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Recuperação Judicial da Comil Ônibus S.

A Comil Ônibus S.A é uma fabricante de carrocerias no mercado brasileiro,


representando uma parcela substancial do mesmo, em especial no nicho de ônibus
urbanos. A empresa foi fundada no ano de 1985 e se expandiu no mercado com
muita rapidez. No começo da década de 2010, com objetivo de construir uma nova
planta fabril buscou linhas de crédito do BNDES. No ano de 2012 decidiu emitir
debêntures, assim captando 110 milhões de reais. Porém, no ano de 2016 a
companhia entrou com pedido de recuperação judicial, sendo que nesta época,
algumas fontes afirmavam que a Assembleia Geral dos Credores optaria pela
liquidação da companhia, tendo visto seus prejuízos recentes. Todavia, no ano de
2019, o conselho geral dos credores aprovou o plano de recuperação judicial
apresentado pela recuperanda, com o intuito de reorganizar sua produção e gestão,
com o adendo que, a recuperanda obteve apoio de 99% dos credores,
representando 60% dos créditos.
Primeiramente, é essencial explicar que, o mercado brasileiro de ônibus é dividido
em dois grupos: fabricantes de carrocerias, responsável pelo habitáculo, poltronas e
acabamentos do veículo; e fabricantes de chassis, responsável pelo motor,
transmissão, sistema elétrico e afins. O produto final desta junção é o ônibus, por
conta disso, para fins de compreensão, não será usado o termo “fabricante de
ônibus” e sim “fabricante de carrocerias”.

Sobre o plano de recuperação judicial

Motivos e consequências da crise: o principal motivo apresentado pela


companhia foi a estagnação do mercado de ônibus no Brasil, que se agravou em
2014, que teve queda de 13% em relação ao ano anterior. No ano de 2017, foi
apurado uma queda acumulada de produção de 57% nos três anos anteriores.
Mesmo com a desvalorização do real perante o dólar em 2015, fato que fomentou
as exportações, a demanda interna continuava decrescente. Além disso, foram
apresentados outros fatores que influenciaram na situação da companhia:
indefinição das licitações de transporte público desde 2013; escassez de linhas de
crédito; mercado concentrado na sua principal concorrentes, a Marcopolo e suas
controladas (Neobus, Volare), detendo 56% do mercado; Inflação acumulada e um
inadimplemento por parte do Governo Federal no âmbito do programa “Crack, é
possível vencer”.

Medidas de recuperação

● Reorganização societária - o quadro acionário da companhia era composto


por três sócios que também gozavam da função de diretores. A proposta
apresentada consiste em reorganizar a composição societária através de
cisão, incorporação ou qualquer outro meio necessário. (Não foi possível
achar o quadro societário atual);
● Readequação de suas atividades - consistem na adequação e melhoria de
práticas da empresa, em todos os âmbitos, podendo assim iniciar, alterar ou
descontinuar linhas de produtos visando a maior eficiência. Atualmente, foi
apurado um crescimento de 2% na produção em 2020. Segundo a fabricante
de carrocerias, a linha de ônibus Midi (carroceria que hierarquicamente fica
entre o micro e o convencional) foi paralisada por alguns meses após o
começo da implantação do plano de recuperação, o motivo foi estudar a sua
viabilidade econômica do produto;
● Reorganização administrativa - tem como intuito reduzir as despesas e
maximizar.
Outros meios propostos foram: readequação da capacidade de produção, controle
de gastos, desenvolvimento de nova linha de produtos e afins.

Sobre os passivos sujeitos à recuperação judicial


Fonte: mmb.adv

Passivos sujeitos à recuperação judicial:


● classe 1 - trabalhistas
● classe 2 - garantia real
● classe 3 - quirografários
● classe 4 - micro empresa e empresa de pequeno porte

Os pagamentos dos credores foram transferidos diretamente à conta do respectivo


credor, no Brasil e no exterior, por meio de DOC ou TED. Os valores listados em
dólar dos Estados Unidos foram convertidos na data de homologação do plano, com
base na PTAX de 3,2848 reais para cada 1 dólar.
Foi reiterado pela Comil que ela nunca havia atrasado salários dos seus
funcionários e colaboradores havia 30 anos, até mesmo durante os trâmites
relacionados à recuperação judicial. Além disso, credores fornecedores
estratégicos, credores aderentes e credores colaborativos financeiros receberam
seus créditos antecipadamente de diferentes formas a depender do tipo de credor
respectivamente.
Dentre isso, credores essenciais (fornecedores de chassis) receberão condições
especiais em negócios futuros.
Por fim, foi apresentado uma projeção que baseia a viabilidade
econômico-financeira da Fabricante de Carrocerias, com um fluxo de caixa
projetado muito promissor.

Conclusão

Ainda é cedo para afirmar que a Comil se recuperou totalmente, porém alguns
indicadores nos ajudam a afirmar que seu período de instabilidade acabou. Em
2020 foi apurado crescimento em sua produção, o que deu "fôlego" para a
companhia se estabilizar e projetar novos investimentos. De maneira geral, é
possível afirmar que a viabilidade econômica da atividade e o bom relacionamento
da Comil com seus credores influenciou, mesmo que em pequena parcela, a adesão
dos credores ao plano de recuperação judicial. Como comentário pessoal, uma
crítica feita pela Comil que aparenta ser muito válida é que o grupo Marcopolo
detém parte significativa do mercado, que no passado já foi maior, o cenário só
mudou com a expansão do Grupo Caio Induscar (Caio, Irizar) e a Mascarello,
ambas fabricantes de carrocerias.

link do plano de recuperação consolidado da Comil:


http://www.mmrb.adv.br/arquivos/comil/plano_recuperacao_judicial_consolidado.pdf

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