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Publicado em 18.10.

2019
14.06.2021

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Ao realizar investimentos em ações com foco no longo prazo, é primordial
levar em consideração a perenidade das empresas ou do setor em que
elas estão inseridas.

Podemos afirmar que o setor bancário tem sido um bom exemplo.


Historicamente, no Brasil, ele é conhecido pela alta rentabilidade de
poucos bancos – e por ter empresas boas pagadoras de dividendos.

Mesmo em momentos de crises, como a recessão de 2016, a crise do


subprime (2008), a crise da dívida externa e os momentos de hiperinflação
pelos quais o Brasil passou, os grandes bancos foram muito lucrativos e
ótimos alocadores de capital.

Por outro lado, excluindo essa elite de instituições financeiras, uma série de
bancos pequenos (e alguns nem tão pequenos assim) fechou as portas
durante nossa história economicamente turbulenta.

O setor bancário pertence ao Sistema Financeiro Nacional (SFN). Este é


formado por um conjunto de entidades e instituições que promovem a
intermediação financeira, ou seja, o encontro entre credores e tomadores
de recursos. E é por esse sistema que as pessoas, o setor público e as
empresas circulam a maior parte de seus ativos, pagam suas dívidas e
fazem investimentos.

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O SFN é organizado por agentes normativos, supervisores e operadores. Os
normativos determinam as regras do sistema; os supervisores trabalham
para que os integrantes do sistema sigam as regras definidas pelos órgãos
normativos. Por fim, os operadores oferecem os serviços financeiros.

Os bancos fazem parte dos operadores: sua principal função é realizar a


intermediação financeira entre poupadores e aqueles que precisam de
empréstimos. Além disso, eles providenciam outros serviços financeiros a
seus clientes, como saques, empréstimos e investimentos.

Existem cinco tipos de banco no Brasil:

▪ Bancos comerciais: os bancos mais conhecidos pelo público. Pode-


se dizer que esse é o principal pilar do sistema monetário. Os bancos
comerciais são responsáveis por realizar a intermediação da
circulação de recursos entre investidores e tomadores de
empréstimos, por meio de depósitos à vista e a prazo, geralmente
para comércios, indústrias, prestadores de serviços e pessoas físicas.

▪ Bancos de investimento: instituições que têm como principais


funções a administração de recursos de terceiros, o fornecimento de
crédito de médio e longo prazo e a realização de operações de
fusões e aquisições. Os bancos de investimento ainda atuam em
IPOs, na administração de fundos de investimentos e na realização
de empréstimos para capital fixo ou de giro.

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A diferença entre o banco comercial e o de investimento é que o
primeiro capta recursos à vista (em que o cliente pode fazer o saque
a qualquer momento) e a prazo (em que o dinheiro do cliente não
pode ser sacado a qualquer momento, mas sim em uma data futura,
prefixada em contrato). Já o banco de investimento somente capta a
prazo. Ademais, ele tem como característica uma clientela maior de
caráter pessoa jurídica.

▪ Bancos de desenvolvimento: instituições públicas que têm como


principal função promover o financiamento, de médio e longo prazo,
de projetos que visam ao desenvolvimento econômico e social. Seu
principal atuante é o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico (BNDES).

▪ Bancos de câmbio: instituições responsáveis por realizar a compra e


a venda de moeda estrangeira.

▪ Bancos múltiplos: instituições financeiras que atuam em diversas


áreas do setor bancário. Trata-se do tipo de maior
representatividade no setor. Eles podem apresentar até seis tipos de
carteira: (1) comercial; (2) de investimento; (3) de arrendamento
mercantil; (4) de financiamento; (5) de crédito imobiliário e (6) de
financiamento e investimento. Geralmente, esse tipo de banco
dispõe de um CNPJ diferente para cada carteira, mas, na
apresentação de resultados, pode apresentar um único balanço.

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Para um banco ser considerado múltiplo, ele precisa operar no
mínimo em duas carteiras – e uma delas deve ser de investimento
ou comercial. Instituições como Itaú, Bradesco e Santander fazem
parte dessa categoria de banco.

Como informamos, o setor bancário é um dos mais rentáveis da bolsa


brasileira. De um modo geral, ele apresentou crescimento em seus lucros e
dividendos ao longo do tempo. Para se ter ideia desse crescimento, vemos
o seguinte gráfico, que demonstra a evolução do lucro líquido e do ROE do
setor entre janeiro 2017 e dezembro 2019.

Lucro líquido e ROE do setor bancário acumulado de 12 meses – Fonte: Banco Central do Brasil.

Quando comparado com setores bancários de outros países, por exemplo,


o ROE brasileiro era o quinto maior (em 2019).

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ROE comparativo internacional – Fonte: Financial Soundness Indicators.

Segundo o relatório sobre a evolução do Sistema Financeiro Nacional do


Banco Central Brasileiro (BCB) de abril de 2021, o setor bancário conta com
137 bancos múltiplos e 20 bancos comerciais, totalizando 157 bancos.

Olhando pelos números absolutos, poderíamos dizer que o setor é muito


pulverizado e bastante competitivo. Porém, quando olhamos pelos
agregados contábeis relativos aos ativos totais, a história é outra.

De acordo com o Relatório de Economia Bancária (REB) divulgado pelo


Banco Central para o final de 2019, os cinco maiores bancos do Brasil –
Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander – concentravam 81% de
todos os ativos do setor bancário comercial. Apesar de esse número ser
inferior ao registrado em 2018 e 2017 (81,2% e 82,6%, respectivamente), o
setor é um dos mais concentrados do mundo.

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Esse índice de concentração foi expressivo ao longo dos anos por conta da
alta regulação existente no setor, que dificultou a entrada de novos
competidores. Além disso, outro fato que consolidou a concentração do
setor bancário foi a grande onda de fusões e aquisições ocorrida no fim dos
anos 1990 e no começo dos anos 2000.

Isso ficou muito evidente após o Plano Real: grande parte dos bancos
públicos e privados precisava da ajuda do Governo Federal, porque muitas
dessas instituições estavam insolventes no período pós-inflacionário.

Afinal, a principal fonte de receita dos bancos provinha da inflação, visto


que eles aplicavam o dinheiro dos clientes em créditos ou títulos a taxas
que a incluíam. Assim, os bancos ganhavam com a inflação e o juro real:
quando havia o saque, somente o principal era devolvido ao cliente.

Entretanto, essa receita – em torno de 4% do PIB entre 1990 e 1990 – caiu


pela metade em 1994, após a queda expressiva da inflação. A solução do
setor bancário foi expandir o crédito, mas as instituições não tomaram os
devidos cuidados com relação à capacidade de pagar os novos e antigos
devedores. Isso trouxe dificuldades financeiras a muitos bancos: como
consequência, eles precisavam de resgate.

A solução do Governo Federal foi reestruturar o sistema bancário privado e


público, com o Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual
na Atividade Bancária (PROES) e o Programa de Estímulo à Reestruturação
e ao Fortalecimento do Sistema Nacional (PROER).

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Esses programas realizados pelo Governo Federal acarretaram diversas
privatizações de bancos estaduais e federais. Como podemos ver na
imagem abaixo, muitas dessas companhias foram compradas pelas
maiores instituições financeiras do Brasil, o que ajudou a aumentar a
concentração do setor.

Privatizações de bancos federais e estaduais — Fonte: Gustavo Franco (2017, p. 667). Adaptação: Suno Research.

De acordo com o Banco Central, tem havido uma diminuição da


concentração do setor desde 2017 – e se espera que o cenário permaneça
assim para os próximos anos. Isso se deve principalmente às novas fintechs
e aos novos projetos que o BCB vem lançando para aumentar a
competitividade do setor, como o PIX e o open banking.

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O setor bancário é extremamente regulado, e seu principal órgão regulador
é o próprio Banco Central Brasileiro. Conhecido como “banco dos bancos”,
o BCB tem entre suas principais responsabilidades zelar pela estabilidade
financeira e pelo bom funcionamento do sistema bancário.

É o Banco Central quem recolhe os compulsórios, controla o crédito, realiza


operações de redesconto, dita a taxa básica de juros da economia e
fiscaliza as instituições financeiras.

Por conta da regulação extrema – e diante da enorme rigidez do BCB com


a fiscalização –, o setor bancário brasileiro é um dos mais estáveis do
mundo. Durante a crise do subprime, em 2008, não houve uma quebra
total do setor, como ocorrido em outros países. Houve apenas um
enxugamento de liquidez.

Para se ter ideia dessa estabilidade, é muito importante analisar o índice de


Basileia do setor bancário brasileiro.

O índice de Basileia foi criado em 1988, a partir de um acordo estabelecido


pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basileia (BCBS). Esse primeiro
acordo, também conhecido como Basileia I, tinha como objetivo
estabelecer uma exigência mínima de capital das instituições financeiras.

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Em 2004, o acordo passou por uma revisão. Novas recomendações foram
estabelecidas e ficaram conhecidas como Basileia II. O objetivo do acordo
era trazer mais precisão à avaliação dos riscos incorridos por instituições
financeiras que atuavam em muitos países.

Após a crise financeira de 2008, o BCBS percebeu que o Basileia I e o


Basileia II não eram suficientes para manter a alavancagem dos bancos
estável. Em 2010, portanto, foi lançado o Basileia III.

Esse índice mede a solvência de uma determinada instituição financeira, ou


seja, a relação entre capitais próprios e capitais de terceiros. Ele é
calculado pelo patrimônio de referência dividido pelos ativos ponderados
pelo risco (RWA).

O patrimônio de referência é formado por dois níveis de capital: Tier 1 e


Tier 2. O primeiro nível é composto pelos lucros acumulados e pelo capital
social do banco; o segundo nível, pelo capital suplementar. Por sua vez, o
RWA é uma medida que indica a adequação de capital necessária para
determinada instituição.

Para ser considerado saudável, o BCBS recomenda apresentar um índice de


ao menos 8%. Abaixo disso, considera-se muito arriscado. Ademais, o
comitê recomenda que o nível I e o capital principal também disponham de
exigências mínimas (4,5% e 6%, respectivamente).

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Por outro lado, também não é saudável ter um índice tão elevado, pois
haveria dinheiro em excesso no caixa. Como consequência, o banco
perderia rentabilidade. Historicamente, o índice de Basileia dos bancos
brasileiros esteve acima do recomendado.

Como podemos observar na imagem abaixo, nos últimos anos, o índice de


Basileia dos bancos brasileiros esteve na casa dos 18%, caiu um pouco para
16% e, mesmo assim, continua com um número saudável.

Índice de Basileia — Fonte: Banco Central Brasileiro. Adaptação: Suno Research.

Mesmo com a regulação alta – e com muitas exigências a serem seguidas –,


os bancos brasileiros ainda conseguem ser bastante lucrativos. Afinal, o
setor é extremamente concentrado, o que possibilita a cobrança de tarifas
expressivas pelos serviços oferecidos. Assim, garantem-se a segurança e a
rentabilidade dos acionistas.

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Com o avanço da tecnologia no Brasil, as fintechs vêm ganhando espaço
como alternativa aos grandes bancos. Cada vez mais, as pessoas estão
concentrando seus depósitos em bancos digitais.

Esses bancos digitais, como Inter e Nubank, são aqueles que mais
cresceram nos últimos anos. Em suas últimas divulgações, eles contavam
com 10,2 milhões e 33 milhões de clientes, respectivamente.

Com uma combinação de isenção de taxas sobre os serviços, remuneração


da conta corrente (de acordo com a política atual da taxa de juros) e um
atendimento melhor se comparado com o dos bancos tradicionais, os
bancos digitais têm conseguido atrair milhares de clientes.

Esse grande fluxo de clientes também pode ser explicado pelos menores
requisitos que os bancos digitais estabelecem em relação aos tradicionais
na hora de abrir contas. Assim, eles conseguem atrair milhares de
desbancarizados que antes não tinham a possibilidade de abrir suas
próprias contas.

Pode-se dizer que até as subsidiárias dos bancos tradicionais estão


sofrendo. Afinal, a concorrência se encontra em todos os lugares:
seguros, investimentos, crédito e pagamentos. Por exemplo, a corretora
do Inter oferece taxas zero e, mais recentemente, o Nubank adquiriu a
corretora Easynvest.

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Entretanto, as fintechs ameaçam principalmente a área de serviços, pois
outras áreas, como a parte de crédito, são mais difíceis de penetrar, devido
ao risco maior da atividade e à dificuldade de adequação de capital. Além
da entrada dessas novas companhias no mercado, as inovações do PIX e do
open banking, trazidas pelo Banco Central, devem renovar o setor.

▪ PIX: sistema de pagamento instantâneo em que os recursos são


transferidos entre contas de bancos em poucos segundos, a
qualquer dia ou hora. A transferência pode ser realizada por meio de
conta corrente, conta poupança ou conta de pagamento pré-pago.

Além de abaixar o custo e aumentar a eficiência do mercado, o BCB


está tentando estimular a competição entre os bancos. Isso pode ser
um problema para os tradicionais, afinal, com esse meio de
pagamento, eles perdem uma boa parte das suas receitas, isto é, a
parcela oriunda das transferências com taxas.

Entretanto, os bancos tradicionais foram a favor do PIX, porque, com


esse novo meio, eles ganharam novos clientes – e os custos do PIX
são menores que os de outros sistemas de transferência.

▪ Open banking: sistema em que clientes de produtos e serviços


financeiros permitem o compartilhamento de suas informações
entre diferentes instituições financeiras, bem como a movimentação
de suas contas bancárias a partir de diferentes plataformas.

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Atualmente, uma instituição não tem os direitos de visualizar as
informações de clientes de outra instituição, o que dificulta a
competição e a melhoria na oferta de produtos.

Porém, com a implementação – e a permissão do compartilhamento


de dados por parte dos clientes –, as instituições terão acesso às
informações dos usuários. Assim, elas poderão ofertar produtos de
melhor qualidade, o que, por consequência, tende a promover a
competição entre as instituições financeiras.

Do lado do consumidor, essas inovações serão benéficas, porque


haverá mais ofertas de serviços financeiros por um preço menor. Por
sua vez, os bancos tradicionais terão de deixar suas zonas de
conforto e começar a agir. Do contrário, ficarão para trás e perderão
espaço paras as fintechs.

Obviamente, ainda há muito a ser feito no setor. Porém, com essas


primeiras mudanças, as condições e os serviços prestados começam
a ir por um caminho agradável para os consumidores.

Neste intertítulo, abordaremos as características do segmento, trazendo os


principais indicadores a serem observados em um banco, bem como as
vantagens e desvantagens do setor.

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Antes de começar a falar dos indicadores, é importante entender que,
diferentemente das companhias não financeiras, o EBITDA – muito usado
como uma parâmetro do fluxo de caixa – não é uma métrica válida para
instituições financeiras, como os bancos e as seguradoras. Afinal, os juros
fazem parte de seus resultados.

Isto é, os bancos também vendem produtos, como as empresas comuns.


Porém, em vez de gerarem receita com a venda de bens ou serviços, eles o
fazem a partir do próprio dinheiro, então não faria sentido excluir a receita
e as despesas com juros do resultado de um banco.

Então, quando se trata de bancos, o ideal para se chegar a um parâmetro


do fluxo de caixa é olhar o próprio lucro líquido.

▪ ROA (return on assets): um dos indicadores mais usados para


analisar a lucratividade de um banco, pois mede os retornos dos
investimentos feitos. O ROA é a razão do lucro líquido pelo total de
ativos: ele mede a eficiência com que uma empresa pode gerenciar
seus ativos para gerar lucros.

Ele é importante porque mostra quanto uma empresa extrai de


lucros para cada real gasto em ativos. Uma companhia que usa seus
ativos de forma eficiente tem um ROA elevado, e um ROA baixo (ou
diminuindo ao longo do tempo) sugere investimentos ruins.

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▪ ROE (return on equity): pode-se dizer que é a métrica mais
importante para medir a rentabilidade de um banco, pois a partir
desse indicador podemos entender quanto de rentabilidade ele está
gerando a seus acionistas. O ROE é calculado a partir da divisão do
lucro líquido pelo patrimônio líquido.

O desafio de um banco está em encontrar um equilíbrio ótimo entre


um ROE elevado e um índice de Basileia adequado. Porque, se ele
visar somente à rentabilidade, pode elevar a alavancagem, o que
aumenta o risco do banco. Por consequência, isso pode aumentar a
inadimplência. Por outro lado, com um índice de Basileia muito
elevado, o banco pode reduzir sua rentabilidade pelo excesso de
conservadorismo na concessão de crédito.

▪ Índice de inadimplência: mede quanto da carteira do banco está


inadimplente. Assim, pode-se observar se a companhia está
tomando um risco excessivo ao tentar entregar rentabilidade aos
acionistas. Entretanto, o índice de inadimplência pode ser
representativo das condições econômicas de um país. Às vezes, o
banco não toma muitos riscos, mas, por conta de uma recessão
nacional, a inadimplência pode ser maior.

▪ Índice de cobertura: essa métrica é importante, pois mede quanto o


banco tem de provisões em relação à inadimplência. O ideal é que
esse índice esteja acima de 100%, ou até mais.

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Afinal, dessa forma, um banco com índice acima de 100% terá
condições de arcar com a inadimplência, ao passo que um abaixo
desse número poderá ficar insolvente.

Devemos averiguar se essas reservas para inadimplência estão


disponíveis a qualquer momento. Ou seja, elas devem ter uma boa
liquidez. Por exemplo, não basta adicionar um terreno à base de
cálculo, sabendo que ele não será vendido de uma hora para outra.

▪ Escala: os bancos têm uma escala gigantesca. Eles conseguem


expandir seus negócios e aumentar o faturamento sem aumentar as
despesas na mesma proporção. Ou seja, conseguem produzir seu
produto em larga escala a um custo muito baixo.

Isso é muito visível com o avanço da tecnologia. Antigamente, os


bancos precisavam de muitas agências para atrair clientes. Como
elas são espaços físicos, porém, essa estrutura envolve muitos
custos. Por exemplo, aluguel, segurança e salário dos funcionários.

Com uma tecnologia mais avançada, no entanto, os bancos


conseguem chegar até esses mesmos clientes – e de uma forma
mais barata. Assim, eles sequer precisam incorrer em custos altos
atrelados às agências.

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▪ Cobrança de taxas: os bancos conseguem cobrar taxas altas de
fundos e de outros serviços bancários, como transferências,
manutenção de conta, cartões de crédito, seguros etc. Assim, trata-
se de uma receita segura e recorrente, com a qual eles conseguem
obter lucros exorbitantes. Todavia, essas taxas são cada vez menos
cobradas – seja pela competição, seja pela queda da Taxa Selic.

▪ Dividendos: para quem gosta de dividendos, o setor pode ser uma


boa escolha. Afinal, a distribuição de lucros é bem mais recorrente
do que a de outros setores.

Como os bancos conseguem obter uma rentabilidade alta, eles


geram uma quantidade imensa de caixa. Porém, tendo em vista que
as oportunidades de reinvestir o dinheiro são poucas, o melhor a se
fazer é distribuir o lucro aos acionistas. Alguns bancos até pagam
dividendos mensais, como Itaú e Bradesco.

▪ Novos entrantes no setor: como informamos, o setor tem passado


por muitas mudanças, o que possibilita a entrada de novos
concorrentes. E não apenas fintechs, afinal muitas empresas que não
são do ramo têm lançado seus próprios bancos digitais e meios de
pagamentos, como Magazine Luiza e Via Varejo.

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Ademais, as big techs podem ser outra ameaça para o setor.
Recentemente, por exemplo, vimos o Facebook lançando um meio
de pagamento via WhatsApp.

▪ Taxas de juros: o setor é naturalmente exposto à taxa de juros, pois


estes influenciam diretamente o spread a ser cobrado pelas
instituições financeiras. Atualmente, estamos passando por um
cenário inédito no Brasil, isto é, de taxas de juros baixas, que podem
permanecer assim por um bom tempo. Segundo projeções do Itaú
BBA, a Selic pode ficar em um patamar de 5,5% ao ano pelos
próximos anos.

Projeções da Taxa Selic (%) — Fonte: Itaú BBA.

E mesmo que o custo do spread seja influenciado por outras


variáveis, como inadimplência, compulsórios e encargos, impostos e
custos administrativos, as taxas de juros menores podem diminuir
esse indicador e, consequentemente, o lucro dos bancos.

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Recentemente, o Banco Central já sinalizou alguns aumentos na taxa
de juros, porém eles são bem menores quando comparados com o
que tivemos anos atrás. Esses aumentos servirão para controlar uma
leve pressão inflacionária.

▪ Regulação: os bancos não são muito populares entre os reguladores


e a população em geral, portanto uma probabilidade de aumento de
impostos ou de controle de spread não deve ser desconsiderada.

Isso foi visto recentemente, com o aumento da Contribuição Social


do Lucro Líquido (CSLL) para 20%, com o controle dos juros do cartão
de crédito (que não poderiam passar de 30% ao ano) e com o limite
imposto sobre a cobrança de juros do valor utilizado do cheque
especial (que poderia atingir o máximo de 8%).

Além disso, existe o risco político dos bancos estatais, como no caso
do Banrisul. Dependendo de quem estiver no governo, essas
companhias podem ser mal administradas.

Elencadas algumas das vantagens e das desvantagens do setor, agora, nos


próximos intertítulos, traremos alguns dos bancos que são negociados na
bolsa de valores, explicando um pouco sobre a história e o desempenho
operacional de cada um.

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O Banrisul é um banco comercial de varejo voltado para todos os públicos.
Ele é muito forte no Rio Grande do Sul, detendo cerca de 20% da
participação no crédito e quase 50% dos depósitos a prazo no estado.

Trata-se de um banco de economia mista, que atua como a principal


instituição financeira do Rio Grande do Sul.

O Banrisul oferta uma ampla variedade de serviços, como depósitos à vista


e a prazo; seguridade; concessão de crédito; meio de pagamento;
corretagens de valores imobiliários; administração de fundos de
investimento e operações de câmbio. Esses serviços são muito
importantes, porque compõem uma boa parte de seu lucro.

A companhia atua principalmente com as carteiras de crédito comercial,


empresarial e agronegócio. No crédito comercial, o Banrisul se
concentra na ampliação de linhas de crédito com menor risco e mais
liquidez, em especial as linhas de crédito consignado aos servidores
públicos e aposentados.

No crédito empresarial, o banco se concentra principalmente em pequenos


e médios empresários. Já no agronegócio, o Banrisul atende a toda a cadeia
produtiva – do pequeno e médio produtor até empresas e cooperativas
agrícolas. Dessa forma, ele segue com sua estratégia de ampliar sua
participação no agronegócio no estado.

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Quando analisamos os resultados do Banrisul, observamos que ele
conseguiu retornar rentabilidade aos seus acionistas, bem como ROEs
elevados e acima de 10%, com média de 15,4% nos últimos 10 anos.

Fonte: Banrisul. Adaptação: Suno Research.

O Banrisul também vem apresentando um pagamento consistente de


dividendos, com um payout médio de 40% nos últimos 10 anos.

Porém, como afirmamos, um banco de qualidade é aquele que gera valor


aos seus acionistas e, ao mesmo tempo, não toma riscos excessivos. Com
isso em mente, manter o equilíbrio entre segurança e rentabilidade não
parece ser um problema para o Banrisul.

Afinal, quando observamos seu índice de Basileia, vemos que ele sempre
foi muito saudável. A companhia apresentou um índice médio de 16,9% ao
longo do tempo, com uma bela margem em relação ao mínimo regulatório
(11%). Para efeito de comparação, o índice é tão alto quanto o do Bradesco
(15,3%) e o do Santander (15,8%).

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Fonte: Banrisul. Adaptação: Suno Research.

Fundado em 1808, o Banco do Brasil foi a primeira instituição bancária a


operar no país e a primeira empresa a realizar uma oferta pública de ações
no mercado de capitais brasileiro. Por ser tão antigo, o banco já vivenciou
muito da história brasileira, inclusive atuando com o Banco Central como
executor da política monetária.

O Banco do Brasil tem um longo histórico de interferências do Governo


Federal: a mais recente aconteceu em 2021, quando o presidente da
companhia se demitiu porque sua gestão não estava alinhada com os
interesses de Brasília. Isso levou à renúncia de outros membros do
conselho de administração do banco.

Essa interferência não impactou os resultados do Banco do Brasil, porém,


em muitos períodos, já houve interferências que prejudicaram a gestão e
seus resultados.

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O Banco do Brasil é um dos maiores conglomerados financeiros do país
em termos de ativos, com 18,5% de participação de mercado. Ele mantém
uma presença significativa em todos os estados brasileiros, atuando em
cinco segmentos: Varejo Pessoa Física, Varejo Pessoa Jurídica, Atacado,
Private e Setor Público.

No final de 2019, o Banco do Brasil contava com 70,2 milhões de clientes e


37,6 milhões de contas correntes.

Com relação à carteira de crédito do banco, ela é dividida em pessoa física,


pessoa jurídica e agronegócio. O Banco do Brasil é muito atuante no
crédito para este último, contemplando desde o pequeno produtor até as
grandes empresas agroindustriais.

Quando olhamos os resultados da companhia desde 2010, vemos que seu


lucro sempre foi muito consistente. Houve apenas uma retração – em 2016
–, mas vale lembrar que esse foi um ano de recessão econômica no Brasil.
Ademais, a instituição teve uma interferência maior do governo, o que fez
seu lucro líquido contrair.

Após 2016, houve uma melhoria em seus resultados. Isso aconteceu


porque o governo começou a se preocupar mais com a eficiência das
companhias estatais, o que levou o banco a contar com uma gestão melhor
em comparação com anos anteriores.

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Fonte: Economatica. Adaptação: Suno Research.

Com relação aos proventos, a companhia deve distribuir um mínimo


obrigatório de 25% do lucro líquido a cada exercício. Nos últimos anos,
entretanto, o payout médio foi 37,29%. Sua distribuição de proventos fica
muito em função do lucro líquido, portanto o comportamento de ambos é
bastante similar.

Fonte: Banco do Brasil. Adaptação: Suno Research.

Com relação à sua capitalização, o índice de Basileia mantém uma


trajetória saudável e bem acima do mínimo exigido pelo Banco Central
(11%), como podemos ver no seguinte gráfico.

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Fonte: Banco do Brasil. Adaptação: Suno Research.

Além disso, o banco dispõe de uma situação financeira sólida. Na primeira


divulgação de resultados de 2021, o Banco do Brasil apresentou um índice
de cobertura de 328,2%. Isso mostra que a companhia está preparada para
uma eventual situação econômica desfavorável.

O Banco ABC Brasil é um banco múltiplo especializado na concessão de


crédito e serviços para empresas de médio a grande porte, habilitado a
operar nas carteiras comercial, de investimento, de crédito imobiliário,
financeira, de câmbio e de comercialização de energia.

A principal linha de negócios da companhia é a intermediação financeira


para operações que envolvem análise e assunção de riscos de crédito. O
Banco ABC Brasil é controlado pela Arab Bank Corporation (ABC), que
iniciou suas atividades no Brasil em 1989, a partir de uma joint venture
entre a Arab Bank Corporation e o Grupo Roberto Marinho.

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Por ter esse controlador internacional bem capitalizado, pode-se dizer que
o banco dispõe de uma boa segurança. Afinal, em momentos de baixa
liquidez, o Banco ABC Brasil pode recorrer ao controlador para se
capitalizar, evitando assim algum problema de insolvência.

Essas injeções de liquidez já aconteceram algumas vezes na história da


companhia. Uma delas foi em 2008, como medida preventiva por conta da
crise do subprime, em caso de escassez de liquidez do sistema financeiro.

A concessão de crédito do Banco ABC se concentra em empresas do


segmento Large Corporate (com faturamento anual acima de R$ 2 bilhões),
Corporate (com faturamento anual entre R$ 250 milhões e R$ 2 bilhões) e
Middle (com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões).

Portanto, diferentemente dos bancos tradicionais – Banco do Brasil, Itaú,


entre outros –, o Banco ABC Brasil não é um banco de varejo e não tem
como foco pessoas físicas. Quando olhamos seus resultados, fica nítido que
a gestão da companhia tem competência no que faz. Afinal, desde 2010,
ela vem entregando resultados robustos.

Para ter uma ideia mais precisa, o banco vem elevando seus lucros desde
2010. Obviamente, se olharmos no curto prazo, houve um decréscimo do
lucro líquido de 2020 em relação a 2019. Entretanto, 2020 foi um ano
atípico por conta da Covid-19: isso fez o Banco ABC Brasil aumentar suas
despesas de PDD (provisão para devedores duvidosos).

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Porém, com a economia normalizando-se a partir de 2021 – e o banco
mantendo essa qualidade na gestão –, o resultado da companhia pode
continuar em crescimento para os próximos anos.

Fonte: Banco ABC Brasil. Adaptação: Suno Research.

Por fim, o Banco ABC Brasil vem apresentando um índice de Basileia


elevado ao longo do tempo – e bem acima do mínimo regulatório (11%).
Para a primeira divulgação de resultados de 2021, esse índice estava em
15,94%. Isso demonstra que a companhia consegue entregar resultados
aos seus acionistas e, ao mesmo tempo, preservar sua liquidez.

Fonte: Banco ABC Brasil. Adaptação: Suno Research.

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Como vimos, o setor bancário é importante para a economia – e deve
continuar em expansão para os próximos anos.

À medida que a economia crescer, as pessoas e as empresas consumirão e


investirão mais. Portanto, a demanda por crédito também deverá
aumentar. Assim, o lucro dos bancos poderá ser maior com o tempo, o que
possibilitaria uma distribuição maior de dividendos.

Porém, trata-se de um setor que vem passando por muitas mudanças,


principalmente na área tecnológica, o que tem elevado a competição.
Desse modo, o ROE dos bancos tradicionais pode diminuir com o tempo.

No entanto, com uma análise apropriada – e realizando as escolhas certas


–, vemos que o setor bancário brasileiro pode gerar grandes ganhos para
os investidores.

29
Disclaimer
As informações constantes deste material podem auxiliar o
investidor em suas decisões de investimento; porém o
investidor será responsável, de forma exclusiva, pela verificação
da conveniência e oportunidade da movimentação de sua
carteira de investimentos e pela tomada de decisão quanto à
efetivação de operações de compra e/ou venda de títulos e/ou
valores mobiliários.

Este material apresenta informações para diversos perfis de


investimento e o investidor deverá verificar e atentar para as
informações próprias ao seu perfil de investimento, uma vez
que as informações constantes deste material não são
adequadas para todos os investidores. Quaisquer projeções de
risco ou retorno potenciais são meramente ilustrativas e,
portanto, não são e não devem ser interpretadas pelo investidor
como previsão de eventos futuros e/ou garantia de resultados.

Além disso, não garantimos a exatidão das informações aqui


contidas e recomendamos ao investidor que não utilize este
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investimento. Os investimentos realizados pelo investidor para
sua carteira estão sujeitos a diversos riscos inerentes aos
mercados e aos ativos integrantes da carteira, incluindo, sem
limitação, risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez,
risco cambial, risco de concentração, risco de perda do capital
investido e de disponibilização de recursos adicionais, entre
outros.

Os analistas responsáveis pela elaboração deste relatório


declaram, nos termos da Instrução CVM nº 598/18, que as
recomendações do relatório de análise refletem única e
exclusivamente as suas opiniões pessoais e foram elaboradas de
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