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Lilian Massena Gallagher

Exame de Certificação ANBIMA CPA-10


CAPÍTULO 1
Sistema Financeiro Nacional
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Descrever como o Sistema Financeiro Nacional está organizado.

■Conhecer os principais órgãos reguladores e participantes do mercado.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

1.1Funções básicas do Sistema Financeiro Nacional

1.2Principais participantes do mercado

1.3Sistema de Pagamentos Brasileiro

Pontos importantes – Sistema Financeiro Nacional

Proporção no exame

De 5 a 10%.
Tempo estimado de estudo

Duas horas.
1.1Funções básicas do Sistema Financeiro Nacional
O Sistema Financeiro Nacional é formado por um conjunto de regras e
instituições que buscam reunir poupadores e tomadores de recursos, de
forma a permitir um fluxo de recursos necessário ao giro da economia. De
um lado há os que têm recursos sobrando e, de outro, os que necessitam
deles para alavancar seus negócios e investir na economia real, ajudando a
desenvolver o país.

Esse sistema é formado por diversos participantes. Há as instituições


normativas e fiscalizadoras e os intermediadores financeiros, que agem
junto ao público para encontrar poupadores e tomadores de recursos. Esse
conjunto de instituições orquestra um sistema que oferece uma gama de
serviços e produtos a seus usuários, que podem ser tanto indivíduos como
empresas e instituições com ou sem fins lucrativos.

De acordo com o art. 17 da Lei de Reforma Bancária, no 4.595/1964:

consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em


vigor, as pessoas jurídicas públicas e privadas, que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a
custódia de valor de propriedade de terceiros.

O mesmo artigo, em seu § 1o, equipara as pessoas físicas que exerçam


qualquer das atividades referidas no art. 17, de forma permanente ou
eventual, às instituições financeiras.

Pela definição, pode-se concluir que um banco é um nítido exemplo de


instituição financeira, pois sua atividade principal é a captação de recursos
de seus clientes – coleta e custódia desse dinheiro – seja para depósito em
conta-corrente ou aplicação desses recursos. Além disso, os bancos
emprestam dinheiro para quem dele necessita.

Da mesma forma, uma DTVM1 que administra recursos de clientes


também pode ser classificada como uma instituição financeira, pois aplica
recursos de seus clientes.

1.2Principais participantes do mercado


1.2.1Introdução
O mercado financeiro pode ser dividido em dois grandes grupos. De um
lado há os órgãos reguladores e fiscalizadores e, de outro, os intermediários
financeiros e as entidades de apoio. Além dessa classificação, pode-se
dividir o grupo de instituições financeiras de acordo com determinadas
funções.

Quanto à capacidade de multiplicar a moeda:

■Monetárias – os bancos comerciais, por exemplo, podem ser classificados


como instituições monetárias, uma vez que captam e emprestam recursos e
mantêm conta de reserva2 junto ao Banco Central (BCB ou BACEN).

■Não monetárias – não multiplicam moeda, como as corretoras de valores.

Quanto à intermediação de recursos:

■Intermediários financeiros – emitem seus próprios passivos, captando


poupança diretamente do público por sua própria iniciativa e
responsabilidade e, posteriormente, aplicam esses recursos junto a
empresas ou indivíduos, mediante empréstimos e financiamentos, como é o
caso dos bancos comerciais, por exemplo.
■Instituições auxiliares – colocam em contato poupadores com
investidores, como é o caso das bolsas de valores, que, por intermédio dos
corretores de valores, encontram quem quer vender ações e quem quer
comprá-las e vice-versa.

As seguintes instituições têm também sua importância para o


funcionamento do mercado:

■Instituições que compõem o Sistema Brasileiro de Poupança e


Empréstimo (SBPE) – essas instituições têm por finalidade a captação de
recursos para empréstimo da casa própria. Neste grupo encontram-se a
Caixa Econômica Federal, sociedades de crédito imobiliário e as
associações de poupança e empréstimo.

■Instituições definidas como não financeiras – as sociedades de fomento


comercial (factoring) e as companhias seguradoras são exemplos de
instituições reconhecidas como não financeiras pelo BCB.

As factoring oferecem serviço de compra de ativos, como duplicatas e


cheques, mediante um deságio. Esse deságio reflete um custo pela
postergação do recebimento dos recursos e pelo risco do não recebimento
destes.

Algumas instituições podem pertencer a mais de um grupo, como é o caso


da Caixa Econômica Federal que, além de fazer parte do Sistema Brasileiro
de Poupança e Empréstimo, pode ser classificada como uma instituição
monetária, na medida em que capta depósito à vista e faz operações de
empréstimo e financiamento, não se restringindo somente à casa própria.

Além disso, diferentemente de outros segmentos da economia, o mercado


financeiro exige total confiança para que possa funcionar sem sobressaltos.
Os clientes de um banco precisam saber da segurança da instituição em que
estão fazendo seus depósitos, de forma a permanecerem com seus recursos
ali depositados. Afinal, quem depositaria seu dinheiro em um banco falido?
Mas como ter certeza dessa segurança? Para garantir tranquilidade aos
usuários do sistema, o mercado financeiro é altamente regulamentado e
fiscalizado.

Veja a seguir a estrutura do Sistema Financeiro Nacional, os principais


órgãos que buscam garantir a harmonia do sistema, bem como os demais
participantes do mercado.

Quadro 1.1Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Órgãos Normativos

Conselho Monetário Nacional – CMN

Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP

Conselho de Gestão da Previdência Complementar – CGPC

Entidades Supervisoras

Banco Central do Brasil – BCB ou BACEN

Comissão de Valores Mobiliários – CVM

Superintendência de Seguros Privados – SUSEP

Superintendência Nacional de Previdência Complementar – PREVIC

Operadores
Instituições financeiras captadoras de depósitos à vista

Bolsas de mercadorias e futuros

Entidades abertas de previdência complementar

Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)

Demais instituições financeiras

Bolsas de valores

Sociedades de capitalização

Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de


terceiros

Sociedades seguradoras

Resseguradoras

1.2.2Órgãos de regulação, autorregulação e de fiscalização


Para fins do exame de Certificação, focaremos apenas as instituições que
constam do programa da entidade certificadora.

Conselho Monetário Nacional (CMN)

O Conselho Monetário Nacional é o órgão deliberativo máximo do Sistema


Financeiro Nacional. Compete ao CMN:

■estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e


creditícia;

■regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das


instituições financeiras;

■disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial.

O CMN é atualmente constituído pelo Ministro de Estado da Economia,


que atua como seu Presidente; pelo Presidente do Banco Central do Brasil
(BCB) e pelo Secretário Especial da Fazenda do Ministério da Economia.
Os serviços de secretaria do CMN são exercidos pelo BCB.

Junto ao CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito


(COMOC), composta pelo Presidente do BCB, na qualidade de
Coordenador; pelo Presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
pelo Secretário Executivo de Planejamento, Orçamento e Gestão; pelo
Secretário Executivo e por Secretários do Tesouro Nacional e de Política
Econômica do Ministério da Economia.

Está previsto o funcionamento também junto ao CMN de comissões


consultivas de normas e organização do Sistema Financeiro, Mercado de
Valores Mobiliários e de Futuros, crédito rural, crédito industrial, crédito
habitacional e para saneamento e infraestrutura urbana, de endividamento
público e políticas monetária e cambial.
Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN)

É o órgão executivo central do Sistema Financeiro Nacional, responsável


pela fiscalização e pelo cumprimento das disposições que regulam o
funcionamento do sistema, de acordo com as normas expedidas pelo
Conselho Monetário Nacional. É o banco dos bancos, sendo de sua
competência privativa:

■formatar, executar e acompanhar a política monetária;

■emitir e distribuir papel-moeda;

■executar os serviços do meio circulante;

■receber os recolhimentos de depósito compulsório dos bancos e realizar


operações de redesconto3 e empréstimo às instituições financeiras;

■regular a execução da compensação de cheques;

■comprar e vender títulos públicos federais;

■exercer o controle de crédito;

■fiscalizar as instituições financeiras;

■controlar o fluxo de capitais estrangeiros;

■executar e acompanhar a política creditícia;


■formatar, executar e acompanhar a política cambial;

■formatar, executar e acompanhar as relações financeiras com o exterior.

Muitas dessas funções listadas nada mais são do que meios de executar sua
função primordial: manter o poder de compra da moeda, que se traduz em
manter a inflação dentro de patamares definidos pelo CMN. A esse
desenho se dá o nome de metas inflacionárias. O Banco Central tem a
missão de manter a inflação medida pelo IPCA4 em níveis predefinidos.
Para isso, lança mão de algumas ferramentas, que serão apresentadas no
próximo capítulo.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A CVM foi criada pela Lei no 6.385, de 07/12/1976, que lhe conferiu
poderes para disciplinar e normatizar o mercado de capitais, tendo como
principal objetivo o fortalecimento deste. Com a criação dessa autarquia,
pretendia-se proteger o pequeno investidor de fraudes e práticas irregulares
na negociação de valores mobiliários.

Ainda que complexas, as funções da CVM podem ser resumidas em:

■assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de


balcão;

■proteger os acionistas ou debenturistas de irregularidades de


controladores das companhias abertas;

■evitar ou coibir fraude de manipulação de preço de valores mobiliários;


■assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários
emitidos;

■estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;

■promover e expandir o mercado acionário.

De forma a alcançar seu objetivo, a CVM disponibiliza em seu website


informações sobre as empresas, os valores mobiliários emitidos, a
legislação pertinente ao mercado, bem como algumas estatísticas.

Além disso, para emitirem ações, debêntures, bônus de subscrição ou


qualquer outro valor mobiliário por meio de distribuição pública, as
empresas devem se registrar previamente na CVM e enviar periodicamente
uma série de dados, de forma a fornecer ao investidor um grau adequado de
informação sobre o investimento que está sendo disponibilizado.

DICA: de uma forma didática e resumindo o que foi dito, o mercado


financeiro é formado por quatro grandes mercados, conforme a Figura 1.1:

Figura 1.1 Configuração dos mercados financeiros.

Entendendo os mercados:

■Mercado monetário – no qual são negociados os instrumentos financeiros


que afetam de alguma forma a moeda. Lembrando que o termo
“monetário” vem da palavra “moeda”. Logo, estamos diante de produtos
como títulos públicos, CDB e outros.
■Mercado de crédito – aqui ocorrem os empréstimos e financiamentos
oferecidos por intermediários financeiros.

■Mercado de câmbio – onde ocorrem as trocas de moedas, como, por


exemplo, de real para dólar ou euro.

■Mercado de capitais – nesse mercado as empresas buscam capital para


investimento a médio e longo prazos, mediante a emissão de títulos como
ações e debêntures, entre outros.

ANBIMA

Além dessas instituições, existem as associações que são importantes


instituições que regulam e colaboram com o desenvolvimento do mercado
financeiro. Dentre elas, pode-se citar a ANBIMA.

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de


Capitais é uma entidade de representação do segmento das instituições que
atuam nos mercados financeiros e de capitais. Seus associados são,
basicamente, os bancos de investimento, bancos comerciais, bancos
múltiplos, asset managers (empresas gestoras de recursos), corretoras,
distribuidoras de valores mobiliários e consultores de investimento.

Atuando como agente regulador privado, a ANBIMA criou e supervisiona


o cumprimento das regras de seus Códigos de Regulação e Melhores
Práticas, atuando conjunta e construtivamente com as instituições públicas
brasileiras para regular as atividades das entidades que atuam nos
mercados.

No site da Associação pode-se ver que:

A ANBIMA é um dos principais provedores de pesquisas e estatísticas


sobre os mercados que representa, produzindo e divulgando informações
sobre os mercados de capitais, de fundos de investimento e de produtos de
tesouraria. Visando estimular a transparência dos mercados secundários de
títulos públicos e privados, a entidade divulga diariamente índices e taxas
médias, utilizados como parâmetros de referência para os agentes desses
mercados, cotações de fundos de investimento, além de publicar
mensalmente boletins técnicos sobre seus mercados.

A Associação também possui importantes iniciativas na área de Educação,


como o site www.comoinvestir.com.br, e prêmios que objetivam estimular
a produção e disseminação do conhecimento por meio do incentivo a
pesquisas que abordem temas relevantes para o desenvolvimento dos
mercados financeiro e de capitais.

A atividade de autorregulação foi instituída na ANBIMA a partir da


percepção de que os agentes dos mercados não devem se limitar a obedecer
à legislação criada pelo governo, mas ir além, elaborando, por intermédio
de suas entidades de classe, normas que, uma vez seguidas por todos,
melhorem o nível de suas atividades. Dessa forma, a ANBIMA já
implantou diversos códigos, dentre os quais destacam-se, para fins do
exame CPA-10:

■Código de Regulação e Melhores Práticas para o Programa de


Certificação Continuada – dispõe os princípios e as regras que deverão ser
observados pelas instituições participantes e pelos profissionais que atuam
nos mercados financeiro e de capitais, buscando a permanente elevação de
sua capacitação técnica, bem como a observância de padrões de conduta no
desempenho de suas respectivas atividades.

■Código de Regulação e Melhores Práticas para Distribuição de Produtos


de Investimento – estabelece os parâmetros relativos à atividade de
Distribuição de Produtos de Investimento no Varejo, com as seguintes
finalidades: I. Manter os mais elevados padrões éticos e consagrar a
institucionalização das práticas equitativas no mercado; II. Estimular o
adequado funcionamento da atividade de Distribuição de Produtos de
Investimento no Varejo; III. Manter transparência no relacionamento com
os investidores, de acordo com o canal utilizado e as características do
produto; IV. Promover a qualificação das instituições e de seus
profissionais envolvidos na atividade de Distribuição de Produtos de
Investimento no Varejo; V. Comprometer-se com a qualidade da atuação
na distribuição de produtos e serviços.
■Código de Regulação e Melhores Práticas para a Administração de
Recursos de Terceiros – estabelece princípios e regras para a atividade de
Administração de Recursos de Terceiros e tem por objetivo,
principalmente: “I. A manutenção dos mais elevados padrões éticos e a
consagração da institucionalização de práticas equitativas no mercado
financeiro e de capitais; II. A concorrência leal; III. A padronização de seus
procedimentos; IV. A maior qualidade e disponibilidade de informações,
especialmente por meio do envio de dados pelas Instituições Participantes à
ANBIMA; e V. A elevação dos padrões fiduciários e a promoção das
melhores práticas de mercado”.
A observância de princípios e regras dos Códigos será obrigatória para as
instituições participantes, assim entendidas as instituições filiadas à
ANBIMA, bem como as instituições que, embora não associadas, aderirem
aos Códigos mediante a assinatura do competente termo de adesão. As
instituições participantes devem assegurar que os Códigos sejam também
observados por todos os integrantes de seu conglomerado ou grupo
financeiro.

Em resumo, a ANBIMA representa seus associados, autorregula os


mercados financeiros e de capitais, provê informação ao mercado e
educação aos investidores e participantes.

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP)5

A SUSEP é o órgão responsável pelo controle, regulação e fiscalização dos


mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro,
tendo sido criada em 1966. Funciona como uma autarquia vinculada ao
Ministério da Economia.

Além de regular e fiscalizar esses mercados e as instituições que ali atuam,


como as Sociedades Seguradoras e as Entidades de Previdência Privada
Aberta, tem como missão proteger os investidores que compram produtos
dessas instituições.

1.2.3Principais intermediários financeiros


Sob as asas dos órgãos fiscalizadores e normatizadores encontram-se os
intermediários financeiros e as demais entidades de apoio ao
funcionamento do sistema. Para fins de estudo da prova, foram listadas
apenas as instituições que constam do programa.

Bancos múltiplos

A figura do banco múltiplo foi criada em 1988, fruto do desenvolvimento e


crescimento das instituições financeiras, que começaram a formar grandes
conglomerados, atuando nos diversos segmentos. Os bancos múltiplos são
instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações
ativas,6 passivas e acessórias das diversas instituições financeiras. Essas
operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares
aplicáveis às instituições singulares correspondentes às suas carteiras. Na
sua denominação social deve constar a expressão “Banco” (Resolução
CMN 2.099, de 1994).

Um banco múltiplo pode reunir as seguintes atividades: banco comercial,


banco de investimento e de desenvolvimento, sociedade de crédito
imobiliário e sociedade de crédito, financiamento e investimento, sendo
que a carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco
público. Para ser considerado um banco múltiplo, a instituição tem de ser
organizada sob a forma de sociedade anônima e operar em pelo menos dois
dos segmentos mencionados, sendo um deles necessariamente de banco
comercial ou banco de investimento. As instituições com carteira comercial
podem captar depósitos à vista. Bradesco e Itaú são exemplos de bancos
múltiplos com carteira comercial.

Há também os bancos múltiplos sem carteira comercial, como é o caso, por


exemplo, dos bancos Brascan, Modal e outros mais.
A importância dos bancos comerciais e múltiplos, com relação às suas
representatividades importantes em nosso sistema financeiro como
prestadores de serviço, intermediários de movimentação de valores e
absorvedores de mão de obra, é destacada por diversas fontes e sentida no
nosso dia a dia. De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos –
FEBRABAN,7 158,4 milhões de consumidores tinham contas bancárias
ativas em 2018. Os bancos constituem a base do sistema monetário, sendo
as instituições financeiras as mais conhecidas, por seus múltiplos serviços
prestados.

Segundo divulgado no site do Banco Central do Brasil, “o objetivo


principal dessas instituições é proporcionar o suprimento oportuno e
adequado dos recursos necessários para financiar o comércio e a indústria,
as empresas prestadoras de serviços e as pessoas físicas”.

Outra função importante dos bancos é a prestação de serviços. Dentre eles


podem ser citados, principalmente, o pagamento de aposentadorias e
pensões, do FGTS, cobrança de carnês, contas de concessionárias de
serviços públicos, guias de tributos federais, estaduais e municipais.

Bancos comerciais

Constituem a base do sistema monetário, e seu principal objetivo é


proporcionar o suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e
médio prazos, pessoas físicas e jurídicas (comércio, indústria, empresas
prestadoras de serviços e terceiros em geral).

São constituídos obrigatoriamente sob a forma de sociedades anônimas e


oferecem uma gama de produtos e serviços, tais como pagamento de
cheques, transferência de recursos, ordens de pagamento, cobrança,
recebimento de impostos e tarifas públicas e uma variedade de modalidades
de financiamentos e empréstimos. A captação de depósitos à vista,
livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o qual
pode também captar depósitos a prazo.
Os bancos comerciais podem ser instituições financeiras privadas ou
públicas, e em sua denominação social deve constar a expressão “Banco”
(Resolução CMN 2.099, de 1994).

Bancos de investimento

Os bancos de investimento são instituições financeiras privadas,


constituídas sob a forma de sociedade anônima e voltadas para operações
de participação societária de caráter temporário, de financiamento da
atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e
administração de recursos de terceiros.

Não possuem contas-correntes e captam recursos via depósitos a prazo,


repasses de recursos externos e internos e são remunerados por
administração e venda de cotas de fundos de investimento. As principais
operações ativas são financiamento de capital de giro e capital fixo,
subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos
interfinanceiros e repasses de empréstimos externos (Resolução CMN
2.624, de 1999).

William Salasar, em artigo publicado no www.valoronline.com.br, comenta


sobre esse desenho de banco de investimento. Para ele, os bancos de
investimento “estão sendo desalojados de seus antigos domínios”, devido à
superposição de áreas com os bancos comerciais e múltiplos. O autor alega
que a revolução tecnológica, que permite fazer chegar em tempo real aos
investidores as informações sobre oportunidades de crédito ou de
investimento, a desregulamentação do mercado forçada pela globalização e
o extraordinário aumento do volume de poupanças gerido por investidores
institucionais, pressionando as margens dos bancos pela diminuição do
espaço que tinham para bancar riscos, são três fatores que favorecem os
grandes bancos, que têm volume expressivo de clientes, em detrimento da
expertise do banco de investimento.
Os bancos de investimento, devido à sua natureza, muitas vezes atuam com
as empresas dando o suporte técnico e comercial para a emissão de valores
mobiliários e são fiscalizados tanto pelo BCB como pela CVM.

1.2.4Outros intermediários e auxiliares financeiros


B3: Brasil, Bolsa, Balcão

A B3 é uma sociedade de capital aberto que surgiu da fusão entre a


BM&FBOVESPA e a CETIP em março de 2017. É mais que uma bolsa: é
uma companhia de infraestrutura de mercado financeiro de classe mundial
que oferece serviços de negociação (bolsa), pós-negociação (clearing),
registro de operações de balcão e de financiamento de veículos e imóveis.
Além de ser a única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação
no Brasil, é a maior depositária de títulos de renda fixa da América Latina e
a maior câmara de ativos privados do país.

A CETIP focava em prestar serviços financeiros no mercado de balcão


organizado, enquanto a BM&FBOVESPA se dedicava a prestar serviços de
bolsa de valores, mercadoria e futuros, listando empresas e fundos;
realizando negociação de ações, títulos, contratos derivativos; divulgação
de cotações; produzindo índices de mercado; desenvolvendo sistemas e
softwares; promovendo avanços tecnológicos e muito mais.

A fusão das duas empresas permitiu a ampliação dos serviços e produtos


oferecidos, gerando eficiência para o mercado e para a nova companhia.
Veja o que diz o Formulário de Referência 2017, da B3, sobre os seus
objetivos, mercados e produtos que oferece.

A B3 tem como principais objetivos (i) administrar mercados organizados


de títulos, valores mobiliários e contratos derivativos, além de prestar o
serviço de registro, compensação e liquidação, atuando como contraparte
central [CCP] garantidora da liquidação financeira das operações realizadas
em seus ambientes de negociação, (ii) administrar infraestrutura de
mercados organizados de balcão, com serviços de depósito, registro,
negociação e pós-negociação de valores mobiliários, instrumentos
financeiros, cotas de fundos de investimentos e derivativos de balcão sem
CCP e (iii) atuar como infraestrutura no mercado de crédito, por meio de
sistemas que concentram as informações sobre as garantias constituídas
sobre veículos automotores, além de plataformas para envio de
informações do mercado de crédito para os órgãos competentes e também
de desenvolvimento de soluções relacionadas aos processos deste mercado.

A B3 oferece ampla gama de produtos e serviços, tais como negociação e


pós-negociação de ações, títulos de renda fixa, câmbio pronto e contratos
derivativos referenciados em ações, ativos financeiros, índices, taxas,
mercadorias, moedas, entre outros; listagem de empresas e outros
emissores de valores mobiliários; atuação como depositária de ativos;
empréstimo de títulos; licenciamento de softwares; registro de ônus e
gravames sobre valores mobiliários; suporte a operações de crédito,
financiamento e arrendamento mercantil e constituição de banco de dados.

Essa gama de produtos e serviços reflete seu modelo de negócios


diversificado e verticalmente integrado. Além disso, a Companhia é
associada mantenedora da BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados
(“BSM”), associação que fiscaliza a atuação da B3 e dos participantes do
mercado, assim como as operações por eles realizadas, nos termos da
Instrução CVM no 461/07.

Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários (CTVM)

Instituições que efetuam principalmente a intermediação financeira nas


bolsas de valores. Compete às CTVMs:

■operar em bolsas de mercadorias e futuros, por conta própria e de


terceiros;

■promover ou participar de lançamento público de ações;


■administrar e custodiar carteiras de títulos e valores mobiliários;

■organizar e administrar fundos e clubes de investimentos;

■efetuar operações de intermediação de títulos e valores mobiliários, bem


como de moedas estrangeiras, por conta própria e de terceiros;

■efetuar operações de compra e venda de metais preciosos, por conta


própria ou de terceiros;

■prestar serviços de assessoria técnica em operações e atividades inerentes


ao mercado financeiro e de capitais.

Antes da desmutualização das bolsas, para que a corretora de valores


exercesse sua função de intermediação em bolsas, era necessário que
adquirisse um título da bolsa em que desejava operar, conforme já
mencionado. Somente depois que se tornava associada à bolsa é que a
corretora adquiria a autorização para realizar negócios de compra e venda
diretamente na bolsa. Com o novo formato, novos critérios estão sendo
definidos para que uma pessoa jurídica desempenhe o papel de uma
corretora na BM&FBOVESPA. Até o momento, o CMN já permitiu que as
DTVMs, apresentadas a seguir, também operem em bolsa.

Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM)

As DTVMs são instituições auxiliares do sistema financeiro que participam


do sistema de intermediação de títulos no mercado (ações, debêntures e
outros), colocando-os à venda para o público. Principais funções:

■efetuar aplicações por conta própria ou de terceiros (intermediação) em


títulos de valores mobiliários de renda fixa e variável;
■realizar operações no mercado aberto (compra e venda de títulos públicos
federais);

■participar em lançamentos públicos de valores mobiliários;

■administrar recursos de terceiros.

Com a liberalização do Conselho Monetário Nacional, hoje em dia, as


DTVMs, se desejarem, podem operar em bolsa como as corretoras,
bastando apenas cumprir todas as regras das bolsas e dos órgãos
reguladores.

1.2.5Sistemas e câmaras de liquidação e custódia (clearing)


Os sistemas de liquidação e custódia têm por objetivo organizar a
liquidação e a transferência dos títulos públicos e privados negociados no
mercado financeiro.

Em outras palavras, liquidar significa fazer com que o dinheiro de quem


comprou o título chegue às mãos de quem vendeu (liquidação financeira) e
que a titularidade do título seja trocada (liquidação física). Por sua vez,
custódia significa guarda. Os sistemas de custódia dão a garantia de que o
título realmente existe e confirmam a sua titularidade, diminuindo o risco
da efetivação das transações.

Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic)

Criado em 1979, o Selic destina-se ao registro de títulos e de depósitos


interfinanceiros por meio de equipamento eletrônico de teleprocessamento,
em contas gráficas abertas em nome de seus participantes, bem como ao
processamento, utilizando-se o mesmo mecanismo, de operações de
movimentação, resgate, ofertas públicas e respectivas liquidações
financeiras. É fiscalizado pelo BACEN, sendo aqui liquidadas e registradas
todas as movimentações com títulos escriturais de emissão do Tesouro
Nacional e do Banco Central do Brasil.

O Selic opera na modalidade de Liquidação Bruta em Tempo Real (LBTR),


sendo as operações nele registradas liquidadas uma a uma por seus valores
brutos em tempo real. Além do serviço de custódia de títulos e de registro e
liquidação de operações, integram o Selic os seguintes módulos
complementares:

a)Oferta Pública Formal Eletrônica (OFPUB);

b)Leilão Informal Eletrônico de Moeda e de Títulos (LEINF).

A administração do Selic e de seus módulos complementares é de


competência exclusiva do Departamento de Operações do Mercado Aberto
(DEMAB) do Banco Central do Brasil.

São custodiados e liquidados no Selic os seguintes títulos públicos federais:


LFT, LTN, NTN-B e NTN-F (entre outros), que serão abordados no
módulo de Renda Fixa (Capítulo 4).

Câmaras de liquidação, compensação e custódia da B3 S.A.

Conforme estudado no item 1.2.4, a B3 S.A.: Brasil, Bolsa, Balcão é a


empresa resultante da fusão da BM&FBOVESPA com a CETIP. Além de
oferecer um ambiente para negociação de títulos, presta serviço de
liquidação, compensação e custódia de títulos.

Enquanto a Selic executa a liquidação e a custódia dos títulos públicos


federais negociados no Sistema Selic, a clearing da B3 realiza o registro, a
aceitação, a compensação, a liquidação e o gerenciamento do risco de
contraparte de operações do mercado de ações, derivativos e à vista de ouro
realizadas em mercado de bolsa e mercado de balcão organizado, além de
operações de empréstimo de ativos.8 É uma clearing integrada e moderna
que permite que seus participantes, sejam eles compradores ou vendedores,
possam contratar o serviço diretamente nos sistemas de negociação da B3.

1.3Sistema de Pagamentos Brasileiro


Um sistema de pagamentos tem por finalidade transferir recursos, processar
e liquidar pagamentos para todos os agentes de uma economia. O cliente
bancário utiliza-se do sistema de pagamentos toda vez que emite cheques,
faz compras com cartão de débito e de crédito ou ainda quando envia um
DOC. Em outras palavras, quando não faz um pagamento diretamente em
dinheiro vivo.

A remodelação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), posta em


prática a partir de 22/04/2002, teve por finalidade reduzir
significativamente riscos e manter o Sistema Financeiro Nacional entre os
mais modernos do mundo, tornando-o, nas palavras do Banco Central, um
sistema “seguro, eficiente, ágil e transparente”.

O novo SPB veio possibilitar a transferência imediata de dinheiro entre


bancos. Isso traz mais segurança e confiabilidade, uma vez que reduz o
risco de crédito nos pagamentos, que são irreversíveis, não podendo ser
sustados ou devolvidos por falta de fundos.
Sendo imediata a transferência de fundos, o correntista tem de ter os
recursos efetivamente disponíveis em sua conta-corrente. Para os clientes
que possuem limite de cheque especial ou conta garantida, será possível
efetuar a transferência dentro de limites e condições contratadas com o
banco.

As aplicações em fundos de investimentos feitas mediante saldo disponível


em conta-corrente e/ou por meio de Transferência Eletrônica Disponível
(TED) rendem a partir do dia da sua realização. Os bancos, a seu critério,
podem agendar aplicações de recursos bloqueados na conta-corrente
(depósitos em cheques ou DOCs) para datas futuras. Já as aplicações em
depósitos a prazo (CDB e RDB) podem ser acolhidas independentemente
da condição do recurso na conta-corrente, porém, sob remuneração
diferenciada, a critério de cada banco.

O SPB atual criou a TED. Diferentemente do DOC, que atualmente só é


visualizado na conta do cliente no dia seguinte, com a TED o valor estará
disponível para uso assim que o banco destinatário receber a mensagem de
transferência, eliminando, dessa forma, as compensações e confirmações de
crédito demoradas de cheques e DOCs.

A TED abate o saldo devedor no mesmo dia. Depósitos em cheques de


outros bancos e DOCs somente poderão cobrir a conta após compensados,
a critério de cada banco.

Entretanto, tais modalidades de pagamento – cheque e DOC – continuam


existindo, assim como cheque administrativo ou cheque ordem de
pagamento, que estão sendo substituídos gradativamente pela transferência
eletrônica.

Os empréstimos e financiamentos são liberados pelos bancos em dinheiro e


devem ser liquidados pelos clientes de acordo com as condições estipuladas
nos contratos. O dinheiro transferido por meio de TED quita o débito no
dia da transferência.

Atualmente, o Banco Central está sujeito a dois tipos de riscos associados à


estrutura do antigo sistema de pagamentos: o risco de crédito e o risco
sistêmico. O risco de crédito decorre da possibilidade de uma contraparte
não honrar seus compromissos. No caso do Banco Central, estamos falando
da possibilidade de que um banco não tenha recursos suficientes em sua
conta Reservas Bancárias9 por ocasião de um lançamento a débito nessa
conta. Como o sistema antigo não previa a devolução do lançamento, era
comum a ocorrência de saldo negativo na conta Reservas Bancárias de
alguns bancos ao longo do dia. Esse saldo negativo equivale a um
empréstimo temporário do BC à instituição, durante o período em que o
saldo permanecer negativo. Não há garantia, limite nem contrato formal
para esse crédito. É como se a instituição financeira “entrasse no cheque
especial” junto ao Banco Central, até o fim do dia, quando os bancos
recorriam ao mercado interbancário para cobrir esses saldos. Com o novo
sistema, isso não é mais possível, pois os bancos têm 30 minutos para
fechar seu caixa junto ao BACEN.

Além de evitar o risco de crédito, o sistema atual contribui para a


diminuição do risco sistêmico, também conhecido como risco bancário, que
diz respeito à possibilidade da interrupção da cadeia de pagamentos.
Estamos falando do efeito em cadeia. Suponhamos que a instituição A não
pague à instituição B. Não tendo dinheiro, a instituição B não paga à C, e
assim sucessivamente. Como o sistema bancário é o principal veículo dos
pagamentos entre pessoas físicas e jurídicas não financeiras, uma crise
bancária contamina todo o setor real da economia. Por isso, o Banco
Central tem muito cuidado no desenho apropriado do sistema de
pagamentos, buscando sempre estruturar uma rede de proteção contra
riscos que possam afetar o mercado.

Pontos importantes – Sistema Financeiro Nacional

■O sistema financeiro é formado por um conjunto de instituições que


permitem que poupadores e investidores se encontrem, sendo muito
importante para o desenvolvimento de um país.

■O principal órgão normativo do Sistema Financeiro Nacional é o


Conselho Monetário Nacional (CMN), formado por: Presidente do Banco
Central, Secretário Especial da Fazenda do Ministério da Economia e
Ministro da Economia, que é o presidente do órgão. Embaixo de suas asas
estão o Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), que são entidades supervisoras.

■Banco Central do Brasil – sua principal função é executar a política


monetária, ou seja, cuidar da moeda. O BACEN fiscaliza também as
instituições financeiras e é responsável pela execução das políticas
creditícias e cambiais.
■Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – normatiza e fiscaliza o
mercado de capitais, além de proteger acionistas e debenturistas.

■ANBIMA – a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados


Financeiro e de Capitais é uma entidade de representação do segmento das
instituições que atuam nos mercados financeiros e de capitais. Como agente
regulador privado, a ANBIMA criou e supervisiona o cumprimento das
regras de seus Códigos de Regulação e Melhores Práticas, atuando conjunta
e construtivamente com as instituições públicas brasileiras para regular as
atividades das entidades que atuam nos mercados.

■Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) – regula e fiscaliza os


mercados de seguro e previdência privada. Lembro que, a qualquer
momento, este órgão pode ser fundido com a PREVIC.

■Bancos múltiplos – reúnem as atividades de banco comercial, banco de


investimento e de desenvolvimento, sociedade de crédito imobiliário e
sociedade de crédito, financiamento e investimento, sendo que uma das
atividades necessariamente tem de ser de banco comercial ou banco de
investimento.

■Bancos comerciais – seu principal objetivo é proporcionar recursos


necessários para financiar, a curto e médio prazos, pessoas físicas e
jurídicas.

■Bancos de investimento – voltados para operações de participação


societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva
para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de
terceiros.

■B3 S.A.: Brasil, Bolsa, Balcão – empresa resultante da fusão da


BM&FBOVESPA com a CETIP. Presta serviços de negociação de ações,
mercadoria e futuros, mercado de balcão e de serviços de compensação,
liquidação e custódia.
■Corretores de Valores (CTVM) – operam em bolsa, intermediando a
compra e a venda de ações e participando do lançamento público de ações,
bem como administrando recursos.

■Distribuidoras (DTVM) – participam nos lançamentos públicos de ações


e, desde o final do primeiro trimestre de 2009, podem operar em bolsa para
clientes, como se fossem uma corretora.

■Sistemas de liquidação e custódia (clearings):

○Selic – liquida e custodia títulos públicos federais;

○B3 – suas câmaras são integradas, atuando com ações, derivativos, títulos
privados e demais ativos negociados em bolsa ou mercado de balcão.

■Um sistema de pagamentos tem por finalidade transferir recursos,


processar e liquidar pagamentos para todos os agentes de uma economia.

■A Transferência Eletrônica Disponível (TED) abate o saldo devedor no


mesmo dia. Depósitos em cheques de outros bancos e DOCs somente
poderão cobrir a conta após compensados, a critério de cada banco.

■Como é possível a visualização do crédito e sua liquidação na conta do


cliente, valores transferidos via TED podem ser aplicados imediatamente.

■O atual SPB busca diminuir o risco de crédito e contribui para a


diminuição do risco sistêmico, também conhecido como risco bancário, que
diz respeito à possibilidade da interrupção da cadeia de pagamentos.

Exercícios de fixação
1.O Conselho Monetário Nacional:

a.Define a Taxa Selic.

b.Determina o IPCA meta.

c.É composto pelo ministro da Economia e pelo presidente do Banco


Central do Brasil.

d.É composto pelo ministro da Fazenda; pelo ministro do Planejamento,


Orçamento e Gestão; pelo presidente do Banco Central do Brasil e pelo
presidente da Comissão de Valores Mobiliários.

2.Qual a função de um sistema de pagamentos?

a.Evitar o risco de crédito de todos os agentes econômicos.

b.Dar rapidez às transferências de fundos entre os agentes econômicos.

c.Evitar o risco de crédito, possibilitando a transferência imediata de


fundos.

d.Transferir recursos, processar e liquidar pagamentos para todos os


agentes de uma economia.

3.Qual órgão supervisiona as Entidades Abertas de Previdência


Complementar?
a.Comissão de Valores Mobiliários.

b.Superintendência Nacional de Seguros Privados.

c.Banco Central do Brasil.

d.Conselho Monetário Nacional.

4.Marque a opção correspondente entre o órgão regulador e o mercado em


que atua na supervisão.

(A)Banco Central do Brasil

( ) Mercado de capitais

(B)Comissão de Valores Mobiliários

( ) Mercado monetário

(C)Superintendência de Seguros Privados

( ) Mercado de crédito

a.B – A – A

b.A – B – C

c.C – A – B
d.C – A – A

5.Entre as opções a seguir, marque aquela que é voltada para operações de


participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade
produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e administração de
recursos de terceiros.

a.Banco comercial.

b.Banco de investimento.

c.Banco de desenvolvimento.

d.Corretora de valores mobiliários.

6.Onde são liquidados e custodiados os títulos públicos federais negociados


no Tesouro Direto?

a.B3.

b.Sistema Selic.

c.Banco Central do Brasil.

d.Banco do Brasil.
7.Qual produto permite a transferência de recursos entre bancos no mesmo
dia, ficando os recursos disponíveis na conta do destinatário assim que o
banco destinatário receber a mensagem de transferência?

a.CDB.

b.DOC.

c.TED.

d.LCI.

8.A B3 presta serviços de:

a.Negociação de ações somente.

b.Negociação de ações e derivativos, mercado de balcão e serviços de


compensação, liquidação e custódia.

c.Negociação de todos os títulos e valores mobiliários aprovados pela


CVM.

d.Negociação de todos os títulos e valores mobiliários aprovados pelo


Banco Central do Brasil.

Gabarito

1. b
2. d

3. b

4. a

5. b

6. a

7. c

8. b

___________

1A Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários será apresentada logo


adiante, ainda neste capítulo.

2Assim como empresas e indivíduos têm conta-corrente em bancos, os


bancos mantêm uma conta no Banco Central do Brasil, que é chamada
Conta de Reserva. Conforme veremos mais adiante, no Capítulo 2 – seção
2.2 sobre Copom e Política Monetária, os bancos são obrigados a depositar
um certo valor nessa conta. Esses depósitos, por serem obrigatórios, são
conhecidos como compulsórios.

3Redesconto – ocorre o redesconto quando uma instituição financeira não


tem recursos suficientes para fechar o seu caixa. Via de regra, os bancos
recorrem ao mercado interbancário na busca de cobrir seus caixas
temporariamente. Entretanto, algumas vezes ocorre de o banco já estar com
o limite de crédito tomado junto a outros bancos. Nesse caso, e como
última alternativa, o banco recorre a um empréstimo no BACEN. A esse
empréstimo é dado o nome de redesconto, o qual é visto como um socorro
ao banco que se encontra em dificuldades.

4IPCA – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo é calculado


pelo IBGE e foi instituído com a finalidade de corrigir as demonstrações
financeiras das companhias abertas. O índice verifica as variações dos
custos com os gastos das pessoas que ganham de um a 40 salários mínimos
nas regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza,
Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Vitória, nos
municípios de Goiânia e Campo Grande e no Distrito Federal.

5No momento em que esta edição é preparada (abril de 2020), o governo


estuda aumentar o leque de atuação da SUSEP, incorporando sob sua
responsabilidade os fundos fechados de previdência complementar
(conhecidos como “fundos de pensão”), que hoje estão sob a supervisão da
PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência Complementar). É
possível que o nome SUSEP seja, portanto, substituído por algo que atenda
às duas demandas. Se você está estudando para a prova nesse momento,
vale a pena conferir se houve a definição.

6Operações ativas são operações de empréstimo e financiamento.


Operações passivas referem-se à captação de recursos para financiar as
operações ativas.

7FEBRABAN. Relatório Anual 2018. Disponível em:


https://relatorioanual2018.febraban.org.br/pt/o-setor-bancario-em-
numeros.html.

8Embora possa parecer estranho, assim como se empresta dinheiro, é


possível emprestar ações e títulos. O que se ganha com isso? Quem
emprestou recebe um aluguel; quem pegou emprestado pode fazer caixa e,
depois, no vencimento do empréstimo, tem que pagar o aluguel.
9Assim como as pessoas físicas e jurídicas mantêm contas em bancos, os
bancos mantêm uma conta de reserva no Banco Central.
CAPÍTULO 2
Conceitos Básicos de Economia
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Descrever as principais taxas e os índices utilizados no mercado


financeiro.

■Entender como o Copom atua na condução da política monetária.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

2.1Indicadores econômicos

2.2Copom e política monetária

Pontos importantes – Economia

Proporção no exame

Economia e Finanças somam de 5 a 10%.

Tempo estimado de estudo


Duas horas.

2.1Indicadores econômicos
2.1.1Produto Interno Bruto (PIB)
PIB = tudo que é produzido em uma região durante determinado período
(ano).

Principal indicador da atividade econômica, o PIB exprime o valor da


produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, em um
determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades
produtoras. Em outras palavras, o PIB sintetiza o resultado final da
atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem
duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação
avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de
mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do
PIB nacional.

A variação anual do Produto Interno Bruto é adotada, indistintamente,


como o principal indicador para medir o desempenho econômico de um
país, região ou unidade federativa. Sua taxa de crescimento é obtida pela
comparação entre tudo o que se produziu em um ano e o total do ano
anterior: taxas positivas indicam que a economia está em crescimento;
nulas, estagnação; e negativas, recessão.

As metodologias de avaliação do PIB procuram formas de correlações


físicas (quantificações), mas sempre são expressas em valores monetários
para facilitar análises e comparações. Por essa razão, os dados do PIB
brasileiro são geralmente colocados em dólares ou reais.
Figura 2.1 Fluxo circular da renda.

A Figura 2.1 mostra como funciona a economia. De um lado temos as


famílias que trabalham ou são sócias das empresas. Do outro lado estão as
empresas. Pelo trabalho, as famílias recebem salários, e pelo capital
investido nas empresas, os sócios recebem lucros. Uma vez com dinheiro,
as famílias retornam às empresas para adquirirem bens e serviços,
despendendo a renda recebida. Pode-se concluir, portanto, que o fluxo da
renda em uma economia é circular, e que o dispêndio é equivalente à renda.

Produto = Renda = Dispêndio

Com base nesse raciocínio, pode-se calcular o PIB sob duas óticas: do
dispêndio e da renda.

Ótica do dispêndio (ou da despesa): avalia o produto de uma economia


considerando a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no
período que não foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na
produção de outros bens e serviços.

Sob esse ângulo, pode-se calcular o PIB utilizando-se a seguinte fórmula:

PIB = C + I + G + (X – M)

Em que:

C = Consumo – refere-se a todos os bens e serviços comprados pela


população. Divide-se em três subcategorias: bens não duráveis, bens
duráveis e serviços.
I = Investimentos – consiste nos bens adquiridos para uso futuro. Essa
categoria divide-se em duas subcategorias: investimento fixo das empresas
(formação bruta de capital fixo) e variação de estoques.

G = Gastos do governo – inclui os bens ou serviços adquiridos pelos


governos federal, estadual ou municipal.

X = Exportação.

M = Importação.

Ótica da renda: avalia o produto de uma economia considerando as


remunerações pagas a todos os fatores de produção. Nesse caso, o PIB
pode ser calculado por meio da seguinte equação:

PIB = Remunerações do trabalho + Excedente Bruto de Exploração +


Impostos

Note que há três agentes participantes da economia e envolvidos no cálculo


do PIB: famílias (como são chamadas as pessoas), empresas e governo.
Todos os três têm gastos e receitas.

Para que não haja dupla contagem no cálculo do PIB, ele é calculado pela
soma de todos os valores agregados na produção, como ilustrado na Figura
2.2.

PIB = soma de todos os valores agregados na produção.

Figura 2.2 Metodologia do cálculo do PIB.


Tabela 2.1 Produto Interno Bruto – Brasil 2000-2018

Período

Em milhões de R$

Variação anual % real

Preços correntes em milhões de US$

2000

1.199.092,07

4,4

655.707

2010

3.885.847,00

7,5

2.209.751
2018

6.827.585,91

1,1

1.867.910

Fonte: IBGE.

2.1.2Índices de inflação
Tabela 2.2 Inflação

Meta 2019

4,25 ± 1,5 p.p.

Acumulada

3,22

(período de 12 meses – IPCA)

Disponível em: www.bcb.gov.br. Acesso em: 28 ago. 2019.


Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)

O IPCA é o índice oficial do Governo Federal, calculado pelo IBGE, para


medição das metas inflacionárias, e mede a variação dos preços no varejo
das famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários
mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas
urbanas das regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,
Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e
Vitória, nos municípios de Goiânia e Campo Grande e no Distrito Federal.

Data de aferição: fim de mês.

Data de divulgação: entre os dias 8 e 12 do mês seguinte.

Início de divulgação do índice: janeiro de 1980.

Tabela 2.3 Composição do IPCA

A ponderação das despesas das pessoas para se verificar a variação dos


custos foi definida do seguinte modo (2014):

Tipo de Gasto

Peso do Gasto (%)

Alimentação e bebidas

23,12

Transportes
20,54

Habitação

14,62

Despesas pessoais

9,94

Saúde e cuidados pessoais

8,85

Vestuário

6,67

Comunicação

4,96

Artigos de residência

4,69
Educação

4,37

Total

100,00

Índice Geral de Preços (IGP)

O IGP foi criado em 1947, abrange 18 capitais e é calculado pela Fundação


Getulio Vargas (FGV). É o índice mais antigo no mercado. Existem o IGP-
DI e o IGP-M, ambos com a mesma metodologia, porém com períodos de
abrangência e divulgação diferentes:

■IGP-DI: variação dos preços entre os dias 1 e 30 – divulgado no dia 10;

■IGP-M: variação dos preços entre os dias 21 e 20 – divulgado no dia 30.

O IGP é composto pela variação dos preços no atacado, no varejo e na


construção civil.

Tabela 2.4 Composição do IGP

Atacado IPA

Varejo IPC

Construção Civil INCC


60%

30%

10%

500 mercadorias

Famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos

Planilha de custos das empresas de engenharia

IPA = Índice de Preço no Atacado (calculado pela FGV).

IPC = Índice de Preço ao Consumidor (calculado pela FGV).

INCC = Índice Nacional da Construção Civil (calculado pela FGV).

2.1.3Taxa de câmbio – PTAX


Taxa média de câmbio obtida e divulgada pelo BACEN, e normalmente
usada como referência na liquidação de contratos de derivativos baseados
na cotação do câmbio.

O Banco Central calcula a PTAX com base na taxa média ponderada por
volume das operações no mercado de câmbio interbancário,1 com o
expurgo de possíveis taxas discrepantes até um volume não superior a 5%
do volume negociado. A essa taxa média é adicionado ou subtraído um
spread padrão, para se chegar à PTAX VENDA e à PTAX COMPRA,
respectivamente.
Tabela 2.5 Exemplos de taxas de câmbio

Câmbio

Dólar EUA

Compra

Venda

27/08/2019 (PTAX)

4,1551

4,1557

28/08/2019 – 11:00

4,1476

4,1482

Euro

Compra
Venda

27/08/2019 (PTAX)

4,6093

4,6103

28/08/2019 – 11:00

4,5964

4,5975

Disponível em: www.bcb.gov.br. Acesso em: 28 ago. 2019.

Essa taxa média é divulgada diariamente pelo BACEN, ao final do dia,


com base nas operações realizadas no dia. Normalmente os contratos de
derivativos de câmbio são liquidados no dia seguinte ao da formação e
divulgação da PTAX.

O BACEN também divulga, a cada 30 minutos, entre 10 e 17 horas,


boletins intermediários com as taxas (dólar e euro) praticadas no mercado
interbancário de câmbio. Essas taxas são obtidas com base nas cotações
que o mercado abre ao BACEN.

As cotações dos boletins intermediários e da taxa média ao final do dia


podem ser obtidas por meio da transação PTAX800 do SISBACEN, ou na
página do Banco Central do Brasil. Acima pode-se ver a informação do dia
27/08/2019, disponível no site do BACEN.
2.1.4Taxa Selic
Taxa básica da economia, que remunera os títulos públicos, bem como os
valores da devolução do imposto de renda.

Taxa Média

Trata-se da taxa apurada no Selic, obtida mediante o cálculo da taxa média


ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia,
lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em
câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações
compromissadas.

O Banco Central esclarece que, nesse caso, as operações compromissadas


são operações de venda de títulos com compromisso de recompra assumido
pelo vendedor, concomitantemente com compromisso de revenda assumido
pelo comprador, para liquidação no dia útil seguinte. Ressalta-se, ainda,
que estão aptas a realizar operações compromissadas, por 1 dia útil,
fundamentalmente as instituições financeiras habilitadas, tais como bancos,
caixas econômicas, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e
sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

Tabela 2.6 Taxas de juros

Taxas de juros de operações de crédito

Taxa Selic Meta

6,00%

Reunião Copom: 31/07/2019


Taxa Selic Diária

5,90%

27/08/2019

Disponível em: www.bcb.gov.br.

Na Tabela 2.6, nota-se que há diferença entre a Taxa Selic Meta e a Taxa
Selic Diária. A Taxa Meta é definida na reunião do Copom, conforme
veremos ainda neste capítulo. Já a Taxa Diária é o resultado dessa média
mencionada. Para aqueles que trabalham com metas definidas, será fácil
entender, pois nem sempre é possível atingir a meta que foi passada pelo
chefe. A Taxa Selic Diária é resultante da média praticada pelo mercado,
que nem sempre coincide com o estabelecido na reunião do Copom. Uma
coisa é o que o Banco Central quer (a meta), e outra coisa é o que o
mercado deseja pagar, que depende das leis de oferta e demanda,
influenciando a Taxa Diária. Entretanto, o Banco Central opera no mercado
de títulos públicos para que a Taxa Selic Média, que é a efetiva, esteja em
linha com a meta da Selic definida na reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária do Banco Central).

2.1.5Taxa DI
A Taxa DI-Cetip Over (extragrupo) é calculada e divulgada pela B3 e
apurada com base nas operações de emissão de Depósitos Interfinanceiros
prefixados, pactuadas por 1 (um) dia útil e registradas e liquidadas pelo
sistema B3, conforme determinação do Banco Central do Brasil.
No universo do mercado interbancário são selecionadas as operações de 1
(um) dia útil de prazo (over), considerando apenas as operações realizadas
entre instituições de conglomerados diferentes (extragrupo), desprezando-
se as demais (intragrupo).

A Taxa DI aqui definida é conhecida no mercado como Taxa CDI. Ou seja,


quando um cliente faz um CDB e o banco remunera, por exemplo, 94% do
CDI, na verdade o cliente estará sendo remunerado a 94% da Taxa DI-
Cetip Over (extragrupo).

A B3 informa que, para que a Taxa DI seja calculada, é necessário que


duas condições sejam observadas:

1.o número de operações elegíveis para o cálculo da taxa tem que ser igual
ou maior a 100; e

2.o somatório dos volumes das operações elegíveis tem que ser igual ou
superior a R$ 30 bilhões.

Caso uma das duas condições acima não seja observada, a Taxa DI será
igual à Taxa Selic Over (Taxa Selic Média) divulgada no dia.

2.1.6TR
A Taxa Referencial de Juros foi criada no Plano Collor II para ser o
principal índice brasileiro – uma taxa básica referencial dos juros a serem
praticados no mês vigente e que não refletisse a inflação do mês anterior. A
TR corrige os saldos mensais da caderneta de poupança e é também
utilizada nos empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), além
de algumas outras operações.

De acordo com a Resolução no 4.624/2018 do BCB, a TR é calculada com


base na TBF (Taxa Básica Financeira), que tem por base todas as operações
definitivas de LTNs2 realizadas no mercado secundário e registradas no
Sistema Selic, com prazo de vencimento de 1 (um) mês.3 Calculada a TBF,
aplica-se um redutor “R”, que varia de acordo com o valor da TBF
encontrada, sendo 0,48 < R < 0,23.

Quadro 2.1Comparativo entre TR, PTAX, Taxa DI e Taxa Selic

Características

TR

PTAX

Taxa DI

Taxa Selic

Denominação

Taxa Referencial – TR

P = Programa, TAX = Taxa

Depósito Interfinanceiro

Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

Periodicidade
Diária

Diária

Diária

Diária

Órgão responsável

Banco Central do Brasil

Banco Central do Brasil

B3

Banco Central do Brasil

Cálculo

A TR é o resultado da aplicação de um redutor na TBF (Taxa Básica


Financeira). A TBF é calculada a partir da remuneração mensal média das
LTNs negociadas no mercado secundário, registradas no Sistema Selic e
com prazo de 1 mês até o vencimento.

Calculada com base na taxa média ponderada pelos volumes, das operações
no mercado interbancário de câmbio com liquidação em D + 2. A taxa é
definida após o expurgo de parcela relativa a operações que tenham sido
fechadas a taxas discrepantes das praticadas no mercado.
Taxa média ponderada das operações com CDI-Over, extragrupo
financeiro. Na formação da taxa DI-Over são consideradas apenas as
operações de um dia, entre instituições diferentes (extragrupo).

Taxa Selic é a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no


Sistema Selic para títulos públicos federais. Nessas operações há a troca de
reservas em D + 0. Existe a Taxa Meta, divulgada pelo Copom, e a taxa
Diária (ou Over), calculada conforme aqui mencionado.

Principais usos

Remunera os depósitos em caderneta de poupança e corrige empréstimos


do Sistema Financeiro de Habitação.

Taxa de conversão do Real para outras moedas, utilizada em mercado


financeiro, para correção cambial, contratos futuros de dólar etc.

É o principal benchmark do mercado para aplicações financeiras.

É a taxa prime do mercado. O Copom estabelece metas periódicas para essa


taxa. Corrige os valores de imposto de renda.

Adaptado de:
http://financenter.terra.com.br/index.cfm/fuseaction/secao/id_secao/350.

2.2Copom e política monetária


Para entender a importância do Copom, é necessário retroceder um pouco e
explorar o tema política monetária. E, para compreender política monetária,
vamos primeiramente ao entendimento dos termos.
■Política = conjunto de regras.

■Monetária = que vem de moeda.

Logo, política monetária é o conjunto de regras que estabelecem o poder de


compra da moeda. E nada mais pertinente neste momento do que
mencionar a inflação, que é o fato econômico de desvalorização da moeda.
Em outras palavras, há inflação quando precisamos de mais dinheiro
(moeda) para trocar pelo mesmo bem. Por exemplo: determinado vestido
custava R$ 180,00 no final do mês 1. Ao final do mês 2 seu preço havia
sido reajustado para R$ 181,80. Houve, portanto, uma inflação de 1% no
mês 2, pois o comprador precisava de 1% a mais de moeda para trocar pelo
mesmo vestido.

O país trabalha hoje com o regime de metas inflacionárias (inflation target,


em inglês). Como executor da política monetária, cabe ao BACEN cuidar
para que a inflação esteja dentro de uma meta fixada pelo Conselho
Monetário Nacional, que também fixa um limite superior e um inferior para
essa meta.

O índice utilizado para a meta de inflação no Brasil é o IPCA.

Para poder atingir sua meta, o Banco Central dispõe de três mecanismos:

■controle da reserva bancária;

■compra e venda de títulos públicos;

■controle da taxa de juros.

2.2.1Controle da reserva bancária


Assim como as pessoas têm conta em banco, todos os bancos têm uma
conta no Banco Central. Chamam-se Reserva Bancária os recursos
provenientes desses depósitos feitos pelos bancos. Essa reserva tem origem
nas seguintes fontes:

■x% sobre o volume de depósitos de clientes em conta-corrente nos


bancos;

■y% sobre o volume da caderneta de poupança dos clientes nos bancos;

■z% sobre o volume em depósito a prazo (CDB/RDB) emitido pelos


bancos.

O dinheiro é uma mercadoria e, como qualquer outra mercadoria, quanto


maior o seu volume em circulação, menor será o seu valor. Quando tem
muito em circulação, ele vale menos. Entretanto, existe um nível ótimo.
Dessa forma, o Banco Central aumenta ou diminui os percentuais desses
depósitos compulsórios que os bancos têm de efetuar na conta Reserva,
conforme deseje aumentar o meio circulante ou diminuir. Quando a
alíquota a ser recolhida aumenta, diminui o dinheiro disponível para os
bancos emprestarem aos clientes, havendo um “enxugamento” da
economia. Ocorrendo o inverso, ou seja, quando diminui o percentual, o
volume de recursos aumenta na economia, pois uma parte que estava na
conta Reserva volta para o caixa dos bancos.

Se há mais recursos na economia devido a uma diminuição na alíquota do


Compulsório, e uma vez que dinheiro funciona como uma mercadoria, uma
política de elevação das reservas bancárias reduz a quantidade de dinheiro
na economia, fazendo com que este aumente seu valor.

Por outro lado, quando o BACEN reduz a alíquota, os bancos têm mais
dinheiro para emprestar a seus clientes. Se há mais oferta de crédito, há
estímulo para o consumo, o que impulsiona a produção das empresas,
diminuindo o desemprego. Além disso, havendo concorrência entre os
bancos para emprestar dinheiro, as taxas de juros cobradas podem também
diminuir, estimulando ainda mais a economia.

É importante mencionar também que esse mecanismo de política


monetária, com a elevação e diminuição das alíquotas dos Compulsórios,
não pode ser utilizado frequentemente, pois o nível das reservas tem de ser
controlado pelos bancos com muito cuidado, para não gerar problemas.
Dessa forma, o BACEN utiliza outras ferramentas, cuja alteração pode se
dar em intervalos de tempo menores.

2.2.2Compra e venda de títulos públicos


Outro mecanismo de que dispõe o Banco Central para recolher ou aumentar
a quantidade de dinheiro – liquidez – da economia é a compra e venda de
títulos públicos.

Quando compramos algo, estamos dando dinheiro e recebendo mercadoria.


O mesmo acontece quando o Banco Central vende títulos públicos. Quando
ele compra títulos públicos, está colocando dinheiro na economia e
recebendo em troca os títulos. O contrário ocorre quando vende títulos.
Nesse caso, ele entrega títulos e recebe dinheiro, diminuindo o meio
circulante, ou seja, reduzindo a liquidez da economia.

A negociação dos títulos públicos ocorre no open market, ou mercado


aberto, e por intermédio das instituições financeiras e dos dealers4 do
Banco Central, instituições autorizadas a prestarem o serviço de compra e
venda dos títulos públicos para os investidores. Dá-se o nome de mercado
aberto por não haver um lugar específico para a negociação dos títulos.

2.2.3Controle da taxa de juros


O controle da taxa de juros é o terceiro mecanismo de que dispõe o Banco
Central para fazer política monetária. Assim, quando deseja estimular o
consumo, ele diminui a taxa de juros; e quando deseja frear o consumo,
aumenta a taxa. Veja como isso funciona.
Suponha que você esteja fazendo uma pesquisa para trocar de carro. Se, por
exemplo, não tiver todo o dinheiro para pagar à vista, terá de conseguir um
financiamento. Entretanto, se a taxa de juros encarecer muito o valor do
veículo, talvez você se sinta desestimulado a pagar a prazo e prefira
economizar um pouco mais antes de realizar seu desejo. Dessa forma,
estará aumentando a poupança e inibindo o consumo. O mesmo se dá com
as empresas. Se a taxa de juros for muito alta, a companhia pode postergar
um projeto de investimento e aguardar um momento mais propício para
fazê-lo, dado que dificilmente as empresas dispõem de recursos próprios
para financiar 100% seus projetos. Veja só, um investidor racional somente
irá tomar recursos emprestados para um projeto se o retorno esperado para
o mesmo for superior ao custo do projeto. E se as taxas de juros forem
muito altas, muitos projetos acabam não se tornando viáveis.

Do outro lado, se a taxa de juros for muito baixa, as pessoas e as empresas


vão se sentir estimuladas a tomar dinheiro emprestado para se financiar,
aumentando o consumo. Agora veja o dilema do Banco Central: se ele
baixar muito a taxa de juros, incentivando o consumo, pode ocorrer que o
mercado não esteja abastecido de mercadorias suficientes, o que vai
acarretar uma inflação de demanda. Assim, o Banco Central procura ser
muito criterioso quando decide baixar, subir ou manter a taxa de juros,
pois, por meio do controle da taxa de juros, o governo pode aumentar a
poupança e inibir o consumo, de forma a reduzir uma possível pressão
inflacionária que possa existir.

A possibilidade de mudança do patamar de taxa de juros no Brasil ocorre a


cada seis semanas durante a reunião do Comitê de Política Monetária do
Banco Central (Copom), que é formado pelo Presidente e pela Diretoria do
Banco Central do Brasil.

No site do BACEN5 pode-se ver a agenda de todas as reuniões do Copom,


bem como as atas das reuniões já realizadas, que costumam ser divulgadas
oito dias após cada reunião. Essa reunião ocorre em dois dias, sendo o
primeiro dia para análise e o segundo para tomar a decisão.
Junto com cada decisão de manutenção ou não de patamar de taxa de juros,
o Copom também anuncia se o viés é de baixa, de alta ou neutro. Viés
significa a tendência do comportamento da taxa de juros, podendo seu
percentual ser alterado pelo Presidente do Banco Central, dentro dos limites
definidos, sem necessitar de convocação extraordinária do Copom.

Essa taxa anunciada pelo Copom é denominada Taxa Selic Meta. A Taxa
Selic é a taxa básica da economia, que remunera os títulos públicos, bem
como os valores da devolução do imposto de renda (Taxa Selic Diária). É
nessa taxa que toda a economia se baseia para construir as outras taxas de
juros. Ela é apurada no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic),
obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das
operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos
federais e cursadas no referido sistema, na forma de operações
compromissadas,6 conforme estudado na seção 2.1. Tem, portanto, sua
origem nas taxas de juros efetivamente observadas no mercado. Nas
reuniões do Copom, é definida e anunciada a taxa-alvo, ou taxa-meta, com
a qual o Banco Central do Brasil pretende operar até a próxima reunião.
Entretanto, devido a fatores de mercado, como oferta e procura, as taxas
praticadas podem ser um pouco diferentes da taxa-alvo. Cabe mencionar
que essas taxas de juros não sofrem influência do risco do tomador de
recursos financeiros nas operações compromissadas, uma vez que o lastro
oferecido é homogêneo.

Redesconto

A taxa de redesconto é aquela que o Banco Central recebe quando empresta


dinheiro para as instituições financeiras deficitárias e também pode ser
usada como instrumento de política monetária, pois se o BACEN baixa a
taxa do redesconto, as instituições financeiras são obrigadas a baixar suas
taxas, caso contrário não conseguirão emprestar para as demais instituições
financeiras do mercado. A taxa do redesconto é, via de regra, mais elevada
do que a taxa do interbancário.

Resumindo
Podemos resumir as ferramentas de política monetária no quadro a seguir:

Quadro 2.2Ferramentas de política monetária do Banco Central

Política

Expansionista

Restritiva

Reserva bancária

Reduz

Eleva

Operações com títulos públicos

Compra

Vende

Taxa de juros

Reduz

Eleva
Diz-se que uma política monetária é expansionista quando aumenta
(expande) a liquidez da economia. Uma política é restritiva quando diminui
(restringe) a liquidez da economia.

Pontos importantes – Economia

■PIB = Produto Interno Bruto.

PIB sob a ótica

Famílias

+ Empresas

+ Governo

do dispêndio =

Consumo

Investimentos

Gastos

+ Importação
− Exportação

da renda =

Remuneração do trabalho

Excedente bruto de exploração

Impostos

■Índices de inflação:

○IPCA – calculado pelo IBGE. Usado como meta de inflação. Preços no


varejo.

○IGP-M – calculado pela FGV. Pesos: 60% atacado + 30% varejo + 10%
construção civil. O IGP-M tem por base os preços do dia 20 e é divulgado
no dia 30.

■Taxa PTAX – calculada pelo BACEN com base na taxa média ponderada
por volume das operações no mercado de câmbio interbancário.

■Taxa Selic – taxa básica da economia, que remunera os títulos públicos,


bem como os valores da devolução do imposto de renda. Existem a taxa-
meta e a taxa média (ou efetiva), que é a média do mercado de títulos
públicos federais, registrado no Selic.
■Taxa DI – a taxa DI Over extragrupo é a taxa média ponderada por
volume financeiro dos depósitos interfinanceiros de um dia, calculada e
divulgada diariamente pela B3. Para o cálculo da Taxa DI, as negociações
feitas entre instituições financeiras que pertencem ao mesmo grupo
financeiro não são levadas em consideração.

■TR – a Taxa Referencial de Juros tem por base a Taxa Básica Financeira
(TBF), que é calculada a partir da remuneração mensal média dos LTNs de
1 mês. Após o cálculo da TBF, aplica-se um redutor e encontra-se a TR.

■O órgão responsável pela execução da política monetária é o Banco


Central do Brasil, que controla a liquidez da economia (a quantidade de
dinheiro que há na economia).

■O Brasil trabalha com o sistema de metas de inflação.

■Inflação = perda do poder de compra da moeda.

■Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central. Reúne-se por


dois dias, a cada seis semanas, para definir a Taxa Selic Meta. Fazem parte
do Copom o Presidente do Banco Central e sua Diretoria.

■Ferramentas de política monetária: (i) controle da reserva bancária; (ii)


compra e venda de títulos públicos; (iii) controle da taxa de juros, pelo
Copom, e redesconto.

Exercícios de fixação

1.Qual dos órgãos abaixo é responsável pela execução da política


monetária do país?

a.Banco Central do Brasil.


b.Conselho Monetário Nacional.

c.Ministério da Fazenda.

d.Tesouro Nacional.

2.Como é calculado o Produto Interno Bruto pela ótica do dispêndio?

a.PIB = Remuneração do trabalho + Excedente Bruto de Exploração +


Impostos

b.PIB = Consumo das famílias + Investimento das empresas + Gastos do


governo

c.PIB = Consumo das famílias + Investimento das empresas + Gastos do


governo + (Exportações – Importações)

d.PIB = Consumo das famílias – Investimento das empresas – Gastos do


governo + (Importações – Exportações)

3.Qual índice é utilizado na definição da meta de inflação?

a.IGP-M.
b.IGP-DI.

c.IPCA.

d.INCC.
4.Com que frequência o Copom se reúne?

a.Mensalmente.

b.Oito vezes por ano.

c.A cada dois meses.

d.Anualmente.

5.Quais ferramentas o Banco Central dispõe para fazer política monetária?

a.Controle da reserva bancária e da taxa de juros e compra e venda de


títulos públicos.

b.Controle do IPCA, da reserva bancária e da taxa de juros.

c.Controle da taxa de câmbio, da taxa de juros e compra e venda de títulos


públicos.

d.Controle da PTAX, da Taxa Selic e do CDI.

6.Conecte as colunas:

A. Taxa média de câmbio do mercado interbancário

( ) Taxa DI
B. Taxa média do interbancário de dinheiro

( ) Taxa Selic

C. Taxa que remunera os títulos públicos

( ) Taxa PTAX

a.A; B; C.

b.B; A; C.

c.C; A; B.

d.B; C; A.

7.Uma política monetária restritiva requer do Banco Central:

a.Comprar títulos públicos.

b.Vender títulos públicos.

c.Diminuir a alíquota do depósito compulsório.

d.Aumentar a taxa Selic.


8.Quando o caixa de um banco está deficitário, o Banco Central entra
emprestando dinheiro para essa instituição. A essa operação se dá o nome
de:

a.Redesconto.

b.Empréstimo compulsório.

c.Open Market.

d.Transferência referencial de juros.

Gabarito

1. a

2. c

3. c

4. b

5. a

6. d

7. b
8. a

___________

1Os bancos estão a todo momento comprando e vendendo dólares. Quando


a posição deles é negativa, ou seja, venderam mais do que compraram, eles
vão ao mercado interbancário para comprar dólares de outra instituição.

2LTN = Letra do Tesouro Nacional, título prefixado de emissão do


Tesouro Nacional. Conhecido no Tesouro Direto como “Tesouro
Prefixado”.

3Para o cálculo da TBF, 1 (um) mês de vencimento é igual ao mesmo dia


(número) do mês subsequente, sua véspera e o dia seguinte.

4Os dealers são selecionados duas vezes ao ano entre as instituições mais
ativas do sistema financeiro. Eles são escolhidos por meio de critérios de
performance que incluem o desempenho de cada instituição nos mercados
primário e secundário de títulos públicos, no mercado de operações
compromissadas e no seu relacionamento com o Banco Central. Alguns
dealers somente trabalham o mercado primário e outros desenvolvem
somente o mercado secundário. O BACEN admite a participação
concomitante de no máximo cinco instituições em ambos os grupos. A lista
de dealers encontra-se divulgada no website do BACEN.

5www.bcb.gov.br

6Operações compromissadas são operações de venda de títulos com


compromisso de recompra assumido pelo vendedor, conjugadamente com
compromisso de revenda assumido pelo comprador, para liquidação no dia
útil seguinte.
CAPÍTULO 3
Conceitos Básicos de Finanças
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Distinguir entre os regimes de juros simples e compostos.

■Compreender a diferença entre juros real e nominal.

■Utilizar os benchmarks para comparar os produtos de investimento.

■Entender o que é volatilidade e como isso afeta as escolhas do


investimento.

■Compreender a importância da marcação a mercado na precificação dos


títulos e seu impacto na rentabilidade de um fundo de investimento.

■Diferenciar mercado primário de secundário.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

3.1Taxa de juros

3.2Juros simples versus juros compostos

3.3Taxa de juros equivalente versus taxa de juros proporcional


3.4Taxa de juros nominal versus taxa de juros real

3.5Indicadores de mercado

3.6Prazo médio da carteira

3.7Marcação a mercado

3.8Mercados primário e secundário

Pontos importantes – Finanças

Proporção no exame

Economia e Finanças somam de 5 a 10%.

Tempo estimado de estudo

Seis horas.

3.1Taxa de juros
Os conceitos da matemática financeira abordados neste livro são
importantes a todo indivíduo, seja para utilização em sua vida profissional
ou pessoal. Perguntas como “Será mais vantajoso pagar um bem a prazo ou
aceitar o desconto oferecido pelo vendedor e pagar à vista?” podem ser
resolvidas utilizando-se os conhecimentos de matemática financeira.
Dentre os conceitos mais importantes, pode-se mencionar a compreensão
do valor do dinheiro no tempo – objeto de estudo da matemática financeira.
Seja em um país com economia inflacionária ou não, abdicarmos de
dinheiro hoje para utilizarmos em um tempo futuro implica perdas de
oportunidade. Dessa forma, o indivíduo racional vai exigir uma
remuneração por seu dinheiro, dado que postergou a sua utilização no
presente, buscando uma poupança, para utilizá-lo no futuro.

A matemática financeira estuda exatamente essa relação entre o valor do


dinheiro hoje e no futuro, identificando o custo dessa postergação: os juros.

Logo, pode-se definir juros como:

■Remuneração paga ao investidor pelo tomador de recursos.

■Remuneração do capital, a qualquer título.

■É uma unidade de medida. Pode ser: a.a. (ao ano), a.s. (ao semestre), a.m.
(ao mês), a.d. (ao dia) etc. Independentemente do prazo, ele é sempre
apresentado na forma percentual (%).

J=P∙i

Em que:

J = juros;

P = capital;

i = taxa de juros.
Exemplo:

Capital = $ 1.000

Juros = $ 1.000 × 0,08 = $ 80

Os juros podem ser simples ou compostos, conforme veremos a seguir.

3.2Juros simples versus juros compostos


Juros simples

Calcula-se o valor futuro com base no principal inicial, sendo o juro uma
percentagem fixa desse capital inicial.

F = P (1 + in)

Em que:

F = capital no tempo n;

P = capital inicial;

i = taxa de juros;

n = número de períodos.
Exemplo:

P = 100 i = 10% = 0,10 F3 = ?

J1 = 100 × (0,10 × 1) = 10

J2 = 100 × (0,10 × 2) = 20

J3 = 100 × (0,10 × 3) = 30

F3 = 100 + (100 × (0,10 × 3)) = 130

P P i n

F = P + (P.i.n) = P + Pin

⇒ F = P (1 + in)

Obs.: A prova é puramente conceitual, não caindo cálculos. Entretanto,


para o entendimento dos conceitos, é necessária a apresentação das
fórmulas.

Juros compostos

Para calcular o valor futuro, os juros se capitalizam ao principal e aos juros


acumulados, para geração de futuros juros.
F = P (1 + i)n

Em que:

F = capital no tempo n;

P = capital inicial;

i = taxa de juros;

n = número de períodos.

Exemplo:

P = 100 i = 10% = 0,10 F3 = ?

F1 = 100 (1 + 0,10) = P (1 + i)

F2 = F1 (1 + i) = P (1 + i) × (1 + i) = P (1 + i)2

F3 = F2 (1 + i) = P (1 + i)2 × (1 + i) = P (1 + i)3

⇒ Fn = P (1 + i)n

F3 = 100 (1 + 0,10)3 = 133,10

Na HP 12C:
Marcar juros compostos na calculadora, clicando em [f] [EEX]. Aparecerá
um “C” no visor, indicando que os cálculos terão por base juros compostos.

P = PV (present value) = 100,00

i = i (interest) = 10 (a calculadora assume 0,10)

n = n (number of periods) = 3

F = FV (future value) = ?

[f] [REG] [100] [PV] [3] [n] [10] [i] [FV]

Fazendo isso, aparecerá na tela a resposta: 133,10.

Resumindo, enquanto nos juros simples a base de cálculo é sempre o valor


principal, nos juros compostos o cálculo é sempre com base no valor já
corrigido. Observe também que a relação nos juros compostos é
exponencial ((1 + i)n) e nos juros simples, uma reta ((1 + in)). Logo,
podemos traçar o gráfico a seguir, que representa a relação de um mesmo
capital inicial corrigido ao longo do tempo, utilizando a metodologia dos
juros simples (linha pontilhada) e dos juros compostos (linha contínua).

Figura 3.1 Representação gráfica – juros simples × compostos.

Conforme se pode notar no gráfico e nos exemplos anteriores, no tempo =


1 o montante (valor futuro) encontrado é igual tanto nos juros simples
como nos compostos. Já no tempo compreendido entre 0 (zero) e 1, o
montante encontrado é menor quando aplicada a metodologia de juros
compostos, invertendo-se após ultrapassado o primeiro período.

Equivalência de capitais

Dois capitais são equivalentes quando seus valores, comparados na mesma


data, são iguais.

Atenção: Só podemos comparar valores em datas iguais. Qualquer data


pode ser usada, desde que a mesma para todos os capitais.

Exemplo:

Calcular o valor presente dos capitais a seguir e verificar se, a juros


compostos de 10%, os capitais são equivalentes:

Capital

Mês de vencimento

$ 2.000

1
b

$ 2.250

$ 2.420

$ 2.662

Trazendo a valor presente, no tempo 0 (zero):

a)[f] [REG] [2000] [FV] [1] [n] [10] [i] [PV]

ou F = P (1 + i)n

⇒ P = F / (1 + i)n

Pa = F1 / (1 + i)1 = 2000 / 1,10 = 1818,18


b)[f] [REG] [2250] [FV] [2] [n] [10] [i] [PV]

ou Pb = F2 / (1 + i)2 = 2250 / 1,102 = 1859,50

c)[f] [REG] [2420] [FV] [3] [n] [10] [i] [PV]

ou Pc = F3 / (1 + i)3 = 2250 / 1,103 = 1818,18

d)[f] [REG] [2662] [FV] [4] [n] [10] [i] [PV]

ou Pd = F4 / (1 + i)4 = 2662 / 1,104 = 1818,18

Conclusão:

Pa = Pc = Pd ≠ Pb

Os capitais a, c, d são equivalentes; b não é equivalente a nenhum dos


capitais a, c, d.

3.3Taxa de juros equivalente versus taxa de juros proporcional


Taxa de juros equivalente

Duas taxas são equivalentes quando, aplicadas ao mesmo capital durante


um mesmo prazo, produzem o mesmo montante.

(1 + ia) = (1 + is)2 = (1 + it)4 = (1 + im)12 = (1 + id)252


ia = taxa de juros anual

is = taxa de juros semestral

it = taxa de juros trimestral

im = taxa de juros mensal

id = taxa de juros diária (em dias úteis)1

Exemplos:

1.Qual a taxa de juros anual equivalente a uma taxa de juros mensal de 1%?

(1 + im)12 = (1 + ia)

(1 + 0,01)12 = (1 + ia)

1,0112 = 1 + ia

ia = 1,1268 – 1

ia = 0,1268 = 12,68% a.a.

2.Qual a taxa de juros mensal equivalente a uma taxa de juros anual de


8,25%?

(1 + im)12 = (1 + ia)
(1 + im)12 = (1 + 0,0825) = 1,0825

1 + im = 1,08251/12 = 1,0066

im = 1,0066 – 1 = 0,0066 = 0,66% a.m.

DICAS:

1. Quando você tem a variável para a qual deseja encontrar o resultado


embaixo da potência, como nesse caso ((1 + im)12), é preciso soltar a
variável de dentro do parêntese. A solução do problema é fazer a operação
inversa, tirando, no caso, a raiz 12. Se você tirar a raiz 12 de um lado da
equação, terá de tirar do outro lado também.

Taxa de juros proporcional

Quando falamos de taxa de juros proporcional estamos nos referindo a


juros simples.

Exemplos:

1.Se a taxa anual é 14%, a taxa proporcional semestral é de 7%.

1 ano = 2 semestres
14% a.a. ÷ 2 = 7% a.s.

2.A taxa proporcional mensal da poupança é de 0,5% a.m. (6,0 a.a. ÷ 12 =


0,5 a.m.).

Dica:

Taxa de juros proporcional = juros simples

Taxa de juros equivalente = juros compostos

3.4Taxa de juros nominal versus taxa de juros real2


Taxa de juros nominal

É a taxa de juros na qual a unidade de referência temporal não coincide


com a unidade de tempo de capitalização.

Exemplos:

1. A taxa de juros da poupança (regra antiga) é TR + 6% a.a., capitalizada


mensalmente. Essa é a taxa apresentada, a nominal. A taxa efetivamente
paga é TR + 6/12 meses = TR + 0,5% a.m. E, devido ao efeito da
capitalização dos juros compostos, a taxa de juros efetivamente paga ao
poupador será de TR + 6,17%.

2. A Taxa Selic Diária, praticada em 17/04/2020 era de 3,65% a.a. Essa é


a taxa nominal, a que está “expressa no nome”.

Taxa de juros real


A taxa de juros real desconta o efeito da inflação ou de outro indexador
utilizado.

Exemplo:

Sabendo-se que a Taxa DI (vulgo CDI) é de 11,88% a.a. nesta data e que o
IPCA projetado para os próximos 12 meses é de 6,0%, pergunta-se: qual a
taxa de juros real da economia?

iR = Taxa de juros real

iN = Taxa de juros nominal

(1 + iR) × (1 + inflação) = (1 + iN)

(1 + iR) × 1,06 = 1,1188

(1 + iR) = 1,1188 / 1,06 = 1,0555

iR = 1,055 – 1 = 0,0555 = 5,55%

DICA:

Note que: 11,88% – 6,00% > 5,5%. Isso ocorre por conta da capitalização.

Exemplo com aplicação prática para quem quer saber mais:

Um gerente oferece a você duas possibilidades de investimento, ambas com


prazo de vencimento de um ano e de emissão da mesma instituição
financeira: (A) título prefixado em 10% a.a. e (B) título que rende IGP-M +
5,3%. Sabendo-se que a expectativa de inflação para o período é de 4,2%,
qual deve ser o título escolhido?

IGP-M + 5,3% = 10,0%

(1 + IGP-M) (1 + 0,053) = (1 + 0,10)

Para solucionar o problema, você deve descobrir se 5,3% é uma boa taxa
(x), com base em uma expectativa de IGP-M de 4,2%. Substituindo:

(1 + 0,042) (1 + x) = (1 + 0,10)

x = 0,0557 = 5,6%

Como o título paga somente IGP-M + 5,3%, e dado que a taxa que iguala a
10% (com uma expectativa de IGP-M de 4,2%) é de 5,6%, portanto maior
do que 5,3%, o investidor racional deveria escolher o título A, prefixado
em 10%, entre as duas opções apresentadas.

Dicas:

1.Em tese, a rentabilidade de ambos os títulos deve ser igual. Se A render


mais do que B, todo mundo vai preferir aplicar no título A, sendo a
recíproca verdadeira.

2.Lembrando que não se soma! O juro nominal é igual à multiplicação de


(1 + indexador) por (1 + juro real).
3.No fundo, o que você quer saber é se 5,3% é um cupom desejável.
Cupom é esse adicional que o título paga, além da simples correção do
título pela inflação.

4.Quando um título rende indexador + cupom, como é o caso de um título


que rende IPCA + x (NTN-B,3 por exemplo), primeiro o título deve ser
corrigido pelo indexador, para depois ser aplicada a taxa do cupom.

Praticando:

1.Qual a taxa mensal equivalente a uma taxa anual de 12%?

a) 1%.

b) Menor que 1%.

c) Maior que 1%.

Resposta: b.

2.Qual a rentabilidade acumulada no quadrimestre para o CDI, o dólar e o


Ibovespa, dada a seguinte tabela?

Indicador

Jan.

Fev.
Mar.

Abr.

Acum.

CDI

1,44

1,44

1,44

1,49

Dólar

0,75

– 1,88

– 1,20
1,10

Ibovespa

– 3,29

7,64

0,47

– 3,74

Resposta: CDI = 5,77%, dólar = 1,34%, Ibovespa = – 7,16%. Essa resposta


foi obtida tendo por base o seguinte cálculo:

Dólar acumulado = (((1 + 0,0075) × (1 – 0,0188) × (1 – 0,012) × (1 +


0,011)) –1) × 100

Dica:

Lembre-se sempre de que se você somou + 1, então deve subtrair esse “1”
no final. E também não se esqueça de multiplicar o resultado por 100, pois
a taxa é apresentada na forma percentual (dividida por 100 = %). Repare
que a fórmula contempla essa dica no final.
3.Um investidor aplicou em um título de um ano que remunerou 10%.
Sabendo-se que a inflação no período foi de 5,5%, calcule a taxa de juros
real recebida na aplicação.

a) 4,27%.

b) 4,50%.

c) 5,23%.

d) 5,82%.

Resposta: a.

Atente que esse é o tipo de questão em que, embora pareça, não precisa
fazer cálculo para responder, apenas ter bom senso, pois 10 – 5,5 = 4,5, e a
resposta tem de ser menor do que 4,5.

4. O PIB de um país dobrou em dez anos. Qual foi a taxa de crescimento


anual média?

Resposta: 7,18% a.a.

3.5Indicadores de mercado
Também conhecido como benchmark, um indicador é um parâmetro que se
deseja utilizar para comparação para análise de performance. Ou seja, é
uma carteira teórica de ativos que representa uma alocação passiva4 de
recursos a partir da qual um gestor pode tomar apostas relativas e contra a
qual pode ser avaliado.
A escolha de benchmarks adequados é muito importante, em especial no
caso de gestão discricionária, quando as decisões de investimento e sua
execução ficam totalmente a cargo do gestor. Isso porque:

■facilitam a comparação dos objetivos entre os gestores de recursos;

■são utilizados na mensuração do valor agregado em caso de gestão ativa,


facilitando a avaliação da habilidade do gestor;

■os benchmarks são utilizados para indicar objetivos de retorno;

■indicam a tolerância a risco da carteira;

■auxiliam na determinação da estrutura mais eficiente em termos de


gestores e produtos;

■permitem que as características do portfólio sejam mantidas de forma


coerente com as determinadas previamente em questões de casamento entre
ativos e passivos.

Sendo um benchmark um indicador de performance, a escolha do índice a


ser utilizado deve ser compatível com a classe do investimento. Dessa
forma, temos de separar os benchmarks em dois tipos:

1.benchmarks de renda fixa;

2.benchmarks de renda variável.

Os principais benchmarks de renda fixa no mercado brasileiro são a Taxa


DI e a Taxa Selic, já estudadas no Capítulo 2. Relembrando, a Taxa DI
Over Extragrupo é a taxa média dos depósitos interfinanceiros (ou
interbancários) negociados entre as empresas de diferentes grupos
financeiros, calculada e divulgada diariamente pela B3. Já a Taxa Selic é a
taxa apurada no Sistema Especial de Liquidação e Custódia, obtida
mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de
financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e
cursadas no Selic ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos,
na forma de operações compromissadas.

Os principais benchmarks do mercado de renda variável são o Ibovespa e o


IBrX 50, que serão abordados no Capítulo 5. O Ibovespa é composto pelas
ações mais líquidas. Para fazer parte dele, a ação tem que ter sido
negociada em pelo menos 80% dos pregões, atender a um índice mínimo de
negociabilidade definido pela B3 e o volume financeiro diário médio
negociado tem de ser superior a 1% do volume da bolsa. Para fazer parte do
IBrX 50, a ação tem de estar entre as 50 maiores ações em tamanho de
mercado (quantidade de ações total × preço de mercado da ação). Além
disso, a ação tem de ter sido negociada em pelo menos 80% dos pregões.

3.6Prazo médio da carteira


Quando mencionamos que o prazo médio de vencimento de uma carteira
ou fundo é de X dias, estamos afirmando que a média ponderada por
volume dos vencimentos dos títulos que compõem a carteira é de X dias.

A legislação de fundos de investimento define prazo médio da carteira


como a média dos prazos de recebimento dos fluxos, ponderada pelo
volume de recebimento dos mesmos. Não é levado em consideração o valor
do dinheiro no tempo.

Para efeito da classificação dos fundos – se curto ou longo prazo –, deverá


ser adotada a seguinte metodologia:

■Prazo de cada vencimento de principal e juros: prazo remanescente de


cada evento financeiro, entendido como sendo o número de dias contínuos
entre a data para a qual se calcula o valor da cota do fundo e a data de cada
vencimento, excluindo-se na sua contagem o dia de início e incluindo-se o
de vencimento.

■Prazo médio do título: média dos prazos de cada vencimento de principal


e de juros ponderados pelos respectivos valores nominais na data para a
qual se calcula o valor da cota do fundo, sem considerar qualquer projeção
de índice.

■Prazo médio da carteira: média, ponderada pelos respectivos valores


financeiros, dos prazos dos títulos da carteira.

■Valor financeiro: valor contábil, diariamente avaliado, utilizado para o


cálculo da cota do fundo.

Exemplo:

Suponha que um fundo de renda fixa tenha apenas os seguintes papéis, com
os seguintes fluxos de recebimento:

Cálculo do prazo médio da carteira do fundo:

Prazo (dias) (a)

Fluxo ($) (b)

(a) × (b)

39

437
17.043

118

3.528

416.304

219

437

95.703

399

1.437

573.363

Total

5.839

1.102.413
Prazo médio = 1.102.413 ÷ 5.839 = 189 dias

Fundos e carteiras com prazo médio mais longo apresentam riscos maiores
e, consequentemente, suas cotas são mais voláteis, ou seja, o valor da cota
varia mais. É fácil compreender o porquê, já que a incerteza quanto ao
futuro próximo é menor em relação ao futuro mais distante. Você vai
aprender mais sobre volatilidade no Capítulo 9.

3.7Marcação a mercado
A marcação a mercado (MaM) é uma metodologia de precificação de ativo
que reconhece seu preço pelo valor de mercado. Em outras palavras,
considera questões mercadológicas como, por exemplo, o valor de uma
possível venda do título.

De acordo com as regras estabelecidas pelos órgãos reguladores, todos os


títulos de um fundo de investimento devem ser marcados a mercado, e a
instituição deve formalizar em manual a metodologia adotada para
precificar os títulos. No Capítulo 6 estudaremos mais a esse respeito.

Títulos negociados em bolsa de valores ou de mercadoria e futuros são


fáceis de serem precificados, dado que as bolsas enviam uma lista de
preços. No que se refere aos títulos de renda fixa, essa precificação é mais
complicada, pois muitos títulos não apresentam liquidez.

De uma forma simples e resumida, as operações pós-fixadas são marcadas


a mercado pela taxa contratada (percentual do indexador) no início da
operação e pelo percentual desse mesmo indexador, exigido para operação
similar da data de análise, para o vencimento que está sendo precificado. A
precificação das operações prefixadas é dada pelo valor presente dos fluxos
futuros, descontado pela taxa de mercado.

É consenso no mercado a dificuldade de precificação de um título de renda


fixa que não tenha alta liquidez. Em termos mercadológicos, a melhor
informação para a marcação a mercado de um título seria aquela que
tivesse como origem as próprias negociações realizadas entre os
participantes do mercado e registradas em sistemas eletrônicos, como é o
caso das ações negociadas na bolsa. Entretanto, devido ao pequeno
mercado secundário brasileiro de títulos de renda fixa, essa possibilidade
não pode ser seguida à risca. O que se verifica é que as estatísticas relativas
a esse segmento são pouco representativas.

Relação entre taxa de juros e o preço do título de renda fixa

Você está prestes a entender uma regra fundamental para quem trabalha no
mercado financeiro. O tema é tão importante que costuma ser abordado nas
provas de certificação. Por isso, estude com bastante atenção esta parte da
matéria.

Dica:

Regra fundamental para títulos de renda fixa:

Quando a taxa de juros do mercado (i) sobe ⇒ preço de mercado (Pm) do


título cai.

Quando a taxa de juros do mercado (i) cai ⇒ preço de mercado (Pm) do


título sobe.

Ou:

Se i ↑ ⇒ Pm ↓

Se i ↓ ⇒ Pm ↑
Traduzindo a regra: o preço de um título de renda fixa é influenciado pela
taxa de juros de mercado e pela percepção do investidor quanto à taxa de
juros que deseja receber no papel. Se a taxa de juros sobe, dada a não
variabilidade dos fluxos futuros do papel, o preço do título cai, de modo a
se ajustar à nova realidade do mercado. Já se a taxa de juros desce, o preço
do título sobe. Em outras palavras, ao descontar um título que tem fluxos
futuros preestabelecidos a uma taxa de juros maior, encontra-se
matematicamente um valor presente (preço de mercado) menor para o
título, e vice-versa.

Ficou confuso? Vejamos uma variação sobre o mesmo tema. Suponha que
você tenha comprado um título de renda fixa que vence daqui a dois anos,
que paga 10% a.a. Depois de oito meses você resolve se desfazer do título e
colocá-lo à venda no mercado ou tenta negociar seu resgate com o banco
no qual fez a transação inicial. Entretanto, devido a diversos fatores, o
mercado agora está negociando esse título a 12%. Você tem em mãos,
portanto, um título que paga pouco para as exigências do mercado.
Pergunto: se você estivesse em frente ao comprador, compraria um título
que remunera 10% sabendo que a instituição vizinha vende o mesmo título
a 12%? Certamente não. Logo, seu título iria encalhar.

Fazendo uma analogia, imagine que você esteja tentando vender seu carro
por R$ 25.000,00 e não está conseguindo porque os carros similares estão
sendo vendidos por R$ 24.000,00. O que é aconselhável que você faça?
Baixar o preço, certo?

Voltando ao caso do parágrafo anterior, você tem um título que, como o


seu carro, ninguém queria comprar. Será preciso, portanto, baixar o preço
do seu título para conseguir negociá-lo no mercado.

Pode ser que você esteja achando estranha a utilização da nomenclatura


“preço” para um título de renda fixa. Afinal, ele é um título, e não um
objeto, como um carro. Mas saiba que ela é correta. O preço de um título é
o valor unitário que o investidor deve desembolsar por cada título para
adquiri-lo.
Ainda não ficou clara a questão da relação da variação da taxa de juros e do
preço de um título de renda fixa? Então vejamos se a matemática explica.
Suponhamos um título de renda fixa tradicional com as seguintes
características:

prazo: 360 dias

valor da aplicação: R$ 100,00


taxa de juros: 12% a.a.

juros no vencimento: R$ 100,00 × 12% = R$ 12,00

valor do título no vencimento: R$ 112,00

Imagine que um cliente comprou esse CDB e que, após “n” dias, deseje
resgatá-lo. Nessa data, duas coisas podem ocorrer:

■A taxa de juros, que era de 12% no momento da aplicação, subiu para


13%.

■A taxa de juros caiu para 10%.

Qualquer que seja o caso, o banco ou o mercado irá recomprar esse CDB a
valor de mercado. Isso significa que ele irá trazer o fluxo futuro a valor
presente na data “n”, e que descontará esse valor no vencimento (R$
120,00 neste caso) a uma nova taxa de mercado.
Você concorda que descontar algo a 13% resulta em um valor menor do
que se descontado a 12%? Logo, se eu descontar um título a uma taxa
maior do que a previamente contratada, estarei resgatando menos do que o
valor histórico, pois o desconto é maior (i ↓ ⇒ Pm ↑).

Utilizando a mesma regra, pode-se também afirmar que, caso a taxa de


juros tenha caído nessa data antecipada (no caso, “n” dias), estarei
descontando um título por uma taxa menor que a contratada. Logo,
receberei um valor maior do que o valor histórico (i ↓ ⇒ Pm ↑).

Demonstrando matematicamente a explicação, temos:

Logo, se i (taxa de juros do mercado) subir de 10% para 12%, você terá de
descontar o fluxo não mais a 10% e sim a 12%. Logo, o resultado do
denominador da equação (1 + i)n será maior e, portanto, o P encontrado
será menor do que se descontasse a 10%. Isso porque o investidor quer
receber 12% e não os mesmos 10% pelos quais você está sendo
remunerado com o título.

Do mesmo modo, se i (taxa de juros do mercado) cair de 10% para 8%,


você irá descontar o fluxo não mais a 10% e sim a 8%. Logo, o resultado
do denominador da equação (1 + i)n será menor e, portanto, o P encontrado
será maior do que se descontasse a 10%. Isso porque o investidor aceita
receber 8% em vez dos 10% pelos quais você está sendo remunerado com o
título.

Fechando o raciocínio, veja que a taxa pactuada no momento da compra do


título só é válida se você carregar o título até o seu vencimento. Se resolver
se desfazer do título antes disso, você estará sujeito às regras do mercado.

Ágio e deságio
Se você negociou um título que carregava em sua carteira por um preço
maior do que pagou, então você vendeu esse título com ágio. Ou seja,
quem comprou o título aceitou receber uma remuneração menor do que a
que você recebia. Nesse caso, a rentabilidade obtida com o título foi maior
do que a que você pactuou no momento da compra do título. Ou seja, você
ganhou dinheiro ao vender o título com ágio.

Já se a taxa de juros subiu e você foi obrigado a vender esse título por um
preço mais baixo, sua remuneração final foi menor do que a esperada, uma
vez que você teve de vender esse título com deságio, beneficiando o
comprador, que terá uma remuneração maior do que a sua.

Diz-se que um título é negociado ao par quando não houve ágio nem
deságio na sua negociação.

3.8Mercados primário e secundário


O mercado primário compreende o lançamento de novos títulos no
mercado, com aporte de recursos ao emissor do título (capitalização da
empresa). Para lançar novas ações no mercado, as empresas fazem
emissões públicas de ações, conhecidas como operações de underwriting,
ou subscrição. Uma vez ocorrendo o lançamento inicial ao mercado, os
títulos passam a ser negociados no mercado secundário, proporcionando a
liquidez necessária. O mercado secundário compreende mercados de
balcão, organizados ou não, e bolsas de valores.

Operações como a colocação inicial (IPO)5 junto ao público podem


caracterizar operações de abertura de capital, exigindo registro na CVM.
Somente as sociedades anônimas de capital aberto6 podem ter seus títulos
negociados publicamente em bolsa ou mercado de balcão organizado. As
companhias de capital fechado se limitam a emissões privadas,7 não
abrangendo o público em geral na captação de recursos para seus
investimentos e dispensando a autorização da CVM.
Os IPOs podem ser feitos por meio da emissão de novas ações pela
companhia (caso de mercado primário), ou da venda de grande lote de
ações detido por um ou mais acionistas (caso de mercado secundário).

Pontos importantes – Finanças

■Os juros são a remuneração do dinheiro no tempo.

■J = Pi.

■Juros simples: valor futuro é calculado com base no valor inicial. F = P(1
+ in).

■Juros compostos: valor futuro é calculado com base no valor do período


anterior corrigido. F = (1 + i)n.

■Rentabilidade acumulada = {[(1 + R1) × (1 + R2) ×... × (1 + Rn)] – 1} ×


100, em que Rn = rentabilidade no período n.

■Taxa de juros proporcional: juros simples.

■Taxa de juros equivalente: juros compostos.

■(1 + ia) = (1 + is)2 = (1 + it)4 = (1 + im)12 = (1 + id)252.

■Juros reais = juros nominais descontada a inflação.

■(1 + iReal) × (1 + inflação) = (1 + iNominal).


■Benchmarks são carteiras teóricas de ativos que representam uma
alocação passiva de recursos a partir da qual um gestor pode tomar apostas
relativas e contra a qual pode ser avaliado. A escolha de benchmarks
adequados é tarefa importante, particularmente para a delegação da gestão.

■Principais indicadores do mercado de renda fixa:

○Taxa DI – também conhecida como CDI, é a taxa média dos depósitos


interfinanceiros de um dia, ponderada por volume financeiro e divulgada
pela B3;

○Taxa Selic – taxa média dos negócios fechados com títulos públicos, no
sistema Selic.

■Principais indicadores do mercado de ações:

○Ibovespa – carteira teórica formada pelas ações mais líquidas do Mercado


BOVESPA;

○IBrX 50 – carteira teórica formada pelas 50 maiores ações em tamanho de


mercado (capitalização de mercado).

■O prazo médio do título representa a média dos prazos de cada


vencimento de principal e de juros ponderados pelos respectivos valores
nominais na data para a qual se calcula o valor da cota do fundo, sem
considerar qualquer projeção de índice.

■O prazo médio da carteira representa a média, ponderada pelos


respectivos valores financeiros, dos prazos dos títulos da carteira.

■A marcação a mercado é uma metodologia de precificação de ativo que


reconhece seu preço pelo valor de mercado.
■Quando a taxa de juros sobe, o preço do título de renda fixa cai, e quando
a taxa de juros cai, o preço do título de renda fixa sobe.

■Ágio = venda por um preço maior. Ocorre o ágio quando a taxa de juros
cai. Deságio = venda por um preço menor. Ocorre o deságio quando a taxa
de juros sobe. Ao par = nem ágio, nem deságio.

■O mercado primário compreende o lançamento de novos títulos no


mercado, com aporte de recursos ao emissor do título.

■IPO = Initial Public Offering = Oferta Pública Inicial = primeira vez que a
companhia tem seus títulos negociados publicamente.

■Uma vez que os títulos são emitidos e colocados em circulação, eles


passam a ser negociados no mercado secundário. Nesse caso, quem recebe
o dinheiro é o detentor do título, e não mais o emissor.

■Os negócios fechados a cada minuto na bolsa ocorrem no mercado


secundário.

Exercícios de fixação

1.Um mesmo valor foi aplicado em dois produtos diferentes, mas que
rendiam a mesma taxa de juros (2% ao ano). A diferença é que o produto A
pagava taxa de juros simples e o produto B pagava taxa de juros
compostos. Qual rendeu mais em valores absolutos ao final do primeiro
ano?

a.O que rendeu juros simples rendeu mais que o submetido a juros
compostos.
b.O que rendeu juros simples rendeu menos que o submetido a juros
compostos.

c.Dado que o prazo era igual a um, o rendimento de ambos foi igual.

d.Independentemente de prazo, os juros compostos sempre têm


rendimentos maiores.

2.Um título pagou 6% após o primeiro período. Sabendo que a inflação foi
3,6%, pergunta-se: quanto o investidor ganhou em termos reais?

a.2,32%

b.2,4%

c.6%

d.9,5%

3.Qual a taxa anual equivalente a uma taxa mensal de 1% ao mês?

a.1%

b.12%

c.12,12%

d.12,68%
4.A determinação de um benchmark para um investimento tem várias
funções, exceto:

a.Facilitar a comparação da performance do investimento.

b.Indicar objetivo de retorno.

c.No caso de gestão passiva, medir o valor agregado do trabalho do gestor.

d.Indicar a tolerância a risco da carteira.

5.Um investimento em renda fixa é precificado a mercado. Sabendo que a


taxa de juros do mercado subiu, pode-se dizer que o preço desse título:

a.Subiu.

b.Caiu.

c.Manteve-se estável.

d.Caiu em um primeiro momento, mas logo voltou ao preço antigo.

6.Um investidor pagou 99,625 por determinado título. Após algum tempo,
ele vendeu esse mesmo título no mercado a 100,012. Pode-se afirmar que:

a.Ele vendeu o título com ágio porque a taxa de juros de mercado subiu.
b.Ele vendeu o título com ágio porque a taxa de juros de mercado caiu.

c.Ele vendeu o título com deságio porque a taxa de juros de mercado subiu.

d.Ele vendeu o título ao par porque a taxa de juros de mercado caiu.

7.Uma empresa está estudando fazer um IPO para capitalizar a empresa.


Essa oferta pública deve ser feita em que mercado?

a.Primário.

b.Secundário.

c.Terciário.

d.Aberto.

8.Como se calcula o prazo médio da carteira de determinado fundo?

a.Média aritmética dos prazos de recebimento dos fluxos.

b.Média geométrica dos prazos de recebimento dos fluxos.

c.Média dos prazos de recebimento dos fluxos, ponderada pelo valor


presente de cada fluxo.

d.Média dos prazos de recebimento dos fluxos, ponderada pelo volume de


recebimento de cada fluxo.
Gabarito

1. c

2. a

3. d

4. c

5. b

6. b

7. a

8. d

___________

1O Banco Central do Brasil estabelece que o ano tem 252 dias úteis.

2Embora este item tenha sido retirado do programa válido a partir de


01/01/2019, o conceito de taxa de juros real foi mantido por ser de
fundamental importância para quem trabalha no mercado financeiro.
3NTN-B é um título de emissão do Tesouro Nacional que paga juros
semestrais e o principal no vencimento. Você será apresentado a ele no
Capítulo 4 – Renda Fixa.

4Alocação passiva = acompanha o índice de referência. Alocação ativa =


tenta superar o índice de referência.

5IPO = Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial.

6Uma empresa de capital aberto tem suas ações negociadas publicamente.

7Na emissão privada, já se conhecem os compradores, que são,


normalmente, os controladores da companhia.
CAPÍTULO 4
Renda Fixa
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Descrever os principais investimentos em renda fixa disponíveis para


negociação nas agências bancárias.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

4.1Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio


(LCA)
4.2Certificado de Depósito Bancário (CDB)

4.3Debêntures

4.4Títulos públicos

4.5Caderneta de poupança

4.6Operações compromissadas

4.7Tabelas de imposto de renda e IOF

Pontos importantes – Renda fixa

Proporção no exame

Renda fixa e ações somam de 15 a 25%.

Tempo estimado de estudo

Três horas.

4.1Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio


(LCA)
A Letra de Crédito Imobiliário é um título de crédito nominativo, de livre
negociação, lastreada por créditos imobiliários garantidos por hipoteca ou
por alienação fiduciária, conferindo aos seus tomadores direito de crédito
pelo valor nominal, juros e, se for o caso, atualização monetária nela
estipulada.

A LCI é emitida pelo credor do crédito imobiliário e deve representar a


totalidade do crédito. É lastreada em créditos imobiliários de vários
empreendimentos.

Vantagens:

■Capta recursos junto ao público, contribuindo para ativação e crescimento


do setor imobiliário.

■Ao emitir LCIs, os agentes financeiros não precisam aguardar o


vencimento das prestações dos compradores finais para recuperar o capital
de um projeto. Dessa forma, recuperam o capital investido, ficando livres
para reinvesti-lo em novos empreendimentos.

■Isenção de IR para pessoas físicas, baixo risco, visto que o lastro é por
hipoteca.

Podem ser registradores/emissores: instituição detentora do crédito


imobiliário como banco comercial (inclusive o banco cooperativo), banco
múltiplo com carteira de crédito imobiliário ou carteira comercial, a Caixa
Econômica Federal, as sociedades de crédito imobiliário, as associações de
poupança e empréstimo, as companhias hipotecárias e demais instituições
que venham a ser expressamente autorizadas pelo Banco Central do Brasil.

As LCIs são garantidas pelo FGC até o limite regulamentar.

Riscos inerentes ao produto


■Risco de crédito – o risco de crédito de uma LCI é da instituição emissora
do título, uma vez que conta com a garantia do FGC.

■Risco de mercado – ocorre devido às oscilações das taxas de juros. Esse


risco será tanto maior quanto maior for o descolamento da taxa de juros da
remuneração da LCI.

■Risco de liquidez – não é possível fazer resgate do título antes do


vencimento, embora algumas instituições ofereçam a recompra, o que vem
sendo contestado por parte do mercado e estudado pelo Ministério da
Fazenda para alteração.

Nota:

LCA: As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) são semelhantes às


LCIs, com variação apenas no lastro, já que no caso das LCAs os créditos
são emitidos contra negócios realizados no segmento do agronegócio.

Tributação

Não incide imposto de renda sobre os rendimentos da LCI para pessoa


física.

Nota:

Fundo Garantidor de Crédito (FGC): O FGC é uma entidade privada, sem


fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção aos correntistas,
poupadores e investidores que permite recuperar os depósitos ou créditos
mantidos em instituição financeira, em caso de falência ou de sua
liquidação. São as instituições financeiras que contribuem com uma
porcentagem dos depósitos para a manutenção do FGC.
São garantidos pelo FGC:

■depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio;

■depósitos em caderneta de poupança;

■depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado (CDB/RDB);

■letras de câmbio;

■letras hipotecárias;

■LCI e LCA;

■operações compromissadas que tenham como objeto títulos emitidos após


8 de março de 2012 por empresa ligada;

■depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques destinadas


a registro e controle do fluxo de recursos referentes à prestação de serviços
de pagamento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e
similares.

O valor máximo garantido por cada cliente contra a mesma instituição


associada, ou contra todas as instituições associadas do mesmo
conglomerado financeiro, será garantido até o valor de R$ 250.000,00,
limitado ao saldo existente. No caso de conta conjunta, o valor máximo que
cada titular receberá será o limite dividido pelo número de titulares. Por
exemplo, suponha uma conta conjunta (2 titulares) que tenha um saldo de
R$ 320.000,00. Neste caso, cada titular receberá do FGC R$ 125.000,00
(R$ 250.000,00 ÷ 2). Se esse mesmo cliente (A) tiver três contas conjuntas,
cada uma com titularidades diferentes (A e B; A e C; A, D e E) e com
saldos diferentes, veja quanto cada um irá receber do FGC a seguir.
Tabela 4.1

Conta

Titulares

Saldo conta R$

Garantia por conta até R$ 250.000,00/Titulares

AB

320.000,00

125,000,00

AC

2
180.000,00

90.000,00

ADE

320.000,00

83.333,33

Tabela 4.2

Titular

Total (Y)a + b + c

Y > R$ 250.000,00?

Valor a receber R$

A
298.333,33

Sim

250.000,00

125.000,00

Não

125.000,00

90.000,00

Não

90.000,00

83.333,33
Não

83.333,00

83.333,33

Não

83.333,00

A partir de 21/12/2017 foi estabelecido o teto de R$ 1 milhão, a cada


período de 4 anos, para garantias pagas para cada CPF ou CNPJ. Mas
atenção: o teto continua sendo de R$ 250.000,00 por instituição.

4.2Certificado de Depósito Bancário (CDB)


O Certificado de Depósito Bancário, ou CDB, como é mais conhecido, é
um certificado emitido por um banco com promessa de pagamento da
importância aplicada mais uma remuneração (taxa de juros) na data de seu
vencimento.

Ele é emitido por bancos comerciais, múltiplos ou de investimento e conta


com a cobertura do FGC. Os bancos utilizam o CDB como um instrumento
de captação de recursos para realizar empréstimos a seus clientes.
Oficialmente ele é conhecido como depósito a prazo, pois o título tem um
vencimento com prazo determinado, quando os recursos têm de,
obrigatoriamente, voltar para a conta do cliente, acrescidos dos juros e
líquidos do imposto de renda.

Tipos de CDB disponíveis


Os CDBs podem ser classificados em dois tipos:

■CDB prefixado: nessa modalidade, você sabe de quanto será a valorização


do seu investimento, pois a taxa nominal bruta dos juros, que é a taxa de
remuneração, é negociada no momento em que se aplica. Não há prazo
mínimo obrigatório para aplicação.

■CDB pós-fixado: no CDB pós-fixado, a remuneração será o resultado da


variação de um índice de correção, que pode ser a TR ou o IGP-M, mais a
taxa de juros fixa. Você só saberá a valorização do seu rendimento à
medida que o índice escolhido for se valorizando. O CDB pós-fixado que
acompanha o CDI não tem prazo mínimo de aplicação. Já os que seguem
outros índices têm prazos diferentes. CDBs pós-fixados, que são corrigidos
pela Taxa Referencial (TR) ou Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP),1 têm
prazo mínimo de 30 dias. Os que são corrigidos pela Taxa Básica
Financeira (TBF) têm prazo mínimo de dois meses, e os que são corrigidos
por índices de inflação têm prazo mínimo de um ano.

Os CDBs são escriturais, nominativos, negociáveis e transferíveis.


Traduzindo, e na respectiva ordem, não há emissão de um título físico, o
dono é conhecido, pode ser negociado no mercado secundário
(normalmente negocia-se o CDB com o próprio emissor, embora ele possa
ser negociado com terceiros) e sua titularidade pode ser transferida para
terceiros, permitindo, assim, sua negociação.

A recompra de um CDB pelo banco emissor antes de seu vencimento é


facultativa para o banco, não sendo obrigatória. O CDB pode ser negociado
livremente no mercado, quer seja com pessoas físicas ou jurídicas, sejam
estas financeiras ou não. Não pode haver impedimento por parte do banco à
negociação de um CDB de sua emissão com terceiros. Se o resgate
antecipado for feito com o banco emissor, o certificado emitido será
cancelado.

Prazos mínimos
Prefixados – não há.

Pós-fixados atrelados ao CDI – não há.

TR – prazo mínimo de 30 dias.

Índice de preços (IGP-M) – prazo mínimo de um ano.

Riscos inerentes ao produto

■Risco de crédito – manifesta-se no caso de a instituição emissora do CDB


quebrar. Nesse caso, o produto é coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito
(FGC), conforme já estudado em seção anterior deste capítulo.

■Risco de mercado – ocorre devido às oscilações das taxas de juros,


conforme estudado no Capítulo 5, seção 5.7.2. Suponha que o cliente tenha
comprado um CDB prefixado, por exemplo, a 10% a.a. Se as taxas de juros
subirem e o investidor resgatar antes do vencimento, sua rentabilidade pode
ser menor que a contratada.

■Risco de liquidez – o CDB é um título negociável. Entretanto, pode


ocorrer de o investidor desejar resgatar o CDB e o banco não poder dar
liquidez, por conta de eventos inesperados.

Tributação

Incide imposto de renda na fonte sobre o ganho, já descontado o IOF,


quando aplicável. Nos resgates inferiores a 30 dias incidirá IOF sobre o
rendimento, de forma regressiva, com alíquotas que variam de 96% (um
dia) até 3% (29 dias) sobre a rentabilidade do título. A partir de 30 dias não
há IOF.

Conheça as tabelas de imposto de renda e IOF na seção 4.7 deste capítulo.

4.3Debêntures
Aspectos gerais

Debêntures são títulos de dívida emitidos por sociedades por ações que
conferem ao debenturista (detentor do título) um direito de crédito contra a
emissora. É um título de crédito representativo de empréstimo que uma
empresa faz junto a terceiros e que assegura a seus detentores direitos
contra sua emissora, nas condições constantes da escritura de emissão. São
valores mobiliários nominativos, negociáveis, emitidos por empresas não
financeiras que buscam obter recursos de médio e longo prazos.

As debêntures podem ser emitidas por sociedades por ações, de capital


aberto ou fechado, que não sejam sociedades de crédito imobiliário e
instituições financeiras que recebem depósitos do público. Estas somente
podem emitir cédulas de debêntures, que são títulos que possuem como
lastro as debêntures emitidas por outras empresas. Companhias hipotecárias
e sociedades de arredamento mercantil (leasing) podem emitir debêntures.

Somente as sociedades por ações com registro de companhia aberta junto à


CVM podem efetuar emissão de debêntures para colocação junto ao
público em geral. Considera-se companhia aberta aquela que possui
registro junto à CVM para negociação dos valores mobiliários de sua
emissão nas bolsas de valores ou no mercado de balcão organizado.

Para quem quer saber mais: há de se ter cuidado com o que algumas
pessoas do mercado chamam de debênture bancária. Como visto
anteriormente, os bancos não podem emitir debênture. Logo, esse título não
existe. O título mais parecido com a debênture de emissão dos bancos é a
letra financeira, cujo prazo mínimo de emissão estabelecido pelo CMN é de
dois anos. As letras financeiras poderão ser emitidas por bancos múltiplos,
bancos comerciais, bancos de investimento, sociedades de crédito,
financiamento e investimento, caixas econômicas, companhias hipotecárias
e sociedades de crédito imobiliário, vedado o resgate, total ou parcial, antes
do vencimento pactuado, e com valor nominal mínimo de R$ 300 mil.

Remuneração

As debêntures podem ter por remuneração:

■taxa de juros prefixada ou CDI;

■TR ou TJLP: prazo mínimo de um mês para vencimento ou repactuação;

■TBF: apenas empresas de leasing e companhias hipotecárias têm prazo


mínimo de dois meses para vencimento ou repactuação;

■índices de preços + taxa de juros fixa: atendido o prazo mínimo de um


ano para vencimento ou repactuação;

■taxa cambial + taxa fixa: não há prazo mínimo;

■participação nos lucros.

Formas de debêntures

■Nominativas – são debêntures cujos registro e controle das transferências


são realizados pela companhia emissora no Livro de Registro de
Debêntures.
■Escriturais – são debêntures cujas custódia e escrituração são feitas por
instituição financeira autorizada pela CVM para prestar tais serviços.

Tipos de debêntures

■Simples (não conversíveis) – são as que não podem ser convertidas em


ações, ou seja, são resgatáveis exclusivamente em moeda nacional.

■Conversíveis em ações – em alguns casos as debêntures podem conter


uma cláusula de conversão em ações de emissão da empresa em data
específica, nas condições estabelecidas na escritura. As debêntures
conversíveis – e também as não conversíveis – podem contemplar cláusulas
de permutabilidade por outros ativos ou por ações de emissão de terceiros
que não a emissora. As condições de conversibilidade, bem como as de
permutabilidade, devem estar descritas na escritura de emissão.

Espécies de debêntures

As espécies de garantia poderão ser constituídas cumulativamente. Em


função do tipo de garantia oferecida ou da ausência de garantia, as
debêntures são assim classificadas:

■Com garantia real – são garantidas por bens (imóveis ou móveis) dados
em hipoteca, penhor ou anticrese, pela companhia emissora, por empresas
de seu conglomerado ou por terceiros. O volume de emissão de debêntures
com garantia real é limitado pela regulamentação a até 80% do valor dos
bens gravados da empresa, quando o valor da emissão ultrapassar o do
capital social.

■Com garantia flutuante – são debêntures com privilégio geral sobre o


ativo da empresa, o que não impede, entretanto, a negociação dos bens que
compõem esse ativo. As debêntures com garantia flutuante possuem
preferência de pagamento sobre debêntures de emissões anteriores e sobre
outros créditos especiais ou com garantias reais, firmados anteriormente à
emissão. O volume de emissão das debêntures com garantia flutuante é
limitado a até 70% do valor contábil do ativo da emissora, líquido das
dívidas garantidas por direitos reais, quando o valor da emissão ultrapassar
o do capital social.
■Quirografárias (sem preferência) – debêntures que não possuem as
vantagens dos dois tipos anteriores. Assim, os debenturistas, em caso de
falência, equiparam-se aos demais credores quirografários (não
privilegiados) da empresa. As emissões de debêntures quirografárias não
podem ter valor maior do que o do capital social da companhia.

■Subordinadas – são debêntures sem garantia, que preferem apenas aos


acionistas no ativo remanescente, em caso de liquidação da companhia. No
caso das debêntures subordinadas, não existem limites máximos para a
emissão.

Vencimento

O mais comum é que as debêntures tenham prazo determinado. Entretanto,


também podem ser emitidas por tempo indeterminado, sem prazo de
vencimento (debêntures perpétuas). Nesse caso, o resgate fica
condicionado apenas a eventos especiais expressos na escritura da emissão
ou nos casos de inadimplência do pagamento de juros e dissolução da
companhia. A empresa também pode prever casos de resgate parcial ou
total das debêntures, situações em que podem ser pagos prêmios, conforme
citado anteriormente.

Agente fiduciário

O agente fiduciário é a figura legal e obrigatória para representar a


comunhão dos interesses dos debenturistas, protegendo seus direitos
perante a companhia emissora.
Cabe ao agente fiduciário o acompanhamento das atividades da companhia,
de forma a verificar o cumprimento das disposições da escritura de emissão
e de outras obrigações assumidas.

Nos casos de inadimplência da companhia emissora, o agente fiduciário


pode (observadas as condições constantes na escritura de emissão) declarar
antecipadamente vencidas as debêntures, cobrando o valor do principal
mais os rendimentos. Caso a companhia permaneça inadimplente, o agente
fiduciário poderá executar garantias reais, requerer a falência da companhia
emissora e representar os debenturistas nos processos de falência,
concordata e intervenção ou liquidação extrajudicial.

Debênture incentivada

A debênture incentivada foi criada em 2011 pela Lei no 12.431. Trata-se de


título privado de longo prazo de emissão de empresas não financeiras que
buscam captar recursos para investimentos em projetos de infraestrutura
considerados prioritários pelo governo. Estamos falando de projetos de
implantação, manutenção, recuperação, adequação ou modernização dos
setores de logística e transporte, mobilidade urbana, energia,
telecomunicações, radiodifusão, saneamento básico e irrigação.

Para que seja considerada uma debênture de infraestrutura, como também é


conhecida a debênture incentivada, é necessária a constituição de uma SPE
(Sociedade de Propósito Específico), que será responsável pela parte
administrativa de controles e gerida para o exclusivo fim do projeto.

Principais características:

■prazo médio superior a quatro anos;

■negociação em mercado regulamentado;


■obrigatória a divulgação de rating;

■remuneração: IPCA ou TR mais um cupom de juros;

■prazo de pagamento periódico de rendimentos: mínimo a cada 180 dias;

■vedada a recompra do papel pelo emissor nos dois primeiros anos após a
emissão;

■vedada a liquidação antecipada;

■inexistência de compromisso de revenda assumido pelo comprador;

■procedimento simplificado que demonstre o objetivo de alocar os recursos


captados em projetos de investimento, inclusive os voltados à PD&I;

■rendimentos isentos de imposto de renda.

Riscos inerentes ao produto

■Risco de crédito – por se tratar de um título de emissão de uma sociedade


anônima, as debêntures estão sujeitas ao risco de o emissor não pagar o que
deve no prazo estipulado, assim como os demais instrumentos de renda fixa
até agora estudados.

■Risco de mercado – como os demais produtos de renda fixa, o investidor


corre o risco do mercado, que pode precificar o título acima ou abaixo do
preço de compra, por conta da variação nas taxas de juros de mercado.
■Risco de liquidez – nem todas as debêntures são facilmente negociáveis
no mercado secundário. Muito pelo contrário, as debêntures são títulos
muitas vezes de difícil negociação. Há, portanto, o risco de o investidor
resolver vender o título e não conseguir o preço imaginado, no prazo
estipulado.

Tributação

Devido às suas características, as debêntures costumam pagar juros


periódicos. Sobre esses juros, há incidência de imposto de renda, conforme
tabela aplicável à família de renda fixa e disponibilizada na seção 4.7. Ou
seja, para cada prazo de pagamento de juros poderá ser aplicada uma
alíquota diferente.

O responsável tributário nesse caso é a instituição financeira responsável


pelo pagamento dos juros.

O IOF é devido quando a venda do título é feita antes de 30 dias.

Importante notar que as debêntures incentivadas não estão sujeitas à


tributação.

4.4Títulos públicos
4.4.1Introdução
A responsabilidade pela administração da dívida pública federal é de
competência do Tesouro Nacional. O Banco Central é responsável pela
execução da política monetária e utiliza sua estrutura para operacionalizar a
emissão de títulos pelo Tesouro Nacional.

O Tesouro Nacional emite os títulos públicos de duas formas: emissão


direta ou oferta pública. As emissões diretas destinam-se, principalmente, à
securitização de dívidas da União, à realização de operações financeiras
estruturadas e refinanciamento das dívidas de estados, municípios e
estatais. Já as ofertas públicas são as emissões de títulos por meio de leilão
eletrônico competitivo.

Os leilões podem ser na modalidade de preço único (todos os compradores


pagam o mesmo preço) ou na modalidade de preços múltiplos (cada
comprador paga o preço ofertado em sua proposta). Podem participar dos
leilões as instituições regularmente habilitadas a operar no sistema Selic.

Conheça na próxima tabela algumas características dos principais títulos


públicos de emissão do Tesouro Nacional e que constam do programa do
exame CPA-10.

Quadro 4.1Características dos principais títulos públicos de emissão do


Tesouro Nacional

TIPO (nome no TD*)

PRAZO NA EMISSÃO

VALOR NOMINAL FORMA

ATUALIZAÇÃO DO VALOR NOMINAL

TAXA DE JUROS OU RENDIMENTO

RESGATE DA PARCELA DO PRINCIPAL

LTN (Tesouro prefixado)

Mínimo de 28 dias
Múltiplo de R$ 1.000,00. Exclusivamente escritural.

N.A. Título prefixado, negociado com deságio.

Desconto = valor nominal de resgate (valor de face) menos o preço de


colocação. Título negociado com deságio.

Pelo valor nominal do título.

LFT (Tesouro Selic)

Mínimo de 28 dias

Múltiplo de R$ 1.000,00. Nominativa e negociável.

N.A.

Taxa média Selic.

Em parcela única, na data de seu vencimento.

NTN-B (Tesouro IPCA com juros semestrais)

Mínimo de 12 meses

Múltiplo de R$ 1.000,00. Nominativa e negociável.


IPCA

Rende uma taxa (cupom) de juros, calculada sobre o valor nominal


atualizado, paga semestral e principalmente no final, junto com o último
pagamento de juros.

Em parcela única, na data de seu vencimento.

NTN-B Principal (Tesouro IPCA)

Mínimo de 12 meses

Múltiplo de R$ 1.000,00. Nominativa e negociável.

IPCA

Rende uma taxa (cupom) de juros, calculada sobre o valor nominal


atualizado, paga no vencimento. Não tem pagamentos intermediários.

Em parcela única, na data de seu vencimento.

NTN-F (Tesouro prefixado com juros semestrais)

Mínimo de cinco anos

Múltiplo de R$ 1.000,00. Nominativa e inegociável.

N.A. Título prefixado.


Rende juros fixos, calculados sobre o valor nominal, pago semestral e
principalmente no final, junto com o último pagamento de juros.

Em parcela única, na data de seu vencimento.

*TD = Tesouro Direto.

Nota: Os títulos negociados no Tesouro Direto têm nomenclatura própria,


conforme apresentado entre parênteses na primeira coluna da tabela
anterior. O objetivo do governo é facilitar o entendimento do investidor.

Figura 4.1 Diagrama dos títulos públicos negociados do Tesouro Direto.

4.4.2Tesouro Direto
O Tesouro Direto (TD) é um programa de venda de títulos a pessoas físicas
desenvolvido pelo Tesouro Nacional, em parceria com a B3.

Com pouco dinheiro é possível iniciar uma aplicação, sem necessidade de


sair de casa, pois as transações são feitas pela internet. As compras no
Tesouro Direto deverão ser múltiplas de 0,01 título, respeitado o mínimo de
R$ 30,00.

No Tesouro Direto é possível gerenciar seus investimentos, que podem ser


de curto, médio ou longo prazo. É uma opção para quem quer investir com
baixo custo, alta rentabilidade e liquidez quase imediata. Os títulos
adquiridos no Tesouro Direto podem ser resgatados antes do vencimento
pelo seu valor de mercado, com liquidação financeira (pagamento na conta)
no próximo dia útil.
Caso o investidor não queira gerenciar seus investimentos, ele pode
autorizar uma das instituições financeiras habilitadas a operar no Tesouro
Direto (agentes de custódia) para efetuar compras e vendas dos seus títulos
públicos.

O limite máximo de compra por investidor é de R$ 1 milhão por mês. Esse


limite não deve ser considerado para cada título separadamente, mas sim
para a carteira de títulos adquirida pelo investidor durante o mês.

O site do Tesouro Direto (www.tesourodireto.com.br) fica disponível para


consulta 24 horas por dia, sete dias por semana. Os investidores podem
realizar compras e vendas no Tesouro Direto todos os dias úteis das 9h30
às 18h, a preço de mercado. O sistema fica em manutenção das 5h às 9h30.
Nos fins de semana, feriados e entre 18h e 5h do dia útil seguinte, é
possível colocar ordens no sistema, mas elas só serão realizadas no
próximo dia útil pelo preço de abertura do mercado.

As compras de títulos realizadas no Tesouro Direto estão sujeitas ao


pagamento de taxas de serviços. São duas as taxas cobradas no Tesouro
Direto.

1.Taxa de custódia da B3 – 0,25% ao ano sobre o valor dos títulos,


referente aos serviços de guarda dos títulos e às informações e
movimentações dos saldos, que é cobrada semestralmente, no primeiro dia
útil de janeiro ou de julho, ou na ocorrência de um evento de custódia
(pagamento de juros, venda ou vencimento do título), o que ocorrer
primeiro. Essa taxa é cobrada proporcionalmente ao período em que o
investidor mantiver o título, e é calculada até o saldo de R$ 1.500.000,00
por conta de custódia. No caso em que, no semestre, a soma do valor da
taxa de custódia da B3 e da taxa do agente de custódia for inferior a R$
10,00, o valor das taxas será acumulado para a cobrança no semestre
seguinte, no primeiro dia útil de janeiro ou de julho, ou na ocorrência de
um evento de custódia (pagamento de juros, venda ou vencimento do
título), o que ocorrer primeiro.
2.Taxa do agente de custódia – varia de 0% a 0,4% ao ano sobre o valor
dos títulos.

Tributação

O imposto de renda só é cobrado no momento da venda ou vencimento do


título. Quanto aos títulos que pagam cupom de juros, também é descontado
imposto de renda no pagamento do cupom, assim como nas debêntures
estudadas anteriormente. Aplica-se a mesma tributação dos CDBs e
debêntures aos títulos públicos, cuja tabela encontra-se na seção 4.7.

Riscos inerentes ao produto

■Risco de mercado – assim como os demais produtos de renda fixa, os


títulos do Tesouro Nacional estão sujeitos aos riscos de mercado, pois seus
preços oscilam em função da variação da taxa de juros.

■Risco de liquidez – embora em bem menor proporção que os demais


títulos, o risco de liquidez também está presente no investimento em títulos
públicos, pois a procura por esses títulos é muito grande, dada a
necessidade do governo em se financiar e a regulamentação das instituições
financeiras e dos fundos de investimento, que exigem que os títulos
públicos façam parte de seu patrimônio. No caso do Tesouro Direto,
especificamente, a liquidez é garantida pelo Tesouro Nacional a preços de
mercado.

■Risco de crédito – no caso de títulos públicos, o risco de crédito se


apresenta na forma de risco soberano, por se tratar de título de emissão
diretamente do governo. Logo, são considerados os de menor risco, devido
à baixa probabilidade de o governo deixar de existir, como pode acontecer
no caso de uma empresa ou instituição financeira. Dadas as condições
macroeconômicas e políticas do nosso país em abril de 2020 (apesar da
crise da Covid-19), esse risco pode ser considerado muito baixo no caso
dos títulos públicos de emissão da União.

Dica:

Para saber mais sobre Tesouro Direto, prós e contras de cada título, sugiro
o próprio site do Tesouro Direto: www.tesourodireto.com.br.

4.5Caderneta de poupança
As cadernetas de poupança compõem o Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE). É uma aplicação dirigida para pequenos investidores,
sem incidência de imposto de renda e exclusiva das sociedades de crédito e
investimento, bancos múltiplos com carteira imobiliária, associações de
poupança e empréstimo e caixas econômicas.

A abertura de uma poupança pode ser feita em qualquer dia do mês, sendo
que as contas abertas nos dias 29, 30 e 31 começam a contar rendimento no
primeiro dia do mês seguinte.2

O Banco Central do Brasil define o destino dos recursos captados em


poupança pela instituição financeira, sendo que 56% destes devem ser
aplicados em operações no Sistema Financeiro Habitacional.

Os bancos, de modo geral, costumam permitir que o poupador programe


sua aplicação, de forma a automatizar o processo, na data que o cliente
escolher, debitando da conta-corrente todo mês, no mesmo dia, o valor
especificado por ele.
Regras de remuneração da caderneta de poupança

De acordo com a Medida Provisória no 567, de 03/05/2012, os depósitos


efetuados até esta data continuam sendo remunerados por TR + 0,5% a.m.
Já para os depósitos feitos a partir de 4 de maio e contas abertas a partir
dessa data, sempre que a Taxa Selic ficar em 8,5% ao ano ou abaixo disso,
o rendimento da poupança passa a ser de 70% da Selic mais a TR.

Quando o cliente fizer um resgate da poupança e tiver parte dos depósitos


sendo remunerados pela regra antiga e parte pela regra nova, a regra é que
seja retirado primeiro o saldo dos depósitos novos, efetuados a partir de 4
de maio e, depois, o saldo dos depósitos antigos, efetuados até 3 de maio.

Para um melhor controle dos clientes, os bancos apresentam os saldos da


poupança em dois blocos distintos: um para os depósitos feitos até
03/05/2012 e outro para aqueles feitos a partir de 04/05/2012.

Tributação

Os rendimentos da caderneta de poupança são isentos de imposto de renda


para as pessoas físicas.

4.6Operações compromissadas
Operações compromissadas são operações de venda de títulos com
compromisso de recompra assumido pelo vendedor, conjugadamente com
compromisso de revenda assumido pelo comprador. Trata-se, portanto, de
um compromisso mútuo entre duas partes.

Os bancos oferecem esse produto a seus clientes tendo um título como


lastro da operação. Este título pode ser um título público ou um título
privado. É comum os bancos oferecerem como lastro título de emissão de
uma empresa pertencente ao conglomerado da instituição financeira.

Logo, em uma operação compromissada, o vendedor se compromete a


recomprar o título que está servindo de lastro para a operação, a uma taxa
pactuada. Esta taxa contratada nada tem a ver com a taxa do papel que está
sendo utilizado como lastro da operação. Em outras palavras, não importa a
taxa do papel para o detentor do título, o que vale para remuneração é a
taxa pactuada entre as partes, o compromisso assumido mutuamente.

Riscos inerentes ao produto

■Risco de crédito – haverá o risco de crédito quando o lastro da operação


for um título privado. Entretanto, o FGC oferece garantia até o valor
regulamentar, para títulos emitidos por empresas ligadas, após 08/03/2012.

■Risco de mercado – sempre haverá risco de oscilações nas taxas de juros


durante o prazo do título.

■Risco de liquidez – as operações compromissadas são oferecidas, via de


regra, com liquidez diária.

4.7Tabelas de imposto de renda e IOF


Tabela 4.3 Tabela regressiva de imposto de renda sobre os investimentos
em renda fixa

Prazo de Aplicação

Alíquota de IR

Até 180 dias

22,5%

De 181 dias até 360 dias


20,0%

De 361 dias até 720 dias

17,5%

Acima de 721 dias

15,0%

Tabela 4.4 Tabela regressiva de IOF

Dias

IOF

Dias

IOF

Dias

IOF

1o

96%
2o

93%

3o

90%

4o

86%

5o

83%

6o

80%

7o

76%

8o
73%

9o

70%

10o

66%

11o

63%

12o

60%

13o

56%

14o

53%

15o
50%

16o

46%

17o

43%

18o

40%

19o

36%

20o

33%

21o

30%
22o

26%

23o

23%

24o

20%

25o

16%

26o

13%

27o

10%

28o

6%
29o

3%

30o

0%

Pontos importantes – Renda fixa

■A LCI é um título que tem por lastro operações de crédito imobiliário, e o


LCA tem por lastro operações do agronegócio. Ambos são de emissão de
instituição financeira e têm a cobertura do FGC. Não há incidência de
imposto de renda sobre os ganhos de pessoas físicas sobre LCI e LCA.

■O Fundo Garantidor de Crédito cobre, para cada CPF, valores de até R$


250.000,00 depositados em cada conglomerado financeiro.

■CDB é um certificado emitido por um banco. Paga juros na liquidação da


operação.

■Sobre o ganho nominal das aplicações em CDB incide o imposto de


renda, cobrado de acordo com a tabela regressiva que varia de 22,5% até
15%.

■Quando o CDB é resgatado antes de 30 dias, está sujeito ao IOF.

■Debêntures são títulos nominativos e escriturais de dívida de longo prazo


emitidos por sociedades anônimas não financeiras.
■Em geral, as debêntures têm uma data estabelecida para o vencimento,
entretanto a legislação em vigor permite que o título seja emitido sem prazo
determinado.

■As debêntures podem ser emitidas com ou sem garantias. Neste caso (sem
garantia) são chamadas de quirografárias.

■As debêntures podem ser simples ou conversíveis em ações.

■As debêntures incentivadas buscam captar recursos para investimentos


em projetos de infraestrutura considerados prioritários pelo governo. Seus
rendimentos são isentos de imposto de renda.

■Aplica-se às debêntures a mesma norma de imposto de renda dos CDBs,


inclusive quando do seu pagamento de juros periódico.

■A administração da dívida pública cabe ao Tesouro Nacional.

■Principais títulos públicos federais:

○LTN – prefixado, vale R$ 1.000,00 no vencimento e é vendido com


deságio.

○LFT – vale R$ 1.000,00 na emissão e é remunerado pela Taxa Selic.

○NTN – paga juros semestrais e pode ser:

○Prefixada: NTN-F.
○Pós-fixada em IPCA + juros: NTN-B.

○A NTN-B Principal não paga juros semestrais.

■No Tesouro Direto, o investidor compra diretamente pela internet os


títulos públicos federais, que ficam custodiados na B3.

■Somente pessoas físicas podem aplicar no Tesouro Direto, limitada a


compra a R$ 1.000.000,00 por mês.

■Nomes dos títulos públicos no Tesouro Direto:

○LTN – Tesouro Prefixado;

○LFT – Tesouro Selic;

○NTN-B Principal – Tesouro IPCA+;

○NTN-B – Tesouro IPCA com juros semestrais;

○NTN-F – Tesouro prefixado com juros semestrais.

■A caderneta de poupança é uma aplicação sem incidência de imposto de


renda no caso de pessoas físicas e jurídicas sem fins lucrativos, e exclusiva
das sociedades de crédito e investimento, bancos múltiplos com carteira
imobiliária, associações de poupança e empréstimo e caixas econômicas. O
rendimento da poupança é igual a TR + 0,5% a.m. e seu rendimento é data
a data.
■A operação compromissada é uma operação lastreada por um título, sendo
que a instituição vendedora do título assume o compromisso de recompra
do título por uma taxa, assumindo também o comprador esse compromisso
de revenda pela taxa pactuada.

■Tabela de IR para títulos de renda fixa:

Até 180 dias

De 181 a 360 dias

De 361 a 720 dias

Acima de 720 dias

22,5%

20,0%

17,5%

15,0%

O imposto de renda é cobrado já descontado o IOF, cuja tabela regressiva


zera no trigésimo dia de aplicação.
Exercícios de fixação

1.Um investidor aplicou R$ 10.000,00 em um CDB. Decorridos 252 dias,


pediu resgate. Sabendo que o valor bruto resgatado foi R$ 11.000,00,
pergunta-se: qual valor líquido será creditado em sua conta, já descontado o
imposto de renda?

a.R$ 10.775,00

b.R$ 10.800,00

c.R$ 10.825,00

d.R$ 10.850,00

2.Entre os produtos abaixo, qual deles não conta com a garantia do Fundo
Garantidor de Crédito?

a.CDB.

b.LCI.

c.Poupança.

d.Tesouro Direto.

3.O CDB é um título de emissão de:


a.Bancos.

b.Empresas.

c.Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários.

d.Fundos de investimento.

4.As debêntures se diferenciam das ações por serem:

a.Títulos de emissão de bancos.

b.Títulos de crédito.

c.Títulos de propriedade.

d.Garantidas pelo FGC.

5.Qual o papel do agente fiduciário em uma emissão de debêntures?

a.Representar os interesses dos debenturistas perante a empresa emissora.

b.Garantir a liquidação antecipada do papel.

c.Dar liquidez ao papel no mercado secundário.

d.Garantir que a emissão seja escriturada no Registro Geral de Imóveis.


6.Um investidor compra um CDB com prazo de 185 dias, mas resolve
pedir o seu resgate antecipado, depois de decorridos 25 dias. O valor de
resgate é maior que o valor de aplicação. Este investidor pagará:

a.IOF e IR.

b.Pagará apenas IOF.

c.20% de IR, mas não pagará IOF.

d.Pagará apenas IR de 22,50%.

7.Um investidor deseja montar uma carteira de títulos públicos cujas


remunerações sejam: prefixada, atrelada à taxa Selic e atrelada ao IPCA.
Quais papéis, respectivamente, ele deverá comprar?

a.LFT, LTN e NTN-B.

b.LFT, NTN-B Principal e NTN-F.

c.NTN-F, LFT e NTN-B.

d.NTN-B, LFT e NTN-F.

8.Um investidor está em dúvidas quanto à diferença entre aplicar em um


LCI e em uma LTN. Você, então, explica que:

a.A liquidez da LCI é maior que a da LTN.


b.A LCI é de emissão da União, e a LTN, do banco.

c.A LCI não tem risco de crédito, mas a LTN tem.

d.A LCI é lastreada em créditos imobiliários, e a LTN é emitida pelo


Tesouro Nacional.

Gabarito

1. b

2. d

3. a

4. b

5. a

6. a

7. c

8. d

___________
1A TJLP é calculada pelo BACEN e é utilizada como indexador nos
empréstimos do BNDES.

2O aniversário dos depósitos em poupança nos dias 29, 30 e 31 caem no


dia 1o, por ser um investimento data a data, e dado que há meses que não
têm 31 dias, e fevereiro somente 28 dias, sendo 29 dias em ano bissexto.
Certos, portanto, somente 28 dias em um mês.
CAPÍTULO 5
Ações
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Descrever o funcionamento do mercado acionário.

■Orientar um cliente sobre investimento em ações, seus riscos e


oportunidades.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

5.1Conceitos iniciais

5.2Tipos de ações

5.3Canais de distribuição

5.4Abertura de capital
5.5Direitos e proventos dos acionistas

5.6Despesas incorridas na negociação

5.7Índices do mercado acionário

5.8Riscos inerentes ao produto

5.9Tributação

Pontos importantes – Ações

Proporção no exame

Renda Fixa e Ações somam de 15 a 25%.

Tempo estimado de estudo

Três horas.

5.1Conceitos iniciais
Como estudado no Capítulo 1, o mercado financeiro é dividido em quatro
mercados: monetário, de crédito, de câmbio e de capitais. E, se o mercado
de capitais é uma fonte de recursos de longo prazo para as empresas, então
é um mercado muito importante para o desenvolvimento de um país, pois,
sem dinheiro, não há como a empresa investir, e sem investimento a
empresa não cresce. Não crescendo, não gera emprego e não eleva a
arrecadação de impostos pelo governo, que tem menos recursos para
investir em educação, saúde e infraestrutura. Logo, ter um mercado de
capitais desenvolvido é muito importante para a pujança de uma economia.

Por sua vez, o mercado de capitais é dividido em dois mercados:

■mercado de títulos de crédito – debêntures ou notas promissórias (ou


commercial papers);

■mercado de títulos de propriedade – ações.

Este capítulo do estudo se dedica ao mercado de ações.

Ações são títulos de renda variável, emitidos por sociedades anônimas, que
representam a menor fração do capital da empresa emitente.

Uma ação está para uma sociedade anônima assim como uma cota para
uma empresa limitada. Dessa forma, quando um pequeno empresário
monta uma loja em um shopping center, ele normalmente o faz na forma de
uma empresa sob cotas de responsabilidade limitada. Ele é o dono da
empresa, detendo x% do capital da loja. O mesmo se dá com ações.
Quando um investidor decide comprar ações de uma empresa na bolsa, ele
se torna acionista da empresa, ou seja, passa a ser dono de um pedaço da
companhia, mesmo que esse pedaço seja pequeno. Assim, um acionista não
é um credor da companhia, mas um coproprietário com direito aos lucros e
com responsabilidade junto aos prejuízos.

As sociedades anônimas (S.A.) podem ter o capital fechado ou aberto. Diz-


se que uma empresa tem capital aberto quando suas ações são negociadas
publicamente em mercados de balcão organizados ou na bolsa de valores.

Formas
As ações são de duas formas:

■Nominativas – o titular das ações é conhecido.

■Escriturais – não há emissão de cautelas ou movimentação física dos


documentos. O art. 34 da Lei das S.A. menciona que: “O estatuto da
companhia pode autorizar ou estabelecer que todas as ações da companhia,
ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito, em
nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de
certificados”.

Mercado à vista

Os preços das ações são formados em pregão, pela dinâmica das forças de
oferta e demanda de cada papel. A maior ou menor procura por
determinada companhia é em função de variáveis como comportamento
histórico dos preços e das perspectivas futuras da empresa emissora,
incluindo política de dividendos, prognósticos de expansão de seu mercado
e dos seus lucros e influências da política macroeconômica sobre o
resultado da companhia.

A realização de negócios no mercado à vista requer a intermediação de


uma sociedade (corretora ou distribuidora) credenciada pela bolsa. Na
BM&FBovespa, as ações são negociadas no sistema eletrônico de
negociação desde outubro de 2005, não havendo mais nenhuma negociação
no viva-voz. O sistema eletrônico permite às corretoras executarem as
ordens de clientes sem sair de seus escritórios.

O pregão do Mercado de ações brasileiro não para no horário de almoço. O


sistema eletrônico funciona ininterruptamente. O horário da bolsa varia
algumas vezes por ano, em função de alterações de horário de verão nos
Estados Unidos, o que permite que o investidor acompanhe as negociações
lá e aqui no Brasil ao mesmo tempo. Essa metodologia é importante, pois
há um grande número de empresas brasileiras que são negociadas tanto
aqui no Brasil como na Bolsa de Nova York (NYSE).

A liquidação dos títulos, ou processo de transferência da propriedade destes


e do pagamento e recebimento do valor financeiro envolvido na transação
de compra e venda de ações, abrange duas etapas:

■Liquidação financeira – pelas regras atuais, o pagamento e o recebimento


de valores que envolvem a transação ocorrem no terceiro dia útil (D+2),
após a realização do negócio em pregão (D+0).

■Liquidação física – é a entrega/recebimento dos títulos ao comprador e


ocorre em D+2. Após o recebimento dos recursos provenientes da compra,
as ações são liberadas e entram na custódia do comprador.

Muito se especula sobre a questão do day trade, palavra de língua inglesa


adotada pelo mercado que significa negócio (trade) no mesmo dia (day).
Em outras palavras, day trade significa comprar e vender, no mesmo dia, o
mesmo papel.

5.2Tipos de ações
As ações podem ser de dois tipos:

■Ações ordinárias – conferem ao acionista o direito de voto em


assembleias gerais. De acordo com a Lei das S.A., uma empresa tem de
emitir um mínimo de 50% do seu capital social em ações ordinárias.
Conforme veremos mais adiante, as exigências do investidor e as boas
práticas de governança corporativa têm levado as empresas a aumentarem
seu percentual de ações ordinárias.

■Ações preferenciais – garantem ao acionista a prioridade no recebimento


de dividendos e no reembolso de capital, no caso de dissolução da
sociedade. Entretanto, não dão direito a voto.
Muitas companhias hoje em dia só têm ações ordinárias, como, por
exemplo, Natura, Embraer, Gafisa, Hering, entre tantas outras. Elas
acreditam que é importante dar direitos igualitários a todos os acionistas.
Essa posição é bem-vista pelo mercado, que passa a valorizar as ações da
companhia.

5.3Canais de distribuição
Somente a corretora de valores (CTVM) ou a distribuidora (DTVM)
autorizada pela CVM para negociar ações na bolsa de valores para clientes
pode atuar na mediação de valores mobiliários na B3.

Alguns bancos oferecem esse serviço, disponibilizando em suas agências


bancárias terminais para investidores. Vale lembrar que, mesmo quando
solicitada a negociação ao gerente da agência bancária, a ordem será
executada pela corretora (ou distribuidora, conforme o caso) participante
do conglomerado do banco ou prestadora de serviço para o banco.

Pode-se, portanto, ligar para seu assessor na corretora e passar uma ordem
de negociação de ações ou colocar a ordem diretamente na internet, como
veremos a seguir.

Home broker

O home broker é um canal de relacionamento entre investidores e as


sociedades corretoras da bolsa. Assim como os serviços de internet banking
oferecidos pela rede bancária estão conectados com o sistema do banco, os
home brokers das corretoras estão interligados ao sistema de negociação da
B3 e permitem que o investidor envie automaticamente, on-line, ordens de
compra e venda de ações.

Além da praticidade e rapidez nas negociações, o home broker oferece


outras vantagens. Confira algumas delas:
■agilidade no cadastramento e no trâmite de documentos;

■consulta, pelo investidor, das posições financeiras e de custódia;

■acompanhamento de sua carteira de ações;

■acesso às cotações (algumas corretoras poderão oferecer também notícias


e análises sobre o mercado);

■envio de ordens imediatas, ou programadas, de compra e venda de ações,


no mercado à vista (lote padrão e fracionário) e no mercado de opções
(compra e venda de opções);

■recebimento da confirmação de ordens executadas e resumo financeiro


(nota de corretagem) etc.

Agentes Autônomos de Investimento (AAI)1

O AAI é um profissional autorizado pela CVM para atuar como preposto


de uma instituição financeira. No caso específico de ações, o AAI pode
manter seu escritório na própria corretora ou ter um escritório
independente, sempre atrelado no sistema da corretora.

Os AAIs cresceram em número nos últimos anos, e sua função se limita a


assessorar o cliente na colocação de suas ordens de compra e venda no
sistema da B3, por meio da plataforma disponibilizada para seu uso pela
corretora com a qual estiverem associados. Os AAIs não podem fazer
recomendações de compra e venda, atribuição do analista de valores
mobiliários, profissional também reconhecido pela CVM que, como o
agente autônomo, também deve ser certificado pelos órgãos reguladores da
profissão.
5.4Abertura de capital
Uma empresa de capital aberto é aquela que tem seus títulos negociados
publicamente. Muitas vezes essa negociação ocorre em bolsas de valores.
Já uma empresa de capital fechado não tem essa oportunidade de oferecer
seus títulos para tanta gente assim, pois não pode vendê-los publicamente.

Quando uma empresa emite títulos, ela vende para investidores pessoas
físicas, jurídicas e institucionais (bancos, corretoras, seguradoras, fundos de
pensão e fundos de investimento).

As empresas podem vender esses títulos de duas maneiras:

■colocação privada – nesse caso elas já sabem para quem vão vender, e a
CVM não faz muita exigência quanto ao processo da venda;

■colocação pública – já quando a empresa quer vender para o público em


geral, a CVM é muito rígida e a empresa tem de ser de capital aberto.

Razões que levam à abertura de capital

As empresas normalmente evoluem da seguinte forma: imagine um


engenheiro, consultor de empresas, que presta serviço para uma grande
empresa e emite recibo de pagamento de autônomo (RPA). Como ele é um
excelente consultor, tem muita demanda de trabalho. Resolve, então,
contratar mais alguns amigos e uma secretária para ajudá-lo. Decide, por
fim, constituir uma empresa limitada (Ltda.) e fazer sociedade com alguns
dos seus amigos. Ele está provavelmente agindo no momento correto,
porque existem outros representantes que podem ameaçar o seu espaço
atual.

Após anos de expansão, esse engenheiro e seus sócios decidem


compartilhar seu patrimônio e resultados com seus colaboradores ou aceitar
investimentos de outras empresas que também acreditam na sua expansão.
Para isso, a forma jurídica de constituição da empresa (Ltda.) precisa se
transformar em sociedade anônima (S.A.), passando a emitir ações. Ela
também está atenta ao seu timing de mudança.

Chega um momento em que a S.A. percebe que só permanecerá


competitiva se realizar investimentos que lhe garantam ganhos de escala e
de qualidade. Dado o montante dos recursos necessários, abre seu capital,
ao concluir que é mais racional obtê-los atraindo novos acionistas do que se
endividando.

Se pesquisarmos o desenvolvimento das grandes corporações, veremos que


poucas se apoiaram em talentos ou ideias isoladas, produtos inéditos ou
transações espetaculares. Ao contrário, seu sucesso é normalmente fruto de
esforço diário e coletivo, orientação para o mercado e percepção dos
momentos apropriados para mudanças de natureza societária e patrimonial.

No Brasil, a relação entre o nível de capitalização das empresas com ações


negociadas em bolsa e o PIB está ainda bastante abaixo daquela verificada
em países do primeiro mundo, prova contundente da oportunidade ainda
subaproveitada pela empresa brasileira de valer-se do mercado de capitais
como fonte de recursos para sua expansão e modernização.

O fenômeno da globalização, por sua vez, está tornando a decisão de abrir


o capital, antes bastante pessoal ou familiar – crescer ou não –, em algo
muitas vezes inexorável. A concorrência do produto externo é implacável
e, caso a necessidade de investimento tecnológico não seja antecipada e
suprida, a trajetória pode ser o fim do empreendimento ou sua absorção.

Avaliar, planejar e executar a abertura de capital são etapas que fazem parte
de uma antecipação estratégica, e abrir mão dessa decisão, por ser
complicada ou onerosa, pode custar até a existência da empresa, em vez de
seu crescimento.
Oferta Pública Inicial de Ações (IPO)

A primeira colocação dos títulos da companhia para o público é conhecida


como IPO2 ou Initial Public Offering, que em português significa Oferta
Pública Inicial.

Essa decisão envolve tanto aspectos técnicos quanto subjetivos. O aspecto


técnico envolve os cálculos de viabilidade de projetos, taxas de retorno,
fontes de financiamento, custos, disponibilidade de recursos, preço de
emissão etc. Já do lado subjetivo, estamos falando de assuntos ligados à
cultura empresarial, ou seja, a disposição dos acionistas controladores3 em
assumir riscos, prestar informações ao público, aceitar a presença de novos
acionistas, respeitar os direitos dos acionistas minoritários, entre outros.

Os benefícios que a abertura de capital pode oferecer às empresas são


amplos e consistentes:

fonte de recursos para investimento;

■reestruturação de passivos;

■aumento na capacidade de endividamento;

■liquidez patrimonial para os acionistas;

■flexibilidade para arranjos societários;

■fortalecimento da imagem institucional;

■aumento do nível de profissionalização;


■participação acionária dos funcionários.

Mas, como nem tudo é festa, há também desvantagens para a empresa, tais
como:

■custos de manutenção do Departamento de Relações com Investidores


(RI), taxas da CVM, das bolsas, dos auditores independentes e das
empresas contratadas pelo serviço de underwriting;

■divulgação sistemática sobre as atividades das empresas.

IPOs podem ser primárias ou secundárias. Ocorre uma IPO primária


quando conjugada com o lançamento de novas ações, nunca ofertadas ao
mercado, capitalizando, portanto, a companhia. Exemplo de IPO primária:
Multiplus, empresa de fidelidade da TAM. Em uma IPO secundária não há
emissão de novas ações. É colocado à venda um grande lote de ações já em
poder dos controladores. Exemplo de IPO secundária: Visanet.

Período de reserva

Dada a grandiosidade do processo de IPO e visando garantir o sucesso da


operação, o investidor interessado em participar da subscrição deve fazer
uma reserva da quantidade de ações que deseja adquirir. Esse período de
reserva é, portanto, anterior ao dia da IPO propriamente dita e visa
organizar o processo como um todo e prever a colocação ou não da
totalidade das ações.
Quanto à liquidação financeira, o mercado costuma solicitar que os
recursos estejam disponíveis na conta da corretora na véspera. Alguns
clientes, dado seu porte, ficam isentos desse depósito antecipado. Nesse
caso, muitas vezes é exigido que tenham outros títulos em custódia na
corretora.
Possibilidade de ocorrência de rateio

Muitas vezes a procura pelo título é muito acima do esperado. Nesse caso,
visando atender a todos os investidores, ocorre um rateio, conforme o que
aconteceu com as IPOs da Bovespa e da Visanet, ficando os investidores
limitados a um determinado valor para a compra.

Tipos de ordens

Ao dar uma ordem de compra ou venda para o corretor, o investidor pode


fazê-lo de formas diversas, dentre elas as mais usuais são:

■Ordem a mercado – o investidor especifica somente a quantidade e as


características dos valores mobiliários ou direitos que deseja comprar ou
vender. A corretora deverá executar a ordem a partir do momento em que
recebê-la.

■Ordem limitada – a operação será executada por um preço igual ou


melhor do que o indicado pelo investidor.

5.5Direitos e proventos dos acionistas


Se uma ação é um título de propriedade de uma empresa, ela deve conter
alguns direitos. Vejamos, a seguir, quais os direitos e proventos de uma
ação.

Dividendos

Quando a empresa gera lucro, parte desse lucro é distribuída a seus


acionistas na forma de dividendos. O restante é utilizado para
reinvestimentos e para constituição de reservas. Questões relativas ao
percentual a ser distribuído e as datas de pagamento dos dividendos são
definidas em assembleia dos acionistas, após o fechamento das
demonstrações financeiras anuais. O art. 201 da Lei das S.A. menciona que
“a companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do
exercício, de lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva
de capital, no caso das ações preferenciais”. Logo, só há dividendo se
houver lucro e, segundo o artigo seguinte da mesma Lei, o dividendo
obrigatório não poderá ser inferior a 25% do lucro líquido ajustado.

Existem ações que não têm direito aos dividendos daquele exercício
específico. São as chamadas “ações ex-dividendos”. Diz-se “ex-
dividendos”, pois, caso o acionista que receberá os dividendos anunciados
decida vender a ação, ele a venderá sem esse direito ao dividendo
anunciado, retendo para si esse direito. Isso ocorre por determinação da
bolsa de valores e é baseado na informação fornecida pela empresa. Ou
seja, até um determinado dia, quando a empresa anuncia a distribuição dos
dividendos, esse direito cabe ao acionista que detém as ações naquela data.
Após o anúncio, a ação é negociada sem esse direito, para aquela
distribuição específica, o que reduz o preço da ação durante o período em
que estiver sendo negociada ex-dividendo.

No primeiro dia de ex-dividendo, ou seja, na primeira sessão em que a


compra da ação deixa de dar direito aos dividendos, o título habitualmente
abre com o desconto relativo ao dividendo que vai ser distribuído. Esse
ajuste, efetuado pelo mercado, é óbvio: imagine que o primeiro dia de ex-
dividendos é uma quarta-feira e que no fechamento da terça-feira o título
valia R$ 14,32. Imagine ainda que o título será alvo da distribuição de um
dividendo de R$ 0,10 por ação. Será, pois, natural que o investidor que está
disposto a pagar, no fechamento da sessão de terça-feira, os R$ 14,32, na
abertura de quarta esteja disposto a pagar apenas R$ 14,22 (tudo o mais se
mantendo constante), pois nessa altura já não tem direito ao referido
dividendo. Na terça, a ação dá direito a um dividendo, na quarta não dá.
Logo, a ação em si perdeu valor – o valor do dividendo – e o mercado
reflete esse fato.

Juros sobre capital próprio


Esse tipo de direito do acionista se baseia na reserva de lucros da empresa,
não estando diretamente relacionado com o lucro do período, e sim com o
lucro de períodos anteriores e que ficaram retidos no caixa da empresa. O
pagamento desse provento traz benefícios fiscais para a empresa que o
distribui, pois pode ser classificado no balanço como despesa financeira.

Bonificação

As bonificações podem ser em ações ou em dinheiro. A bonificação na


forma de ações é o resultado do aumento de capital de uma empresa,
mediante a incorporação de reservas e lucros, ocasionando a distribuição
gratuita de novas ações a seus acionistas, em número proporcional às já
possuídas. Uma empresa pode também distribuir bonificações em dinheiro.
Isso ocorre excepcionalmente, quando a empresa concede a seus acionistas
uma participação adicional nos lucros.

Direitos de subscrição

Quando a empresa vai emitir novas ações para o seu aumento de capital, os
acionistas atuais têm a preferência na aquisição dessas novas ações, de
forma a manter a mesma proporção na participação que detêm na
companhia.

Venda de direitos de subscrição

Caso não haja interesse por parte do acionista em adquirir as novas ações
oriundas da subscrição, ele poderá vender a terceiros, em bolsa, tal direito.

Desdobramento ou split

Ocorre um split quando uma ação se divide em outras ações. Suponhamos,


por exemplo, que o preço de uma ação da empresa X seja R$ 100,00, e a
empresa decida fazer um split de 1 para 5. Nesse caso, o detentor dessa
ação passaria a ter cinco vezes a mesma quantidade de ações, com o preço
de 1/5 por ação – R$ 20,00 – do valor original. Em um primeiro momento,
seu resultado financeiro é nulo.

O desdobramento ocorre quando o preço da ação está muito “caro” no


mercado, quando comparado às demais ações, dificultando o acesso de
investidores menores ao capital da companhia.

Grupamento

O grupamento é o inverso do split. Nesse caso, há o grupamento de uma


quantidade de ações para formar uma nova ação. Assim como no split, o
resultado financeiro da operação é nulo, no primeiro momento.

O grupamento acontece quando o preço da ação está muito baixo,


dificultando o controle da companhia e enviando uma mensagem não muito
positiva para o mercado.

5.6Despesas incorridas na negociação


A negociação de ações envolve vários custos:

Taxa de corretagem – devida à corretora que intermediou a negociação.


Existem a corretagem variável, que é calculada sobre o valor negociado, e a
corretagem fixa, paga por operação. Muitos home brokers utilizam a
modalidade de cobrança fixa por negociação (por exemplo: R$ 10,00 cada
vez que compram ou vendem na bolsa). Entretanto, os investidores que
ligam para a corretora e falam com o seu operador, bem como os
investidores institucionais, costumam pagar corretagem variável em função
do volume negociado, mais uma pequena parcela fixa, como apresentado
na tabela a seguir.

Tabela 5.1 Tabela de corretagem


Intervalos financeiros

Variável

Parte fixa R$

Até R$ 135,07

0,0%

2,70

De R$ 135,08 até R$ 498,62

2,0%

2,70

De R$ 498,63 até R$ 1.514,69

1,5%

2,49

De R$ 1.514,70 até R$ 3.029,39

1,0%
10,06

Acima de R$ 3.029,39

0,5%

25,21

Exemplo:

Suponha que um investidor ligou para o seu corretor e solicitou que


efetuasse a compra de 100 ações de VALE5 a R$ 24,50. A compra resultou
em um montante transacionado de R$ 2.450,00. Segundo a tabela, esse
montante se enquadra na quarta faixa de valores. Portanto, por essa
operação, o investidor deverá pagar de corretagem R$ 34,56, calculado
conforme segue:

(R$ 2.450,00 × 1,0%) + R$ 10,06 = R$ 24,50 + R$ 10,06 = R$ 34,56.

Vale mencionar que os grandes investidores normalmente não pagam a


tabela cheia. É normal que as corretoras ofereçam uma devolução na
corretagem, que varia dependendo do volume que costumam negociar.

Emolumentos – os emolumentos são cobrados pela Bolsa por meio de taxa


fixa para cada tipo de operação ou produto.

Emolumentos normais
0,0345%

Emolumentos day trade

0,025%

Custódia – a custódia é um serviço segundo o qual a empresa custodiante


atua como depositária dos títulos. A custódia das ações é feita pela clearing
da B3.

Para efetuar esse serviço, são cobrados R$ 6,90 ao mês por cada conta
mantida pelo investidor.

5.7Índices do mercado acionário


O que são índices?

Como visto no Capítulo 3, seção 3.5, os índices representam carteiras


teóricas replicáveis, que podem servir de parâmetro ou benchmark para os
investidores de médio e longo prazos. Os índices são representações dos
retornos de determinados mercados.

No mercado acionário são calculados diversos índices, sendo os principais


o Ibovespa e o IBrX 50, que serão apresentados a seguir.
5.7.1Ibovespa
O Índice Bovespa é o mais importante indicador do desempenho médio das
cotações do mercado de ações brasileiro, sendo um índice que reflete
liquidez, transparência, segurança, confiabilidade e independência. Além
de retratar o comportamento dos principais papéis negociados na B3, é um
índice com tradição.

Aquilo que ouvimos ou lemos nos noticiários, dizendo que “a Bolsa hoje
fechou em alta ou em baixa” se refere especificamente ao Ibovespa, que é o
valor atual, em moeda corrente, de uma carteira teórica de ações constituída
em 02/01/1968 (valor-base: 100 pontos), a partir de uma aplicação
hipotética. Supõe-se não ter sido efetuado nenhum investimento adicional
desde então, considerando-se somente os ajustes efetuados em decorrência
da distribuição de proventos pelas empresas emissoras (tais como
reinversão de dividendos recebidos e do valor apurado com a venda de
direitos de subscrição, além de manutenção em carteira das ações recebidas
em bonificação). Dessa forma, o índice reflete não apenas as variações dos
preços das ações, mas também o impacto da distribuição dos proventos,
sendo considerado um indicador que avalia o retorno total de suas ações
componentes.

Para ser incluída no índice, uma ação ou unit4 tem de atender


cumulativamente aos seguintes critérios:

■estar entre os ativos elegíveis que, no período de vigência das três


carteiras anteriores, em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade
(IN), representem em conjunto 85% do somatório total desses indicadores;

■ter presença em pregão de 95% no período de vigência das três carteiras


anteriores;
■ter participação em termos de volume financeiro maior ou igual a 0,1%,
no mercado à vista (lote padrão), no período de vigência das três carteiras
anteriores;

■não ser classificado como penny stock, ou seja, cuja cotação não seja
inferior a R$ 1,00.

De forma a manter a sua representatividade ao longo do tempo, a carteira


do Ibovespa é reavaliada ao final de cada quadrimestre, utilizando-se os
critérios e procedimentos de sua metodologia. Dessa forma, as alterações
necessárias são feitas em início de janeiro, maio e setembro.

Participação da ação na carteira teórica

A participação de cada ação na carteira tem relação direta com o valor de


mercado do seu free float (ativos que se encontram em circulação), com
limite de participação baseado na liquidez.

Conheça a carteira vigente do Ibovespa e de todos os índices de bolsa,


válida para o quadrimestre atual, acessando o site: www.b3.com.br (aba
Market Data e Índices > Índices > Índices Amplos > Índice Bovespa
(Ibovespa) > Composição da carteira).

Os pontos

Em 28/08/2019, o Ibovespa fechou com 98.193,53 pontos. Como se


calculam esses pontos?

É muito simples: basta multiplicar a quantidade de cada ação no índice pelo


seu valor de mercado, somando cada produto encontrado no final. Em
outras palavras, significa quanto em valor monetário (no nosso caso,
“reais”) teremos de despender para comprar aquela carteira de ações. E a
variação da bolsa é exatamente a variação dos pontos de um dia para o
outro. Fácil, não acha?

Mas o Ibovespa não é o único índice, como já vimos no início desta seção.
Veremos a seguir a metodologia de outro importante índice.

5.7.2IBrX 50
O IBrX 50 (Índice Brasil 50) é composto por 50 papéis escolhidos em uma
relação de ações classificadas em ordem decrescente por liquidez, de
acordo com seu índice de negociabilidade medido nos últimos 12 meses,
observados os demais critérios de inclusão descritos a seguir.

Critérios de inclusão e ponderação das ações no índice

Integrarão a carteira do IBrX as 50 ações que atenderem cumulativamente


aos seguintes critérios:

■ser uma das 50 ações com maior índice de negociabilidade, apurado nos
12 meses anteriores à reavaliação;

■ter sido negociada em pelo menos 95% dos pregões ocorridos nos 12
meses anteriores à formação da carteira;

■não ser classificada em penny stock.

As ações que atenderem a esses critérios comporão o IBrX 50 e serão


ponderadas pelo respectivo valor de mercado (no tipo pertencente à
carteira) de suas ações disponíveis para negociação (conhecido como free
float), ou seja, serão excluídas as ações de propriedade do controlador.
Compare a participação de determinadas ações no Ibovespa e no IBrX 50
na tabela a seguir.

Tabela 5.2 Participação (em %) da carteira teórica válida para 28/08/2019

Ação

Código

Ibovespa

IBrX 50

AMBEV ON

ABEV4

4,879

5,297

Azul PN2

AZUL4

0,900


Bradesco PN1

BBDC4

7,675

8,332

ItauUnibanco PN1

ITUB4

9,784

10,623

Localiza ON NM

RENT3

1,551

1,684

Natura ON
NATU3

0,672

0,730

Petrobras PN2

PETR4

6,521

7,079

Smiles

SMIL3

0,134

Vale ON MM

VALE3

8,432
9,155

Fonte: www.b3.com.br.

Obs.: Existem vários índices, além do Ibovespa e do IBrX 50, cada um com
suas características peculiares, dedicados, por exemplo, a algum segmento
econômico, como é o caso do Imob, que é formado por uma carteira teórica
de ações de empresas do segmento imobiliário. Há um formado somente
por empresas que têm boa governança corporativa (IGC) e um índice
composto por empresas que se preocupam com questões de
sustentabilidade (ISE).

Se você quer saber mais sobre os diferentes índices de ações, sugiro que
entre no site da B3, na aba “Market data e Índices”.

5.8Riscos inerentes ao produto


5.8.1Risco da empresa
Uma vez que ao investir em ações você está se tornando sócio da empresa,
um dos riscos que corre como investidor é o risco inerente à empresa.

As corporações estão expostas a três tipos diferentes de risco, a saber:

■risco de negócio – este tipo de risco é inerente ao tipo de negócio que se


está envolvido e se relaciona à inovação tecnológica, à propaganda do
produto etc.;

■risco estratégico – é aquele resultante de prováveis mudanças na


economia ou no ambiente político;
■risco financeiro – é aquele que está relacionado a possíveis perdas no
mercado financeiro que são resultantes de movimentos em variáveis
financeiras como, por exemplo, taxa de câmbio.

Para diminuir esse risco, os investidores devem diversificar suas carteiras


de ações, comprando papéis de empresas de diferentes segmentos
econômicos, por exemplo.

5.8.2Risco de mercado
Conforme estudado anteriormente, o risco de mercado é resultante das
mudanças no comportamento do preço de um ativo diante das condições de
mercado. Podemos definir risco de mercado como sendo uma medida da
incerteza relacionada aos retornos esperados de um investimento em
decorrência de variações em fatores de mercado, como taxas de câmbio,
taxas de juros, preços de commodities e preços de ações. E, como o preço
das ações é função das perspectivas da empresa, e o desempenho da
empresa depende, dentre outros fatores, das variáveis macroeconômicas,
fica claro, portanto, que ao comprar ações o investidor está sujeito ao risco
de mercado.
Para entender e medir possíveis perdas devido às flutuações do mercado, é
de extrema importância saber identificar e quantificar o mais corretamente
possível as volatilidades e correlações5 dos vários fatores que podem
impactar a dinâmica do preço de um ativo.

O risco de mercado pode ser analisado de duas maneiras distintas:

■Risco de mercado relativo – é a medida da variação da rentabilidade de


um determinado portfólio em comparação a um índice utilizado como
benchmark. Há diferentes métricas estatísticas que podem ser utilizadas no
cálculo do risco de mercado de um ativo ou de uma carteira. Esses
indicadores não fazem parte do programa do CPA-10.

■Risco de mercado absoluto – é a medida das perdas de uma carteira de


investimentos em relação ao seu próprio valor anterior, sem que se façam
comparações com índices de mercado. Essa métrica também possui
diferentes formas de mensuração, as quais podem utilizar, por exemplo, o
desvio-padrão6 dos retornos passados.

5.8.3Risco de liquidez
Além dos riscos da empresa em si e de mercado, o investimento em ações
pode correr risco de liquidez. Decerto que as principais ações que fazem
parte do Ibovespa sofrem menos esse problema. Em termos técnicos, as
ações com maior índice de negociabilidade, conforme mencionado neste
capítulo, apresentam menos problemas com relação à liquidez, mas mesmo
essas ações podem, por algum problema, ser suspensas da bolsa por
algumas horas ou mesmo dias.

Ações de companhias menores nem sempre são negociadas diariamente.


Logo, vale a pena checar a quantidade de negócios que aquele papel
costuma ter no mercado, antes de investir em ações dessa companhia.

Dica: Investimento em ações é recomendado para quem pode alocar uma


fatia dos seus investimentos para o longo prazo.

5.9Tributação
O ganho líquido obtido no mercado à vista de ações é tributado atualmente
à alíquota de 15% de imposto de renda como ganho de capital sobre
operação de renda variável.

Entende-se por ganho de capital o ganho auferido sobre a diferença entre o


valor de venda e o de compra. Ganho líquido pode ser definido como o
resultado positivo conseguido em um conjunto de operações realizadas em
cada mês, em um ou mais mercados de bolsa.

Os ganhos líquidos auferidos em operações realizadas em bolsas de


valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas, inclusive day trade,
serão tributados às seguintes alíquotas:
■20%, no caso de operação day trade;

■15%, nas operações realizadas nos mercados à vista, a termo, de opções e


de futuros.

As operações realizadas no mercado bursátil estão sujeitas à retenção do


imposto de renda na fonte à alíquota de 0,005%, como antecipação,
podendo ser compensada com o imposto de renda mensal na apuração do
ganho líquido. No caso de operações de day trade, o dedo-duro, como é
conhecida essa antecipação pelo mercado, é de 1%. Esse valor é recolhido
no momento da liquidação da operação de venda e incide sobre o valor da
negociação.

Todas as operações em bolsas estão sujeitas ao IR?

A Receita Federal explica que não. Estão isentos do imposto de renda os


ganhos líquidos auferidos por pessoa física em operações no mercado à
vista de ações negociadas em bolsas de valores, cujo valor das alienações
realizadas em cada mês seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 para o
conjunto de ações.

As despesas efetivamente pagas constantes em notas de corretagem (taxa


de corretagem, emolumentos pagos à B3) para a realização de operações de
compra ou venda podem ser consideradas na apuração do ganho líquido,
sendo acrescidas ao preço de compra e deduzidas do preço de venda dos
ativos ou contratos negociados.

Para fins de apuração e pagamento do imposto mensal sobre os ganhos


líquidos, as perdas incorridas nas operações de ações no mercado à vista
poderão ser compensadas com os ganhos líquidos auferidos, no próprio
mês ou nos meses subsequentes, exceto no caso de perdas em operações de
day trade, que somente serão compensadas com ganhos auferidos em
operações da mesma espécie (day trade).
Os dividendos são isentos de imposto de renda, e os juros sobre capital
próprio são tributados à alíquota de 15%, na fonte.

Exemplo:

Mês 1

Aquisição ABCD3

Aquisição XPTO4

Quantidade

1.000

Quantidade

500

Preço unitário

R$ 30,00
Preço unitário

R$ 25,50

Total ações

R$ 30.000,00

Total ações

R$ 12.750,00

Corretagem

R$ 175,21

Corretagem

R$ 88,96

Emolumentos
R$ 10,35

Emolumentos

R$ 4,40

Total liquidação

R$ 30.185,56

Total liquidação

R$ 12.843,36

Custo unitário

R$ 30,19

Custo unitário
R$ 25,69

Mês 2

Venda ABCD3

Venda XPTO4

Quantidade

800

Quantidade

500

Preço unitário

R$ 32,10

Preço unitário
R$ 24,20

Total ações

R$ 25.680,00

Total ações

R$ 12.100,00

Corretagem

R$ 153,61

Corretagem

R$ 85,71

Emolumentos

R$ 8,86
Emolumentos

R$ 4,17

Retenção IR fonte

R$ 1,28

Retenção IR fonte

R$ 0,61

Total liquidação

R$ 25.516,25

Total liquidação

R$ 12.009,51

Apuração Imposto de Renda


Total liquidado mês 2

R$ 37.525,76

Como liquidação > R$ 20.000,00 => IR devido

Se total da liquidação < R$ 20.000,00 => isento de IR

Ganho de capital ABCD3

R$ 1.364,25

= R$ 25.516,25 – (800 × R$ 30,19)

Ganho de capital XPTO4

– R$ 835,49

= R$ 12.009,51 – (500 × R$ 25,69)

Total ganho líquido mês 2

R$ 528,76

= R$ 1.364,25 – R$ 835,49
Imposto de renda

R$ 79,31

= R$ 528,76 × 15%

IR retido na fonte

R$ 1,89

IR a pagar – DARF

R$ 77,42

= R$ 79,31 – R$ 1,89

No caso do exemplo, o imposto de renda deve ser pago até o último dia útil
do mês 3 (mês subsequente à apuração do ganho), com o preenchimento de
DARF, pelo investidor. No caso de day trade, fica a instituição
intermediadora da operação responsável pelo recolhimento do imposto de
renda. Além disso, o valor do imposto retido na fonte sobre operações day
trade somente pode ser compensado até o mês de dezembro do ano-
calendário da retenção.

Pontos importantes – Ações

■Ações são títulos de propriedade e são emitidas na forma nominativa e


escritural.
■Ações ordinárias – dão direito a voto.

■Ações preferenciais – têm preferência no recebimento de dividendos e no


reembolso de capital.

■Liquidação física e financeira do mercado à vista de ações (D+2).

■Day trade – compra e venda do mesmo ativo no mesmo dia.

■O home broker é uma ferramenta de negociação de ações da corretora,


disponibilizado pela internet.

■Uma empresa de capital aberto é aquela que tem seus títulos negociados
publicamente. A abertura de capital da empresa se dá por meio de uma
IPO, ou Oferta Pública Inicial. Quando a demanda é muito alta, pode
ocorrer rateio.

■Na ordem a mercado, o investidor especifica somente a quantidade, as


características das ações que deseja negociar. Na ordem limitada, a
operação será executada por um preço igual ou melhor que o indicado pelo
investidor.

■Mercado primário – primeira vez que o título é negociado, capitalizando a


empresa.

■Mercado secundário – ocorre a troca de titularidade do título entre


investidores.

■Direitos e proventos:
○dividendos – a origem é o lucro da companhia, cujo percentual, após
aprovação da assembleia dos acionistas, é repartido na proporção que o
acionista tem na companhia;

○juros sobre capital próprio (JCP) – têm por base os lucros anteriores da
companhia;

○bonificação – resultado do aumento de capital da companhia, caso em que


o acionista ganha ações da empresa;

○direitos de subscrição – o acionista tem direito a comprar parte das ações


nas IPOs, para manter a mesma proporção no capital da empresa. Caso ele
não deseje comprar as ações, pode vender esse seu direito;

○ocorre um desdobramento ou split quando uma ação se divide em outras


ações. O grupamento é o contrário do split.

■Principais índices: Ibovespa – carteira teórica de ações escolhidas de


acordo com sua liquidez na Bolsa; IBrX 50 – carteira teórica de 50 ações
ponderadas por sua capitalização de mercado.

■Riscos inerentes a ações – risco da empresa, do mercado e de liquidez.

■Despesas incorridas na negociação de ações – corretagem, emolumentos e


custódia.

■Tributação – sobre o ganho líquido: 15%; day trade: 20%; sobre os


dividendos: isento; sobre os JCP: 15% na fonte; estão isentas de IR as
pessoas físicas que tenham vendido ações até o limite de R$ 20.000,00
dentro do mês; as perdas podem ser compensadas dentro do próprio mês;
dedo-duro em operações normais de ações: 0,005%; dedo-duro em
operações de day trade: 1%.
Leitura complementar

O falso pressuposto de que investir em ações é arriscado

Marcos Elias

27/04/2006

Há um falso pressuposto filosófico no mercado brasileiro de que investir


em ações é arriscado. Ações são parcelas do capital de companhias abertas,
não são fichas para se jogar em um cassino. Ao deter para si ações de
empresas listadas em bolsa, o investidor torna-se acionista de uma empresa
submetida à vigilância da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da
Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), à diligência das empresas
de auditorias, ao seu próprio conselho fiscal e às regras de governança
corporativa.

Mesmo assim, remanesce a falácia de que ações representam uma


modalidade arriscada de investimentos. Argumentos convincentes, mas
falsos, são apresentados por gerentes de contas de investimentos
despreparados e artigos jornalísticos superficiais.

“Argumentum ad Popolum” é a tentativa de ganhar a causa por apelar a


uma grande quantidade de pessoas. “Muitos perderam dinheiro investindo
em bolsa, logo investir em ações é arriscado.” Essa é a mais comum das
falácias lançadas contra as ações. É um argumento desqualificado e tão
forte quanto a frase: “O Alcorão só pode ser verdadeiro, pois milhões de
pessoas sabem que é. Não podem estar todos enganados.” Foi-se o tempo
em que as empresas abriam seus capitais por exigência do BNDES. Hoje as
empresas listadas apresentam vocação para a bolsa.
Diz-se também que ações são arriscadas porque suas cotações ou preços
são voláteis. Nos livros, volatilidade está mesmo associada ao risco. Mas
nada é mais impertinente do que investir em ações para um prazo superior a
um ano e se preocupar com a volatilidade de curto prazo do mercado de
ações. Ações representam empresas, e suas variações de preços respeitam o
desempenho operacional e financeiro do ativo que se está adquirindo.
Empresas têm ciclos de negócios anuais. Qualquer horizonte de
investimento em ações inferior a um ano faz com que o investimento em
bolsa se torne uma mera aposta, mas isso não é um defeito do mercado de
ações. É um defeito do investidor.

Aliás, essa lógica distorcida de que se há volatilidade então há risco é


facilmente atacável. Se a volatilidade leva ao risco, logo sua ausência
alçaria um investimento qualquer à categoria de seguro? Investiríamos
então em títulos da República Federal da Nigéria, que por não terem
mercado secundário não são voláteis. Essa é a famosa falácia da negação
do antecedente. Por exemplo, a estrutura “se há volatilidade, então há risco.
Não há volatilidade, então não há risco” equivale à estrutura “se há carros,
então há poluição. Não há carros, logo não há poluição”.

São aproximadamente 400 empresas listadas na bolsa brasileira. São 400


oportunidades de negócios. Você quer ter como sócios os
competentíssimos controladores da AmBev? Poderá sê-lo! Quer ter como
parceiro os banqueiros do Itaú? Está convidado! Basta, para ser bem-
sucedido no mercado acionário, seguir duas regras: comprar os ativos
certos ao preço certo e carregar as ações por um tempo suficientemente
longo. Ressalto que, se historicamente o principal índice da Bolsa de
Valores de São Paulo, o Ibovespa, não tem superado o Certificado de
Depósito Interfinanceiro (CDI), para determinados períodos há mais de 20
ações com forte liquidez em bolsa que superaram em larga conta o
referencial da renda fixa.

As ações são investimentos muito seguros. O motivo é simples: é muito


mais fácil entender uma empresa do que entender a economia de um país.
Em outras palavras: se o analista de ações for suficientemente diligente e
dedicado, poderá entender se aquele programa de redução de custos que
determinada empresa vem implementando será bem-sucedido ou se aquele
investimento marginal em uma nova planta lhe trará retorno atrativo.

Se algo que agregue valor econômico àquela empresa acontecer,


certamente suas ações se valorizarão. Agora, ao se tratar de uma economia,
não é apenas a dinâmica de um setor que conta, mas a interação entre todos
eles. Há questões políticas, fiscais, monetárias, sociais, domésticas e
internacionais a serem consideradas. Não há como modelar o “imodelável”,
por mais douto que se possa ser em assuntos econômicos.

Lembremo-nos de que muitos matemáticos geniais dedicaram vidas inteiras


para modelar fenômenos naturais, sem que tivessem qualquer sucesso em
suas empreitadas. Então, quando um gestor faz uma “aposta” alavancada
(aposta mais recursos do que tem) de que as taxas de juros americanas
convergirão para o patamar de 5,50% e não de 5,00% ao ano, há uma
grande incerteza nessa aposta. E é aí que está o verdadeiro risco!

Marcos Elias foi sócio da Link Corretora.

Disponível em:
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/eueinvestimento/49/
O+falso+pressuposto+de+que+investir+em+acoes+e+arriscado,marcos
%20elias,,49,3653549.html. Acesso em: 22 maio 2006.

Exercícios de fixação

1.Se compararmos as ações com os títulos de renda fixa, veremos que:

a.As ações não correm risco de crédito.

b.Somente as ações correm risco de crédito.


c.Embora os dois produtos corram risco de crédito, as ações são mais
voláteis que a enorme maioria dos títulos de renda fixa.

d.Embora os dois produtos corram risco de crédito, os títulos de renda fixa


são mais voláteis que a enorme maioria das ações.

2.Um investidor deseja negociar ações pela internet. Ele, então, utiliza:

a.Um agente autônomo de investimentos.

b.O home broker.

c.O site do Tesouro Direto.

d.O site do Banco Central.

3.Um investidor vendeu ações na bolsa hoje (D+0). Quando receberá o


dinheiro proveniente de sua venda?

a.Hoje mesmo.

b.No primeiro dia útil seguido à negociação.

c.No segundo dia útil seguido à negociação.

d.No segundo dia seguido à negociação.

4.As ações negociadas na B3 são emitidas na forma:


a.Nominativa e escritural.

b.Ordinária e ao portador.

c.Nominativa e ao portador.

d.Escritural e física.

5.O preço das ações é formado através:

a.Da contabilidade da empresa.

b.Da lei de oferta e demanda das ações.

c.De estudos desenvolvidos por economistas.

d.De estudos feitos pelos corretores de ações.

6.De acordo com a Lei das S.A., uma ação ordinária:

a.Tem direito a 10% de dividendos adicional.

b.Vale 50% a mais do que uma ação preferencial.

c.É menos negociada que os demais tipos de ações.


d.Garante ao acionista o direito ao voto em assembleias.

7.Marque a alternativa que não corresponde a um provento de um


acionista:

a.Dividendos.

b.Bonificação.

c.Juros sobre capital próprio.

d.Ganho de capital.
8.Um investidor comprou um lote de ações por R$ 19.000,00. Após 180
dias, ele vendeu o mesmo lote por R$ 19.900,00, tendo incorrido em R$
50,00 de custos de transação na compra e mais R$ 50,00 na venda. Nesse
período, ele recebeu R$ 200,00 de dividendos sobre essa ação. Sabendo-se
que esta foi a única liquidação de ações incorrida durante o mês, quanto
pagará de imposto de renda sobre todos os seus rendimentos?

a.R$ 0,00

b.R$ 135,00

c.R$ 150,00

d.R$ 165,00

Gabarito
1. a

2. b

3. c

4. a

5. b

6. d

7. d

8. a

___________

1Embora não seja item da prova, quem trabalha no mercado financeiro


deve saber o que faz um Agente Autônomo de Investimento, profissional
muito em voga hoje em dia. A XP, por exemplo, trabalha com diversos
AAI na captação de clientes e venda de produtos financeiros.

2Lê-se “ai-pi-ou”.

3O acionista controlador é aquele cuja quantidade de ações que detém no


capital da companhia lhe confere o poder de decidir sobre os rumos da
companhia.
4Unit é um valor mobiliário composto de classes de ativos diferentes, como
uma determinada quantidade de ações ordinárias mais ações preferenciais e
afins. No caso do Ibovespa, só entram units formadas exclusivamente de
ações de companhias listadas na B3.

5Volatilidade = variação no preço. Correlação = medida estatística que


tenta avaliar a relação que existe entre duas variáveis, ou seja, como o
comportamento de uma delas explica o da outra. Pode-se diminuir o risco
de uma carteira de investimentos acrescentando ativos que sejam pouco
correlacionados entre si. Em outras palavras, o impacto da variação
negativa no preço de um ativo pode ser diminuído com a variação positiva
de outro ativo, no caso de eles serem pouco correlacionados.

6Desvio-padrão = raiz quadrada da variância. Por sua vez, a variância é a


média do quadrado dos desvios dos pontos observados para a média desses
pontos. Simplificando, é uma medida que aufere a distância dos pontos
para a média. É muito utilizada em mercado financeiro, dada a sua
facilidade de cálculo.
CAPÍTULO 6
Fundos de Investimento
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Diferenciar um fundo de investimento e sua operacionalização dos demais


produtos de investimento disponíveis no mercado financeiro.

■Distinguir os diferentes tipos de fundos e seus riscos.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:


6.1Principais conceitos e características

6.2Segregação de funções e responsabilidades

6.3Assembleia geral de cotistas

6.4Direitos e obrigações dos condôminos

6.5A cota e a Marcação a Mercado

6.6Taxas

6.7Tipos de fundos

6.8Política de investimento

6.9Instrumentos de informações e de rentabilidade

6.10Clube de investimento

6.11Carteira de investimentos

6.12Tributação

6.13Código ANBIMA de Administração de Recursos de Terceiros


Pontos importantes – Fundos de investimento

Proporção no exame

De 20 a 30%.

Tempo estimado de estudo

Seis horas.

6.1Principais conceitos e características


6.1.1Definição
De acordo com a Instrução CVM 555, um fundo de investimento é uma
comunhão de recursos, constituída sob a forma de condomínio destinado à
aplicação em ativos financeiros.

Um fundo apresenta:

■ativo – papéis que compõem a carteira do fundo;

■passivo – obrigações (custos a pagar);

■patrimônio líquido – diferença entre ativo e passivo.

Ao aplicar em um fundo, o investidor compra cotas desse fundo. Seu


dinheiro não vai “gerar funding” para o banco. Ou seja, não vai para o
caixa do banco para ser emprestado, não fazendo parte do balanço do
banco. Um investimento em fundos não conta, portanto, com a garantia do
Fundo Garantidor de Crédito, como o CDB, a poupança e a conta-corrente,
por exemplo.

Os cotistas respondem por eventual patrimônio líquido negativo do fundo,


sem prejuízo da responsabilidade do administrador e do gestor, se houver,
em caso de inobservância da política de investimento ou dos limites de
concentração previstos no regulamento e na Instrução CVM que o
regulamenta.

Preste atenção neste exemplo: suponha que um investidor abriu conta em


um banco com seu gerente e irá fazer uma série de aplicações. É claro que
o banco terá de registrar esse dinheiro que está captando e as aplicações.
Acompanhe o passo a passo dos registros:

1.Cliente abre a conta com R$ 10.000,00. Na contabilidade do banco esse


dinheiro entrará no Caixa (conta do Ativo) e no Depósito à vista/Conta-
corrente (conta do Passivo).

Para quem nunca estudou Contabilidade ou não se lembra mais, vai aí um


refresco: Ativo = ficam os bens e direitos de uma empresa; Passivo = ficam
as obrigações com terceiros; Patrimônio Líquido = parte que cabe aos
acionistas, donos da empresa.

O dinheiro do cliente entrará no Passivo do banco porque esse dinheiro não


é do banco, é do cliente. O banco usará esse dinheiro para emprestar para
terceiros e terá de devolver o dinheiro do cliente no futuro, quando o
mesmo solicitar.

Obs.: todos os registros aqui mencionados podem ser vistos na próxima


figura.
2.Cliente aplica R$ 2.000,00 no CDB – sai dinheiro da conta-corrente do
cliente e entra no CDB, que fica no Passivo do banco. Note que não se
mexeu no caixa do banco.

3.Cliente aplica R$ 2.500,00 na caderneta de poupança – outra vez sai


dinheiro da conta-corrente do cliente e entra na poupança, também Passivo
do banco.

4.Cliente aplica R$ 1.500,00 na letra hipotecária de emissão da mesma


instituição – pela terceira vez sai dinheiro da conta-corrente do cliente e
entra na LCI. Até aqui nada aconteceu no caixa do banco, certo? Tudo foi
só movimentação no Passivo do banco.

5.Cliente aplica R$ 3.000,00 no fundo de investimento multimercados


administrado pelo banco – em vez de a resposta ser dada de forma passiva,
gostaria que você fizesse uma pausa na leitura para refletir.

Que registro fará o banco desta vez? Será que o fundo fica registrado no
balanço do banco? Pense bem antes de passar para o próximo parágrafo.

A resposta correta é “não”, porque o fundo tem vida própria, CNPJ próprio,
em que os “donos” do fundo são os cotistas, ficando o fundo como
proprietário dos ativos que compõem a sua carteira. Logo, o dinheiro da
aplicação no fundo vai sair do banco e vai para a contabilidade do fundo.

Esse é o motivo por que o dinheiro aplicado em fundos não conta com a
garantia do Fundo Garantidor de Crédito, pois o dinheiro sai do balanço do
banco.

Registros contábeis

1
2

Banco

Banco

Banco

Ativo

Passivo

Ativo

Passivo

Ativo

Passivo

Caixa

10.000
Cta.-Cor.

10.000

Caixa

10.000

Cta.-Cor.

8.000

Caixa

10.000

Cta.-Cor.

5.500
CDB

2.000

CDB

2.000
Poupança

2.500

Patrimônio Líquido

Patrimônio Líquido

Patrimônio Líquido

Total Ativo
10.000

Total Passivo

10.000

Total Ativo

10.000

Total Passivo

10.000

Total Ativo

10.000

Total Passivo

10.000

5
Banco

Banco

Fundo

Ativo

Passivo

Ativo

Passivo

Ativo

Passivo

Caixa

10.000

Cta.-Cor.

4.000

Caixa
7.000

Cta.-Cor.

1.000

Caixa

3.000

CDB

2.000
CDB

2.000

Poupança

2.500

Poupança

2.500
LCI

1.500

LCI

1.500
Patrimônio Líquido

Patrimônio Líquido

Patrimônio Líquido
Cotas

3.000

Total Ativo

10.000

Total Passivo

10.000

Total Ativo

7.000
Total Passivo

7.000

Total Ativo

3.000

Total Passivo

3.000

Em um momento seguinte, o gestor do fundo pegará o caixa do fundo (os


R$ 3.000,00) e comprará os ativos (ações, títulos públicos, CDB,
debêntures, outros), de acordo com a política de investimento do fundo.
Vale ressaltar que os ativos que comporão a carteira do fundo ficarão na
custódia em nome do fundo. Em outras palavras, o banco apenas prestará
serviço de administração para o fundo, e os balanços do banco e do fundo
não se misturarão.

6.1.2Diferenciais do produto para o investidor


■Acessibilidade ao mercado financeiro – ao fazer parte de um grande bolo,
o investidor passa a ter acesso a investimentos e mercados que não seria
possível com menos recursos. Há investimentos que exigem um mínimo
muito alto de aplicação, por exemplo. Mas, fazendo parte do bolo, é
possível investir nesses produtos de forma indireta.

■Diversificação – devido à grande massa de recursos, é possível


diversificar a carteira de ativos do fundo de forma a minimizar riscos. Se o
investidor, por exemplo, tiver R$ 1.000,00, ele não poderá aplicar em
diferentes ações. Uma vez participando de um fundo de ações, ele pode
comprar um conjunto grande de ações, por meio das cotas que detém no
fundo. Além disso, o fundo tem limites de aplicação por tipo de ativo e por
emissor, o que o torna um produto até certo ponto mais seguro que uma
aplicação em um ativo individualizado.

■Liquidez – os fundos de investimento permitem uma liquidez que muitas


vezes não é possível em outros produtos. Suponha que um investidor tenha
uma debênture em sua carteira de títulos, que cada debênture tenha o valor
unitário de R$ 100.000,00 e que ele deseje resgatar apenas R$ 10.000,00.
Nesse caso, o investidor terá de vender o título integralmente. Já se o
mesmo valor for aplicado em um fundo de investimento, ele poderá
resgatar apenas o volume desejado, uma vez obedecendo às regras do
fundo.

6.1.3Órgão regulador
De acordo com a Lei no 6.385/1976 e demais atualizações (Leis nos
10.303/2001 e 10.411/2002), cabe à CVM disciplinar e fiscalizar a emissão
e distribuição de valores mobiliários. A mesma legislação, em seu art. 2o,
define as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de
clubes de investimento em quaisquer ativos como valores mobiliários. Por
conseguinte, a edição de normas, concessão de autorizações e de registros e
supervisão dos fundos de investimento são de competência da CVM.

6.1.4Constituição e registro
O processo de constituição e registro de um fundo de investimento segue
um passo a passo, conforme a seguir:

1.Alguém na instituição financeira tem uma ideia de um fundo de


investimento que tem apelo comercial e aborda a área operacional da
instituição.

2.É definido um administrador do fundo, que pode ser a própria instituição


ou outra pessoa jurídica que tenha licença da CVM para exercer tal função.
3.O administrador fica incumbido de aprovar o regulamento do fundo, um
documento que define as regras do fundo, entre elas a sua política de
investimento, quem será o gestor do fundo, detalhes de cotização e taxa de
administração, e que deve estar de acordo com as disposições da Instrução
CVM vigente na ocasião (hoje, a 555).

4.Uma vez registrado em cartório o regulamento do fundo, definido o


auditor independente, inscrito no CNPJ e preparada a lâmina de
informações essenciais,1 o fundo pode ser finalmente registrado na CVM.
Para isso, o administrador prepara a documentação solicitada na Instrução
CVM e envia tudo pelo sistema da CVM (internet).

6.2Segregação de funções e responsabilidades


Há várias entidades trabalhando para os fundos de investimento, todas
remuneradas pelo serviço que prestam. São elas: gestor, administrador,
custodiante, distribuidor e auditor. Saiba mais sobre elas nos itens que se
seguem.2

6.2.1Gestor
Administra a carteira do fundo, decidindo que papéis comprar ou vender,
de acordo com a política de investimento do fundo, devidamente
estabelecida em seu regulamento. Sua remuneração é a taxa de
administração, que é dividida com o administrador e com o distribuidor.
Pode ser pessoa física ou jurídica, mas tem de ser credenciado junto à
CVM para prestar esse tipo de serviço.

O gestor tem poderes para negociar e contratar, em nome do fundo, os


ativos e os intermediários (corretoras e distribuidoras) para realizar as
negociações dos ativos que farão parte da carteira do fundo; exerce o
direito de voto3 decorrente dos ativos financeiros detidos pelo fundo.

6.2.2Administrador
É o representante do fundo. Compete a ele efetuar as contratações dos
prestadores de serviços, inclusive do gestor. O administrador é responsável
solidário do fundo, juntamente com os seus contratados, por eventuais
prejuízos causados aos cotistas em virtude das condutas contrárias à lei, ao
regulamento e aos atos normativos expedidos pela CVM.

O administrador, observadas as limitações legais e as previstas na Instrução


555, tem poderes para praticar todos os atos necessários ao funcionamento
do fundo de investimento, sendo responsável pela constituição do fundo e
pela prestação de informações à CVM.

São obrigações do administrador:

I – diligenciar para que sejam mantidos, às suas expensas, atualizados e em


perfeita ordem, todos os registros, livros e documentações relativas aos
cotistas, eventos e operações do fundo;

II – solicitar, se for o caso, a admissão à negociação das cotas de fundo


fechado em mercado organizado;

III – pagar a multa cominatória, nos termos da legislação vigente, por cada
dia de atraso no cumprimento dos prazos previstos na regulamentação;

IV – elaborar e divulgar as informações do fundo, previstas na


regulamentação;

V – manter atualizada junto à CVM todas as informações cadastrais do


fundo;

VI – custear as despesas com elaboração e distribuição do material de


divulgação do fundo, inclusive da lâmina, se houver;

VII – manter serviço de atendimento ao cotista;


VIII – observar as disposições constantes do regulamento;

IX – cumprir as deliberações da assembleia geral; e

X – fiscalizar os serviços prestados por terceiros contratados pelo fundo.

Vedações

Enquanto gestores e administradores de fundos não destinados a


investidores qualificados, esses prestadores de serviço não podem:

I – receber depósito em suas contas-correntes;

II – contrair ou efetuar empréstimos, salvo em modalidade autorizada pela


CVM;

III – prestar fiança, aval, aceite ou coobrigar-se sob qualquer outra forma;

IV – vender cotas a prestação, sem prejuízo da integralização a prazo de


cotas subscritas; prometer rendimento predeterminado aos cotistas;

V – realizar operações com ações fora de mercado organizado, ressalvadas


as hipóteses de distribuições públicas, de exercício de direito de preferência
e de conversão de debêntures em ações, exercício de bônus de subscrição,
negociação de ações vinculadas a acordo de acionistas e nos casos em que a
CVM tenha concedido prévia e expressa autorização;

VI – utilizar recursos do fundo para pagamento de seguro contra perdas


financeiras de cotistas; e
VII – praticar qualquer ato de liberalidade.

Substituição do administrador e do gestor

O administrador e o gestor da carteira do fundo devem ser substituídos nas


hipóteses de descredenciamento na CVM para o exercício de suas
atividades; por renúncia; ou por destituição, em caso de deliberação em
assembleia geral.

6.2.3Custodiante
Responsável pela guarda dos títulos que compõem a carteira do fundo,
respondendo pelo controle das posições do fundo e por contabilizá-las pelo
seu valor de mercado.

6.2.4Distribuidor
Vende as cotas do fundo. Esse é o papel dos bancos, de DTVMs e de
alguns agentes autônomos de investimento na indústria de fundos. Deve ser
sempre uma instituição financeira. Pode ser o próprio administrador.

6.2.5Auditor independente
Responsável pela conferência da metodologia contábil adotada pelo fundo.
Note que gestor e distribuidor são figuras diferentes. Nem sempre quem
vende é a mesma instituição que faz a gestão da carteira. No Banco do
Brasil, por exemplo, quem distribui (vende) os fundos são formalmente as
agências, por meio dos seus gerentes. Já quem faz a gestão e administra os
fundos distribuídos nas agências do banco é a BB DTVM.

Essa questão de segregação de funções (chinese wall, também conhecida


como barreira de informação) é muito importante, pois atribui
responsabilidades bem definidas e evita conflitos de interesse. Essa norma
foi instituída em 1995 pelo Banco Central. Na época, havia uma grande
preocupação com relação a quem cuida dos recursos da carteira do banco e
dos clientes. Foi nesse mesmo período que muitos bancos criaram as
empresas de asset management.4 Hoje em dia, muitas assets são empresas
independentes operacional e fisicamente da tesouraria5 dos bancos. Isso
evita possíveis problemas de conflito de interesse entre a administração da
carteira do banco e dos recursos de clientes, preservando, dessa forma, o
investidor.

Conheça a forma como está dividido esse mercado de gestão e


administração de recursos:

Tabela 6.1 Maiores administradores de recursos – julho 2019

Ranking

Administrador

Total de Ativos R$ milhões

Market Share

BB DTVM S.A.

1.043.965

20,5%

2
ITAÚ UNIBANCO S.A.

697.910

13,7%

BRADESCO

524.520

10,3%

CAIXA

424.480

8,3%

BEM
371.482

7,3%

INTRAG

366.318

7,2%

BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.

310.608

6,1%

BNY MELLON SERVIÇOS FINANCEIROS DTVM S.A.

274.936

5,4%
9

BTG PACTUAL

179.837

3,5%

10

CREDIT SUISSE HEDGING-GRIFFO COR VAL S.A.

165.816

3,3%

Outros

726.756

14,3%
TOTAL

5.086.627

100,0%

Fonte: ANBIMA.

Tabela 6.2 Maiores gestores de recursos – julho 2019

Ranking

Gestor

Total de Ativos R$ Milhões

Market Share

BB DTVM S.A.

1.042.993,08

20,5%

2
ITAÚ UNIBANCO S.A.

724.214,15

14,2%

BRADESCO

591.332,71

11,6%

CAIXA

361.112,52

7,1%

BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.


267.788,07

5,3%

BTG PACTUAL

105.220,19

2,1%

SAFRA

99.185,36

1,9%

CREDIT SUISSE

78.369,05

1,5%
9

KINEA INVESTIMENTO LTDA

62.680,73

1,2%

10

BW GESTÃO DE INVESTIMENTO LTDA

55.476,59

1,1%

Outros

1.698.254,39

33,4%
TOTAL

5.086.626,85

100,0%

Fonte: ANBIMA.

Quanto ao item de segregação de funções, vale também lembrar que todas


as atividades de administração de recursos de terceiros têm que ser
totalmente separadas da administração de recursos da tesouraria do banco.
A norma obriga as instituições financeiras a manterem diretorias separadas
para essas duas atividades e, além disso, devem estar fisicamente
separadas. Por isso, muitas instituições financeiras acabaram dirigindo toda
a parte de administração e gestão de recursos de terceiros para suas
DTVMs. Foi um grande salto na indústria de fundos de investimentos, já
que havia muito conflito de interesses ao manter a administração de
recursos da instituição financeira e de clientes sob um mesmo guarda-
chuva.

6.3Assembleia geral de cotistas


Assim como no condomínio do nosso prédio há assembleia de condôminos,
os fundos de investimento também têm assembleias para resolver questões
de interesse do fundo. Compete privativamente à assembleia geral de
cotistas deliberar sobre:

demonstrações contábeis apresentadas pelo administrador;

■substituição do administrador, do gestor ou do custodiante do fundo;

■fusão, incorporação, cisão, transformação ou liquidação do fundo;


■aumento da taxa de administração;

■alteração da política de investimento do fundo;

■emissão de novas cotas, no fundo fechado;

■amortização de cotas, caso não esteja prevista no regulamento;

■alteração do regulamento.

A convocação da assembleia geral deve ser feita por correspondência


encaminhada a cada cotista, com 10 dias de antecedência, no mínimo, da
data de sua realização, contendo a pauta da assembleia, dia, local e hora de
realização.

Anualmente a assembleia geral deverá deliberar sobre as demonstrações


contábeis do fundo, fazendo-o até 120 dias após o término do exercício
social.

Além da assembleia descrita acima, o administrador, o gestor, o custodiante


ou o cotista ou grupo de cotistas que detenham, no mínimo, 5% do total de
cotas emitidas poderão convocar a qualquer tempo assembleia geral de
cotistas, para deliberar sobre ordem do dia de interesse do fundo ou dos
cotistas.

A assembleia geral se instalará com a presença de qualquer número de


cotistas e as deliberações serão tomadas por maioria de votos, cabendo a
cada cota um voto.

Os cotistas também poderão votar por meio de comunicação escrita ou


eletrônica, desde que recebida pelo administrador antes do início da
assembleia, observado o disposto no regulamento.
Na busca de evitar conflito de interesses, não podem votar nas assembleias
gerais do fundo:

■seu administrador e seu gestor;

■os sócios, diretores e funcionários do administrador ou do gestor;

■empresas ligadas ao administrador ou ao gestor, seus sócios, diretores,


funcionários;

■prestadores de serviços do fundo, seus sócios, diretores e funcionários.

O resumo das decisões da assembleia geral deverá ser enviado a cada


cotista no prazo de até 30 dias após a data de sua realização, podendo ser
utilizado para tal finalidade o extrato de conta mensal.

6.4Direitos e obrigações dos condôminos


Ao comprar cotas de um determinado fundo, o investidor está concordando
com suas regras de funcionamento, passando a ter os mesmos direitos e
deveres dos demais cotistas, independentemente da quantidade de cotas
adquiridas.

Para que possa tomar conhecimento dessas regras e dos riscos do fundo
antes de investir, o investidor deve receber o regulamento do fundo, o
formulário de informações complementares e a lâmina de informações
essenciais. O investidor, inclusive, tem que assinar o termo de adesão, um
documento que deixa claro que recebeu, leu e entendeu o que está nos
documentos mencionados, inclusive com relação aos riscos, concordando
com os mesmos.
Além disso, o cotista deve receber, periodicamente, os relatórios sobre as
atividades do fundo e as informações relevantes, assim que ocorrerem. Em
outras palavras, as informações que possam influenciar na decisão de
permanecer investindo devem ser divulgadas ampla e imediatamente.

Em contrapartida, o cotista deve manter seu cadastro atualizado junto ao


administrador, acompanhar todas as informações relativas ao fundo e
participar das assembleias. Ele pode, inclusive, destituir o gestor e o
administrador do fundo caso julgue que o trabalho destes não está a
contento. Para que isso ocorra, ele precisa chamar uma assembleia de
cotistas e ter sua reivindicação votada e aprovada.

Entretanto, se o fundo “quebrar”, ele é chamado para aportar recursos no


fundo. Relembro a assinatura do termo de adesão antes de sua aplicação,
quando o cotista concordou com a política de investimento do fundo e seus
riscos, confirmando ter recebido, lido e entendido o seu regulamento e
demais documentos do fundo.

6.5A cota e a Marcação a Mercado


Cota é o valor mínimo que se pode adquirir de um fundo. Na maioria dos
fundos, a cota é calculada diariamente, tendo por base a divisão do
patrimônio líquido do fundo pela sua quantidade de cotas. E, como o
cálculo do patrimônio líquido leva em consideração todo o ativo do fundo
(os investimentos) descontados os custos e despesas, pode-se afirmar que a
cota de um fundo é líquida da taxa de administração, cabendo ao cotista, no
resgate, somente o desconto dos impostos, quando aplicáveis.

Para saber a quantidade de cotas que se adquiriu no momento da aplicação


em um fundo, basta dividir o valor aplicado pelo valor da cota do fundo.

É importante mencionar também que há dois tipos de cotas:

■cota de abertura;
■cota de fechamento.

6.5.1Cota de abertura
No caso dos fundos que trabalham com cota de abertura, o valor da cota já
é conhecido pela manhã. Em outras palavras, a divulgação da cota do dia
válida para aplicação e resgate no dia é feita antes de o fundo abrir para
negociar suas cotas. Ao fazer uma aplicação ou um resgate no fundo, já se
conhece a cota a ser obtida.

A cota de abertura é calculada tendo por base o fechamento dos preços dos
ativos do dia anterior, atualizado por um dia. Mas será possível atualizar o
valor de um ativo antes de o mercado abrir? Esse é o problema dos fundos
que trabalham com cota de abertura, uma vez que essa metodologia pode
não ser justa quando ocorrerem oscilações bruscas no mercado, afetando os
papéis da carteira do fundo. Dessa forma, pode haver o caso de algum
cotista que conheça a carteira do fundo, sabedor do que aconteceu no
mercado naquele dia e de como esse evento vai influenciar a variação da
cota do fundo, solicitar resgate ou aplicação no fundo antes de ele fechar
para movimentação, já tendo em mente as possíveis variações na sua cota,
desfrutando das vantagens e deixando perdas para os cotistas que ficarem
no fundo.

Dadas as dificuldades aqui comentadas, somente fundos com baixa


volatilidade podem trabalhar com cota de abertura, tais como fundos de
curto prazo, fundo DI e de renda fixa, em alguns casos.

6.5.2Cota de fechamento
No caso de fundo que trabalha com cota de fechamento, a cota divulgada
no dia é relativa ao dia anterior, como no caso dos fundos de ações e
multimercados, por exemplo. Ao aplicar nesses fundos, o investidor
compra ou resgata a cota que será anunciada no dia seguinte, mas que tem a
data da véspera. A cota de fechamento é apurada e conhecida apenas no
fechamento do dia, ou seja, após o encerramento dos mercados, e seu
cálculo tem por base o valor de mercado dos ativos no fechamento do dia,
não sendo necessário, portanto, atualizar o valor do ativo antes de o
mercado abrir.

6.5.3Transferência de titularidade
Cabe ao administrador a responsabilidade do registro dos cotistas e das
quantidades de cotas que cada um detém no fundo. No caso de fundo
fechado, o resgate de cotas não é possível antes da liquidação da totalidade
ou parte do fundo. Logo, quando o cotista deseja “resgatar”, na prática ele
terá que vender suas cotas no mercado secundário, ao que se dará a
transferência de titularidade de suas cotas, mediante termo de cessão e
transferência, assinado pelo cedente e pelo cessionário, quando as cotas não
forem admitidas à negociação em mercado organizado. Neste caso, suas
cotas estarão admitidas à negociação, e a transferência de titularidade
condicionada à verificação, pelo administrador, do atendimento das
formalidades estabelecidas no regulamento e na regulamentação.

A transferência de titularidade no caso de fundos abertos só ocorre em


casos devidamente determinados em juízo, como no caso de sucessão,6 por
exemplo.

6.5.4Marcação a Mercado
Para o cálculo do patrimônio líquido do fundo – e posteriormente da cota –,
todos os ativos que compõem sua carteira devem ser marcados a mercado,
o que significa que todo título deve ser precificado pelo preço atribuído a
ele pelo mercado, e não pelo seu valor histórico.

O conceito de Marcação a Mercado permite conhecer o valor atual real de


fluxos futuros que compõem uma carteira de títulos, ou seja, o valor que se
poderia obter no mercado, na hipótese de realização dos ativos. Em outras
palavras, no caso, por exemplo, dos títulos de renda fixa, o valor a mercado
de um ativo é encontrado trazendo-se a valor presente o valor de
vencimento do mesmo, por meio de um fator de desconto (correspondente
à data de vencimento do ativo) obtido da curva de juros.
As ações são valorizadas a mercado diariamente pelas cotações de
fechamento do pregão da B3. Não havendo negociação no dia, é mantido o
preço médio do último pregão em que houve negociação. Todo título
negociado em bolsa é de fácil precificação, pois, via de regra, oferece
relativa liquidez.

Já os títulos de renda fixa privados têm precificação mais elaborada. Na


verdade, eles valem um fluxo de caixa descontado, conforme estudado no
Capítulo 3 e mencionado em parágrafo anterior.

É importante que se compreendam os efeitos da não Marcação a Mercado


dos ativos na cota de um fundo. Suponha que você tenha uma aplicação em
um fundo que não segue a metodologia de Marcação a Mercado. Um dia,
outro investidor deseja resgatar suas cotas e o fundo precisa fazer caixa
para pagar esse resgate, vendendo títulos no mercado. Pode ocorrer de o
gestor não conseguir se desfazer do papel pelo mesmo preço com que ele
esteja contabilizado na carteira do fundo, dado que está precificado pelo
seu valor histórico. Se for um fundo cujo resgate seja feito pela cota de
abertura, o cotista que está resgatando sairá overpriced (com um valor de
cota mais alto), enquanto os que ficaram arcarão com a possível perda que
possa ter havido com a venda dos papéis. Do outro lado, quem está
aplicando também compraria uma cota que não refletiria sua real situação
de mercado. Supondo que esse investidor tivesse a possibilidade de
comprar os títulos em separado, a preço de mercado, que podem estar mais
caros ou mais baratos que seus valores históricos, é justo que ele compre
uma cota que reflita o mais fielmente possível a realidade.

Com base no valor diário da cota, o investidor pode calcular, ainda, seu
patrimônio no fundo, bem como a rentabilidade que vem obtendo. Para
saber o valor atualizado investido em um fundo, basta multiplicar a
quantidade de cotas pelo valor individual.

6.5.5Dinâmica de aplicação e resgate de cotas


Na emissão das cotas do fundo deve ser utilizado o valor da cota do dia ou
do dia seguinte ao da efetiva disponibilidade dos recursos investidos,
segundo o disposto no regulamento.
O resgate de cotas de fundo obedecerá às seguintes regras:

■o regulamento estabelecerá o prazo entre o pedido de resgate e a data de


conversão de cotas, que se dará pelo valor da cota do dia na data de
conversão, observada, se for o caso, a forma de cálculo da cota de abertura
para fundos de curto prazo, renda fixa e referenciado;

■o pagamento do resgate deverá ser efetuado em cheque, crédito em conta-


corrente ou ordem de pagamento, no prazo estabelecido no regulamento,
que não poderá ser superior a cinco dias úteis, contados da data da
conversão de cotas;

■o regulamento poderá estabelecer prazo de carência para resgate, com ou


sem rendimento;

■salvo na hipótese de ocorrência excepcional de iliquidez, será devida ao


cotista uma multa de 0,5% do valor de resgate, a ser paga pelo
administrador do fundo, por dia de atraso no pagamento do resgate de
cotas.

Os fundos de ações trabalham com cota de fechamento de D+1 na


aplicação e de até D+3 no resgate. Isso porque, ao solicitar o resgate, o
gestor terá de vender ações (o que ocorre, via de regra, em D+1) para fazer
face ao pagamento. Como a liquidação financeira de ações é em D+2, logo
serão necessários três dias para proceder ao pagamento do cotista (1 para
vender + 2 para liquidar).

6.5.6Casos excepcionais de iliquidez


Em casos excepcionais de iliquidez dos ativos componentes da carteira do
fundo, inclusive em decorrência de pedidos de resgates incompatíveis com
a liquidez existente, ou que possam implicar alteração do tratamento
tributário do fundo ou do conjunto dos cotistas, em prejuízo destes últimos,
o administrador poderá declarar o fechamento do fundo para a realização
de resgates, sendo obrigatória a convocação de assembleia geral
extraordinária, no prazo máximo de um dia, para deliberar, no prazo de 15
dias, a contar da data do fechamento para resgate, sobre as seguintes
possibilidades:

substituição do administrador, do gestor ou de ambos;

■reabertura ou manutenção do fechamento do fundo para resgate;

■possibilidade do pagamento de resgate em títulos e valores mobiliários;

■cisão do fundo;

■liquidação do fundo.

O fechamento do fundo para resgate deverá, em qualquer caso, ser


imediatamente comunicado à CVM.

A assembleia deverá realizar-se mesmo que o administrador delibere


reabrir o fundo antes da data marcada para sua realização.

Fechamento temporário do fundo

O administrador pode suspender, a qualquer momento, novas aplicações no


fundo, desde que tal suspensão se aplique indistintamente a novos
investidores e cotistas atuais.
A suspensão do recebimento de novas aplicações em um dia não impede a
reabertura posterior do fundo para aplicações.
O administrador deve comunicar imediatamente aos distribuidores o
fechamento temporário do fundo.
6.6Taxas
6.6.1Taxa de administração
A taxa de administração é a remuneração dos prestadores de serviço para o
fundo, como administrador e gestor. Ela pode ter duas formas:

a)fixa;

b)de performance.

Fixa

Calculada e provisionada diariamente, tendo por base 1/252 de x% sobre o


patrimônio líquido do fundo e paga mensalmente. Entenda como funciona:
suponha um fundo que tenha uma taxa de administração de 2% e o
patrimônio líquido que se segue:

Dia 1 – R$ 320.000.000,00

Dia 2 – R$ 320.128.000,00

Cálculo da taxa de administração devida:

E vai assim todo dia, até o último dia útil do mês, provisionando
diariamente o valor da taxa de administração. No primeiro dia útil do mês
subsequente, o fundo tem provisionado um valor significativo, referente a
todos os dias úteis do mês anterior, e o gestor terá de vender papéis do
fundo para fazer frente a esse custo.

Em outras palavras, diariamente o fundo estava apenas contabilizando esse


custo, e o pagamento dele só ocorreu após fechado o mês. Dessa forma,
apesar de ocorrido o efeito no caixa do fundo, não houve desvalorização da
cota por conta desse pagamento, uma vez que o patrimônio líquido do
fundo já estava diminuído por conta da provisão.

Performance

O regulamento poderá estabelecer a cobrança da taxa de performance, que


pode ser cobrada por três métodos diferentes:

■método do ativo – com base no resultado do fundo;

■método do passivo – com base no resultado de cada aplicação efetuada


por cada cotista;

■método do ajuste – com base no resultado do fundo, acrescida de ajustes


individuais, exclusivamente nas aplicações efetuadas posteriormente à data
da última cobrança de taxa de performance, até o primeiro pagamento de
taxa de performance como despesa do fundo, promovendo a correta
individualização dessa despesa entre os cotistas.

A cobrança da taxa de performance deve atender aos seguintes critérios:

■vinculação a um parâmetro de referência compatível com a política de


investimento do fundo e com os títulos que efetivamente a componham;

■vedação da vinculação da taxa de performance a percentuais inferiores a


100% do parâmetro de referência;
■cobrança por período, no mínimo, semestral;

■cobrança após a dedução de todas as despesas, inclusive da taxa de


administração.

É vedada a cobrança de performance quando o valor da cota do fundo for


inferior ao seu valor por ocasião da última cobrança efetuada, exceto para
os fundos destinados exclusivamente a investidores qualificados e
profissionais, que poderão cobrá-la de acordo com o que dispuser o seu
regulamento.

Em outras palavras, a taxa de performance cobrada pelos fundos segue um


critério conhecido como linha d’água, ou seja, sua cobrança fica
condicionada ao valor atual da cota ser superior ao valor da cota referente
ao último pagamento da taxa de performance.

Veja como funciona o critério de linha d’água:

Suponha um fundo que cobra taxa de performance de 20% sobre o que


ultrapassar o CDI, utilizando o método ativo. Nota: a taxa é provisionada
diariamente e paga semestralmente.

Primeira hipótese:

■Variação no valor da cota do fundo no 1o período: 4,05%

■Variação do CDI no fim do 1o período: 4,10%

A cota do fundo rentabilizou abaixo do CDI. Logo, não há pagamento de


performance.
Segunda hipótese:

■Variação no valor da cota do fundo no 2o período: 3,97%

■Variação do CDI no fim do 2o período: 3,85%

A cota do fundo rentabilizou 0,12 ponto percentual acima do CDI. Logo, a


taxa de performance é devida e será cobrada no percentual de 20% sobre
essa rentabilidade que ultrapassou o CDI.

Entretanto, se no período subsequente a cota do fundo for inferior à última


cota, ou seja, a rentabilidade do fundo for negativa, não haverá pagamento
de performance. Isso só ocorrerá quando a cota for superior à do último
pagamento de taxa de performance.

Terceira hipótese:

■Variação no valor da cota do fundo no 3o período: – 0,43%

■Variação do CDI no fim do 3o período: 3,02%

O valor da cota no fim do 3o período é menor que no fim do 2o período.


Logo, a cobrança de performance não é devida. Ela somente será devida
quando o valor da cota ultrapassar o valor sobre o qual foi cobrada
performance no último período. Resumindo, para que haja pagamento de
performance, o valor da cota do fundo tem de:

1.ser maior que o valor anterior; e


2.ter variação acima do benchmark.

É permitida a cobrança de ajuste sobre a perfomance individual do cotista


que aplicar recursos no fundo posteriormente à data da última cobrança,
exclusivamente nos casos em que o valor da cota adquirida for inferior ao
valor da mesma na data da última cobrança de performance efetuada.

Fundos que podem cobrar taxa de performance

De acordo com a Instrução CVM 555, além dos fundos destinados somente
a aplicação de investidores qualificados, os fundos citados a seguir podem
cobrar taxa de performance, desde que especificado em seus regulamentos:

■renda fixa longo prazo;

■cambiais;

■ações;

■renda fixa dívida externa;

■multimercados.

Fica vedada a cobrança de taxa de performance no caso de fundo de renda


fixa enquadrado como curto prazo para fins de tributação e renda fixa
simples.

6.6.2Outras taxas
Taxa de entrada
A taxa de entrada é cobrada no momento da aplicação no fundo. Um
exemplo vivo de taxa cobrada na aplicação é a taxa de carregamento,
cobrada pelos fundos de previdência privada (PGBL e VGBL). Essa taxa
de carregamento é um percentual cobrado sobre o valor de cada aplicação
no fundo e serve para constituir um tipo de fundo de resgate ou para
remunerar o distribuidor.

Taxa de saída

A taxa de saída é devida no momento do resgate do fundo e normalmente é


cobrada com a finalidade de ressarcir o prejuízo que o resgate pode causar
aos demais cotistas, o que acaba sendo visto pelo mercado como uma
penalidade ao investidor que solicita o resgate antes do prazo de liquidez
previsto no regulamento do fundo.

Os fundos que têm resgate em D+30, por exemplo, normalmente têm no


regulamento prevista a cobrança de taxa de saída caso o investidor solicite
a liquidação antes desse prazo. Isso ocorre porque esses fundos têm ativos
com liquidez menor. Então, se o gestor tiver de vender os papéis do fundo
com pressa, pode não obter um preço que favoreça a cota do fundo e
prejudique os demais cotistas. Nesses casos, a taxa de saída é devida e paga
ao fundo.

Uma outra família de fundos que cobra taxa de resgate é dos fundos que
garantem o principal investido no resgate (os chamados fundos de capital
protegido ou garantido). Isso ocorre porque as operações desses fundos têm
data de vencimento, e sua liquidação antecipada pode acarretar perdas
consideráveis.

6.6.3Outras considerações
No que tange à cobrança de taxa de administração, vale ainda acrescentar
que normalmente:
■quanto maior o risco do fundo, maior a taxa de administração. Essa
afirmativa tem por base o fato de que fundos com maiores riscos requerem
mais trabalho de análise dos seus gestores;

■quanto maior o valor mínimo de aplicação aceito por um fundo, menor


sua taxa de administração. Tal prática busca incentivar a captação de
volumes maiores, bem como não matar produtos concorrentes como
poupança, por exemplo;

■a performance de um fundo com perfil mais conservador, como os


referenciados DI e os simples (criados com a Instrução CVM 555), sofre
grande influência da taxa de administração. Em outras palavras, para
fundos com carteira de risco baixo e semelhantes, o que irá definir a
rentabilidade do fundo será sua taxa de administração. Quanto maior a taxa,
menor a rentabilidade.

Veja, a seguir, a influência da taxa de administração na performance de um


fundo. Suponha um fundo DI com taxa de administração de 2% a.a. e
analise a tabela que se segue.

Tabela 6.3 Variação anual do CDI e seu efeito na rentabilidade do fundo

CDI

15%

10%

(–) Taxa de administração

2%
2%

Rentabilidade

13%

8%

Rentabilidade % do CDI

87% do CDI

80% do CDI

Essa tabela mostra a variação de 87% para 80% do CDI, devido apenas à
variação na taxa de juros de 15% para 10%, sem qualquer interferência da
qualidade da gestão. Fica claro que não há como garantir uma rentabilidade
percentual do CDI de um fundo para o investidor, dado que as mudanças
no nível da taxa de juros podem ocorrer com certa frequência.

Outros fatores, além da taxa de administração, são também importantes na


valorização da cota, tais como a composição da carteira do fundo; a
metodologia para a contabilização de ativos, se Marcação a Mercado ou
não, como visto anteriormente; despesas diversas dos fundos, como de
auditoria, por exemplo; e movimentos de saque e aplicação de grandes
volumes, obrigando o gestor a vender papéis da carteira do fundo de uma
hora para outra.

Por fim, a taxa de administração deve constar claramente do regulamento


do fundo e somente pode ser elevada por decisão da assembleia geral de
condôminos. Além de remunerar o administrador, deve servir também para
pagar as despesas decorrentes de serviços de consultoria relativamente à
análise e seleção de ativos para integrarem a carteira do fundo e àquelas
decorrentes da delegação de poderes para administrar referida carteira,
mediante terceirização de gestão.

Importante relembrar, por fim, que os FICs (fundos de investimento em


cotas de fundos de investimento) têm de expressar em seus regulamentos
todas as taxas cobradas pelos FIs (fundos de investimento) em que aplicam,
bem como a taxa cobrada pelo FIC para administrar seu patrimônio. A
seção 6.7.3 explicará a diferença de um FIC para um FI.

6.7Tipos de fundos
6.7.1Fundos abertos × fechados
Os fundos fechados emitem uma certa quantidade de cotas ao serem
lançados, quantidade esta previamente especificada. A distribuição de cotas
de fundo fechado destinado ao público em geral deve ser precedida de
registro de oferta pública de distribuição. Após o lançamento do fundo,
suas cotas só podem ser negociadas no mercado secundário, ficando seu
preço determinado pela oferta e demanda.

A cota dos fundos fechados possui dois valores:

■patrimonial – dado pelo valor do patrimônio líquido do fundo dividido


pelo número de cotas, como nos fundos abertos;

■valor de mercado – dado pelo mercado secundário. Este é o valor que


interessa ao cotista que deseja vender suas cotas ou comprar mais cotas
antes da liquidação do fundo.

A forma fechada é ideal para fundos que aplicam em ativos de baixíssima


liquidez, como empresas de capital fechado, imóveis ou small caps,7 pois
desobriga o gestor de vender ativos quando algum cotista deseja resgatar as
cotas do fundo.

O resgate das cotas dos fundos fechados só ocorre ao término do prazo de


duração do fundo.

Os fundos abertos emitem cotas indefinidamente, como aqueles que


normalmente investimos nos bancos. Eles também fazem a recompra das
cotas, quando o investidor deseja resgatar os recursos aplicados. Não há
necessidade de registro de suas cotas na CVM.

6.7.2Fundos com carência × sem carência


Os fundos, independentemente de serem abertos ou fechados, podem ter
carência para resgate. Os fundos vendidos no varejo, como os fundos de
renda fixa referenciados DI, não costumam ter carência, pagando resgates
em D+0, via de regra. Entretanto, há fundos cujo resgate só é pago 30, 60
ou 90 dias após a solicitação do resgate. Esses fundos são tidos como “com
carência”. Vale observar, com atenção à regra de carência nos fundos, que
deve ser estabelecida no regulamento e no formulário de informações
complementares do fundo, antes da aplicação, bem como nos prospectos,
nos casos em que estes documentos estiverem disponíveis ao investidor.

6.7.3Fundo de investimento × fundo de investimento em cotas (FIC)


Os fundos podem ser de dois tipos:

■Fundo de investimento (FI) – compra títulos e valores mobiliários


negociados no mercado financeiro e de capitais;

■Fundo de investimento em cotas de fundos de investimento (FICFI ou


FIC) – compra cotas de fundos de investimento e pode ter no máximo 5%
de títulos na sua carteira.

Os FICs foram criados basicamente por dois motivos:


1.Permitir que o gestor escolha os melhores fundos do mercado, juntando
todos em um único fundo. São conhecidos como “fundos de fundos”.

Figura 6.1 Estrutura teórica de um fundo de fundos.

2.Permitir que os administradores criassem vários fundos com a mesma


política de investimento e que se diferenciassem apenas pela taxa de
administração. Isso permite que o gestor administre apenas uma carteira e
que os FICs que estão embaixo de seu guarda-chuva sirvam apenas para
gerenciar a parte dos cotistas e custos de cada fundo em separado. Veja o
exemplo que se segue:

Figura 6.2 Exemplo de administração de uma carteira de fundos.

Todos os quatro FICs compram cotas do FI DI. Essa metodologia costuma


ser usada por grandes bancos, que querem diferenciar a taxa de
administração cobrada dos cotistas de acordo com o volume investido, para
não matar produtos como poupança e CDB, atraindo, ao mesmo tempo,
grandes investidores.
De acordo com a regra vigente em 2015, a carteira dos FICs deve ser
composta por um mínimo de 95% do PL e deve ser aplicado em cotas de
fundos de investimento de uma mesma classe, exceto os fundos de
investimento em cotas classificados como “multimercados”, que podem
investir em cotas de fundos de classes distintas. Os restantes 5% do
patrimônio do fundo poderão ser mantidos em depósitos à vista ou
aplicados em:

■títulos públicos federais;


■títulos de renda fixa de emissão de instituição financeira;

■operações compromissadas, de acordo com regulamentação do CMN.

Outras informações relevantes da regulamentação sobre o FIC:

■Deverá constar da denominação do fundo a expressão “Fundo de


Investimento em Cotas de Fundos de Investimento” acrescida da classe dos
fundos investidos de acordo com regulamentação específica.

■Não estão autorizadas aplicações em cotas de fundos que não estejam


previstos na Instrução CVM 555.

■O documento de divulgação do fundo de cotas (FIC) que aplicar seus


recursos em um único fundo de investimento deverá divulgar o somatório
da taxa de administração do fundo de cotas e do fundo investido.

■O FIC deverá estabelecer em seu regulamento que a taxa de


administração cobrada pelo administrador compreende a taxa de
administração dos fundos de investimento em que ele invista, além da sua
própria.

6.7.4Classificação dos fundos segundo Instrução CVM 555


A Instrução CVM 555 é a mãe dos fundos de investimento. Publicada em
dezembro de 2014 em substituição à 409, demorou 10 meses entre sua
publicação e sua entrada em vigor (1o/10/2015), por conta dos necessários
ajustes do mercado às novas regras.

A Instrução CVM 555 agrupa os fundos em quatro grandes classes, que


serão detalhadas nesta seção: renda fixa, ações, cambial e multimercados.
Além disso, estabelece para o fundo que dispuser, em seu regulamento, que
tem o compromisso de obter o tratamento fiscal destinado a fundos de
longo prazo previsto na regulamentação fiscal (prazo médio da carteira
superior a 375 dias), que a expressão “longo prazo” deve ser incluída na
sua denominação.

Fundo de renda fixa

■Principal fator de risco de sua carteira: variação da taxa de juros, de


índice de preços, ou ambos.

■Deve ter, no mínimo, 80% da carteira em ativos relacionados diretamente,


ou sintetizados via derivativos, ao fator de risco que dá nome à classe, ou
em cotas de fundos de renda fixa.

■Pode utilizar a cota de abertura para conversão de cotas em aplicações e


resgates. Porém, os fundos classificados de longo prazo devem utilizar a
cota de fechamento.

■Só pode cobrar taxa de performance quando for destinado a investidor


qualificado, ou for de longo prazo ou de dívida externa, que serão
apresentados mais adiante.

■Tipos de fundos de renda fixa (o sufixo deve constar da denominação do


fundo):

○Curto prazo – aplica em títulos públicos federais ou privados com baixo


risco de crédito e utiliza derivativos só para proteção da carteira.

○Referenciado – a política de investimento assegura que ao menos 95% do


seu patrimônio líquido estejam investidos em ativos que acompanham,
direta ou indiretamente, determinado índice de referência.
○Simples – a carteira tem que ter 95% no mínimo de título público federal
ou privado de emissão ou coobrigação de instituições financeiras que
possuam classificação de risco atribuída pelo gestor como equivalente aos
títulos públicos federais, utilizando como comparação a Taxa Selic e tendo
como estratégia proteger o fundo de riscos de perdas e volatilidade. Além
disso, investe somente no Brasil, sendo vedada a cobrança de taxa de
performance. Dispensa a assinatura do termo de adesão e o processo de
suitability, caso seja o único investimento do cliente no mercado de
capitais.

○Dívida externa – aplica, no mínimo, 80% em títulos da dívida externa da


União, sendo permitida a aplicação de até 20% do patrimônio líquido em
outros títulos de crédito transacionados no mercado internacional.

■Quando o fundo tem em sua carteira mais de 50% em títulos privados, o


termo “Crédito Privado” deve ser adicionado ao nome do fundo.

Fundos de ações

■O patrimônio líquido de um fundo de ações é composto de, no mínimo,


67% dos seguintes ativos:

a)ações admitidas à negociação em bolsa de valores ou entidade do


mercado de balcão organizado;

b)bônus ou recibos de subscrição e certificados de depósito de ações


admitidas à negociação;8

c)cotas de fundos de ações e cotas dos fundos de índice de ações;

d)BDRs classificados como nível II e III.


■Fundo de ações – mercado de acesso – fundo de ações que tem 2/3 do seu
patrimônio líquido investido em ações de companhias listadas no mercado
de acesso da B3.9 Aplicações neste fundo estão isentas de imposto de renda
até julho de 2024.

Fundos cambiais

■A carteira do fundo deve ser constituída por, no mínimo, 80% de ativos


cujo principal fator de risco seja a variação de preços de moeda estrangeira
(euro, dólar ou outra) ou a variação cambial do cupom cambial.

■A moeda que constitui o fator de risco do fundo deve fazer parte da


denominação do fundo.

Fundos multimercados

■Sua política de investimento envolve vários fatores de risco, sem o


compromisso de concentração em nenhum fator especial. Por isso, a leitura
dos documentos do fundo, como o regulamento, por exemplo, torna-se
ainda mais importante antes de o cliente aplicar em um fundo
multimercados.

6.8Política de investimento
Política é um conjunto de regras. Logo, política de investimento se refere
ao conjunto de regras que regem o investimento do fundo, que devem ser
claramente definidas para o investidor em todo o material de vendas e
devem constar em detalhes do seu regulamento, formulário de informações
complementares e prospecto,10 quando houver, com relação ao:

■percentual máximo de aplicação em títulos e valores mobiliários de


emissão do administrador, gestor ou de empresa a eles ligada;
■percentual máximo de aplicação em cotas de fundos de investimento
administrados pelo administrador, gestor ou empresa a eles ligada;

■percentual máximo de aplicação em títulos e valores mobiliários de um


mesmo emissor;

■propósito do fundo de realizar operações em valor superior ao seu


patrimônio, com a indicação de seus níveis de exposição em mercados de
risco.

Fundos passivos × ativos

Os fundos podem ser ativos ou passivos, de acordo com os seus objetivos.

■Fundos ativos – buscam ultrapassar o benchmark.11

■Fundos passivos – buscam acompanhar o benchmark.

Em tese, parece simples acompanhar o benchmark, porém, a sua replicação


é tarefa difícil, dado que os fundos têm custos (taxas de administração,
taxas de fiscalização e corretagem, dentre outras). Além disso, as regras de
contabilização a mercado (Marcação a Mercado) contribuem para a maior
volatilidade de um fundo. Mesmo quando o gestor consegue acompanhar a
rentabilidade do benchmark, no resgate do fundo há incidência de imposto
de renda, diminuindo ainda mais os ganhos do investidor.

Normas relativas à concentração em créditos privados

Quando o patrimônio líquido do fundo ultrapassar 50% em créditos


privados, a expressão “Crédito Privado” deverá constar na denominação do
fundo. Lembrando que crédito privado é tudo que não seja título público.
Esses fundos são obrigados pela norma a incluir essa informação em
destaque no termo de adesão e ciência de risco.

Regras relativas à concentração por emissor

O fundo observará os seguintes limites de concentração por emissor, sem


prejuízo das normas aplicáveis à sua classe:

■até 20% do patrimônio líquido do fundo quando o emissor for instituição


financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil;

■até 10% do patrimônio líquido do fundo quando o emissor for companhia


aberta;

■até 10% do patrimônio líquido do fundo quando o emissor for fundo de


investimento;

■até 5% do patrimônio líquido do fundo quando o emissor for pessoa física


ou pessoa jurídica de direito privado que não seja companhia aberta ou
instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil;

■não haverá limites quando o emissor for a União Federal;

■os fundos destinados a investidores profissionais não precisam seguir


essas regras, desde que o regulamento assim especifique;

■o fundo não poderá deter mais de 20% (vinte por cento) de seu patrimônio
líquido em títulos ou valores mobiliários de emissão do administrador, do
gestor ou de empresas a eles ligadas, observando-se, ainda,
cumulativamente, que: “é vedada a aquisição de ações de emissão do
administrador, exceto no caso do fundo cuja política de investimento
consista em buscar reproduzir índice de mercado do qual as ações do
administrador ou de companhias a ele ligadas façam parte, caso em que tais
ações poderão ser adquiridas na mesma proporção de sua participação no
respectivo índice”.

Notas:

1.Consideram-se como de um mesmo emissor os ativos financeiros de


responsabilidade de emissores integrantes de um mesmo grupo econômico
(controladores, controlados, coligados ou submetidos a controle comum).

2.Caso a política de investimento do fundo permita a aplicação em cotas de


outros fundos, o administrador deverá assegurar-se de que, na consolidação
das aplicações do fundo investidor com os fundos investidos, os limites de
aplicação referidos não serão excedidos.

Ativos no exterior

Desde que negociados em mercados devidamente supervisionados por


órgãos reguladores e mantidos em custódia em instituição autorizada pela
autoridade competente, os fundos de investimento distribuídos nas redes de
varejo podem investir em ativos no exterior até 20% do patrimônio líquido
do fundo.

A exceção fica por conta do fundo de renda fixa dívida externa, cuja
aplicação no exterior é de 100%, e do fundo de renda fixa simples, que só
pode investir em ativos no mercado doméstico.

Alavancagem

Muitos fundos de investimento e posições de carteira de investimento


trabalham alavancados. Alavancar significa operar com recursos de
terceiros. Quando um fundo de investimento ou um investidor está
alavancado, ele está buscando ganhar mais dinheiro do que o custo do
dinheiro que teve de tomar com terceiros. Na prática, quem opera
alavancado investe mais do que de fato possui. Em outras palavras,
podemos definir alavancagem como a realização de investimentos em
montantes superiores aos que o investidor possui, utilizando capitais de
terceiros.

O Dicionário DocSlide dá um bom exemplo do que é alavancagem em seu


artigo:12

Imagine que um investidor queira comprar R$ 50 mil em determinada ação


e disponha de apenas R$ 30 mil. Esse investidor tem tanta certeza de que
vai obter lucro com o papel que pede um empréstimo de R$ 20 mil para
cobrir o restante da operação. Se as previsões dele se concretizarem, ao fim
de determinado período poderá vender o papel e apurar dinheiro suficiente
para pagar o empréstimo e ainda lucrar. Mas, se a ação se desvalorizar, ele
terá de conseguir mais dinheiro para cobrir o prejuízo. A isso, o mercado dá
o nome de alavancagem.

Trabalhar com recursos de terceiros – alavancar – é sempre arriscado, pois


só se consegue êxito quando as expectativas efetivamente se confirmam.
Em outras palavras, os ganhos obtidos por meio dos investimentos e
aplicações têm de superar os custos do capital obtido.

Como muitos fundos multimercados trabalham com algum grau de


alavancagem, investindo um montante acima do seu patrimônio e se
endividando para obter maiores ganhos, é muito importante informar o
cliente sobre os seus riscos antes de ele fazer o investimento. Conforme
explicado pelo referido dicionário:

Quem aplica em um fundo de investimentos que opera alavancado tem de


ter consciência do risco. Se as expectativas do gestor se confirmarem, a
alavancagem pode resultar em um rendimento extraordinário. No entanto,
se ocorrer o inverso, o fundo dará prejuízo e os cotistas podem até mesmo
ser obrigados a colocar mais dinheiro para cobrir o prejuízo. Por isso, é
importante ler com atenção o regulamento dos fundos antes de aplicar. Se o
fundo puder operar alavancado, essa informação, por lei, deve constar no
regulamento.

Vale lembrar que os cotistas dos fundos de investimento podem ser


chamados a colocar recursos no fundo para cobrir eventuais prejuízos.

Quando um fundo é alavancado duas vezes, o investidor pode perder duas


vezes o patrimônio líquido aplicado, conforme o seguinte exemplo.

Exemplo:

Valor aplicado em 05/07/2007: R$ 100.000,00

Valor do patrimônio valorizado em 12/05/2009: R$ 120.000,00

Supondo que o fundo seja alavancado duas vezes, o investidor pode perder
até R$ 240.000,00. Logo, ele pode ser chamado a aportar até R$
120.000,00 para cobrir eventuais prejuízos do fundo, conforme este
cálculo:

Perda máxima:

R$ 240.000,00
PL do investidor:

R$ 120.000,00

Valor a colocar:

R$ 120.000,00

6.9Instrumentos de informações e de rentabilidade


A Instrução CVM 555 tem um capítulo específico abordando os
documentos e informações do fundo. De acordo com a norma, são
documentos de divulgação dos fundos:

■Regulamento – documento que rege o fundo e que dispõe de todas as


informações relevantes para sua constituição, como, por exemplo, quem é o
gestor, o administrador, o custodiante, a política de investimento, se aberto
ou fechado, a taxa de administração, se cobra performance, condições de
aplicação e resgate de cotas, público-alvo, forma de comunicação com o
cotista e exercício social do fundo.

■Lâmina de informações essenciais – documento cujas informações são


padronizadas pela norma e que contém, de forma resumida, as principais
informações de um fundo de investimento, devendo ser atualizada
periodicamente (no caso de fundos de varejo, essa atualização costuma ser
mensal). Lá pode-se encontrar informações relativas a quem é o
administrador, o gestor, a rentabilidade, as condições de aplicação e
resgate, entre outras.

■Demonstração de desempenho – documento atualizado temporariamente


(em geral mensalmente), que contém várias informações relevantes, entre
elas a rentabilidade do fundo, sua comparação com o benchmark e as
principais despesas incorridas pelo fundo.

■Termo de adesão13 – todo cotista ao ingressar no fundo deve atestar,


mediante formalização de termo de adesão e ciência de risco, que: (i) teve
acesso ao inteiro teor do regulamento, da lâmina, se houver, e do
formulário de informações complementares e (ii) tem ciência dos fatores de
risco do fundo (listados os cinco principais fatores); de que não há qualquer
garantia contra eventuais perdas patrimoniais que possam ser incorridas
pelo fundo; de que a CVM não garante a veracidade das informações
prestadas ou de adequação do regulamento do fundo à legislação vigente ou
julgamento sobre a qualidade do fundo ou de seu administrador, gestor e
demais prestadores de serviços; e de que, se for o caso, as estratégias de
investimento do fundo podem resultar em perdas superiores ao capital
aplicado14 e a consequente obrigação do cotista de aportar recursos
adicionais para cobrir o prejuízo do fundo.
Além disso, a norma deixa claro que a concessão de registro para a venda
de cotas do fundo não implica, por parte da CVM, garantia de veracidade
das informações prestadas ou de adequação do regulamento do fundo à
legislação vigente ou julgamento sobre a qualidade do fundo ou de seu
administrador, gestor e demais prestadores de serviços.

No caso dos fundos alavancados, os documentos do fundo também devem


deixar explícito que as estratégias de investimento do fundo podem resultar
em perdas superiores ao capital aplicado e a consequente obrigação do
cotista de aportar recursos adicionais para cobrir o prejuízo do fundo.
Vale lembrar que as informações prestadas ou qualquer material de
divulgação do fundo não podem estar em desacordo com os documentos do
fundo protocolados na CVM.

Se você trabalha em uma instituição financeira, recomendo fortemente que


solicite uma lâmina e um regulamento de um fundo referenciado DI e de
um fundo multimercados que tenha bastante risco. Depois, com os dois em
mãos, procure compará-los.

Se você não trabalha em instituição financeira, os regulamentos e as


lâminas de todos os fundos estão disponíveis no site da CVM
(www.cvm.gov.br) em Informações de regulados/Fundos de
investimento/Consulta a informações de fundos/Fundos de investimento
registrados. Digite “Referenciado DI” e depois faça para Multimercado.
Escolha fundos de uma mesma instituição.

Outra possibilidade é entrar no site de um banco, na aba


Investimentos/Fundos de Investimentos. Em muitos sites de instituições
financeiras, ao se clicar no nome do fundo, abre-se uma página na qual
regulamento, lâmina e formulário de informações complementares dos
fundos estão disponíveis. Alguns disponibilizam, também, o prospecto.

Além de material de venda, ao se tornar cotista o investidor tem direito a


informações sobre o fundo, que devem ser disponibilizadas, inclusive as
relativas à composição da carteira, ao prazo e ao teor das informações, de
forma equânime entre todos os cotistas.

A Instrução CVM 555 obriga os administradores a disponibilizarem as


seguintes informações aos cotistas:

■diariamente – divulgar o valor da cota e do patrimônio líquido do fundo


aberto;
■mensalmente – remeter aos cotistas extrato de conta, contendo, além de
sua posição, a rentabilidade do fundo;

■anualmente – demonstrativos financeiros auditados e informação para


declaração de imposto de renda.

Essas informações podem ser divulgadas, enviadas e acessadas pela


internet, desde que previsto no regulamento do fundo.

Como mencionado no site da CVM, o público pode obter uma série de


informações sobre o fundo, inclusive quantidade de cotistas, valores da
cota e composição da carteira. Caso o fundo possua posições ou operações
em curso que possam vir a ser prejudicadas pela sua divulgação, o
demonstrativo da composição da carteira poderá omitir a identificação e a
quantidade das mesmas, registrando somente o valor e sua percentagem
sobre o total da carteira.

O administrador é obrigado a divulgar imediatamente, por meio de


correspondência a todos os cotistas, qualquer ato ou fato relevante
(disclaimer), de modo a garantir a todos os cotistas o acesso a informações
que possam, direta ou indiretamente, influenciar suas decisões quanto à
permanência no fundo ou, no caso de outros investidores, quanto à
aquisição das cotas.

O material de divulgação do fundo, assim como as informações a ele


referentes, não pode estar em desacordo com o regulamento e o formulário
de informações complementares ou com os demais documentos
protocolados na CVM.

Nenhum material de divulgação pode assegurar ou sugerir a existência de


garantia de resultados futuros ou isenção de risco para o investidor.
Qualquer divulgação de informação sobre os resultados do fundo só pode
ser feita, por qualquer meio, após um período de carência de seis meses, a
partir da data da primeira emissão de cotas.

6.10Clube de investimento
Um clube de investimento é uma aplicação financeira criada por um grupo
de pessoas que deseja investir seu dinheiro em ações. Ele pode ser criado
por empregados ou contratados de uma mesma entidade ou empresa ou,
ainda, por um grupo de pessoas que têm objetivos em comum, como
professores, metalúrgicos, donas de casa, médicos, aposentados, entre
outros.

Ele é parecido com um fundo de investimento, só que tem regras


específicas. Conheça algumas delas, conforme Instrução CVM 494/2011:

■deve ter, no mínimo, três cotistas fundadores e pode ter no máximo 50


membros;

■nenhum cotista pode ter mais do que 40% das cotas do clube;

■sua carteira pode ser constituída de no mínimo 67% de ações, bônus ou


recibos de subscrição, debêntures conversíveis em ações, cotas de ETF ou
certificado de depósito de ações;

■tem de ter um administrador, que pode ser uma corretora, DTVM, banco
de investimento ou banco múltiplo com carteira de investimentos;

■pode ter auditoria (os fundos são obrigados a ter auditor independente);

■pode ter uma regra definida pelos seus membros, como, por exemplo, ter
um plano de investimento, com contribuições periódicas dos cotistas para
formação de seu patrimônio.
O clube de investimento tem regras mais simples do que os fundos de
investimento e seu registro é feito diretamente na bolsa. Para registrar um
clube, os participantes devem preparar um estatuto15 e contar com os três
sócios fundadores, pelo menos.

Clube × fundo de investimento

Confira a seguir as diferenças básicas entre um clube de investimento e um


fundo de ações.

Quadro 6.1Diferenças básicas entre um clube de investimento e um fundo


de ações

Clube de investimento

Fundo de ações

Estrutura

Menos rígida.

Mais rígida.

Carteira
Mínimo de 67% em ações, bônus ou recibos de subscrição, debêntures
conversíveis em ações, cotas de ETF ou certificado de depósitos de ações.

Mínimo de 67% em ações, bônus ou recibos de subscrição e certificados de


depósito de ações, cotas de FIC e de FI, BDR.

Auditoria

Facultativa.

Obrigatória.

Mínimo de cotistas

Gestão

Pode ser feita pelos cotistas.

Tem de ser feita por gestor credenciado pela CVM.

Valor mínimo do PL

N.A.
Instrução CVM 555: R$ 1 milhão

Formulário de informações complementares

N.A.

Obrigatório nos fundos de varejo.

Venda para terceiros

Não pode ter distribuição pública.

Permitida.

Abertura da carteira

Essa é a ideia do clube.

Permitida quando a posição do fundo ficar prejudicada.

Imposto de renda

15% no resgate.

15% no resgate.

Publicação diária
N.A.

Têm de ser publicadas cota e rentabilidade diariamente.

6.11Carteira de investimentos
Quando se investe em um fundo de investimento, o cliente compra cotas de
um fundo e se torna cotista. Nesse caso, o titular dos títulos é o fundo e o
cliente é o cotista, sendo proprietário indireto dos investimentos. Já quando
o cliente opta por ter uma carteira de investimentos, ele se torna dono dos
investimentos diretamente.

No caso de pessoas físicas, uma carteira de investimentos não tem de


obedecer a regras rígidas da CVM na sua montagem e política de
investimento, dependendo do cliente as decisões de investimento. Se o
cliente optar por ter uma carteira discricionária, nesse caso a decisão de
investimento será do gestor contratado. Mas, mesmo assim, o titular dos
investimentos continua a ser o cliente.

Muito praticadas no mercado são as carteiras de investimentos cuja gestão


pode ser compartilhada, funcionando a instituição financeira mais como um
consultor.

As carteiras podem ser compostas por todos os tipos de investimento, tanto


de renda fixa pré ou pós-fixada quanto variável.

Tabela 6.4 Exemplo de carteira de investimentos

Ativo

Posição em D+0
1. 90.325,098564 cotas do ABC Fundo Referenciado DI

R$ 142.327,02

2. CDB do Banco XPT com vencimento para 05/09/201X

R$ 35.046,22

3. 500 ações da Vale – VALE5

R$ 18.790,00

4. 1.000 ações da Cemig – CMIG4

R$ 26.300,00

5. 185 NTN-B com vencimento para 15/08/2024

R$ 398.391,95

Total da carteira

R$ 620.855,19

Os ativos de uma carteira também podem ser impactados por variações nas
taxas de juros, câmbio e inflação, assim como sofrer riscos de mercado,
liquidez e crédito. Cabe ao gestor decidir que riscos correr e em que
magnitude, dependendo do perfil de risco traçado com o cliente.

Muitas vezes essa gestão é compartilhada entre o cliente e a instituição


financeira, outras vezes ela é de competência do banco, ao que se dá o
nome de gestão discricionária, em que a instituição financeira tem o
mandato do cliente para tomar decisões por ele, seguindo regras definidas
previamente.

Uma carteira bem diversificada e administrada é como um fundo de


investimento que contém vários ativos. No todo, quando as técnicas de
diversificação são aplicadas, ela é menos arriscada do que um investimento
em um único ativo, conforme observado no Capítulo 9. Embora o risco dos
ativos seja individual, no todo, o investidor aproveita dos benefícios da
diversificação.

Quando comparada a um fundo de investimento, o investidor em carteira


tem mais liberdade, podendo escolher o investimento a ser resgatado, por
exemplo. Dessa forma, uma carteira permite sua realocação de acordo com
especificidades do cliente, o que não ocorre no fundo que é gerido de
acordo com sua rígida política de investimento, a qual não pode ser alterada
sem consentimento dos cotistas em uma assembleia.

Vale lembrar, por fim, que a tributação aplicável a uma carteira de


investimentos é diferente da tributação de um fundo. Enquanto no fundo a
valorização da cota é o fato gerador do imposto de renda, em uma carteira
de investimentos a metodologia de imposto de renda depende de cada
investimento em separado, não se compensando os ganhos com as perdas e
sendo devido quando da liquidação de cada ativo.

6.12Tributação
6.12.1Fundos de renda fixa
O imposto de renda sobre os rendimentos produzidos por aplicações em
fundos de investimento é considerado como devido exclusivamente na
fonte – IRRF – e tem caráter definitivo, ou seja, esses rendimentos não
integram a base de cálculo do imposto de renda na Declaração de Ajuste
Anual. Assim, nem o valor do IR retido na fonte será compensável na
Declaração de Ajuste Anual da pessoa física, nem os rendimentos auferidos
na aplicação serão considerados como valores a serem tributados no ato da
formalização da Declaração.

Quanto ao prazo médio de carteira, classificam-se em:

■fundos de longo prazo: são aqueles cuja carteira de títulos tenha prazo
médio superior a 365 dias;

■fundos de curto prazo: são aqueles cuja carteira de títulos tenha prazo
médio igual ou inferior a 365 dias.

Quadro 6.2 Resumo das alíquotas de tributação em fundos de renda fixa

LONGO PRAZO

22,5% em aplicações com prazo de até 180 dias

20% em aplicações com prazo de 181 a 360 dias

17,5% em aplicações com prazo de 361 a 720 dias

15% em aplicações com prazo superior a 720 dias

CURTO PRAZO

22,5% em aplicações com prazo de até 180 dias


20% em aplicações com prazo superior a 180 dias

CVM × Receita Federal

É importante ressaltar que há diferenças na definição de fundo de curto


prazo entre a CVM e a Secretaria da Receita Federal (SRF).

Para a CVM, um fundo de curto prazo, além de títulos públicos federais ou


papéis de baixo risco de crédito, tem de ter papéis com vencimento máximo
em 375 dias e um prazo médio da carteira inferior a 60 dias. Já para a SRF,
todo fundo que tenha um prazo médio da carteira inferior a 365 dias é
considerado de curto prazo. Veja o esquema a seguir:

Figura 6.3 Diferenças na definição de fundo de curto prazo entre a CVM e


a SRF.

Come-cotas

Por essa sistemática, o administrador de fundos de investimento (todos


regulamentados pela Instrução CVM 555, exceto fundos de ações) deverá,
no último dia útil dos meses de maio e de novembro, abater do saldo de
cotas dos aplicadores a quantidade de cotas relativa ao valor do IR a ser
retido, à alíquota de 15% ou 20%, conforme seja respectivamente fundo de
longo prazo ou curto prazo. Deve-se imaginar uma “conta-corrente” de
cotas. Veja o exemplo:
Valor de aplicação

R$ 1.000,00

Total de cotas adquiridas

1.000

Rendimento em 31/05

R$ 23,00

IR incidente

R$ 4,60 (supondo-se alíquota de 20%)


IR em cotas

4,4965

Saldo final de cotas

995,5034

Por ocasião do resgate será cobrada alíquota adicional, conforme tempo de


permanência no fundo de investimento.

Fundos com carência de até 90 dias: o come-cotas deverá ser feito na data
em que se completar cada período de carência.

Responsável tributário e compensação de perdas em fundos de


investimento
O responsável tributário no caso de aplicações em fundos de investimento é
o administrador.

Como “prejuízo em resgate de cotas” entende-se a diferença negativa entre


a cota de aplicação e a cota de resgate.

Como exemplo, analise a seguinte situação:

Cota de aplicação:

R$ 1,5000

Aplicação:

R$ 1.500,00

Cota de resgate:
R$ 1,3880

Resgate:

R$ 1.388,00

Valor do prejuízo a compensar:

R$ 112,00

Quando houver resgate total das cotas, as perdas ocorridas deverão ser
utilizadas até o final do ano seguinte ao do evento.

Resgate total com perda:

18/08/20X1
Prazo final para compensação:

31/12/20X2

Com a entrada em vigor das Leis nos 11.033/2004 e 11.053/2004, a


compensação de perdas em fundos de investimento passou a obedecer ao
critério da mesma alíquota, ou seja, a partir de janeiro de 2005, somente
são compensadas as perdas apuradas em fundos com a mesma classe
tributária e administrados pelo mesmo administrador.

IOF

O IOF é devido no resgate efetuado até os primeiros 30 dias após a


aplicação, conforme tabela regressiva, disponibilizada no capítulo sobre
Renda Fixa. O imposto de renda é calculado depois de descontado o IOF.

6.12.2Fundos de ações e clubes de investimento


Os fundos e clubes de ações são tributados no momento do resgate, à
alíquota de 15% calculada sobre o rendimento, sendo o administrador o
responsável pelo recolhimento tributário. A exceção fica por conta dos
fundos de ações direcionados para empresas do mercado de acesso, cujos
rendimentos eram isentos de tributação até o final de 2014.

Não há incidência de IOF nos fundos e clubes de ações.


6.12.3Carteira de investimentos
A tributação de uma carteira de investimentos segue a regra aplicável a
cada produto separadamente.
6.13Código ANBIMA de Administração de Recursos de Terceiros
Como já mencionado no Capítulo 1 deste livro, a ANBIMA tem diversos
códigos de regulação e melhores práticas para diversas atividades do
mercado, sendo um deles o de Administração de Recursos de Terceiros,
cujo conteúdo é parte do programa da prova. Para facilitar o aprendizado, é
apresentado, a seguir, um resumo com os principais pontos do referido
código.

O Código de Administração de Recursos de Terceiros tem por objetivo


estabelecer princípios e regras para as atividades que envolvem a
administração de recursos de terceiros, como gestão e administração
fiduciária, visando promover os mais elevados padrões éticos e a
consagração da institucionalização de práticas equitativas no mercado
financeiro e de capitais.

Dada a sua relevância para a indústria, há uma seção específica para tratar
da segregação das atividades de administração de recursos de terceiros das
demais atividades das Instituições Participantes que possam gerar conflitos
de interesse. Essa segregação deve ser funcional e física, inclusive de
instalações. Deve-se, também, estabelecer mecanismos que permitam o
controle de informações confidenciais dos clientes.

O código deixa bem claras as obrigações do administrador e do gestor. Em


linhas gerais, o Administrador Fiduciário é o responsável pela parte
administrativa do fundo, como sua constituição, administração,
funcionamento, supervisão dos terceiros contratados e divulgação de
informações dos fundos. Ele é corresponsável, juntamente com o Gestor,
pela gestão do risco de liquidez. Já o Gestor é quem gere profissionalmente
os ativos financeiros das carteiras, sendo responsável por decisões de
investimento, ordens de compra e venda de ativos, enquadramento aos
limites de investimento, processo de prevenção à lavagem de dinheiro e
pelo controle de risco das carteiras.

Assim como nos demais códigos, se um documento do produto tiver um


Selo ANBIMA, isso indica apenas o compromisso da Instituição
Participante em atender às disposições do código e não responsabiliza a
ANBIMA pelas informações constantes no documento.

O Anexo I ao código trata dos Fundos da Instrução CVM 555,


mencionando a obrigatoriedade da elaboração da lâmina de informações
essenciais de acordo com a regulamentação da CVM. Além disso, deixa
claro que o material publicitário e o material técnico devem buscar a
transparência, clareza e precisão das informações em linguagem clara,
objetiva e adequada aos investidores alvos, informando links nos quais é
possível encontrar informações técnicas detalhadas sobre o produto.

Há regras de divulgação de rentabilidade, como incluir anos anteriores,


períodos de 12 meses (acumulado e mensal), data de constituição do fundo,
valor do patrimônio líquido médio mensal do fundo e nos últimos 12
meses, entre outras informações.

Assim como no Código de Distribuição de Produtos de Investimento,


quando a rentabilidade é divulgada, deve fazer menção às frases de que a
rentabilidade obtida no passado não representa garantia de resultados
futuros, de que não é líquida de impostos (nem taxas de entrada e saída,
quando aplicáveis) e nem garantida pelo FGC. Ainda nessa seara de
informações relevantes, o material técnico por si só não basta. É necessário
que esteja escrito: “Leia a lâmina de informações essenciais, se houver, e o
regulamento antes de investir”.

Há uma seção sobre Apreçamento de Ativos que menciona a Deliberação


ANBIMA no 80, que trata da Marcação a Mercado dos ativos que
compõem a carteira dos fundos de investimento. Seu objetivo é estabelecer
normas e critérios para a correta precificação dos ativos financeiros dos
Fundos 555, ETFs, FIDCs e fundos imobiliários.
Do seu teor constam princípios que devem nortear a precificação dos
ativos, como melhores práticas, comprometimento, equidade, objetividade
e consistência, sendo o Administrador Fiduciário responsável pela
precificação, podendo contratar terceiros para essa atividade.

Outro detalhe importante é a obrigatoriedade de que haja um manual de


apreçamento devidamente registrado na ANBIMA e publicado em sua
versão simplificada no site do Administrador Fiduciário na internet. O
manual deve conter uma descrição da governança adotada pelo
Administrador, da constituição do comitê de Apreçamento, processo
adotado, fontes utilizadas, hierarquia de critérios utilizados para mensurar o
Valor Justo, método primário para cada ativo, entre outras questões.

Se o fundo tiver cota diária, então seus ativos deverão ser precificados
diariamente, não devendo ser alterados para refletir os custos de transação.
No caso de títulos públicos federais, deve-se usar a taxa indicativa da
ANBIMA e projeções dos índices de preços para essa classe de ativos.

Os ativos de renda fixa devem ser classificados em: ativos para negociação
ou ativos mantidos até o vencimento (caso aplicável somente a fundos
exclusivos ou reservados). Caso o ativo não tenha sido negociado há muito
tempo, pode-se usar um ativo semelhante ou uma cesta de ativos (com
mesmo risco e indexador) para sua precificação.

Os ativos de renda variável devem usar como fonte primária os preços


negociados na B3 ou no mercado em que o ativo apresentar maior liquidez.
No caso de ativos no exterior, é necessária a conversão da moeda
estrangeira para moeda nacional, utilizando a taxa de câmbio referencial
(D2) divulgada pela B3.

Dica: Os conteúdos dos códigos que fazem parte do programa da prova


foram selecionados e disponibilizados na plataforma GEN-IO.
Pontos importantes – Fundos de investimento

■Um fundo é um condomínio de pessoas que têm objetivo comum de


investimento.

■O fundo tem seus próprios demonstrativos financeiros e CNPJ.

■Principais players da indústria de fundos:

○administrador – responsável legal do fundo;

○gestor – responsável pela rentabilidade;

○distribuidor – vende as cotas do fundo;

○auditor independente – faz a auditoria do fundo;

○custodiante – faz a guarda dos títulos do fundo.

■Segregação de funções – regra definida pelos reguladores visando à


segregação de funções da administração de recursos próprios dos recursos
de terceiros.

■Os fundos são fiscalizados e regulamentados pela CVM.

■Principais características dos fundos: acessibilidade ao mercado


financeiro, diversificação e liquidez.
■Para calcular o valor da cota, divide-se o patrimônio líquido do fundo pela
sua quantidade de cotas.

■A rentabilidade obtida em uma aplicação em um fundo é o resultado da


valorização das cotas que o investidor tem aplicadas no fundo.

■Para o cálculo da cota, os ativos da carteira do fundo devem ser


precificados a valor de mercado (Marcação a Mercado), para evitar
transferência de riqueza entre os cotistas, sendo justo com quem entra e
com quem sai.

■Há fundos que trabalham com cota de abertura e outros que trabalham
com cota de fechamento.

■Ao aplicar ou resgatar em um fundo de ações, o cliente é cotizado com a


cota de fechamento de D+1 e a liquidação financeira no resgate se dá em
D+3.

■Visando alcançar os objetivos de investimento do fundo, o gestor pode,


temporariamente, fechar o fundo para novas aplicações. Isso não o
transforma em fundo fechado.

■A remuneração do gestor e do administrador é a taxa de administração.

■Há fundos que cobram taxa de entrada, como, por exemplo, os fundos de
previdência (taxa de carregamento) e há fundos que cobram taxa de saída
(caso de cotistas que pedem o resgate antes do prazo de carência).

■A taxa de administração é calculada e provisionada diariamente e paga


mensalmente. Como seu custo já está adicionado no patrimônio líquido do
fundo, a cota do fundo já está líquida desse custo.
■Alguns fundos cobram taxa de performance, que deve obedecer ao
critério de linha d’água (só é devida quando o fundo render positivo e
acima do benchmark). A taxa de performance é provisionada diariamente e
paga semestralmente.

■Existem três metodologias para a taxa de performance:

○método ativo – com base no resultado do fundo;

○método passivo – com base no resultado de cada aplicação;

○método do ajuste – com base no resultado do fundo + ajuste individual.

■Os fundos podem ser:

○abertos – emitem e resgatam as cotas indefinidamente;

○fechados – emitem uma quantidade determinada de cotas, que passam a


ter dois valores: valor patrimonial e valor de mercado.

■A carteira dos fundos de investimento (FI) é composta por títulos e


valores mobiliários, e a dos fundos de investimento em cotas de FI (FIC) é
composta por, pelo menos, 95% de cotas de FI.

■A política de investimento de um fundo tem de ser claramente divulgada


para o investidor, devendo constar de todo material de vendas do fundo.

■Fundo ativo – o objetivo é superar o benchmark.

■Fundo passivo – o objetivo é seguir o benchmark.


■Quando o fundo tiver mais do que 50% em títulos de crédito privado, é
necessário que o cotista assine termo de ciência de risco e o nome “Crédito
Privado” seja acrescentado ao nome do fundo.

■A entrega do regulamento e da lâmina de informações essenciais é


obrigatória antes da aplicação.

■O cotista tem de assinar o termo de adesão e ciência de risco antes de


investir no fundo.

■A cota do fundo deve ser divulgada diariamente, e todo fato relevante


deve ser informado ao cotista.

■Nenhum material de divulgação do fundo pode assegurar ou sugerir a


existência de garantia de resultados futuros ou isenção de risco para o
investidor.

■Só é permitida a divulgação dos resultados do fundo após um período de


carência de seis meses depois da primeira emissão de cotas.

■Investimentos em fundos não são garantidos pelo administrador ou por


qualquer mecanismo de seguro ou, ainda, pelo Fundo Garantidor de
Crédito.

■Uma carteira de investimentos é um conjunto de investimentos que não


estão sob a forma de condomínio.

■Alavancagem significa a realização de investimentos em montantes


superiores aos que o investidor possui, utilizando capitais de terceiros. Ao
oferecer um fundo alavancado para um cliente, o gerente deve colocá-lo a
par dos riscos do fundo, que obrigatoriamente são descritos no material
informativo do fundo.

■Clube de investimento: mínimo de 3 e máximo de 50 cotistas, sendo que


nenhum cotista pode ter mais do que 40% das cotas do clube.

■Para montar um clube, é necessário ter:

○três cotistas fundadores;

○um estatuto;

○uma administradora, que é normalmente uma corretora, para poder


registrar o clube na Bovespa.

■O clube é uma estrutura menos rígida quando comparada com um fundo


de investimento, permitindo, inclusive, que seja gerido pelos próprios
cotistas.

■Come-cotas: incide nos fundos de renda fixa, todo final de maio e


novembro, pela menor alíquota aplicável (15% para longo prazo ou 20%
para curto prazo).

■A compensação de perdas em fundos de investimento é possível entre


fundos do mesmo administrador e que tenham a mesma classe tributária,
até o último dia útil do ano subsequente.

■Fundos de ações são tributados em 15% sobre o rendimento, no resgate.


Fundos de ações – mercado de acesso têm isenção tributária até 2024.
■A tributação de uma carteira de investimentos segue a regra aplicável a
cada produto separadamente.

■Clubes de investimento são tributados igual aos fundos de ações, 15%


sobre os rendimentos, no resgate.

■Tabela aplicável aos fundos de investimento:

○22,5% – aplicações com prazo de até 180 dias;

○20,0% – aplicações com prazo de 181 a 360 dias;

○17,5% – aplicações com prazo de 361 a 720 dias;

○15,0% – aplicações com prazo superior a 720 dias.

■A menor alíquota para os fundos classificados de curto prazo pela Receita


Federal é 20,0%.

■O IOF é devido nos resgates de fundos considerados renda fixa para a


Receita Federal, quando efetuados nos primeiros 29 dias de aplicação,
conforme tabela regressiva.

■Quando o fundo dispuser, em seu regulamento, que tem o compromisso


de obter o tratamento fiscal destinado a fundos de longo prazo, estará
obrigado a incluir a expressão “Longo Prazo” na sua denominação.

■Classificação dos fundos (detalhes resumidos no Quadro 6.3):

■renda fixa: simples, curto prazo, referenciado, dívida externa;


○ações;

○cambial;

○multimercados.

Quadro 6.3Classificação dos fundos

Fundo

Carteira

Observações

Renda Fixa Simples

■Mínimo de 95% em título público federal ou privado de instituições


financeiras com risco semelhante ao título público, utilizando como
comparação a Taxa Selic e tendo como estratégia proteger o fundo de
riscos de perdas e volatilidade. Além disso, investe somente no Brasil,
sendo vedada a cobrança de taxa de performance. Dispensa a assinatura do
termo de adesão.

■Não aplica no exterior.

■Benchmark: Taxa Selic.

■Estratégia: proteger o fundo de riscos de perdas e volatilidade.


■Investe somente no Brasil.

■Não cobra performance.

■Dispensa assinatura do termo de adesão.

■Dispensa processo de suitability se for o único investimento do cliente no


mercado de capitais.

Renda Fixa Curto Prazo

■Título público federal ou privado com baixo risco de crédito, com prazo
máximo a decorrer de 375 dias e prazo médio da carteira menor do que 60
dias.

■Máximo de 20% em ativos no exterior.

■Não pode cobrar taxa de performance.

■Come-cotas semestral de 20%.

Renda Fixa Referenciado

■80% mínimo em título público federal ou renda fixa de baixo risco de


crédito.

■95% em ativos financeiros cuja rentabilidade esteja atrelada ao


benchmark.
■Derivativos só para hedge.

■Máximo de 20% em ativos no exterior.

■Não pode cobrar taxa de performance, exceto quando dirigido a investidor


qualificado.

■Come-cotas semestral de 15%, quando atendida regulamentação da SRF.

Renda Fixa Dívida Externa

■Mínimo de 80% em títulos da dívida externa da União.

■Até 20% de outros títulos no exterior.

■Trabalha com cota de fechamento.

■Come-cotas semestral de 15%, quando atendida regulamentação da SRF.

Ações

■Mínimo de 67% em ações, BDR, bônus de subscrição, units, cotas de


fundos de ações e de índices.

■Máximo de 20% em ativos no exterior.

■Não há limite por emissor, desde que expresso nos documentos do fundo.
■Aplicação e resgate com cota de fechamento de D+1.

■Liquidação financeira no resgate em D+3.

■Pode cobrar taxa de performance.

■IR de 15% no resgate. Não tem come-cotas.

■A ICVM 555 criou o Fundo de Ações Mercado de Acesso, isento de


tributação para resgates até 2024.

Cambial

■Mínimo de 80% em ativos relacionados diretamente, ou sintetizados via


derivativos, ao fator de risco que dá nome à classe.

■Trabalha com cota de fechamento.

■Come-cotas semestral.

Multimercados

■Vários fatores de risco.

■Até 20% no exterior.


■Não há limites de concentração por emissor, desde que expresso nos
documentos do fundo.

■Trabalha com cota de fechamento.

■Come-cotas semestral de 15%, quando atendida regulamentação da SRF.

Clube de Investimento

■Mínimo de 67% de ações, bônus ou recibos de subscrição, debêntures


conversíveis em ações, cotas de ETF ou certificado de depósitos de ações.

■IR de 15% no resgate.

■Mínimo de 3 e máximo de 50 cotistas.

■Nenhum cotista pode ter mais de 40% das cotas do clube.

■Tem estatuto e administrador.

■A gestão pode ser feita pelos cotistas.

■O Código ANBIMA de Administração de Recursos de Terceiros tem por


objetivo estabelecer princípios e regras para a atividade de administração
de recursos de terceiros, visando manter padrões éticos, práticas equitativas
de mercado, concorrência leal, padronização de procedimentos,
disponibilização de informações e elevação de padrões fiduciários.
■Segundo o Código de Administração de Recursos de Terceiros, as
Instituições Participantes devem ser transparentes, diligentes e leais,
evitando todo tipo de conflito de interesse.

■O exercício da Administração de Recursos de Terceiros deve ser


segregado das demais atividades da instituição financeira, que deve
respeitar a confidencialidade das informações que dispõe, além de fazer
controle de riscos.

■A atividade de gestão de recursos de terceiros deve ser exercida por


profissionais devidamente habilitados para o exercício da atividade. O
Gestor é o responsável pelas decisões de investimento.

■A veiculação do selo ANBIMA demonstra o compromisso da Instituição


Participante em atender às disposições do código em questão.

■O código da ANBIMA determina que o Administrador Fiduciário deve


disponibilizar aos investidores os documentos dos fundos regulados pela
ICVM 555 e que a lâmina de informações essenciais é obrigatória para os
fundos destinados ao público em geral.

■Os materiais técnico e publicitário do fundo devem ser elaborados de


forma clara e transparente, com informações pertinentes ao processo de
decisão de investimento do cliente.

■A rentabilidade do fundo deve ser divulgada sempre em conjunto com a


do mês, ano e período de 12 meses anteriores.

■Toda alteração no Regulamento do fundo deve ser informada aos clientes.


■Não se pode garantir rentabilidade futura, o que deve estar escrito nos
documentos do fundo.
■Os ativos do fundo devem ser Marcados a Mercado. A metodologia a ser
utilizada para MaM encontra-se divulgada na Diretriz ANBIMA no 80.

■O Administrador Fiduciário deve manter disponível um Manual de


Apreçamento.

Exercícios de fixação

1.Um fundo de investimento com administração ativa tem como objetivo:

a.Acompanhar o benchmark.

b.Superar o benchmark.

c.Não perder para o CDI.

d.Não permitir rentabilidade negativa.

2.Os fundos de investimento são fiscalizados:

a.Pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários.

b.Pela Comissão de Valores Mobiliários.

c.Pela Comissão de Valores Mobiliários em conjunto com a ANBIMA.

d.Pela ANBIMA e pelo Banco Central.


3.Como é calculado o valor da cota de um fundo de investimento?

a.Ativo total do fundo dividido pela quantidade total de cotas.

b.Passivo total do fundo dividido pela quantidade total de cotas.

c.Patrimônio líquido do fundo dividido pela quantidade total de cotas.

d.Preço médio dos títulos do fundo, ponderado por seu valor de mercado.

4.Pelo conceito da linha d’água:

a.Somente fundos multimercado podem cobrar taxa de performance.

b.A taxa de performance somente pode ser cobrada semestralmente.

c.Os juros sobre capital próprio são devidos sempre que a empresa der
lucro acima do período anterior.

d.A taxa de performance é devida sempre que a variação do valor da cota


do fundo for maior que o da última cobrança e acima do benchmark.

5.O “come-cotas” de um fundo de investimento é aplicável:

a.A todos os fundos.

b.A todos os fundos da Instrução CVM 555, exceto os de ações.


c.Somente aos fundos classificados como Renda Fixa pela Instrução CVM
555.

d.Somente aos fundos classificados como Multimercado pela Instrução


CVM 555.

6.Qual prestador de serviço responde pela rentabilidade do fundo?

a.Gestor.

b.Administrador.

c.Custodiante.

d.Distribuidor.

7.Qual o percentual máximo permitido em ativos no exterior em um fundo


de ações negociado no varejo?

a.0%.

b.20%.

c.50%.

d.100%.

8.Segundo a regulamentação, para montar um clube de investimento é


necessário, no mínimo, quantos cotistas?
a.1.

b.3.

c.10.

d.50.

9.A cobrança antecipada de imposto de renda, conhecida como come-cotas,


nos fundos de renda fixa, acontece:

a.No final de junho e dezembro.

b.Todo final de setembro.

c.No final de maio e novembro.

d.No último dia útil de cada ano.

10.Se você aplicar em D+0 em um fundo de ações, você pegará a cota de


que dia?

a.Fechamento de D+0.

b.Abertura de D+1.

c.Fechamento de D+1.
d.Abertura de D+2.

11.Antes de aplicar em um fundo de investimento, o cliente deve:

a.Assinar o termo de adesão ao fundo.

b.Depositar o dinheiro na conta do fundo.

c.Bloquear o valor na custódia da instituição.

d.Assinar o regulamento do fundo.

12.Se a política de investimento de um fundo envolve vários fatores de


risco, sem o compromisso de concentração em nenhum fator específico,
logo, trata-se de um fundo:

a.Ativo.

b.Alavancado.

c.Referenciado.

d.Multimercado.

13.A taxa de performance pode ser cobrada por três métodos diferentes,
quais sejam:
a.Bruto, Líquido e do Ajuste.

b.Ativo, Passivo e do Ajuste.

c.Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido.

d.Ativo, Passivo e de Linha d’Água.

14.Se o patrimônio líquido de um fundo é R$ 252.000.000,00 em


determinado dia e a taxa de administração fixa é 1%, logo, a taxa de
administração nesse dia será:

a.R$ 10.000,00

b.R$ 25.200,00

c.R$ 100.000,00

d.R$ 2.520.000,00

15.Com relação a um Fundo de Renda Fixa Simples, pode-se afirmar que:

a.Sua carteira é composta por pelo menos 95% em títulos públicos federais.

b.Utiliza como benchmark a Taxa Selic.

c.Pode aplicar até 10% em títulos no exterior.


d.Pode cobrar taxa de performance pelo método do ajuste.

16.Dentre os documentos listados abaixo, qual deles traz as regras do


fundo, sua política de investimento detalhada e demais informações
relevantes para sua constituição?

a.Termo de adesão.

b.Demonstração de desempenho.

c.Lâmina de informações essenciais.

d.Regulamento.

Gabarito

1. b

2. b

3. c

4. d

5. b

6. a
7. b

8. b

9. c

10. c

11. a

12. d

13. b

14. a

15. b

16. d

___________

1A lâmina de informações essenciais foi introduzida em substituição ao


prospecto e deve ser elaborada de acordo com a regulamentação, sendo
essencial no caso de fundo aberto que não seja destinado exclusivamente a
investidores qualificados.

2Outras questões relativas aos prestadores de serviço mencionados nesta


parte do livro serão desenvolvidas na seção 6.13, que aborda o Código de
Administração de Recursos de Terceiros, cujos artigos que caem na prova
estão disponíveis na plataforma GEN-IO.

3Exemplo: um fundo tem em sua carteira uma ação da empresa X. Essa


empresa terá uma assembleia de acionistas para resolver determinada
questão sobre a empresa. O gestor tem poderes para votar em nome do
fundo nessa assembleia.

4Asset manager = gestor de recursos.

5A tesouraria cuida da carteira própria do banco.

6Caso de herança.

7Empresas com baixa capitalização de mercado e pouca liquidez.

8Os bônus ou recibos de subscrição e certificados de depósito de ações são


valores mobiliários oriundos de uma ação. Os recibos ou bônus de
subscrição foram estudados no Capítulo 5 e são direitos dos acionistas
sobre novas subscrições das empresas. Os certificados de depósito de ações
são também originários de ações, pois são emitidos com base nas ações que
ficam bloqueadas na custódia.

9O Mercado de Acesso da B3 se materializa no Bovespa Mais, que foi


idealizado para empresas com faturamento abaixo de R$ 500 milhões e que
desejam acessar o mercado de forma gradual, permitindo que a empresa se
prepare de forma adequada e ao mesmo tempo colocando-a na “vitrine” do
mercado, aumentando sua visibilidade para os investidores. Para saber mais
sobre o Bovespa Mais, acesse: http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-
servicos/solucoes-para-emissores/segmentos-de-listagem/bovespa-mais/

10O prospecto deixou de ser um documento obrigatório a partir da entrada


em vigor da Instrução CVM 555, tendo sido substituído pelo formulário de
informações complementares. Entretanto, ele ainda é citado como
facultativo no Código ANBIMA de Melhores Práticas de Fundos de
Investimento. Algumas instituições entendem que o prospecto continuará
sendo solicitado pelo investidor.

11Benchmark = parâmetro de comparação.

12Disponível em: www.valorinvestimentos.com.br.

13De acordo com a norma, o termo de adesão deve ter no máximo 5.000
caracteres.

14Ao que se dá o nome de alavancagem, tópico abordado neste capítulo.

15O estatuto está para o clube de investimento como o regulamento está


para o fundo de investimento. Ele define as regras do clube.
CAPÍTULO 7
Previdência Complementar Aberta
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Compreender a importância de um fundo de previdência complementar


aberta.

■Diferenciar o PGBL e o VGBL.

■Entender a tributação aplicável da previdência complementar aberta.


Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

7.1Regimes de previdência

7.2Características técnicas que influenciam o produto

7.3PGBL × VGBL

7.4Tributação

Pontos Importantes – Previdência

Proporção no exame

De 5 a 10%.

Tempo estimado de estudo

Uma hora e meia.

7.1Regimes de previdência
A caminhada profissional, que envolve estágio, primeiro emprego,
emprego de formação, de carreira e aposentadoria, se chama ciclo laboral.
Para não corrermos o risco do nosso ciclo laboral terminar antes do nosso
ciclo vital, aquele que vai do nascimento até a morte, temos que planejar
com antecedência nossas finanças. E uma forma de nos precavermos desse
risco é contribuindo para uma previdência.

Atualmente, existem as previdências oficiais e a previdência


complementar, que pode ser fechada (como os fundos de pensão Previ e
Petros, respectivamente dos funcionários do Banco do Brasil e da
Petrobras) ou aberta. Neste capítulo você vai aprender sobre a previdência
privada aberta, foco do programa da prova.

Regime de Previdência Complementar

Ao contrário dos outros regimes oficiais, a filiação à previdência


complementar aberta é facultativa e visa complementar a renda do
aposentado, sendo operada por Entidades Abertas e Fechadas de
Previdência Complementar, em regime privado.

A previdência privada brasileira, fiscalizada pela SUSEP, surgiu em janeiro


de 1835, com a criação da MONGERAL – Montepio Geral de Economia
dos Servidores do Estado. Ao longo dos anos, a legislação da previdência
foi sendo alterada para se adequar às novas realidades atuariais, inclusive
quanto aos valores pagos em casos de aposentadoria.

A previdência privada permite que um indivíduo possa fazer uma previsão


antecipada da etapa da vida em que irá perder sua renda do período laboral,
por meio de contribuições regulares que lhe permitam complementar as
rendas que porventura tiver e que advenham de outras fontes, como a
previdência oficial, aluguéis ou juros de investimentos financeiros.

7.2Características técnicas que influenciam o produto


Os planos de previdência aberta, na forma como são concebidos, são
oferecidos na modalidade de contribuição definida: o benefício não é fixo,
mas as contribuições são. Dessa forma, o valor do benefício que o
participante receberá no momento de sua aposentadoria dependerá da
performance do administrador do fundo e do valor acumulado pelo
participante, por meio dos aportes realizados ao longo dos anos.

As principais características que influenciam os produtos de previdência


aberta podem ser resumidas em:

■Taxas de Administração – quanto maior a taxa de administração do


produto, menor deverá ser sua rentabilidade.

■Taxas de Carregamento – a taxa de carregamento é cobrada toda vez que


o participante aplica no fundo. Alguns fundos não cobram carregamento,
dependendo do valor do aporte. Por diminuírem o valor sendo investido,
quanto maior a taxa de carregamento, menor a rentabilidade do investidor.

■Portabilidade – a portabilidade entre Entidades de Previdência


Complementar Aberta é permitida. É importante verificar se há taxas
cobradas neste momento. Notar que a portabilidade só é permitida entre
planos iguais: PGBL para PGBL ou VGBL para VGBL.

■Transferências entre planos – é possível transferir entre planos com riscos


diferentes. Em outras palavras, pode-se transferir entre os três planos
(soberano, renda fixa e multimercado). Espera-se que, no longo prazo, os
fundos com maiores riscos tenham uma rentabilidade mais elevada.
Entretanto, nada se pode garantir.

■Resgates – no momento do resgate, há incidência de imposto de renda,


seja pela tabela regressiva ou progressiva, conforme opção do investidor.
Logo, dependendo do prazo de aplicação ou valor sendo resgatado,
diferentes alíquotas serão cobradas, o que afetará a rentabilidade do
investidor.

■Regimes de tributação – conforme você verá no item 7.4, no momento da


aplicação o investidor deverá escolher o regime tributário, se compensável
na Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda. No primeiro, aplica-
se a tabela progressiva de imposto de renda; e no segundo, uma tabela cujas
alíquotas vão diminuindo conforme o investidor fica mais tempo
investindo.

7.3PGBL × VGBL
7.3.1Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL)
O PGBL é um plano de previdência que permite ao participante escolher o
risco que deseja correr durante o período de acumulação. Ele é destinado a
quem contribui com o INSS e deseja contribuir até 12% de sua renda bruta
anual. A data de concessão do benefício será determinada pelo participante
na sua proposta de inscrição.

O participante, no momento de contratação do plano, define o perfil de


risco que deseja correr, escolhe os beneficiários e deposita periodicamente
uma certa quantia no fundo. O gestor administra esses recursos de acordo
com o objetivo de investimento do fundo, de forma a agregar rentabilidade
para o investidor, mas sem garantia de rendimento mínimo. No momento
da aposentadoria, o investidor pode decidir por:

■resgatar o total dos recursos acumulados; ou

■transferir esse valor para outra empresa de previdência que lhe conceda
melhores condições; ou

■receber o benefício mensalmente e por prazo certo; ou

■receber o benefício vitalício e mensalmente.

No que se refere ao valor do benefício, a SUSEP explica que este será


calculado com base na “provisão matemática de benefícios a conceder na
data da concessão do benefício e do tipo de benefício contratado, de acordo
com os fatores de renda apresentados na proposta de inscrição”.
A decisão quanto às alternativas mencionadas é, certamente, complicada.
Não existe uma melhor opção, pois cada caso é um caso. Tudo vai
depender do momento da aposentadoria, das condições de saúde da pessoa
e das apostas que faz quanto à sua longevidade.

No momento da contratação da previdência, o participante deve escolher


entre as três modalidades distintas de aplicação, sendo permitida a alteração
durante o período de acumulação:

■Soberano – aplica 100% dos recursos em títulos públicos federais. É


recomendada para investidores muito conservadores ou que já estejam
perto da aposentadoria.

■Renda fixa – mescla títulos públicos federais com títulos de crédito


privados.

■Composto – os planos compostos podem aplicar até 49% no mercado de


renda variável. Recomenda-se este plano para quem tem muitos anos até a
aposentadoria ou pessoas de perfil mais arriscado.

Nos planos com renda mensal vitalícia com prazo mínimo garantido e nos
planos com renda vitalícia transferível a um beneficiário indicado, a
regulamentação permite, no caso de falecimento do participante, que a
renda mensal seja reversível a um beneficiário indicado.

Uma característica muito importante no PGBL é sua vantagem fiscal. A


regulamentação permite que o investidor abata o total da sua contribuição
na sua Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda, limitado a 12%
da sua renda bruta, trazendo uma economia fiscal bem interessante. É,
portanto, recomendável para quem preenche a Declaração de Ajuste Anual
no formulário completo.
7.3.2Plano Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL)
O VGBL tem características semelhantes ao PGBL, diferenciando-se deste
em alguns aspectos. Para começar, o VGBL é, legalmente, um plano de
seguro de vida isento de IOF, e não um plano de previdência. Essa estrutura
favorece, em questões tributárias, aqueles indivíduos que preenchem o
imposto de renda no modelo simplificado, não utilizando os benefícios dos
abatimentos permitidos nos planos de previdência.

Uma outra característica que distingue um produto do outro é a base de


cálculo para o imposto de renda. Enquanto no PGBL a tributação incide
sobre todo o valor sendo resgatado, no VGBL a incidência é somente sobre
os rendimentos.

Tirando essas diferenças, o VGBL, assim como o PGBL, também pode ser
usado em planejamento sucessório, e os recursos dos cotistas podem ser
aplicados em fundos de investimento que obedeçam aos perfis de risco
soberano, renda fixa e composto, sendo permitida a portabilidade para
outra Entidade Aberta de Previdência Complementar.

Resumindo, o VGBL é semelhante ao PGBL, porém é indicado para quem


preenche o imposto de renda no formulário simplificado, ou deseja
contribuir o excedente a 12% de sua renda bruta anual para um plano de
previdência.

7.4Tributação
Os rendimentos auferidos no PGBL e no VGBL não sofrem cobrança
antecipada de imposto de renda como nos fundos de investimento, que têm
come-cotas. Isso é uma vantagem fiscal muito grande da previdência sobre
acumulação em fundos de investimento, uma vez que o investidor deixa de
receber rentabilidade sobre o valor cobrado no come-cotas.

7.4.1Base de cálculo
A base de cálculo do imposto de renda nos fundos de previdência depende
do produto aplicado.
■PGBL – o imposto de renda incide sobre o valor resgatado ou o benefício
recebido;

■VGBL – o imposto de renda incide sobre o rendimento auferido.

7.4.2Tabela regressiva × progressiva


Ao contratar um fundo de previdência, o investidor deve definir qual
metodologia de cobrança de imposto de renda ele deseja seguir no
momento do resgate, como será abordado a seguir.

Tabela regressiva

Segundo a tabela regressiva, quanto mais tempo o investidor deixar os


recursos, menos imposto de renda pagará. A tabela inicia com 35% de
alíquota sobre os rendimentos para resgates em até 2 anos da aplicação,
caindo para 10% para prazos superiores a 10 anos. Não há possibilidade de
isenção de imposto quando se utiliza a tabela regressiva, sendo o valor do
imposto descontado na fonte e de caráter definitivo. Ela é indicada para
quem deseja deixar por mais de 10 anos seus recursos aplicados e está na
faixa tributável de imposto de renda. É sempre importante comparar com a
tabela progressiva aplicável à renda na ocasião da definição da metodologia
a ser adotada.

Tabela 7.1 Tabela de imposto de renda aplicável em 2020

Prazo de acumulação em anos

Alíquota de IR

Inferior ou igual a 2
35%

Superior a 2 e inferior a 4

30%

Superior a 4 e inferior a 6

25%

Superior a 6 e inferior a 8

20%

Superior a 8 e inferior a 10

15%

Superior a 10

10%

Tabela progressiva

Aplicada sobre a renda, a alíquota a ser utilizada depende do valor sendo


resgatado e varia de 7,5% a 27,5% em 2019, isentando valores até certo
nível. A tabela aplicável neste caso é a mesma que incide sobre os salários.
Veja, a seguir, a tabela válida para rendimentos mensais em 2019. Para
tabela atualizada, consulte o site da Receita Federal.

Tabela 7.2 Tabela de imposto de renda aplicável em 2019

Base de cálculo

Alíquota

Parcela a deduzir do IRPF

De R$ 1.903,99 até R$ 2.826,65

7,5%

R$ 142,80

De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05

15%

R$ 354,80

De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68

22,5%

R$ 636,13
Acima de R$ 4.664,68

27,5%

R$ 869,36

Fonte: Secretaria da Receita Federal.

Importante notar que, no caso de utilização da Tabela Regressiva, o


imposto pago é compensável na Declaração Anual de Ajuste do Imposto de
Renda.

Pontos importantes – Previdência

■Investir em previdência complementar aberta é importante para ajudar a


pessoa física a poupar para a aposentadoria, período em que a renda
costuma cair drasticamente.

■As seguintes características técnicas influenciam os produtos de


previdência:

○taxa de administração;

○taxa de carregamento;

○portabilidade;

○transferência entre planos;


○resgates;

○regimes de tributação.

■O PGBL é recomendável para o investidor que contribui para o INSS e


faz a sua Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda no formulário
completo, pois esse produto permite abater a contribuição feita em até 12%
da renda bruta anual.

■O VGBL é indicado para quem faz a sua Declaração de Ajuste Anual do


Imposto de Renda no formulário simplificado.

■No PGBL, o imposto cobrado é calculado sobre o valor sendo resgatado.

■No VGBL, o imposto cobrado é calculado tendo por base o rendimento


obtido.

■Ao aplicar, o investidor tem que decidir a metodologia de tributação.

■Pelo regime definitivo, a alíquota aplicável de imposto de renda vai


diminuindo quanto mais tempo o investidor deixa seu dinheiro aplicado.

■Pelo regime compensável, aplica-se a mesma tabela de imposto de renda


aplicável aos salários, que aumenta à medida que o valor resgatado também
aumenta.

Exercícios de fixação

1.O VGBL e o PGBL são oferecidos na modalidade de:


a.Benefício definido.

b.Contribuição definida.

c.Benefício antecipado.

d.Contribuição regressiva.

2.Qual produto de previdência aberta é recomendado para quem contribui


para o INSS, tem salário altíssimo, preenche a Declaração de Ajuste Anual
do Imposto de Renda no formulário completo, não tem dependentes, paga
imposto de renda adicional, além de já ser descontado na fonte, e pretende
contribuir para a previdência aberta pelos próximos 30 anos?

a.VGBL com metodologia regressiva de tributação.

b.VGBL com metodologia progressiva de tributação.

c.PGBL com metodologia regressiva de tributação.

d.PGBL com metodologia progressiva de tributação.

3.Um participante de um VGBL Soberano está insatisfeito com a


rentabilidade de seu plano e deseja mudar de modalidade de aplicação, indo
para um com perfil mais agressivo. Ele pode:

a.Transferir para um PGBL Composto.


b.Transferir para um PGBL de Renda Fixa.

c.Transferir para um VGBL Composto.

d.Transferir para um VGBL que seja 100% em ações.


4.Segundo a regulamentação, no momento da aposentadoria, o participante
de um plano de previdência aberta tem a possibilidade de escolher como
vai receber o valor acumulado, que pode ser de várias maneiras, exceto:

a.Resgatar o total dos recursos acumulados de uma só vez.

b.Receber o benefício mensalmente e de forma vitalícia.

c.Receber o benefício mensalmente e por prazo certo.

d.Receber o benefício a cada dois meses e por prazo certo.

5.Ao aplicar em um VGBL, o investidor tem que escolher a metodologia de


tributação que lhe será aplicada. Tendo em vista que sua expectativa de
contribuição será de R$ 6.000,00 por mês durante os próximos 25 anos,
quando pretende começar a receber os benefícios, qual seria a opção mais
adequada neste caso?

a.Tabela regressiva.

b.Tabela progressiva.

c.Tabela compensativa.
d.Tabela definitiva.

6.O investidor A aplicou R$ 100.000,00 em um PGBL, e o investidor B


aplicou o mesmo valor em um VGBL. Sabendo que: (1) ambos os planos
tiveram a mesma rentabilidade acumulada; (b) A e B resgataram no mesmo
dia; e (3) a tributação de ambos era definitiva, pergunta-se: qual dos dois
teve o maior valor creditado em sua conta?

a.O investidor A.

b.O investidor B.

c.O valor do crédito foi igual para A e B.

d.Nada se pode afirmar apenas com essas informações.

7.Um investidor com renda bruta anual de R$ 100.000,00 deseja contribuir


para um PGBL mensalmente, de tal forma a maximizar o abatimento na sua
Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda. Com que valor deve
contribuir mensalmente?

a.R$ 500,00.

b.R$ 1.000,00.

c.R$ 1.200,00.

d.R$ 12.000,00.
8.Após 5 anos de contribuição, um participante de um PGBL com
metodologia definitiva de imposto de renda saiu do emprego e montou sua
própria empresa, passando a preencher a Declaração de Ajuste Anual do
Imposto de Renda no formulário simplificado. O que seria mais indicado
no seu caso?

a.Que ele fizesse uma transferência do PGBL para o VGBL.

b.Que ele fizesse uma portabilidade do PGBL para o VGBL.

c.Que ele resgatasse tudo que acumulou no PGBL e migrasse para um


VGBL.

d.Que ele abrisse um VGBL para futuras contribuições.

Gabarito

1. b

2. c

3. c

4. b

5. a

6. b
7. b

8. d
CAPÍTULO 8
Ética e Regulação
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Identificar os princípios éticos que regem a relação profissional-cliente.

■Agir de forma a prevenir crimes de lavagem de dinheiro.

■Analisar o perfil de investimento do cliente, de forma a indicar produtos


de investimento mais adequados a ele.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes seções:

8.1Princípios éticos

8.2Código ANBIMA de Distribuição de Produtos de Investimento

8.3Prevenção contra a lavagem de dinheiro

8.4Ética na venda
8.5Análise do perfil do investidor

Pontos importantes – Ética e regulação

Proporção no exame

De 15 a 20%.

Tempo estimado de estudo

Quatro horas.

8.1Princípios éticos
Guiar nossas atitudes por princípios éticos é sempre importante, pois
agrega benefícios para nós e para a pessoa ou grupo com quem estamos nos
relacionando, a saber:

■Cliente – o cliente espera encontrar no profissional de investimentos


atitudes concretas baseadas em princípios éticos que se traduzam em uma
relação de confiança, transparência e segurança ao longo do tempo.

■Profissional de investimentos – importante a internalização dos princípios


éticos para que eles estejam naturalmente implícitos nas atitudes e decisões
do profissional de investimentos, no seu cotidiano.

■Instituição financeira – os princípios éticos incorporados nas atitudes de


seus funcionários se refletem no sucesso do relacionamento ao longo do
tempo entre os profissionais contratados e os clientes que, se satisfeitos,
ajudam a consolidar e manter a boa imagem da instituição no mercado (o
que é um processo contínuo), traduzindo-se em mais negócios.

É necessário, portanto, observar alguns princípios quando estamos diante


do cliente. É normal que estejamos ansiosos para fechar negócios, mas
devemos sempre observar que os interesses do cliente devem vir em
primeiro lugar.

O profissional ocupa uma posição de confiança junto aos clientes, por isso
deve sempre estar atento para questões de integridade, objetividade,
probidade, diligência e competência. Tenha certeza que o cliente sabe
distinguir essas atitudes do profissional que o está auxiliando no banco. Por
isso, seja justo, honesto, transparente e imparcial nas suas colocações e
ações. Trate o cliente como gostaria de ser tratado e seja digno da posição
que ocupa.

Saiba que conquistar novos clientes não é tarefa fácil. Por isso, desenvolva
habilidades e competências para fornecer serviços profissionais de
qualidade. Seja capaz de reconhecer as suas limitações e não tente bancar o
“sabe-tudo”. Quando necessário, peça ajuda aos colegas mais experientes.

Busque sempre o aprimoramento profissional. Afinal, de acordo com Jim


Rohn, o grande axioma da vida é que, “para ter mais amanhã, você precisa
ser mais do que é hoje”.

Sua conduta profissional o distinguirá dos demais. Aja com respeito para
com clientes e outros profissionais. Siga as regras da instituição e dos
órgãos reguladores. Busque novos conhecimentos e cuide com zelo,
dedicação e rigor do planejamento e da execução de suas tarefas. Torne-se
um exemplo dentro da instituição na qual trabalha e proteja sempre a
confidencialidade de todas as informações dos clientes. Seja discreto e se
assegure de que nenhuma informação será revelada inadequadamente.

8.2Código ANBIMA de Distribuição de Produtos de Investimento


A ANBIMA organizou diversos códigos de regulação e melhores práticas,
conforme já mencionado no Capítulo 1 deste livro. Devido à extensão do
seu conteúdo, são apresentados, a seguir, os principais pontos do Código de
Distribuição de Produtos de Investimento, objeto da prova de certificação.

O Código de Distribuição tem por objetivo estabelecer princípios e regras


para a Distribuição de Produtos de Investimento visando promover, entre
outras coisas, elevados padrões éticos e práticas equitativas no mercado. Se
o cliente for governo ou pessoa jurídica dos segmentos middle e corporate,
a Instituição Participante fica dispensada de seguir o Código.

O profissional de investimento deve alertar o cliente quanto aos riscos dos


investimentos sendo oferecidos, bem como administrar e mitigar eventuais
conflitos de interesse que possam afetar a imparcialidade das pessoas
envolvidas na negociação com o cliente. Além disso, a confidencialidade
deve ser assegurada pela instituição que está ofertando o produto.

O material publicitário deve incluir, em destaque, um link direcionando os


investidores ao material técnico sobre o produto, assegurando que o cliente
possa ter acesso a todas as informações, características e fatores de riscos
do investimento.

Quando o material técnico fizer menção à rentabilidade, são obrigatórios os


seguintes avisos: “Rentabilidade obtida no passado não representa garantia
de resultados futuros” e “A rentabilidade divulgada não é líquida de
impostos”.

Quando o produto não for coberto pelo FGC, deve constar: “O


investimento em Produto X não é garantido pelo Fundo Garantidor de
Crédito”. Se fizer referência à simulação de rentabilidade, deve constar:
“As informações presentes neste material técnico são baseadas em
simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes”.
É obrigatório que as Instituições Participantes tenham um processo formal
de “Conheça seu Cliente”, que deve ser feito no início do relacionamento e
durante o processo cadastral, identificando a necessidade de visitas
pessoais em suas residências ou no local de trabalho.

Há uma seção só para tratar do processo de suitability. O código é claro:


não é permitido recomendar produtos de investimento, realizar operações
ou prestar serviços sem verificar sua adequação ao perfil do investidor,
devendo ter um processo formal detalhado, que deve ser atualizado a cada
24 meses no máximo, e considerando, no mínimo, as seguintes
informações: objetivo de investimento do cliente, sua situação financeira e
o conhecimento do investidor sobre o mercado de investimentos. Caso o
investidor solicite aplicação fora de seu perfil, a Instituição Participante
deve alertar o investidor da inadequação ou desatualização de seu perfil e
obter declaração expressa deste de que deseja manter a decisão.

Quando houver um selo ANBIMA no material técnico ou de divulgação do


produto, isso indica somente o compromisso da Instituição Participante em
atender às disposições do código.

Dica:

Os conteúdos dos códigos que fazem parte do programa da prova foram


selecionados e disponibilizados na plataforma GEN-IO.

8.3Prevenção contra a lavagem de dinheiro


8.3.1Conceito de lavagem de dinheiro
Lavagem de dinheiro é o conjunto complexo e integrado de operações que
têm por finalidade tornar legítimos bens, direitos e valores oriundos da
prática de atos ilícitos penais, mascarando a origem, com o propósito de
evitar que a ação repressiva da Justiça alcance os responsáveis por tais atos.
Em outras palavras, é o processo pelo qual o criminoso transforma recursos
ganhos em atividades ilegais em ativos com uma origem aparentemente
legal. Essa prática geralmente envolve múltiplas transações, usadas para
ocultar a origem dos ativos financeiros e permitir que eles sejam utilizados
sem comprometer os criminosos. A dissimulação é, portanto, a base para
toda operação de lavagem que envolva dinheiro proveniente direta ou
indiretamente de infração penal.

Nas duas últimas décadas, a lavagem de dinheiro e os crimes correlatos –


entre os quais narcotráfico, corrupção, sequestro e terrorismo – tornaram-se
delitos cujo impacto não pode mais ser medido em escala local. Se antes
essa prática estava restrita a determinadas regiões, seus efeitos perniciosos
hoje se espalham para além das fronteiras nacionais, desestabilizando
sistemas financeiros e comprometendo atividades econômicas.

Por causa da natureza clandestina da lavagem de dinheiro, fica difícil


estimar o volume total de fundos lavados que circulam internacionalmente.
As técnicas de análise disponíveis envolvem a mensuração do volume de
comércio em atividades ilegais tais como tráfico de drogas, de armas ou
fraude.

Por essa razão, o tema tornou-se objeto central de inúmeras discussões


realizadas em todo o mundo. Chefes de Estado e de governo, bem como
organismos internacionais, passaram a dispensar mais atenção à questão.
Poucas pessoas param para pensar sobre a gravidade do problema,
principalmente porque a lavagem de dinheiro parece distante de nossa
realidade.

Entretanto, assim como todo tipo de crime organizado, o tema merece


reflexão, especialmente se considerarmos que o controle da lavagem de
dinheiro depende, entre outros fatores, da participação da sociedade.

8.3.2Abrangência
Alguns setores são muito visados no processo de lavagem de dinheiro.
Entre eles podemos destacar: as instituições financeiras, os paraísos fiscais,
as bolsas de valores, as companhias seguradoras, o mercado imobiliário, de
jogos e sorteios.

Até pouco tempo atrás, para que uma infração fosse considerada lavagem
de dinheiro, os recursos tinham que ser oriundos de determinadas
atividades ilegais. Entretanto, a Lei no 12.863/2012 alterou diversos artigos
da Lei no 9.613/1998, entre os quais o art. 1o, ampliando os crimes
antecedentes e dando nova redação à definição do que vem a ser lavagem
de dinheiro. Lavar dinheiro é, portanto:

Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente de infração penal.

8.3.3Clientes/investidores
Ações preventivas: princípio do “conheça seu cliente”

Conhecer o cliente é fundamental não apenas para indicar corretamente os


investimentos, mas como obrigatoriedade do código da ANBIMA e da
regulamentação dos órgãos fiscalizadores e das leis pertinentes.

Muitas instituições utilizam a expressão em inglês Know your client (ou


Know your customer) para o formulário/ficha cadastral que deve ser
preenchido sobre o cliente. Nesse documento devem ser respondidas
diversas perguntas, entre elas questões sobre o patrimônio do cliente e sua
origem.

Os órgãos reguladores, visando atuar mais efetivamente nas questões de


lavagem de dinheiro, vêm aos poucos regulamentando matérias e
desenvolvendo os procedimentos já em prática. Um exemplo é a Circular
do Banco Central no 3.461, de 2009, com demais alterações, que consolida
as regras sobre os procedimentos a serem adotados na prevenção e combate
às atividades relacionadas com os crimes previstos na Lei no 9.613 e dispõe
acerca dos procedimentos a serem observados pelas instituições financeiras
para o acompanhamento das movimentações financeiras de pessoas
suspeitas ou politicamente expostas. É uma forma, não restam dúvidas, de
alertar o executivo de relacionamento para atentar a questões relativas à
lavagem de dinheiro.

Função do cadastro

A ficha cadastral atualizada de um cliente tem como finalidade permitir que


a instituição financeira conheça detalhes sobre os clientes pessoas físicas e
jurídicas. As instituições devem desenvolver e implementar controles para
detectar as operações que caracterizem indício de ocorrência de “lavagem
de dinheiro”.

No caso de clientes pessoas físicas, o cadastro deve fornecer:

■dados pessoais;

■dados profissionais;

■dados patrimoniais.

Por meio de um bom conhecimento do cliente, é possível verificar


discrepâncias entre renda, dependentes e patrimônio.

A fim de evitar fraudes, é também necessário fazer a completa checagem


dos documentos pessoais (identidade, CPF e comprovante de residência).

No caso de clientes pessoas jurídicas, o cadastro deve fornecer:

■razão social e nome fantasia;


■endereço, telefone, e-mail, site etc.;

■ramo de atividades e produtos;

■dados dos principais acionistas e administradores;

■fornecedores e clientes;

■principais bancos;

■dados sobre imóveis e instalações;

■subsidiárias e afiliadas;

■dados financeiros.

Devem ser obtidas, ainda, informações que permitam caracterizar os


clientes politicamente expostos, conhecidos tecnicamente como Pessoas
Expostas Politicamente (PEP). De acordo com o Art. 4o da Circular 3.461,
“Consideram-se PEP os agentes públicos que desempenham ou tenham
desempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em países, territórios e
dependências estrangeiros, cargos, empregos ou funções públicas
relevantes, assim como seus representantes, familiares e outras pessoas de
seu relacionamento próximo”. As operações ou propostas de operações que
possuam PEP como parte envolvida serão sempre consideradas como
merecedoras de especial atenção.

A norma determina também que as instituições financeiras devem realizar


testes de verificação dos dados cadastrais com periodicidade máxima de
um ano. Devem ser avaliadas as movimentações de recursos de todos os
clientes para verificar:

■a compatibilidade entre a movimentação de recursos e a atividade


econômica e capacidade financeira do cliente;

■a origem dos recursos movimentados;

■os beneficiários finais das movimentações.

O sistema de registro e verificação das operações deve permitir a


identificação das operações que, realizadas com uma mesma pessoa,
conglomerado financeiro ou grupo, em um mesmo mês calendário,
superem, por instituição ou entidade, em seu conjunto, o valor de R$
10.000,00. Além disso, busca-se identificar as operações que, por sua
habitualidade, valor ou forma, configurem artifício que objetive burlar os
mecanismos de identificação, controle e registro.

A regulamentação é clara. Caso o profissional que se relaciona com o


cliente levante alguma suspeita com relação a uma operação de lavagem de
dinheiro, ele deve comunicar, sem dar ao cliente ciência de tal ato, no prazo
de 24 horas, às autoridades competentes.

A prática mostra que dentro de cada instituição há um canal adequado para


esses comunicados. As comunicações de boa-fé, feitas na forma prevista na
legislação, não acarretarão responsabilidade civil ou administrativa.

As instituições financeiras devem comunicar ao Conselho de Controle de


Atividades Financeiras (COAF), na forma por ele estabelecida, todas as
ocorrências suspeitas.

Identificação e registros de operações


De acordo com o art. 10 da Lei no 9.613/1998, as pessoas que atuam em
captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de terceiros; na
compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo financeiro ou
instrumento cambial; na custódia, emissão, distribuição, liquidação,
negociação, intermediação ou administração de títulos ou valores
mobiliários; nas bolsas e mercado de balcão organizado; nas seguradoras e
entidades de previdência complementar ou de capitalização; empresas de
cartão de crédito, consórcio, leasing, factoring, sorteio, corretoras de
imóveis, comercialização de bens de luxo ou alto valor e antiguidades,
juntas comerciais e registros públicos; e consultores em uma das atividades
listadas, ou em atividades desportivas e artísticas deverão:

I.identificar seus clientes e manter cadastro atualizado, nos termos de


instruções emanadas das autoridades competentes;

II.manter registro de toda transação em moeda nacional ou estrangeira,


títulos e valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou qualquer ativo
passível de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar limite fixado pela
autoridade competente e nos termos de instruções por esta expedidas;

III.adotar políticas, procedimentos e controles internos, compatíveis com


seu porte e volume de operações, que lhes permitam atender ao disposto
neste artigo e no art. 11, na forma disciplinada pelos órgãos competentes;

IV.cadastrar-se e manter seu cadastro atualizado no órgão regulador ou


fiscalizador e, na falta deste, no Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF), na forma e condições por eles estabelecidas;

V.deverão atender às requisições formuladas pelo COAF na periodicidade,


forma e condições por ele estabelecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos
da lei, o sigilo das informações prestadas.
Na hipótese de o cliente constituir-se em pessoa jurídica, a identificação
referida no item I deverá abranger as pessoas físicas autorizadas a
representá-la, bem como seus proprietários.

Os cadastros e registros deverão ser conservados durante o período mínimo


de cinco anos a partir do encerramento da conta ou da conclusão da
transação, prazo este que poderá ser ampliado pela autoridade competente.

O registro referido no item II será efetuado também quando a pessoa física


ou jurídica e seus entes ligados tiverem realizado, em um mesmo mês-
calendário, operações com uma mesma pessoa, conglomerado ou grupo
que, em seu conjunto, ultrapassem o limite fixado pela autoridade
competente.

O Banco Central manterá registro centralizado formando o cadastro geral


de correntistas e clientes de instituições financeiras, bem como de seus
procuradores.

8.3.4Operações suspeitas
Caracterização

A Carta-Circular 3.542/2012 lista uma série de atividades que podem


indicar lavagem de dinheiro. Devido à sua importância, essa
regulamentação encontra-se na íntegra, a seguir. A leitura cuidadosa desta
Carta-Circular é fundamental para o sucesso no exame e na sua vida
profissional.

CARTA-CIRCULAR 3.542

Divulga relação de operações e situações que podem configurar indícios de


ocorrência dos crimes previstos na Lei no 9.613, de 3 de março de 1998,
passíveis de comunicação ao Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (COAF).
Os Chefes dos Departamentos de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de
Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro
(DECIC), de Normas do Sistema Financeiro (DENOR) e da Gerência-
Executiva de Normatização de Câmbio e Capitais Estrangeiros (GENCE),
no uso da atribuição que confere o art. 22, inciso I, alínea a, do Regimento
Interno do Banco Central do Brasil, anexo à Portaria no 29.971, de 4 de
março de 2005, e tendo em vista esclarecer o disposto no arts. 13 e 19,
inciso II, da Circular no 3.461, de 24 de julho de 2009,

RESOLVEM:

Art. 1o As operações ou as situações descritas a seguir, considerando as


partes envolvidas, os valores, a frequência, as formas de realização, os
instrumentos utilizados ou a falta de fundamento econômico ou legal,
podem configurar indícios de ocorrência dos crimes previstos na Lei no
9.613, de 3 de março de 1998, passíveis de comunicação ao Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (COAF):

I – situações relacionadas com operações em espécie em moeda nacional:

a)realização de depósitos, saques, pedidos de provisionamento para saque


ou qualquer outro instrumento de transferência de recursos em espécie, que
apresentem atipicidade em relação à atividade econômica do cliente ou
incompatibilidade com a sua capacidade econômico-financeira;

b)movimentações em espécie realizadas por clientes cujas atividades


possuam como característica a utilização de outros instrumentos de
transferência de recursos, tais como cheques, cartões de débito ou crédito;

c)aumentos substanciais no volume de depósitos em espécie de qualquer


pessoa natural ou jurídica, sem causa aparente, nos casos em que tais
depósitos forem posteriormente transferidos, dentro de curto período de
tempo, a destino não relacionado com o cliente;
d)fragmentação de depósitos, em espécie, de forma a dissimular o valor
total da movimentação;

e)realização de depósitos de grandes valores em espécie, de forma


parcelada, especialmente em regiões geográficas de maior risco,
principalmente nos mesmos caixas ou terminais de autoatendimento
próximos, destinados a uma única conta ou a várias contas em municípios
ou agências distintas;

f)movimentação de recursos em espécie em municípios localizados em


regiões de fronteira, que apresentem indícios de atipicidade ou de
incompatibilidade com a capacidade econômico-financeira do cliente;

g)realização de depósitos em espécie em contas de clientes que exerçam


atividade comercial relacionada com negociação de bens de luxo ou de alto
valor, tais como obras de arte, imóveis, barcos, joias, automóveis ou
aeronaves executivas;

h)realização de saques em espécie de conta que receba diversos depósitos


por transferência eletrônica de várias origens em curto período de tempo;

i)realização de depósito em espécie com cédulas úmidas, malcheirosas,


mofadas, ou com aspecto de que foram armazenadas em local impróprio ou
ainda que apresentem marcas, símbolos ou selos desconhecidos,
empacotadas em maços desorganizados e não uniformes; e

j)realização de depósitos ou troca de grandes quantidades de cédulas de


pequeno valor, realizados por pessoa natural ou jurídica, cuja atividade ou
negócio não tenha como característica recebimentos de grandes quantias de
recursos em espécie;
II – situações relacionadas com operações em espécie em moeda
estrangeira e cheques de viagem:

a)movimentação de recursos em espécie em moeda estrangeira ou cheques


de viagem, que apresente atipicidade em relação à atividade econômica do
cliente ou incompatibilidade com a sua capacidade econômico-financeira;

b)negociações de moeda estrangeira em espécie, em municípios localizados


em regiões de fronteira, que não apresentem compatibilidade com a
natureza declarada da operação;

c)negociações de moeda estrangeira em espécie ou cheques de viagem


denominados em moeda estrangeira, que não apresentem compatibilidade
com a natureza declarada da operação;

d)negociações de moeda estrangeira em espécie ou cheques de viagem


denominados em moeda estrangeira, realizadas por diferentes pessoas
naturais, não relacionadas entre si, que informem o mesmo endereço
residencial; e

e)recebimentos de moeda estrangeira em espécie, por pessoas naturais


residentes no exterior, transitoriamente no País, decorrentes de ordens de
pagamento a seu favor ou da utilização de cartão de uso internacional, sem
a evidência de propósito claro;

III – situações relacionadas com dados cadastrais de clientes:

a)resistência ao fornecimento de informações necessárias para o início de


relacionamento ou para a atualização cadastral, oferecimento de
informação falsa ou prestação de informação de difícil ou onerosa
verificação;
b)abertura, movimentação de contas ou realização de operações por
detentor de procuração ou de qualquer outro tipo de mandato;

c)apresentação de irregularidades relacionadas aos procedimentos de


identificação e registro das operações exigidos pela regulamentação
vigente, seguidas ou não do encerramento do relacionamento comercial;

d)cadastramento de várias contas em uma mesma data, ou em curto


período, com depósitos de valores idênticos ou aproximados, ou com
outros elementos em comum, tais como origem dos recursos, titulares,
procuradores, sócios, endereço, número de telefone etc.;

e)realização de operações em que não seja possível identificar o


beneficiário final, observados os procedimentos definidos na
regulamentação vigente;

f)informação de mesmo endereço comercial por diferentes pessoas


jurídicas ou organizações, sem justificativa razoável para tal ocorrência;

g)representação de diferentes pessoas jurídicas ou organizações pelos


mesmos procuradores ou representantes legais, sem justificativa razoável
para tal ocorrência;

h)informação de mesmo endereço residencial ou comercial por pessoas


naturais, sem demonstração da existência de relação familiar ou comercial;
e

i)incompatibilidade da atividade econômica ou faturamento informados


com o padrão apresentado por clientes com o mesmo perfil;

IV – situações relacionadas com a movimentação de contas:


a)movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade
econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente;

b)transferências de valores arredondados na unidade de milhar ou que


estejam um pouco abaixo do limite para notificação de operações;

c)movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, em


benefício de terceiros;

d)manutenção de numerosas contas destinadas ao acolhimento de depósitos


em nome de um mesmo cliente, cujos valores, somados, resultem em
quantia significativa;

e)movimentação de quantia significativa por meio de conta até então pouco


movimentada ou de conta que acolha depósito inusitado;

f)ausência repentina de movimentação financeira em conta que


anteriormente apresentava grande movimentação;

g)utilização de cofres de aluguel de forma atípica em relação ao perfil do


cliente;

h)dispensa da faculdade de utilização de prerrogativas como recebimento


de crédito, de juros remuneratórios para grandes saldos ou, ainda, de outros
serviços bancários especiais que, em circunstâncias normais, sejam valiosas
para qualquer cliente;

i)mudança repentina e injustificada na forma de movimentação de recursos


ou nos tipos de transação utilizados;
j)solicitação de não observância ou atuação no sentido de induzir
funcionários da instituição a não seguirem os procedimentos
regulamentares ou formais para a realização de uma operação;

k)recebimento de recursos com imediata compra de instrumentos para a


realização de pagamentos ou de transferências a terceiros, sem justificativa;

l)realização de operações que, por sua habitualidade, valor e forma,


configurem artifício para burla da identificação da origem, do destino, dos
responsáveis ou dos beneficiários finais;

m)existência de contas que apresentem créditos e débitos com a utilização


de instrumentos de transferência de recursos não característicos para a
ocupação ou o ramo de atividade desenvolvida pelo cliente;

n)recebimento de depósitos provenientes de diversas origens, sem


fundamentação econômico-financeira, especialmente provenientes de
regiões distantes do local de atuação da pessoa jurídica ou distantes do
domicílio da pessoa natural;

o)pagamentos habituais a fornecedores ou beneficiários que não


apresentem ligação com a atividade ou ramo de negócio da pessoa jurídica;

p)pagamentos ou transferências por pessoa jurídica para fornecedor


distante de seu local de atuação, sem fundamentação econômico-financeira;

q)realização de depósitos de cheques endossados totalizando valores


significativos;

r)existência de conta de depósitos à vista de organizações sem fins


lucrativos cujos saldos ou movimentações financeiras não apresentem
fundamentação econômica ou legal ou nas quais pareça não haver
vinculação entre a atividade declarada da organização e as outras partes
envolvidas nas transações;

s)movimentação habitual de recursos financeiros de ou para pessoas


politicamente expostas ou pessoas de relacionamento próximo, não
justificada por eventos econômicos;

t)existência de contas em nome de menores ou incapazes, cujos


representantes realizem grande número de operações atípicas; e

u)transações significativas e incomuns por meio de contas de depósitos de


investidores não residentes constituídos sob a forma de trust;

V – situações relacionadas com operações de investimento interno:

a)operações ou conjunto de operações de compra ou de venda de títulos e


valores mobiliários a preços incompatíveis com os praticados no mercado
ou quando realizadas por pessoa cuja atividade declarada e perfil não se
coadunem ao tipo de negociação realizada;

b)realização de operações atípicas que resultem em elevados ganhos para


os agentes intermediários, em desproporção com a natureza dos serviços
efetivamente prestados;

c)investimentos significativos em produtos de baixa rentabilidade e


liquidez;

d)investimentos significativos não proporcionais à capacidade econômico-


financeira do cliente, ou cuja origem não seja claramente conhecida; e

e)resgates de investimentos no curtíssimo prazo, independentemente do


resultado auferido;
VI – situações relacionadas com cartões de pagamento:

a)utilização, carga ou recarga de cartão em valor não compatível com a


capacidade econômico-financeira, atividade ou perfil do usuário;

b)realização de múltiplos saques com cartão em terminais eletrônicos em


localidades diversas e distantes do local de contratação ou recarga;

c)utilização do cartão de forma incompatível com o perfil do cliente,


incluindo operações atípicas em outros países;

d)utilização de diversas fontes de recursos para carga e recarga de cartões;


e

e)realização de operações de carga e recarga de cartões, seguidas


imediatamente por saques em caixas eletrônicos.

VII – situações relacionadas com operações de crédito no País:

a)realização de operações de crédito no País liquidadas com recursos


aparentemente incompatíveis com a situação econômico-financeira do
cliente;

b)solicitação de concessão de crédito no País incompatível com a atividade


econômica ou com a capacidade financeira do cliente;

c)realização de operação de crédito no País seguida de remessa de recursos


ao exterior, sem fundamento econômico ou legal, e sem relacionamento
com a operação de crédito;
d)realização de operações de crédito no País, simultâneas ou consecutivas,
liquidadas antecipadamente ou em prazo muito curto;

e)liquidação de operações de crédito no País por terceiros, sem justificativa


aparente;

f)concessão de garantias de operações de crédito no País por terceiros não


relacionados ao tomador;

g)realização de operação de crédito no País com oferecimento de garantia


no exterior por cliente sem tradição de realização de operações no exterior;
e

h)aquisição de bens ou serviços incompatíveis com o objeto da pessoa


jurídica, especialmente quando os recursos forem originados de crédito no
País;

VIII – situações relacionadas com a movimentação de recursos oriundos de


contratos com o setor público:

a)movimentações atípicas de recursos por agentes públicos, conforme


definidos no art. 2o da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992;

b)movimentações atípicas de recursos por pessoa natural ou jurídica


relacionados a patrocínio, propaganda, marketing, consultorias, assessorias
e capacitação;

c)movimentações atípicas de recursos por organizações sem fins lucrativos;


e

d)movimentações atípicas de recursos por pessoa natural ou jurídica


relacionados a licitações;
IX – situações relacionadas a consórcios:

a)existência de consorciados detentores de elevado número de cotas,


incompatível com sua capacidade econômico-financeira ou com o objeto da
pessoa jurídica;

b)aumento expressivo do número de cotas pertencentes a um mesmo


consorciado;

c)oferecimento de lances incompatíveis com a capacidade econômico-


financeira do consorciado;

d)oferecimento de lances muito próximos ao valor do bem;

e)pagamento antecipado de quantidade expressiva de prestações vincendas,


não condizente com a capacidade econômico-financeira do consorciado;

f)aquisição de cotas previamente contempladas, seguida de quitação das


prestações vincendas;

g)utilização de documentos falsificados na adesão ou tentativa de adesão a


grupo de consórcio;

X – situações relacionadas a pessoas suspeitas de envolvimento com atos


terroristas:

a)movimentações financeiras envolvendo pessoas relacionadas a atividades


terroristas listadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas;
b)realização de operações ou prestação de serviços, qualquer que seja o
valor, a pessoas que reconhecidamente tenham cometido ou intentado
cometer atos terroristas, ou deles participado ou facilitado o seu
cometimento;

c)existência de recursos pertencentes ou controlados, direta ou


indiretamente, por pessoas que reconhecidamente tenham cometido ou
intentado cometer atos terroristas, ou deles participado ou facilitado o seu
cometimento; e

d)movimentações com indícios de financiamento do terrorismo;

XI – situações relacionadas com atividades internacionais:

a)realização ou proposta de operação com pessoas naturais ou jurídicas,


inclusive sociedades e instituições financeiras, situadas em países que não
apliquem ou apliquem insuficientemente as recomendações do Grupo de
Ação contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo
(GAFI), ou que tenham sede em países ou dependências com tributação
favorecida ou regimes fiscais privilegiados ou em locais onde seja
observada a prática contumaz dos crimes previstos na Lei no 9.613, de 3 de
março de 1998, não claramente caracterizadas em sua legalidade e
fundamentação econômica;

b)utilização de operações complexas e com custos mais elevados que visem


a dificultar o rastreamento dos recursos ou a identificação da natureza da
operação;

c)realização de pagamentos de importação e recebimentos de exportação,


antecipados ou não, por empresa sem tradição ou cuja avaliação
econômico-financeira seja incompatível com o montante negociado;
d)realização de pagamentos a terceiros não relacionados a operações de
importação ou de exportação;

e)realização de transferências unilaterais que, pela habitualidade, valor ou


forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade;

f)realização de transferências internacionais nas quais não se justifique a


origem dos fundos envolvidos ou que se mostrem incompatíveis com a
capacidade econômico-financeira ou com o perfil do cliente;

g)realização de transferência de valores a título de disponibilidade no


exterior, incompatível com a capacidade econômico-financeira do cliente
ou sem fundamentação econômica ou legal;

h)realização de exportações ou importações aparentemente fictícias ou com


indícios de superfaturamento ou subfaturamento;

i)existência de informações na carta de crédito com discrepâncias em


relação a outros documentos da operação de comércio internacional;

j)realização de pagamentos ao exterior após créditos em reais efetuados nas


contas de depósitos dos titulares das operações de câmbio por pessoas que
não demonstrem a existência de vínculo comercial ou econômico;

k)movimentações decorrentes de programa de repatriação de recursos que


apresentem inconsistências relacionadas à identificação do titular ou do
beneficiário final, bem como ausência de informações confiáveis sobre a
origem e a fundamentação econômica ou legal; e

l)realização de frequentes pagamentos antecipados ou à vista de importação


em que não seja possível obter informações sobre o desembaraço aduaneiro
das mercadorias;
XII – situações relacionadas com operações de crédito contratadas no
exterior:

a)contratação de operações de crédito no exterior com cláusulas que


estabeleçam condições incompatíveis com as praticadas no mercado, como
juros destoantes da prática ou prazo muito longo;

b)contratação, no exterior, de várias operações de crédito consecutivas, sem


que a instituição tome conhecimento da quitação das anteriores;

c)contratação, no exterior, de operações de crédito que não sejam quitadas


por intermédio de operações na mesma instituição;

d)contratação, no exterior, de operações de crédito, quitadas sem


explicação aparente para a origem dos recursos; e

e)contratação de empréstimos ou financiamentos no exterior, oferecendo


garantias em valores ou formas incompatíveis com a atividade ou
capacidade econômico-financeira do cliente ou em valores muito
superiores ao valor das operações contratadas ou cuja origem não seja
claramente conhecida;

XIII – situações relacionadas com operações de investimento externo:

a)recebimento de investimento externo direto, cujos recursos retornem


imediatamente a título de disponibilidade no exterior;

b)recebimento de investimento externo direto, com realização quase


imediata de remessas de recursos para o exterior a título de lucros e
dividendos;
c)realização de remessas de lucros e dividendos ao exterior em valores
incompatíveis com o valor investido;

d)realização de remessas ao exterior a título de investimento em montantes


incompatíveis com a capacidade financeira do cliente;

e)realização de remessas de recursos de um mesmo investidor situado no


exterior para várias empresas no País;

f)realização de remessas de recursos de vários investidores situados no


exterior para uma mesma empresa no País; e

g)recebimento de aporte de capital desproporcional ao porte ou à natureza


empresarial do cliente, ou em valores incompatíveis com a capacidade
econômico-financeira dos sócios; e

XIV – situações relacionadas com empregados das instituições financeiras


e seus representantes:

a)alteração inusitada nos padrões de vida e de comportamento do


empregado ou do representante, sem causa aparente;

b)modificação inusitada do resultado operacional da pessoa jurídica do


representante ou do correspondente no País, sem causa aparente;

c)realização de qualquer negócio de modo diverso ao procedimento formal


da instituição por empregado, representante ou correspondente no País; e

d)fornecimento de auxílio ou informações, remunerados ou não, a cliente


em prejuízo do programa de prevenção à lavagem de dinheiro e combate ao
financiamento do terrorismo da instituição, ou de auxílio para estruturar ou
fracionar operações, burlar limites regulamentares ou operacionais.
Art. 2o As situações descritas nesta Carta-Circular, quando aplicáveis,
podem indicar parâmetros para a estruturação de sistemas de controles
internos, inclusive informatizados, para prevenção de lavagem de dinheiro
e combate ao financiamento do terrorismo implantados pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco
Central do Brasil.

Art. 3o A comunicação das situações relacionadas nesta Carta-Circular,


bem como de outras que, embora não mencionadas, possam configurar
indícios de ocorrência das práticas de que trata o art. 13 da Circular no
3.461, de 24 de julho de 2009, deve ser efetuada por meio do Sistema de
Controle de Atividades Financeiras (SISCOAF).

Art. 4o Esta Carta-Circular entra em vigor em 14 de maio de 2012, quando


fica revogada a Carta-Circular no 2.826, de 4 de dezembro de 1998.

Nelson Rodrigues de Oliveira

Chefe do Departamento de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de


Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro,
substituto

Sergio Odilon dos Anjos

Chefe do Departamento de Normas do Sistema Financeiro

Geraldo Magela Siqueira

Chefe da Gerência-Executiva de Normatização de Câmbio e Capitais


Estrangeiros
Obrigatoriedade de comunicação e controle

As autoridades administrativas encarregadas de promover a aplicação da


Lei no 9.613, de 1998, são, além do COAF, o Banco Central do Brasil, a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros
Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (PREVIC), observada, por parte de cada uma, a sua
respectiva área de atuação.

De acordo com o art. 11 da Lei no 9.613/1998, as pessoas/empresas que


trabalham na intermediação com clientes:

I.Deverão comunicar ao COAF, abstendo-se de dar ciência de tal ato a


qualquer pessoa, inclusive àquela à qual se refira a informação, no prazo de
24 (vinte e quatro) horas, a proposta ou realização de todas as transações
que ultrapassarem limite fixado pela autoridade competente, acompanhada
da devida identificação cadastral do cliente ou de atividades que possam ter
indícios de lavagem de dinheiro.

II.Deverão comunicar ao órgão regulador ou fiscalizador da sua atividade


ou, na sua falta, ao COAF, na periodicidade, forma e condições por eles
estabelecidas, a não ocorrência de propostas, transações ou operações
passíveis de serem comunicadas nos termos da Lei.

As autoridades competentes, nas instruções referidas no item I acima,


elaborarão relação de operações que, por suas características, no que se
refere às partes envolvidas, valores, forma de realização, instrumentos
utilizados, ou pela falta de fundamento econômico ou legal, possam
configurar a hipótese nele prevista.

As comunicações de boa-fé, feitas na forma prevista nesse artigo, não


acarretarão responsabilidade civil ou administrativa.
O COAF disponibilizará as comunicações recebidas com base no inciso II
referido aos respectivos órgãos responsáveis pela regulação ou fiscalização
das pessoas a que se sujeitam à Lei no 9.613/1998.

As transferências internacionais e os saques em espécie deverão ser


previamente comunicados à instituição financeira, nos termos, limites,
prazos e condições fixados pelo Banco Central do Brasil.

No que tange ao item ora estudado, a Carta-Circular 3.542, de 2012, já


disponibilizada na íntegra, diversas vezes menciona a obrigatoriedade de
comunicação e controle sobre atividades que porventura possam parecer
suspeitas. O art. 13, por exemplo, menciona que as operações realizadas ou
serviços prestados cujo valor seja igual ou superior a R$ 10.000,00 (dez mil
reais) e que, considerando as partes envolvidas, os valores, as formas de
realização, os instrumentos utilizados ou a falta de fundamento econômico
ou legal, possam configurar a existência de indícios de lavagem de
dinheiro, devem ser comunicados ao COAF. Há até um capítulo dedicado
ao registro obrigatório das movimentações superiores a R$ 100.000,00 em
espécie. Mais uma vez menciono a importância da leitura cuidadosa da
Circular 3.542.

8.3.5Responsabilidades administrativas e legais


De acordo com o art. 12 da Lei no 9.613, às pessoas referidas na seção
anterior deste livro, bem como aos administradores das pessoas jurídicas,
que deixem de cumprir as obrigações previstas na referida Lei com relação
à identificação dos clientes, manutenção de registros e comunicação de
operações financeiras, serão aplicadas, cumulativamente ou não, pelas
autoridades competentes, as seguintes sanções:

I.advertência;

II.multa pecuniária variável não superior:

a)ao dobro do valor da operação;


b)ao dobro do lucro real obtido ou que presumivelmente seria obtido pela
realização da operação; ou

c)ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais);

III.inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício do


cargo de administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9o;

IV.cassação ou suspensão da autorização para o exercício de atividade,


operação ou funcionamento.

A pena de advertência será aplicada por irregularidade no cumprimento das


instruções com relação à captação, intermediação e aplicação de recursos
financeiros de terceiros e na compra e venda de moeda estrangeira ou ouro
como ativo financeiro ou instrumento cambial.

A multa será aplicada sempre que as pessoas, por culpa ou dolo:

I.deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertência, no prazo


assinalado pela autoridade competente;

II.não cumprirem o disposto nos incisos I a IV do art. 10, mencionados na


seção 7.3.3 deste capítulo;

III.deixarem de atender, no prazo estabelecido, a requisição formulada nos


termos do inciso V do art. 10, mencionado na seção 8.3.3;

IV.descumprirem a vedação ou deixarem de fazer a comunicação a que se


refere o art. 11, mencionado na seção 8.3.4.
A inabilitação temporária será aplicada quando forem verificadas infrações
graves quanto ao cumprimento das obrigações constantes desta Lei ou
quando ocorrer reincidência específica, devidamente caracterizada em
transgressões anteriormente punidas com multa.

A cassação da autorização será aplicada nos casos de reincidência


específica de infrações anteriormente punidas com a pena prevista no
inciso III do caput deste artigo.

Logo, não vale a pena um executivo de relacionamento aceitar recursos


suspeitos de um cliente apenas para bater sua meta. A conta no final pode
sair muito cara. Em casos reais nos quais o gerente foi envolvido, as
instituições não defenderam o seu profissional, que acabou afastado de suas
funções e teve dificuldades para se recolocar no mercado.

8.3.6Crime de lavagem de dinheiro


O tema “lavagem de dinheiro” difundiu-se nas conferências internacionais,
e a preocupação com os aspectos práticos de combate a esse crime
começou a tomar corpo de modo mais amplo já no início dos anos 1990.
Diversos países tipificaram então o crime da lavagem de dinheiro e
passaram a criar agências governamentais responsáveis pela
regulamentação dos setores mais visados pelas organizações criminosas e
pelo acompanhamento de operações consideradas suspeitas. Tais agências
são conhecidas mundialmente por Unidades Financeiras de Inteligência
(FIU).

Os mecanismos mais utilizados no processo de lavagem de dinheiro


envolvem teoricamente três etapas independentes que, com frequência,
ocorrem simultaneamente. De acordo com a Cartilha de Lavagem de
Dinheiro, preparada pelo COAF,1 essas etapas são:

1.Colocação – a primeira etapa do processo é a colocação do dinheiro no


sistema econômico. Objetivando ocultar sua origem, o criminoso procura
movimentar o dinheiro em países com regras mais permissivas e naqueles
que possuem um sistema financeiro liberal.2 A colocação se efetua por
meio de depósitos, compra de instrumentos negociáveis ou compra de bens.
Para dificultar a identificação da procedência do dinheiro, os criminosos
aplicam técnicas sofisticadas e cada vez mais dinâmicas, tais como o
fracionamento dos valores que transitam pelo sistema financeiro e a
utilização de estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com
dinheiro em espécie.

2.Estratificação/ocultação – a segunda etapa do processo consiste em


dificultar o rastreamento contábil dos recursos ilícitos. O objetivo é quebrar
a cadeia de evidências ante a possibilidade da realização de investigações
sobre a origem do dinheiro. Os criminosos buscam movimentá-lo de forma
eletrônica, transferindo os ativos para contas anônimas –
preferencialmente, em países amparados por lei de sigilo bancário – ou
realizando depósitos em contas “fantasmas”.

3.Integração – nesta última etapa, os ativos são incorporados formalmente


ao sistema econômico. As organizações criminosas buscam investir em
empreendimentos que facilitem suas atividades – podendo tais sociedades
prestar serviços entre si. Uma vez formada a cadeia, torna-se cada vez mais
fácil legitimar o dinheiro ilegal.

O caso real que se segue, mencionado na Cartilha citada, ilustra questões


de lavagem de dinheiro e mostra a sequência aqui citada.

Caso Franklin Jurado

O caso de Franklin Jurado (Estados Unidos, 1990-1996) ilustra o que seria


um ciclo clássico de lavagem de dinheiro. Economista colombiano formado
em Harvard, Jurado coordenou a lavagem de cerca de US$ 36 milhões em
lucros obtidos por José Santacruz-Londono com o comércio ilegal de
drogas.

O depósito inicial – o estágio mais arriscado, pois o dinheiro ainda está


próximo de suas origens – foi feito no Panamá. Durante um período de três
anos, Jurado transferiu dólares de bancos panamenhos para mais de 100
contas diferentes em 68 bancos de nove países, mantendo os saldos abaixo
de US$ 10 mil para evitar investigações.

Os fundos foram novamente transferidos, dessa vez para contas na Europa,


de maneira a obscurecer a nacionalidade dos correntistas originais, e, então,
transferidos para empresas de fachada. Finalmente, os fundos voltaram à
Colômbia por meio de investimentos feitos por companhias europeias em
negócios legítimos, como restaurantes, construtoras e laboratórios
farmacêuticos, que não levantariam suspeitas.

O esquema foi interrompido com a falência de um banco em Mônaco,


quando várias contas ligadas a Jurado foram expostas. Fortalecida por leis
antilavagem, a polícia começou a investigar o caso e Jurado foi preso.

8.4Ética na venda
Venda casada

Conforme explicado por Nayca Negreiros Ferreira:3

Entende-se por venda casada a prática comercial em que o fornecedor


condiciona a venda de um produto ou serviço à aquisição de outro produto
ou serviço.

Segundo Kotler, grande nome no ramo da Administração, a venda casada é


tida como um marketing lateral, no momento que o fornecedor se utiliza de
um produto ou serviço existente no mercado para lançar outro. Por
exemplo, temos os cereais matinais em grãos, posteriormente, o fornecedor
tem a ideia de lançar o cereal em barra. Durante algum tempo, utiliza-se do
cereal em grãos, que já estava no mercado, como uma forma de colocar o
produto novo no comércio, através da venda conjugada.
Para ilustrar a venda casada, temos alguns exemplos: 1 – agências
bancárias, quando o cliente vai em busca de um empréstimo pessoal e
chegando ao banco o gerente oferta a esse cliente alguns outros produtos,
como: título de capitalização, poupança, seguro de vida, entre outros. Nessa
situação, é importante observar que em um discurso persuasivo, o gerente
acaba por convencer o consumidor a adquirir tanto o produto que tem
necessidade, como a “oferta” feita pelo banco.

[...] Esses exemplos são formas de venda casada do ponto de vista jurídico
e um marketing lateral na visão dos estrategistas.

A prática de venda casada deve ser coibida, pois fere o Direito do


Consumidor, conforme previsto no art. 5o, II, da Lei no 8.137/1990, sendo
considerado um crime contra a relação de consumo.

Restrições do investidor

De acordo com o art. 37 do Código de fundos da ANBIMA, as instituições


participantes administradoras de Fundos de Investimento deverão adotar
procedimentos formais, estabelecidos de acordo com critérios próprios, que
possibilitem verificar que as instituições responsáveis pela distribuição de
fundos de investimento tenham procedimentos que verifiquem a adequação
dos investimentos pretendidos pelo investidor a seu perfil de investimentos,
conforme será abordado na seção 8.5.

Na distribuição de fundos de investimento, deverá ser adotado processo de


coleta de informações dos investidores, que permita a aferição apropriada
da situação financeira do investidor, sua experiência em matéria de
investimentos e seus objetivos de investimento.

A coleta de informações prevista deverá fornecer informações suficientes


para permitir a definição de um perfil de investimento para cada cliente
(“perfil”).
O perfil deverá possibilitar a verificação da adequação dos objetivos de
investimento dos clientes à composição das carteiras por eles
pretendidas/detidas em cada instituição participante.

Caso seja verificada divergência entre o perfil identificado e a efetiva


composição da carteira pretendida/detida pelo cliente, deverão ser
estabelecidos procedimentos, junto ao cliente, para tratamento de tal
divergência.

Quando se tratar da distribuição de fundos de investimento por meio de


agências bancárias, no varejo, deverão ser adotados os procedimentos
mencionados apenas para os cotistas dos fundos de investimento
pertencentes às categorias ações, multimercado e, no caso de cotistas de
fundos de renda fixa, apenas para aqueles com o atributo crédito privado.

Independentemente das regras do código da ANBIMA, um gerente que


adota as melhores práticas profissionais leva em consideração
características como idade, horizonte de investimento e conhecimento do
produto, além da tolerância do cliente ao risco. Indicações de investimentos
em ações, por exemplo, devem ser feitas para a parcela dos recursos que é
destinada ao longo prazo, devido à alta volatilidade do produto. Entretanto,
para aqueles investidores que estão conscientes da volatilidade e que
desejam ter uma rentabilidade mais alta sem se importar com possíveis
perdas, talvez ações sejam um produto mais adequado em determinado
momento. Por isso, nem sempre um investimento que é bom para um
cliente também o é para outro, dado que cada indivíduo é único e está em
um momento de vida próprio.

A adoção de procedimentos corretos contribui para a satisfação do cliente


e, consequentemente, sua fidelização. Vale mencionar, por fim, que um
trabalho consciente e profissional está de acordo com os princípios
estudados na seção 8.1, pois visam ao real interesse do investidor.

8.5Análise do perfil do investidor


Uma venda bem-feita de um investimento deve ser precedida de uma
análise do perfil do investidor (API), parte integrante do processo de
suitability, que será abordado também na seção 9.3 deste livro.

O perfil do investidor é um reflexo de suas metas e objetivos. Ele define o


quanto de risco alguém deseja correr e também o tipo de retorno que ele
espera obter. Baseado nesse perfil, o executivo que está aconselhando o
cliente pode determinar onde o cliente deve alocar seus recursos, uma vez
que cada classe de ativo carrega um diferente nível de risco. O perfil do
investidor define quanto deve ser investido em ações, renda fixa e outras
classes de ativos e quanto deve ficar em liquidez.

Alguns critérios determinam o perfil do investidor. É comum o executivo


de investimento solicitar que o cliente preencha um questionário, por meio
do qual será possível identificar o seu perfil (vide, no final desta seção, o
teste perfil de risco, que foi desenvolvido por mim para o livro Planeje seu
futuro financeiro, de minha autoria). O objetivo é conhecer coisas básicas,
como volume de dinheiro disponível para investir, necessidade de liquidez,
idade e outras informações mais, como veremos a seguir. Afinal, como
costumo dizer, cada indivíduo é único e assim deve ser tratado. Note que
cada instituição tem seu próprio questionário.

Resumindo, o primeiro passo em um processo de investimento é traçar o


perfil do cliente. Há vários questionários, uns mais detalhados, outros mais
concisos. Entretanto, uma avaliação correta do perfil do cliente passa pelas
seguintes definições: fontes de riqueza, medidas de riqueza, necessidade de
liquidez, ciclo de vida, grau de conhecimento do mercado financeiro e grau
de tolerância a correr riscos.

8.5.1Suitability: Instrução CVM 539


Dada a sua relevância no processo de investimento, e visando sistematizá-
lo, em 01/07/2015, entrou em vigor a Instrução CVM 539, que dispõe sobre
o dever de verificação da adequação dos produtos, serviços e operações ao
perfil do cliente, processo conhecido como suitability. O programa do
exame CPA-10 exige o seu conhecimento. Ei-la, portanto, de forma
comentada.
Instrução CVM 539

Do que se trata: obrigação de verificação da adequação dos produtos,


serviços e operações ao perfil do cliente.

A quem se aplica a obrigatoriedade de seguir o processo: ao titular da


aplicação.

Quando deve ser aplicada: antes de recomendar produtos ou serviços,


direcionados a clientes específicos, realizados mediante contato pessoal ou
com o uso de qualquer meio de comunicação, seja sob forma oral, escrita,
eletrônica ou pela rede mundial de computadores.

O que deve ser verificado:

■se o produto, serviço ou operação é adequado aos objetivos de


investimento do cliente;

■se a situação financeira do cliente é compatível com o produto, serviço ou


operação;

■se o cliente possui conhecimento necessário para compreender os riscos


relacionados ao produto, serviço ou operação.

O que deve ser analisado, minimamente, em relação ao cliente:

■o período em que o cliente deseja manter o investimento;


■as preferências declaradas do cliente quanto à assunção de riscos: checar
(i) o valor das receitas regulares declaradas pelo cliente; (ii) o valor e os
ativos que compõem o patrimônio do cliente; e (iii) a necessidade futura de
recursos declarada pelo cliente;

■as finalidades do investimento (no caso de pessoa física somente): checar


(i) os tipos de produtos, serviços e operações com os quais o cliente tem
familiaridade; (ii) a natureza, o volume e a frequência das operações já
realizadas pelo cliente no mercado de valores mobiliários, bem como o
período em que tais operações foram realizadas; e (iii) a formação
acadêmica e a experiência profissional do cliente.

O que deve ser analisado com relação ao produto: custos diretos e indiretos
associados aos produtos, serviços ou operações. Não devem ser
recomendados aqueles que, isoladamente ou em conjunto, impliquem
custos excessivos e inadequados ao perfil do cliente.

Classificação de risco: é mandatório estabelecer uma classificação prévia


de perfil de risco.

Categorias de produtos: analisar e classificar as categorias de produtos com


que atuem, identificando as características que possam afetar sua
adequação ao perfil do cliente, considerando, no mínimo:

■os riscos associados ao produto e seus ativos subjacentes;

■o perfil dos emissores e prestadores de serviços associados ao produto;

■a existência de garantias; e

■os prazos de carência.


O que não é permitido: recomendar produtos ou serviços ao cliente quando:

■o perfil do cliente não seja adequado ao produto ou serviço;

■não sejam obtidas as informações que permitam a identificação do perfil


do cliente; ou

■as informações relativas ao perfil do cliente não estejam atualizadas.

Validade da análise: a cada 24 meses, o executivo de relacionamento deve


refazer a análise e os arquivos com o teste devem ser mantidos pelo prazo
mínimo de 5 (cinco) anos contados da última recomendação prestada ao
cliente ou da última operação realizada pelo cliente.

As instituições devem indicar um diretor estatutário responsável pelo


cumprimento dessas normas e ter o processo de suitability formalizado,
inclusive adotando políticas internas específicas no caso de produtos
complexos.

Como proceder se a API estiver desatualizada, ausente ou esta não


coincidir com o perfil de risco do investimento:

■alertar o cliente acerca da ausência ou desatualização de perfil ou da sua


inadequação, com a indicação das causas da divergência; e

■obter declaração expressa do cliente de que está ciente da ausência,


desatualização ou inadequação de perfil.

Quais clientes estão dispensados do processo de suitability:

■pessoas habilitadas a atuar como integrantes do sistema de distribuição;


■companhias seguradoras e sociedades de capitalização;

■entidades abertas e fechadas de previdência complementar;

■fundos de investimento;

■investidores não residentes;

■pessoas jurídicas que sejam consideradas investidores qualificados;

■analistas, administradores de carteira e consultores de valores mobiliários


autorizados pela CVM, em relação a seus recursos próprios.

Possibilidade de venda de um produto não adequado ao perfil do investidor

A Instrução da CVM é clara, não permitindo a venda de produtos ou


serviços quando não forem adequados ao perfil do cliente, quando o
profissional não conhecer o perfil do cliente ou quando as informações do
perfil não estiverem atualizadas. Vejamos agora o que acontece quando o
cliente ordenar a realização de operações mesmo que o produto não seja
adequado ao seu perfil.

Segundo o Art. 6o da ICVM 539, o profissional de venda deve, nesses


casos:

I– alertar o cliente acerca da ausência ou desatualização de perfil ou da sua


inadequação, com a indicação das causas da divergência; e
II– obter declaração expressa do cliente de que está ciente da ausência,
desatualização ou inadequação de perfil.

Entretanto, as providências exigidas são dispensadas quando o cliente


estiver, comprovadamente, implementando recomendações fornecidas por
consultor de valores mobiliários autorizado pela CVM.

Perfil de risco4

1.Em que fase da vida você se encontra?

a.Acumulação – procuro poupar constantemente e pretendo acumular mais


patrimônio.

b.Consolidação – quero manter meu patrimônio.

c.Consumo – já juntei o suficiente e procuro satisfazer meus desejos de


consumo.

d.Distribuição – tenho justo ou mais do que preciso e estou em fase de


doação do meu patrimônio.

2.Evolução profissional:

a.Em rápido crescimento.

b.Estável.

c.Insatisfatória/instável.
d.Aposentado.

3.Como está distribuído seu patrimônio total, incluindo imóveis e negócios


próprios?

a.Praticamente 100% em imóveis.

b.Pelo menos 20% no mercado acionário (fundos ou papéis).

c.Meu patrimônio financeiro está todo em renda fixa.

d.Sou empresário e meu patrimônio está quase todo aplicado na minha


empresa.

4.Qual seu grau de conhecimento de mercado financeiro?

a.Não entendo de investimentos.

b.Entendo pouco de investimentos. Conheço os principais investimentos do


mercado (poupança, fundos e CDB).

c.Tenho algum conhecimento de mercado financeiro. Entendo o que são


opções, futuros, hedge e afins.

d.Conheço profundamente o mercado financeiro e todos os seus


instrumentos, inclusive derivativos.

5.Qual sua necessidade de liquidez sobre seus investimentos?


a.Vou precisar lançar mão deste recurso em até 60 dias.

b.O investimento, ou pelo menos 80% dele, pode esperar 6 meses.

c.Pelo menos 50% dele pode ser aplicado por 3 anos.

d.Não precisarei deste recurso em menos de 8 anos.

6.Qual seu grau de tolerância a correr riscos?

a.Não aceito perder parte do meu principal em prazo algum.

b.Aceito correr um pequeno risco para obter retorno um pouco acima da


média.

c.Entendo que sem risco não há retorno significativo e estou sujeito a correr
algum risco em parte do meu dinheiro para obter retorno maior do que da
renda fixa a longo prazo.

d.Gosto de emoções fortes e de assumir riscos nos meus investimentos,


mesmo que isso signifique perder todo o meu dinheiro.

Calculando seu perfil: some os pontos atribuídos a cada resposta, com base
na seguinte tabela:

Pergunta

a
b

2
3

3
4

Total

Total geral de pontos

Identifique sua pontuação geral nos perfis a seguir:


6 a 10Conservador – não gosta de correr riscos, dando sempre preferência à
preservação do capital. Recomendação: 100% em renda fixa.

11 a 17Moderado – aceita correr algum risco em parte do seu capital e não


se apavora quando o mercado financeiro se torna muito volátil.
Recomendação: até 30% em renda variável.

18 a 24Agressivo – acredita que o risco é importante para se ter um retorno


acima da média. Não perde o sono quando a bolsa de valores apresenta
fortes quedas. Entende os ciclos do mercado financeiro e sempre tem
dinheiro em ativos de risco, mesmo nos períodos turbulentos.
Recomendação: acima de 30% em renda variável.

Pontos importantes – Ética e regulação

■Atitudes éticas são importantes por se traduzirem em uma relação de


confiança e manutenção do cliente. Devemos ter atitudes éticas no nosso
dia a dia profissional, o que ajuda a consolidar e manter a boa imagem da
instituição no mercado, traduzindo-se em mais negócios. Por isso, o cliente
deve estar sempre em primeiro lugar.

■Código ANBIMA de Distribuição de Produtos de Investimento – tem por


objetivo estabelecer princípios e regras para a distribuição de produtos de
investimento e estabelece padrões éticos de conduta, visando às melhores
práticas de seus profissionais e das instituições aderentes ao código.

■O Código de Distribuição estabelece regras de segurança e sigilo das


informações, regras de confecção e divulgação de material publicitário e
técnico dos produtos a serem distribuídos, inclusive quanto a termos a
serem utilizados de modo a alertar o cliente quanto aos riscos inerentes ao
produto sendo distribuído.
■O Código de distribuição traz regras claras quanto ao processo de
“Conheça o seu Cliente” e explicita a obrigatoriedade da aplicação de
regras de suitability.

■Selo ANBIMA: sua utilização significa exclusivamente o compromisso


da Instituição Participante em atender às disposições do código da
ANBIMA.

■Lavar dinheiro significa ocultar ou dissimular a natureza, origem,


localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (Lei no
9.613/1998).

■Devido à natureza, alguns setores estão mais expostos à lavagem de


dinheiro, tais como a captação, intermediação e aplicação de recursos
financeiros de terceiros, seguradoras, administradoras de cartões,
factorings, imobiliárias, pessoas físicas ou jurídicas que representem uma
empresa estrangeira, que comercializem joias, pedras e metais preciosos,
objetos de arte e antiguidades.

■Como meio de prevenção à lavagem de dinheiro, é fundamental preencher


um formulário de “Conheça seu Cliente”. O objetivo é permitir um bom
conhecimento do cliente e verificar discrepâncias entre renda, dependentes
e patrimônio.

■Se a ficha cadastral estiver desatualizada, fica vedado prestar uma série de
serviços ao cliente.

■Se o gerente suspeitar de alguma atividade do cliente que possa levar à


lavagem de dinheiro, ele deve comunicar, sem dar ciência de seu ato ao
cliente, à área competente dentro de sua instituição, que dará
prosseguimento à suspeita e encaminhará ao COAF. Essa comunicação
deve ser feita em até 24 horas da operação suspeita.
■A Carta 3.542/2012 lista uma série de operações que podem indicar
lavagem de dinheiro. Essa lista é muito importante e deve ser lida por todo
profissional que atua na captação de recursos, uma vez que não só a
instituição, mas também seus diretores e o gerente da conta estão sujeitos
às penalidades previstas na legislação, que incluem sanções administrativas
e penais.

■Os mecanismos mais utilizados no processo de lavagem de dinheiro


envolvem três etapas (COI):

○colocação – ocorre quando do ingresso dos recursos no sistema


financeiro;

○ocultação – realização de operações que visam dificultar o rastreamento


contábil dos recursos ilícitos;

○integração – ocorre a incorporação formal dos recursos no sistema


econômico.

■Venda casada – prática comercial em que o fornecedor condiciona a


venda de um produto ou serviço à aquisição de outro produto ou serviço.

■Antes de indicar um investimento para o cliente, deve-se fazer a Análise


do Perfil de Risco e observar o processo de suitability.

■A ICVM 539 define o processo obrigatório de suitability, que visa


adequar a recomendação de investimentos ao seu perfil de risco. Devem ser
verificados:

○situação financeira do cliente;

○conhecimento sobre produtos financeiros e seus riscos;


○necessidades de liquidez;

○perfil de risco;

○finalidades do investimento.

Exercícios de fixação

1.A lavagem de dinheiro consiste, fundamentalmente, em:

a.Um processo pelo qual clientes estabelecem alternativas financeiras para


reduzir a carga tributária em suas operações.

b.Um conjunto de operações financeiras realizadas exclusivamente em


paraísos fiscais, visando inibir a ação e o controle fiscal.

c.Operações ilícitas que buscam otimizar seus rendimentos.

d.Um processo pelo qual o criminoso transforma recursos ganhos de forma


ilícita em ativos com origem aparentemente legal.

2.Uma ação preventiva muito efetiva no combate à lavagem de dinheiro e


prevista na regulamentação é:

a.Não aceitar depósitos em dinheiro acima de R$ 10 mil.

b.Não fornecer talão de cheques ao cliente quando o cadastro dele estiver


desatualizado.
c.Não permitir que o cliente tenha mais de uma conta bancária na mesma
instituição financeira.

d.Conhecer o cliente adequadamente, preenchendo todo o seu cadastro e


conferindo as informações por ele fornecidas.

3.As informações cadastrais dos clientes devem ser mantidas em poder da


instituição financeira por, no mínimo:

a.1 ano a partir do encerramento de sua conta.

b.2 anos a partir de sua última movimentação na conta.

c.5 anos a partir do último dia do ano do encerramento de sua conta.

d.20 anos se o cliente for também Pessoa Politicamente Exposta.

4.Qual o principal órgão de combate à lavagem de dinheiro, criado a partir


da edição da Lei no 9.613/98?

a.Ministério Público Federal.

b.Unidade de Inteligência Financeira, antigo COAF.

c.Secretaria da Receita Federal.

d.Banco Central.
5.O processo de suitability consiste, fundamentalmente, em:

a.Verificar se os produtos ofertados são adequados ao perfil do cliente.

b.Analisar o perfil do investidor.

c.Classificar o cliente em conservador, moderado ou agressivo.

d.Adequar os produtos da instituição ao perfil de seus clientes.

6.Se um gerente de relacionamento não completar o processo de suitability


antes de processar a aplicação do cliente, ele:

a.Não está ferindo nenhum item da Instrução CVM 539.

b.Não está ferindo nenhum item do Código ANBIMA de Distribuição de


Produtos de Investimento.

c.Está ferindo o Código ANBIMA de Distribuição de Produtos de


Investimento, mas não está ferindo a Instrução CVM 539.

d.Está ferindo tanto o Código ANBIMA de Distribuição de Produtos de


Investimento quanto a Instrução CVM 539.

7.Durante entendimentos iniciais com o cliente, o gerente de


relacionamento condiciona a venda de determinado produto ou serviço à
aquisição de outro produto ou serviço. Estamos diante de:

a.Uma venda casada, que fere as regras do Banco Central do Brasil.


b.Uma venda casada, que fere o Código de Defesa do Consumidor.

c.Uma prática normal, que pode até constar no manual da instituição


financeira.

d.Uma prática abominável, que pode ser punível com multa de até R$
100.000,00.

8.Quando as informações relativas ao perfil do cliente estão desatualizadas:

a.O gerente de relacionamento não pode recomendar produtos ou serviços


ao cliente.

b.A conta-corrente do cliente fica bloqueada para depósitos.

c.O cliente não pode resgatar seus investimentos nem fazer novas
aplicações.

d.O gerente de relacionamento pode sofrer punição do Banco Central.

Gabarito

1. d

2. d

3. c
4. b

5. a

6. d

7. b

8. a

___________

1Disponível em:
http://www.fazenda.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/cartilhas/
arquivos/cartilha-lavagem-de-dinheiro-um-problema-mundial.pdf/view.
Acesso em: 13 abr. 2020.

2A lavagem de dinheiro pode ser realizada em qualquer lugar. Assim, os


criminosos escolhem países onde as leis são ou inexistentes ou flexíveis,
ou, ainda, onde os esforços de controle não são fortes o bastante para pegar
os envolvidos.

3Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2513/Venda-


casada-uma-pratica-usual-na-sociedade-capitalista. Acesso em: 17 jul.
2009.

4Teste desenvolvido por Lilian Gallagher e disponível no livro Planeje seu


futuro financeiro.
CAPÍTULO 9
Princípios de Investimento
Objetivos

Ao final deste capítulo, você deve ser capaz de:

■Listar os principais fatores de análise de um investimento, incluindo os


riscos.

■Adequar os produtos de investimento às necessidades dos investidores.

■Aplicar uma análise de perfil do investidor.

Conteúdo

Este capítulo está organizado nas seguintes unidades:

9.1Principais fatores de análise de investimentos

9.2Principais riscos do investidor

9.3Fatores determinantes para adequação dos produtos de investimento às


necessidades dos investidores

Pontos importantes – Princípios de investimento

Proporção no exame

De 10 a 20%.
Tempo estimado de estudo

Duas horas.

9.1Principais fatores de análise de investimentos


9.1.1Rentabilidade
Rentabilidade é um termo usado para expressar a valorização (ou
desvalorização) de um determinado investimento em termos percentuais.
Alguns analistas usam o termo “retorno” em vez de rentabilidade.

Rentabilidade = ((Preço final/Preço inicial) – 1) × 100, em que:

Preço final – é o preço do ativo financeiro no final do período de cálculo da


rentabilidade;

Preço inicial – é o preço do ativo financeiro no momento da aplicação.

Exemplo 1:

Qual a rentabilidade obtida por um investidor que tenha feito uma


aplicação de R$ 1.000 e que após um mês tem R$ 1.100?

Rentabilidade = ((R$ 1.100 ÷ R$ 1.000) – 1) × 100 = 10%

Exemplo 2:
Um investidor aplicou R$ 1.000 em um fundo de investimento que rendeu
1,0% no primeiro mês, 0,95% no segundo mês e – 0,05% no terceiro. Findo
o período, o investidor solicitou o resgate do fundo. Que valor resgatou
bruto, sem descontar o imposto de renda, após esse período?

Resgate = R$ 1.000 × (1 + 0,01) × (1 + 0,0095) × (1 – 0,0005) = R$


1.019,09

Dica: Lembrando que não se somam as rentabilidades mensais para


encontrar a acumulada, e sim multiplica-se o valor inicial por (1 +
rentabilidade%), tantas vezes quantos forem os períodos.

Rentabilidade absoluta versus rentabilidade relativa (benchmark)

A rentabilidade absoluta diz respeito ao retorno obtido, sem compará-lo a


outro investimento ou índice de referência.

Já quando se fala em rentabilidade relativa, estamos falando em comparar o


retorno obtido no investimento com algum outro indicador de referência.

Exemplo:

Suponha que a rentabilidade de um Fundo DI tenha sido 1,14% em um


determinado mês e que a Taxa DI (CDI) no mesmo período tenha variado
1,16%. Quais foram a rentabilidade absoluta e a relativa do fundo?

Rentabilidade absoluta do fundo = 1,14%

Rentabilidade relativa do fundo comparada ao CDI = (1,14 ÷ 1,16) × 100 =


98,3% do CDI.
Rentabilidade bruta versus rentabilidade líquida

A rentabilidade bruta considera a rentabilidade obtida em um investimento


sem considerar os custos adicionais. Já a rentabilidade líquida subtrai esses
custos, como o imposto de renda, por exemplo.

Para melhor compreensão, siga o raciocínio a seguir.

Suponha que um investidor aplicou R$ 10.000,00 em um CDB. Passados


950 dias, ele resgatou R$ 11.800,00. Quais foram suas rentabilidades bruta
e líquida?

Rendimento = R$ 11.800,00 – R$ 10.000,00 = R$ 1.800,00

Rentabilidade bruta = R$ 1.800,00 ÷ R$ 10.000,00 = 0,18 = 18%

Prazo em que ficou aplicado = 950 dias

Logo, segundo a tabela de imposto de renda, a alíquota aplicável será de


15% sobre os rendimentos.

Imposto de renda = R$ 1.800,00 × 15% = R$ 270,00

Valor a ser creditado em conta-corrente = R$ 11.800,00 – R$ 270,00 = R$


11.530,00

Rentabilidade líquida = (R$ 11.530,00 – R$ 10.000,00) ÷ R$ 10.000,00 =


0,1530 = 15,30%

9.1.2Liquidez
Não basta apenas comparar rentabilidade entre os investimentos; a análise
da liquidez do investimento é, também, muito importante.

O Certificado de Recebíveis Imobiliários, por exemplo, não oferece


liquidez antes do prazo de vencimento. Logo, ao vender produtos que não
oferecem liquidez antecipada, o gerente tem de deixar isso bem claro para o
cliente: que terá seus recursos privados durante o prazo da operação.

Suponha também, por exemplo, um investidor que deseja acumular


poupança para dar de entrada em um apartamento daqui a seis meses.
Decerto que o PGBL não será um produto indicado para ele, dadas suas
restrições de liquidez.

Outro exemplo de questões de liquidez é o investimento em ações, que tem


liquidez em D+2 no mínimo. No caso dos fundos de ações, a liquidez é, via
de regra, em D+3. É importante ressaltar que estamos falando em dias
úteis, e não corridos.

Muitas instituições oferecem liquidez em determinados produtos. O gerente


deve ser bem claro com seu cliente, evitando transtornos maiores no futuro,
e apresentar todas as regras do produto, inclusive quanto à liquidez. Às
vezes o produto é excelente em termos de rentabilidade e risco de crédito,
mas não atende às necessidades de liquidez do cliente.

9.1.3Risco
Podemos definir risco como sendo a volatilidade de resultados não
esperados ou uma estimativa para as possíveis perdas de uma instituição
financeira, um fundo de investimento ou um investidor, devido às
incertezas de suas atividades diárias. Gerenciamento de risco é o conjunto
de pessoas, sistemas e medidas de controle, utilizado para medir e controlar
os riscos inerentes às atividades diárias de uma instituição.

No mercado financeiro, usamos três conceitos muito importantes sobre


investimento, que são: risco, retorno e incerteza. O retorno pode ser
entendido como sendo uma medida numérica da apreciação do capital
investido, ao final de um horizonte de investimento. Obviamente, existem
incertezas ligadas a esse retorno que obteremos ao final do período de
investimento. Uma avaliação numérica dessa incerteza é o que chamamos
de risco. Resumindo, risco é a incerteza de um retorno esperado.

Todo investimento tem risco, mesmo que em um primeiro olhar o gerente e


o investidor não percebam. Até mesmo um CDB aparentemente tranquilo
apresenta risco de crédito (risco de a instituição quebrar) e risco de
mercado (risco de flutuação na taxa de juros). No caso de um fundo, por
exemplo, o prospecto aponta os riscos do investimento.

O gerente cauteloso deve informar os riscos do produto que está oferecendo


para o seu cliente. Isso é uma venda consciente.

Volatilidade

Um conceito frequentemente associado a risco é volatilidade, que se refere


ao grau médio de variação das cotações de um determinado ativo em
determinado período. É uma ferramenta muito importante para quem atua
com investimentos, pois nesse mercado o investidor está sempre querendo
saber a tendência das variáveis, bem como a velocidade em que elas vão se
movimentar. Em certo sentido, a volatilidade é uma medida da velocidade
do mercado.

Os mercados que se movem lentamente são mercados de baixa volatilidade,


e os que se movem rapidamente são mercados de alta volatilidade. E, como
o risco precisa ser mensurado, a volatilidade acaba sendo uma medida
utilizada.

Por volatilidade, podemos entender a medida estatística da possibilidade de


o ativo cair ou subir, muitas vezes de forma significativa, em um
determinado período de tempo (dia, mês ou ano, por exemplo).
Teoricamente, o valor da volatilidade associado ao preço de uma
mercadoria é a variação de preço referente a um desvio-padrão, expressa
em porcentagem, ao fim de um período de tempo. Em outras palavras, se
um ativo tem preço hoje de R$ 50,00 com volatilidade de 20% ao ano,
espera-se que o preço desse ativo, daqui a um ano, em média, esteja entre
R$ 40 (R$ 50 – 20% × R$ 50) e R$ 60 (R$ 50 + 20% × R$ 50), com um
grau determinado de confiança.1

Como medida de risco, a volatilidade pode ser calculada de várias formas.


A medida mais utilizada, mas não a única, para medir o risco é a variância
ou o desvio-padrão2 da rentabilidade histórica de um determinado
investimento. Essa é uma medida de volatilidade absoluta, que muda de
acordo com o período de tempo determinado, de forma que na hora do
cálculo o período escolhido é de vital importância.

O desvio-padrão é a raiz quadrada da variância e é uma medida de


dispersão que estuda quão dispersas estão as observações da média dessas
observações. Por isso, quanto maior a variância ou o desvio-padrão, maior
a volatilidade do ativo. Traduzindo, supondo dois fundos, A e B, sendo que
o desvio-padrão dos retornos diários do fundo A é maior que o do fundo B,
conclui-se que o fundo A tem volatilidade maior do que o fundo B. Dito de
outra forma, as cotas do fundo A variam mais do que as cotas do fundo B.

Além de medidas de volatilidade absoluta, existem também formas de


avaliar a volatilidade de forma relativa, ou seja, em relação à volatilidade
do mercado, por exemplo.3

9.2Principais riscos do investidor


9.2.1Risco de mercado
O risco de mercado é a resultante das mudanças no comportamento do
preço de um ativo diante das condições de mercado. Podemos definir risco
de mercado como sendo uma medida da incerteza relacionada aos retornos
esperados de um investimento em decorrência de variações em fatores de
mercado, como taxas de câmbio, taxas de juros, preços de commodities e
preço de ações.
Para entender e medir possíveis perdas devido às flutuações do mercado, é
de extrema importância saber identificar e quantificar o mais corretamente
possível as volatilidades e as correlações4 dos vários fatores que podem
impactar a dinâmica do preço de um ativo.

O risco de mercado pode ser analisado de duas maneiras distintas, as quais


são:

■risco de mercado relativo é uma medida da variação da rentabilidade de


um determinado portfólio em comparação a certo índice utilizado como
benchmark;

■risco de mercado absoluto é uma medida das perdas de uma carteira de


investimentos sem que haja qualquer vínculo com os índices de mercado.

Risco do mercado de câmbio

Este risco decorre da exposição às oscilações nas taxas de câmbio. Como


exemplo de risco de câmbio, imagine uma empresa que utiliza grande
quantidade de produtos importados na sua produção. Se a taxa de câmbio
subir, a lucratividade dessa empresa deve diminuir, principalmente se os
preços dos seus produtos forem muito sensíveis a variações. Ato contínuo,
o investidor irá depreciar as ações dessa empresa.

Risco do mercado de juros

Este risco é oriundo do impacto das oscilações das taxas de juros e interfere
diretamente na gestão dos investimentos. Imagine, por exemplo, um fundo
de renda fixa. Como estudado no Capítulo 3, o preço dos títulos de renda
fixa é influenciado diretamente pela oscilação na taxa de juros. Como
vimos, quando a taxa de juros sobe, o preço do título de renda fixa cai, e
vice-versa. Dessa forma, variações nas taxas de juros afetam os títulos de
renda fixa e consequentemente a cota dos fundos de renda fixa.

Risco do mercado acionário

É o tipo de risco que afeta qualquer investidor que possua carteira de


investimentos contendo uma ou mais ações. Se você prestar atenção ao
mercado, notará que diversos fatores afetam o mercado acionário e, quando
este está em baixa, muitos investidores acabam tomando decisões não
muito estruturadas e vendendo suas posições, por consequência levando os
índices de bolsa mais para baixo.

O mercado acionário é um risco de mercado porque os preços das ações são


o resultado de forças de mercado, como oferta e procura.

Risco do mercado de commodities

Este risco acontece quando ocorre qualquer mudança no preço de uma


determinada commodity. A palavra commodity abrange tanto as “soft”
commodities, como cereais e produtos ligados à alimentação, quanto as
“hard” commodities, como metais e o petróleo. O risco das commodities
pode ter um impacto maior do que a princípio se imagina. Uma alta
expressiva de petróleo, como a ocorrida na década de 1970, causaria
consequências desastrosas para empresas de diferentes perfis, como, por
exemplo, uma transportadora, que teria seu custo de transporte aumentado
fortemente devido ao aumento nos preços dos combustíveis derivados de
petróleo. Outro exemplo pode ser um posto de abastecimento de
combustível, que sofreria uma queda significante na demanda por
combustível, no caso do aumento no preço da gasolina.

Risco de mercado externo


O fenômeno da globalização é um fato, inclusive no mercado financeiro.
Com a forte liquidez mundial e as baixas taxas de juros pagas nos países
desenvolvidos, os investidores buscaram outras opções de investimento,
desembarcando nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil, que
tem um mercado financeiro adequadamente regulado. Hoje, o estrangeiro
tem uma importante participação na bolsa brasileira e tem forte presença no
setor produtivo.

Logo, fatores macroeconômicos como crises mundiais acabam afetando o


mercado local, pois os estrangeiros, necessitando de recursos, acabam
solicitando resgate de seus investimentos, o que pressiona para baixo os
índices de bolsa, por exemplo, e obriga o nosso Banco Central a tomar
medidas, alterando a Taxa Selic. Esse vai e vem de recursos no país afeta,
ainda, a taxa de câmbio.

Estamos constantemente sujeitos à turbulência da globalização, seja


investindo dentro do país ou no exterior, por conta própria ou por meio dos
fundos de investimento. Para começar, há o risco da taxa de câmbio. No
caso de fundo de investimento que tenha ativo comprado lá fora, por
exemplo, dada a marcação a mercado,5 os ativos têm de ser convertidos em
reais todos os dias, para que se possa calcular sua cota. Às vezes, o ativo
pode até ser valorizado, mas a desvalorização do câmbio pode sobrepujar a
rentabilidade obtida.

Outro fator relevante são questões específicas de cada país onde estamos
investindo. Pode haver, por exemplo, um evento político que não permita o
resgate do título ou a repatriação dos recursos temporária ou
definitivamente, sem falar nas questões regulatórias e fiscais de cada país,
que podem mudar inesperadamente. Afinal, se mesmo aqui dentro não
temos controle sobre as decisões do governo, quiçá lá fora. Sabendo-se das
dificuldades de acompanhar vários mercados, os documentos de venda dos
fundos de investimento que aplicam no exterior têm de indicar
explicitamente que faz parte da política de investimento do fundo tal
prática.
Por fim, há questões de geopolítica que merecem atenção, ou seja,
precisamos saber interpretar os fatos e o desenvolvimento dos países por
meio das relações e estratégias entre o poder político e os espaços
geográficos desses países. Em outras palavras, precisamos compreender até
que ponto as estratégias adotadas pelos Estados podem interferir na
situação geográfica do local onde se mantém o investimento.

9.2.2Risco de crédito
Esta forma de risco pode ser considerada como a dominante no mercado
financeiro nos dias de hoje. Relaciona-se a prováveis perdas quando um
dos contratantes não tem como honrar seus compromissos. As perdas,
nesse caso, correspondem aos recursos que não serão mais recebidos. O
alcance desse risco vai depender do tamanho da posição tomada com uma
contraparte particular, do tamanho do negócio em relação ao fechamento de
um dia particular e se existe qualquer acerto entre as partes envolvidas que
forcem a honrar de qualquer maneira os compromissos assumidos. O efeito
dessa operação é sentido pelo custo de reposição do fluxo de caixa se a
outra parte não cumprir o pagamento. Temos três maneiras de visualizar o
risco de crédito por meio de exemplos práticos:

■Risco do país – é o risco de um país deixar de pagar os juros e o principal


de sua dívida externa, declarando moratória. Nesse caso, o país fica
impedido de captar recursos no mercado internacional. O risco do país é
medido em números, e quanto maior esse número, maior o risco de o país
não honrar a dívida e, logo, maior a taxa de juros requerida pelo investidor
para comprar os títulos desse país.

■Risco político – refere-se a restrições ao fluxo de capitais entre países,


estados ou municípios, impedindo a contraparte de honrar as suas
obrigações. Pode ocorrer quando há golpes militares, novos planos
econômicos ou em decorrência de novas eleições.

■Risco de falta de pagamento – pode ser visualizado quando uma das


partes em um contrato não pode mais honrar os seus compromissos
assumidos.
9.2.3Risco de liquidez
O risco de liquidez possui duas formas, as quais são:

■Liquidez mercado/produto – surge quando uma operação não pode ser


conduzida ao preço de mercado prevalecente por insuficiência de atividade
do mercado. Esse tipo de risco é um problema que acontece especialmente
para contratos realizados em mercado de balcão.6

■Liquidez fluxo de caixa/fundos – aparece quando há falta de capacidade


para manter as obrigações do fluxo de caixa. É um risco potencial que se
apresenta quando uma instituição não tem condições de manter seus
pagamentos e suas receitas com a mesma frequência. Esse descasamento
entre entradas e saídas pode trazer problemas para a empresa, tais como
necessidade de empréstimos repentinos a taxas elevadas, multas contratuais
por atraso de pagamentos ou até mesmo a venda de um bem patrimonial
por preço abaixo do mercado para quitação de dívidas assumidas.

O risco de liquidez é de difícil quantificação, podendo variar de acordo


com as condições de mercado. Os bancos, especialmente, preocupam-se em
demasia com o risco de liquidez, uma vez que o sucesso de suas operações
depende totalmente da confiança de seus clientes, e a não conexão de seus
pagamentos no tempo certo pode acabar com essa confiança.

9.3Fatores determinantes para adequação dos produtos de investimento às


necessidades dos investidores
É muito importante indicar investimentos corretos, que se adéquem às
necessidades dos investidores. Vale lembrar que o foco deve ser sempre no
cliente. Por isso, antes de se fazer qualquer recomendação de investimento,
os fatores apresentados a seguir devem ser observados.

9.3.1Objetivos do investidor
Os objetivos devem ser muito bem definidos. “O que deseja o investidor?”
Essa é a pergunta-chave, pois seus investimentos devem ser alocados de
acordo com seus objetivos. Logo, é fundamental que o investidor avalie as
suas expectativas individuais e as características do ativo financeiro
considerado como de seu interesse. No caso de um fundo de investimento,
por exemplo, a leitura do prospecto é de grande valia para avaliar o
objetivo do produto e saber se ele está de acordo com o objetivo do
investidor.

Muitas vezes o cliente olha apenas a coluna de rentabilidade quando analisa


um investimento. Entretanto, sabemos que essa informação não é suficiente
para tomar decisão, pois os fatores de risco devem ser avaliados também.
Se, por exemplo, há expectativas de retornos maiores em dado
investimento, é de se esperar um risco maior. Como se diz em mercado,
“não há almoço grátis”.

O ajustamento das opções de investimento à tolerância ao risco por parte


do investidor pode dar-se pela seleção do ativo adequado, em combinação
com a proporção de recursos destinados à aquisição desse ativo. Há que se
considerar, ainda, o prazo de expectativa para que se cumpra o objetivo de
um investimento.

Traduzindo em miúdos, se o objetivo do investidor é acumular para a


aposentadoria, fundos de previdência devem estar na mira, assim como
outros investimentos que visam ao longo prazo, como ações, por exemplo.
Se o objetivo dele é preservação do capital apenas, ativos com baixo risco
devem ser oferecidos. Se o objetivo é renda, ações de empresas que pagam
bons dividendos podem ser consideradas para a sua carteira, além de outros
ativos que paguem juros periódicos, como é o caso das NTNs e de diversas
debêntures. Caso o cliente deseje poupar para trocar seu carro, aplicações
de renda fixa costumam ser mais adequadas. E assim por diante.
Resumindo, o correto, tratando-se de investimentos, é iniciar conhecendo
os objetivos do investidor.

9.3.2Horizonte de investimento
Conhecer o prazo em que se deseja alcançar o objetivo também é de suma
importância. Estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazos é
fundamental para uma correta alocação da carteira de investimentos. É
normal a pessoa ter mais objetivos do que capacidade de poupança e, por
isso, determinar quais são os objetivos prioritários é sempre difícil, mas
deve ser feito.

Fundos multimercados alavancados são investimentos de longo prazo, por


exemplo, assim como investimento em ações. Não adianta investir em
ações para o longo prazo e ficar sofrendo com o sobe e desce da bolsa.
Agindo dessa forma, não estamos sendo coerentes com o nosso objetivo,
que foi de longo prazo.

PGBL e VGBL, por exemplo, também são fundos de longo prazo – talvez
mais longo prazo ainda – e só devem ser oferecidos a clientes que visam a
aposentadoria. A aplicação deve estar em consonância com o horizonte de
investimento do cliente, de forma que os benefícios sejam atingidos na sua
plenitude.

9.3.3Risco versus retorno


Sem um mínimo de risco, não há retorno, certo? Mas podemos escolher
que tipo de risco aceitamos ou até que nível de risco temos certa
tranquilidade. Dentro dessa concepção, Markowitz desenvolveu um modelo
básico de carteira que mostra a importância da variância7 como medida de
risco de um portfólio, sob alguns pressupostos acerca do comportamento do
investidor, a saber:

■os investidores consideram cada alternativa de investimento como sendo


representada por uma distribuição de probabilidade dos retornos esperados
durante um período;

■os investidores maximizam sua curva de utilidade;8


■os investidores estimam o risco do portfólio com base na variabilidade
dos retornos esperados;

■os investidores baseiam suas decisões somente em retorno esperado e


risco. Logo, suas curvas de utilidade são uma função do retorno esperado e
da variância esperada (ou desvio-padrão) dos retornos somente;

■para um dado nível de risco, os investidores preferem retornos maiores a


retornos mais baixos (B é preferível a C, na figura que se segue). De forma
semelhante, para um dado nível de retorno esperado, os investidores
preferem menos risco a mais risco (A é preferível a C).

Com base nessas premissas, Markowitz desenvolveu o que chamou de


fronteira eficiente, que vislumbra o apontado e é apresentada na próxima
figura.

Os gestores de fundos costumam utilizar essa ferramenta na hora de alocar


a carteira dos fundos, visando maximizar o retorno, dado o risco do
investidor.

Figura 9.1 Fronteira eficiente de Markowitz.

A figura mostra que a inclinação da curva da fronteira eficiente diminui


constantemente à medida que se move para cima. Isso implica que,
adicionando porções iguais de risco à medida que se move para cima, a
fronteira eficiente responde com incrementos decrescentes de retorno
esperado.

Um investidor racional deverá escolher aquela combinação que maximiza o


retorno esperado para um menor nível possível de risco, ou o menor risco
para um mesmo retorno esperado. Dessa forma, plotadas as diferentes
situações para risco e retorno, o investidor racional deverá optar pela curva
AB, na medida em que atende a essa orientação.

O mercado apresenta uma variedade de investimentos para diferentes


perfis, objetivos, prazos e tolerância a riscos. O investidor só precisa
escolher a modalidade mais adequada às suas necessidades e ao seu perfil
de investidor, lembrando sempre que para se obter mais retorno é
necessário assumir algum grau maior de risco. Esse risco pode ser
mensurado e, dadas as diversas opções de investimento, podemos, dentro
do mesmo nível de risco, escolher os ativos que têm a melhor relação risco
× retorno.

9.3.4Diversificação: vantagens e limites de redução do risco incorrido


Uma das técnicas para reduzir o risco na seleção de ativos é a
diversificação. A diversificação é a melhor estratégia de investimento e
significa não colocar todos os ovos em uma mesma cesta. Com a
diversificação, o investidor consegue suportar perdas em algumas
aplicações, porque poderá estar ganhando em outras.

Por meio da diversificação, o investidor evita a concentração de seus


investimentos em um determinado setor, em dada empresa ou em
característica de ativos. Por exemplo, se o investidor pretende fazer uma
carteira de ações e não dispõe de informação específica para identificar as
ações mais convenientes para sua expectativa de investimento, ele deve
comprar ações de diferentes companhias abertas e/ou de companhias que
atuem em diferentes setores. Igualmente na formação de uma carteira de
renda fixa, o investidor deve selecionar empresas, bancos ou governos
emissores de maneira a pulverizar os riscos, e deve, ainda, compor seu
portfólio com títulos pós e prefixados, de modo a reduzir os riscos advindos
da flutuação dos juros.

Veja nos gráficos da Figura 9.2 a volatilidade de diversas ações, medida


pelo desvio-padrão. Note no quarto gráfico a volatilidade da carteira,
composta pelos quatro papéis. Como se pode ver, a diversificação diminui
a volatilidade a níveis bem abaixo do que a simples média das volatilidades
dos papéis que compõem a carteira.
Note, ainda, que a volatilidade da carteira (1,091%) é menor do que a
menor volatilidade individualmente (DP de Vale = 1,606% > DP da
carteira = 1,091%).

Sabe-se, entretanto, que os limites da diversificação são limitados. Entenda


o porquê a seguir:

Risco total = risco sistemático + risco não sistemático

Figura 9.2 Volatilidade de diversas ações.

Risco não sistemático

É unico para cada empresa, sendo independente da economia e da política.

Exemplo:

Entrada de um novo concorrente, novas tecnologias que podem tornar


determinado produto obsoleto etc.

O risco não sistemático pode ser reduzido ou minimizado se a


diversificação for eficiente.

Risco sistemático
É devido ao risco global do mercado resultante de mudanças na economia
do país.

Exemplo:

Alterações de alíquotas de imposto pelo governo, mudanças na situação de


energia mundial etc.

Logo, o risco sistemático reflete o grau de sensibilidade do título ao risco


da economia como um todo e, por mais que se diversifiquem os
investimentos, o investidor estará sempre sujeito ao risco sistemático.

Figura 9.3 Riscos sistemático e não sistemático.

9.3.5Finanças pessoais
Além dos detalhes já mencionados, há questões pessoais que devem ser
analisadas antes de fazer qualquer recomendação de investimento. Estou
falando da situação financeira do investidor e seu fluxo de caixa, itens que
serão abordados a seguir.

Situação financeira

A situação financeira do investidor também é um fator importante no


processo de suitability. Veja, por exemplo, um investidor que tenha R$
20.000.000,00 em patrimônio financeiro. Caso ele invista R$ 100.000,00
em um fundo de investimento de alto risco, ele estará alocando apenas
0,5% do seu patrimônio, o que não é nenhum absurdo. Já se o seu
patrimônio for R$ 200.000,00, os mesmos R$ 100.000,00 representarão
50% da carteira. Neste caso, dependendo do perfil do investidor, esse
volume deveria ser aplicado em um investimento menos arriscado.
Quando montamos um Demonstrativo Financeiro Pessoal, listamos todos
os bens e dívidas dessa família. Assim como na contabilidade das
empresas, do lado esquerdo ficam os ativos (bens e direitos) e do lado
direito do Demonstrativo ficam as obrigações/dívidas. O patrimônio líquido
é a diferença entre o total do ativo e as dívidas da pessoa.

Além da questão patrimonial, há de se verificar, também, o grau de


alavancagem de seu patrimônio. Em outras palavras, como está seu
passivo? Qual seu índice de endividamento? Quanto representam suas
dívidas em relação ao total de seu ativo? Pessoas com alto grau de
endividamento devem colocar suas economias em uma aplicação mais
conservadora como forma de melhor balancear o patrimônio. Por isso,
deve-se verificar o fluxo de caixa do investidor.

O fluxo de caixa (receitas menos despesas) é fundamental para identificar


eventuais lacunas negativas ou sobras de caixa que podem ser direcionadas
de forma correta. Um orçamento pessoal e familiar bem-feito é o
instrumento correto para tratar esses assuntos e costuma elucidar de forma
clara de onde vem e para onde vai o dinheiro, bem como os períodos em
que será necessário recorrer a um empréstimo para fechar o caixa. É uma
forma concreta de organizar as finanças, transformando “achismos” em
realidade.

O ideal é montar um fluxo de caixa que liste todas as receitas e despesas,


mês a mês, totalizando um período de 12 meses. Afinal, nem todo mês
paga-se material escolar, seguro do carro e daí por diante.

Grau de conhecimento do mercado financeiro

Conhecer onde estamos investindo é fundamental e diminui a percepção de


risco. Vou encerrar este capítulo contando um fato verídico, que muito
ajuda a ilustrar este item da matéria. Por questões diversas, sempre tive que
viajar de avião com certa frequência. Uma vez, durante um voo, o
comandante do avião deu uma série de explicações sobre como o avião
voa, comparou a aeronave com um navio, o ar com o mar e outras coisas
mais. A partir daí, meu medo de andar de avião diminuiu. O mesmo ocorre
com o investidor do mercado financeiro. Quando ele tem muito
conhecimento sobre o mercado, compreende melhor os riscos e está mais
apto a correr certos riscos do que quem vê o mercado financeiro como
“uma coisa do outro mundo”.

A minha experiência com investidores mostrou que, quando tentamos


alocar um investimento tecnicamente correto para a carteira de um cliente
que não tem conhecimento do mercado, ele pode até acatar na hora por
questões lógicas, mas, quando o preço do ativo começa a cair, ele resgata
de imediato, não tendo a paciência necessária para “aguentar o tranco” e
aguardar um momento melhor, muitas vezes realizando perdas irreparáveis.
Quando falta conhecimento do mercado financeiro, o emocional fala mais
alto do que o racional em momentos de baixa do mercado.

Pontos importantes – Princípios de investimento

■Os principais fatores de análise de um investimento são:

○Rentabilidade – pode ser medida em termos absolutos ou relativos. Neste


caso a rentabilidade do investimento é comparada ao benchmark. Vale
lembrar também que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade
futura.

○Liquidez – trata-se da capacidade de resgate antecipado de algum


investimento antes do prazo de vencimento. Ao se aplicar, deve-se levar em
consideração a liquidez do produto, que pode não ser adequada às
necessidades de caixa do investidor.

○Risco – está associado à volatilidade de resultados não esperados ou uma


estimativa para as possíveis perdas de um investimento, devido às
incertezas de suas atividades diárias. A volatilidade se refere ao grau médio
de variação das cotações de um determinado título em determinado
período, pois estuda quão dispersas estão as observações em relação às suas
médias.

■Principais riscos de um investimento:

○risco de mercado – trata-se de incertezas quanto às questões do câmbio,


taxa de juros, mercado acionário, preço das commodities e decisões
políticas dos governantes situados no país e no exterior onde tenhamos
recursos investidos;

○risco de crédito – relaciona-se a prováveis perdas quando um dos


contratantes não tem como honrar seus compromissos. É a incerteza quanto
aos pagamentos dos fluxos combinados, no volume e datas acertados. Há
três maneiras de visualizar o risco de crédito: risco do país, risco político e
risco de falta de pagamento;

○risco de liquidez – refere-se a questões de possibilidade de liquidação de


um ativo dentro de um prazo desejável, a um preço estimado.

■Os produtos indicados aos clientes devem ser adequados às suas


necessidades. Por isso, de acordo com a regulamentação, o processo de
suitability é fundamental e deve ser feito antes de recomendar qualquer
investimento. Os seguintes fatores devem ser analisados:

○Objetivos do investidor – verifique se o cliente busca renda,


aposentadoria, preservação do capital ou se tem alguma necessidade
específica com aquele dinheiro. Lembre-se de que os diversos produtos têm
prazos de maturação e riscos diferentes. Ofereça produtos adequados aos
objetivos do investidor.

○Horizonte de investimento – compreender a necessidade do fluxo de caixa


do cliente é um requisito também muito importante, pois há investimentos,
como ações, por exemplo, que só devem ser oferecidos para um horizonte
de longo prazo.

○Risco × retorno – o investidor racional prefere sempre o ativo que tem


menos risco, dados retornos iguais, e aquele que apresenta mais retorno,
dados riscos iguais.

○Diversificação – uma das técnicas para reduzir o risco na seleção de


ativos é a diversificação. A diversificação é a grande aliada do investidor e
significa não colocar todos os ovos em uma mesma cesta. Entretanto, não é
possível a eliminação total dos riscos com a diversificação, pois há o risco
do sistema – risco sistemático – que não é único do ativo e abrange todos
os ativos do mercado, sendo resultante de mudanças na economia do país.
Ou seja, o risco não sistemático (do ativo, da empresa) pode ser diminuído
por meio da diversificação, mas o sistemático (do sistema, mercado), não.

○Finanças pessoais – analisar a situação financeira do investidor, seu


patrimônio líquido, fluxo de caixa e nível de endividamento, além do grau
de conhecimento do mercado financeiro, é fundamental para direcionar de
forma correta os investimentos do cliente.

Exercícios de fixação

1.Quais os principais fatores a serem analisados antes da tomada de decisão


de investimento em determinado ativo?

a.Rentabilidade e risco.

b.Rentabilidade e liquidez.

c.Risco e liquidez.
d.Rentabilidade, risco e liquidez.

2.Volatilidade é um conceito associado a que tipo de risco?

a.Crédito.

b.Imagem.

c.Mercado.

d.Liquidez.

3.O risco não sistemático pode ser minimizado por meio de qual
ferramenta?

a.Diversificação.

b.Análise do Perfil do Investidor.

c.Processo de suitability.

d.Aumento da liquidez da carteira.

4.Um trabalho profissional de recomendação de investimento requer, além


da avaliação do perfil de risco do cliente, o conhecimento de:

a.Suas metas financeiras.


b.Sua necessidade de liquidez.

c.Sua formação em matemática financeira.

d.Sua situação financeira e seu grau de conhecimento do mercado


financeiro.

5.A boa técnica de gestão de recursos requer que o profissional que tem
contato direto com o cliente detecte vários fatores determinantes para
adequar corretamente os produtos de investimento às necessidades do
investidor. Dentre as opções abaixo, indique a que traz um fator:

a.Horizonte de investimento, diversificação da carteira.

b.Situação financeira do cliente, diversificação da carteira.

c.Objetivos do investidor, avaliação de risco versus retorno.

d.Grau de conhecimento do mercado financeiro, variação do PIB.

6.Dentre os fundos de investimento listados abaixo, qual deles deve


apresentar a maior volatilidade?

a.Fundo de Ações.

b.Fundo de Renda Fixa Curto Prazo.

c.Fundo de Renda Fixa Longo Prazo.


d.Fundo de Renda Fixa Referenciado DI.

7.Um fundo de dívida externa está sujeito a alguns tipos de risco, exceto:

a.Risco de mercado externo.

b.Risco cambial.

c.Risco do mercado de commodities.

d.Risco de liquidez.

8.Segundo Markowitz, um investidor racional deverá escolher:

a.Uma combinação de ativos que maximiza o retorno esperado para um


maior nível possível de risco.

b.Uma combinação de ativos que maximiza o retorno esperado para um


menor nível possível de risco.

c.Uma combinação de ativos que maximiza o risco para um maior nível


possível de retorno esperado.

d.Uma combinação de ativos que minimiza o risco para um menor nível


possível de retorno.

Gabarito

1. d
2. c

3. a

4. d

5. d

6. a

7. c

8. b

E não se esqueça de nos mandar um e-mail contando sobre o seu sucesso


no exame. Para falar com a Professora Lilian, envie e-mail para
lilian@liliangallagher.com.br. Boa prova!

___________

1Grau de confiança, ou intervalo de confiança, é uma faixa de valores


dentro da qual esperamos encontrar o verdadeiro valor da média da
população. A vida real nos impede de estudar toda a população, por isso os
pesquisadores tentam inferir de uma amostra.

2O desvio-padrão e a variância estudam as distâncias dos pontos para a


média desses pontos.
3O programa do exame CPA-10 é pouco profundo nessas questões de
medidas de risco. Para quem quer continuar se desenvolvendo, aconselho
fazer o exame do CPA-20, que tem uma preocupação grande com essa
parte de risco.

4A correlação é uma medida estatística que indica não só como duas


variáveis se relacionam, mas também com que intensidade esses dados se
movimentam juntos.

5Capítulo 3 do livro.

6Os negócios fechados no mercado de balcão são feitos fora do âmbito das
bolsas, que apresentam um ambiente de maior segurança.

7A variância é a média dos quadrados das diferenças entre os pontos e a


sua média. É uma medida de dispersão, assim como o desvio-padrão, que é
a raiz quadrada da variância.

8Utilidade é uma maneira de os economistas expressarem a satisfação que


determinado bem dará ao consumidor. Teoricamente, um tomador de
decisão que se defrontasse com um problema envolvendo risco deveria
decidir baseado somente no valor esperado. Entretanto, a satisfação que ele
recebe de cada unidade monetária adicional não é constante, tendendo a
declinar marginalmente à medida que aumenta seu retorno. Por exemplo:
você pode ter desejo de tomar sorvete, mas o seu desejo vai diminuindo à
medida que vai saboreando o sorvete, até um ponto que não deseja mais.

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