatuto, previa que seria regulada conforme os ditames criando a Susep- Superintendência de Seguros Privados, órgão
da Casa de Seguros portuguesa.. O regulamento dizia o com função controladora e fiscalizadora da constituição e
seguinte: "As regulações da casa de Seguros de Lisboa, funcionamento das sociedades seguradoras e entidades
aprovadas por Sua Alteza Real, serão a base da conduta desta abertas de previdência privada em solo brasileiro. Dotada de
sociedade". poderes para apurar a responsabilidade e apenar corretores de
Em 29 de abril de 1828, é autorizado o funcionamento seguros que atuem culposa ou dolosamente em prejuízo das
da Sociedade Brasileira de Seguros Mútuos Brasileiros, seguradoras ou do mercado, a Susep assume, pela primeira
destinada único e exclusivamente ao seguro marítimo. E veio vez no Brasil, a tutela direta dos interesses dos consumidores
com uma novidade no contrato de seguro: no artigo 24 do de seguros.
estatuto da sociedade estabelecia o seguro com franquia. Dizia Atuando na plenitude de suas funções, após alguns
o referido regulamento que somente seriam pagos os sinistros anos de organização interna, a Susep, em 1985 implanta um
que ultrapassassem 5% (cinco por cento) do valor segurado. sistema de audiência pública e aberta para todos os ramos de
Com o aquecimento das relações comerciais, o contratação securitária, promovendo assim uma desregulação
Estado sente-se na obrigação de criar sistemas reguladores gradual da atividade seguradora no Brasil, que havia se
para proteger as partes, e é claro, poder exercer maior instalado com a rigidez imposta anteriormente pelo IRB. As
fiscalização sobre as relações comerciais no que lhe toca: os empresas, que há muito já vinha solicitado do Estado esta
tributos. Em 1831, é instituída a Procuradoria de Seguros das desregulação, acabaram por criar produtos diferenciados dos
Províncias Imperiais, que atuava com fundamento nas leis tradicionais com a autonomia e liberdade assistida que lhes foi
portuguesas. Embora o Código Comercial de 1850 só definisse dada. A Susep também, sensibilizada com a realidade
normas para o setor de seguros marítimos. financeira do país, com uma inflação que corroía os valores
Em meados do século XIX inúmeras seguradoras segurados, autoriza a indexação dos contratos, que passam a
conseguiram aprovar seus estatutos, dando início à operação ser atualizados com base na correção monetária.
de outros ramos de seguros elementares, entre eles o de Vida. No processo de discussão da Carta Magna de 1988, o
Em 1860, surgem as primeiras regulamentações mercado securitário brasileiro, em especial algumas empresas
relativas à obrigatoriedade de apresentação de balanço e do ramo conseguiram discretos avanços. Discretos por terem
outros documentos. Em 1895 as empresas estrangeiras atuado politicamente desorganizadas, inclusive divididas em

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Aliança do Brasil

alguns pontos essenciais, contudo conseguiram adquirir novos


status. De acordo com o artigo 21, item VIII da Constituição
Federal (1), o seguro deixava de ser apenas uma modalidade de
O pensamento de quem faz a diferença

Obrigações).
Número 3 . Agosto 2007

A repartição dos prejuízos do sinistro por um grande


número de associados é, portanto, o meio mais viável que tem
contrato a mais e entrava no hall de investidores institucionais, força de evitar a sucumbência do segurado em face de um
integrando o sistema financeiro nacional, que aguarda ainda sinistro de grande vulto. Por isso ter assumido nos dias atuais
hoje a sua regulamentação, tal qual prevista no artigo 192 da força tão grande o contrato de seguros.
nossa Lex Major.
Em 1992, a Fenaseg (Fundação Escola Nacional de
Seguros Privados) lança a Carta de Brasília, que vem a ser a 2.PRINCÍPIOS DO DIREITO SECURITÁRIO
primeira manifestação conjunta e consensual das empresas de
seguro atuantes em solo verde amarelo, e que enfatizava a Ao que veremos a seguir, há princípios gerais e
necessidade de ampliação da imagem pública do contrato de específicos no Contrato de Seguro. Os gerais, os que regem a
seguro, junto a uma maior desregulamentação do setor, como Teoria Geral dos Contratos, e os específicos, aqueles aplicados
forma de ampliar ainda mais a gama de produtos e riscos unicamente ao contrato de seguro.
seguráveis. Solicitava também a desestatização do Seguro de
Acidentes de Trabalho, dentre outros.
Apenas dois meses depois da publicação da Carta de 2.1 Princípio Gerais
Brasília, num esforço conjunto do IRB, Susep e Secretaria de
Política Econômica é lançado o Plano Diretor do Sistema de a.Da autonomia das vontades da partes, através do
Seguros, Capitalização e Previdência Complementar, que qual as partes são livres para estipular o contrato, da forma que
dentre as solicitações já antigas, trouxe uma novidade: a melhor lhes convier. Entende-se como decorrência deste
redução gradual do monopólio do IRB em relação ao resseguro, princípio três efeitos: 1) A liberdade de contratar ou não
até sua extinção, o que veio a ocorrer em 1996, possibilitando contratar, ou seja, a liberdade de criar o vínculo para com
que fossem injetados mais recursos no mercado segurador outrem ou não. No seguro, decorreria deste principio a
nacional, como forma de dar maior garantia aos riscos discricionariedade do segurado de fazer ou não fazer o seguro
assumidos pelas empresas que atuam no ramo, refletindo do seu automóvel, por exemplo; 2) A liberdade de escolher o
diretamente no ponto final do contrato, que é o segurado. contraente, ou seja, a discricionariedade de contratar com esta
ou aquela companhia de seguros, E; 3) A liberdade de fixar as
regras contratuais, respeitando o mútuo interesse e a
1.4 O contrato de seguro e sua importância supremacia da ordem pública. No entanto, o contrato de seguro,
atualmente. como veremos adiante, é uma exceção a este efeito, visto que é
classificado como contrato de adesão;
O contrato de seguro, em todos os seus mais variados b.Da obrigatoriedade da convenção, segundo o qual
ramos, desde seu surgimento até os dias atuais vem adquirindo o convencionado se torna lei entre as partes, se respeitadas as
cada vez mais importância. Penetrou em todos os setores da formalidades legais que porventura existam e a razoabilidade.
economia moderna, e atingiu na plenitude seu finalidade, que é Respeitados os requisitos acima, nem mesmo judicialmente há
a de equalizar os desequilíbrios financeiros, provocados pelos possibilidade de modificação das regras ajustadas. Somente
infindáveis riscos da atividade empresarial como um todo. com base na Teoria da Imprevisão (2) (mais conhecida como
O seguro tornou-se o único remédio viável que cláusula res sic stantibus) pode o magistrado, a requerimento
possibilitasse a existência de grandes capitais disponíveis e das partes, ou de uma delas, modificar o ajustado, devolvendo-
amealhados para os momentos dos grandes sinistros; é, grosso lhe o caráter de igualdade das partes.
modo, uma poupança que é feita para os momentos de grande c.Da relatividade dos efeitos do negócio jurídico,
tensão, como forma de minimizar ou ressarcir os danos através do qual o convencionado somente surte efeitos entre os
causados pelo evento, e que mantenha o mercado contraentes, e não sobre terceiros, salvo quando a legislação
financeiramente saudável para prosseguir suas atividades. assim estipular. Vislumbramos o presente princípio no Direito
As sociedades seguradoras, associações que Securitário à obrigatoriedade do pagamento do prêmio, por
funcionam para fazer funcionar o processo o qual o contrato de exemplo, quando somente o segurado, e só ele tem o dever de
seguro objetiva, prestam imponderável serviço à coletividade, quitá-lo para poder assegurar a garantia de manutenção do
gerindo enormes fundos de compensação de sinistros, risco contratado;
formados pela concentração de pequenos capitais. d.Da boa-fé, princípio geral do Direito, através do qual
Clóvis Beviláqua (apud Antônio Carlos Otoni Soares, as partes devem, no ato da contratação e em toda a vigência do
1975, p.35) já apontava para a importância do seguro: contrato manter a mais estrita boa-fé, sob pena de perca de
... o seguro é uma das múltiplas formas que pode seus direitos. Lobrigamos o presente quando, na formulação do
tomar a associação. A idéia fundamental que lhe serve de nisus Questionário de Avaliação de Riscos para contratação, deve, de
formativus (sic) é a repartição proporcional, entre um certo um lado a seguradora não fazer questionamentos dúbios, e de
número de associados, dos prejuízos provenientes de um outro, o segurado responder com a mais absoluta veracidade.
sinistro sofrido por um ou alguns dos membros da associação.
Quaisquer que sejam as críticas levantadas contra essa idéia, e
não tem sido poucas, nem das menos acerbas, é incontestável 2.2 Princípios Específicos
que o seguro fortifica o espírito de iniciativa...(Direito das

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Aliança do Brasil

a.Do Mutualismo. Princípio base do Direito


Securitário, donde se origina que o seguro é a união mútua da
contribuição de várias pessoas para a formação de um fundo
O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

seguro de grandes vultos, como a frota de aviões de uma


companhia aérea: 1) o resseguro, que é o seguro do seguro. No
Brasil, o único agente ressegurador autorizado a funcionar é o
comum, o qual suportará os sinistros advindos. Defende o IRB – Instituto de Resseguros do Brasil; 2) a retrocessão, que é
eminente catedrático Frank Larrúbia Shih (2003, p.112) "...o o resseguro do resseguro, ou seja um seguro feito para o
fundo comum não é propriedade da seguradora, mas sim resseguro. No Brasil, não há agente de retrocessão, portanto,
propriedade e destinação comunitária de todos os segurados toda vez que for necessária a contratação em retrocessão, o
(...) " e prossegue: IRB procura o Instituto de Resseguros Internacional; e por fim o
.. Não se trata de preservar o lucro da seguradora, 3) Cosseguro, que é a contratação simultânea com várias
porque as indenizações, como visto, não saem do seu seguradoras, podendo ainda o IRB fazer parte do risco.
patrimônio. O lucro da seguradora, que obviamente existe, não e.Da boa-fé securitária, que se origina do princípio
constitui a integridade do prêmio. Daí a importância dada pela geral da boa-fé no Direito. Tem fulcro no Art. 765 da Lei n.o
lei para a preservação do fundo comum (...) 10.406, de 10 de janeiro de 2002., que instituiu o novo Codex
Daí, por conseguinte, a importância do pagamento do Civile Brasileiro: "O segurado e o segurador são obrigados a
prêmio, pois será ele que irá formar o fundo comum para o guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita
pagamento de eventuais sinistros. Seria, então, uma quebra do boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das
sistema o pagamento de um sinistro quando o segurado circunstâncias e declarações a ele concernentes". Mais uma
encontra-se em mora com a sociedade seguradora. Exceção vez salientamos a necessidade de boa-fé mútua, tanto pelo
apenas feita ao seguro obrigatório de Danos Pessoais agente segurador, como pelo segurado, ou seu corretor de
Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres seguros, que é seu representante legal frente à seguradora.
(DPVAT), que pelo seu clamor social, que é o de indenizar f.Indenitário, utilizado somente para os seguros de
sinistro causado a terceiros em vias terrestres por veículos danos a bens, pelo qual o seguro somente pode se contratar
automotores, o sinistro poderá ser pago sem a comprovação de com o fim intrínseco de reparação do dano sofrido, não podendo
quitação do débito, fato que não exime o segurado de quitar o ultrapassar o valor real do bem segurado, por isso não se admitir
débito com a seguradora responsável. um mesmo seguro, mais de uma vez para o mesmo bem (por
b.Da dispersão dos riscos, baseado na ordem exemplo, contratar duas vezes um seguro para o mesmo
econômica e viabilidade comercial do contrato de seguro, no automóvel, durante uma mesma vigência). O presente preceito
qual o segurador estará obrigado apenas nos riscos mais é aduzido no entendimento do artigo 778 do Novo Codex Civil
prováveis e que mantenham uma certa regularidade, evitando a Brasileiro (op.cit), ora trasladado: "Nos seguros de dano, a
cobertura de riscos pouco consumáveis, como forma de fazer garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse
com que prêmio não se eleve muito com riscos pouco usuais, e segurado no momento da conclusão do contrato, (...)", e a
possa ser melhor comercializado. Para tanto, deverá o agente limitação de novo contrato para o mesmo interesse é trazido
segurador informar ao pretenso segurado dos riscos os quais pelo artigo 782 do mesmo diploma legal, a saber:
estará ou não cobertos pela Apólice de Seguros que está Art. 782. O segurado que, na vigência do contrato,
contratando. Encontramos a previsão legal deste princípio no pretender obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra
art. 759 do Novo Código Civil (3), que preconiza: "A emissão da o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente
apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a
declaração dos elementos essenciais do interesse a ser soma por que pretende segurar-se, a fim de se comprovar a
garantido e do risco." obediência ao disposto no art. 778.
c.Do absenteísmo, através do qual o segurado deve g.Da irredutibilidade do prêmio ( ou da irredutibilidade
abster-se de todo e qualquer evento que saiba que possa do ‘pretium periculi’), baseado na Teoria da Indivisibilidade do
causar aumento do risco, sob pena de perder o direito à Prêmio, que trazemos na sábia literatura do eminente Frank
indenização. O presente princípio é normatizado na inteligência Larrúbia Shih (op.cit, p.126):
do artigo Art. 769 do Novo Código Civil: "O segurado é obrigado Dita teoria preconiza que os riscos devem ser
a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente considerados não isoladamente, mas no seu conjunto, pois os
suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob riscos não se distribuem igualmente por todo o período,
pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de podendo sofrer concentrações em determinadas fases (ex.: o
má-fé". O presente é regra básica em todo ramo de contratação seguro incêndio torna-se mais crítico durante os períodos de
de seguro, seja de bens ou de pessoas. seca). Nessas circunstâncias, a devolução parcial do prêmio ao
d.Da pulverização dos riscos, de uso único do Direito segurado poderia falsear a estabilidade dos cálculos e as
Securitário, que baseia-se se em que toda vez que o agente operações do segurador. O princípio da irredutibilidade do
segurador transpor suas capacidades financeiras, poderá prêmio seria, assim, um dique de segurança para as entidades
dividir com outros agentes seguradores ou resseguradores sua seguradoras.
responsabilidade no risco. O presente, é além da realidade, O presente preceito é considerado novo na seara do
uma obrigação do agente segurador trazido pelo artigo 79 do Direito Securitário, tendo sido trazido apenas agora pelo Novo
Decreto-lei n.º 73/66, assim disposto: "É vedado às sociedades Código Civil Brasileiro (op.cit) em seu art. 770, que trazemos in
seguradoras reter responsabilidades cujo valor ultrapasse os verbis: "Art. 770. Salvo disposição em contrário, a diminuição do
limites técnicos, fixados pela Susep, de acordo com as normas risco no curso do contrato não acarreta a redução do prêmio
aprovadas pelo CNSP, e que levarão em conta: (…)". Existem estipulado; mas, se a redução do risco for considerável, o
três formas de subdividir o risco, geralmente contratado para segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do

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contrato". Ou seja, a regra geral é de que o prêmio não sofra


redução, como forma de garantir a estabilidade do fundo que,
por sua vez, garante os riscos assumidos pela companhia de
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empresa (6)
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Portanto, o contrato de seguros é um negócio jurídico


através do qual uma pessoa física ou jurídica se protege contra
seguros, no entanto, se a redução for considerável, para os riscos inerentes à vida, à atividade exercida, ou ainda sobre
proteger financeiramente o segurado, e não haver o os seus bens, através do acúmulo de capital formado pelo
enriquecimento ilícito por parte da seguradora (estaria pagamento dos prêmios de vários segurados, administrados
recebendo a maior por um risco a menor) deverá esta retornar por uma sociedade seguradora, de forma a garantir os riscos a
àquele o excedente do prêmio. que todos estamos sujeitos.

3.2 Características
03 O CONTRATO DE SEGURO
Na análise técnico-jurídica do contrato de seguros,
vemos que ele é:
3.1 Conceituação a.Bilateral ou sinalagmático, pois depende da
manifestação de vontade de ambos os contraentes, que
Segundo Maria Helena Diniz (1999, p.385) o contrato adquirem obrigações recíprocas. O segurado assume a de
de seguro é: quitar o prêmio e não agravar os riscos, caso em que deverá
O contrato de seguro é aquele em pelo qual uma das imediatamente informar à sociedade seguradora, sob pena de
partes (segurador) se obriga para com outra (segurado), nulidade do contrato. Por outro lado, o agente segurador obriga-
mediante a paga de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo se a quitar o sinistro em seu valor previamente negociado;
relativo a pessoa ou a coisa e a indeniza-la de prejuízo b.Oneroso, com prestação e contra-prestação para
decorrente de riscos futuros previsto no contrato. cada uma das partes, visto que cada uma visa obter uma
Em verdade, a eminente professora completou o que vantagem em seu patrimônio. O segurado, de ter sua vida ou
dispunha o Código Civil de 1916, senão vejamos: "Art. 1.432. seu patrimônio garantido, porém, para tanto, se obriga no ato a
Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das quitar o prêmio solicitado pela seguradora. De outro lado, o
partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um segurador visa aumentar seu patrimônio financeiro com o
prêmio, a indenizá-la do prejuízo resultante de riscos futuros, recebimento do prêmio que solicita do segurado, no entanto,
previstos no contrato". assume o risco de em uma eventual ocorrência ter quer quitar o
O Novo Código Civil aperfeiçoou o conceito legal, valor integral contratado;
introduzindo o contrato de seguros: "Art. 757. Pelo contrato de c.Aleatório, pois sua origem gira em torno de um
seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do evento incerto, não havendo a necessidade de equivalência de
prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a obrigações. É o risco que cada uma das partes assume: o
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados". segurado de quitar o prêmio e não receber bem ou serviço
O seguro, em sua essência, é a transferência do risco correspondente ao valor que pagou, e o segurador de receber
de um eventual evento danoso de uma pessoa à outra. Isto apenas o prêmio e ter que arcar com um prejuízo bem maior se
somente se torna tecnicamente possível quando o custeio do vier ocorrer um evento danoso coberto pelo contrato;
risco é rateado entre muitas pessoas, organizadas através de d.Formal, visto ser obrigatória a forma escrita, já que
uma associação, no caso, as Sociedades Seguradoras. de acordo art. 758, CC (7), não obriga antes de reduzido a
Muito embora o contrato de seguro seja um negócio termo, considerado-se perfeito o contrato no momento em que
jurídico autônomo entre as partes (segurador e segurado), sua subscreve em livros oficiais o risco assumido e remete a prova
viabilidade prática é baseada numa base mutuária para custeá- da aceitação ao segurado (a apólice). A forma escrita é uma das
lo e dar-lhe sustentação. substâncias do contrato;
É função das ciências atuarias o exame estatístico e.De execução sucessiva ou continuada, pois se
para cálculo do prêmio do seguro de cada segmento (seguro de destina a subsistir por um determinado prazo de tempo, por
automóveis, de vida, residencial, empresarial, etc.). menor que seja, pois tem a finalidade de proteger o risco
Basicamente, o estudo é feito com base nos sinistros ocorridos, determinado na apólice. Sua execução é escalonada, sendo
somados à projeção de novos sinistros no período seguinte, aos necessária que a obrigação do segurado seja satisfeita dentro
custos de resseguro, aos custos técnicos de administração da dos termos convencionado, sob pena de rescisão sumária, por
sociedade seguradora, e ainda à reserva técnica financeira que tratar-se de obrigação de trato sucessivo. Os efeitos passados
é legalmente obrigada a manter, sob pena de cessar suas serão mantidos, porém, os futuros cessarão;
atividades (4). f.De adesão, pois, regra geral, se apresenta com
O resseguro vem a ser o seguro do seguro, ou seja, é cláusulas predispostas pelo agente segurador. O segurado não
um seguro maior que as companhias seguradoras são participa de sua elaboração, recebendo-o já pronto, e a inserção
obrigadas a realizar por lei (5), para garantir os riscos de cláusulas (manuscritas, datilografadas ou qualquer outra
assumidos. forma de escrita) não lhe retira esta característica (8).
A reserva técnica é um saldo financeiro que as g.De boa-fé qualificada, visto que além de ser
seguradoras têm que ter para poder funcionar e garantir os princípio basilar da teoria geral dos contratos e do Direito, a boa-
riscos assumidos. Os limites são definidos pela Susep, e este fé é ressaltada nos artigos que regem o contrato de seguro, no
capital deve estar já subscrito no momento de formação da Novo Código Civil (9), sob pena de perderem seus direitos, o

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deve se observar que a regra tem validade para ambas as


partes.
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escrito para ser válido, seja em forma de Apólice, ou de simples


bilhete, ambas emitida pela entidade seguradora. Este requisito
é forma a qual é respeitado o artigo 759, CC: "A emissão da
apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a
3.3 Requisitos declaração dos elementos essenciais do interesse a ser
garantido e do risco.". Em oportuno analisaremos com mais
Os requisitos no contrato de seguro dividem-se em detalhes a Apólice de Seguros.
subjetivos, objetivos e formal. Analisaremo-os mais
detalhadamente.
3.4 Fase pré-contratual: A proposta

3.3.1. Subjetivos No Contrato de Seguro, a regra, sem aceitação de


exceção, é a da manifestação expressa da vontade, seja no
a.Somente pode contratar como segurador pessoa momento da aceitação, através de uma proposta ou minuta,
jurídica devidamente autorizada pelo Governo Federal para seja na informação de possíveis alterações do risco (aumento,
atuar em mercado, conforme solicita o art. 757, parágrafo único, diminuição, mudança do objeto, etc.). É o estipulado pelo já
do Novo Código Civil; transcrito artigo 759 da lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
b.É necessária a capacidade civil para poder que instituiu o atual código civil brasileiro.
contratar como segurado. No caso de seguro de vida, pode ser O interessado na contratação (segurado) deve
feito através de representante, para os casos de menores preencher uma proposta-formulário, que em seguida é enviada
incapazes ou relativamente capazes, como também no seguro à sociedade seguradora através de seu representante legal, o
à conta de outrem, em que alguém contrata seguro pretendendo corretor de seguros, e após análise prévia dos riscos, emitirá a
garantir risco de outrem, podendo, dependendo da política de Apólice de Seguros, documento hábil de comprovação da
aceitação do segurador, ser feitos em outras modalidades de aceitação do risco.
contratação. Neste dois últimos casos, o contratante assume a A legislação é silente quanto ao prazo de aceitação do
responsabilidade pelas inexatidões ou lacunas que possam risco. No entanto, a Susep, para evitar maiores transtornos para
influir no contrato. o segurado, em sua Circular n.º 145, de 07 de novembro de
c.Funda-se no mútuo consenso das partes, 2000, no artigo 17 do Anexo I, define o prazo máximo para
processada por meio de uma proposta formulada pelo segurado aceitação ou recusa do risco pretendido. Traslados abaixo a
ao segurador, que esclarecendo as razões de interesse de norma:
segurar o risco, especificar no formulário de solicitação as Art. 17. Deverá ser especificado na proposta do
particularidades do risco que pretende proteger, como forma de seguro o prazo para aceitação, bem como qualquer
estipulação, por parte do segurador, do prêmio que será procedimento para comunicação da aceitação ou recusa da
cobrado; proposta, observando-se o período máximo de 15 (quinze) dias,
contado da data de recebimento da proposta.
Com a aceitação do risco, terá a seguradora o prazo,
3.3.2. Objetivos desta vez normatizado no regulamento do decreto-lei n.º 73/66,
o decreto n.º 60.459/67, art. 2.º, §1.º, o prazo de 15 (quinze) dias
a.Requer liceidade e possibilidade legal de para emitir a apólice (10).
contratação do objeto, pois como aduz o artigo 757 no atual Portanto, em no máximo 15 (quinze) dias do
Codex Civille, o seguro objetiva "garantir interesse legítimo do recebimento da proposta, deverá a Companhia Seguradora
segurado" (grifo nosso), não podendo, por exemplo, garantir os emitir a apólice, ou documento equivalente
riscos provenientes da comercialização de drogas ilícitas, tais A proposta em comento é o formulário emitido pela
como a maconha, a cocaína, etc.; Companhia de Seguros que se pretender contratar para
b.Estipulação do valor do objeto, ou do processo que assumir os riscos do bem, onde conterá todos os dados que a
se seguirá para estipular, no momento do evento danoso, o empresa entender necessários para que se faça a análise de
valor do mesmo, servindo inclusive para a cotação do valor do riscos. Numa proposta de solicitação de seguro de automóvel,
prêmio a ser pago, sem que haja excesso de nenhum dos por exemplo, mister se faz a anotação do modelo do bem, ano
contraentes, para que nenhum se locuplete ilegalmente do de fabricação ( e algumas vezes até o ano do modelo), os
contrato em questão; valores os quais se deseja contratar, e em algumas companhias
c.Não poderá contratar, em seguro de bens, dois de seguros, também é requisitado que se responda um
seguros com o mesmo objetivo, que seja de proteger o mesmo Questionário de Avaliação de Riscos, preparado por uma
bem, numa mesma, ou em diferentes seguradoras, salvo se der equipe multidisciplinar e que tem o objetivo de analisar
ciência à companhia seguradora que já atua na proteção do pormenorizadamente os riscos do veículo a ser segurado. É
risco, consoante já analisado no Princípio Indenitário. definido no artigo 32 do Anexo I da Circular da Susep n.º 145, de
07 de novembro de 2000 os dados obrigatórios a constar tanto
na proposta de seguro, como em sua apólice
3.3.3. Formal

Visto que o Contrato de Seguro exige instrumento 3.4.1.O questionário de avaliação de riscos.

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O questionário de avaliação de riscos é um formulário


aderente à proposta de seguros de automóvel, confeccionado
por uma equipe multidisciplinar (com juristas, médicos,
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contrato de fazer, ou qualquer outro que tivesse como


característica a obrigação vinculada de realizar. Futuro, pois
que somente será coberto dano ocorrido após a aceitação do
psicólogos, atuários, etc.) com o objetivo principal de seguro, nunca um dano ocorrido antes, porque daí o risco seria
personalizar os riscos a serem suportados. também certo, e mais uma vez teria saído da análise a álea
Tendo em vista que o tratado formulário tem por essencial ao contrato em questão;
objetivo a personalização dos riscos, é dever intrínseco do b.Risco possível, tendo em vista que as partes se
segurado respondê-lo com a mais estrita boa-fé, sob pena de acautelam em vista de um dano que poderá ocorrer, não tendo
perda do direito, bem como dos prêmios já vencidos, é o que necessidade de cobertura de um dano que se sabe previamente
alude o artigo 766 do Novo Codex Civille Pátrio: "Se o segurado, que não há corre absolutamente risco algum. A certeza aqui é a
por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou de não ocorrência do evento, e a sua álea estaria mais uma vez
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da destituída;
proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além c.Satisfação de necessidade econômica, que é a
de ficar obrigado ao prêmio vencido" necessidade de estipulação de um prêmio a ser pago pelo
A sociedade seguradora está igualmente obrigada a segurado, com vistas a fomentar um fundo que acobertará os
manter também a mais estrita boa-fé na elaboração do tratado riscos a serem aceitos;
questionário, sob pena de incorrer no artigo Art. 54, §3.º, do d.Licitude, pois que entre os atos cobertos não
Código de Defesa do Consumidor (11), que preceitua: "Os incluem atos ilícitos do segurado, os quais sejam realizados
contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros com dolo. Os atos culposos este sim, encontram-se cobertos.
e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua Vejamos o que alude o artigo 762 do Novo Codex Civille: "Nulo
compreensão pelo consumidor". Ou seja, deve-se redigir com a será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso
mais estrita boa-fé e de forma clara e precisa, evitando do segurado, do beneficiário ou de representante de um ou de
entendimentos divergentes por parte do pretenso segurado. outro".
Pode ainda o agente segurador sofrer as sanções previstas no e.Ser fortuito. O evento danoso, para que seja coberto
Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 56, e incisos deve ser fortuito, ou seja, ser independente da vontade do
seguintes. segurador ou do segurado. É o que aduz o artigo 762 do Novo
Portanto, por tratar-se de um contrato de adesão Código Civil, que acabamos de trasladar no ponto acima. E tem
referente a uma relação de consumo, deverá tomar-se de o dever o segurado de se acautelar para que não haja o evento
cuidado a companhia seguradora quando da elaboração do danoso coberto, sob pena de perder o direito à indenização.
questionário de avaliação de riscos, frente à fragilidade Vejamos o que diz o artigo 768 do Novo Código: "Art. 768. O
financeira e cultural e do desconhecimento dos pormenores do segurado perderá o direito à garantia se agravar
instituto em discussão, por parte da maioria dos pretensos intencionalmente o risco objeto do contrato." Cabe aqui
segurados. comentar o liame entre o segurado saber que está agravando,
Corroborando com o nosso entendimento, temos intencionalmente ou não o risco, visto que dele se deve esperar
uma decisão do Egrégio Tribunal de Alçada Civil de São Paulo o conhecimento comum de todo e qualquer cidadão, não
(RT 442/163): podendo culpá-lo por um conhecimento que não tem, ou seja, é
Seguro – Questionário – Complexidade – muito difícil saber quando o segurado age de boa ou má-fé na
Impossibilidade de se exigir o seu conhecimento pelo homem agravação dos riscos, visto que algumas vezes este é
comum. Não se pode exigir que o homem comum conheça toda direcionado pela companhia de seguros a responder algumas
a teia burocrática na área de seguros, de molde a informar tudo perguntas de caráter dúbio.
o que deva ser considerado, mesmo não indagado a respeito.

3.6 A apólice de seguros


3.5 O risco e seus elementos essenciais
A apólice de seguros é o documento hábil de
No sábio magistério do Prof. Antônio Carlos Otoni comprovação de contratação e garantia do bem, como
Soares (1975, p.92), encontramos a conceituação de Risco: perfeitamente alude o artigo 758 da nova legislação civil
Risco, portanto, é o evento futuro e incerto, previsto na codificada: "Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a
apólice, capaz de produzir uma diminuição patrimonial, um exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por
dano ou prejuízo financeiro. O incêndio, a inundação, o roubo, o documento comprobatório do pagamento do respectivo
acidente com veículos, o naufrágio e a morte são exemplos prêmio." É através dela, ou de documento legalmente aceito,
mais comuns de risco. que se prova a contratação do seguro, e suas especificidades.
Existem alguns elementos essenciais quando da Os requisitos essenciais de uma apólice encontram-
avaliação de determinado risco, e que vão determinar a se dispostos no art. 760 do Código Civil atual, e normatiza: "A
aceitação ou não do contrato, quais sejam: apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao
a.Futuro e incerto. Incerto, posto que se fosse algo portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de
que acontecerá com certeza, tiraria do contrato uma de suas sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando
características essenciais, que é a aleatoriedade, a for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário".
probabilidade de acontecer ou não o dano, visto que se este Passemos agora a definir cada um desses requisitos
fosse risco certo, o contrato seria não de garantia, mas um sem os quais o documento fica irregular.

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a.Nominativo, à ordem ou ao portador. Considerada


também um titulo de crédito, a apólice de seguros pode ser feita
nominativa, quando os efeitos somente incidirem sobre risco de
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estipulado a cobertura contra os riscos a serem cobertos,


chamado de Prêmio, o qual é estipulado com base no risco a
danos que está exposto o bem objeto do contrato; bem como
certa pessoa e não pode ser endossada para ninguém, mas se sua forma de pagamento, de acordo com a política interna de
for informado ao segurador a nova situação de risco (novo cada seguradora. Utilizamos subsidiariamente do Código
segurado) e aquele aceitar, terá validade (12) Um exemplo seria Comercial Brasileiro (Lei n.º 556, de 25 de junho de 1850), sem
quando ocorre a venda do veículo, e o segurado anterior o seu artigo 667, inciso 9, a necessidade de constar a forma de
repassa com o seguro. Este fato deve ser levado a pagamento do prêmio na apólice, in verbis: "A apólice de
conhecimento da companhia seguradora, sob risco de nulidade seguros deve ser assinada pelos seguradores e conter: (...) 9. O
do contrato e perda do direito à indenização (art. 768, Código prêmio do seguro, e o lugar, época e forma de pagamento".
Civil, já visto), e esta, em análise da nova situação do risco o f.Nome do segurado e o do beneficiário. Na maioria
acatará ou não, podendo modificar o valor do prêmio. À ordem, dos casos, em relação ao contrato de seguro de automóvel, os
quando incidir sobre risco de dada pessoa, outrossim, pode ser seguros são feitos nominalmente, sendo feitas as apólices em
endossada, em preto, tal como aceita o Código Civil Brasileiro nome do segurado. Há casos em que há a necessidade ou
atual, em seu artigo 785, §2.º (13). Para o referido endosso não se vontade do segurado em estipular um beneficiário. A
faz necessário o aviso à seguradora, salvo se o contrato o necessidade decorre algumas vezes quando o veículo está
contrário estipular. Pode ainda ser ao portador, em que a financiado, e a empresa financiadora, para garantir o
simples tradição já garante o risco a novo segurado, sem pagamento em caso de perda do bem, solicita que se faça um
necessidade de ciência da seguradora. Vale aqui salientar que o seguro em que a mesma será considerada beneficiária. por
seguro de vida não aceita, nem sob estipulação em apólice, ser vezes, o segurado, discricionariamente quer garantir, em caso
ao portador (decorrência do art. 760, parágrafo único, Novo de perda do bem que uma certa pessoa (física ou jurídica)
Codex Civil (14)) receba o valor estipulado em apólice. No caso do seguro de
b.Riscos assumidos. Em decorrência do preceito pessoas, a estipulação do beneficiário é obrigatória, mas em
legal tratado no artigo 458, Novo Código Civil "Se o contrato for caso de silêncio, o Novo Código Civil já resolveu esta lide, em
aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros(...)", a seu artigo 792 e parágrafo único (15).
seguradora somente está obrigada a indenizar os danos futuros
causados a riscos previamente determinados, tal como alude o
art. 757: "Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, 3.7 O começo e o fim dos riscos.
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos O risco em si, como já visto anteriormente, é inerente
predeterminados"(grifo nosso). Portanto, se o segurador ao objeto, entretanto, para o segurador, o risco é o objeto de um
apenas assume sobre os risco assumidos, subtende-se que aos produto comercial. A data do início da sua administração, é
riscos excluídos este não tem responsabilidade alguma. tratada na inteligência do Art. 19 do Anexo I da Circular Susep
c.Inicio e fim da validade. É o período no qual a n.º 145, de 07 de novembro de 2000: "Para todos os efeitos,
seguradora dará cobertura ao risco contratado. Deve informar a considerar-se-á como início de cobertura do risco a data
apólice dia e hora exatos do início e do fim da cobertura, a fim de indicada na proposta do seguro para início de vigência ou, na
que não haja dúvida e evite discussões acerca de dado evento falta desta, a data do recebimento da proposta pela Sociedade
estar tempestivamente coberto ou não pelo contrato. Adiante, Seguradora"(grifo nosso). Ou seja, a cobertura inicia-se no
analisaremos com mais profundidade o início e o fim dos riscos. momento em que é enviada a solicitação de seguro para a
d.Limite da garantia. Requisito atrelado aos riscos companhia seguradora, que tem 15 (quinze) dias para acatar o
assumidos, pois deve a apólice, além de especificar o que risco ou decliná-lo.
cobrirá, deverá também especificar o quantum, como forma de Em caso de acatar o risco, acobertará o bem sob os
limitar a responsabilidade pecuniária do segurador. Serve risco assumidos durante toda a vigência do contrato, que
também como base de cálculo do prêmio a ser pago pelo normalmente é de 1 (um) ano. No entanto, se o declinar, o que
segurado. O limite de contratação está disposto no art.778, CC deve ser feito em no máximo 15 (quinze) dias do recebimento da
("Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode proposta, o contrato não gerará efeito algum desde o seu início.
ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da Existem, entretanto 3 (três) formas de se cancelar a
conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem vigência do contrato, que são:
prejuízo da ação penal que no caso couber"). Ou seja, não a.Inadimplemento do segurado. Caso o segurado não
poderá o limite ultrapassar o limite da razoabilidade, como faça o pagamento do prêmio estipulado, terá cobertura somente
forma de evitar enriquecimento ilícito de alguma das partes durante o prazo proporcional ao pagamento efetuado,
(como é um contrato aleatório, referente e risco futuro e incerto, respeitada a Tabela de Prazo Curto (16) editada pela Susep, que
pode o segurador, com base em limites absurdos, estipular um consta do art.25 do Anexo I da Circular n.º 145/00, que
prêmio igualmente absurdo e não ter de nada indenizar, bem trasladamos abaixo:
como o segurado de pagar por um prêmio e receber uma
quantia bem além da necessária para quitar os danos
decorrentes do evento).
e.Prêmio devido. Deve também conter a apólice o
valor pago pelo segurado ao segurador para ter por um período

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necessários e uma possível multa rescisória.


c.Utilização total do capital estipulado na cobertura
básica. Pode também haver a rescisão do contrato, se durante a
sua vigência ocorrer um evento danoso no qual seja necessário
utilizar todo o capital vinculado na cobertura básica do veículo. A
cobertura básica vem a ser a que garante o risco principal do
seguro, que é o veículo em si (Colisão, Incêndio ou Roubo,
dependendo da forma contratada). É o que se chama de Perda
Total. Esta ocorre quando os prejuízos decorrentes do evento
ultrapassam o limite estipulado pela Susep, ou mesmo o valor
estipulado para o bem. É com grande clareza que trata o artigo
16 do Anexo I da Circular Susep n.º 145/00, a saber:
Art. 16. Será caracterizada a perda total do veículo
quando os prejuízos, resultantes de um mesmo sinistro,
atingirem ou ultrapassarem o valor apurado a partir da aplicação
de determinado percentual sobre o valor contratado.
§1º - O percentual de que trata o caput deverá ser
constar das condições contratuais do seguro, sendo fixado com
observância dos seguintes limites máximos:
I – Na contratação de seguro de veículo com
cobertura de Valor Determinado - até 75% do valor determinado
na apólice;
II - Na contratação de seguro de veículo com
cobertura de Valor de Mercado Referenciado - até 75% do valor
do veículo, apurado pela aplicação do fator de ajuste, em
percentual, contratado na forma do art. 13 sobre o valor do
Tabela 01 – Tabela de Prazo Curto veículo segurado na tabela de referência contratualmente
Fonte: SUSEP – Superintendência de Seguros Privados. estabelecida, em vigor na data do aviso de sinistro.
Em caso de ocorrência de dado evento, o contrato
b.Pedido de Cancelamento. Por ser um contrato, será automaticamente rescindido, devendo ser devolvido ao
qualquer dos contraentes pode pedir a rescisão contratual, o segurado a parcela proporcional ao restante da vigência
qual respeitará possível multa rescisória que venha referente às demais coberturas não utilizadas. É o que alude o
estabelecida nas condições gerais da apólice, a anuência da §1.º do art.25 do Anexo I da Circular Susep n.º 145/00:
outra parte, bem como o que estipula o artigo 25, § 3.º da Art. 25. Deverão ser estabelecidos critérios para
Circular n.º 145/00 da Susep, in verbis: cancelamento ou cessação de coberturas específicas, quando
Art. 25. ser estabelecidos critérios para cancelamento for o caso.
ou cessação de coberturas específicas, quando for o caso. § 1º No caso de cancelamento da(s) cobertura(s)
(...) básica(s) em decorrência de sinistro com perda total e
§3.º No caso de rescisão total ou parcial, a qualquer conseqüente cancelamento do contrato de seguro, a Sociedade
tempo, por iniciativa de quaisquer das partes contratantes e Seguradora deverá restituir ao segurado o prêmio relativo às
com a concordância da outra parte, deverão ser observadas as demais coberturas contratadas e não utilizadas, pelo prazo a
seguintes disposições: decorrer, até a data em que houver o pagamento da
a. na hipótese de rescisão a pedido da Sociedade indenização. (...)
Seguradora, esta reterá do prêmio recebido, além dos O fim da cobertura dos riscos assumidos é na data
emolumentos, a parte proporcional ao tempo decorrido; prevista na apólice, ou documento legalmente substitutivo,
b. na hipótese de rescisão a pedido do Segurado, a conforme prevê a legislação pátria. A contratação do seguro é
Sociedade Seguradora reterá, no máximo, além dos usualmente feita para 1 (um), tradição herdada da leitura do art.
emolumentos, o prêmio calculado de acordo com a seguinte 81 do Decreto-lei n.º 2.603/40, no entanto, pode ser feita por um
Tabela de Prazo Curto: (...)". prazo máximo de 5 (cinco) anos, consoante trata o art.82 do
Portanto, se a seguradora requisitar a rescisão mesmo diploma legal. Neste caso, é autorizado um desconto
devolverá ao segurado somente o valor proporcional ao adicional sobre os prêmios pagos adiantadamente. Vide in
restante da vigência, somado a uma possível multa rescisória, litteris o que trata o mencionado documento legal:
retirando-se além dos impostos pagos, os emolumentos Art.81. Os prêmios dos seguros dos ramos
necessários (custos da emissão da apólice e outros gastos elementares serão sempre calculados na base de um ano de
administrativos). Se por outro lado, o segurado, por qualquer curso dos riscos, tendo-se em vista a natureza e as condições
motivo solicitar a rescisão do contrato, receberá o valor do objeto, segundo as determinações da respectiva tarifa.
proporcional aos dias que restam para a conclusão do contrato, Art.82. É permitida a emissão de apólices com prazo
baseado no percentual mais próximo existente na tabela acima de vigência de vigência de até cinco anos.
mostrada, retirando-se os impostos pagos, emolumentos Parágrafo único. Nos casos de seguros contratados por prazo
superior a um ano, será permitido desconto sobre prêmios

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pagos adiantadamente, de acordo com as condições


estabelecidas na respectiva tarifa.
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pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua


purgação.").
c.Abster-se de todo ato que possa aumentar os riscos
assumidos, sob pena de perder o direito à indenização (CC, art.
3.8 Direitos e deveres do segurado 768). Entretanto, se houve agravamento do risco sem que haja
culpa ou dolo do segurado, se manterá a cobertura, não haverá
3.8.1 Direitos do segurado nem mesmo reavaliação do prêmio. Isso decorre da própria álea
São direitos básicos do segurado: do contrato, ou seja a probabilidade de perca concomitante à de
a.Receber a indenização, ou o equivalente à quantia lucro, no contrato de seguro;
estipulada, até os limites assumidos, ou a reparação do dano, d.Comunicar, logo que possível, ao segurador a
se estipulado em contrato. É o que alude o art.776, CC; ocorrência do evento danoso, de forma que este possa evitar
b.Reter prêmios vencidos e vincendos, e ainda, deterioração maior do risco. A falta de aviso pode ocasionar a
contratar outra sociedade seguradora para o risco, em caso de perda do direito à indenização. (CC, art.771, caput);
eminência ou real insolvência da companhia seguradora e.Comunicar logo que tomar ciência, de todo fato
contratada, como forma de garantir a segurança sobre o risco. imprevisto no momento da contratação, e que notoriamente,
Vale aqui salientar que de acordo com o art.68 do Decreto-lei n.º mesmo alheio à sua vontade, possa agravar o risco, de forma
60.459, de 13 de março de 1967, as companhias seguradoras que a sociedade seguradora tome as providências cabíveis, sob
não estão sujeitas à falência, motivo pelo qual os artigos pena de perder o direito à indenização, se provado que silenciou
seguintes indicam o seu processo de liquidação; por má-fé (CC, art.769, caput). Note que salientamos sobre a
c.Não ter aumentado seu prêmio, mesmo que hajam notoriedade da agravação do risco, tendo em vista que algumas
agravados os riscos, em virtude de fato alheio à sua vontade e vezes o risco é agravado, mas pela falta de conhecimento do
que à época da contratação era impossível de prever, salvo se segurado em analisar sobre a álea do risco, não cientifica a
notoriamente agravamento do risco, sob pena de perder o seguradora, pois aí estaria provado que silenciou de boa-fé,
direito à indenização (CC, art.769, caput); dado o desconhecimento sobre o assunto. Neste caso,
d.Receber o reembolso de despesas feitas com o fim entendemos que lhe permanece como direito de indenização;
de minorar os efeitos do evento danoso, tendo em vista que f.Demonstrar por todos os meios de prova admitidos
correm às expensas do segurador os custos de salvamento do em direito os prejuízos sofridos e indenizáveis, sofridos com o
risco, conseqüente de sinistro coberto (CC, art.771, parágrafo evento danoso. A presente pode também ser considerado um
único); direito do segurado, visto que é em se provado os danos
e.Ser defendido judicialmente pela seguradora nos sofridos, e seu nexo causal com as coberturas contratadas, que
casos de Responsabilidade Civil, em casos que a ela caiba a será ressarcido do prejuízo;
reparação, pois segundo o art.787, §2.º, CC, intentada ação de g.Agir, em todos os atos ligados ao contrato e seu
responsabilidade civil contra o segurado, deverá a seguradora processamento, com a mais estrita boa-fé, lealdade e
ser informada; sinceridade (CC, art.765) tais como responder com
f.Exigir, em havendo redução considerável do risco verossimilhança a todas as perguntas feitas pelo segurador, no
durante a vigência do contrato, reanálise do prêmio, sendo momento da contratação, bem como em atos posteriores, como
ressarcido se for o caso, ou até mesmo a resolução do contrato, o sinistro, p.ex., sob pena de perder o direito à indenização e
se extinto totalmente o risco. É o que trata o art.770 do Novo arcar com os prêmios já vencidos (CC, art.766);
Codex Civille Brasileiro ("Salvo disposição em contrário, a h.Privar-se de transacionar com a vítima, ou seu
diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a redução representante, sem o prévia anuência expressa da seguradora
do prêmio estipulado; mas, se a redução do risco for (CC, art.787, §2.º). Destarte, na medida da razoabilidade,
considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou realizada com a mais estrita boa-fé, e com o fim de minorar os
a resolução do contrato.") danos causados pelo evento, agilizando o processo de
regulação do sinistro, não há pois, num excesso de rigor formal,
de se penalizar o segurado por ter transigido sem prévia
3.8.2 Deveres do segurado anuência da seguradora, visto que foi respeitado o Princípio da
Boa-fé Securitária;
São deveres básicos do segurado:
a.Pagar o prêmio convencionado, no prazo
estipulado, para que se possa criar um fundo monetário o qual 3.9 Direitos e deveres do segurador
irá principalmente, arcar com as despesas decorrentes dos
sinistros ocorridos dentro da carteira (17) de cada sociedade 3.9.1 Direitos do segurador
seguradora, além dos gastos administrativos, dos impostos São direitos básicos do segurador:
pagos ao Estado, bem como o lucro de cada companhia de a.Receber o prêmio, da forma contratada, que
seguros. O presente está disposto no art. 757, caput, CC; estipulou ser necessário para cobrir o risco pretendido, para que
b.Responder por eventuais juros moratórios, possa fomentar um fundo que irá pagar os sinistros decorrentes
independente de interpelação judicial ou extrajudicial do de cada carteira de atuação, os impostos que é responsável por
segurador, sob pena de tornar a apólice caduca e ser cancelada captação, bem como seu lucro (CC, art.757, caput);
a cobertura sobre o risco. É o disposto no art.763, CC ("Não terá b.Isentar-se de quitar qualquer indenização quando,
direito a indenização o segurado que estiver em mora no por todos os meios de prova admitidos em direito, se provar: I.

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Que o segurado agiu dolosamente, seja omitindo informações


necessárias para a análise do risco ou para a correta execução
do contrato (CC, art.766, caput), seja realizando por vontade
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qualquer forma, seja ressegurando ou coosegurando, (CC,


art.761, e Dec.-lei n.º 73/66, art.4.º) ;
d.Não reter compromissos e responsabilidades
própria evento danoso que veria a ser coberto pela apólice (CC, maiores que seu limites técnicos (Dec.-lei n.º 73/66, art.79);
art.762), seja agravando o risco (CC, art.768), assim entendido e.Manter constituídas reservas técnicas, fundos
somente o dolo sobre o ato de agravação (por exemplo, o especiais e provisões, como garantia dos riscos assumidos
segurado queria receber a indenização do seguro para pagar (Dec.-lei n.º 73/66, art.84);
algumas dívidas, e, intencionalmente deixou o carro aberto num f.Cumprir com as obrigações, mesmo as
local onde é notório o risco de roubo de veículos); II. Que a provenientes da desvalorização da moeda, visto que a Lei n.º
apólice caducou por falta de pagamento (CC, art.763); III. Se 5.488/68 determina correção monetária quando na regulação e
havia no risco objeto do contrato um vício intrínseco, tendo o liquidação dos sinistros ocorridos, inclusive com sua mora
segurado ciência, mas dolosa ou culposamente não informou g.Restituir o prêmio em dobro, em caso de
(CC, art.784 ). Entende-se por vício intrínseco, de acordo com o comprovada má-fé contra o segurado, conforme o art. 765, CC,
Codex Civille, em seu art.784, parágrafo único "...o defeito combinado com o art. 773, do mesmo diploma legal. O primeiro
próprio da coisa, que se não encontra normalmente em outras nos solicita a mais estrita boa-fé, conquanto o segundo a
da mesma espécie.", ou seja, um defeito próprio daquele risco, e necessidade, de em certos casos pagar em dobro por atos de
que não se espera em outros parecidos; má-fé;
c.Responder exclusivamente nos limites de h.Defender o segurado e realizar as providências
indenização, e sobre os riscos que assumiu Com efeito, o necessárias o mais breve possível, para que se cessem os
art.757 do Código Civil assim trata os riscos assumidos: "Pelo efeitos danosos do risco, desde que notificado pelo segurado do
contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o ocorrido (CC, art.771, caput), arcando inclusive pelos custos de
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do salvamento (CC, art.771, parágrafo único).
segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados" (grifo nosso). E na inteligência do art.781 do
mesmo diploma legal nos trazido o limite dos riscos: "A 3.10 O sinistro e seus efeitos
indenização não poderá ultrapassar (...), em hipótese alguma, o
limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso de 3.10.1 Conceito de sinistro
mora do segurador." O insigne catedrático Pontes de Miranda ajuíza sobre
d.Sub-rogar-se, em pagando a indenização, no direito sinistro (1984, V.45, p.335): "Sinistro é o evento danoso que se
de ressarcir-se dos prejuízos causados pelo evento, se o previu como possível. Devido a ele há o valor negativo, a
causador não for o segurado. Ressalve-se aqui que pretenso diminuição do patrimônio, ou do corpo humano, inclusive a
direito não terá eficácia quando forem os causadores perda da vida(...)". Mais a frente o emérito professor assevera
ascendentes ou descendentes, consangüíneos ou afins, salvo acerca de valor segurado (op.cit., p.335): "O valor segurado é o
em caso de comprovado dolo (CC, art.786, caput e §1.º). Será, limite do ressarcimento. Se os danos forem inferiores a
no entanto, ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou êles(sic), ressarcem-se os danos ocorridos (4.ª Câmara Civil do
extinga, em prejuízo do segurador, os direitos de reembolso e Tribunal de Justiça de São Paulo, 10 de dezembro de 1953, R.
de ações judiciais cabíveis contra o responsável da lesão (CC, dos T., 222,246)".
art. 786, §2); Com efeito, há de se entender o sinistro como o dano
e.Merecer a lealdade, e a mais estrita boa-fé do ocorrido no risco que se pretendeu cobrir com a contratação do
segurado desde o momento da contratação, até o término do seguro, limitado porém, ao limite pactuado.
contrato, assim entendido como agir com lealdade em todos os
atos concernentes àquele contrato, e não lealdade referente a 3.10.2 Efeitos do sinistro
futuras renovações, o que é do livre arbítrio do segurado; Com o evento, mister se faz de logo anunciá-lo à
f.Reajustar o prêmio toda vez que haja considerável seguradora, como forma de agilizar o processo para que se
aumento do risco assumido. possa ressarcir do dano ocorrido, bem como minorar ao máximo
possível os efeitos maléficos do acontecimento. A falta
3.9.2 Deveres do segurador injustificada pode acarretar inclusive perda do direito de
São deveres básicos do segurador: indenização. De fato, é o que solicita o CC, art.771, caput,
a.Indenizar o segurado quanto aos prejuízos usque: "Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado
experimentados e que estejam cobertos pelo contrato, participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as
consoante as circunstâncias e os valores expressos em apólice providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências."
(CC, 757 e 781); A presente penalidade é objeto de crítica pelo
b.Aceitar a cessão do seguro, pagando a terceiro, professor Antônio Carlos Otoni Soares (1975, p.171), na qual
decorrente de transação realizada sobre o bem objeto do defende ser excessiva a pena à falta do segurado:
contrato, desde que avisada ao segurador, seja em forma de um Como está redigida a parte inicial do artigo 798 (18), ele
simples aviso formalizado, seja endossado em preto pelos poderá transformar-se numa fonte perene de demandas, face à
endossantes e endossatários (CC, art.785, caput, §1.º e 2.º); sua defeituosa redação. A pena é desproporcional para a falta.
c.Pulverizar o riscos, seja inclusive em forma de Não se pode punir com a perda do direito à indenização a falta,
resseguro ou cosseguro. Ou seja, manter uma capacidade que não é das mais graves, de não ter o segurado participado,
financeira no valor total dos riscos assumidos na apólice, de ‘logo que o saiba’, especialmente diante do fato consumado, do

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sinistro total cuja causalidade é indiscutível.


Deve haver uma punição ao segurado faltoso no
dever de comunicar o sinistro à seguradora; se ele se omite, o
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O segurador então paga o prejuízo resultante do


sinistro, seja ele parcial, quando não chegar a 75% (setenta e
cinco porcento) do valor contratado, ou total, se ultrapassar
fato de ser punido, não, porém, de forma tão rigorosa coo a referido valor. Deve ser pago em dinheiro, ou com a reposição
prevista no Anteprojeto do Código Civil. do bem, se mencionado e, apólice (CC, art.776). Usualmente,
Ressalvada possível agravação (com a ampliação quando o sinistro somente solicita indenização parcial, é
culposa das conseqüências do sinistro), hipótese que a convencionada a reposição das peças, bem como o pagamento
seguradora sempre poderá provar, qualquer que seja o tempo dos serviços técnicos necessários. No entanto, as indenizações
da comunicação, é evidente que o interesse maior é do próprio de caráter total, amiudadamente ensejam pagamento do valor
segurado, para mais rapidamente receber a indenização". convencionado em moeda corrente nacional.
Decerto, congruímos com o pensamento do nobre O pagamento do dano é feito até o limite do
professor. Há excesso de punibilidade para uma falta, que no contratado, visto o caráter indenizatório do contrato, não
máximo faria a seguradora gastar um pouco a mais no momento podendo haver lucro por parte do segurado, somente a
da regulação do sinistro. Se assim o for, basta que o segurador correição do dano sofrido, com efeito, "a garantia prometida não
prove o quantum a mais lhe causou de prejuízo, e com esta pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da
parte, afora a obrigação já existente da franquia, arque o conclusão do contrato" (CC, art.778).
segurado pela sua falta, se culposa, pois, se dolosa, aí, sim, A indenização deve ser feita na forma contratada.
deverá ser penalizado com a perda do direito à indenização Portanto, se houve uma redução no valor do bem, para por
(CC, art.768). exemplo, ver o prêmio reduzido, não poderá ao cabo de uma
Cumpre-nos salientar que esta falha é incomum, face perda total, solicitar o pagamento pelo valor médio de mercado
ao interesse do segurado no momento da contratação ser o de do risco.
não tomar prejuízos posteriores, portanto, não há que ficar Pode, entretanto, se entender que o valor
esperando, sem motivo maior e justificável, para informar à apresentado pela seguradora não corresponde ao preço de um
seguradora do ocorrido, e ser ressarcido dos danos. bem equivalente ao seu, pode, dentro da política de aceitação
Ocorrido o evento danoso, há de se analisar a causa, de cada seguradora, fixar um valor a maior (Circ-Susep n.º 145,
e se esta está coberta pela apólice contratada. Para tanto, nos Anexo I, art.13, parágrafo único), e devido a isso, pagará um
ensina Pontes de Miranda (1984, V.45, p.336) haver três teorias prêmio igualmente mais elevado que o habitual. Desta feita,
para se analisar a causa, que são: numa perda total, receberá também uma indenização mais
a.Teoria da causa adequada, a qual há de se elevada que a usual. Isso não pode ser considerado um
considerar causa "... o fato a que normalmente se liga enriquecimento ilícito do segurado, e sim uma adequação do
determinado efeito(...)", ou seja, para todo fato há um efeito valor de mercado ao valor que atribui ao seu bem, e esta
predeterminado, algo parecido como a teoria da Ação e Reação diferença é sempre dentro da medida do razoável.
de Isaac Newton. No brasil não é utilizado, visto sua excessiva A contratação do veículo por Valor Determinado, no
formalidade; qual o bem, no momento de uma perda total, a regulação é
b.Teoria da causa próxima, segundo a qual "... causa baseada no valor estipulado em apólice, recebendo o segurado
é o evento mais próximo do tempo, e não o remoto, que apenas referido quantum (Circ-Susep n.º 145, Anexo I, art.12, parágrafo
aumentou o risco.(...)", ou seja, a causa é o evento mais único). Até o dia 1.º de setembro deste ano de 2003, esta
próximo, o mais remoto apenas aumentou o risco coberto. Por modalidade era aberta para toda e qualquer contratação de
exemplo, se uma casa pega fogo, fazendo desabar o muro, e seguro de veículo, contudo, com o advento do Novo Código
com isso, são roubadas as jóias da outra casa, a causa é o Civil, a Susep, através de Carta Circular, entendendo respeito
desabamento, não o incêndio. Também não foi acolhido pela ao art.781, proibiu esta modalidade de contratação, facultando
legislação nacional, visto não haver enquadramento com o apenas para veículos que não tivessem sua cotação publicada
nosso ordenamento jurídico geral; pela tabela referência adotada pela seguradora.
c.Teoria da causa determinante, teoria mista, Em havendo contratação de múltiplas seguradoras
consoante a qual se entende que cada fato tem o seu efeito, para o mesmo risco, cada uma assumira proporcionalmente aos
entretanto, entende que seus desdobramentos podem também riscos assumidos e prêmios recebidos, respeitado o que aduz o
ser causa de um sinistro. É o acolhido pela legislação nacional. art.782, CC (20). Decorra este entendimento do que trata o
De acordo com a Circ-Susep n.º 145, no art.21 do art.778, CC, segundo o qual a indenização não poderá
Anexo I, caput, para cada modalidade de cobertura, deve ser ultrapassar o valor no momento do sinistros do interesse
estipulada na apólice a o procedimento básico para a sua segurado. É uma cláusula especial do contrato em comento.
regulação (19) em caso de sinistro, inclusive com lista de Para as contratações plúrimas, a despeito não haver
possíveis documentos necessários. legislação que defina, a jurisprudência de nossos tribunais lhe
validam:
3.11 O pagamento da indenização Seguro – a regra proporcional ou cláusula de rateio,
Ocorrido o reconhecimento da causa do sinistro e a nos contratos de seguro, embora não expressamente prevista
sua cobertura pela apólice contratada, deverá o sinistro ser na lei civil, pode ser adotada pelos interessados, por força dos
indenizado. A todo este processo é dado o nome de regulação. arts. 115, 1434 e 1435 (21) do Código Civil e observado o disposto
O prazo máximo é de 30 (trinta) dias, a contar do recebimento de no art.673 do Código Comercial.(For. 158/237).
toda a documentação necessária (Circ-Susep n.º 145, Anexo I, E mais:
art.21, §1.º). Seguro – Rateio proporcional – Cláusula expressa

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neste sentido – Validade jurídica da convenção – Ação


improcedente – Voto vencido.
É jurídica a cláusula de rateio proporcional, constante
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o consumidor-final, ele está transformando o bem, utilizando o


bem para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor.
Da mesma forma, pudemos facilmente vislumbrar, visto a
de apólice de seguro. Este, dada a reciprocidade das clareza solar das definições do Código de Defesa do
obrigações, precisa ter base e econômica e ajuste necessário Consumidor, que Fornecedor é toda pessoa jurídica, pública ou
entre o prêmio do segurador e a indenização, do contrário privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
haveria o enriquecimento ilícito do segurado. (RT, 439). despersonalizados (p.ex., órgãos públicos vinculados
diretamente à atividades estatal) que produza, monte,
desmonte, crie, modifique, construa, exporte, importe, distribua
ou comercialize produtos ou serviços. Dentre os serviços que
04 O DIREITO DO CONSUMIDOR NO DIREITO alude o CDC, está a atividade securitária (CDC, art.3.º, §2.º), e é
SECURITÁRIO o que nos interessa. Assim trata a Profª. Cláudia Lima Marques
(op.cit., p.141), em seu posicionamento acerca dos contratos
apreciados pelo CDC, dentre os quais sobre o de seguro:
4.1 O direito do consumidor e o contrato de Resumindo, em todos estes contratos de seguros
seguro. podemos identificar o fornecedor exigido pelo art.3.º do CDC, e
o consumidor. Note-se que o destinatário do prêmio pode ser o
A Constituição da República Federativa do Brasil, contratante com a empresa seguradora (estipulante) ou terceira
nossa Carta Magna, em seu art. 5.º, inciso XXXII, estabelece: pessoa, que participará como beneficiária do seguro. Nos dois
"O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do casos, há um destinatário final do serviço prestado pela
consumidor;", e no Ato das Disposições Constitucionais empresa seguradora. Como vimos, mesmo no caso do seguro-
Transitórias, em seu art.48, assenta: "O Congresso Nacional, saúde, em que o serviço é prestado por especialistas
dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, contratados pela empresa (auxiliar na execução do serviço
elaborará o código de defesa do consumidor". proposto), há a presença do ‘consumidor‘ ou alguém a ele
Incontestavelmente, algum tempo após o equiparado, como dispõe o art.2.º e seu parágrafo único.
determinado na nossa Lex Major, em 11 de setembro de 1990, é Configura portanto, o contrato de seguro como um
sancionado o Código de Defesa do Consumidor, lei que " Dispõe tipo de serviço submetido ao Código de Defesa do Consumidor,
sobre a proteção do consumidor e dá outras providências" devendo suas cláusulas e sua interpretação obediência ao
(CDC, Ementa). Referido diploma normativo, recebido com estipulado por este diploma normativo, com o escopo de coibir
grande alegria pelo povo brasileiro, estipula o que se entende desequilíbrios contratuais.
como consumidor e fornecedor, quais sejam: O contrato de seguro é de adesão, ou seja, as
Art. 2°. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica cláusulas são editadas pelo segurador, não podendo o
que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. segurado discuti-las, somente aceitá-las. Mas não é o modo de
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de formação do contrato que é responsável pelo surgimento de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas desequilíbrios contratuais, e sim, a inserção de cláusulas
relações de consumo. capciosas, limitativas, e em vezes abusivas, que aproveita-se
Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, do pouco conhecimento do consumidor do conteúdo do
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes contrato.
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 4.2 Princípios do direito do consumidor aplicados
prestação de serviços. ao direito securitário
§ 1°. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,
material ou imaterial. Visto o recebimento do contrato de seguro pelo
§ 2°. Serviço é qualquer atividade fornecida no Código de Defesa do Consumidor, aproveitaremos alguns dos
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de princípios emanados por este Código e os analisaremos face ao
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as Direito Securitário.
decorrentes das relações de caráter trabalhista" (grifos nossos). a.Do protecionismo (CDC, art.1.º). Princípio que
Como bem assegura o artigo ora trasladado, entende-se como inaugura a lei consumerista, e que decorre diretamente do texto
consumidor toda pessoa física ou jurídica, bem como a constitucional, que trata a defesa do consumidor, e neste caso,
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que do segurado, como um dos princípios gerais da atividade
adquira produto ou utilize serviço como destinatário final. econômica (CF, art.170, V), e obriga o Estado o dever de
Corroborando, o conceito emanado pela Profª. Claúdia Lima promover tal resguardo. Ou seja, é obrigação do Estado
Marques (1995, p.107): promover a defesa do consumidor, motivo pelo qual promulgou
Destinatário final é o "Endverbraucher", o consumidor a presente norma que tem como fim a proteção, defesa e apoio
final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou do consumidor, dentre eles, o segurado. Decorrente deste
simplesmente utilizá-lo (destinatário final), aquele que coloca princípio, defende Luiz Antônio Rizzato Nunes (2000, V.1, p.76):
um fim na cadeia de produção (destinatário econômico) e não Na medida em que a Lei n.º 8.078/90 se instaura também o
aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não é princípio da ordem pública e interesse social, suas normas se
impõem contra a vontade dos partícipes da relação de

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consumo, dentro de seus comandos imperativos e nos limites


por ela delineados, podendo o magistrado, no caso levado a
juízo, aplicar-lhe as regras ‘ex officio’, isto é, independente do
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entendendo como o dever das partes de agir com lisura,


honestidade e lealdade nas relações de consumo, e nas
contratuais, com especialidade. Já tratada outrora (22), a boa-fé
requerimento ou protesto das partes. se faz presente em todo direito, entretanto, para dar maior força
É do entendimento do excelso autor, portanto, que, ao referido princípio nas relações comerciais, foi incluído na
em defesa segurado, possa o magistrado, ex officio, aplicar as norma em comento. É um modelo de como devem agir as
regras trazidas pela lei em trato, independente da solicitação de partes, com o fim de atingir o equilíbrio contratual. Ou seja, num
qualquer das partes. contrato de seguro, a boa-fé mútua (CC, art.765), em não sendo
b.Da vulnerabilidade do consumidor (CDC, art.4.º, I). respeitada, pode ser objeto também de discussão na seara
Decorre do presente o entendimento de que na relação de consumerista. Vide letra da norma:
consumo é o consumidor a parte mais fraca, portanto a Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo
vulnerável. Tal efeito advém de dois aspectos, um de natureza tem por objetivo o atendimento das necessidades dos
técnica, outro de natureza econômica. O primeiro está conexo consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
aos meios de produção, no qual o conhecimento é monopólio do a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
fornecedor, não tão somente quanto aos aspectos meramente qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das
técnicos de produção, bem como da logística de distribuição, relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
mas porque cabe ao fornecedor o "elemento fundamental da (...)
decisão: (...) quando e de que maneira produzir, de sorte que o III - harmonização dos interesses dos
consumidor está a mercê daquilo que é produzido" (Id. Ibid., participantes das relações de consumo e compatibilização
op.cit, p.106). O direito de escolha do consumidor já nasce da proteção do consumidor com a necessidade de
subordinado à decisão dos fornecedores de colocar este ou desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar
aquele produto no mercado, de forma a enquadrar-se aos seus os!princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170,
interesses comerciais. Já o segundo aspecto, de natureza da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
econômica, é de que, regra geral, o fornecedor é melhor equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;
fomentado econômicamente que o consumidor, tendo portanto, (...) (grifos nossos).
mais poder de ação, em todos os aspectos. Por isso, tratar-se o f.Do dever de informar (CDC, art.6.º, III). Constitui
consumidor (e o segurado) vulnerável frente ao fornecedor dever básico do fornecedor prestar informações claras e
(seguirador), necessitando assim de uma norma que dê concisas ao consumidor, de forma a ficar este totalmente ciente
isonomia à relação. acerca das características, qualidades, riscos, etc., não se
c.Da hipossuficiência (CDC, art.6.º, VII). Como visto admitindo falhas ou omissões. Portanto, no contrato de seguro,
anteriormente, considera-se o consumidor vulnerável na além da lealdade mútua, inerente ao documento, mister se faz
relação de consumo, motivo pelo qual se estabeleceu o anunciação das cláusulas limitativas aos direitos do segurado,
seguinte princípio processual no qual se considera o sob pena de incorrer o segurador no art,54, §4.º do CDC ("As
consumidor hipossuficiente, ou seja, de que é o cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor
consumidor/segurado, desconhecedor dos meios técnicos do deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e
produto ou do serviço, de suas propriedades, de seu fácil compreensão."). Desta feita, possíveis cláusulas que
funcionamento intrínseco, dos modos especiais de controle, façam perder o segurado o direito da indenização devem ser
etc. Resultante disto há um privilégio processual especial à lide redigidas de forma concisa e clara.
que tratar acerca de uma relação de consumo: a inversão do g.Da solidariedade (CDC, art.7.º, parágrafo único). O
ônus da prova. princípio em trato é trazido como um privilégio ao consumidor,
d.Da inversão do ônus da prova (CDC, art.6.º, VIII). visto que diante deste, o consumidor, em caso de dano, poderá
Face à hipossuficiência do consumidor/segurado, o CDC acionar qualquer dos fornecedores partícipes, todos
estabeleceu a presente norma que estabelece que, para facilitar respondendo em sua integralidade pelo dano causado. Ou seja,
a defesa dos direitos do consumidor, deverá o réu comprovar é facultado ao consumidor, em tendo comprado uma carro, e por
que não cometeu erros, e não o autor comprovar que o réu motivo de falha do freio, veio a colidir, pode o comprador acionar
errou, tal como solicita para toda o processo em geral o CPC a empresa/vendedor que lhe alienou o bem, bem como a fábrica
(art.333). Não há entretanto, de ser analisado a inversão do que o produziu, bem como os dois, em listisconsórcio facultativo
ônus da prova como um favorecimento à parte mais pobre na passivo (CPC, art.46). Assim, trazendo o exemplo para o
relação, pois que algumas vezes o consumidor é melhor terreno do direito securitário, poderá o consumidor, em não
abastado que o fornecedor, e em não sendo bastaria somente a sendo indenizado, total ou parcialmente, acionar a seguradora,
solicitação da justiça gratuita, bem como o fornecedor pagar a seu corretor de seguros, ou os dois concomitantemente.
produção de prova do autor da ação. Há sim, de ser analisado Destaca-se ainda que a responsabilidade que trata o CDC é
face ao desconhecimento do réu das minúcias do produto ou objetiva, ou seja, independe de dolo ou culpa do agente, basta,
serviço que contratou. É o que bem assevera Luiz Antônio para tanto provar a existência do dano e sua ligação com o
Rizzato Nunes (op.cit., p.124): "Mesmo no caso de o reclamado.
consumidor ter grande capacidade econômica, a inversão do
ônus da prova deve ser feita na constatação de sua
hipossuficiência (técnica e de informação).". 4.3 As cláusulas limitativas de direito no contrato
e.Da boa-fé objetiva (CDC, art.4.º, III). No CDC, a de seguro e sua interpretação pelo Código de Defesa do
boa-fé objetiva age como uma regra de conduta, assim se

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Consumidor.
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As cláusulas limitativas no contrato de seguro têm


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da inserção de cláusula limitativa e a abusividade da mesma, ou


seja, se a cláusula impõe apenas limitações ou se já se
caracteriza como abusiva, caso em que serão nulas de pleno
gerado bastante controvérsias. De um lado, o CC autorizando direito, (art.51, IV, CDC).É com grande propriedade que
certas cláusulas de perda do direito da indenização, doutro, o diferencia os dois tipos de cláusula o emérito Desembargador
CDC requerendo maior atenção a tais cláusulas.Cláusula Sérgio Cavalieri Filho (apud MORETTI, Luciana Biembengut;
limitativa é aquela que reclama privação dos direitos do SILVA, Sirvaldo Saturnino, op.cit, p.10):Tenho sustentado que a
consumidor, aqui entendido como o segurado. A presente impõe principal diferença entre a cláusula limitativa do risco, da qual
restrições ao uso do seguro, e não é proibida pelo CDC, acabamos de falar, e a cláusula abusiva está em que a primeira
entretanto, mister se faz a exposição de forma mais clara e tem por finalidade restringir a obrigação assumida pelo
destacada no contrato. (CDC, art.54, § 4.º). Em se tratando de segurador, enquanto a Segunda objetiva restringir ou excluir a
seguro, tal cláusula deve estar assentada não somente na responsabilidade decorrente do descumprimento e uma
proposta de adesão ao seguro, bem como na apólice ou obrigação regularmente assumida pelo segurador, ou ainda a
qualquer outro documento legalmente aceito analogamente a que visa a obter proveito sem causa. E, como todos sabemos,
tal (CC, art. 758).No entanto, é próprio do contrato de seguro a obrigação e responsabilidade são coisas distintas, que não
imposição de cláusulas limitativas, com vistas a limitar a podem ser confundidas.Combinando com dado pensamento,
responsabilidade sobre os riscos assumidos, corroborando com nos traz e excelso catedrático Fernando Noronha, em grande
o princípio milenar de que ninguém está obrigado a assumir obra de Renata Mandelbaum (apud MORETTI, Luciana
obrigação maior do que deseja. Por exemplo, não há problema Biembengut; SILVA, Sirvaldo Saturnino, op.cit, p.10;), que
de se introduzir como cláusula no contrato de seguro que o define cláusulas abusivas como sendo aquelas em que
segurador não está obrigado a indenizar sinistro decorrente de contratos entre partes de desigual força reduzem
furto do veículo, se contratou o segurado somente seguro unilateralmente as obrigações do contratante mais forte ou
contra terceiros; visto ser referida cláusula apenas para limitar agravam as do mais fraco, criando uma situação de grave
as obrigações do segurador, definindo assim sua álea. É o que desequilíbrio entre elas.Portanto, definimos como cláusula
trata o caput do art.760, CC (A apólice ou o bilhete de seguro abusiva aquela na qual a parte redatora do contrato, por vezes
serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os utilizando-se de sua posição algumas vezes superiora, impõe
riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da condições deveras adversas, de forma ficar o consumidor
garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do totalmente desprovido da equidade contratual e da lealdade que
segurado e o do beneficiário.) (grifo nosso).Como já tratado merece de quem contrata, em especial num contrato de seguro.
outrora, o contrato de seguro é de adesão, devendo assim, as Ora, se ocorre a contratação, é devido ao segurado não ter
cláusulas, em especial as que indicarem limitações aos direitos conhecimentos técnicos ou capacidade financeira para arcar
do segurado serem redigidas de forma clara e destacada, de com os riscos, e por isso, contrata os beneplácitos do seguro, no
forma a permitir sua rápida e fácil compreensão (CDC, art.54, entanto, se, culposa ou dolosamente a seguradora abusa do
§3.º e §4.º). E, em persistindo dúvidas, deve a discussão ser fato de redigir o contrato e insere situações para somente se
interpretada contra profetem, ou seja, contra quem redigiu o beneficiar, sem que igual direito seja dado ao segurado,
contrato, aqui se entendendo como o segurador (CDC, art.47). somente resta ao CDC declará-la nula de pleno direito, formas
Insta salientar que o artigo 46 do CDC preconiza que não que procurar restabelecer a equidade contratual.Sendo, pois, a
obrigaram o consumidor os contratos os quais não lhe foi dada cláusula somente limitativa, com o fim específico de delimitar a
oportunidade de tomar conhecimento prévio, ou fora redigido de álea do segurador, não há de ser declarada nula, salvo se não
forma a dificultar seu entendimento. Tal entendimento decorre respeitar os ditames do CDC, ditados já exaustivamente neste
do princípio da vulnerabilidade do consumidor, já tratado subcapítulo.
anteriormente (23).O cuidado na redação de cláusulas Ocorre, no entanto, que no contrato do seguro as
específicas de decorre da proteção de dois temas: a cláusulas, gerais e específicas, somente são entregues ao
necessidade de equilíbrio do contrato e o de segurança nas segurado depois de concluído o processo de aceitação do risco,
relações contratuais, como bem guarnecem os causídicos junto à apólice, podendo portanto o segurado somente tomar
Sirvaldo Saturnino Silva e Luciana Biembengut Moretti, em conhecimento de suas regras com sua tradição. E, por vezes,
excelente artigo publicado eletronicamente pelo sitio Jus este documento não lhe é entregue, ou lhe é entregue de forma
Navigandi (1998, p.09), que ora trasladamos:No direito incompleta (sem todas as cláusulas), seja por falha do corretor
comparado, quando se analisam as cláusulas de limitação da de seguros, ou dos meios de entrega (Correios, etc.), ou
responsabilidade e seus efeitos nos contratos de consumo, dois qualquer outra, que não nos cabe no momento tecer
temas são sempre destacados: a necessidade de equilíbrio do comentários. Tal situação gera profundo desequilíbrio entre as
contrato e o de segurança nas relações contratuais. partes, colocando o segurado em desvantagem excessiva em
As cláusulas limitativas de responsabilidade da parte relação ao segurador, tendo em vista que não pode o
mais forte, assim como as de exclusão, desequilibram a relação consumidor tomar conhecimento das regras do contrato.
contratual, impedindo uma composição eqüitativa dos Entende-se portanto ser igualmente abusivas tais cláusulas,
interesses privados que o contrato é regulado. Na ocorrência de visto que todos os ditames do CDC não foram cumpridos, ou
cisão deste equilíbrio entre direitos e obrigações de cada parte seja, sem a entrega das condições do seguro, ou de sua entrega
mais fraca em contratos sem este tipo de cláusula, enseja o de forma incompleta, não tomou conhecimento das cláusulas o
desequilíbrio contratual entre as partes. segurado, e por isso, não se respeitou o art.46 do CDC,
Há de se analisar, portanto, o liame entre a legalidade tornando-as abusivas.

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05 A NEGATIVA DO ATENDIMENTO DO SINISTRO


DE AUTOMOVEL
O pensamento de quem faz a diferença
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evento no automóvel, as condições de ocorrência do dano, as


condições informadas do risco quando da contratação, bem
como se há possibilidade de atender a todas as solicitações
feitas pelo segurado quando do aviso do evento. Em havendo
5.1 O aviso de sinistro coerência entre todos esses quesitos, o perito informa à
Preconiza o art.771, CC "Sob pena de perder o direito seguradora que pode realizar o ressarcimento dos danos
à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, (indenizando em espécie, ou fazendo a reparação dos danos,
logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para conforme o art.776, CC).
minorar-lhe as conseqüências.". Tão logo ocorrido o sinistro,
solicita-se ao segurado comunicar à seguradora, de forma que
esta tome as providências necessárias para minorar os efeitos 5.3 A negativa do atendimento ao sinistro
do evento danoso.
A obrigação legal do aviso prende-se ao fato de que, a Não obstante, pode entender o regulador do sinistro
partir da verificação do sinistro, inicia-se de forma concreta, e que tenha o segurado incorrido em algum ou alguns dos casos
não mais apenas potencial, a valer os interesses financeiros da de exclusão de atendimento ao sinistro, que é uma cláusula que
seguradora, aos quais lhe interessa resguardar-se de deve vir expressamente destacada e com linguagem simples,
majoração dos prejuízos. Em função, pois, desses interesses, conforme aludido no art.46 do CDC, e já tratada anteriormente;
representados pela indenização a ser paga, justifica-se o direito ou em casos que o próprio CC exime de responsabilidade de
da seguradora a ser informada sem dilações do acontecimento reparação de danos, tais como o dolo em causar o evento
danoso. (art.762), ou em caso de expor intencionalmente o bem a um
O artigo, ainda, normatiza que em não avisando logo risco contínuo e prolongado maior que o contratado (art.768),
que o saiba do sinistro, corre o risco de não haver a cobertura etc.
securitária. Entende, entretanto, o professor Antônio Carlos Destarte, a negativa que nos interessa aqui é a
Otoni Soares (in Fundamento Jurídico do Contrato de Seguro, baseada em que tenha o segurado no Perfil de Análise de Risco
p.171), ser desproporcional para a falta, entendimento o qual omitido (culposa ou dolosamente) informações, induzindo
conjugamos, bastaria, pois, somente ao segurado arcar com os assim à redução do prêmio, e que no dado momento constata
custos decorrentes do não aviso logo que pôde. No entanto, inverídicas as afirmações prestadas pelo segurado, e por isso
somos do entendimento também de que, o aviso deva ser lhe nega o atendimento ao sinistro, ou seja, não lhe autoriza o
informado, não somente logo que o saiba, mas logo que o ressarcimento aos danos ou a reparação dos mesmos, se assim
possa, tendo em vista que possam haver fatos supervenientes, estipulado.
e de força maior que a depreciação do bem decorrente do Em caso de se comprovar haver o segurado
sinistro. Neste caso, não seria o segurado punido nem com a manipulado de má-fé as informações com o intuito de modificar
perda do seguro (como atualmente pronuncia o art. 771, CC), a análise de risco e alterar o prêmio pago, não terá direito à
nem bem com o prejuízo proporcional que ora conjeturamos. indenização, bem como arcará com os prêmios já vencidos, o
O risco da penalidade é real, visto sua existência no já que significa que além de não se indenizado, terá sua apólice
tratado artigo do CC. No entanto, o que se analisa na prática é a cancelada por comprovada fraude, e não terá ressarcido os
quase não utilização de tal penalidade, visto que se o segurado valores já pagos a título de prêmio. (art.776, caput, CC). Se a
contrata o seguro, é para que logo que possa, comunicar o omissão decorrer de boa-fé do segurado, cabe a seguradora
sinistro, de forma a agilizar o ressarcimento do prejuízo por optar por cancelar o contrato e negar o atendimento, ou a,
parte da seguradora. Ademais, o atraso injustificado de avisar mesmo após efetuar a indenização, cobrar diferença de prêmio
do sinistro dá ao ato ares de fraude, face ao fato não ser também cobrado pela diferença do risco (art.776, parágrafo único, CC).
do interesse do segurado (em não agilizar o atendimento da Contudo, é do entendimento jurisprudencial que,
seguradora), o que chama a atenção da seguradora e fazendo- baseado na dubiedade dos questionamentos efetuados, no
a analisar com maior afinco o ocorrido. desconhecimento de termos técnicos, na pouca oportunidade
Fica contudo, a cargo da seguradora os gastos de analisar sobre o contrato, inclusive por somente receber
decorrentes de salvamento do sinistro. É o que decreta o informações detalhadas do produto apenas depois de
parágrafo único do art.771,CC. negociado o contrato, dentre outros, deva haver o atendimento
do sinistro ao segurado, seja parcial ou total. Senão, vejamos:
Seguro. Modalidade perfil do segurado. Preliminar de
5.2 O processo de regulação e liquidação do nulidade da sentença rejeitada, porquanto ausente o prejuízo.
sinistro Não é dado à seguradora recusar o pagamento da
indenização, fundada na falsidade da declaração prestada,
Logo que é informada do evento danoso, o segurador quando a pergunta constante do questionário é dúbia,
monta sua equipe administrativa para apurar o ocorrido, induzindo o contratante em erro. Além do que, não ocorreu furto
buscando saber se o que reclama o segurado está de acordo do veículo, mas envolvimento em acidente de trânsito, quando
com as coberturas contratadas, como também, se corresponde se deslocava. Apelo desprovido. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
com as condições de risco informadas quando da contratação. RIO GRANDE DO SUL, APELAÇÃO CÍVEL, 70005510623 –
Recolhe-se então o veículo a um local em separado, Des. Léo Lima). (grifo nosso).
normalmente uma oficina indicada pela seguradora, para que No mesmo sentido:
possa o perito da seguradora avaliar os danos causados pelo Seguro. Furto. Veículo. É legitimado o segurado, na

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cobrança do valor do seguro relativo a automóvel, embora o


mesmo também seja objeto de alienação fiduciária. Tratando-se
de contrato de seguro em que fora eleita a modalidade de "perfil
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sua eventual nulidade só poderá ser decretada pela Justiça.


A presente interpretação decorre da jurisprudência
abaixo (apud Antônio Carlos Otoni Soares, op.cit., p.124):
do segurado" e tendo o segurado indicado a esposa como "As condições econômicas e mesmo sociais do
principal condutora, não elide a responsabilidade da segurado devem ser examinadas antes e não depois de firmado
seguradora o fato de o veículo ter sido furtado quando utilizado o contrato de seguro. Assim, impossível ao segurador promover
pelo filho da mesma. Litigância de má-fé não caracterizada. sindicância ‘a posteriori’, visando a desfazer o contrato e
Apelação desprovida. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO invalidar a apólice já expedida." (For. 192/250)
GRANDE DO SUL, APELAÇÃO CÍVEL, 70004349189 – Des. E para que ocorra nulidade do contrato, defende-se
Léo Lima) que "a reticência do segurado seja voluntária, intencional e
E ainda: influa na aceitação do risco" (T.J. R.G.S. For. 133/505).
Apelação Cível. Cobrança. Seguro. Alegada quebra
de perfil. Declarações inverídicas. Inocorrência. Preenchimento
do contrato sem a participação da segurada. Veículo não 5.4 A ação de cobrança de seguro
utilizado para fins comerciais. Comprovação por testemunhas.
Recurso não provido. Constatado nos autos que a montagem Em sendo negada sua solicitação para reparar os
do perfil do segurado foi realizada de forma superficial através danos ou ressarcir-se do prejuízo, pode o segurado intentar
de informações prestadas por gerente de determinado banco competente Ação de Cobrança de Seguro. Ação contenciosa
diretamente à seguradora, e não pela proprietária da coisa que tem como escopo a execução do contrato de seguro, da
segurada como deveria ser, sem maior aprofundamento na forma como a deveria ter ocorrido.
pesquisa dos dados colhidos posto que a segurada sequer O seu rito é o sumário, como prevê o art.275, e), CPP
possui habilitação para dirigir, bem com diante da prova "Observar-se-á o procedimento sumário: (...) e) de cobrança de
testemunhal ter sido unânime em evidenciar que quando do seguro, relativamente aos danos causados em acidente de
sinistro o condutor não estava utilizando o veículo para fins veículo, ressalvados os casos de processo de execução;(...)". o
comerciais, não pode a seguradora, após recebimento do presente rito se deve ao fato de, em maior demora, correria o
prêmio e ocorrência do sinistro, invocar quebra do perfil para se risco de o objeto da discussão, o automóvel, deteriora-se a
desviar do pagamento da indenização. (TRIBUNAL DE ponto de não valer mais a pena, para nenhuma das partes que
JUSTICA DE SANTA CATARINA – 2002.130011-2 – Des. Carlos venha a sucumbir no processo, realizar a reparação dos danos
Prudêncio) ou o ressarcimento.
Aproveitamos a jurisprudência seguinte sobre seguro Corroborando com o fato do "periculum in mora"
de vida por entendermos pertinente, mesmo no decorrer dos tratado na legislação processual pátria, nosso CC estabelece a
anos (apud Antônio Carlos Otoni Soares, op.cit., p.125): " O prescrição para a impetração da presente ação, in verbis:
erro, capaz de mudar a opinião sobre fato existente, ao tempo Art. 206. Prescreve:
da celebração do contrato de seguro de vida, mas § 1o Em um ano:
desconhecido do segurado, não invalida o contrato"(Ap. Civel (..)
n.º 2.534, de 29 de junho de 1921.) II - a pretensão do segurado contra o segurador,
Não há de se olvidar que não há o segurado de ser ou a deste contra aquele, contado o prazo:
prejudicado quando, por não entender às perguntas formuladas a)para o segurado, no caso de seguro de
no respectivo questionário, não conseguir interpretar o seu responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à
alcance, seja pela dubiedade das perguntas, seja pela sua ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da
opacidade, e de boa-fé assinalar, ou deixar assinalar (por data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
confiar em quem o faz) o que achar mais próximo ao seu perfil b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato
de utilização do bem, após pagar o prêmio, ser impugnada sua gerador da pretensão".(grifos nossos).
pretensão de indenização com base em perguntas mal Ou seja, a contar da data do sinistro, tem 1 (um) ano o
formuladas ou respondidas por profissionais irresponsáveis, segurado para requerer execução do contratado no seguro, sob
com esteio em possíveis respostas inverídicas. pena de prescrição do direito.
Ademais, após analisado o risco e expedida a apólice, Em caso de a apólice convencionar período menor,
não poderá o segurador, de ofício, com base em sindicância nos atemos ao que alude o professor Antônio Carlos Otoni
própria, negar a indenização por entender irregularidade no Soares (op.cit., p.204):
perfil. É o que defende o excelso catedrático Antônio Carlos Quanto à cláusula da apólice estipular prazo
Otoni Soares (op.cit, p.123-124): prescricional mais curto, a melhor orientação é no sentido de
É evidente que ao segurador fica reservado o direito sua proibição. A matéria é essencialmente de ordem pública. Se
de uma investigação sumária ou mais ampla, para testar as fosse possível a transigência em matéria de prescrição, o
declarações do segurado. Porém, há um prazo, além do qual legislador não precisaria ser taxativo e minucioso,
não é lícito ao segurador desfazer-se do negócio, alegando especificando casos concretos.
conduta irregular do segurado, inidoneidade financeira, etc. Defende, no entanto o eminente autor a literalidade
Todas as providências que o segurador pretenda tomar para se da letra da norma, ou seja, a prescrição aprazada em um ano
acautelar no sentido da realização ou não de um bom negócio, pelo art. 206, §1.º, II, b), CC, somente diz respeito em relação ao
deverão ser concretizar até a expedição da apólice, porque, segurado e segurador, os terceiros beneficiários são
expedida a apólice, o contrato está devidamente formalizado e

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beneficiados pela prescrição geral, a que alude o art.205, CC,


que é de 10 (dez) anos. Vejamos o que cita o excelso catedrático
(op.cit, p.204):
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mister se faz a ocorrência de uma ato prévio, seja ele omissivo


ou comissivo;
b.Ocorrência de um dano, moral ou patrimonial, à
... O próprio sentido literal das normas não comporta vítima do ato, visto para reclamar do ato, este deve lhe causado
interpretação extensiva, capaz de atingir os beneficiários do comprovado dano. Não há de reclamar ato que não tenha
seguro, herdeiros ou sucessores do segurado. Estes são causado dano algum, seja ele moral ou patrimonial;
beneficiados pela prescrição ampla dos direitos pessoais, que é c.Nexo causal entre o fato (ação ou omissão) e o dano
de vinte anos (24). sofrido pela vítima, face à necessidade de provar que certo ato
De fato, curvamo-nos ao pensamento do mestre, tenha causado certo dano a uma pessoa (física ou jurídica).
entretanto entendemos que com presente extensão do prazo, a Analisado os três pressupostos acima, havemos de enquadrar,
pretensão da ação somente objetivará o ressarcimento para analisar a necessidade de reparação ou não, a
pecuniário do evento, visto que o bem já encontra-se, ao cabo responsabilidade em:
de 10 (dez) anos, já bastante deteriorado, ou com valor de d.Subjetiva, quando para haver a imputação da
mercado bem reduzido. Caberia, então, ao nosso entendimento responsabilidade é indispensável a comprovação de culpa de
uma cumulação com lucros cessantes, em se comprovando que quem cometeu o ato, ou de alguém por ele designado. Para
durante o período que a seguradora negou-se a recompor os René Savatier (in Maria Helena Diniz, op.cit., p.40), culpa é "a
danos, os frutos de adviriam da utilização do bem não foi inexecução de um dever que o agente podia conhecer e
possível face à inutilização do mesmo. observar. Pressupõe, portanto, um dever violado (elemento
objetivo) e a imputabilidade do agente (elemento subjetivo)". Os
arts. 3.º e 4.º do CC tratam os casos de inimputabilidade da
responsabilidade.
06 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO AGENTE e.Objetiva, quando a obrigação de indenizar é
SEGURADOR imposta por lei, a certas pessoas, independentemente da culpa,
partindo dos pressupostos que: I) o exercício de determinadas
atividades criam um risco especial para outrem(ns); e II) o
6.1 Breve introdução à responsabilidade civil. exercício de determinados direitos deve implicar o dever de
reparar o prejuízo que origina. É baseado portanto, na
O art.186, CC, decreta: "Aquele que, por ação ou presunção da culpa, ou seja, tais atos presumem-se culposos, e
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e portanto geram obrigação imediata de indenização ou
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete reparação, bastando para tanto a comprovação da existência
ato ilícito.", e o art. 187 completa: "Também comete ato ilícito o do dano e do nexo causal.
titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes.". O art.927, CC, por sua vez, 6.2 A responsabilidade do agente segurador é
declara: subjetiva ou objetiva?
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. O contrato de seguro, como já analisado outrora
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, (Capítulo 3, subcapítulo 3.1, acima), tem fulcro "na transferência
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, do risco de um eventual evento danoso de uma pessoa à outra".
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do Desta feita, entendemos que a responsabilidade do agente
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de segurador é decorrência da responsabilidade contratada a que
outrem. o segurado que se afastar dos efeitos pecuniários, e tão
Portanto, podemos conceituar responsabilidade civil somente.
como sendo "O dever de indenizar de quem, pessoal ou Ou seja, perante terceiros, depende a
impessoalmente, direta ou indiretamente, por ação ou omissão responsabilidade do agente segurador da do segurado, salvo se
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar estipulado em apólice que dada cobertura não é contratavel.
dano moral a outrem, mesmo que somente moral, ou ainda, Desta forma é aceita pelo CC, face ao disposto no art.757, CC:
excedendo de seu poder econômico, fere princípios da boa-fé e "Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o
dos bons costumes.". pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do
Com efeito, assim trata o assunto a eminente segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
professora Maria Helena Diniz (1999, V.7., p.34): predeterminados." (grifo nosso).
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que Vem-nos só a confirmar o art.787, CC, que trata
obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial acerca do Seguro de Responsabilidade Civil:
causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o
por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos
pertencente ou de simples imposição legal. pelo segurado a terceiro.
São pressupostos da responsabilidade civil: § 1o Tão logo saiba o segurado das conseqüências de
a.Existência de uma ação ou omissão, juridicamente ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída
qualificada como lícita ou ilícita, pois para ocorrer um dano, na garantia, comunicará o fato ao segurador.

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§ 2o É defeso ao segurado reconhecer sua


responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com
o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem
O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

A administração destes riscos cabe às sociedades


seguradoras, que, em recebendo os prêmios estipulado
conforme o risco assumido, criam fundos que irão cobrir os
anuência expressa do segurador. gastos com os riscos assumidos e indenizados. Quando o risco
§ 3o Intentada a ação contra o segurado, dará este é muito elevado, busca-se o resseguro, que é o "seguro do
ciência da lide ao segurador. seguro", e que no Brasil somnte é realizado pelo IRB – Instituto
§ 4o Subsistirá a responsabilidade do segurado de Resseguros de Brasil. Estas entidades são, por sua vez
perante o terceiro, se o segurador for insolvente. fiscalizadas pela União através da Susep – Superintendência
Tanto depende da responsabilidade do segurado a de Seguros Privados, que está subordinada ao Ministério da
responsabilidade da seguradora, que não poderá o segurado Fazenda (art.33, I e §1.º do Decreto-lei n.º 73/66).
transigir ou reconhecer culpa sem o anuência da seguradora (§ Em estudo mais intenso sobre o contrato de seguro,
2.º), como também subsistirá a responsabilidade do segurado em especial o de automóvel, visto foi que para melhor
em caso de insolvência da seguradora (§ 4.º). enquadramento do risco a ser assumido, as seguradoras
No entanto, em se tratando da relação entre segurado passaram a formular questionamentos acerca do uso do veículo
e seguradora, se for aquele a vítima do dano, a pelo segurado, como forma também de cobrar prêmios mais
responsabilidade será objetiva, bastando para tanto a justos aos segurados. Por vezes, no entanto, estas perguntas
comprovação de existência do dano, como do nexo causal são mal formuladas ou feitas maliciosamente, e são
decorrente de cobertura contratada. Uma exceção seria a consequentemente mal respondidas, o que pode causar
comprovação do dolo do segurado na ocorrência do evento, fato transtornos aos segurado, visto que a seguradora pode
que invalida a cobertura (art. 768, CC). entender haver por má-fé respondido o segurado erroneamente
Em ambos os casos, baseado no art. 126 do Decreto- o questinário de avaliação de riscos, e portanto lhe nega a
lei n.º 73/66, "O corretor de seguros responderá civilmente indenização anteriormente contratada.
perante os segurados e as Sociedades Seguradoras pelos O contrato, então, deixa de funcionar como deveria.
prejuízos que causar, por omissão, imperícia ou negligência no Em defesa do segurado, a jurisprudência já vem entendendo
exercício da profissão". Ou seja, é responsável solidariamente à que em caso de perguntas mal formuladas, feitas de forma
seguradora o corretor de seguros, estando sujeito à reparação dúbia ou maliciosa, não pode o segurador, por vontade própria,
do dano, bem como às penalidade estatuídas no art.128 do negar atendimento ao seguro, visto que dentro do prazo que lhe
mesmo dispositivo legal. é dado para analisar o risco, está incluído a análise sobre as
afirmativas do segurado. Deve, isso sim, discutir judicialmente o
caso.
Do lado do segurado/consumidor, encontramos
CONCLUSÃO também o Código de Defesa do Consumidor, que em seu art.46,
caput, que alude que não obriga o consumidor os contratos nos
Diante do exposto, pode-se perceber a importância quais não lhe for dado o direito de conhecimento prévio do
do contrato de seguro, que desde a Idade Média vem garantindo conteúdo, que deve ser trazido da forma mais clara e simples
a população como um todo dos riscos a que vida humana está possível, deixando de lado os termos excessivamente técnicos
exposta dioturnamente. Tudo o que existe corre o risco de se que tanto dificultam o entendimento de certos contratos.
extingüir, no entanto, seu fim pode causar danos a quem o Portanto, defendemos que o segurado em caso de
estava utilizando, ou, em sendo seguro de vida, aos que dubiedade, maliciosidade ou comprovada má-fé do segurador,
daquele depdendiam sua sobrevivência. em casos de negativa do atendimento ao sinistro baseada no
Devido a isso, a cada século o contrato de seguro perfil do condutor, seja atendido, tal como pretendia no
ganha mais importância, como forma de diminuir os efeitos momento da contratação. Para tanto, necessitamos de uma
causados pelos danos no bem, ou na pessoa. No Brasil não maior conscientização do segurado de seus direitos, para que
haveria de ser diferente, tanto que a Constituição Federal não fique à mercê das companhias seguradoras, que muitas
Brasileira, em seu art. 21, VIII, inclui como competência da vezes deixam de lado o mutualismo historico para ater-se
União a fiscalização sobre "as operações de natureza somente aos seus lucros. Chamamos igualmente à União,
financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, institucionalizada aqui pelo Conselho Nacional de Seguros
bem como as de seguros e de previdência privada" (grifo Privados, personificada pela Susep, para agir de forma a coibir
nosso). que estas mal-seguradoras continuem atuando no mercado
Em análise ao enquadramento do contrato de seguro brasileiro.
na legislação civil em vigor no Brasil e na doutrina existente, Por fim, vimos ser a responsabilidade da seguradora,
firmamos convecimento de que o presente contrato é um e solidariamente do corretor de seguros, perante terceiros
contrato aléatório, ou seja, é um contrato de risco para ambas as decorrente da responsabilidade do segurado e dependente de
partes, da seguradora, de rebecer apenas uma parcela do valor contratação ou não de cláusula específica. A responsabilidade,
do bem e ter de quitá-lo em seu valor integral, em caso de perante o segurado, entretanto é objetiva, dependendo apenas
sinistro, e do segurado, de arcar com parte de possíveis de comprovação do dano e do nexo causal com as coberturas
prejuízos e nada receber em troca. É portanto, um contrato que contratadas. Exceção feita quando o dano é causado com dolo
a contra-prestação de uma parte depende da propabilidade de pelo segurado.
acontecer um evento danoso coberto pelo contrato.

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BIBLIOGRAFIA
Companhia de Seguros
Aliança do Brasil

BASTOS. Núbia Maria Garcia. Introdução à Metodologia do


O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

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Art. 96. Além dos casos previstos neste Decreto-lei ou em
Consumidor: O novo regime das relações contratuais. 2.ed. outras leis, ocorrerá a cessação compulsória das operações da
São Paulo : RT, 1995. Sociedade Seguradora que: (...) b) não formar as reservas,
MARTINS, João Marcos Brito Martins. Caracteres Essenciais fundos e provisões a que esteja obrigada ou deixar de aplicá-las
do Risco. Seguros.inf.br, [S.n.t.]. Disponível em: pela forma prescrita neste Decreto-lei;(...)
5
<http://www.seguros.inf.br/mostra_artigo.asp?codigo=14>. Art 79. (...) § 1º As Sociedades Seguradoras são obrigadas a
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especial, v.45. 3.ed. São Paulo : RT, 1984. – 2.ª Reimpressão. cosseguro, a cota que for fixada pelo CNSP
MORETTI, Luciana Biembengut; SILVA, Sirvaldo Saturnino. Do 6
Art 74. A autorização para funcionamento será concedida
Contrato de Seguro no Direito Brasileiro e a Interpretação de através de Portaria do Ministro da Indústria e do Comércio,
suas Cláusulas Limitativas em Face ao Código de Defesa do mediante requerimento firmado pelos incorporadores, dirigido
Consumidor. Jus Navigandi, Teresina, a. 3, n. 27, dez. 1998. ao CNSP e apresentado por intermédio da SUSEP.
D i s p o n í v e l e m : 7
Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=638>. Acesso apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por documento
em: 25 jun. 2003. comprobatório do pagamento do respectivo prêmio
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil, 8
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham
v.3. 10.ed. Rio de Janeiro : Forense, 2001 – 16.ª tiragem. sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
NUNES, Luiz Antônio Rizzato. Comentários ao Código de unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem

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Aliança do Brasil

que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente


seu conteúdo. § 1° A inserção de cláusula no formulário não
desfigura a natureza de adesão do contrato
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O pensamento de quem faz a diferença

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na


conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e
veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias
e declarações a ele concernentes. Decreto n.º 60.459, de 13 de
março de 1967., art. 2.º, § 2º - A emissão da apólice será feita até
15 dias da aceitação da proposta. 10 Lei n.º 8.078, de 11 de
setembro e 1990.11 Art. 785. Salvo disposição em contrário,
admite-se a transferência do contrato a terceiro com a alienação
ou cessão do interesse segurado.§ 1o Se o instrumento
contratual é nominativo, a transferência só produz efeitos em
relação ao segurador mediante aviso escrito assinado pelo
cedente e pelo cessionário. (...)12 Art. 785. Salvo disposição em
contrário, admite-se a transferência do contrato a terceiro com a
alienação ou cessão do interesse segurado.(...)§ 2o A apólice ou
o bilhete à ordem só se transfere por endosso em preto, datado
e assinado pelo endossante e pelo endossatário.13 Art. 760.
(...)Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o
bilhete não podem ser ao portador.14 Na falta de indicação da
pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não
prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por
metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante
aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação
hereditária. Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas
neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte
do segurado os privou dos meios necessários à subsistência15 A
Tabela de Prazo Curto a que se refere o artigo trasladado foi
confeccionada com base num cálculo "pro rata tempore" para o
fim do prazo contratado. A equação é a seguinte: [prazo total do
seguro – (dias corridos – dias a vencer)]16 Conforme o dicionário
Aurélio Buarque de Holanda, carteira significa "7. Conjunto de
títulos comerciais ou valores móveis, objeto de noegociação por
parte de um banqueiro, comerciante ou bolsista". Entende-se
portanto, carteira de uma seguradora, o conjunto de segurados
em dado ramo de atuação.17 Por ser o livro anterior à
promulgação do atual Código Civil Brasileiro, o autor letra sobre
o Anteprojeto do Código Civil, o artigo tratado como 798, é na
realidade o 771, como trasladado acima.18 Análise da relação
entre a causa e as coberturas contratadas.19 CC, Art. 782. O
segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo
seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a
outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por
escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-
se, a fim de se comprovar a obediência ao disposto no art. 778.20
Os artigos que trata a presente jurisprudência são do antigo
Código Civil, no atual, são respectivamente os seguintes: 122,
760, e para o último, não existe equivalência.21 Vide
subcapítulos: 3.1, item e), e 3.2, item e).22 Vide Capítulo 4,
subcapítulo 4.2. ítem b), neste.23 Com a mudança da legislação
civil, a prescrição que era de 20 (vinte) anos, de acordo com o
art.177 do antigo Código Civil, passou para 10 (dez) anos,
conforme art. 205 da nova codificação civil.

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Aliança do Brasil

M. Helena Gurgel Prado


O pensamento de quem faz a diferença
Número 3 . Agosto 2007

Advogada

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

O inigualável e inesquecível professor Ás vezes, a igualdade é absoluta, porquanto se


“Gofredo da Silva Telles”, logo que se ingressa na refere a coisas que se trocam, tanto por tanto:
Faculdade de Direito, ilumina os jovens alunos de 1º mas, outras vezes, a igualdade se realiza entre
ano, com o conceito de igualdade, assim repetido homens desiguais.
durante várias aulas de Introdução a Ciência do Direito: A justiça comutativa é aquela que preside as
trocas, porquanto se presume que, na compra e
A verdadeira igualdade consiste em tratar venda, o valor da coisa adquirida corresponda ao
desigualmente os seres desiguais, na medida preço pago.
em que se desigualam. Nas relações dos homens surge, no entanto,
uma outra lei de igualdade, que é aquela que
Referido conceito filosófico, revela o paradoxo manda tratar desigualmente aos desiguais, na
que o conceito de igualdade, há séculos traz em seu bojo. medida em que se desigualam, dando-se a cada
Com efeito, a igualdade ou isonomia, seja como um o que é seu, consoante ditame da justiça
conceito filosófico, seja como garantia constitucional, distributiva.
sempre nos induziu ao seu significado mais comum e que O Estado não pode tratar igualmente os
se encontra assim inserido no artigo 5º - caput da indivíduos, situando no mesmo plano o
Constituição Federal: criminoso e o santo.
Há desigualdades naturais, assim como há
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de graduação na virtude e no crime, de modo que a
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros j u s t i ç a d i s t r i b u t i v a d e v e a t e n d e r,
e aos estrangeiros residentes no país a proporcionalmente, ao mérito e ao demérito de
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à cada um.
igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: Como se infere, é especialmente o princípio da
igualdade, que lastreou a prerrogativa das Seguradoras,
Uma rápida leitura do caput do artigo 5º da quando da criação da “Cláusula de Perfil”, integrante das
Constituição Federal traduziria a conclusão precipitada de apólices de seguro de automóveis, já que seu
que a igualdade deve ser irrestrita e aplicada de forma embasamento é justamente o tratamento diferenciado
absolutamente homogênea, desprezando-se as entre segurados desiguais.
desigualdades entre os cidadãos, o que implicaria, na Com efeito, com base no questionário inserido
verdade à não aplicação da Justiça. na proposta de seguro devidamente assinada pelo
A percepção de que desigualdades existem segurado, a Seguradora analisa pormenorizadamente o
obrigatoriamente entre os indivíduos e que, portanto a risco de cada segurado, e concede desconto no valor do
igualdade deve ser proporcional entre os desiguais, é prêmio, com as particularidades ali indagadas, tais como:
princípio de direito emanado pelos filósofos gregos, como
bem leciona MIGUEL REALE – em sua obra- Filosofia do . Condutor Principal – idade, sexo, tempo de
Direito – 2º Volume – 8ª Edição – Editora Saraiva – 1978: habilitação.
. Existência de Condutores entre 18 e 24 anos que
Para Aristóteles, como já tivemos ocasião de residam com o segurado;
dizer, o problema da justiça reduz-se ao da . Área de Circulação do veículo segurado;
igualdade, que se apresenta em dois momentos: . Guarda do veículo em garagem e/ou
igualdade entre iguais, e igualdade entre Estacionamento;
desiguais. . Utilização do veículo – profissional ou

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locomoção rotineira.
Companhia de Seguros
Aliança do Brasil

A fase de contratação do seguro exige assim,


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

segurado e o do beneficiário.

Em verdade, a análise do risco de cada


uma atuação extremamente zelosa e responsável do segurado, é conduta obrigatória de cada seguradora e já
corretor de seguros, posto que imprescindível a devida se aplica por ocasião da contratação de outros ramos de
orientação ao segurado acerca da relevância da proposta seguro, especialmente para emissão de apólice de
que ora se assina e que integrará devidamente o contrato, incêndio e riscos de engenharia, dentre outros.
na forma positivada pelo artigo 759 do Código Civil: Além de não ser de fato, uma grande novidade
no mercado de seguros, a cláusula de Perfil no seguro de
Art. 759. A emissão da apólice deverá ser automóvel, tem seu correspondente no Princípio da
precedida de proposta escrita com a declaração Capacidade Contributiva que norteia os fundamentos do
dos elementos essenciais do interesse a ser Direito Tributário e que também encontra suas origens no
garantido e do risco. Princípio da igualdade.
Dispõe o art.145, §1º, da Constituição Federal
De fato, cabe ao corretor de seguros, na
qualidade de intermediário obrigatório na contratação do “Sempre que possível, os impostos terão caráter
seguro, oferecer ao segurado a modalidade com ou sem pessoal e serão graduados segundo a
Perfil de seu seguro de automóvel. capacidade econômica do contribuinte,
Ao optar pela contratação de seguro por Perfil, o facultado a administração tributária,
segurado deverá ser exaustiva e suficientemente especialmente para conferir efetividade a esses
orientado por seu corretor de seguros, por ocasião do objetivos, identificar, respeitados os direitos
preenchimento do questionário respectivo, bem como ter individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
sido alertado acerca das conseqüências da inexatidão rendimentos e as atividades econômicas do
das declarações ali prestadas, sob pena de se contribuinte” (grifamos).
caracterizar a hipótese do artigo 766 do Código Civil,
como adiante se abordará. Vejamos como o Princípio da capacidade
Compreendida, assim, a estrutura da Cláusula contributiva se assemelha à cláusula de Perfil, na lição
de Perfil no Seguro de Automóvel, se constata que, se por do mestre Roque Antonio Carrazza, em sua obra Curso
um lado, o segurado que não logra obter o desconto na de Direito Constitucional Tributário - 3º Edição, revista,
taxa do prêmio, por não preencher os requisitos que ampliada e atualizada pela constituição federal de 1988
norteiam a minimização dos riscos, para o segurado com - Editora - Revista dos Tribunais, 1991:
Perfil ideal, o desconto se torna praticamente direito
adquirido. O princípio da capacidade contributiva - que
Sim, o perfil ideal para as seguradoras que informa a tributação por meio de imposto –
operam no ramo de automóvel, é o da mulher, com mais hospeda-se nas dobras do princípio da
de 30 anos, casada, com 10 anos de habilitação, que igualdade e ajuda a realizar, no campo tributário,
utiliza o veículo somente para sua locomoção rotineira, os ideais republicanos.
que tem garagem em casa e no trabalho e não tem filhos Realmente, é justo e jurídico que quem, em
adolescentes. termos econômicos, tem muito, pague,
Não é mesmo essa “segurada ideal”, aquela que proporcionalmente, mais impostos do que quem
se desiguala dos demais segurados, com “perfil normal” tem pouco.
quem merece uma contratação diferenciada, com o Quem tem maior riqueza deve, em termos
devido desconto no prêmio? proporcionais, pagar mais impostos do que
Então está a Seguradora obedecendo ao quem tem menor riqueza.
princípio constitucional da igualdade e legalmente a O princípio da igualdade exige que a lei, tanto ao
tratando de forma diferenciada, mediante concessão de ser editada, quanto ao ser aplicada:
desconto no prêmio, tudo ainda devidamente legalizado a) não discrimine os contribuintes que se
através do artigo 760 do Código Civil, que dispõe: encontrem em situação jurídica equivalente
b) discrimine, na medida de suas desigualdades,
Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão os contribuintes que não se encontram em
nominativos, à ordem ou ao portador, e situação jurídica equivalente. (g.n)
mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim
de sua validade, o limite da garantia e o prêmio Portanto, resta a conclusão de que o desconto
devido, e, quando for o caso, o nome do no prêmio no seguro de automóvel culmina por ser

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direito do segurado com perfil “ideal”, em razão de sua


evidente desigualdade com os demais segurados com
perfil “padrão” e na medida dessas desigualdades.
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

circunstâncias e declarações a ele


concernentes.

E quando ocorre o sinistro? Cabe à Assim, os julgados favoráveis às seguradoras


seguradora, durante a instrução do processo são ainda minoria, a exemplo do acórdão que abaixo se
regulatório, verificar se os dados do Perfil do Segurado transcreve, que manteve a sentença de 1º grau, no
foram obedecidos e se, em caso negativo, o sinistro teve sentido da improcedência da demanda, mas culminou
nexo causal com a suposta inverdade prestada pelo condenando a seguradora no pagamento de Danos
segurado. Morais, em razão de Sindicância que teria se portado de
Com efeito, o sinistro pode ter se caracterizado forma a imputar ao segurado conduta caracterizadora
por Furto do veículo, quando se encontrava estacionado de fraude:
na garagem de casa, tendo a sindicância averiguado,
por exemplo, que o segurado não era o motorista Apelação com revisão nº 974.515-0/0
habitual, mas sim seu filho de 22 anos. Essa não é a Foro Regional de Santo Amaro – 3º Vara Cível
hipótese de recusa, pela ausência de nexo de Apelantes / Apelados: Hannover International
causalidade. Seguros S.A; Salomão Ribeiro Silva
Contudo, comprovado que o veículo foi furtado MODALIDADE PERFIL. ALTERAÇÃO DOS
na rua em razão da completa inexistência de garagem DADOS INFORMADOS PELO CONDUTOR DO
na residência do segurado, a indenização será VEICULO. NÃO COMUNICAÇÃO Á
completamente recusada pela seguradora, com SEGURADORA. RECURSO IMPROVIDO.
fundamento na infringência ao artigo 766 do Código Em face de esclarecimentos de fls. 35, os quais
Civil, que positivou a seguinte regra: exprimem que qualquer alteração nos dados
registrados na apólice devem ser comunicados
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu imediatamente ao corretor, pois os bons
representante, fizer declarações inexatas ou descontos concedidos advêm dos dados
omitir circunstâncias que possam influir na informados, bem como dos hábitos de utilização
aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, do veiculo, haveria a necessidade de que o ora
perderá o direito à garantia, além de ficar Apelante tivesse contatado a Seguradora para
obrigado ao prêmio vencido. informar sua nova situação.
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas Na verdade, a contratação, na modalidade perfil,
declarações não resultar de má-fé do segurado, faz parte de um risco assumido pela Seguradora,
o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a fim de conceder desconto ao Segurado,
a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do diminuindo o valor do prêmio.
prêmio. Ou seja, a partir de 2001 houve o agravamento
do risco, tendo em vista que passou a deixar o
Malgrado o forte subsídio legal e contratual carro na rua próxima ao trabalho, e, como bem
para a recusa, a discussão no Judiciário não vem se mencionado na r. sentença, um automóvel
mostrando favorável ao mercado segurador, em face da estacionado na rua oferece maior probabilidade
possibilidade que tem as seguradoras de cobrar a de sinistro.
diferença do prêmio na hipótese de inexatidão culposa. Já o recurso da seguradora não merece
Com efeito, têm-se verificado inúmeras provimento.
recusas por infringência de declaração de Perfil, que se As testemunhas deixaram transparecer a idéia
mostram desproporcionais à dinâmica do sinistro, bem de que o funcionário da Seguradora expressou-
como ao próprio nexo causal com a referida declaração se no sentido de que a intenção do Segurado era
inexata. dar um golpe na Seguradora.
Mas a conduta geral do mercado de seguros é O depoimento de fls. 87 menciona que a
no sentido da recusa integral, baseada ainda na impressão era de que o Segurado fosse um mau
infringência ao artigo 765 do Código Civil, que consagra elemento. O de fls. 90, que o funcionário da
o Princípio da Boa Fé no contrato de seguro: Seguradora achava que ele estava dando o
golpe.
Art. 765. O segurado e o segurador são
obrigados a guardar na conclusão e na execução Ironicamente, o valor dos danos morais a que foi
do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, condenada a Seguradora era maior que o valor da bem
tanto a respeito do objeto como das segurado!

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Aliança do Brasil

Portanto, há ainda que se cuidar para que a


Sindicância realizada não interfira na esfera privada do
segurado a ponto de lhe causar constrangimento ou
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

M. Helena Gurgel Prado

Sócia Fundadora do Escritório “Prado e Saraiva - Advogados


Associados”, Membro da Comissão de Assuntos Jurídicos da
prática de ato indicativo de conduta delituosa. FENASEG e Conselheira da AIDA
A conduta preventiva, portanto, a cargo do
mercado segurador, é o incessante trabalho de helena@pradosaraiva.com.br
conscientização junto aos corretores de seguro, no
sentido de que sua intermediação seja absolutamente
esclarecedora junto aos segurados, no preenchimento
correto do questionário de Perfil, a fim de se evitar
questionamentos de declarações inexatas que influam na
taxa do prêmio.
Também devem ser orientados os Sindicantes
quantos aos limites de sua atuação profissional, para que
não resvale na caracterização de abuso de poder e, dessa
forma, se tornem as seguradoras alvo de alegação por
parte dos consumidores, de infrações consumeristas e
criminais.
A transparência das relações de consumo, que
se aplicam inegavelmente ao Contrato de Seguro, é a
solução para a melhor compreensão pelo Poder
Judiciário do mecanismo da Cláusula de Perfil, bem como
o caminho para sua consagração, já que se traduz no
perfeito instrumento de aplicação do Princípio da
Igualdade no mundo moderno.

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Aliança do Brasil

Jayme Brasil Garfinkel


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Vice-Presidente Executivo da Porto Seguro

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

O “Perfil do Segurado”, que começou a ser fator


de aceitação de risco nos seguros de automóvel a partir de
meados da década de 90, passou a fazer parte da vida do
mercado, afetando todos os seus participantes, desde o
Segurado que teve que ser educado para a importância de
que suas declarações deveriam ser exatas e verdadeiras,
até o Segurador que vem sofisticando as avaliações dos
mais diversos fatores que podem impactar
relevantemente nos riscos e portanto nos prêmios a
serem cobrados
Tudo isto afetou os preços e a quantidade de
trabalho.
Os primeiros diminuíram: conseqüentemente
houve queda do prêmio médio da carteira nestes últimos
15 anos e portanto a despesa administrativa ficou maior,
pelo esforço adicional de conferência das informações na
aceitação e na liquidação dos sinistros.
Para o Corretor de Seguros o impacto também
foi grande: com prêmios caindo, as comissões caíram
junto, e o trabalho na venda também aumentou, porque já
não bastam os dados do veículo e do Segurado, sendo
que como as companhias elegem fatores de risco
próprios, os questionários são diferentes, gerando mais
trabalho quando é necessária a comparação de preços.
Sempre cito uma frase do meu tio que hoje está
nos seus 94 anos e que diz “na vida as coisas só pioram”.
Daí vem um ensinamento: é normal que as
coisas fiquem mais complexas e que tenhamos saudade
do Passado conhecido e que agora nos parece simples,
enquanto o Futuro traz novos desafios e dificuldades para
vencer problemas que exigem soluções que precisamos
encontrar.

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Aliança do Brasil

Nelson Fontana
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Corretor de Seguros

PERFIL DO SEGURADO:
A Subjetivação do Intangível

A comercialização de seguros é uma arte bem e massificado, não podemos esquecer ou desconsiderar
mais complexa do que aparenta. Diferentemente da os princípios básicos que regem nossa atividade
venda de bens, nas quais os compradores têm a profissional e os seguros.
oportunidade de ver e pegar os produtos, seguros são Nosso mercado só vai crescer se não nos
intangíveis que, pela definição do dicionário Aurélio, esquecermos o que nosso cliente veio buscar quando nos
significa algo que não se pode tocar, e isto é uma diferença procurou. A pergunta dele é: Se eu bater a seguradora vai
muito importante. pagar o conserto e se eu perder o carro a seguradora vai
Como os nossos clientes não vão ver nem tocar me dar dinheiro para comprar outro igual?
os seguros, podem os mais desavisados achar que eles Ora, ao respondermos, devemos lembrar que já
estão comprando um contrato mas, para a maioria das estamos num ramo de atividade em que o produto é
pessoas, um contrato significa apenas um monte de intangível. Quando ele diz o que quer, temos que
papel. Na verdade o que eles estão comprando é responder de forma objetiva. ”Sim, ela vai pagar o
tranqüilidade. conserto se bater e, se perder o carro, ela vai lhe dar
Ninguém telefona para um corretor e pede uma dinheiro para comprar outro igual”.
apólice. Os clientes dos corretores querem tranqüilidade. Não podemos responder de forma subjetiva,
Esta tranqüilidade, na maioria dos casos é dada quando o entendida como aquela que depende de interpretação.
cliente ouve o corretor lhe dizer que, a partir daquela hora, Seria como responder: “depende”. Que vai levar o cliente
se ele bater o carro à seguradora vai pagar o conserto e se a perguntar: “Depende do quê?”, ao que responderíamos:
ele perder o carro a seguradora vai lhe dar dinheiro para Depende, quando acontecer um sinistro, da confirmação
comprar um igual. do perfil. A seguradora vai querer saber se você realmente
É por esta frase que ele está disposto a pagar informou o condutor correto, se seu filho só dirige uma vez
alguns milhares de Reais e, na maioria das vezes, ele fica por semana mesmo, se ele não vai com este carro para a
satisfeito, como se já tivesse recebido o que comprou, faculdade, se você realmente tem garagem, se você não
quando esta frase é pronunciada. Ao saber que seu carro mudou de endereço durante a vigência da apólice sem
está segurado, ele fica tranqüilo, portanto, já recebeu o comunicar à seguradora, se instalou o rastreador e, ainda,
que comprou. de alguns outros fatores.
Muitos pensam que o que ele quer é a apólice. Em uma relação tão “intangível”, é necessário
Ela é importante mas é apenas a materialização da que as nossas obrigações sejam diretas e objetivas. O
tranqüilidade. Uma apólice bonita, emitida rapidamente, cliente não sabe direito o que está comprando, porque não
com o nome do segurado escrito de forma correta, com os viu nem pôs a mão e ainda vamos dizer que o que vamos
dados de seu carro reforçam a sensação de segurança e fornecer depende de interpretação, não sendo uma
dão tranqüilidade. obrigação objetiva e direta?
Mas não se deve esperar mais do que isto de Se bateu, o conserto vai ser pago pela
uma apólice. Na verdade, uma apólice é nada mais, nada Seguradora. Se perdeu o veículo por furto ou roubo, a
menos, que um manual de instruções de um produto seguradora vai pagar uma indenização para a compra de
imaterial, intangível. Ninguém tem paciência de ler outro igual. Ocorrido o sinistro, a seguradora vai pagar a
clausulado de apólice. Uma vez visto o nome e os dados indenização. Isto é objetividade.
do carro, aquele “manual de instruções” chato e sem É claro que, como qualquer contrato, existem
graça vai para a pasta ou a gaveta e acabou. O produto casos em que a indenização não é devida. Em principio, e
que ele, cliente, comprou, não é a apólice. Esta é apenas o não podemos esquecer estes princípios, pela boa técnica
manual de instruções. O que ele comprou foi a frase do de seguros, somente em três casos a seguradora está
corretor: “Seu carro está segurado”. isenta de pagamento: Quanto há má fé do segurado,
Apesar do mundo estar cada vez mais impessoal quando ele – o segurado - deixa de pagar o prêmio e

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Aliança do Brasil

quando o sinistro é decorrente de catástrofes que


ameaçam toda ou grande parte da carteira da seguradora.
Estes casos são perceptíveis a todos. Se ele, cliente, não
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

semana? Ora, com as penalidades contratuais. O próprio


código civil indica claramente o que fazer, basta ler: “não
comprovada a má fé ou a intencionalidade, o segurador
pagou o premio ou se ele provocou o sinistro, ele percebe tem direito de cobrar a diferença de premio”. Desta forma,
que não tem direito a receber a indenização. No caso de entendemos que a seguradora pode e deve cobrar a
catástrofes, não é tão claro mas não é difícil para ele diferença de premio e, nada impede que acresça uma
entender que ele fez seguro de roubo e colisão. Terremoto multa contratualmente prevista, o que nos parece justo. O
ou guerra é outra coisa. importante, no entanto, a meu ver, é que, se a seguradora
Com o perfil, entendendo como perfil também a não está acusando o segurado, formal e com provas de ter
declaração pessoal de saúde do seguro de vida ou saúde agido de má fé ou de ter agravado intencionalmente o
e o questionário de avaliação de risco do seguro de risco, ela deve pagar a indenização. Qual é o valor da
responsabilidade civil, as seguradoras, à sua indenização e se haverá alguma penalidade é uma
conveniência, substituíram as inspeções, vistorias e questão contratual.
avaliações médicas que eram feitas no passado.
Passaram, no entanto, a adotar uma posição de
“desconfiança”, já que passaram a se valer, na taxação,
de informação prestada pelo segurado e não mais por seu
funcionário, inspetor de riscos ou médico.
Esta aparentemente simples substituição do
avaliador de risco pelo questionário ou perfil,
especialmente no Brasil, mudou radicalmente a relação
de confiança e boa fé, originalmente fundamental no
contrato de seguros.
As seguradoras passaram a se valer, de forma
menos criteriosa do que deveriam, de um dispositivo legal,
oriundo do antigo código civil de 1916, época em que não
se falava de massificação, pelo qual o segurado perde o
direito à indenização se fizer declarações inexatas ou
omitir informação. Curiosamente, no entanto, não estão
dando o devido destaque ao parágrafo único do artigo 766
do novo código civil que diz que ela tem que pagar a
indenização se a omissão ou a declaração inexata não foi
feita de má fé. O mesmo princípio está contido no artigo
767 do novo código civil que diz que a seguradora pode
deixar de pagar a indenização se o segurado agravar o
risco “intencionalmente”.
Portanto, em minha humilde opinião, erram as
seguradoras ao se desobrigarem do pagamento da
indenização quando constatam que o segurado omitiu
informação, fez declaração inexata ou agravou o risco,
independentemente de apurarem com provas e certeza
se o fizeram de forma intencional ou se houve má fé. Ao
fazerem isto, estão pegando um contrato intangível e
tornando-o também subjetivo, desequilibrando a relação
contratual, podendo ser mais ou menos rigorosas.
Em verdade, temos que retornar ao princípio
objetivo de que, ocorrido o sinistro a indenização é sempre
devida, exceção feita somente àqueles casos clássicos.
Para uma seguradora deixar de pagar uma indenização é
sempre necessário que demonstre, como manda o código
civil, que houve má fé ou agravação intencional.
Mas como punir as pessoas que esquecem de
informar mudanças de endereço ou que não contam que
os filhos dirigem um pouquinho mais do que uma vez por

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Aliança do Brasil

Leoncio de Arruda
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Presidente

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

Se é tão fácil complicar, para que simplificar? que o significado delas fosse igual para todas.
Nunca uma máxima serviu tanto como para o seguro perfil Levando o mesmo critério utilizado para majorar
no Brasil. o prêmio ser utilizado para reduzí-lo, quando o segurado
A história dessa modalidade de seguros muda-se para um bairro ou cidade com menor incidência
começou com uma companhia chamada Progressive, de sinistros.
uma das dez maiores seguradoras de ramos elementares A questão é que os desenvolvedores tendem a
dos EUA, que começou a vender seguro de automóvel em complicar as soluções mais do que o necessário. Ou seja,
1937. O consumidor entra em seu site, responde algumas mesmo se limitadas às questões puramente técnicas,
perguntas, e se for do interesse da seguradora tê-lo como tende-se a complicar. Seguindo esta linha da complicação
cliente, ela dá um desconto para que o seu preço fique desnecessária, existe um outro problema mais grave
abaixo do praticado pelos concorrentes. Se não tiver ainda: muitas vezes, uma decisão aparentemente técnica
interesse, o site encaminha o internauta para outras é na verdade uma decisão de negócio. A complicação
seguradoras. ultrapassa o escopo técnico e passa a afetar diretamente
Ou seja, a Progressive faz um negócio bom para a apólice em caso de indenização.
a seguradora e para o segurado. Como esse problema pode acontecer? Qual é o interesse
Em 1987, a Direct Line iniciou, na Grã-Bretanha, em complicar? O fato de o prêmio ser calculado com
a venda de seguros por telefone. Com a chegada da estatísticas das próprias seguradoras impede qualquer
internet, ampliou seu campo de ação. Hoje, tem mais de tipo de fiscalização por parte do Estado e dos órgãos e
um milhão de clientes, que têm de responder a um entidades de defesa do consumidor, permitindo os
questionário e ponto final. O sucesso fica por conta da alta abusos.
qualificação dos funcionários, do atendimento pós-venda, Ainda que as estatísticas indiquem que existe
da rapidez no pagamento de sinistros e a constante maior incidência de sinistro entre homens jovens, isso
introdução de inovações. não significa que aquele segurado específico, que
Quando chegou no Brasil, o seguro perfil ganhou submete a sua proposta à seguradora, vá colidir seu
outra característica. Da forma como foi introduzido, gerou, veículo ou tê-lo roubado ou furtado.
imediatamente, uma batalha judicial por parte daqueles Tudo poderia ser simples, como o caso da
que o consideram inconstitucional. Uma batalha que Progressive ou da Direct Line. Mas não é . Por tais razões,
envolveu o Ministério Público, o Procon e órgãos de frisamos, mais uma vez, que o seguro perfil representa
defesa do consumidor. sérios inconvenientes para os consumidores. Aos poucos,
Segundo os especialistas, a Constituição muitos deles perceberam que, dependendo do seu perfil,
Federal dispõe no seu art. 5º, que “todos são iguais a adoção do questionário poderia representar uma
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, texto economia significativa em termos do custo do seguro. Por
que enuncia um dos outro lado, outra parcela dos motoristas acabou sentindo,
princípios mais importantes e conhecidos do direito, que é no bolso, o peso de terem um perfil de risco mais elevado.
o da igualdade.O perfil chegou ao Brasil, para beneficiar o Lembro que aqui o segurado pode fazer o seguro sem o
consumidor, pois era conceito na época de os segurados Perfil, todavia arcara com um valor mais elevado a pagar.
mais cautelosos e zelosos deviam pagar menos o valor do Informo que tem uma seguradora em sua estatística de
seguro. A partir daí o cálculo do prêmio, levou a uma série indenizações que os veículos de cor Branca, são mais
de perguntas no intuito de beneficiar o mencionado roubados de os de cor Vermelha.
consumidor (a) e vieram para ficar. Não seria de se pensar em introduzir mais esse item no
O que gostaríamos é que o Perfil tivesse as Perfil para avaliação?
perguntas padronizadas por todas as seguradoras, não Em função de detalhes, o Ministério Público de
importando que uma utiliza 04 e outras 40 perguntas, mas São Paulo quer a anulação da cláusula perfil nos contratos

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Aliança do Brasil

de seguros. Em sua argumentação, a promotoria afirma


que ao pesquisar o perfil do consumidor, as companhias
vêm utilizando indevidamente as informações pessoais
O pensamento de quem faz a diferença

Leoncio de Arruda

Corretor de Seguros desde 1982.


Número 3 . Agosto 2007

Titular da Arruda Administradora e Corretora de Seguros Ltda. desde


prestadas pelo segurado, tudo com o objetivo de protelar o sua constituição em 16/01/1985.
pagamento da indenização ou de justificar a recusa da Sócio-Presidente da Univida Seguro de Pessoas.
quitação desta. Presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São
Segundo a pesquisa mundial da IBM, "Seguro Paulo.
Membro do Comitê Gestor - ICP-Brasil-Infra-Estrutura de Chaves
em 2020: Inovando Além dos Modelos Antigos", Públicas Brasileira
futuramente o consumidor vai determinar o preço, os Past Chairman do Comitê Executivo da WFII (World Federation
serviços e os produtos. Será uma nova realidade, mais Insurance Intermediaries), sede Bruxelas – Belgica.
dinâmica. Presidente da Acorsesp – Associação dos Corretores de Seguros do
Estado de São Paulo – Gestão 1989/1992.
Outra tendência é não precificar mais o seguro Presidente em três gestões do Sincor – SP – Sindicato dos Corretores
de carro, por exemplo. Uma seguradora americana de Seguros, Capitalização e Previdência no Estado de São Paulo –
conhece tão bem o seu cliente que ela dá o preço após o Gestões - 1992/1995 e 1995/1998 e atual 2004/2007
preenchimento de alguns dados. Se quiser retê-lo, dá um Vice-Presidente da Fenacor – Gestão 1993/1996.
desconto abaixo do preço praticado pela concorrência. Membro do CNSP – Conselho Nacional de Seguros Privados, Gestão
1996/2000.
Caso contrário, sugere a ele nomes das concorrentes. Presidente da Fenacor – Federação Nacional dos Corretores de
Como faz a Progressive há décadas. Seguros, Previdência e Capitalização - Gestões 1996/1999 e
No mundo altamente conectado de 2020, 1999/2002.
detentores de apólices terão acesso muito mais amplo Presidente da Funenseg – Fundação Escola Nacional de Seguros,
Gestão 1997/2000.
aos produtos e à capacidade de tomar decisões por conta
própria. O conceito de companhia de seguros
eventualmente sucumbirá ao poder da recomendação, de
modo que as pessoas procurarão consultores para obter
conselhos quando navegarem no mercado de seguros.
Hoje, devemos lutar por regras mais claras no
seguro perfil e torna-lo mais objetivo o processo de
contratação de apólices e, principalmente, de liquidação
de sinistros. Alguma coisa tem de mudar.

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Patrick Larragoiti Lucas


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Presidente da Sul América Seguros

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

Imagine entrar em uma loja de roupas em que brasileiros.


todas têm o mesmo tamanho: médio. Para as pessoas Da mesma forma, observa-se uma mudança de
menores, elas ficarão grandes. Para as pessoas altas, comportamento que vai desde a simples “vacinação” do
elas ficarão curtas. Com sorte, as pessoas de tamanho veículo até o cuidado habitual de guardá-lo em
médio conseguirão se encaixar. O one-size-fits-all estacionamento.
funciona? Não. Cada pessoa precisa ter uma roupa Se antes o seguro acabava sendo caro para
adequada a seu tamanho e, se for feita sob medida, o quem oferecia menos riscos, com o advento do perfil foi
efeito será impecável. possível torná-lo proporcional e trazer vantagens aos
Até meados da década de 90, era assim que o segurados e às companhias.
mercado de seguros de automóveis funcionava. Existia
uma tarifa tabelada e a precificação do seguro estava
baseada somente nos dados do veículo – tais como
marca, tipo e ano – e na região de circulação do carro.
Baseando-se em prática corrente na Europa e nos
Estados Unidos, as seguradoras iniciaram então uma
nova política de avaliação, em que o seguro passou a ser
diferenciado por critérios de idade e sexo do condutor. A
idéia era fazer com que cada motorista passasse a pagar
pelo seu verdadeiro risco, o valor justo.
Apesar de a metodologia inicial ter sido bastante
simples, o impacto foi grande porque alterou um modelo
que vinha sendo usada por anos a fio. Superada essa
fase, e com os primeiros resultados positivos em termos
de queda de sinistralidade, o novo modelo ganhou fôlego,
novos itens foram adicionados ao questionário de perfil do
segurado e o sistema de precificação da apólice de
seguros foi ficando cada vez mais preciso. A evolução foi
irreversível.
Do lado das companhias seguradoras, o cálculo
do prêmio tornou-se mais sofisticado e permitiu às
empresas, com as ferramentas técnicas de Tecnologia da
Informação, elaborar estatísticas e cruzamento de dados
capazes de aprimorar seus sistemas de aceitação e
precificação, o que melhorou a qualidade das carteiras e
reduziu a sinistralidade.
O segurado, por sua vez, passou a ter um melhor
entendimento do seu risco e percebeu que o
detalhamento da pesquisa poderia significar uma
considerável redução no custo do seguro ou não, a
depender de algumas ações que ele mesmo poderia
administrar. Assim, a instalação de alguns opcionais de
segurança, como dispositivos anti-furto e rastreamento
por satélite, tornou-se mais comum entre os motoristas

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Aliança do Brasil

Ricardo Bechara Santos


Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Advogado

PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro

O tão incompreendido “Perfil”, que em verdade enquanto considerado em sua coletividade, mas, olhando
se cristaliza no chamado “Questionário de Avaliação de apenas a situação isolada, individualista, de cada
Risco”, representa o bonus para os segurados que se segurado, tentam “embananar” a inventiva, satanizando-a
expõem, e expõem terceiros, a um menor grau de risco, como que se ela fosse instrumento adrede da seguradora,
seja em freqüência seja em severidade, enquanto desprovido de lógica ou desconectado da boa técnica
representa o malus para os segurados de maior grau de atuarial. Nada mais equivocado, pois o “Perfil”, aqui
risco, dando, assim, uma idéia de corpo do risco a ser doravante denominado simplesmente “QAR”, é, para
examinado, assumido, taxado, ou recusado. efeito de aceitação e taxação na subscrição de riscos,
Trata-se, portanto, de importante ferramenta de instrumento que, vale sempre repetir, favorece com
justiça tarifária, permitida e utilizada nas legislações das prêmio mais justo aqueles segurados, na lógica
nações mais avançadas, e jamais vedada pelo direito mutualista do seguro, que se submetem à menor risco, em
pátrio, posto que mecanismo racional para uma justa racional detrimento daqueles que, técnica e
política de precificação da garantia do risco, perfeitamente atuarialmente, se mostrem detentores de um risco mais
harmonizada com a natureza própria do seguro, este que, gravoso dentro de uma mesma carteira.
consoante o artigo 757 do Código Civil, tem por apanágio Por tal mecanismo, binário, se pode conceder o
a delimitação objetiva e subjetiva do risco em toda sua bonus ou o malus. O bonus para os riscos mais magros, o
extensão no contrato, base na qual o segurador pode, malus para os riscos mais obesos, de maior teor calórico.
como gestor da mutualidade da qual faz parte cada O questionário, pois, faz justiça com aqueles que se
segurado, dimensionar sua responsabilidade e taxar expõem à menor risco, não permitindo que eles paguem a
adequadamente o prêmio, este que se constitui na função conta dos que têm um risco mais elevado. Nessa
do risco. distribuição, acaba-se fazendo também justiça com os
Afinal, seguro é essencialmente a técnica da próprios detentores de riscos maiores, porque estarão
coletividade, a solidariedade inteligente, que, na sua visão eles pagando o preço justo da garantia, além de
moderna de contrato de massa, consiste na diluição dos conscientizados de que, em situação outra inversa, o
riscos de uma comunidade onde cada qual assume uma critério lhes favorecerá. Mas de nada adiantaria o
pequena parcela dos prejuízos ou adversidades que o questionário, feito com acurácia atuarial e
outro venha a sofrer por infortúnio, estando, assim, cuidadosamente com prévia e clara advertência da perda
permanentemente a demandar instrumentos que do direito em caso de informação inverídica, inexata ou
objetivem uma repartição justa e proporcional dos custos, incompleta (arts. 1.443 e 1.444 do velho Código revogado
não sendo razoável que aquele que detém maior parcela e arts. 765 e 766 do vigente), e a conseqüente
do risco se beneficie com a mesma parcela dos custos racionalização do prêmio, se dele não pudesse resultar
daqueles que se submetem a menores riscos. Da mesma uma punição ao segurado que, com infringência ao
forma como não seria justo, nem razoável, digamos numa princípio da boa-fé, falseou as informações que lhe
comunidade condominial, que os proprietários das renderiam uma vantagem tarifária indevida.
unidades autônomas de quarto e sala, arcassem com a Nesse conseguinte, decisões que imputam ao
mesma taxa de condomínio que os proprietários das “QAR” a condição de informações inconseqüentes,
coberturas do mesmo prédio. menoscabam o princípio da boa-fé objetiva tão cantado e
Peço escusas pela metáfora, mas há os que decantado, em prosa e verso, com o advento do Código
ainda confundem seguro com banana, com visão apenas de Proteção ao Consumidor e mais recentemente o novo
parcial, vêem no “Perfil”, ou mais propriamente Código Civil, aliás já presente no velho Código
denominado “Questionário de Avaliação de Risco”, não particularmente no capítulo do seguro. Afinal, como
um instrumento, como realmente é, fruto da evolução saudosamente já decidiu o Supremo Tribunal Federal, "as
natural do seguro que a rigor só favorece o consumidor seguradoras se obrigam a se fiar nas informações do

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Aliança do Brasil

segurado, com base nas quais dimensiona a sua


responsabilidade e taxa o prêmio devido, por isso que a lei
as protege das declarações inexatas" (STF. 2ª Turma.
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Muito bem demonstrou isso LUIZ ALBERTO


POMAROLE, em quadro elucidativo da “Evolução do
Preço do Seguro por Idade - Perfil”, exposto na 2ª
Revista Forense 82/635). Conferência Brasileira de Seguros - CONSEGUROS,
De outro lado, as seguradoras precisam também realizada no Rio de Janeiro nos dias 24, 25 e 26 de
colaborar para o sucesso da prática, não recusando novembro de 2003, demonstrando que, nesse ano, o
cegamente todos os casos, sem adequá-los à situação seguro de um veículo gol 1.0, Zero KM, de um segurado
concreta: por exemplo, em seguro de automóvel, sinistro casado, com garagem, residente em SP, com 60 anos de
ocorrido com motorista que, embora não indicado no idade e com “Perfil”, por exemplo, teve uma redução em
questionário, era habilitado e sóbrio, mas que por razões média de cerca de 60% do prêmio, em relação aos
excepcionais e justificadas dirigia, aquela única vez, sem correspondentes seguros sem “Perfil”.
habitualidade, o veículo no momento do sinistro que, nada Mostro tudo isso, com detalhes, em nosso mais
obstante, foi negado. Enfim, a boa fé impende sobre recente livro, “DIREITO DO SEGURO NO NOVO
ambas as partes do contrato. CÓDIGO CIVIL E LEGISLAÇÃO PRÓPRIA”, Forense-
Não nos parecem, outrotanto, justas algumas Rio, ano 2006, inclusive o citado quadro evolutivo de
decisões que, genérica e desarazoadamente, POMAROLE.
desconsideram a importância e liceidade da cláusula de É pois necessário que sempre estejamos de
“perfil” formalizada no “QAR”, por onde o segurador, como sentinela para municiar os julgadores com os
gestor da mutualidade, submete aos proponentes as fundamentos que regem o contrato de seguro, em prol de
necessárias e pertinentes indagações referentes aos uma decisão técnica e juridicamente correta, para evitar
riscos que só eles podem informar, posto que deles que o mal cresça e apareça.
conhecidos, e que são decisivas para sua aceitação e Realmente, CONDILAC, versando sobre a
para o preço da garantia. Nessa ronda, sendo o “QAR” vaidade do ser humano, e apontando como virtude a arte
parte integrante da proposta, esta que segundo o art. 759 de reconhecer com humildade o erro diante dos fatos, e
do Código Civil tem que ser “escrita com a declaração dos que mudar de idéia é mais nobre no homem do que insistir
elementos essenciais do interesse a ser garantido e do no erro por simples capricho, afirma, sem rebuços de
risco”, se tem importante ferramenta, não só para se dúvida, que a pessoa, ao invés de atentar para as coisas
buscar uma justiça tarifária como se disse, mas também que pretende conhecer, as imagina e, de suposição falsa
para materializar as necessárias declarações do em suposição falsa, extravia-se do caminho certo, entre
segurado e permitir, em proveito da mutualidade, uma uma infinidade de erros, os quais, com o tempo, se
recusa justa da indenização em caso de quebra do transformam em preconceitos. Aliada ao preconceito, a
princípio da boa-fé, esta que é a principal peculiaridade do paixão faz respeitar mais o erro do que a verdade. Daí
contrato de seguro, sendo para isso imprescindível que se porque EISNTEIN, percebendo a origem crônica dessa
dê a devida compreensão e credibilidade a esse enfermidade, chegou a afirmar que foi para ele mais fácil
questionário. desintegrar um átomo do que remover um preconceito.
O “QAR”, como instrumento do “Perfil”, da Tudo isso também pode acontecer no judiciário, eis que
silhueta mesmo do risco, precisa realmente ser melhor de tanto repetir decisões equivocadas pode resultar em
compreendido pela magistratura, pois é ele instrumento jurisprudência preconceituosa e de difícil remoção, a dano
imprescindível para, a exemplo do que sucede nos países da mutualidade, vale enfatizar.
de primeiro mundo do seguro, tornar possível o chamado A tese do “Perfil” foi por um tempo rejeitada por
“Seguro sob Medida”, que leva em conta a idade do alguns tribunais, com declarações, desavisadas é bem
segurado, o sexo, o estado civil, a maneira como o bem verdade, de nulidade da cláusula que libera a seguradora
sobre o qual incide o interesse segurado é utilizado, da obrigação mesmo a despeito de o segurado omitir
tratado e protegido, sem que tal importe, de forma alguma, informação relevante para a aceitação do contrato ou
em discriminação de qualquer natureza. taxação do prêmio, mas já agora se presencia repetidas
Basta notar, a olhos vistos, a evolução e o decisões judiciais revelando que os magistrados já se
diferencial do preço do seguro após a adoção do “Perfil” mostram mais identificados com a tese, não sendo raras
ou “QAR”, por onde se vê que, antes de tal mecanismo, os as decisões nesse sentido, a começar por Minas Gerais,
segurados pagavam o mesmo prêmio onde havia uma resistência maior e que agora, como
independentemente de terem 20, 40 ou 60 anos de idade, mostra o aresto adiante, já se pode sentir uma tendência
de serem homem ou mulher (as pesquisas e estatísticas de reversão:
demonstram que a mulher representa melhor risco
subjetivo que o homem), de terem 5 ou 30 anos de “AÇÃO DE COBRANÇA - CONTRATO DE
carteira, de guardarem o veículo em garagem ou fora dela. SEGURO DE AUTOMÓVEL - DECLARAÇÕES

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Aliança do Brasil

INVERÍDICAS PRESTADAS PELA SEGURADA,


Q U E I N F O R M O U S E R A P R I N C I PA L
CONDUTORA DO VEÍCULO - VEÍCULO
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

segurado quando do preenchimento do


Questionário de Avaliação do Risco acerca dos
condutores do veículo. Alegação de ausência de
CONDUZIDO EXCLUSIVAMENTE POR FILHO má-fé, que não elide a transgressão do pactuado.
JOVEM - PERDA DO DIREITO À COBERTURA - O argumento de que declarou circunstância que no
PROVIMENTO DA APELAÇÃO. Tratando-se de momento da assinatura do contrato não existia,
contrato de seguro fundado em análise de perfil da não afasta o dever de cumprir a avença,
segurada e considerando que esta, quando do configurando causa de perda do direito à
preenchimento do questionário de risco, prestou indenização (art. 1.444 do Código Civil de 1915 e
informações inverídicas, que influenciaram na art. 766 do de 2003). Hipótese em que o sinistro
aceitação da proposta e no valor do prêmio, ocorreu quando o veículo estava sendo conduzido
impõe-se a improcedência do pedido de cobrança pelo filho do segurado, que veio a obter habilitação
da indenização prevista na apólice, em posteriormente à assinatura do contrato de
conformidade com o artigo 766, do CC/2002.” seguro. Mantença da sentença de improcedência.
(Apl. Civ.1.0701.03.060206-7/001-1, TJMG, Desprovimento da Apelação”
publicado em 17/03/2006. Rel. DES. BATISTA DE
ABREU). Dando seqüência à evolução da jurisprudência
Nesse tema, também acertada e irrepreensível brasileira em prol da “Cláusula de Perfil”, vale destacar o
foi à decisão da Décima Quarta Câmara Cível do Tribunal quão se mostra promissora a tendência de reversão de
de Justiça do Rio de Janeiro, na Apelação Nº. entendimentos negativos anteriores, do que também dão
2002.001.02664, da lavra do eminente Desembargador mostras os arestos que seguem:
MAURO FONSECA PINTO NOGUEIRA, julgada em
23/07/2002, cuja ementa permito-me a seguir transcrever: “SEGURO. Omissão de informação relevante pelo
segurado no tocante ao principal condutor.
“CONTRATO DE SEGURO. TÁXI. INDICAÇÃO Violação do dever de boa-fé objetiva. Perda do
DO CONDUTOR DO VEÍCULO. OMISSÃO, POR direito à indenização securitária. Improcedência
PARTE DO SEGURADO, DE DECLARAÇÃO NO do pedido. Recurso a que se nega provimento”
TOCANTE A EXISTÊNCIA DE OUTRO (Ap.Civ. 2007.001.12585 – 2ª Câmara Cível. Rel.
CONDUTOR DO CARRO. AUMENTO DO RISCO. Des. CARLOS EDUARDO DA FONSECA
PERDA DO DIREITO AO SEGURO. Tendo o PASSOS).
segurado contratado o seguro com a indicação de
que somente ele conduziria o veículo, “SEGURO. Contrato para cobertura de perdas e
beneficiando de descontos e incentivos, que danos em veículo automotor. Furto de automóvel e
influíram na aceitação do risco e na taxação do recusa da seguradora no pagamento integral da
prêmio, não fará jus à indenização se ficar indenização. Furto ocorrido quando o veículo
comprovado que outra pessoa, ainda que estava sendo usado pelo filho e que o utilizava
habilitada, dirigia o automotor no momento do 90% do tempo. Perfil do condutor não avaliado
sinistro, porque a boa-fé e a veracidade são pela seguradora. Má-fé do segurado
essenciais neste tipo de contrato.” caracterizada. Ação de cobrança julgada
improcedente. Recurso improvido” (Apel. Civ.
Bem compreendeu igualmente a função jurídica 1.004.765-0/9 - 32ª Câmara da Seção de Direito
do Questionário de Avaliação de Risco, bem assim o Privado do TJSP. Rel. Des. KIOITSI CHICUTA).
alcance do princípio da boa-fé objetiva, a Oitava Câmara
Cível do mesmo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no Eis, em apertada síntese, algumas
julgamento, em 30/09/2003, da Apelação Cível nº. considerações que julgo relevantes sobre o tema.
23413/03, da lavra da ilustre Desembargadora CÉLIA
MARIA VIDAL MELIGA PESSOA, cuja ementa adiante
segue:

“CONTRATO DE SEGURO DE VEÍCULO.


INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. DECLARAÇÕES
D O C O N T R ATA N T E . S I N I S T R O E M
D E S C O M PA S S O C O M A Q U E L A S
AFIRMAÇÕES. Afirmações verdadeiras do

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Ricardo Bechara Santos
Companhia de Seguros
Aliança do Brasil

Advogado especializado em Direito de Seguro há mais de trinta e dois


anos; formado em Jornalismo também pela Universidade Federal
Número 3 . Agosto 2007

O pensamento de quem faz a diferença

Fluminense; membro da Associação Internacional de Direito de Seguro


- AIDA, da qual foi Presidente no Rio de Janeiro; Condecorado pela
AIDA no seu último evento Internacional em 2003; coordenador da
Comissão Jurídica Brasileira no Mercoseguros/Mercosul; Presidente
da Comissão de Assuntos Jurídicos da FENASEG-CAJ; Consultor
Jurídico da FENASEG (Federação Nacional das Empresas de Seguro,
Capitalização e Resseguro) e do SERJ (Sindicato das Seguradoras e
Empresas de Capitalização no Rio de Janeiro); Conferencista da
EMERJ e outras Associações, inclusive de Magistrados, em
Congressos sobre Seguro; Superintendente de Relações Jurídicas da
Sul América Seguros desde 1994 até a presente data; autor de
diversos trabalhos técnico - jurídicos sobre variados temas de Direito
de Seguro, publicados em revistas especializadas; autor do Livro
DIREITO DE SEGURO NO COTIDIANO, publicado pela Editora
Forense em 1999 e que se encontra na sua 5ª edição e, mais
recentemente, do livro DIREITO DE SEGURO NO NOVO CÓDIGO
CIVIL E LEGISLAÇÃO PRÓPRIA, lançado em julho/2006, pela mesma
Editora Forense, já estando no prelo a 2ª edição revista e ampliada;
membro do Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros
Privados, Capitalização, Previdência Privada Complementar e
Corretagem - CRSNSP, que julga em última instância administrativa os
processos decididos no âmbito da Superintendência de Seguros
Privados - SUSEP; Acadêmico da Academia Nacional de Seguros,
Capitalização e Previdência - ANSP, da qual recebeu o título de
acadêmico do mês de agosto de 2006, e membro de seu Conselho
Superior Institucional; membro da Comissão de Seguro da Ordem dos
Advogados do Brasil - OAB do Rio de Janeiro; foi membro da Câmara
Técnica de Contratualização da ANS- Agência Nacional de Saúde
Suplementar; membro do Conselho Editorial da FUNENSEG; membro
da Comissão de Arbitragem da FENASEG; integrante do Quadro de
Árbitros do CBMA (Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem);
membro do Conselho Técnico-Consultivo Multissetorial da Câmara
Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial - CBMAE; foi
membro do Conselho da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa; foi
membro das Comissões Jurídica e de Ética da ANAPP - Associação
Nacional de Previdência Privada; foi Superintendente Jurídico da Cia.
Internacional de Seguros (1974 até 1984); foi Superintendente Jurídico
da Generali do Brasil - Cia. Nacional de Seguros (1984 até 1994).

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Número 3 . Agosto 2007

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