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CONTRATOS DE SEGURO
1. Conceito
O contrato de seguro, conforme previsto no art. 757 do Código Civil, é aquele em que
uma das partes, o segurador, se obriga, mediante o recebimento de um ''prêmio'', a ''garantir o
interesse legítimo'' da outra parte, o segurado, em relação à pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.
Há que se observar, porém, que, como expõe o art. 757 do CC, não são todos que
podem atuar no contrato como seguradores, já que o segurador deverá ser, necessariamente,
uma sociedade anônima, uma sociedade mútua ou uma cooperativa, com autorização
governamental, que mediante o recebimento do prêmio, assumirá o risco.
2. Classificação
São numerosas as espécies de seguros, sendo alguns mais frequentes e outros menos
comuns. As espécies de seguro se dividem em: 1) Quanto à obrigatoriedade; 2) Quanto ao
número de pessoas; 3) Quanto ao objeto.
O Código Civil, ao tratar dos seguros terrestres, de coisas e pessoas, aborda tais temas
respectivamente nas seções “Do Seguro de Dano” ( arts. 778 a 788) e “Do seguro de pessoa”
(arts. 789 a 202). O seguro de dano se subdivide em seguro de coisas ( cuidando da cobertura
por danos a bens imóveis, móveis propriamente ditos e semoventes) e seguro de
responsabilidade civil (concernente à cobertura por danos a terceiros). Já o seguro de pessoa
se desdobra em seguro de vida e seguro de acidentes pessoais.
Nos contratos de seguro de dano, o bem segurado é patrimonial, podendo ser, por
exemplo, um objeto determinado, como um carro, ou mesmo uma futura obrigação
pecuniária, advinda do reconhecimento de responsabilidade civil por parte do segurado.
Em relação ao seguro de dano, o Código Civil em seu art. 778 preceitua que nessa
modalidade “a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no
momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação
penal que no caso couber”. Ou seja, o seguro de dano visa apenas garantir o ressarcimento ao
segurado, de modo a se evitar prejuízo ao segurado em caso de alguma forma de dano sob a
coisa assegurada. Assim, não tem como finalidade o lucro, mas apenas uma proteção do
interesse do assegurado.
Ademais, o atual diploma considera ilícito o segurado receber pelo sinistro um valor
indenizatório superior ao do interesse segurado ou da coisa que foi sinistrada. Essa natureza
não lucrativa do seguro de dano também encontra-se disposta no art.781 do CC, que dispõe
que “a indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do
sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso
de mora do segurado”.
Por ter natureza indenizatória, o contrato de seguro de danos visa a reparar o prejuízo
sofrido pelo segurado, sendo vedada qualquer forma de intenção de lucro. Por isso, o artigo
782, do CC, prevê que havendo novo contrato de seguro sobre o mesmo risco, o segurador
deve ser comunicado, com o intuito de garantir a efetiva obediência ao artigo 778, ou seja, de
garantir que não se tenha ultrapassado o valor da coisa.
Em relação ao vício intrínseco da coisa assegurada reza o Código no art.784 que “não
se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, não
declarado pelo segurado”. Tal dispositivo trata de uma cláusula excludente de garantia e
assegura o beneficiário contra um eventual risco que advenha de alguma causa externa.
Assim, é afastada a indenização de sinistro ocorrido em razão de defeito intrínseco e não
conhecido do segurador, que ficará isento de qualquer responsabilidade se o risco não for
previsto.
Nos seguros de pessoa, o risco envolve a pessoa do segurado, isto é, sua vida ou
integridade física. Essa modalidade de seguro é denominada seguro de valores futuros, por
não prever propriamente uma indenização em razão de prejuízos materiais, ou de danos
causados à coisa, e sim oferecer uma segurança financeira ou para prevenir dificuldades para
a própria pessoa ou para herdeiros ou protegidos que constarem como terceiros beneficiários
no contrato, em razão da sua morte.
Além disso, é importante notar que, como estipulado pelo art. 794 do CC, no seguro
de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às
dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito, visto que a
indenização consiste em direito do beneficiário da relação, não compondo o patrimônio do
segurado.
O contrato de vida propriamente dito é aquele que tem por objeto garantir mediante o
prêmio o pagamento de certa quantia para determinada ou determinadas pessoas indicadas no
contrato pela morte do segurado. Vê-se que esse tipo de contrato teria um caráter de
estipulação em favor de terceiros, pois haveria além do segurador e segurado um terceiro
beneficiário na relação.
Já o contrato de seguro misto oferece cobertura por morte e por sobrevivência, assim,
se o segurado sobreviver até o prazo acordado, recebe o dinheiro acumulado durante o
período. Caso contrário, o beneficiário identificado na apólice, receberá o capital segurado e
uma parte do que foi acumulado.
3. Legislação
A legislação mais pertinente aos contratos de seguro é a que consta do Código Civil,
dentro de seu Capítulo XV: “Do Seguro”, que irá versar sobre o contrato de seguro desde o
artigo 757 até o 777.
O artigo 777 prevê que “Art. 777. O disposto no presente Capítulo aplica-se, no que
couber, aos seguros regidos por leis próprias”. De modo que as legislações também
pertinentes ao tema poderão ter a aplicação suplementar do Código Civil.
Deste modo, também existem outras leis que regulamentam o tema, tais como:
Este Decreto é o mais importante no que tange aos seguros no direito brasileiro,
valendo dar um destaque a este dispositivo, uma vez que ele regulamenta o sistema nacional
de seguros privados, constituindo os principais órgãos responsáveis por este sistema, assim
como também possui influência dentro da seara dos contratos de seguro:
“Art 8º Fica instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados, regulado pelo presente
Decreto-lei e constituído:
c) dos resseguradores;
Além disso, existem também outras legislações acerca de temáticas mais específicas
que envolvem o seguro, como por exemplo:
LEI Nº 6.194/74 - Dispõe sobre Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Via Terrestre, ou por sua Carga, a Pessoas Transportadas ou Não.
4. Órgãos de fiscalização
Um órgão regulador de seguros é uma unidade do governo responsável por
estabelecer as normas do mercado de seguros. Ele serve como um parâmetro para que os
órgãos fiscalizadores possam realizar a supervisão de instituições financeiras que oferecem
esse produto aos consumidores.
Ante o exposto, entendemos que o órgão regulador serve de referência para os órgãos
fiscalizadores. No mercado dos seguros no Brasil, o órgão responsável por supervisionar e
controlar as instituições financeiras é a Susep (Superintendência de Seguros Privados).
Por fim, vale citar que a Susep também atua na prevenção e combate às fraudes
cometidas no mercado, bem como possui dever de aplicar punições, caso necessário.
Uma observação é que o beneficiário não é parte no contrato, nos contratos de seguro
de vida e no obrigatório de acidentes pessoais em que acontece a morte por acidente, por
exemplo, trata-se de terceiro e não configura parte no contrato. Ou seja, o beneficiário
consiste em uma pessoa a quem será pago o valor do seguro, a “indenização” e neste caso
supramencionado tal estipulação ocorre quando uma pessoa convenciona com outra que esta
concederá uma vantagem ou benefício em favor daquele que não é parte no contrato.
7. Apólice
O Código Civil estabelece no art. 760 que a apólice será nominativa à ordem ou ao
portador. No entanto, quando se tratar de seguro de pessoas, a apólice não poderá ser ao
portador (parágrafo único).
As apólices nominativas, aquelas que mencionam o nome do segurado, podem ser
transferidas mediantes cessão civil e às ordens por endosso. Naquelas, alienadas a coisa que
se encontra no seguro é transferida ao adquirente o contrato pelo prazo que ainda faltar.
Conforme estabelece a Súmula 188 do STF “segurador tem ação regressiva contra o causador
do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro”. Porém,
no caso do seguro de pessoas, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e a ações do
segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro” (CC, art. 800). E no seguro de
coisas, “salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do
segurado, seus descendentes ou ascendentes, consanguíneos ou afins” (art. 786, § 1º).
Por fim, vale destacar que o contrato é considerado perfeito com a entrega da apólice.
Além disso, a prova do contrato de seguro é mediante a exibição da apólice.
8. Prêmio
Não obstante, dispõe o artigo 770 do Código Civil que, apesar de, em regra, a redução
dos riscos a que se expõe o segurado não ensejar a diminuição do prêmio, caso a minoração
do risco seja considerável, é um direito do segurado exigir a subtração do valor do prêmio.
Ainda com relação ao pagamento do prêmio, determina o Código Civil em seu artigo
763, que caso esteja inadimplente e o sinistro ocorra antes de sua purgação, o segurado não
terá direito à indenização. Contudo, consoante o Enunciado 371, da IV Jornada de Direito
Civil, caso seja escassa a importância da mora do segurado, a resolução do contrato e a
consequente isenção da seguradora na indenização, não estão autorizadas, pois, caso
contrário, atentar-se-ia contra o princípio da boa-fé objetiva.
Outra obrigação do segurado é a comunicação imediata da ocorrência de algum
sinistro, isso porque, o segurador tão logo saiba do sinistro, poderá tomar as devidas
providências de forma a amenizar os prejuízos decorrentes ou impedir a sua propagação.
Nesse sentido, caso se constate a omissão dolosa, que beira a má-fé, por parte do segurado na
não notificação sobre o sinistro, ou sua culpa grave, a qual prejudique de maneira relevante a
atuação do segurador, ele perderá o seu direito de indenização.
Similarmente, segundo o artigo 771 do Código Civil, sob pena de perder o seu direito
à indenização, o segurado deverá comunicar o sinistro ao segurador, logo que o saiba, bem
como, deverá tomar as providências imediatas para minorar as consequências do ocorrido.
Dessa feita é um direito do segurador resolver o contrato, caso constate que houve
agravamento dos riscos pela não comunicação imediata sobre o sinistro, ainda que o
agravamento não seja culpa do segurado. Contudo, tal resolução contratual deverá ser feita
antes de decorridos 15 dias do recebimento da comunicação. Importante destacar que,
consoante o artigo 769, parágrafo segundo, do Código Civil, a resolução só será eficaz trinta
dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.
Como nos contratos de seguro o objetivo não é o lucro, quando o contrato se referir a
bens materiais, o grau e extensão do prejuízo deverão ser apurados tecnicamente. Não
obstante, nos seguros pessoais, o montante da indenização será referente ao estipulado na
apólice, visto que o bem "vida" é inestimável.
Nesse sentido, à luz do artigo 779 do Código Civil, o risco do seguro compreende
todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes, como sejam os estragos ocasionados para
evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.
Por fim, assim como o segurado, o segurador também deve observar o princípio da
boa-fé objetiva, consoante o artigo 765 do Código Civil. Por esse motivo, é um dever do
segurador observar o risco o qual o segurado se pretende cobrir, pois, caso aquele saiba que o
risco já inexiste ou está afastado, e mesmo assim emite a apólice para se beneficiar, conforme
dispositivo do artigo 773 do Código Civil, deverá pagar em dobro o prêmio estipulado.
Nela, visualiza-se a ideia de que os contratos de seguro podem ser estipulados por
tempo determinado, o que, aliás, é a regra mais comum.
A segunda observação refere-se à aplicação do art. 766 do CC/2002, que traz uma
hipótese de resolução do contrato, quando “a inexatidão ou omissão nas declarações não
resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar,
mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio”.
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas
ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio,
perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.
Outro ponto prático de destaque na temática dos contratos de seguro é a adaptação das
empresas seguradoras em face da pandemia do Covid-19. É evidente que a pandemia
ocasionada pela propagação do vírus Covid-19, iniciada em 2020, gerou fortes consequências
para todos os campos do Direito, de modo que o direito contratual não foi uma exceção ao
fato.
REFERÊNCIAS
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie - Vol.
3. Disponível em: Minha Biblioteca, (17th edição). Grupo GEN, 2022.
GAGLIANO, Pablo, S. e Rodolfo Pamplona Filho. Manual de Direito Civil: volume único.
Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Editora Saraiva, 2022.
RODRIGUES, Márcia. Familiares recebem seguro apesar de o contrato não cobrir pandemia.
R7.2020. Disponível em: <https://noticias.r7.com/economia/economize/familiares-recebem-
seguro-apesar-de-o-contrato-nao-cobrir-pandemia-01052020>. Acesso em: 24 de abril de
2022.