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Publicado

Atualizadoem
em18.10.2019
26.10.2020

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A história da Cielo teve início em 23/11/1995, quando Visa International,
Bradesco, Banco do Brasil, Banco ABM Amro Real e o extinto Banco
Nacional se reuniram e fundaram a Companhia Brasileira de Meios de
Pagamento, mais conhecida como “Visanet”.

Até então, esses bancos já trabalhavam com o sistema Visa, mas cada um
dos emissores da bandeira detinha seus próprios meios de captação, rede
afiliada e campanhas de marketing.

O principal objetivo do novo negócio era unificar as atividades de


adquirência de todas as instituições financeiras afiliadas à bandeira Visa no
Brasil, segredando-as dos outros papéis desempenhados por essas
instituições.

Assim, os bancos passariam a concentrar seus esforços na emissão de


cartões, na concessão e gestão de crédito. A nova empresa teria o foco
exclusivo no setor de pagamentos e na melhora da captação dos
pagamentos da bandeira Visa, tornando-a mais eficiente e segura.

Essa estratégia alavancou significativamente o crescimento do mercado de


cartões no país. Após o início das atividades, a companhia logo afiliou mais
de 100 mil estabelecimentos, graças às relações que essas lojas tinham
com os bancos fundadores da Visanet.

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Nos anos seguintes, a companhia, sempre com um perfil inovador, criou
uma série de serviços relacionados à bandeira Visa: o cartão de débito Visa
Electron, Visa Vale Pedágio e a prestação de serviços para os cartões de
benefícios refeição e alimentação Visa Vale.

Em 2009, a companhia realizou a maior oferta pública inicial de ações da


história do Brasil até aquela época, inicialmente sob o código VNET3.

Em 14/12/2009, a empresa fez uma assembleia geral com o objetivo de


iniciar um processo de abertura ao cenário multibandeira, alterando o
nome para Cielo. Após o primeiro passo, ela passou a capturar e processar
transações originadas por cartões de outras bandeiras além da Visa.

Oficialmente, em 01/07/2010, o mercado de adquirentes se tornou mais


competitivo. A partir daquela data, a exclusividade que as empresas
detinham sobre certas bandeiras foi eliminada. Assim, a liderança de
mercado da Cielo começava a ser ameaçada.

Com o aumento da concorrência, a companhia investiu em diferenciais,


como correspondente bancário, contactless (pagamento por proximidade
ou sem contato), recarga de celular, pagamento via celular, soluções
específicas de serviços de viagem, soluções para concessionárias de
pedágio e plataforma promocional.

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O ano de 2012 foi muito produtivo para a companhia. Nela, a Cielo:

▪ Lançou a opção Crediário em sua máquina.


▪ Lançou uma plataforma de prevenção à fraude em e-commerce.
▪ Anunciou a parceria com a Cyber Source, fornecedora de soluções
de gestão de pagamentos.

Em 2014, a empresa firmou um ousado acordo de associação com a BB Elo


Cartões Participações, subsidiária do Banco do Brasil, para a criação da
Cateno, com o objetivo de gerir os pagamentos oriundos da bandeira
Ourocard. A Cateno foi dividida na proporção de 30% para o BB Elo Cartões
e 70% para a Cielo.

Em 2016, em linha com o objetivo de suprir as necessidades dos clientes, a


empresa lançou a Cielo LIO, uma plataforma aberta (idealizada do
hardware ao software) para atender as demandas do varejo brasileiro, que
integrava o processo de vendas ao sistema de gestão do estabelecimento.

Atualmente, é uma das principais empresas do setor e adquirência do


Brasil, detendo 40% do market share.

A Cielo faz parte do Novo Mercado (o segmento que reúne as empresas


com o mais alto nível de governança corporativa da bolsa) e apresenta
cerca de 41,1 % de suas ações em livre circulação.

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Os grandes acionistas da Cielo são o Banco do Brasil e o Bradesco, dois dos
bancos que abrangem as maiores carteiras de clientes do Brasil:

Fonte: ri.cielo.com.br

Essa composição é analisada como algo que gera valor para a Cielo, pois as
empresas de adquirência cobram por três tipos de serviços: taxa de
desconto das transações com cartão, aluguel de equipamentos
(maquininha fornecida pelo adquirente) e pré-pagamento de transações
(antecipação de recebíveis aos lojistas em compras parceladas).

A liquidação das transações com cartões de pagamento e o pré-pagamento


depende dos bancos para serem realizados. Então, é de se esperar que
esses bancos e acionistas tentem, na medida do possível, dificultar o
aparecimento de novos entrantes no mercado. Assim, esse cenário pode
ser analisado como uma vantagem competitiva da companhia.

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A fonte de receita da Cielo é proveniente, principalmente, do serviço de
adquirência. Para entendermos melhor como funciona esse serviço,
devemos lembrar que ele está inserido no contexto de pagamentos com
cartões de crédito e débito. O processo é composto por 5 participantes:

▪ Portador: é o cliente, quem efetua a compra.


▪ Lojista: estabelecimento que vende seu produto ou serviço.
▪ Bandeira: são órgãos que determinam as regras no mercado de
cartões de crédito e débito. Exemplos: Visa e Mastercard.
▪ Adquirente: tem o papel de liquidar as transações feitas por cartões
de crédito e débito. Exemplos: Cielo, Rede e Stone.
▪ Emissores: são bancos, como o Bradesco, Banco do Brasil e Itaú.

A imagem a seguir mostra como esses agentes se relacionam.

Fonte: ri.cielo.com.br

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Quando o portador do cartão efetua a compra em determinada loja, os
dados são enviados às adquirentes. Essas empresas se comunicam com as
bandeiras (que checam se o método de pagamento escolhido - crédito ou
débito – se encaixa ao serviço contratado) e com os bancos (que checam a
situação financeira do portador do cartão) para processar a transação.

A adquirente recebe o dinheiro quando uma transação é aprovada e


repassa o dinheiro aos lojistas em um prazo combinado por contrato,
retirando uma taxa de administração.

Se analisarmos o modo de atuação da companhia, percebemos que ela


atua por meio de várias empresas, de maneira que a Cateno e a Cielo Brasil
se destacam em sua estrutura. Em 2019, as duas empresas representaram
71% dos R$ 11,3 bilhões que a Cielo obteve de Receita Operacional Líquida.

Fonte: ri.cielo.com.br

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Com 1,6 milhão de clientes ativos, a Cielo Brasil movimentou, em 2019, R$
683 milhões através de cartões de crédito e débito, o equivalente a 9% do
PIB brasileiro. Da quantia movimentada, 60% foram de operações com
cartões de crédito e 40% em cartões de débito.

Fonte: ri.cielo.com.br

A Cateno, que atua principalmente com cartões do Arranjo Ourocard, foi


uma grande fonte de receita no ano, faturando 26% do total da Cielo em
2019. A empresa movimentou cerca de R$ 284 milhões, dos quais 52,4%
vieram das operações com crédito e 47,6% das operações com débito.

Fonte: ri.cielo.com.br

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Quanto às demais controladas, representadas pela Multidisplay, Braspag,
Cielo USA, Merchant E-Solutions e M4Produtos, elas contribuíram em 29%
para a Receita Líquida da Cielo.

A evolução dos resultados da Cielo é muito interessante. Quando


analisamos o seu histórico de receita, vemos dois momentos marcantes,
um muito positivo e outro nem tanto assim.

1. O primeiro ocorreu entre 2006 e 2015, com a companhia


apresentando um forte crescimento, saindo de uma receita de R$
1,94 bilhão e chegando a R$ 11,12 bilhões. Esse crescimento
representa um CAGR (Taxa de Crescimento Médio Anual) de
aproximadamente 19,1%. Esse crescimento é reflexo da qualidade
da empresa e de suas vantagens competitivas.

2. Entretanto, as vantagens competitivas da companhia começaram a


ficar ameaçadas com a entrada de novos players no mercado. Isso
pode ser observado no segundo momento de desempenho da sua
receita, compreendido entre 2015 e 2019, no qual não houve
crescimento expressivo, bem diferente do período anterior.

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Receita Líquida

Fonte: Economatica/Suno Research

Se observarmos a progressão do market share da Cielo nos últimos anos,


podemos perceber de que maneira os novos entrantes têm ganhado
mercado em detrimento da companhia.

Fonte: ri.cielo.com.br

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Para entender melhor o efeito destrutivo de uma concorrência agressiva e
crescente, é importante avaliar o desempenho da margem EBITDA. Esse
indicador é uma das melhores métricas de análise concorrencial em um
setor e um indicador de eficiência operacional.

A margem EBITDA da Cielo partiu de incríveis 64% em 2010 para 26,6% em


2019, em um forte ritmo descendente. As margens têm sido perdidas com
as políticas de preços mais baixos adotadas pela companhia, que visam
garantir a manutenção dos seus clientes e conseguir novos.

Margem EBITDA

Fonte: Economatica/Suno Research

Apesar de a margem EBITDA vir diminuindo nos últimos anos, o impacto no


Lucro Líquido da companhia começou a surtir efeito a partir de 2017. Se
compararmos o Lucro Líquido de 2019 com o de 2017, notamos que houve
uma queda de aproximadamente 61%.

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Lucro Líquido

Fonte: Economatica/Suno Research

Por outro lado, é importante analisar a rentabilidade da companhia, ou


seja, o quanto esse resultado tem se convertido em valor para o acionista.
Para isso, devemos ver o histórico do seu ROE, que nada mais é do que a
relação entre o Lucro Líquido da companhia e o seu Patrimônio Líquido. O
ROE da Cielo vem tendo quedas consistentes, saindo de 153% em 2010,
quando ela deixou de ser um monopólio garantido pelo estado, para 12%.

ROE (Return On Equity)

Fonte: Economatica/Suno Research

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Portanto, o que podemos perceber é que a Cielo já apresentou resultados
extremamente elevados, mas devido à competitividade do setor, vem
tendo grande pressão sobre as suas margens, o que tem se refletido na
deterioração dos resultados. Além disso, como o setor não tem muitos
impedimentos para novos entrantes e não precisa de vultuosos
investimentos, acreditamos que a concorrência ficará cada vez maior.

O setor de adquirência é notadamente um setor que permite às empresas


terem grandes margens dada a pouca necessidade de investimentos
vultuosos na operação. Tal fato, somado às barreiras a novos entrantes no
mercado, fizeram com que a Cielo apresentasse ótimos resultados nos
primeiros anos após o seu IPO.

No entanto, com a abertura para novas empresas menores do setor, a


Cielo se viu na necessidade de adotar novas estratégias para se manter
competitiva. Com isso, o que se viu foi uma deterioração de seus ótimos
resultados apresentados até então.

Apesar de a companhia estar focando na redução de suas margens e na


diferenciação de seus produtos, acreditamos que a tendência é de, cada
vez mais, haver um aumento da concorrência no setor.

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Portanto, preferimos aguardar e observar qual é a tendência da
competitividade no setor de adquirência e avaliar a performance das
estratégias da companhia para se manter relevante no mercado.

Assim, estamos acompanhando de perto a companhia e, caso vejamos a


realização das expectativas mencionadas, poderemos rever o case e mudar
a nossa opinião sobre a empresa.

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