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Editorial
Número 3 . Agosto 2007
PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro
Índice
2. Plínio Satoru Nakagawa
5. Acacio Queiroz
6. Alberto Oswaldo Continentino de Araújo
7. Angélica Lúcia Carlini
14. Antonio Penteado Mendonça
15. Celso Paiva
17. Cláudio Afif Domingos
18. Heitor Rigueira
19. Hermínio Mendes Cavaleiro Neto
40. M. Helena Gurgel Prado
44. Jayme Brasil Garfinkel Companhia de Seguros
45. Nelson Fontana
Aliança do Brasil
47. Leoncio de Arruda
49. Patrick Larragoiti Lucas
50. Ricardo Bechara Santos
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Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro
As diferenças de critérios, na avaliação de riscos em sua primeira contratação, pague o prêmio cheio da
entre seguradoras, sempre existiram. Grosso modo, massa segurada na qual ingressa e passe a adquirir
anteriormente ao perfil autografado pelo proponente, o privilégios de acordo com a experiência; e não percebê-
objeto da contratação era o bem econômico, legitimando- los ou ser diferenciado, antes disso.
se o negócio pela comprovação de sua existência, em Com a introdução do perfil do proponente à
condições de preservação e uso. contratação do seguro, agregou-se um instrumento
A tecnologia avançou e melhorou a relação custo subjetivo de diferenciação à aceitação e à tarifação do
x benefício na acumulação de informações, pelas risco, que corre independentemente da experiência, ou do
empresas. Esse fato privilegiou o segurador, que opera que o bônus representa. Esse dispositivo foi considerado
baseado em dados históricos e em sua permanente como fator variável na tarifação do prêmio, produzindo
atualização. uma sorte de conseqüências.
Quando da importação do modelo do perfil do O mercado segurador acatou a idéia do perfil do
segurado, estabeleceu-se o valor em risco com base na segurado sob o pretexto da personalização do seguro,
relação do bem econômico e seu proprietário. Todavia, o com o favorecimento do perfil menos arriscado, em
perfil do segurado deveria servir de instrumento à análise relação a um padrão ou a uma média, da massa segurada.
do risco pelo segurador e à geração de estatísticas, sem Na prática, acarretou diferentes preços para o mesmo
inverter na cobrança diferenciada de prêmios, assim serviço.
como se observa nas transações dos ramos de vida e Não se considerou criar categorias ou contratos
saúde. diferenciados para admitir os diferentes perfis de
A função da declaração do perfil do segurado segurados, formando massas seguradas homogêneas e
deveria ser restrita à apresentação do proponente ao diferentes entre si. Em outras palavras: deveria
segurador, para que esse pudesse decidir sobre sua personalizar o contrato, ao invés de diferenciar o
admissão na massa segurada. segurado em meio a massa segurada. Talvez funcionasse
Cabe-nos falar do bônus, que se tornou moeda melhor se existissem diferentes contratos, cada qual com
no mercado segurador, uma espécie de direito seu preço fixo de adesão.
intransferível que o proponente do seguro pode exercer, O perfil do proponente não tem padrão de
na maioria das seguradoras. Na prática, o bônus é a mercado. Opera em ampla subjetividade e com
informação histórica mais simples e objetiva sobre a informações requeridas que podem ser alteradas durante
relação entre o segurado e o bem econômico, cuja a vigência da apólice. O segurado é responsável por
estratificação por classes apresenta a experiência real do declará-lo e atualizá-lo constantemente, o que vem
segurador que o concede. Assim, o segurado acumula ou causando transtornos no processo de indenização.
perde bônus, proporcionalmente ao tempo e aos Muitas vezes, a boa fé do segurado é colocada em dúvida
eventuais sinistros, na sua experiência com o seguro. Em quando, na realidade, ele realmente esqueceu-se de
outras palavras, o bônus demonstra a avaliação sumária atualizar a informação de seu perfil. Em bom termo, o
do segurado e do objeto contratado, em termos reais. segurador deveria certificar-se sobre a veracidade da
Parece-nos justo que o proponente do seguro, declaração inicial e analisar os eventos subseqüentes,
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processamento de dados.
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Acácio Queiroz
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Advogada
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Angélica Lúcia Carlini
FORMAÇÃO ACADÊMICA
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ATUAÇÃO PROFISSIONAL
É sócia proprietária de CARLINI ADVOGADOS ASSOCIADOS desde
2.000, escritório de advocacia que atua diretamente nas áreas de
Direito do Seguro, Reparação de Danos e Direitos do Consumidor,
situado em Campinas/SP, e que estende sua atuação a todo interior de
São Paulo, sul do Estado de Minas Gerais e norte do Estado do
Paraná.
Foi sócia proprietária de CARLINI E MACHADO ADVOGADOS, no
período de 1.991 a 2.000, atuando em Direito do Seguro e Reparação
de Danos, bem como em Direito Empresarial e Civil.
Atuou como advogada associada de 1.982 a 1.991 junto a escritórios
de advocacia em São Paulo, nas áreas de direito de seguro,
empresarial e civil.
É sócia do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor,
BRASILCON, e conselheira do Instituto Brasileiro de Direito do Seguro
- IBDS, desde 2.000.
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Advogado
PERFIL DO SEGURADO:
Uma Solução Importante
Quando o perfil do segurado foi desenvolvido o la, com base nas disposições legais que exigem a boa fé
que se queria era uma forma de beneficiar o bom do segurado na contratação do seguro.
segurado, cobrando mais barato dele e trazendo, se Com base nisto, o questionário de perfil do
possível, o seu seguro para dentro da companhia. O perfil segurado passou a ser uma ferramenta importante em
não foi pensado para a seguradora negar a indenização. qualquer processo de regulação de sinistro. Começando
Conceitualmente ele se baseia no princípio básico da estes procedimentos pela verificação das informações do
operação de seguro, qual seja, dividir proporcionalmente questionário, a seguradora pode balizar melhor os
e da forma mais exata possível, os diferentes riscos de um trabalhos de seus prepostos, além do que, tem como
determinado grupo entre seus integrantes. situar melhor o seu segurado, usando para isto os
A questão que se colocava à época era como parâmetros do questionário como referencial para
fazer para o bom segurado não pagar a indenização do análise.
mau segurado, fato que acontecia regularmente pela Num primeiro momento houve uma grita ampla e
transferência para quem não devia do ônus de arcar com a quase geral contra o questionário de perfil do segurado.
alta sinistralidade causada por segurados menos Afinal, não era comum as seguradoras negarem as
cuidadosos. indenizações com base em eventuais informações
Desenhado para levar em conta uma série de incorretas, não porque não o quisessem, mas porque não
fatores físicos, geográficos, de idade e sexo, o perfil do tinham um mecanismo legal que as permitissem fazê-lo. O
segurado é uma tabela de bonificação que sai de um que não estava claro era que se elas começavam a negar
patamar máximo semelhante para todos e favorece os indenizações por conta do perfil do segurado, de outro
que conseguem a maior pontuação dentro dos itens lado o bom segurado estava pagando menos pelo seu
elencados para medir o risco. seguro. Além disto, não era justo o mau segurado se valer
Assim, marca e modelo do veículo, garagem em de uma regra de desconto para o bom segurado para levar
casa e no trabalho, cidade, bairro, idade e sexo passaram uma vantagem indevida, transferindo para o bom
a contar pontos para diminuir o prêmio dos seguros de segurado o ônus de complementar parte da indenização
automóveis. para a qual ele não havia pago o prêmio.
Ao mesmo tempo, serviram também, como Com o passar do tempo as vantagens do perfil do
vantagem indireta, mas não menos importante, para segurado foram se tornado evidentes e hoje ninguém
melhorar o relacionamento entre segurados e mais, de boa fé, discute sua aplicabilidade para colocar
seguradores, já que o preenchimento indevido do preço nos seguros e para negar indenizações, quando
questionário do perfil, caso dê uma vantagem indevida seu preenchimento é feito com o intuito claro de pagar
para o segurado, pode significar o não pagamento da menos por um seguro que deveria custar mais caro.
indenização. Em outras palavras, o perfil do segurado veio
Um dos pressupostos essenciais para o bom para ficar. Graças a ele o bom segurado paga menos pelo
funcionamento do instituto do seguro é a boa fé entre as seu seguro. E o mau segurado, merecidamente, tem a
partes. No Brasil este conceito é tão valorizado pelo indenização negada.
legislador que, ao contrário do que acontece na maioria
dos contratos reguladores das outras atividades
econômicas, o contrato de seguro tem três vezes a
exigência legal da boa fé.
Ao preencher o questionário com informações
incorretas, o segurado não está necessariamente agindo
com dolo, mas se esta informação representar uma
diminuição no prêmio, uma agravação de risco, ou uma
indenização maior ou indevida, a seguradora pode negá-
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Celso Paiva
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O seguro de Automóvel no Brasil se tornou um O mercado segurador, sem exceção, tem sofrido
dos produtos mais modernos do nosso mercado com situações particulares, e podemos dizer até mesmo
segurador. A construção da tarifa é baseada numa multi “generalizadas”, quanto ao conceito “quanto melhor for o
combinação de fatores: o veículo, sua utilização, sua risco” - na visão de cada seguradora – “menor será o
circulação habitual, as características do seu proprietário custo”, pois esse é o ponto principal que deverá nortear a
e/ou usuário principal e o histórico, tanto do veículo quanto apuração do custo para angariar/reter aquele risco (
do motorista. sempre lembrando a “dupla dinâmica”: bem/usuário ).
Com essa variedade de componentes, que leva Se por um lado já se percebe o amadurecimento
cada dia mais, a uma taxação individualizada do binômio técnico das seguradoras, no investimento de ferramentas
veículo/usuário, muitos são os critérios (questionário para estatísticas de última geração, contratação de “birôs” de
apuração do perfil do motorista e sua ponderação) taxação especializados na carteira de AUTOMÓVEL na
existentes no nosso mercado, haja vista que cada comparação dos seus produtos com a concorrência,
seguradora considera os fatores de maior ou menor planilhas atuárias complexas, entre outros, há uma ponta
importância na sua “precificação”. nessa equação que se não atuar firmemente treinada e
Pela teoria atuarial dos Grandes Números, o comprometida neste mesmo sentido, compromete todo o
resultado individual para o mesmo tipo de bem patrimonial trabalho percorrido até aqui, na fixação do conceito
é tendencioso a ser um número parecido, principal “Melhor risco, menor custo”: o canal de vendas.
independentemente da seguradora, mas devido aos Esse conceito, que está implícito pela utilização
fatores descritos anteriormente, mostra-se totalmente do Questionário de Avaliação de Risco (QAR), que
particularizado para cada uma delas. deveria agradar em cheio todo tripé da cadeia de seguros
Ainda devemos levar em consideração outros (seguradora/corretor/segurado ) quando não praticado
tantos tipos de variações existentes: tamanho da frota por qualquer desses participantes, com a seriedade que
segurada, atuação regional, direcionamento da carteira deve ser praticado, leva a um descompasso sem
por tipo de segurados e/ou veículos, capacidade de precedentes, e com o qual ainda convivemos hoje,
retenção da seguradora, além de acordos comerciais com mesmo que já tenha se passado tanto tempo desde a
montadoras, rede de concessionárias, venda por nichos chegada no Brasil da “aplicação do perfil “ no risco
específicos, canais de vendas, etc “Automóvel” ( e depois utilizado também para outros
Todos esses aspectos somados, diminuídos, segmentos do mercado segurador: “riscos patrimoniais”,
multiplicados e divididos em “n” combinações levam o seguros de vida individual, etc) no início da década de 90 (
corretor de seguros e consequentemente nossos século passado ! ).
segurados, a uma gama de opções, que em média, O sistema de vendas, muito influenciado pelas
resultam em três cotações por elaboração de proposta regras básicas do mundo capitalista - “vender muito”,
para escolha do melhor “custo/benefício” na compra da ”sempre”, ”o mais rápido possível” e com o “menor custo” -
cobertura mais apropriada para o risco. leva ao desgaste dessa ferramenta, “democrática” e justa,
Os fatores mais comuns na determinação dessa de como determinar quanto cada um de nós, baseados
influência do “perfil” no custo do seguro são as “já famosas nas nossas próprias características e histórico pessoal,
respostas” quanto a : sexo, idade, tempo de habilitação, deveríamos pagar para ter protegidos nossos bens;
utilização do veículo, guarda do mesmo dia e noite , mesmo que muito parecidos com o dos outros, mais muito
quilometragem média anual e o compartilhamento da influenciado por nosso próprio comportamento.
utilização do veículo ( e é aí que reside o maior desgaste O canal de vendas precisa, cada vez mais,
na relação seguradora/corretor/segurado – muitas regras abordar o “comprador” com rapidez ( a pressa está nas
diferenciadas existentes para o mesmo fator, conceitos duas pontas – ninguém hoje em dia “pode” perder “um
subjetivos,...). minuto do seu precioso tempo” nem para perguntar nem
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Diretor
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Heitor Rigueira
O pensamento de quem faz a diferença
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A ilegalidade da negativa de atendimento do Artigo publicado em Dezembro de 2003 no website Jus Navegandi e
sinistro baseada no questionário de avaliação de aqui reproduzido com a permissão do Autor
riscos, no contrato de seguro de automóvel
01 BREVE HISTÓRICO DO CONTRATO DE SEGURO cobertura. Através dele os navegantes associados tinha em
comum acordo que todos os membros da seita contribuiriam
com uma nova embarcação caso a de um dos associados
1.1 O surgimento do contrato de seguro. viesse a ser perder por motivo fortuito, em que este não pudesse
prever ou evitar de maneira alguma. Segundo o Talmud dos
O contrato de seguro surgiu na Idade Média, como Palestinos, o proprietário que perdesse um asno, devorado por
forma dos navegadores fossem assegurados dos riscos das feras, furtado ou sumido, tinha o direito de auxílio da sua
viagens que empreendiam para desbravar novas terras e poder comunidade para comprar outro.
comercializar em pontos distantes da Europa. Este ponto já é de Os Gregos herdaram das civilizações anteriores
pacífico entendimento dos historiadores. muitas instituições, que aprimoraram e desenvolveram. Com
No entanto, as suas origens ainda são pontos de base na mutualidade, organizaram entidades cooperativas para
controvérsia entre os profissionais do ramo. Entendem que uma indenizar as perdas nos transportes terrestres e marítimos.
das origens do contrato teria sido nos primórdios da civilização, Conheceram e divulgaram importantes instituições jurídicas de
quando a assistência era dada pelos membros da mesma outros povos, como a contribuição para o salvamento marítimo
família, sempre cooperando para a própria defesa e e o empréstimo para operações no mar, já praticadas pelos
desenvolvimento; pelos vizinhos, depois, movidos por fenícios e outros povos mais antigos.
sentimentos de amizade; pelos companheiros de trabalho; pelo Em Roma, onde se desenvolveu a civilização mais
empregador ou proprietário de terras. Mais tarde, quando o importante depois da grega, floresceram vários tipos de
espírito associativista ganhou maior estimulo, surgiriam as sociedades, visando o amparo recíproco de seus membros e de
corporações de caráter religioso ou leigo. seus familiares, quando atingidos por doença ou velhice.
Essas associações se chamavam Sheni, na antiga Começava-se a se vislumbrar ai o esboço do que vem a ser hoje
Índia, segundo os textos do Código de Manu. Há notícias de sua o nosso Seguro de Vida.
existência entre os egípcios, com denominações diversas. Na Leis das Doze Tábuas, por volta de 450 AC, foram
Entre os gregos eram mais conhecidas como Koinonia. Na incluídos dispositivos sobre as sociedades, sob a forma de
civilização romana eram as Collegia Tenuiroum, Collegia normas costumeiras, a ponto de despertar a atenção do
Funeraticia ou os Sadalitia. Que tinha como objetivo a ajuda na legislador. Havia sociedades de várias espécies, atendendo a
cura da enfermidade dos associados ou quando morria um de objetivos diferentes, desde os interesses particulares de uma
seus membros. determinada classe profissional até de natureza religiosa.
Na Idade Média, apareceram as corporações de As operações de seguros de forma semelhante a
ofício, primeiros exemplos de agremiações profissionais, que atual só apareceram no último período da Idade Média. As
impuseram a seus integrantes o dever de auxílio mútuo em caso corporações, que surgiam como solução para enfrentar a
de enfermidade, tal qual na Roma Antiga. insegurança decorrente da falta de poder central atuante,
Baseadas no sentimento cristão, surgem, igualmente reforçaram o espírito de comunidade e a solidariedade entre
as confrarias medievais, como instituições associativas de seus membros facilitava a solução dos problemas de proteção
caráter geral, destinadas ao culto religioso, a ajudar os contra os riscos que lhe ameaçavam vida e bens, em especial
confrades enfermos e a realizar os funerais. Das confrarias os que eram transportados nas embarcações que viajavam da
nasceram, posteriormente, as irmandades de socorro mútuos, Europa até as Índias.
que constituíam sociedades organizadas com tal perfeição O País pioneiro no Contrato de Seguro foi Portugal, à
técnica que, nada tinham a dever às mutualidades modernas do época mais o avançado na Europa no tocante ao comércio
século XX. O benefício neste momento já não era ajuda marítimo, que deu forma escrita ao fato social. Durante o
meramente discricionária, e sim através sistema de cotização, reinado de D. Fernando (1373-1383), os súditos muito
bem estruturado e regulado por um regime de prestações pré- reclamam por medidas que lhes assegurassem nas viagens
estabelecidas. náuticas. E em 11 de agosto de 1791, é instituída a Casa de
Na era cristã, aparece no Oriente Médio uma Seguros de Lisboa, através do Alvará de 11 de agosto de 1971.
coletânea de sentenças e pareceres proferidos pelos rabinos. O Órgão, que era público, tinha como principal
Era um dos Talmud (356/425 DC), que regulamenta com maior finalidade o registro de Contratos de Seguros Marítimos que se
precisão uma das formas societárias dotadas para disciplinar a destinava a indenizar somente cascos e cargas.
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empresa (6)
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3.2 Características
03 O CONTRATO DE SEGURO
Na análise técnico-jurídica do contrato de seguros,
vemos que ele é:
3.1 Conceituação a.Bilateral ou sinalagmático, pois depende da
manifestação de vontade de ambos os contraentes, que
Segundo Maria Helena Diniz (1999, p.385) o contrato adquirem obrigações recíprocas. O segurado assume a de
de seguro é: quitar o prêmio e não agravar os riscos, caso em que deverá
O contrato de seguro é aquele em pelo qual uma das imediatamente informar à sociedade seguradora, sob pena de
partes (segurador) se obriga para com outra (segurado), nulidade do contrato. Por outro lado, o agente segurador obriga-
mediante a paga de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo se a quitar o sinistro em seu valor previamente negociado;
relativo a pessoa ou a coisa e a indeniza-la de prejuízo b.Oneroso, com prestação e contra-prestação para
decorrente de riscos futuros previsto no contrato. cada uma das partes, visto que cada uma visa obter uma
Em verdade, a eminente professora completou o que vantagem em seu patrimônio. O segurado, de ter sua vida ou
dispunha o Código Civil de 1916, senão vejamos: "Art. 1.432. seu patrimônio garantido, porém, para tanto, se obriga no ato a
Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das quitar o prêmio solicitado pela seguradora. De outro lado, o
partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um segurador visa aumentar seu patrimônio financeiro com o
prêmio, a indenizá-la do prejuízo resultante de riscos futuros, recebimento do prêmio que solicita do segurado, no entanto,
previstos no contrato". assume o risco de em uma eventual ocorrência ter quer quitar o
O Novo Código Civil aperfeiçoou o conceito legal, valor integral contratado;
introduzindo o contrato de seguros: "Art. 757. Pelo contrato de c.Aleatório, pois sua origem gira em torno de um
seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do evento incerto, não havendo a necessidade de equivalência de
prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a obrigações. É o risco que cada uma das partes assume: o
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados". segurado de quitar o prêmio e não receber bem ou serviço
O seguro, em sua essência, é a transferência do risco correspondente ao valor que pagou, e o segurador de receber
de um eventual evento danoso de uma pessoa à outra. Isto apenas o prêmio e ter que arcar com um prejuízo bem maior se
somente se torna tecnicamente possível quando o custeio do vier ocorrer um evento danoso coberto pelo contrato;
risco é rateado entre muitas pessoas, organizadas através de d.Formal, visto ser obrigatória a forma escrita, já que
uma associação, no caso, as Sociedades Seguradoras. de acordo art. 758, CC (7), não obriga antes de reduzido a
Muito embora o contrato de seguro seja um negócio termo, considerado-se perfeito o contrato no momento em que
jurídico autônomo entre as partes (segurador e segurado), sua subscreve em livros oficiais o risco assumido e remete a prova
viabilidade prática é baseada numa base mutuária para custeá- da aceitação ao segurado (a apólice). A forma escrita é uma das
lo e dar-lhe sustentação. substâncias do contrato;
É função das ciências atuarias o exame estatístico e.De execução sucessiva ou continuada, pois se
para cálculo do prêmio do seguro de cada segmento (seguro de destina a subsistir por um determinado prazo de tempo, por
automóveis, de vida, residencial, empresarial, etc.). menor que seja, pois tem a finalidade de proteger o risco
Basicamente, o estudo é feito com base nos sinistros ocorridos, determinado na apólice. Sua execução é escalonada, sendo
somados à projeção de novos sinistros no período seguinte, aos necessária que a obrigação do segurado seja satisfeita dentro
custos de resseguro, aos custos técnicos de administração da dos termos convencionado, sob pena de rescisão sumária, por
sociedade seguradora, e ainda à reserva técnica financeira que tratar-se de obrigação de trato sucessivo. Os efeitos passados
é legalmente obrigada a manter, sob pena de cessar suas serão mantidos, porém, os futuros cessarão;
atividades (4). f.De adesão, pois, regra geral, se apresenta com
O resseguro vem a ser o seguro do seguro, ou seja, é cláusulas predispostas pelo agente segurador. O segurado não
um seguro maior que as companhias seguradoras são participa de sua elaboração, recebendo-o já pronto, e a inserção
obrigadas a realizar por lei (5), para garantir os riscos de cláusulas (manuscritas, datilografadas ou qualquer outra
assumidos. forma de escrita) não lhe retira esta característica (8).
A reserva técnica é um saldo financeiro que as g.De boa-fé qualificada, visto que além de ser
seguradoras têm que ter para poder funcionar e garantir os princípio basilar da teoria geral dos contratos e do Direito, a boa-
riscos assumidos. Os limites são definidos pela Susep, e este fé é ressaltada nos artigos que regem o contrato de seguro, no
capital deve estar já subscrito no momento de formação da Novo Código Civil (9), sob pena de perderem seus direitos, o
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Visto que o Contrato de Seguro exige instrumento 3.4.1.O questionário de avaliação de riscos.
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BIBLIOGRAFIA
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locomoção rotineira.
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segurado e o do beneficiário.
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Corretor de Seguros
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A Subjetivação do Intangível
A comercialização de seguros é uma arte bem e massificado, não podemos esquecer ou desconsiderar
mais complexa do que aparenta. Diferentemente da os princípios básicos que regem nossa atividade
venda de bens, nas quais os compradores têm a profissional e os seguros.
oportunidade de ver e pegar os produtos, seguros são Nosso mercado só vai crescer se não nos
intangíveis que, pela definição do dicionário Aurélio, esquecermos o que nosso cliente veio buscar quando nos
significa algo que não se pode tocar, e isto é uma diferença procurou. A pergunta dele é: Se eu bater a seguradora vai
muito importante. pagar o conserto e se eu perder o carro a seguradora vai
Como os nossos clientes não vão ver nem tocar me dar dinheiro para comprar outro igual?
os seguros, podem os mais desavisados achar que eles Ora, ao respondermos, devemos lembrar que já
estão comprando um contrato mas, para a maioria das estamos num ramo de atividade em que o produto é
pessoas, um contrato significa apenas um monte de intangível. Quando ele diz o que quer, temos que
papel. Na verdade o que eles estão comprando é responder de forma objetiva. ”Sim, ela vai pagar o
tranqüilidade. conserto se bater e, se perder o carro, ela vai lhe dar
Ninguém telefona para um corretor e pede uma dinheiro para comprar outro igual”.
apólice. Os clientes dos corretores querem tranqüilidade. Não podemos responder de forma subjetiva,
Esta tranqüilidade, na maioria dos casos é dada quando o entendida como aquela que depende de interpretação.
cliente ouve o corretor lhe dizer que, a partir daquela hora, Seria como responder: “depende”. Que vai levar o cliente
se ele bater o carro à seguradora vai pagar o conserto e se a perguntar: “Depende do quê?”, ao que responderíamos:
ele perder o carro a seguradora vai lhe dar dinheiro para Depende, quando acontecer um sinistro, da confirmação
comprar um igual. do perfil. A seguradora vai querer saber se você realmente
É por esta frase que ele está disposto a pagar informou o condutor correto, se seu filho só dirige uma vez
alguns milhares de Reais e, na maioria das vezes, ele fica por semana mesmo, se ele não vai com este carro para a
satisfeito, como se já tivesse recebido o que comprou, faculdade, se você realmente tem garagem, se você não
quando esta frase é pronunciada. Ao saber que seu carro mudou de endereço durante a vigência da apólice sem
está segurado, ele fica tranqüilo, portanto, já recebeu o comunicar à seguradora, se instalou o rastreador e, ainda,
que comprou. de alguns outros fatores.
Muitos pensam que o que ele quer é a apólice. Em uma relação tão “intangível”, é necessário
Ela é importante mas é apenas a materialização da que as nossas obrigações sejam diretas e objetivas. O
tranqüilidade. Uma apólice bonita, emitida rapidamente, cliente não sabe direito o que está comprando, porque não
com o nome do segurado escrito de forma correta, com os viu nem pôs a mão e ainda vamos dizer que o que vamos
dados de seu carro reforçam a sensação de segurança e fornecer depende de interpretação, não sendo uma
dão tranqüilidade. obrigação objetiva e direta?
Mas não se deve esperar mais do que isto de Se bateu, o conserto vai ser pago pela
uma apólice. Na verdade, uma apólice é nada mais, nada Seguradora. Se perdeu o veículo por furto ou roubo, a
menos, que um manual de instruções de um produto seguradora vai pagar uma indenização para a compra de
imaterial, intangível. Ninguém tem paciência de ler outro igual. Ocorrido o sinistro, a seguradora vai pagar a
clausulado de apólice. Uma vez visto o nome e os dados indenização. Isto é objetividade.
do carro, aquele “manual de instruções” chato e sem É claro que, como qualquer contrato, existem
graça vai para a pasta ou a gaveta e acabou. O produto casos em que a indenização não é devida. Em principio, e
que ele, cliente, comprou, não é a apólice. Esta é apenas o não podemos esquecer estes princípios, pela boa técnica
manual de instruções. O que ele comprou foi a frase do de seguros, somente em três casos a seguradora está
corretor: “Seu carro está segurado”. isenta de pagamento: Quanto há má fé do segurado,
Apesar do mundo estar cada vez mais impessoal quando ele – o segurado - deixa de pagar o prêmio e
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Leoncio de Arruda
Número 3 . Agosto 2007
Presidente
PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro
Se é tão fácil complicar, para que simplificar? que o significado delas fosse igual para todas.
Nunca uma máxima serviu tanto como para o seguro perfil Levando o mesmo critério utilizado para majorar
no Brasil. o prêmio ser utilizado para reduzí-lo, quando o segurado
A história dessa modalidade de seguros muda-se para um bairro ou cidade com menor incidência
começou com uma companhia chamada Progressive, de sinistros.
uma das dez maiores seguradoras de ramos elementares A questão é que os desenvolvedores tendem a
dos EUA, que começou a vender seguro de automóvel em complicar as soluções mais do que o necessário. Ou seja,
1937. O consumidor entra em seu site, responde algumas mesmo se limitadas às questões puramente técnicas,
perguntas, e se for do interesse da seguradora tê-lo como tende-se a complicar. Seguindo esta linha da complicação
cliente, ela dá um desconto para que o seu preço fique desnecessária, existe um outro problema mais grave
abaixo do praticado pelos concorrentes. Se não tiver ainda: muitas vezes, uma decisão aparentemente técnica
interesse, o site encaminha o internauta para outras é na verdade uma decisão de negócio. A complicação
seguradoras. ultrapassa o escopo técnico e passa a afetar diretamente
Ou seja, a Progressive faz um negócio bom para a apólice em caso de indenização.
a seguradora e para o segurado. Como esse problema pode acontecer? Qual é o interesse
Em 1987, a Direct Line iniciou, na Grã-Bretanha, em complicar? O fato de o prêmio ser calculado com
a venda de seguros por telefone. Com a chegada da estatísticas das próprias seguradoras impede qualquer
internet, ampliou seu campo de ação. Hoje, tem mais de tipo de fiscalização por parte do Estado e dos órgãos e
um milhão de clientes, que têm de responder a um entidades de defesa do consumidor, permitindo os
questionário e ponto final. O sucesso fica por conta da alta abusos.
qualificação dos funcionários, do atendimento pós-venda, Ainda que as estatísticas indiquem que existe
da rapidez no pagamento de sinistros e a constante maior incidência de sinistro entre homens jovens, isso
introdução de inovações. não significa que aquele segurado específico, que
Quando chegou no Brasil, o seguro perfil ganhou submete a sua proposta à seguradora, vá colidir seu
outra característica. Da forma como foi introduzido, gerou, veículo ou tê-lo roubado ou furtado.
imediatamente, uma batalha judicial por parte daqueles Tudo poderia ser simples, como o caso da
que o consideram inconstitucional. Uma batalha que Progressive ou da Direct Line. Mas não é . Por tais razões,
envolveu o Ministério Público, o Procon e órgãos de frisamos, mais uma vez, que o seguro perfil representa
defesa do consumidor. sérios inconvenientes para os consumidores. Aos poucos,
Segundo os especialistas, a Constituição muitos deles perceberam que, dependendo do seu perfil,
Federal dispõe no seu art. 5º, que “todos são iguais a adoção do questionário poderia representar uma
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, texto economia significativa em termos do custo do seguro. Por
que enuncia um dos outro lado, outra parcela dos motoristas acabou sentindo,
princípios mais importantes e conhecidos do direito, que é no bolso, o peso de terem um perfil de risco mais elevado.
o da igualdade.O perfil chegou ao Brasil, para beneficiar o Lembro que aqui o segurado pode fazer o seguro sem o
consumidor, pois era conceito na época de os segurados Perfil, todavia arcara com um valor mais elevado a pagar.
mais cautelosos e zelosos deviam pagar menos o valor do Informo que tem uma seguradora em sua estatística de
seguro. A partir daí o cálculo do prêmio, levou a uma série indenizações que os veículos de cor Branca, são mais
de perguntas no intuito de beneficiar o mencionado roubados de os de cor Vermelha.
consumidor (a) e vieram para ficar. Não seria de se pensar em introduzir mais esse item no
O que gostaríamos é que o Perfil tivesse as Perfil para avaliação?
perguntas padronizadas por todas as seguradoras, não Em função de detalhes, o Ministério Público de
importando que uma utiliza 04 e outras 40 perguntas, mas São Paulo quer a anulação da cláusula perfil nos contratos
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Leoncio de Arruda
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Advogado
PERFIL DO SEGURADO:
Impactos na Contratação e na Indenização do Seguro
O tão incompreendido “Perfil”, que em verdade enquanto considerado em sua coletividade, mas, olhando
se cristaliza no chamado “Questionário de Avaliação de apenas a situação isolada, individualista, de cada
Risco”, representa o bonus para os segurados que se segurado, tentam “embananar” a inventiva, satanizando-a
expõem, e expõem terceiros, a um menor grau de risco, como que se ela fosse instrumento adrede da seguradora,
seja em freqüência seja em severidade, enquanto desprovido de lógica ou desconectado da boa técnica
representa o malus para os segurados de maior grau de atuarial. Nada mais equivocado, pois o “Perfil”, aqui
risco, dando, assim, uma idéia de corpo do risco a ser doravante denominado simplesmente “QAR”, é, para
examinado, assumido, taxado, ou recusado. efeito de aceitação e taxação na subscrição de riscos,
Trata-se, portanto, de importante ferramenta de instrumento que, vale sempre repetir, favorece com
justiça tarifária, permitida e utilizada nas legislações das prêmio mais justo aqueles segurados, na lógica
nações mais avançadas, e jamais vedada pelo direito mutualista do seguro, que se submetem à menor risco, em
pátrio, posto que mecanismo racional para uma justa racional detrimento daqueles que, técnica e
política de precificação da garantia do risco, perfeitamente atuarialmente, se mostrem detentores de um risco mais
harmonizada com a natureza própria do seguro, este que, gravoso dentro de uma mesma carteira.
consoante o artigo 757 do Código Civil, tem por apanágio Por tal mecanismo, binário, se pode conceder o
a delimitação objetiva e subjetiva do risco em toda sua bonus ou o malus. O bonus para os riscos mais magros, o
extensão no contrato, base na qual o segurador pode, malus para os riscos mais obesos, de maior teor calórico.
como gestor da mutualidade da qual faz parte cada O questionário, pois, faz justiça com aqueles que se
segurado, dimensionar sua responsabilidade e taxar expõem à menor risco, não permitindo que eles paguem a
adequadamente o prêmio, este que se constitui na função conta dos que têm um risco mais elevado. Nessa
do risco. distribuição, acaba-se fazendo também justiça com os
Afinal, seguro é essencialmente a técnica da próprios detentores de riscos maiores, porque estarão
coletividade, a solidariedade inteligente, que, na sua visão eles pagando o preço justo da garantia, além de
moderna de contrato de massa, consiste na diluição dos conscientizados de que, em situação outra inversa, o
riscos de uma comunidade onde cada qual assume uma critério lhes favorecerá. Mas de nada adiantaria o
pequena parcela dos prejuízos ou adversidades que o questionário, feito com acurácia atuarial e
outro venha a sofrer por infortúnio, estando, assim, cuidadosamente com prévia e clara advertência da perda
permanentemente a demandar instrumentos que do direito em caso de informação inverídica, inexata ou
objetivem uma repartição justa e proporcional dos custos, incompleta (arts. 1.443 e 1.444 do velho Código revogado
não sendo razoável que aquele que detém maior parcela e arts. 765 e 766 do vigente), e a conseqüente
do risco se beneficie com a mesma parcela dos custos racionalização do prêmio, se dele não pudesse resultar
daqueles que se submetem a menores riscos. Da mesma uma punição ao segurado que, com infringência ao
forma como não seria justo, nem razoável, digamos numa princípio da boa-fé, falseou as informações que lhe
comunidade condominial, que os proprietários das renderiam uma vantagem tarifária indevida.
unidades autônomas de quarto e sala, arcassem com a Nesse conseguinte, decisões que imputam ao
mesma taxa de condomínio que os proprietários das “QAR” a condição de informações inconseqüentes,
coberturas do mesmo prédio. menoscabam o princípio da boa-fé objetiva tão cantado e
Peço escusas pela metáfora, mas há os que decantado, em prosa e verso, com o advento do Código
ainda confundem seguro com banana, com visão apenas de Proteção ao Consumidor e mais recentemente o novo
parcial, vêem no “Perfil”, ou mais propriamente Código Civil, aliás já presente no velho Código
denominado “Questionário de Avaliação de Risco”, não particularmente no capítulo do seguro. Afinal, como
um instrumento, como realmente é, fruto da evolução saudosamente já decidiu o Supremo Tribunal Federal, "as
natural do seguro que a rigor só favorece o consumidor seguradoras se obrigam a se fiar nas informações do
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Ricardo Bechara Santos
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