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1. INTRODUÇÃO

O que é Econometria?

Econometria significa “medida econômica”.

Em um sentido mais amplo, econometria é ciência que


permite verificar, empiricamente, hipóteses
formuladas pela teoria econômica.

Pode ser encarada como uma sub-área


tanto da estatística quanto da economia.

Econometria Financeira
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Modelo Econômico

Exemplo 1.1 - Seja Y o gasto de um indivíduo com um bem


e seja X a renda deste indivíduo.
A teoria econômica postula uma relação direta entre
Y e X. Ou seja, pressupõe que Y = f(X), sendo f uma
função crescente.
Esta equação é um modelo econômico.
Exemplo 1.2 - Outro modelo econômico.
Teoria: a quantidade demandada Q de um bem normal
possui relação inversa com seu preço P.
O modelo aqui é Q = f(P), sendo f decrescente.

Modelos econômicos orientam escolhas, análises e


políticas econômicas.

Especificar esses modelos de forma realista demanda um


sólido conhecimento da área.

No exemplo 1.1, o modelo proposto é muito ingênuo,


uma vez que, claramente, a renda não é o único fator
que influencia o gasto.

Especificar modelos econômicos teoricamente


fundamentados é função do economista.

Econometria Financeira
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Modelo Econométrico

Entretanto, para a maioria dos problemas de decisão na


área econômica, não é suficiente saber quais variáveis
estão relacionadas, e/ou o sentido em que se dá esta
relação.

É necessário quantificar esta relação.

Ou, em outras palavras, medir o quanto uma


mudança em uma variável afetaria a outra!

Aqui entra o econometrista!

Para avaliar e mensurar relações entre variáveis


econômicas, é preciso estimar um
modelo econométrico.

Um modelo econométrico incorpora ao modelo


econômico o fato de que relações econômicas,
na prática, não são exatas, havendo sempre
alguma dose de incerteza (fatores que afetam o
comportamento individual de cada agente).

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Modelo Econômico x Econométrico


Exemplo de modelo econômico:
Y = β0 + β1X.

Exemplo de modelo econométrico:

Y = β0 + β1X + erro.

Este é um modelo de regressão linear, já apresentado


no curso de estatística e introdução à econometria dos
mercados.

Coeficientes dos modelos = parâmetros.


No exemplo 1.1, o parâmetro β1 é chamado propensão
marginal a consumir (o bem).

Os parâmetros econômicos podem ser estimados a partir


de uma amostra de observações das variáveis envolvidas.

No exemplo 1.1, o método usual para


estimar β1 é o dos Mínimos Quadrados.

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As estimativas dos parâmetros podem ser


utilizadas para responder questões relevantes e
testar hipóteses econômicas.

Por exemplo:
- Um aumento da taxa de juros de fato
contribui para a redução da inflação, como
supõe a teoria monetarista convencional?
- O impacto do preço do tomate sobre a
demanda é proporcionalmente igual, maior ou
menor que a variação no preço?

Econometria Financeira

Agora que sabemos o que é econometria, o que


significa econometria financeira?

R: é a mesma coisa, só que relacionada a hipóteses da


teoria de finanças a respeito de dados financeiros
(preços, retornos, etc.).

Um aspecto particular da econometria financeira é a


importância da previsão (de uma série e/ou de sua
volatilidade).

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Um interesse óbvio seria a previsão do preço


de um ativo financeiro, ou da variação do preço, isto é,
seu retorno.

A econometria ajuda a compreender de maneira


formal porque isto não é possível (embora seja possível
prever o risco!).

Um passo preliminar é compreender


bem o conceito de retorno financeiro.

Retorno Financeiro

É a variação (relativa ou percentual) do


preço de um ativo entre t-1 e t:

Pt − Pt −1
Rt = .
Pt −1

(para a forma percentual, basta multiplicar


por 100%)

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Retorno Logarítimico ou Log-Retorno

É a forma mais comum para se calcular o retorno de um


ativo, dada pela fórmula:

 P 
R t = ln t .
 Pt −1 

(para a forma percentual,


basta multiplicar por 100%)

O log-retorno é uma aproximação, baseada no


resultado: x ≅ ln(x+1), quando x assume um valor
pequeno.

Pt − Pt −1 P
Fazendo: x = Rt = = t −1 ,
Pt −1 Pt −1

 P    P 
Tem-se: R t ≅ ln  t − 1 + 1 = ln t .
  Pt −1    Pt −1 

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Por Que Trabalhar com Log-Retornos?

1) Se a variação de preços entre t-1 e t é baixa (o que


ocorre com dados diários, por exemplo), a aproximação
funciona bem.

2) O log-retorno composto (entre 1 e t):

P 
R t = ln t 
 P1 
pode ser obtido somando-se os retornos simples a cada
período, facilitando a conta.

Por Que Trabalhar com Log-Retornos?

Prova de 2):

R t + R t −1 + ... + R 3 + R 2 =
 P  P  P  P 
ln t  + ln t −1  + ... + ln 3  + ln 2  =
 Pt −1   Pt − 2   P2   P1 
 P P P P  P 
ln t t −1 ... 3 2  = ln t .
 Pt −1 Pt − 2 P2 P1   P1 

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Por Que Trabalhar com Log-Retornos?

3) O ajuste à distribuição Normal é usualmente melhor


que o da forma exata.

O uso da distribuição Normal facilita bastante a


estimação de parâmetros.

Qualquer tentativa de prever retornos no longo prazo


será frustrada, infelizmente...

Porém, os quadrados dos retornos de séries financeiras


costumam apresentar estrutura de dependência, o que
torna possível prever o desvio padrão deles, ou a sua
volatilidade.

Há muita estatística nestas análises.


Passamos então a uma breve revisão de conceitos da
disciplina de estatística.

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2. REVISÃO DE ESTATÍSTICA

Variância e Desvio Padrão

A variância de um conjunto de dados é uma medida


de dispersão dada pela média dos quadrados dos
desvios em relação à média µ:
n

∑ (x i
− µ) 2
σ2 = i =1
.
n
Exemplo 2.1 – Calcule a variância da série de retornos:
x1 = 2%, x2 = 5% e x3 = 8%.
(converta os valores para 0,02, 0,05 e 0,08)
R: σ2 = 0,0006 ou 0,06%.

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Variância e Desvio Padrão

O desvio padrão é a raiz quadrada da variância:

σ = σ2 .

No exemplo 2.1, o desvio padrão é 0,0245 0u 2,45%.

Se o objetivo final for o desvio padrão, pode- se


trabalhar diretamente com os valores em percentuais
(no caso do exemplo, 2, 5 e 8).

Variância e Desvio Padrão

Isto ocorre porque o desvio padrão é expresso na


mesma unidade das observações originais (no caso,
%). Esta é uma das razões pelas quais é mais usual
trabalhar com σ do que com σ2 para representar a
dispersão de uma série.

No contexto de séries financeiras, o desvio padrão é


referido como a volatilidade da série.

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Variância e Desvio Padrão


A curva mais clara (ação B) oscila em torno de
um patamar superior àquele em torno do qual Em compensação, a flutuação dos retornos da
oscilam os retornos da ação A → maior retorno ação B é maior → maior volatilidade.
esperado.
RETORNOS DIÁRIOS DE 2 AÇÕES
12
10
8
6
4 Ação A
2
Ação B
0
1

13

17

21

25

29

33

37

41

45

49
-2
-4
-6
-8
média da
média da DIAS
ação B
ação A

Variância e Desvio Padrão

Forma alternativa para o cálculo de σ2:


n

∑x 2
i
σ2 = i =1
− µ2.
n
Uma hipótese usual sobre retornos financeiros é que,
no longo prazo, sua média seja zero.
n

Neste caso, considera-se a seguinte ∑x 2


i
aproximação para a variância: σ2 ≅ i =1
.
n

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Hipóteses Estatísticas

Uma hipótese estatística é uma afirmação a respeito


de um parâmetro da população.

Exemplo 2.2 - Imagine a seguinte hipótese sobre os


alunos desta turma (supostamente grande): “µ (que
representa a altura média dos alunos da turma toda) é
igual a 175 cm”.

Esta hipótese de igualdade é chamada hipótese nula


e representada por H0.

Ela pode ser investigada a partir de uma


amostra (= subconjunto da população).

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Se a amostra fornecer evidência contra H0 (por exemplo,


uma média amostral muito grande ou pequena), então
deve-se tomar a decisão de rejeitar esta hipótese.

Neste caso, aceitamos uma hipótese que é chamada de


alternativa, denotada por H1.

H1 contradiz o que se afirma em H0.


No exemplo, teríamos H1: µ ≠ 175.

O Erro Tipo I é aquele que consiste em rejeitar H0,


quando ela é verdadeira.

A probabilidade de cometer este erro é denotada por


α, e se chama nível de significância. Ela é fixada a
priori, em um destes três valores: 0,01, 0,05 ou 0,1.

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Testes de Hipóteses

O nível de significância mais usual é 0,05.

Há 3 métodos para testar hipóteses: intervalo de


confiança, região crítica e p-valor.

Porém, para testar hipóteses associadas a um


modelo econométrico estimado (por exemplo, uma
regressão linear), a partir da saída de um software
(por exemplo, o Excel), o método mais adequado é
o do p-valor.

Testes de Hipóteses

Para testar hipóteses a partir do p-valor, aplica-se a


seguinte regra de decisão:

Se p-valor ≤ α ⇒ rejeitamos H0
se p-valor > α ⇒ não rejeitamos H0

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Covariância e Correlação

A covariância é uma medida que fornece o sinal


de uma relação linear entre X e Y.

Fórmula da covariância de uma amostra:

∑ (X i − X )(Yi − Y )
SXY = i =1
.
n −1

Covariância e Correlação

Exemplo 2.3 – Seja uma amostra de 3 alunos cujos


números X de faltas a um curso e notas Y obtidas em
uma prova são:
X Y
Aluno 1 4 3
Aluno 2 4 4
Aluno 3 1 8

Calcule a covariância entre as faltas e as notas dos


alunos.
R: SXY = -4,5.

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SXY > 0: SXY < 0: SXY = 0:

Uma medida da força desta relação é dada pelo


coeficiente de correlação.

Coeficiente de Correlação

O coeficiente de correlação é um número entre -1 e


1, que mede a força da associação linear entre X e
Y.

Fórmula da correlação de uma amostra:

SXY
rXY = .
SX SY desvios
-padrão

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Interpretação da Correlação

Se a relação linear entre X e Y for positiva (negativa), a


correlação está entre 0 e 1 (-1).

Neste caso, quanto maior a intensidade da


associação, mais próximo ρXY está de 1 (-1).

Por exemplo, um coeficiente de correlação igual a 0,95


(-0,1) indica uma relação linear positiva (negativa) e
forte (fraca) entre X e Y.

Covariância e Correlação

Um ponto importante a ser recordado é que uma


correlação alta reflete apenas uma relação
matemática, não significando que necessariamente
uma variável causa a outra.

Exemplo 2.3 - Uma correlação alta entre vendas de


cerveja e suicídios por afogamento deve significar
que as pessoas costumam se afogar porque
“encheram a cara” de cerveja?

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Distribuição Normal

Exemplo 2.4 - Seja uma v.a. X que siga distribuição


Normal, com média µ = 170 e desvio padrão σ = 5.

Qual a probabilidade de que X esteja situada entre


170 e 172,3 cm?

Distribuição Normal

Solução: Para calcular a probabilidade solicitada,


usaremos a tabela Normal.

A tabela Normal não fornece diretamente as


probabilidades associadas à v.a. X de interesse, mas
sim à v.a. Z, definida a partir da seguinte
transformação de X:
X −µ
Z= .
σ
Esta v.a. é chamada Normal Padrão.

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Distribuição Normal

P(170 < X < 172,3) =


 170 − µ X − µ 172,3 − µ 
P < < =
 σ σ σ 
 170 − 170 172,3 − 170 
P <Z< =
 5 5 
= P(0 < Z < 0,46).

P(0<Z<0,46) é encontrada na tabela, conforme


ilustrado no slide seguinte.

Distribuição Normal

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Distribuição Normal

Seja zα o valor de uma variável aleatória Normal


padrão, tal que P(Z ≥ z) = α.

Alguns valores importantes de zα são:


z0,005 = 2,575
z0,01 = 2,33
z0,025 = 1,96
z0,05 = 1,645
z0,1 = 1,28

Vamos exemplificar como achar z0,025

Distribuição Normal

Para encontrar z0,025, deve-se buscar na tabela o valor


k correspondente à probabilidade 0,475:
k

Assim: z0,025 = 1,96.

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3. REGRESSÃO LINEAR SIMPLES E


MÚLTIPLA

Correlação x Regressão

Quando estudamos a correlação entre duas variáveis,


não pensamos na eventual relação de
causalidade (causa → efeito) entre elas.

Na análise de regressão, isto é importante.

Pressupõe-se que o comportamento de uma das variáveis


(X) possa explicar - ao menos de forma parcial - o
comportamento da outra (Y).

Econometria Financeira
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A relação de associação entre X e Y pode então ser


representada pela função:

Y = β0 + β1X,

sendo β0 o intercepto e β1 a inclinação.

Se a relação acima fosse perfeita, poderíamos, a partir do


valor de X, determinar o valor exato de Y.

Na prática, entretanto, a relação linear entre X e Y


não será perfeita.

Isto é, se X for a renda de uma família, o gasto com


alimentação Y desta família não será necessariamente
Y = β0 + β1X.

É para isto que serve o termo de erro, que aqui


será designado pela letra ε.

Econometria Financeira
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Modelo de Regressão Linear

Y = β0 + β1X + ε

Y é a variável dependente
X é a variável explicativa
β0 e β1 são os parâmetros do modelo
ε é o erro, que representa todos os demais fatores que
podem influenciar Y, além de X.

Reta de Regressão (Teórica)

Representa o valor esperado de Y em função de X


(supõe-se que E(ε) = 0):

E(Y) = β0 + β1X

Os parâmetros β0 e β1 precisam ser estimados


(veremos um método para isto).

Econometria Financeira
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Interpretação do Intercepto β0

Se fizermos X = 0 na reta de regressão:

E(Y) = β0

β0 representa o valor esperado de Y, quando X


assume o valor zero.

Interpretação da Inclinação

β1 é a variação esperada em Y quando X varia uma


unidade.

Econometria Financeira
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Prova: considere que X aumente uma unidade


(X → X+1), e analisemos o efeito sobre Y.

Seja Y1 o valor de Y em resposta a X:

Y1 = β0 + β1X + ε1,

e seja Y2 o valor de Y em resposta a (X+1):

Y2 = β0 + β1(X+1) + ε2.

Fazendo ∆Y = Y2-Y1
(variação em Y), temos:

∆Y =

[β0 + β1(X+1) + ε2] - (β0 + β1X + ε1) =


β0 + β1X + β1+ ε2 - β0 - β1X - ε1 =
β1 + ε2 - ε1.

Econometria Financeira
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Mas E(ε1) = E(ε2) = 0, e assim:

E(∆Y) = β1.

Ou seja, β1 é, de fato, a variação esperada em Y,


quando X varia uma unidade.

Reta de Regressão Estimada/Ajustada

As estimativas de β0 e β1 serão utilizadas para obter a


reta estimada ou ajustada:

Ŷ = βˆ 0 + βˆ 1X

estimativa de E(Y) = previsão de Y.

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Resíduos

Os resíduos da regressão são definidos da


seguinte forma:

{εˆ i = Yi − Ŷi , i = 1, 2, ..., n}

i-ésima Ŷi = βˆ 0 + βˆ 1X i
observação de Y

É imediato notar que, quanto menores os resíduos,


melhor será o modelo.

Esta é a idéia do método dos mínimos quadrados


ordinários (MQO), utilizado para estimar os
coeficientes β0 e β1 do modelo.

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Estimação dos Coeficientes por MQO

O método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO)


consiste em obter as estimativas de β0 e β1 que
minimizam a soma dos quadrados dos resíduos:

n
∑ εˆ i2 ,
i =1

o que resulta nas seguintes fórmulas:

Estimativas de MQO de β0 e β1

n
∑(Xi − X)(Yi − Y) SXY ˆ
βˆ1 = i=1 n
= 2
, β0 = Y − βˆ1X.
SX
∑(Xi − X)2
i=1

a estimativa de β1 não é igual à correlação amostral (rXY),


mas tem o mesmo sinal dela

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Exercício 3.1

Sejam 3 alunos cujos números X de faltas e notas Y na


prova foram:
X Y
Aluno 1 4 3
Aluno 2 4 4
Aluno 3 1 8

Estime um modelo de regressão para explicar Y a


partir de X.

R : Ŷ = 9,5 − 1,5X.

Exemplo 3.1
O seguinte modelo (excel) relaciona Y = gasto com
alimentação e X = renda semanal de uma amostra de 40
famílias:
Estatística de regressão
R múltiplo 0,937608458 Dados no arquivo
R-Quadrado 0,879109621
R-quadrado ajustado 0,875928295 ALIM_RENDA.xlsx
Erro padrão 4,81040437
Observações 40

ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 1 6394,37439 6394,374 276,3343605 5,02495E-19
Resíduo 38 879,319628 23,13999
Total 39 7273,69402

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores


Interseção -13,3248381 4,45111079 -2,993598 0,004827374 -22,33564114 -4,314035109
Variável X 1 0,515720938 0,03102397 16,62331 5,02495E-19 0,452916199 0,578525676

Econometria Financeira
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a) O que a reta de regressão ajustada permite concluir


para famílias que ganham R$ 100,00?
R: O gasto médio com alimentação de famílias com esta
renda, ou o gasto esperado com alimentação para
famílias com esta renda é:

Ŷ = −13,3248 + 0,5157 *100 = 38,24.

b) Se a renda familiar aumenta R$1,00, o que ocorre com


o gasto com alimentação?

R: Espera-se que o gasto com alimentação aumente


R$0,5157, ou: o gasto esperado com alimentação
aumenta R$0,5157.

Obs - se a renda aumenta R$100,00, o gasto esperado com


alimentação aumenta R$51,57.

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R² ou Coeficiente de Determinação

Uma das quantidades mais importantes na análise de


um modelo de regressão é o R2.

Ele informa qual a proporção da variação total de Y que


o modelo consegue explicar.

Identificando o R2 no exemplo 3.1:

Estatística de regressão
R múltiplo 0,937608458
R-Quadrado 0,879109621
R2
R-quadrado ajustado 0,875928295 O modelo consegue
Erro padrão 4,81040437
Observações 40 explicar 87,91% da
variação de Y (bastante).
ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 1 6394,37439 6394,374 276,3343605 5,02495E-19
Resíduo 38 879,319628 23,13999
Total 39 7273,69402

O R 2 éCoeficientes
igualErroao quadrado
padrão Stat t valor-P da95%
correlação
inferiores 95% superiores
Interseção -13,3248381 4,45111079 -2,993598 0,004827374 -22,33564114 -4,314035109
Variável X 1 0,515720938 0,03102397 16,62331 5,02495E-19 0,452916199 2
0,578525676
amostral, denotada por rXY , daí o nome R .

Econometria Financeira
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Teste de Significância

O teste da significância da estimativa de β1 é:

H0: β1 = 0 x H1: β1 ≠ 0.

Este teste é também chamado de teste de significância da


regressão, pois se β1 = 0:

Y = β0 + ε ⇒ não há relação linear entre Y e X.

Estatística de regressão p-valor do teste de H0: β1 = 0 x H1: β1


R múltiplo
R-Quadrado
0,937608458
0,879109621
≠ 0. Como o p-valor é menor do que
R-quadrado ajustado 0,875928295 α = 0,01 (e, portanto, do que 0,05 e
Erro padrão 4,81040437
Observações 40 0,1), rejeita-se H0 aos níveis usuais.
ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 1 6394,37439 6394,374 276,3343605 5,02495E-19
Resíduo 38 879,319628 23,13999
Total 39 7273,69402

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores


Interseção -13,3248381 4,45111079 -2,993598 0,004827374 -22,33564114 -4,314035109
Variável X 1 0,515720938 0,03102397 16,62331 5,02495E-19 0,452916199 0,578525676

Econometria Financeira
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CAPM – Capital Asset Pricing Model

Proposto por William Sharpe, em 1964.

Primeiro, uma definição importante: o prêmio de risco


de um ativo é a diferença entre o valor esperado de seu
retorno Y e o retorno de um investimento sem risco rf:

E (Y) − rf .

RETORNOS DIÁRIOS DE 2 AÇÕES

12
10
8
6
4 Ação A
2
Ação B
0
1

13

17

21

25

29

33

37

41

45

49

-2
-4
-6
-8
média da
média da DIAS
ação B
ação A

Econometria Financeira
37

Seja X o retorno de uma carteira de mercado. O CAPM


estabelece a seguinte relação entre o prêmio de risco
de um ativo e o prêmio de risco do mercado:

retorno livre
de risco
E(Y) − rf = β(E(X) − rf ).

beta do ativo retorno esperado


retorno
do mercado
esperado
do ativo

O beta mede o risco de mercado (ou sistemático) do ativo,


ou seja, a parcela do risco que a diversificação não elimina.

- Se β = 1, o ativo acompanha o mercado.


- Se β > 1, o ativo é muito sensível às variações do mercado
⇒ ativo agressivo.
- Se β < 1, o ativo é pouco sensível às variações do mercado
⇒ ativo defensivo.

Econometria Financeira
38

Exemplo 3.2 - Em certo mercado, a taxa livre de risco é


4%, o prêmio de risco de mercado é 8,6% e as ações das
empresas de determinado setor possuem beta 1,3. Com
base no CAPM, qual o prêmio de risco e o retorno
esperado das ações deste setor?

R: respectivamente 11,18 e 15,18%.

Na prática, o que realmente interessa é o beta.

Para estimar o beta, deve-se representar o CAPM na


sua forma estimável, chamada Modelo de Mercado
(Market Model):

(Y-rf) = α + β(X-rf) + ε.

Como vimos, a teoria indica que α = 0, portanto, em


geral, cairemos em uma regressão pela origem, no
qual β1 é o β.

Econometria Financeira
39

Uma regressão simples dificilmente explicará bem uma


variável econômica ou financeira.
Por exemplo, será que o tamanho da família não interfere
no gasto com alimentação?

A omissão de uma variável explicativa relevante, além de


comprometer o ajuste do modelo, pode conduzir a
estimativas erradas.

Por exemplo, considere a situação do exemplo 2.3:


vendas de cerveja x suicídios por afogamento. Se
“forçarmos a barra” e estimarmos um modelo de
regressão:
a) Qual será o resultado?
b) Qual importante variável terá sido omitida?
c) O que ocorrerá quando essa variável entrar?

Uma situação como essa conduz a estimar um modelo


de regressão linear múltipla.

Econometria Financeira
40

Modelo de Regressão Linear Múltipla

Y = β0 + β1X + β2X2 +...+ βkXk + ε

O que muda na interpretação dos coeficientes?

βj é a variação esperada em Y quando Xj varia uma


unidade, se as demais variáveis explicativas
permanecem constantes.

Exemplo 5.1

Seja o modelo do exemplo 3.1, ao qual agora é


incorporada a variável explicativa, X2 = tamanho da
família.

A reta de regressão estimada foi:

Ŷ = −16,38 + 0,2608X1 + 9,6512X 2 .

O coeficiente de X2 mede o impacto do tamanho da


família sobre o gasto, para famílias que possuam a mesma
renda.

Econometria Financeira
41

Teste F de Significância Conjunta


O teste F para a significância conjunta das estimativas de
β1, β2, ... e βk, consiste nas seguintes hipóteses:

H0: β1 = β2 = ... = βk = 0
x
H1: ao menos um βj é diferente de zero.

No modelo de regressão múltipla, o teste F é mais


confiável do que o teste t, pois é difícil isolar o impacto
individual de cada variável.

Exemplo 3.1 (cont.)


Estatística de regressão
R múltiplo 0,972032693
R-Quadrado 0,944847557
0,941866343
R-quadrado ajustado P-valor do teste F.
Erro padrão 3,292752067
Observações 40

ANOVA
gl SQ MQ F F de significação
Regressão 2 6872,532024 3436,266012 316,9339143 5,23538E-24
Resíduo 37 401,1619984 10,84221617
Total 39 7273,694022

Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superiores


Interseção -16,38292449 3,081416164 -5,316686749 5,28353E-06 -22,62646061 -10,13938837
Variável X 1 0,260849877 0,043862535 5,946985831 7,40728E-07 0,171976025 0,349723729
Variável X 2 9,651225335 1,453302236 6,640893472 8,57007E-08 6,706558169 12,5958925

Todos os coeficientes são


individualmente significantes.

Econometria Financeira
42

4. PREVISÃO DE SÉRIES TEMPORAIS:


CONCEITOS E MÉTODOS

Previsão de Séries Temporais

Uma série temporal é um conjunto de observações no


tempo: {Y1, Y2, ..., YT}.

A previsão feita no instante t (origem) para k passos à


frente (horizonte) é denotada por:

Ŷt + k |t

Existem diversos métodos para fazer previsões.


A seguir, são apresentados os mais importantes.

Econometria Financeira
43

Método Ingênuo

Consiste em utilizar como previsão a observação mais


recente da série, ou seja:

Ŷt +1|t = Yt

O método ingênuo é muito usado para previsão de


preços no mercado financeiro.

Exemplo 4.1

O número de itens defeituosos em uma linha de


produção foi registrado ao longo de 4 semanas,
resultando na série temporal:

Y1 = 24, Y2 = 8, Y3 = 12 e Y4 = 16.

Determine a previsão 1 passo à frente desta série,


fornecida pelo método ingênuo.

R: 16.

Que crítica óbvia pode ser feita a este método?

Econometria Financeira
44

Método da Média Móvel

Consiste em utilizar como previsão as L observações


mais recentes da série, ou seja:

Yt + Yt −1 + ... + Yt −( L −1)
Ŷt +1|t = ,
L
sendo L o tamanho da janela de previsão.

Exemplo 4.2

Considere a série temporal do exemplo 4.1, repetida


a seguir por conveniência:

Y1 = 24, Y2 = 8, Y3 = 12 e Y4 = 16.

Determine a previsão 1 passo à frente desta série


utilizando o método da média móvel. Considere o
tamanho da janela L = 3.

R: 12.

Econometria Financeira
45

Principal crítica ao método da média móvel:

Atribui pesos iguais a todas as observações que


pertencem à janela.

É intuitivamente mais razoável atribuir maior


importância às informações mais recentes...

Para contornar esse problema, surge o método do


amortecimento exponencial.

Amortecimento Exponencial

É o mais popular dentre os métodos de previsão.

Sua aplicação consiste em conduzir previsões a partir da


seguinte fórmula:

Ŷt +1|t = (1 − λ )Yt + λŶt|t −1 ,

reação a choques persistência

em que λ∈(0,1) é a constante de amortecimento.

Econometria Financeira
46

Obs - por que o método se chama


amortecimento exponencial?

Porque é possível escrever a função de previsão do


amortecimento exponencial como uma soma ponderada
das observações passadas, cujos pesos são
exponencialmente decrescentes:

Ŷt +1|t = (1 − λ )[Yt + λYt −1 + λ2 Yt − 2 + ...].

Quanto maior λ, mais suave é o decaimento.

Problema: a aplicação da fórmula requer o


conhecimento da previsão para t = 1 dado o valor em
t= 0,

Ŷ1|0 .
Hipótese usual:
Ŷ1|0 = Y1.

Econometria Financeira
47

Exemplo 4.3

Considere a série temporal dos exemplos 41 e 4.2,


repetida a seguir por conveniência:

Y1 = 24, Y2 = 8, Y3 = 12 e Y4 = 16.

Determine a previsão 1 passo à frente desta série


utilizando o método do amortecimento exponencial.
Considere a constante de amortecimento λ = 0,25.

R: 15.

Previsão para k passos à frente (k>1)

Para a previsão 2 passos à frente, utiliza-se a previsão


1 passo à frente no lugar de yt+1, e calcula-se a
previsão (em t+1) para t+2.

Para a previsão 3 passos à frente, utiliza-se as


previsões 1 e 2 passos à frente (já obtidas) no lugar
de yt+1 e yt+2, respectivamente, e calcula-se a previsão
(em t+2) para t+3.

E assim por diante...

Econometria Financeira
48

Exemplo 4.4 - Considerando a série e os métodos adotados


nos exemplos 4.1 a 4.3, determine as previsões para t = 6,
com origem em t = 4, ou seja: Ŷ6|4 .

R:

Ŷ5|4 Ŷ6|4
Método Ingênuo 16 16
Método da Média Móvel 12 13,33
Amortecimento Exponencial 15 15

Erros de Previsão

Uma questão importante a ser respondida é: qual


método forneceu as melhores previsões?

A resposta imediata é: aquele que tiver errado


menos em relação aos valores observados.

Define-se então o erro de previsão k passos à frente:

e t + k|t = Ŷt + k|t − Yt + k .

Econometria Financeira
49

Exemplo 4.5 - Considere a série e os métodos adotados


nos exemplos 4.1 a 4.3, e que as observações nos
instantes t = 5 e t = 6 tenham sido: Y5 = 17 e Y6 = 15.

Determine os erros dessas previsões.

R:
e 5|4 e 6|4
Método Ingênuo -1 1
Método da Média Móvel -5 -1,67
Amortecimento Exponencial -2 0

Medidas da Qualidade das Previsões

Se compararmos os modelos partir da média dos erros de


previsão, caímos no problema de que erros positivos e
negativos se compensam. Em particular, o método ingênuo
terá média zero.
Definem-se então as seguintes medidas de qualidade das
previsões
h = horizonte
h
máximo de
Raiz do Erro Quadrático ∑e 2
t + k|t previsão.
Médio de Previsão: RMSE = k =1
.
h h

∑e t + k|t
Erro Médio Absoluto de Previsão: MAE = k =1
.
h

Econometria Financeira
50

Validação e Comparação de Previsões

O problema é que, no momento em que


efetuamos as previsões, não sabemos
(obviamente) quais serão os valores observados.

Na prática, o que se faz é separar um pedaço da


amostra, chamado de período de validação, e
calcular erros de previsão para este período.

Exemplo 4.6

Se t = {5,6} é o período de validação, para o qual as


observações (agora conhecidas a priori) tenham sido
as do exemplo 4.5, qual dos métodos saiu-se melhor
no exemplo 4.4?
R: e 5|4 e 6|4 e 52|4 e 62|4 e5|4 e 6|4 RMSE MAE

Ingênuo -1 1 1 1 1 1 1 1
MM -5 -1,67 25 2,79 5 1,67 3,73 3,33
AE -2 0 4 0 2 0 1,41 1

Conclusão: O MAE aponta empate entre método


ingênuo e AE e o RMSE aponta o método ingênuo.

Econometria Financeira
51

5. MODELOS PARA PREVISÃO DE


SÉRIES TEMPORAIS

Um modelo de séries temporais nada mais é do que uma


equação que, por hipótese, tenha gerado as observações da
série.

O modelo é também chamado processo gerador da série.

Econometria Financeira
52

Passeio Aleatório

O primeiro modelo que veremos é o


passeio aleatório, definido como segue:

Yt = Yt −1 + ε t .

O termo εt acima é igual ao erro do modelo de


regressão, aqui chamado de ruído branco.

Modelo Auto Regressivo (AR)

Outro possível modelo de séries temporais é:

Yt = φ0 + φ1Yt-1 + εt, t = 1, 2, ..., T.

Os parâmetros φ0 e φ1 precisam ser estimados.

Este processo é chamado autoregressivo (a idéia é que ele


pode ser encarado como a regressão da variável Yt em seu
próprio valor defasado Yt-1).

Econometria Financeira
53

Função de Previsão

A função de previsão de um modelo de séries temporais é:

Ŷt + k|t = E (Yt + k | I t )

origem horizonte

em que I t é o conjunto de informação disponível


até o instante t, ou seja, I t = {Yt , Yt −1 ,..., Y1}.

Previsão de um Passeio Aleatório

Função de previsão para o passeio aleatório:

Yt = Yt −1 + ε t ⇒ Ŷt +1|t = E (Yt +1 | I t ) =


E (Yt + ε t +1 | I t ) = E (Yt | I t ) + 0 = Yt .

Conclui-se que usar o método ingênuo equivale a supôr que


a série siga um passeio aleatório.

Econometria Financeira
54

Previsão de Curto Prazo do AR(1)

A função de previsão para o modelo AR(1) é:

Yt = φ0 + φ1Yt −1 + ε t ⇒ Ŷt +1|t = E (Yt +1 | I t )


= E(φ0 + φ1Yt + ε t +1 | I t ) = E (φ0 | I t ) +
φ1E (Yt | I t ) + E (ε t +1 | I t ) = φ0 + φ1Yt .

Essa previsão é chamada de curto prazo, ou ainda: média


condicional do modelo AR(1).

Exercício 5.1

Considere o modelo: Yt = 40 + 0,6Yt-1 + εt.

Se Yt-3 = 35, Yt-2 = 28, Yt-1 = 38 e Yt = 30,


obtenha as previsões para 1 e 2 passos
à frente feitas a partir do instante t.

Re spostas : Ŷt +1|t = 58 e Ŷt +2|t = 74,8.

Econometria Financeira
55

Previsão de Longo Prazo do AR(1)

Pode-se provar que, se um modelo AR(1) é estacionário,


sua previsão quando k → ∞ é:

φ0
Ŷt + k|t k
→
→∞
1 − φ1

Esta previsão é chamada de longo prazo, ou média


incondicional do modelo AR(1).
Qual a previsão de longo prazo de um passeio
aleatório?

Previsão da Cotação de PETR4 para o


Final de 2017: AR(1) x Passeio Aleatório
18

17

16

15

14

13

12

11
25 50 75 100 125 150 175 200 225

PETR4 AR_1 PASSEIO_ALEAT

Econometria Financeira
56

Exercício 5.2

Um modelo AR(1): Yt = 2 + 0,8Yt-1 + εt


foi ajustado a uma série de preços.

a) Se a cotação atual é R$ 7,00, seria vantajoso comprá-la


hoje, como estratégia:
a1) de curto prazo?
a2) de longo prazo?

b) O que mudaria em sua estratégia se o preço seguisse


um passeio aleatório?

Em mercados eficientes, não há oportunidades de


arbitragem, ou seja, de ganhos sem risco.

O único modelo para preços que é compatível com


esta hipótese é o passeio aleatório.

Conclui-se que, em um mercado eficiente, os


preços seguem um passeio aleatório.

Isto significa que a melhor previsão para os


retornos é zero! Esta é a razão pela qual não é
possível prever (bem) retornos financeiros.

Econometria Financeira
57

6. VOLATILIDADE E MÉTODOS
PARA SUA PREVISÃO

Volatilidade - Definição

Volatilidade é um termo bastante utilizado no


mercado financeiro para representar a
incerteza ou a dispersão associada a séries de
preços ou retornos de ativos financeiros.

A volatilidade é usualmente definida como o


desvio padrão das observações de uma série
(embora alguns textos refiram-se à
volatilidade como sendo a variância da série).

Econometria Financeira
58

Volatilidade - Definição

No contexto de séries temporais financeiras,


volatilidade costuma ser usada como sinônimo
de risco. Porém, rigorosamente, métricas de
risco são calculadas a partir da volatilidade.

O exemplo mais popular é o VaR (Value At Risk),


que será introduzido no capítulo 8.

Volatilidade – Aplicação

O conceito de volatilidade só tem aplicação prática


quando avaliado em conjunto com a distribuição de
probabilidade dos dados.

Somente assim é possível determinar a


probabilidade de que ocorram os eventos
específicos que realmente interessam.

(por exemplo, a perda de uma parcela do capital


investido)

Econometria Financeira
59

Volatilidade – Aplicação

Exemplo 6.1 - Qual a probabilidade de que se


perca R$ 1 milhão, ou mais, em uma aplicação?

Supondo retornos Normais e com média zero


(hipótese usual para o longo prazo), só
precisamos conhecer a volatilidade para
responder a questão acima.

A suposição de Normalidade é razoável,


principalmente quando se usa log-retornos.

Volatilidade – Aplicação

Denotando por X o retorno do fundo, supondo que os


retornos sigam distribuição Normal com média zero
(hipótese usual para retornos), se a volatilidade é σ =
12,5%, tem-se:

P(X ≤ −10) =
 X − µ − 10 − 0 
P ≤ =
 σ 12,5 
P(Z ≤ −0,8) = P(Z ≥ 0,8)
= 0,5 − P(0 < Z < 0,8) = 0,2119.

Econometria Financeira
60

Volatilidade – Aplicação

A volatilidade de séries financeiras varia no tempo e


costuma apresentar uma estrutura de
dependência.

Logo, é razoável pensar em efetuar previsão de


volatilidade de retornos financeiros, ao contrário
do que ocorre no caso da média.

Econometria Financeira
61

Aglomerados de Volatilidade

Agrupamentos de valores altos e baixos da


volatilidade, ou seja, uma tendência de que
dispersões baixas sigam dispersões baixas e de que
dispersões altas sigam dispersões altas.

Aglomerados de Volatilidade
Aglomerados de Volatilidade - S&P500

10,00%

8,00%

6,00%

4,00%

2,00%

0,00%

-2,00%

-4,00%

-6,00%

-8,00%

-10,00%
out-01

jan-02

abr-02

jul-02

out-02

jan-03

abr-03

jul-03

out-03

jan-04

abr-04

jul-04

out-04

jan-05

abr-05

jul-05

out-05

jan-06

abr-06

jul-06

out-06

jan-07

abr-07

jul-07

out-07

jan-08

abr-08

jul-08

out-08

jan-09

abr-09

Econometria Financeira
62

Prevendo a Volatilidade

Métodos Usuais para prever a volatilidade:

1. volatilidade histórica via média móvel


2. volatilidade histórica via EWMA
3. volatilidade implícita (não será visto aqui)

Volatilidade Histórica – Média Móvel

Assume-se que a variância possa ser representada


pela média do quadrado dos retornos (o que é
razoável, dado que sua média é, por hipótese,
zero), e toma-se a raiz quadrada para obter o
desvio padrão dos retornos (em geral, no
fechamento):

1 L −1 2
σˆ t +1|t = ∑
L i =0
Yt −i .

Econometria Financeira
63

Volatilidade Histórica – Média Móvel

Volatilidade Histórica PETR4

8.00%
Quanto maior a janela, mais
7.00%
“suave” a volatilidade estimada.
6.00%

5.00% 21 dias
63 dias
4.00%
126 dias
3.00% 352 dias

2.00%

1.00%

0.00%
06

07

08

09

10

11

12
06

07

08

10

11
-0
n-

n-

n-

n-

n-

n-

n-
c-

c-

c-

c-

c-
ec
Ju

Ju

Ju

Ju

Ju

Ju

Ju
De

De

De

De

De
D

Volatilidade Histórica – EWMA

Para tornar a volatilidade mais representativa das


variações recentes, seria mais adequado “amortecer”
os valores antigos e atribuir maior peso às observações
mais recentes.

Isto conduz ao método EWMA, uma forma mais


sofisticada e usual de determinar a volatilidade
histórica.

EWMA = sigla em inglês para Média Móvel com


Amortecimento Exponencial.

Econometria Financeira
64

Volatilidade Histórica – EWMA

Para prever a volatilidade, primeiramente são


conduzidas previsões da variância:

σˆ 2t +1|t = (1 − λ) Yt2 + λσˆ 2t|t −1 , 0 < λ < 1.


reação a choques persistência
(em t = 1, faz - se a seguinte hipótese : σˆ 12|0 = Y12 )

A previsão da volatilidade é, então:

σˆ t +1|t = σˆ 2t +1|t .

Volatilidade Histórica – EWMA

λ é chamada constante de amortecimento.

Isto fica claro quando se desenvolve a equação para


mostrar que o quadrado dos retornos é “amortecido” à
taxa λ, obtendo-se:

σˆ 2t +1|t = (1 − λ )[Yt2 + λYt2−1 + λ2 Yt2− 2 ...]

Quanto maior λ, mais suave é o decaimento (ou mais


forte é a reação aos choques).

Econometria Financeira
65

Volatilidade Histórica – EWMA

EWMA Volatilities of the CAC Index

70
A diferença da série de
60
volatilidades estimadas
50
para λ = 0,84 e para λ
40 = 0,96 é proeminente.
30

20

10

0
jan/95 jul/95 jan/96 jul/96 jan/97 jul/97 jan/98 jul/98 jan/99

Lambda=0.84 Lambda = 0.96

Volatilidade Histórica – EWMA

O RiskMetrics sugere λ = 0.94.

λ pode ser obtido via minimização do RMSE das


previsões, usando o quadrado dos retornos da
série como proxy da volatilidade.

Para a maioria dos mercados:


0.75 < λ < 0.98 ⇒ elevada
persistência da volatilidade.

Econometria Financeira
66

7. MODELOS PARA PREVISÃO


DE VOLATILIDADE

Métodos x Modelos

A aplicação dos métodos estudados no capítulo 6


ressente-se de fundamentação estatística ou teórica,
isto é, de um modelo subjacente.

Os modelos de volatilidade dividem-se em duas classes:

- Heterocedasticidade Condicional
(ARCH, GARCH e Extensões)

- Volatilidade Estocástica

Econometria Financeira
67

Modelo ARCH

- Modelos de heterocedasticidade condicional


autoregressiva (e não “autoregressivos com
heterocedasticidade condicional”).

- Introduzidos por Engle (1982), com o objetivo de


estimar a variância da inflação.

Modelo ARCH(p)

Equação:
Yt = µ + ε t , ε t ~ N(0, σ 2t ),

Em geral, supõe-se µ = 0.

Sendo a variância do erro considerada variante no


tempo e dada por uma função linear dos quadrados dos
retornos passados, como segue:

σ 2t = α 0 + α1Yt2−1 + α 2 Yt2− 2 + ... + α p Yt2− p ,


com α0 > 0 e α1,..., αp ≥ 0.

Econometria Financeira
68

Modelo GARCH

Proposto por Bollerslev e Taylor (1986), é uma forma de


generalizar os modelos ARCH.

GARCH = Generalyzed ARCH.

Ao mesmo tempo, consiste em uma formulação


alternativa e parcimoniosa dos modelos ARCH.

Modelo GARCH

Proposto por Bollerslev e Taylor (1986), é uma forma


de generalizar os modelos ARCH.

GARCH = Generalyzed ARCH.

Ao mesmo tempo, consiste em uma formulação


alternativa e parcimoniosa dos modelos ARCH.

Econometria Financeira
69

GARCH(1,1)

A especificação mais comum para séries de retornos


financeiros é a do GARCH(1,1):

σ2t = α 0 + α1Yt2−1 + β1σ 2t −1.

Pode-se mostrar que o modelo GARCH(1,1) equivale


a um ARCH(∞).

IGARCH

Em séries financeiras, é comum obter α1 + β1 próximo de


1.

Quando, no GARCH(1,1), impõe-se a restrição α1 + β1 = 1,


temos o Integrated GARCH ou IGARCH.

O EWMA é um caso particular do IGARCH, em que


α0 = 0.

Econometria Financeira
70

IGARCH

Na prática, o que se faz é estimar um GARCH(1,1), sem


impôr restrições. A soma dos coeficientes costuma ficar
próxima de 1.

(esse argumento, inclusive, é utilizado pelas instituições


financeiras que adotam o EWMA para previsão de
volatilidade, para justificar o uso deste método ao invés
de modelos)

Funções de Previsão
(Modelos ARCH e GARCH)

Previsão da Volatilidade via Modelo ARCH:

σˆ 2t +1|t = α 0 + α1Yt2 ,

σˆ t +1|t = σˆ 2t +1|t .

Previsão da Volatilidade via Modelo GARCH:

σˆ 2t +1|t = α 0 + α1Yt2 + β1σˆ 2t|t −1 ,

σˆ t +1|t = σˆ 2t +1|t .

Econometria Financeira
71

Exercício 7.1

Uma ação apresentou os seguintes retornos nos últimos


2 dias: Y1 = 0,5%, Y2 = 0,2%.

Determine a previsão da volatilidade para amanhã (t = 4)


com base em um GARCH(1,1).

Os parâmetros estimados foram: α1 = 0,04 e α2 = 0,96.

R: 0,2436%.

Modelos de Volatilidade Estocástica

• Variância não é função determinística de retornos


passados. Sua evolução no tempo é governada por um
modelo com termo de erro.

• O modelo seminal nesta classe é o AR(1)-SV (Harvey,


Ruiz e Shephard, 1994), em que o log da variância
segue um modelo AR(1).

• Esses modelos envolvem teoria avançada de


estimação, e não são abordados neste curso.

Econometria Financeira
72

8. INTRODUÇÃO AO VALOR
EM RISCO (VAR)

Valor em Risco (VaR) – Definição

É a perda máxima (em valores monetários ou


em percentual) associada a uma posição
financeira (ex.: posição comprada em uma
carteira de ações), com uma determinada
probabilidade e para um período especificado.

Exemplo 8.1 - Um VaR de R$ 100.000,00, com


probabilidade 5%, para 1 dia significa que a
probabilidade de uma perda maior que R$
100.000,00, no horizonte de 1 dia, é de 5%.

Econometria Financeira
73

Valor em Risco (VaR) – Interpretação

Interpretação: supondo que a posição não se


altere e que a estimativa do VaR permaneça
constante, espera-se que, em apenas 1 a cada 20
dias (5%), a perda supere R$ 100.000,00.

Este exemplo ilustra o VaR em valores monetários.

Outra forma de pensar o VaR é em termos da


variação máxima de preço, isto é, de retornos.

Valor em Risco (VaR) – Interpretação

No caso de retornos financeiros, a definição


permanece, trocando R$ 100.000,00 por x%.

Exemplo 8.2 - Um VaR de 10%, com probabilidade 5%,


para 1 dia significa que a probabilidade de um retorno
inferior a -10% em um dia é de 5%.

Econometria Financeira
74

Valor em Risco (VaR) – Interpretação

O VaR é uma métrica para exposição ao risco largamente


aceita pelo mercado financeiro.

Foi proposta originalmente pelo banco JP Morgan em


1994, em um famoso documento chamado Risk Metrics.

O VaR não mede o valor máximo que se pode perder, e


sim o valor a partir do qual a probabilidade de perder é
bem pequena.

Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Para calcular o VaR, utiliza-se a volatilidade


obtida por meio de algum dos métodos ou
modelos apresentados nos capítulos 6 e 7.

Exemplo 8.3 – Obtenha o VaR de 5% para 1 dia,


associado a um ativo cuja volatilidade dos
retornos, no período, seja 2% e cuja média seja,
por hipótese, igual a zero.

(obs – é necessário supor Normalidade)

Econometria Financeira
75

Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Solução – temos ~ 0, 2 e queremos


obter tal que: 0,05

Padronizando: 0,05.

Da tabela, , 1,645, e assim:

1,645, ou seja: 3,29.

Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Solução: sendo X o retorno desse ativo, temos que esta


v.a. segue distribuição Normal com média µ= 0 e
desvio padrão σ = 2.

Para obter o Var, temos que resolver a equação: P(X ≤ -


VaR) = α = 0,05.

Padronizando: P( X ≤ − VaR ) = 0,05

 − VaR − 0 
P Z ≤  = 0,05.
 2 

Econometria Financeira
76

Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Por definição, sabe-se que P(Z ≥ z0,05) =


0,05. Da tabela, z0,05 é igual a 1,645.

Como a Normal padrão é simétrica em torno


de zero, tem-se que: P(Z ≤ -1,645) = 0,05.

Assim:

− VaR − 0
= −1,645 ⇒ − VaR = −1,645 * 2
2
⇒ − VaR = −3,29 ⇒ VaR = 3,29 .

Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Interpretação: o VaR de 5% para 1 dia é de 3,29%,


ou seja, a probabilidade de um retorno igual ou
inferior a -3,29% é de 5%.

Para obter o VaR em valores monetários, é


necessário conhecer o montante investido.

Se hoje foram comprados R$ 1.000.000,00 do


ativo, o VaR é R$ 32.900,00 (1.000.000*3,29), isto
é: a probabilidade de perder R$ 32.900,00 ou
mais, de hoje para amanhã, é de 5%.

Econometria Financeira
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Valor em Risco (VaR) – Cálculo

Da resolução do exemplo 8.3, temos que o VaR


pode ser obtido diretamente pela fórmula:

VaR = -µ + zασ,

em que σ é a volatilidade estimada para o período


e zα é tal que P(Z ≥ zα) = α, sendo Z ~ Normal(0,1).
Por exemplo:

Para α = 0,01 ⇒ z0,01 = 2,33. Para α = 0,05 ⇒ z0,05


= 1,645. Para α = 0,1 ⇒ z0,1 = 1,28.

Exercício 10.1

Um investidor assume uma posição de R$


100.000.000,00 comprado em ações da empresa X, cuja
volatilidade diária, estimada a partir de um GARCH(1,1),
foi de 0,4%.

Obtenha o VaR de 1% para 1 ano (252 dias úteis), se a


rentabilidade esperada das ações da empresa X, para
este período, é de 6%.

R: VaR = 8,79% ou 8,79 milhões de reais.

Econometria Financeira

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