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RISCOS
Marcos Mazzaroppi
Revisão técnica:
Gisele Lozada
Graduada em Administração de Empresas
Especialista em Controladoria e Finanças
ISBN 978-85-9502-309-3
CDU 005.52:005.334
Introdução
De forma geral, os gestores precisam tomar decisões empresariais com
base em cenários que envolvem incertezas e riscos. A área de finanças
tem como objetivo auxiliá-los nessas decisões, estudando o risco
com base em modelos de precificação de ativos, risco e retornos. O
CAPM (Capital Asset Price Model) é um modelo de precificação criado
na década de 1960 e um dos mais utilizados até hoje.
Neste texto, você vai analisar o CAPM e outros modelos de preci-
ficação de ativo, como o APT (Arbitrage Price Theory) ou Teoria de
Precificação por Arbitragem e o multifatorial.
O modelo CAPM
O modelo CAPM (Capital Asset Price Modelo) é o modelo de precificação de
ativos mais utilizado em finanças, sendo base também para a construção de
outros modelos de precificação.
O CAPM possui diversas aplicações. Ele é muito utilizado no mercado
de capitais, auxiliando a análise para a tomada de decisão em condições que
envolvem risco. O modelo permite estimar a taxa de retorno requerida por um
investidor, calcular o custo de capital de uma empresa, medir e comparar a
relação entre risco e retorno de diversos investimentos, entre outras análises.
88 Modelo CAPM e teorias alternativas
Sendo:
Ri = a taxa de retorno (rentabilidade) esperada do ativo
Rf = o ativo livre de risco
ß = o coeficiente que mede a sensibilidade entre o ativo e o mercado
Rm = o retorno da carteira de mercado
Leia mais sobre a Teoria do Portfólio, também conhecida como Teoria da Carteira, no
capítulo 8 da obra Princípios de Finanças Corporativas (BREALEY; MYERS; ALLEN, 2013).
NTN-B (Nota do Tesouro Nacional série B), que é um título público federal
híbrido. Ele remunera o investidor de duas formas: uma parcela (cupom) fixa e
a variação da inflação no período (IPCA). O cupom dessa NTN-B representa
a expectativa, naquele momento, da taxa de juros real da economia brasileira,
isto é, a taxa de juros nominal descontada a inflação.
Outra forma de se estimar o ativo livre de risco no Brasil é por meio da
comparação entre risco e retorno com o título da dívida americana. Como a
economia brasileira é mais arriscada do que a dos Estados Unidos, a taxa do ativo
livre de risco do Brasil será igual à taxa do ativo livre de risco norte-americana
acrescida de um prêmio de risco chamado de risco-país (relativo ao Brasil).
https://goo.gl/PJLrUC
https://goo.gl/Hega4d
https://goo.gl/nX5qVy
Sendo:
Cov(Ri, Rm) = a covariância entre o retorno do ativo e o retorno da carteira
de mercado
σ2(Rm) = a variância da carteira de mercado
O beta, no CAPM, é a única medida de risco do ativo, sendo a relação entre
o risco do ativo e o risco do mercado. O risco do ativo é representado pela
covariância entre a série histórica de rentabilidade do ativo e a série histórica
de rentabilidade do mercado. Já o risco de mercado é o desvio padrão da série
histórica da rentabilidade da carteira de mercado.
A carteira de mercado representa o resultado do mercado em que esse ativo
se encontra. Caso o ativo seja uma empresa no ramo de petróleo, por exemplo,
a carteira de mercado irá representar o resultado de todas as empresas do setor
90 Modelo CAPM e teorias alternativas
O modelo APT
O modelo APT é uma alternativa ao CAPM. Ele foi elaborado em 1976 pelo
economista Stephen A. Ross. A maior diferença entre o APT e o CAPM está
ligada à forma como o APT estuda a relação de retorno entre os ativos, pres-
supondo que o retorno é resultado de diversos fatores. O CAPM, por sua vez,
estima com base somente na relação histórica da volatilidade entre o ativo e
o retorno da carteira de mercado (beta).
No APT, o retorno do ativo é baseado em fatores setoriais e gerais de mer-
cado. Assim, é reflexo tanto de causas internas na empresa como do impacto
de variáveis macroeconômicas.
Para facilitar a compreensão dessa teoria, você vai analisar agora o retorno
da ação de uma empresa que atua no setor de logística rodoviária (cargas com
caminhão). Você sabe como determinar qual será a taxa de retorno dessa ação
para o próximo ano?
A taxa de retorno de uma ação negociada no mercado financeiro pode ser
dividida em duas parcelas. A primeira é o retorno esperado dessa ação. Esse
é o retorno que os analistas preveem ou esperam que aconteça. Ele se baseia
em projeções da empresa e macroeconômicas. Nessa análise, são utilizadas
todas as informações disponíveis sobre a empresa.
A segunda parcela é o retorno inesperado da ação. Ele é fruto de infor-
mações de eventos que ocorreram ao longo do ano e que podem impactar
o resultado da empresa. Esses eventos podem ser internos ou externos,
como: preço do combustível, câmbio, acordo coletivo do salário de seus
funcionários, mudanças na taxa de juros, alterações na taxa de câmbio,
desempenho da economia (PIB), preço do seguro dos caminhões, política
comercial de seus concorrentes, aposentadoria de um gerente sênior, entre
outros.
Dessa maneira, é possível expressar que o retorno dessa empresa em um
ano será de
92 Modelo CAPM e teorias alternativas
Sendo:
R = o retorno efetivo
= o retorno esperado
U = o retorno inesperado
Alguns desses eventos são esperados pelos agentes no mercado finan-
ceiro. No Brasil, toda semana o Banco Central divulga o Boletim Focus,
que é um relatório que consolida as expectativas das principais variáveis
macroeconômicas – PIB, taxa de juros, inflação e câmbio – e dos agen-
tes econômicos para os próximos períodos. Dessa forma, até que ponto a
informação do PIB, a inflação e uma alteração na taxa de juros não era
esperada pelos analistas?
https://goo.gl/j0Nu1D
Sendo:
R = o retorno efetivo
= o retorno esperado
m = o risco sistemático
ɛ = o risco não sistemático
O risco sistemático é o risco que afeta todos os ativos (ou grande parte),
variando apenas na intensidade. O risco não sistemático é o risco que afeta
apenas um ativo ou uma pequena quantidade de ativos.
O risco não sistemático é específico para cada empresa. Logo, caso a
correlação entre duas empresas seja igual a zero, esse risco pode ser anulado
por meio do processo de diversificação.
O ponto-chave do APT, que o diferencia da abordagem do CAPM, está
ligado à parte do risco sistemático e do coeficiente beta.
Você pode considerar como exemplo do risco sistemático uma alteração
na taxa de câmbio do país.
A alteração na taxa de câmbio irá impactar quase todas as empresas do
país, em proporções diferentes. Empresas que possuem atividades ligadas à
exportação e à importação terão alto grau de impacto, enquanto outras só
serão impactadas de forma indireta.
É possível representar essa influência da taxa de câmbio sobre uma ação
(risco sistemático) como o coeficiente beta. Esse coeficiente irá medir a sen-
sibilidade da ação a esse risco sistemático. Caso uma empresa possua impacto
positivo quando há um aumento na taxa de câmbio, ela terá um beta positivo.
Já empresas que têm resultados negativos terão um beta negativo.
Dessa forma, o retorno efetivo de uma ação pode ser expresso da seguinte
forma, sendo ßCâmbio o coeficiente que mede o risco sistemático e FCâmbio a
surpresa na taxa de câmbio:
Sendo:
R = o retorno efetivo
= o retorno esperado
ßCâmbio = o coeficiente de sensibilidade à taxa de câmbio
FCâmbio = a surpresa na taxa de câmbio
ɛ = o risco não sistemático
94 Modelo CAPM e teorias alternativas
Modelo multifator
O modelo APT, por segmentar o impacto de surpresas no risco sistemático,
pode ter diversos coeficientes betas, de forma a explicar melhor a relação do
risco no retorno esperado de uma ação. Nisso ele difere do modelo CAPM,
que possui apenas um coeficiente beta.
No exemplo anterior, o risco sistemático foi exemplificado apenas pela
variação não esperada na taxa de câmbio. Porém, além do câmbio, existem
diversos outros fatores de risco que afetam todas as empresas.
Somente analisando os agregados macroeconômicos, você pode identi-
ficar que, além do câmbio, a taxa de juros, a inflação e o nível de atividade
econômica (PIB) podem impactar todas as empresas, sendo então o risco
sistemático.
Dessa forma, é possível expressar o modelo como
Sendo:
R = o retorno efetivo
= o retorno esperado
ßCâmbio = o coeficiente de sensibilidade à taxa de câmbio
FCâmbio = a surpresa na taxa de câmbio
ßInflação o coeficiente de sensibilidade à inflação
FInflação = a surpresa na inflação
ßTaxa de Juros = o coeficiente de sensibilidade à taxa de juros
FTaxa de Juros = a surpresa na taxa de juros
ßPIB = o coeficiente de sensibilidade ao PIB
FPIB = a surpresa no PIB
ɛ = o risco não sistemático
Modelo CAPM e teorias alternativas 95
O modelo APT permite especificar o risco sistemático de diversas formas, porém você
deve ter cautela com essas especificações. Afinal, para cada coeficiente beta que incluir
em seu modelo para explicar o retorno de uma variável, haverá mais um ponto de
atenção e cautela na sua análise.
Além disso, você deve ter cuidado para não sobrepor os parâmetros de risco. Nesse
sentido, algumas variáveis podem ter relação de causa e efeito entre elas. Isso ocorre,
por exemplo, com a taxa de juros e a inflação, que ceteris paribus (tudo mais constante)
se movem de forma correlacionada.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Focus: relatório de mercado. Brasília, DF, 2018. Dispo-
nível em: <http://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/readout.asp>. Acesso
em: 15 jan. 2018.
BREALEY, R. A.; MYERS, S. C.; ALLEN, F. Princípios de finanças corporativas. 10. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2013.
MARKOWITZ, H. Portfolio selection. The Journal of Finance, v. 7, n. 1, p. 77-91, Mar.
1952. Disponível em: <https://www.math.ust.hk/~maykwok/courses/ma362/07F/
markowitz_JF.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. D. Administração financeira. 8. ed. São
Paulo: McGraw-Hill, 2008.
Leituras recomendadas
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
DAMODARAN, A. Investment valuation. 2nd ed. New York: John Wiley, 2002.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2002.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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