Você está na página 1de 25

2

1. O Setor Bancário no Brasil

O setor bancário no Brasil passou por grandes mudanças desde o início da pandemia de
COVID-19 em 2020 e também devido à ascensão das fintechs. Isso resultou em um rápido
processo de digitalização, melhorias nos aplicativos bancários e uma redução no número de
agências e funcionários.

Atualmente, o cenário no setor bancário está se tornando desafiador para manter uma alta
rentabilidade. Isso se deve principalmente à presença crescente das fintechs, cooperativas
de crédito e às mudanças nas regulamentações, que afetam a lucratividade de produtos
como o cheque especial e o empréstimo consignado. Além disso, a introdução do PIX
eliminou as taxas de transferência entre contas, tudo isso impactando negativamente a
receita dos bancos.

Essas mudanças resultaram em uma perda de fontes de receita para os bancos, levando a
uma competição mais acirrada entre eles. Muitos bancos também tiveram que lidar com a
provisão para devedores duvidosos (PDD), o que contribuiu para uma queda no Retorno
sobre Patrimônio Líquido (ROE) do setor bancário nos últimos anos.

Ao analisar o ROE dos cinco principais bancos do Brasil - Itaú, Banco do Brasil, Bradesco,
Santander e Caixa Econômica Federal - vemos uma diminuição. Em 2019, antes da
pandemia, a média do ROE era de 21,7%, enquanto em 2022, caiu para 15,9%.

Fonte: Dados das Companhias | Elaboração: Autor

Acompanhando a queda na rentabilidade dos bancos, observamos uma deterioração


adicional no Índice de Eficiência Operacional (IEO). Esse fenômeno é largamente atribuído
ao aumento das despesas administrativas, combinado com uma desaceleração no
crescimento das receitas operacionais. Em 2022, o IEO registrou uma deterioração de 1,4
pontos percentuais em relação ao período anterior.

Essa tendência representa um desafio importante para os bancos, pois sugere uma pressão
cada vez maior sobre sua habilidade de operar de maneira eficiente e lucrativa. De acordo
com o relatório de Economia Bancária do Banco Central (2022), o aumento das despesas

3
administrativas foi impulsionado principalmente pelo crescimento das despesas com pessoal,
que foram as principais responsáveis por esse aumento.

Além disso, a redução do ritmo de crescimento das receitas operacionais já falamos acima
alguns dos motivos dessa redução.

Essa análise do IEO destaca a importância para os bancos de implementar estratégias


eficazes de controle de custos, otimização de processos e diversificação de receitas para
enfrentar os desafios atuais do ambiente operacional. O acompanhamento regular desses
indicadores é fundamental para avaliar o desempenho e a saúde financeira das instituições
bancárias.

Fonte: Bacen | Elaboração: Autor

Mercado de Crédito

Vamos analisar como a concorrência funciona nos mercados de crédito para os bancos. Para
fazer isso, usamos um indicador chamado de Índice de Lerner, que nos ajuda a avaliar o
nível de concorrência em cada banco. Ele é calculado comparando o preço cobrado pelo
banco ao custo marginal (aumento no custo de produção de uma unidade adicional).

Em um mercado onde a concorrência é monopolística e os bancos procuram maximizar seus


lucros, o Índice de Lerner é inversamente proporcional à elasticidade-preço da demanda. Em
termos simples, isso significa que, no setor financeiro, quanto menor a sensibilidade dos
clientes a mudanças nas taxas de juros, maior será o Índice de Lerner. Isso indica que o
banco tem mais poder de mercado e há menos concorrência.

No mercado bancário, o Índice de Lerner para o mercado de crédito aumentou entre 2015 e
2019, sugerindo uma diminuição na concorrência durante esse período. No entanto, após o
início da pandemia de COVID-19, ele caiu significativamente, indicando um aumento na
competição entre os bancos. Em 2022, o indicador permaneceu relativamente estável em

4
torno de 0,30, embora tenha havido uma leve redução no final de 2022 em comparação com
o final de 2021.

Essa estabilidade em 2022 foi resultado de um aumento semelhante tanto nos preços quanto
nos custos marginais. O aumento dos custos marginais e dos preços, que foi de cerca de
45% durante o período, pode ser parcialmente explicado pelo comportamento da taxa Selic,
a taxa básica de juros da economia brasileira.

Fonte: Bacen

Vamos agora discutir um pouco sobre como tem se comportado a carteira de crédito total das
Instituições Financeiras, algo muito importante para os bancos. Em 2022, a carteira de
crédito terminou o ano com um forte crescimento pelo terceiro ano consecutivo. O saldo total
dos empréstimos e financiamentos aumentou 14,0% em relação ao ano anterior, alcançando
a marca de R$ 5,3 trilhões. A proporção entre o crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) do
país aumentou 1,2 pontos percentuais no ano, chegando a 53,8% em dezembro.

Ao analisar o balanço final de 2022, observamos que o estoque de crédito para pessoas
físicas teve um aumento de 17,7% (em comparação com 21,0% em 2021). Esse crescimento
foi impulsionado por um aumento de 17,4% nas modalidades de crédito livre, com destaque
para o crédito consignado, e um aumento de 18,0% no crédito direcionado, com destaque
para o crédito rural e os financiamentos imobiliários.

No segmento de pessoas jurídicas, também houve um aumento no saldo de crédito, que foi
de 9,0% (em comparação com 10,6% em 2021). Nesse caso, o crédito livre teve uma
variação de 10,1%, com destaque para as modalidades de capital de giro, desconto de
duplicatas e financiamento de veículos. Já o crédito direcionado avançou 6,9%, com
crescimentos específicos de 5,5% no saldo das operações do BNDES, 12,0% no crédito rural
e 5,0% em outras modalidades de crédito direcionado, que incluem programas como
Pronampe e Peac.

5
Fonte: Bacen | Elaboração: Autor

Captações

Essas fontes de captação são muito importantes para os bancos, pois quanto menos eles
pagarem pelo dinheiro que captam, mais lucro eles terão. Isso acontece porque eles cobram
uma taxa de juros maior dos clientes do que a que pagam para captar o dinheiro, e essa
diferença é chamada de spread bancário.

Em 2022, as principais fontes de captação dos bancos cresceram mais do que em 2021,
chegando a 10,9%. Um dos tipos de captação que teve aumento foi o depósito a prazo, que
subiu em R$ 304 bilhões. Outros tipos que se destacaram foram as Letras de Crédito do
Agronegócio (LCAs) e as Letras Imobiliárias (LCIs). Essas letras são muito vantajosas para
os investidores, pois têm uma boa rentabilidade e não pagam Imposto de Renda (IR) para
pessoas físicas.

A tendência é que essas letras de crédito em 2023, venham com um resultado bom. Porém,
em 2024, uma mudança na regulamentação sobre essas letras pode fazer com que elas
sejam emitidas em menor quantidade.

Fonte: Bacen | Elaboração: Autor

6
Taxa de Juros

A taxa de juros básica, chamada de Selic, influencia o quanto os bancos ganham ou perdem
em três aspectos principais: como eles conseguem dinheiro, como eles emprestam dinheiro
e como eles investem dinheiro.

Como eles conseguem dinheiro: Os bancos precisam de dinheiro para poder emprestar
para outras pessoas. Eles conseguem esse dinheiro de várias formas, mas uma das mais
comuns é oferecendo CDBs, que são investimentos que pagam uma porcentagem do CDI,
que acompanha a Selic. Muitas pessoas preferem investir em CDBs do que em outros títulos
do governo que têm uma taxa fixa ou que variam com a inflação. Isso significa que o quanto
os bancos pagam para conseguir dinheiro depende da Selic. Se a Selic sobe, os bancos
pagam mais caro para conseguir dinheiro. Se a Selic desce, os bancos pagam mais barato
para conseguir dinheiro.

Como eles emprestam dinheiro: Os bancos ganham dinheiro emprestando para outras
pessoas e cobrando juros. A Selic afeta o quanto as pessoas querem pegar emprestado e o
quanto elas conseguem pagar. Quando a Selic está alta, as pessoas ficam mais
desestimuladas a pegar empréstimos, porque os juros são mais altos. Quando a Selic está
baixa, as pessoas ficam mais estimuladas a pegar empréstimos, porque os juros são mais
baixos. Além disso, uma Selic alta pode dificultar o pagamento dos empréstimos,
aumentando o risco de calote, o que faz os bancos perderem dinheiro e terem que separar
uma parte do lucro para cobrir essas perdas.

Como eles investem dinheiro: Os bancos também ganham dinheiro investindo em títulos
do governo, que são dívidas que o governo emite para se financiar. Existem títulos que têm
uma taxa fixa, que não muda com o tempo, e títulos que têm uma taxa variável, que muda
com a inflação ou com a Selic. Quando um banco tem muitos títulos com taxa fixa,
especialmente com prazos longos, ele corre o risco de perder dinheiro se a Selic mudar
muito. Por exemplo, se um banco comprou um título com taxa fixa de 10% ao ano e depois a
Selic subiu para 13% ao ano, esse título ficou menos atrativo e vale menos no mercado. O
banco teria que vender esse título por um preço menor do que comprou, tendo prejuízo.

7
2. O Itaú

O banco Itaú é um dos maiores e mais antigos bancos do Brasil. A sua origem remonta a
1924, quando Alfredo Egydio de Souza Aranha fundou o Banco Central de Crédito, em São
Paulo. O banco tinha como objetivo financiar o setor industrial e comercial, que estava em
expansão na época.

Em 1943, o Banco Central de Crédito mudou o seu nome para Banco Federal de Crédito, e
em 1945, para Banco Federal Itaú. O nome Itaú vem da palavra indígena que significa "pedra
grande". O banco cresceu ao longo dos anos, incorporando outras instituições financeiras e
ampliando a sua rede de agências e serviços.

Em 1964, o Banco Federal Itaú se fundiu com o Banco União Comercial, formando o Banco
Federal Itaú S.A. Em 1970, o banco adotou a marca Itaú, que se tornou uma das mais
conhecidas e respeitadas do país. Em 1973, o banco lançou o seu primeiro cartão de crédito,
o Itaucard.

Na década de 1980, o banco enfrentou os desafios da inflação e da crise econômica, mas


conseguiu se manter sólido e rentável. O banco investiu na modernização tecnológica e na
diversificação dos seus produtos e segmentos de atuação. Em 1985, o banco inaugurou a
sua primeira agência no exterior, em Nova York.

Na década de 1990, o banco continuou a sua trajetória de crescimento e inovação. Em 1991,


o banco lançou o Itaú Personnalité, um serviço diferenciado para clientes de alta renda. Em
1995, o banco criou o Itaú Cultural, um centro de arte e cultura que apoia e divulga a
produção artística brasileira.

Em 2008, o banco realizou a maior fusão da história do sistema financeiro brasileiro, ao se


unir com o Banco Unibanco, formando o Itaú Unibanco Holding S.A. O novo banco se tornou
o maior da América Latina em ativos e um dos maiores do mundo. O banco manteve as
marcas Itaú e Unibanco em seus respectivos segmentos de mercado.

Atualmente, o banco Itaú conta com mais de 90 mil colaboradores, mais de 60 milhões de
clientes e mais de 5 mil agências no Brasil e no exterior. O banco oferece uma ampla gama
de produtos e serviços financeiros para pessoas físicas e jurídicas, além de atuar nas áreas
de seguros, previdência, investimentos e responsabilidade social.

8
3. Modelo de Negócios

O Itaú é um banco que atua em diferentes segmentos do mercado financeiro, oferecendo


soluções para diversos tipos de clientes. Os seus principais negócios são:

1. Negócios de Varejo: voltados para pessoas físicas e micro e pequenas empresas no


Brasil, com uma variedade de serviços que incluem crédito, cartões, seguros, previdência e
adquirência. Esse segmento é importante para captar recursos e gerar receitas com juros e
tarifas.

2. Negócios de Atacado: focados em clientes de alto padrão (private banking), gestão de


recursos, mercado de capitais e grandes empresas. Esse segmento se baseia em
relacionamentos duradouros, entendendo as necessidades dos clientes e oferecendo
soluções sob medida. Esse segmento também abrange o banco de investimento, o
financiamento a grandes empresas e a participação no Itaú BBA.

3. Atividades com o Mercado e Corporação: responsáveis por gerenciar os resultados


financeiros relacionados ao capital excedente, à dívida subordinada e ao saldo líquido de
créditos e passivos tributários. Esse segmento também envolve operações no mercado
financeiro, negociação de instrumentos financeiros, gestão de riscos e participação na Porto
Seguro S.A.

4. Atividades Internacionais: aproveitam as sinergias globais em financiamento ao


comércio exterior, emissão de Eurobonds e transações financeiras avançadas. O Itaú tem
presença internacional em locais estratégicos, o que permite oferecer serviços sofisticados
em vários continentes. Esse modelo de negócios dá ao banco uma ampla base de receitas
provenientes de diferentes fontes e geografias, garantindo sua competitividade e relevância
no cenário financeiro global.

9
4. Estratégias da Companhia

O banco reconhece que o futuro do setor financeiro está sendo e continuará a ser afetado
por uma crescente competitividade e mudanças nas expectativas dos clientes.

Diante desse cenário, eles estão motivados a refletir sobre o futuro e a propor uma nova
estratégia corporativa. Os objetivos para o futuro incluem três elementos principais:

1. Organização Rápida e Moderna:

● Estimular a inovação para oferecer experiências excepcionais aos clientes de forma


eficiente.
● Aproximar clientes e equipes, incentivando a autonomia dos nossos times em um
ambiente menos hierárquico.
● Gerar objetividade e agilidade nos processos decisórios que afetam os clientes,
reduzindo sobreposição de responsabilidades e implementando metodologias
facilitadoras para a interação entre as áreas e a tomada de decisão.
● Desenvolver soluções customizadas para as necessidades de cada cliente, reduzindo
redundâncias em serviços e processos por meio de plataformas flexíveis e modernas.
● Praticar a transformação cultural para viabilizar nossas ambições e nos tornarmos o
destino aspiracional de talentos.

2. Obstinação pelos Clientes:

● Ser a primeira escolha dos clientes e construir a marca mais amada.


● Oferecer suporte nos momentos mais importantes para pessoas e empresas,
reconhecendo que nosso sucesso depende do sucesso dos nossos clientes.
● Entregar experiências encantadoras e simples em todos os pontos de contato.
● Conhecer e atender todas as necessidades financeiras reais dos nossos clientes em
diversos canais, sempre com a maior conveniência possível e com uma visão integral
e 360º.

3. Crescimento Sustentável:

● Manter liderança em segmentos chave para rentabilidade.


● Estender nossa liderança no segmento de Pequenas e Médias Empresas (PME).
● Reinventar nossa atuação na base da pirâmide de clientes.
● Explorar meios de crescimento em adjacências, como marketplace e business as a
service, e acelerar oportunidades por meio de corporate venture capital.

10
5. Análise CAMEL

A análise dos principais fatores de crédito de um banco pode ser simplificada a partir da
adaptação dos pilares da metodologia CAMEL, introduzida pela primeira vez em 1979 pela
agência reguladora norte-americana Federal Financial Institutions Examination Council
(FFIEC). A nomenclatura se relaciona às primeiras letras dos parâmetros de análise de
desempenho utilizados:

5.1 Capital (Adequação de Capital)

Capital é o dinheiro que as instituições financeiras precisam ter para fazer seus negócios.
Como elas emprestam muito dinheiro, elas precisam ter um capital mínimo para garantir que
podem pagar suas dívidas e não quebrar.

O Banco Central fiscaliza o capital das instituições financeiras e segue regras internacionais
chamadas de Basileia. O Índice de Basileia é uma medida que mostra quanto de capital uma
instituição financeira tem em relação ao seu risco.

Quanto maior o índice, mais segura é a instituição. O Banco Central exige que o índice seja
de pelo menos 11,5%. O Banco Itaú, tem um índice de 17,0%, o que significa que ele tem um
capital bem acima do mínimo necessário.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

11
5.2 Assets Quality (Qualidade dos Ativos)

O Itaú é o banco com maior quantidade de ativos no país, tendo cerca de R$ 2,7 trilhões
atualmente. Aqui iremos falar sobre as suas fontes de captação, carteira de crédito e índice
de inadimplência.

5.2.1 Captações

O Itaú também é o banco que mais capta dinheiro dos clientes. Ele tem R$ 1,2 trilhões na
carteira comercial, que é o dinheiro que os clientes depositam ou aplicam no banco.

O banco usa esse dinheiro para emprestar ou investir em outras coisas. Mas nem todo
dinheiro que o banco capta é igual. Alguns são mais caros, porque o banco precisa pagar
mais juros ou garantias para os clientes. Outros são mais baratos, porque o banco paga
menos juros ou nada.

Em 2023, o Itaú mudou um pouco as suas fontes de captação. Ele obteve um crescimento
nos depósitos a prazo de 16,4%, que são aplicações que os clientes fazem por um tempo
determinado e recebem uma taxa de juros combinada antes. Ele também captou mais
dinheiro em LCA e LCI com um crescimento de 28,4%, que são papéis que o banco emite e
que têm a ver com o setor agrícola ou imobiliário, esse crescimento em LCA e LCI não deve
se repetir em 2024 em diante devido às novas normas de regulamentação sobre estes
produtos isentos de IR que deve diminuir a emissão deles.

O Itaú captou menos dinheiro em depósitos de poupança e à vista, que são as fontes de
captação mais baratas para o banco, porque ele paga poucos juros ou nenhum juro para os
clientes.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

12
5.2.2 Carteira de Crédito

O banco empresta dinheiro para as pessoas e empresas e recebe juros por isso. Esses
empréstimos são chamados de carteira de crédito e representam a maior parte do que o
banco tem. Mas eles também são o maior perigo para o banco, porque se as pessoas e
empresas não pagarem, o banco pode perder dinheiro. Por isso, o banco precisa ter cuidado
com quem ele empresta e como ele controla os empréstimos. Essa é uma parte muito
importante para avaliar se o banco é bom ou não.

A carteira de crédito comercial do Banco Itaú está dividida em pessoas físicas, pessoas
jurídicas e américa latina, a carteira de crédito comercial cresceu 0,1% saindo de R$ 906,2
bilhões em 2022, para R$ 907,4 bilhões em 2023, já a carteira expandida que é a carteira
comercial mais as garantias financeiras e títulos privados cresceu 3,0% saindo de R$ 1.141,5
bilhões em 2022, para R$ 1.176,5 bilhões em 2023.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

Na carteira de pessoas físicas, o produto mais usado é o cartão de crédito, com cerca de R$
136 bilhões, mas com um crescimento bem baixo de 2022 para 2023 de apenas 0,3%. O
crédito rural cresceu cerca de 47,8%, mas ainda tem uma participação pequena. Depois da
pandemia em 2020, houve algumas mudanças na carteira de crédito. Na carteira de pessoa
física, o crédito imobiliário superou o consignado. Na carteira de pessoa jurídica, as micro,
pequenas e médias empresas, com R$ 169 bilhões, superaram as grandes empresas, que
têm R$ 135 bilhões.

13
Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

Para avaliar a qualidade da carteira de crédito, precisamos observar dois aspectos: a


distribuição dos clientes por nível de risco e o índice de inadimplência.

O nível de risco indica a probabilidade de um cliente não pagar o que deve. Quanto mais alto
o nível, maior o risco.

A distribuição dos clientes por nível de risco mostra que houve uma melhora na carteira, pois
aumentou a participação dos clientes com menor risco (AA-C), que representam 93,8% do
total, e diminuiu a participação dos clientes com maior risco (D-H), que representam apenas
6,2%.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

5.2.3 Índice de Inadimplência

O índice de inadimplência é uma medida que mostra a proporção de clientes que estão com
pagamentos atrasados em relação ao total da carteira de crédito. Quanto menor esse índice,
melhor é a qualidade da carteira.

Recentemente, observamos uma melhora no índice de inadimplência para pessoas físicas,


com uma redução de 0,5 ponto percentual. Para as micro, pequenas, médias e grandes
empresas, o índice se manteve estável, exceto por uma leve piora na América Latina, devido
a um aumento na inadimplência das pessoas físicas no Chile.

14
Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

No Brasil vemos uma melhora de 0,3 p.p e no total uma melhora de 0,2 p.p em relação ao
trimestre anterior, muito em questão da melhora na qualidade das novas safras de crédito
como vimos acima.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

* Excluindo o efeito das vendas de créditos que estariam ativos ao final de dezembro/23, no valor de R$ 344
milhões, sendo R$ 198 milhões de pessoas físicas, R$ 22 milhões da micro, pequenas e médias empresas e R$
125 milhões de grandes empresas no Brasil.

5.3 Management (Qualidade da gestão)

A gestão de qualidade é a habilidade do conselho de administração e da diretoria de um


banco em lidar com os riscos das suas atividades e garantir que o banco seja estável, sólido
e continue funcionando.

Um sinal de boa gestão de um banco é buscar eficiência por meio do controle dos custos
operacionais, como gastos com pessoal, impostos e administração. Mas nem sempre gastar
menos é melhor. Investimentos altos em tecnologia e recursos humanos, quando bem
planejados e bem executados, podem trazer benefícios para os resultados operacionais no
futuro. Por isso, não dá para dizer que despesas mais baixas são sempre positivas.

15
Outras boas práticas gerenciais que podem melhorar o resultado do banco são: ter
procedimentos internos e controles adequados, ter um bom nível de governança corporativa,
ter uma auditoria interna forte e monitorar os riscos de forma eficaz.

5.3.1 Governança Corporativa

O Conselho de Administração é composto por doze membros, sendo cinco deles


independentes. A maioria desses membros possui experiência no setor financeiro, mercado
de capitais e administração.

Milton Maluhy Filho, é sócio e atua como Diretor Presidente do Itaú Unibanco desde 2021.
Anteriormente, ele foi Vice-Presidente Executivo de Finanças e Riscos. Maluhy ocupou
diversos cargos no Itaú Unibanco, incluindo o de Vice-Presidente de 2019 a 2020, e foi
Diretor Presidente do Itaú CorpBanca no Chile de 2016 a 2018. Durante esse período, foi
responsável pela fusão bem-sucedida de dois bancos, o CorpBanca e o Banco Itaú Chile.
Ele começou sua carreira no Itaú Unibanco em 2002 e foi eleito Diretor em 2007.

Em relação à remuneração, a composição anual dos membros do Conselho de


Administração, da Diretoria, do Conselho Fiscal e do Comitê de Auditoria será discutida em
seguida.

Fonte: RI da Empresa

16
Estrutura Acionária

Fonte: RI da Empresa

Remuneração da Diretoria e Conselho como percentual do Lucro Líquido.

Quando comparamos com seus pares como Bradesco, Banco do Brasil e Santander a
remuneração da Diretoria e Conselho como percentual do Lucro Líquido, em todos eles
remuneram a Diretoria e Conselho com um percentual do lucro maior que do Itaú.

17
5.3.2 Índice de eficiência (IEO)

Para finalizar nossa análise sobre a qualidade da gestão, vamos dar uma olhada no índice
de eficiência (IEO).

Esse índice é obtido por meio da divisão das Despesas não decorrentes de juros pela soma
da Margem Financeira Gerencial, das Receitas de Prestação de Serviços, do Resultado de
Operações com Seguros, Previdência e Capitalização e das Despesas Tributárias (ISS, PIS,
Cofins e Outras). Quanto menor esse número, melhor é a eficiência do banco.

Entre 2019 e 2020, vimos uma piora de aproximadamente 1,6% no índice, devido à
pandemia da COVID-19. No entanto, desde então, ele vem melhorando gradualmente,
atingindo 39,9% em 2023. Esse é o melhor resultado da companhia desde 2015, o que
indica que a gestão tem feito um excelente trabalho.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

5.4 Earnings (Resultados)

Resultados positivos são essenciais para garantir que os bancos mantenham níveis
adequados de capital e continuem concedendo crédito. Além disso, esses resultados
proporcionam aos bancos mais segurança para implementar suas estratégias de gestão,
como mudanças de posicionamento ou projetos de expansão. Por outro lado, perdas
constantes representam uma ameaça à solvência da instituição financeira, pois levam à
deterioração do capital.

A margem financeira é uma medida importante para os bancos e pode ser dividida em duas
partes: margem financeira com clientes e margem financeira com o mercado.

18
5.4.1 Margem financeira com clientes

É a diferença entre o que o banco cobra dos seus clientes pelos empréstimos e o que ele
paga aos seus clientes pelos depósitos.

A receita da margem financeira com clientes foi de R$ 100.828 milhões em 2023, obtendo
um crescimento de 12,5% em relação a 2022, que foi de R$ 89.641 milhões.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

Observamos um aumento nas receitas da margem financeira com clientes, o que é positivo.
No entanto, apenas observar o crescimento da receita não é suficiente; precisamos analisar
as taxas médias anualizadas da margem financeira com clientes e também a margem
ajustada ao risco. Essas são medidas que os bancos utilizam para calcular a média das
taxas de juros que cobram em empréstimos concedidos aos clientes, e a margem ajustada
ao risco leva em consideração as perdas esperadas devido à inadimplência dos clientes.

Essas taxas médias têm melhorado a cada trimestre, atingindo 9,0% no último trimestre de
2023. Além disso, a margem ajustada ao risco também está melhorando, chegando a 5,8%.
Isso indica que o banco está conseguindo cobrar mais pelos seus empréstimos, e quando
ajustamos ao risco, vemos uma melhoria no valor das provisões para devedores duvidosos
(PDD), o que resulta em uma taxa mais elevada de retorno para o banco.

Taxas Médias anualizadas da Margem Financeira com Clientes

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

19
5.4.2 Margem financeira com o mercado

É a diferença entre o que o banco ganha com as suas aplicações financeiras e o que ele
paga pelo seu custo de captação. Essas duas margens compõem a margem financeira total
do banco, que é um indicador da sua rentabilidade.

Em 2021, a margem financeira com o mercado foi de R$ 7.679 milhões, porém caiu para R$
2.921 milhões em 2022, representando uma redução significativa de 62,0%. Isso pode ter
ocorrido devido ao fato de o banco possuir títulos do governo na época em que a taxa Selic
estava baixa. Quando o Banco Central elevou a taxa Selic, esses títulos perderam valor,
resultando na redução da margem financeira.

Por outro lado, em 2023, a margem financeira com o mercado começou a se recuperar,
atingindo R$ 3.270 milhões, o que representa um crescimento de 11,9% em relação ao ano
anterior. Essa melhora pode indicar uma adaptação do banco às mudanças nas taxas de
juros e uma possível estratégia mais eficaz na gestão de seus investimentos no mercado
financeiro.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

5.4.3 Lucro Líquido

Chegou a hora de analisar o lucro líquido e o seu crescimento ao longo do tempo. Em 2020,
o banco enfrentou dificuldades devido à pandemia, como era de se esperar. No entanto, no
ano seguinte, registrou um crescimento significativo de 45,0% em seu lucro. Em 2022, o
lucro líquido foi de R$ 30.787 milhões, e em 2023, saltou para R$ 35.618 milhões,
representando um crescimento de 15,7%.

20
Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

5.4.4 ROE

Uma das melhores maneiras de analisar a lucratividade dos bancos é através do Return on
Equity (ROE), que é calculado dividindo o lucro líquido pela média do patrimônio líquido.

No caso do Banco Itaú, observamos um ROE elevado e crescente em comparação com


anos anteriores, atingindo 20,8% em 2023. Enquanto isso, no setor bancário em geral, a
média do ROE tem diminuído, chegando a 15,9% em 2022. Mesmo assim, o Itaú tem sido
capaz de aumentar seu ROE, o que indica que está bem posicionado e possui uma
estratégia sólida em comparação com seus concorrentes.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

5.5 Liquidity (Liquidez)

Uma boa gestão de liquidez é essencial para garantir que os bancos tenham fundos
suficientes para cumprir suas obrigações financeiras e também para vender ativos
rapidamente, sem perder muito valor. É importante evitar depender demais de uma única
fonte de financiamento e garantir que os ativos e passivos do banco estejam equilibrados.

21
Como mencionado antes, a atividade principal dos bancos é a intermediação financeira, o
que torna a falta de liquidez um risco significativo.

Por exemplo, em bancos que oferecem contas correntes, os ativos precisam ser líquidos o
suficiente para cobrir os saques previsíveis dos clientes em condições normais.

Para avaliar a liquidez, é importante analisar tanto o curto quanto o longo prazo. O índice de
liquidez de curto prazo é especialmente crucial. Ele é calculado comparando os ativos que
podem ser realizados nos próximos 12 meses com os passivos a serem pagos no mesmo
período. Se esse índice for menor que 1,0x, significa que o banco pode não ter fundos
suficientes para pagar todas as suas obrigações de curto prazo.

O Itaú está com um índice de liquidez de curto prazo bem saudável com 1,9x muito
provavelmente não terá problemas com solvência.

Fonte: Dados da Companhia | Elaboração: Autor

22
6. Principais Riscos

A concorrência tem se intensificado cada vez mais no setor bancário, muito por novos
concorrentes como cooperativas de crédito e fintechs que acabou mudando o modelo de
negócio dos bancos tradicionais e obrigando a substituírem alguns serviços tradicionais por
alternativas tecnológicas.

Alterações na lei ou regulamentação aplicável às instituições financeiras, podem ter um


efeito adverso relevante sobre nossos negócios especialmente em regulamentação que
impõe: limites de crédito, restrições nas fontes de captações, regulamentação de seguros,
restrições nas atividades de cartão de crédito, consignado e entre outros.

Nossas operações são afetadas pelas condições macroeconômicas e geopolíticas


globais, especialmente no Brasil e em outros países onde temos operações. Mudanças nas
condições macroeconômicas e geopolíticas, tais como crescimento econômico, renda,
desemprego, inflação e flutuações nas taxas de juros e de câmbio, podem continuar a afetar
a demanda por crédito e serviços financeiros, assim como a capacidade de pagamento por
parte de nossos clientes.

23
7. Valuation

Utilizei duas metodologias diferentes de valuation para chegar ao preço alvo:

- Modelo DDM.
- Modelo Excess Return.

Eu utilizei uma taxa de desconto (Ke) de 14,1%.

Para fazer as projeções, comecei com um ROE inicial de 20,5% e uma proporção de
distribuição de lucros (Payout) de 40,0%. Para a perpetuidade, estimei que o ROE se
estabilizaria em 19,5%, o Payout aumentaria para 69,3% e a taxa de crescimento seria de
6,0%.

Para concluir fiz duas análises de sensibilidade, uma da taxa crescimento g pelo custo de
capital Ke e outra do Ke pelo ROE mostrando como varia o preço da ação se aumenta ou
diminui cada uma dessas variáveis.

24
Com isso cheguei a esses preços para a ação:

Cotação (em 16/02/2024): 34,54


Preço-alvo: R$ 33,53
Potencial Upside/Downside (em relação à última cotação): -2,9%
Recomendação: Neutra.

25

Você também pode gostar