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RISCO E CONTRATOS DE SEGUROS

É coerente afirmar que a sociedade progrediu pela soma de inúmeros fatores,


um deles foi a capacidade de lidar com o risco. Tal habilidade proporcionou que
o ser humano não mais se preocupasse com o futuro tão imprevisível, o que
resultou em grandes avanços às sociedades. A palavra "risco" deriva do italiano
antigo "risicare", que significa "ousar". Mediante isso, risco não é um destino
inalterável, e sim uma probabilidade que algo ocorrerá de acordo com nossas
ações, ações de terceiros, eventos naturais, clima e uma imensa quantidade de
fatores, ou seja, é encarado como um evento incerto que independe das partes.

A partir disso, a capacidade de definir o que pode vir a acontecer no futuro é


crítico para às sociedades contemporâneas. Administrar riscos auxilia na tomada
de decisão, que por sua vez, é essencial na atualidade. Seja para alocação de
recursos, planejamento militar ou familiar, da plantação no campo até o produto
final na mesa do consumidor, gerenciamento de riscos se tornou uma peça
importante dentro do sistema produtivo mundial.

A ciência atuarial possibilita estabelecer probabilidades com alto grau de certeza,


porém não permite saber com quem ocorrerão os sinistros. Por causa desta
incerteza que as pessoas ou empresas buscam proteção por meio de contratos
de seguros, que consiste em deixar a seguradora responsável pelo risco, logo,
proporcionando melhores condições de vida ou segurança para as empresas ou
pessoas contratantes. Em virtude disso, assumir riscos é um trabalho complexo,
pois, negligências por parte do contratado podem acarretar não só perdas
individuais, mas também dificulta o desenvolvimento econômico que todo um
país. (Arruda, 2017)

O Código Civil brasileiro prescreve em seu capítulo XV as disposições gerais


que um seguro deve seguir. No art. 757 da mesma lei, estabelece o a base do
funcionamento de um contrato de seguro, que consiste na obrigação por parte
do segurador, mediante pagamento do prêmio, a zelar pelos interesses do
segurado relativos à pessoa ou bem, contra riscos predeterminados no contrato.
Sendo assim, um contrato entre duas partes, segurado e segurador, onde este
necessita de autorização legal para exercer tal atividade econômica.
RISCO

De modo geral, o conceito de risco é a probabilidade de acontecer um sinistro,


ou seja, um evento incerto que independe das partes, que cause dano material,
pessoal ou de responsabilidades. O papel do seguro é transformar incerteza em
segurança, nesse sentido, as partes que detém os riscos preferem uma pequena
probabilidade de grande ganho invés de um grande ganho e grande
probabilidade de pequena perda.

Para que o seguro seja possível é necessário que o risco seja possível, futuro,
incerto, acidental, mensurável e causador de prejuízos. Necessita ser possível,
pois durante a análise da seguradora irá avaliar suas os atributos do risco afim
de gerencia-lo, se ele não for possível não existe motivo para existir o seguro;
precisa ser futuro, porque existem outras formas de lidar com problemas
presentes, o seguro não foi feito para lidar com problemas que já aconteceram
e sim os que podem acontecer; o risco precisa ser incerto, como dito
anteriormente, seguros tratam de sinistros que tem a probabilidade de acontecer,
não a certeza, também valendo ressaltar que, seguradoras podem recusar
clientes se constatarem que o risco é muito alto; o risco necessita ser
mensurável, a partir deste princípio, não é possível mensurar valor a coisas
inestimáveis, como obras de arte milenares; e por fim, o risco pode levar a
prejuízos materiais ou financeiros ao segurado.

De acordo com Arruda (2017), para efeito das operações de seguros, os riscos
podem ser classificados de diferentes formas, sendo que uma parcela deles não
é segurável. Eles são classificados em:

• Risco puro: é o risco em que só existem duas possibilidades: perder,


caso o sinistro ocorra, ou não perder, caso o sinistro não ocorra. Este risco
é presente em seguros automotivos, se o automóvel for roubado, o
proprietário perde, se não for, não perde. Seguros de vida também, pois
se alguém falecer, há perda, se não for, não há perda. Estes riscos são
seguráveis.
• Risco especulativo: é o risco que envolve as possibilidades de perder,
não perder ou ganhar. Este risco é presente em investimentos em renda
variável ou apostas de jogos de azar. Como em operações de derivativos
de mercado a termo, onde o comprador se compromete a pagar pelo ativo
financeiro e, consequentemente, o vendedor se compromete a entregar o
ativo a um determinado preço em determinada data a determinado preço.
Se na data de entrega do ativo seu preço estiver inferior ao preço de
mercado, o vendedor se prejudica. Se na data de entrega do ativo seu
preço estiver superior ao preço de mercado, o comprador se prejudica.
Pela sua natureza de grandes incertezas, este risco não é segurável.
• Risco particulares: é o risco que afeta apenas o indivíduo ou empresa
em particular, não a sociedade como um todo, este risco só assume duas
possibilidades: perder ou não perder. Seguros mobiliários em geral tem
possuem riscos particulares, como no caso de um incêndio. Esses riscos
são seguráveis.
• Risco fundamental: é o risco impessoal, decorrente de mutações sociais
e econômicas de grande impacto, afetando o coletivo, como perdas em
virtude de conflitos bélicos ou de inflação descontrolada. Esses riscos não
são seguráveis e o seu tratamento compete ao Governo.

Além disso, a Análise Preliminar de Riscos é uma das técnicas de gerenciamento


de risco mais usadas entre as seguradoras, se destacando pela amplitude de
utilização e aplicabilidade. Quando associada a uma matriz de risco, permite
estabelecer as situações críticas e definir prioridades de tratamento.

Um dos parâmetros utilizados em uma APR é a frequência e probabilidade de


ocorrência de sinistros. Logo, quando identificados os riscos, eles são
classificados avaliando sua frequência e severidade esperada para cada sinistro.
A partir desta classificação, é possível estabelecer prioridades perante o
tratamento do risco. Para seguradora, está ferramenta, em conjunto com o
cálculo atuarial, se tornam úteis para a mensuração e precificação do seguro,
além de identificar todos os riscos com clareza e dinamismo.

Portanto, o risco não é algo material nem depende da interpretação das pessoas.
Ele é algo abstrato criado pelo homem para ajudar na compreensão e manejo
dos perigos e incertezas. Esta percepção de risco é baseada na maneira na qual
cada um processa o risco. Alguns de maneira mais tranquila e outros de modo
mais temário, logo, o seguro serve como ferramenta de equilíbrio e segurança.
CONTRATOS DE SEGURO

O artigo 757 do Código Civil, define o contrato de seguro como um acordo formal
em que o segurador é obrigado, mediante pagamento de prêmio, a garantir os
interesses do seguro, relativo à pessoa ou ao bem segurado, contra riscos
predeterminados em contrato. Este que se baseia nas condições gerais,
condições especiais e condições particulares estabelecidas pelo Conselho
Nacional de Seguro Privados (CNSP) e a Superintendência de Seguros Privados
(SUSEP). Arruda (2016) define as condições contratuais em:

• Condições Gerais: são compostas pelas cláusulas contratuais comuns


a todas as modalidades e coberturas de um ramo de seguro, que definem
os direitos e deveres do segurado e do segurador. São cláusulas da
apólice que contém aplicação geral aos riscos da mesma natureza, sejam
estes referentes a ramos elementares ou seguros de vida.
• Condições Especiais: são o conjunto de disposições especificas
referente a cada modalidade ou cobertura de um ramo de seguro, tem o
poder de alterar as condições gerais, as restringindo ou ampliando.
• Condições Particulares: são compostas por cláusulas que modificam as
condições gerais e especiais de um ramo de seguro, alterando ou
excluindo determinadas disposições existentes, introduzindo novas
disposições e ampliando ou restringindo, quando necessário, a cobertura
da apólice.

Sendo assim, cada tipo de risco tem um contrato diferentes, com cláusulas
gerais, especiais e particulares, de acordo com a necessidade da modalidade. A
partir disto, cada segmento trata de uma observância especifica prescrita em
contrato, em especial as condições especiais, que norteiam e especificam a
maior parte dos contratos de seguros, pois mesmo dentro de uma mesma
modalidade, diferentes produtos apresentam suas peculiaridades e riscos
diferentes. Exemplo: seguros patrimoniais em geral se dividem em residenciais
e empresariais, ambos apresentam diferentes cláusulas sobre sinistros de baixa
frequência, cobertura da apólice em decorrência de determinados sinistros ou
percentual de perdas. Portanto, cada produto tem a finalidade de atender da
melhor maneira as necessidades do segurado com a transferência do risco.
Se entende que, o contrato de seguro não é aleatório, visto que as partes têm
conhecimento com antecedência noção sobre quem irá pagar ou receber em
caso de sinistro, este que é previsto no contrato. Não existe contrato sem um a
concordância de ambas as partes.

Ademais, com intuito de disseminar o processo de contratação e massificar a


comercialização de seletas modalidades de seguros, a apólice pode ser
dispensada e em seu lugar utilizar os bilhetes de seguros. Como é o caso do
Seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias
Terrestres (DPVAT).

Regulamentação do Setor

A atividade seguradora auxilia no desenvolvimento dos países em decorrência


de sua proteção às pessoas e empresas, suas características de poupança e
geração de investimentos na economia, pois as reservas técnicas que são
administradas pelas companhias de seguro estão aplicadas no mercado
financeiro.

O decreto de lei n°73/1966, reformulou a política nacional de seguros, que ainda


tinha traços que remetiam a época do império, e criou o Sistema Nacional de
Seguros Privados, e seus órgãos integram o Sistema Financeiro Nacional.

O conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), é o órgão coordenado pelo


Ministério da Economia, responsável por fixar as diretrizes e normas da política
de seguros privados do Brasil, exercendo poder normativo.

A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), é a autarquia vinculada ao


Ministério da Economia responsável pela regulação, fiscalização, supervisão,
controle, fiscalização e incentivos das atividades de seguro, previdência
complementar aberta, capitalização e resseguro.

A partir disso, suas atribuições lhe permitem fiscalizar a constituição e


funcionamento de operações das sociedades seguradoras, no cargo de
executora da política traçada pelo CNSP, sendo que, para um novo produto
(seguro) estar disponível para o mercado ele precisa ser aprovado
antecipadamente pela SUSEP; zelar pela liquidez e solvência das sociedades
que formam o mercado.
BIBLIOGRAFIA

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BERNSTEIN, Peter L.; Desafio aos Deuses: a fascinante história do risco. 1°


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ARRUDA, Henrique Furtado; Noções de Atuária. 1° edição, São Paulo – SP:


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SANTOS, Ricardo Bechara; Contrato de Seguro: aleatório ou comutativo?.


OABSP.ORG.BR, disponível em:
http://www.oabsp.org.br/comissoes2010/direito-securitario/artigos/Artigo
2.pdf/download

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