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Resenha do texto A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização

UNESP - Faculdade de Filosofia e Ciências


Câmpus de Marília
Marília, 30 de novembro de 2012

Resenha do texto A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização - A Construção


da Geopolítica do Desenvolvimento Sustentável e seu Neoliberalismo Ambiental, de Carlos
Walter Porto-Gonçalves.

O texto trata de maneira clara e de fácil compreensão principalmente a questão da


sustentabilidade e do neoliberalismo ambiental, vistos pela ótica da geopolítica. Para
introduzir o tema, o autor faz uma breve análise histórica do movimento ambiental abordado
por diferentes sujeitos durante a época que vai da década de 90 aos dias atuais. Nos anos de
1990 a questão ambiental atinge maior visibilidade no cenário internacional e passa a
interessar mais ao setor industrial. Esse contexto, combinado a um momento de maior
importância do debate ambiental, em que ocorreu a Rio 92 e as negociações da rodada
Uruguai do GATT, que se torna a OMC, traz como consequência as políticas de livre
comércio que tornam as políticas ambientais mais difíceis em cada país, já que visam atender
aos interesses de grandes corporações.
A preservação do meio ambiente e a lógica do livre comércio se chocam pois o meio
ambiente não é apenas o lugar onde se produz, mas também onde se mora, e os rejeitos não
circulam livremente como as mercadorias, tornando-se parte do ambiente e prejudicando as
pessoas que vivem lá em benefício de outras que geralmente estão fora dali. A legislação
ambiental acaba sendo sempre constrangida pela lógica do livre comércio porque o que se
quer que circule livremente e são os proveitos e não os rejeitos, o que gera uma busca a uma
sociedade a geográfica.

Ainda na primeira parte do texto, Porto-Gonçalves cita a obra "Changing Course",


publicada em 1992 pelo suíço Stephan Schmidheinhy, para fundamentar seus argumentos. O
livro trata-se de uma visão que acredita que o mercado, se operado livremente, é o único meio
concebível de alcançar o desenvolvimento sustentável. Os principais agentes dessa transição
para um mundo mais sustentável seriam então as corporações multinacionais. Desencadeou-
se, com a ajuda de grandes organizações não-governamentais, uma ampla estratégia
empresarial de estreitamento das soluções aos marcos de mercado, acreditando no mercado
como única solução possível para qualquer problema, como resposta aos avanços de múltiplos
movimentos sociais que conseguiram imprimir ao debate ambiental forte caráter social e de
respeito à diversidade cultural. Há também nesse contexto o uso da dívida externa como
instrumento de pressão para que se atendam os interesses do pólo dominante , já que agências
multilaterais como o Banco Mundial, o FMI e a OMC conseguem impor condições visando o
livre comércio e o desenvolvimento (usado no texto com o jogo de palavras desenvolvimento,
questionando as reais intenções das agências por trás dele) de comunidades, de países e de
regiões.
A segunda parte do texto, intitulada "O Lugar do Organismos Multilaterais I: O Papel
do Banco Mundial", como indica o título, analisa a participação da Banco Mundial no âmbito
ambiental. O Banco Mundial foi um dos principais alvos da crítica ambientalista durante os
anos de 1980 por seu fomento às condições gerais de produção para estimular o
desenvolvimento (novamente usado com o sentido de desenvolvimento). Entretanto, passou a
exercer um papel fundamental na construção de uma ordem ambiental neoliberal.
Continuando na abordagem do papel dos organismos multilaterais, a terceira parte do
texto trata do papel do FMI. Instituições internacionais, segundo Porto-Gonçalves, tem
estimulado a adoção pelos países emergentes de políticas de ajuste estrutural, a fim de
expandir os ecossistemas monocultores dos países capitalistas hegemônicos em direção a
áreas de rica diversidade biológica. Essas políticas consistem em cortes em gastos públicos
em serviços sociais básicos, políticas de juros altos e medidas cambiais que favoreçam a
exportação....

O Prof. Carlos Walter Porto Gonçalves (2004, p. 23) nos relata a existência de um
desafio ambiental no período atual, de globalização neoliberal, diferentemente dos outros
períodos que o antecederam pela especificidade deste desafio, pois até os anos 1960, a
dominação da natureza não era uma questão e, sim, uma solução para o desenvolvimento.
Então, é a partir dessa globalização que intervém explicitamente a questão ambiental.
O ilustre autor, em seu livro “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização”,
também questiona o sistema-mundo moderno-colonial, defendendo que não há razão para tal:
“Como e porque os recursos naturais devem continuar fluindo do sul para o norte? A
globalização neoliberal é uma resposta de superação capitalista a essas questões, para o que,
sem dúvida, procura, à sua moda, apropriar-se de reivindicações como o direito a diferença,
para com ele justificar a desigualdade e, também, assimilar à sua lógica do mercado a questão
ambiental.” (GONÇALVES, 2005).

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