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O MOVIMENTO ALTERMUNDIALISTA

Ana Elisa Corrêa1

RESUMO

A pesquisa desenvolve uma análise da bibliografia produzida de 1998 até os dias


atuais sobre o movimento altermundialista. Essa análise se dá através de um levantamento
bibliográfico amplo, um estudo e um mapeamento crítico do extenso material produzido
sobre o tema. Através dessa análise pretendemos compreender o movimento em linhas
gerais, principalmente no que diz respeito à suas causas e origens de surgimento, sua
composição social, seus objetivos, sua grande heterogeneidade e sua evolução. Trata-se de
uma tentativa de solucionar o problema da característica fragmentária presente na
bibliografia, dificultando um estudo bibliográfico aprofundado do movimento
altermundialista2.

Este movimento surge com influências de diversos movimentos sociais como o


movimento zapatista no México que teve seu início em 1994 e os movimentos anarquista,
feminista, ecologista, dos homossexuais, movimento de rádios livres, movimentos
sindicais, movimento pela terra, movimento estudantil independente, entre outros, que
surgiram em sua maioria na década de 1960. O movimento altermundialista formou-se a
partir de encontros organizados pelos zapatistas. Essa união de movimentos se consolidou
com a criação da Ação Global dos Povos (AGP) em uma reunião em Genebra, na Suíça, em
fevereiro de 1998. A AGP tem como objetivo central determinar dias de ação global para a
realização de manifestações em todo o mundo contra a política neoliberal. Esses dias de
ação ocorreriam simultaneamente a reuniões das organizações mundiais econômicas e
políticas que regulam e garantem a manutenção das políticas neoliberais no globo como o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial de
Comércio (OMC) e o G8.

O marco simbólico do surgimento do movimento de resistência foi as manifestações


em Seattle, nos Estados Unidos, que contou com entre 30 e 50 mil manifestantes, durante
uma reunião da OMC, em 30 de novembro de 1999. Esta teria sido a reunião que iria
impulsionar a chamada “rodada do milênio”, que tinha como objetivo acelerar a
liberalização comercial no novo milênio que chegava. Após essa fase inicial de protestos
ocorreram diversas manifestações importantes em todo o mundo culminando na criação do
Fórum Social Mundial. O primeiro foi realizado em Porto Alegre, capital do Rio Grande do
Sul, em janeiro de 2001, com o objetivo de criar alternativas viáveis para uma mudança na
organização mundial.

1
Aluna do curso de graduação em Ciências Sociais da Unicamp; membro do Grupo de Pesquisa
Neoliberalismo e relações de classe.
2 Optamos por utilizar essa denominação do movimento assim como a de “Movimento de Resistência
Global” por estas serem aparentemente as mais aceitas pelos próprios integrantes do movimento e por uma
parcela extensa dos estudiosos sobre o tema. Outras denominações que podem ser encontradas são:
Movimento(s) Antiglobalização, Movimento(s) Contra a Globalização Econômica, Movimento(s)
Anticapitalista(s), entre outros.

1
Assim, através de uma análise do avanço do capitalismo neoliberal no último
século, compreendemos o surgimento desse movimento como uma forma de resistência
importante às suas conseqüências. Essas conseqüências podem ser observadas no impacto
ecológico e humano, material e subjetivo que afeta direta ou indiretamente o presente e o
futuro da humanidade. Assim, a importância desse tema também está ligada às
possibilidades de transformação desse sistema, considerando qual seria a real influência
desse movimento nessa realização e qual seria o “outro mundo possível” de ser construído.
Os movimentos são aparentemente a grande demonstração popular de tentativa de
resistência à lógica de primazia do capital em detrimento dos recursos naturais, da saúde da
população mundial, da justiça, da democracia, da paz, da igualdade social. Exemplos
importantes dessa luta podem ser encontrados através da observação dos objetivos
específicos que os diversos grupos possuem ao participar das manifestações e outras ações
de luta. Enquanto o movimento feminista luta pelo fim da exploração do corpo feminino
como uma mercadoria, o movimento ecologista manifesta-se contra os transgênicos e pelo
controle da expansão capitalista que promove destruição dos meios naturais, o movimento
sindicalista luta pela não precarização dos direitos trabalhistas e dos postos de trabalho, os
movimentos de mídia manifestam-se pela democratização da mídia e dos meios de
comunicação e os movimentos rurais e campesinos protestam contra os latifúndios e usos
indevidos e improdutivos da terra e pela a realização de reforma agrária, etc. Existem
também setores considerados radicais que lutam explicitamente contra o sistema capitalista
em geral e não apenas contra sua manifestação sob sistema neoliberal e suas conseqüências.

Assim, podemos concluir que o estudo desse movimento está fortemente


relacionado com o tema da seção três “Economia e Sociedade no Capitalismo
Contemporâneo” desse colóquio devido à atualidade do movimento altermundialista, seu
embate com o sistema capitalista neoliberal e sua importância no cenário mundial atual
como um novo movimento de resistência ao sistema que abrange diversidade e quantidade
considerável de movimentos sociais em todo o mundo.

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