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Instituto Superior Politécnico de Gaza Contabilidade Sectorial

CAPÍTULO V: CONTABILIDADE BANCÁRIA

1 Actividade bancária

O sector bancário é parte do sector terciário da economia que é composto por empresas que se
dedicam, essencialmente, à intermediação financeira entre os diferentes agentes da economia
(Estado, empresas ou outras pessoas colectivas e particulares).
A actividade bancária tem como função principal a dinamização da actividade económica interna
bem como as suas relações com o exterior e ainda a materialização dos objectivos
macroeconómicos do Governo. Essa função é exercida através da oferta de produtos e serviços
financeiros e exercício de uma correcta supervisão (Banco de Moçambique).

1.1 O papel da actividade bancária na economia


Para o Governo garantir o alcance dos seus objectivos macro-económicos define políticas de
actuação, tais como: orçamental, monetária, fiscal, cambial e controlo da inflação. A
concretização destas políticas exige que o Governo desenvolva determinadas acções de controlo
em diferentes âmbitos: controlo do crédito, liquidez dos bancos e das taxas de juro. É aqui que
surge a intervenção do sistema bancário, de modo a permitir a materialização da política
económica e financeira do país. Por exemplo, em momentos de inflação elevada, as entidades
governamentais estabelecem restrições de crédito, aumentam as taxas de reservas obrigatórias
diminuindo a quantidade de moeda em circulação, aumentam as taxas de juros das facilidades
permanentes concedidas pelo Banco Central e estimulam as poupanças dos cidadãos, criando
depósitos atractivos.
O sistema financeiro Moçambicano é constituído por uma autoridade monetária (O Banco de
Moçambique) e diversas entidades Instituições de crédito e sociedades financeiras. Alguma dessa
tipificação pode ser obtida no quadro a seguir:

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As instituições financeiras são várias e, como tal, podem ser consideradas de crédito ou não de
crédito:
Instituições considerados de crédito
As instituições de crédito são aquelas que tem a capacidade de criar meios de pagamento ou
moeda com base nos depósitos recolhidos e multiplicados através de crédito e que operam no
mercado bancário, designadamente:
 Banco central;
 Bancos comerciais;
 Sociedades de investimento;
 Sociedades de leasing;
 Sociedades de factoring.
Instituições não consideradas de crédito
Contrariamente às primeiras, estas são, também chamadas de sociedades financeiras e que não
podendo receber depósitos, praticar operações de leasing, factoring entre outras, realizam
operações de captação de poupanças e posteriormente aplicam em prestações de garantias,
prestam serviços de ordem financeira, designadamente a prestação de garantias bancárias,
participação no capital das empresas, e podem ser:
 Sociedades de capital e risco;
 Sociedades gestoras de fundos de investimento;
 Sociedades gestoras de fundos de pensões;
 Sociedades de desenvolvimento regional.
Todas as instituições de crédito são financeiras, mas podem revestir-se, por um lado, de
componente monetárias através da captação de poupanças e concessão de empréstimos criam
artificialmente a moeda, mediante multiplicador e, por outro, de componente não monetária
quando não tem capacidade de criar a moeda, fornecendo recursos às instituições, mas sem
possibilidade de criar a moeda.

1.2 O Banco de Moçambique


O Banco de Moçambique é o principal elemento do sistema financeiro e autoridade monetária do
sistema bancário. É o banco central da República de Moçambique, devendo, nesta qualidade, no

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contexto da política económica e financeira e por forma a assegurar o desenvolvimento do País,


zelar pelo equilíbrio monetário interno e pela sobrevivência exterior da moeda.
São principais funções do Banco de Moçambique:
 Emissão da Moeda;
 Concessão de empréstimos ao Estado;
 Fixação de taxas de juro;
 Fixação de taxas de câmbio;
 Compensação de cheques e outras formas de pagamento;
 Autorização de abertura de instituições de crédito e sociedades financeiras;
 Supervisão de toda actividade de instituições de crédito e sociedades financeiras; e
 Outras funções atribuídas pela lei.

1.3 A intermediação financeira e a prestação de serviços como funções dos bancos


A principal função, que é igualmente considerada a função tradicional, dos bancos no sistema
económico é a intermediação financeira, ou seja, a canalização de recursos financeiros
excedentários (poupanças) para onde eles são escassos, que pode ser para o investimento ou para
o consumo. Esta função materializa-se na captação de poupanças sob a forma de depósitos e na
sua cedência através da concessão de crédito.
A actividade dos bancos, porém, não se limita a intermediação financeira, eles prestam uma
multiplicidade de serviços, como por exemplo a compra e venda de moeda estrangeira, a
intermediação de operações com valores mobiliários (acções, obrigações, etc.). A prestação
destes serviços é uma função complementar à da intermediação financeira e que ajuda os bancos
a aumentar o volume de negócios da sua actividade principal, a intermediação financeira,
contribuindo indirectamente para a captação de depósitos, melhoria da qualidade e
diversificação, solidificando assim as suas relações com os clientes.
As funções dos bancos podem estar organizadas, dependendo da dimensão do banco, em:
 Função comercial;
 Promoção e apoio comercial;
 Operacionais ou de Execução de operações;
 Staff ou de apoio técnico; e
 Apoio central.

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A função comercial compreende as tarefas que decorrem do contacto directo com o cliente para
a satisfação das suas pretensões: prestação imediata de informações, esclarecimentos e oferta de
produtos bancários. Na prática, esta área engloba estabelecimentos abertos ao público
genericamente designados por balcões e os órgãos superiores responsáveis por estes
estabelecimentos.
Promoção e apoio comercial: aos órgãos incluídos nesta área compete a concepção de produtos
e serviços bancários, preparar e efectuar a promoção, coordenar as acções comerciais e intervir
directamente em certos mercados. É aqui onde se encontra a função de marketing, que deve
estudar as acções comerciais a desenvolver, de acordo com os objectivos estratégicos.
O departamento de operações: esta divisão realiza um conjunto de tarefas, tais como,
codificação e processamento informático, extracção de listagens, envio de notas de débito e
crédito aos clientes. Com o desenvolvimento da informática, estas tarefas são realizadas nos
balcões, cabendo aos serviços centrais apenas o controlo.
Staff e apoio técnico: é uma função responsável por estudos de natureza económica,
planeamento estratégico, recuperação do crédito, apoio legal, recursos humanos, auditoria, etc..
Apoio central: estão compreendidas nesta área a contabilidade, serviços gerais, aplicação de
regras fiscais, arquivo, etc..

2 Contabilidade bancária
A contabilidade bancária é o ramo da contabilidade aplicada que tem como objecto o património
das instituições de crédito e sociedades financeiras. É uma técnica de relevação patrimonial das
instituições bancárias e sociedades financeiras cuja principal função consiste na canalização dos
recursos financeiros excedentários (poupanças) para onde eles são escassos, que pode ser para o
investimento ou para o consumo – intermediação financeira.
As características específicas do património das empresas bancárias e sociedades financeiras, a
natureza própria das suas operações, tais como empréstimos, depósitos, cobrança de valores, etc.
justifica o estudo da Contabilidade Bancária.

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2.1 Os produtos bancários e sua contabilização

Tradicionalmente, os bancos praticam a compra e venda de dinheiro, isto é, aceitam, sob forma
de activos monetários, depósitos de clientes que depois os gerem e aplicam, sob forma de
crédito. Assim sendo, os produtos bancários são, tradicionalmente, dois, ou classificados em
duas categorias:

 Produtos bancários de captação de fundos, geralmente designados por depósitos; e

 Produtos bancários de concessão de fundos, ou créditos bancários.

Actualmente, porém, devido a objectivos de competitividade e concorrência, os bancos são


levados a colocar no mercado produtos e serviços que não lhes competiam tradicionalmente
como intermediário financeiro. Com o efeito a banca promove e divulga a prestação de serviços,
tais como: transferências, ordens de pagamento, operações sobre títulos de crédito, operações
cambiais, comércio externo, etc. Esses novos produtos e serviços oferecidos pelos bancos
designam-se serviços bancários gerais e têm uma grande importância para a sua sobrevivência
pois através deles os bancos conseguem uma remuneração (comissões) sem incorrer em riscos
que geralmente acarretam as operações de crédito e se os mesmos forem bem concebidos
conseguem atrair recursos (depósitos) com menor custo para os aplicar em operações mais
rentáveis. Assim, através das operações de prestações de serviços os bancos podem incrementar
as suas margens financeiras e consequentemente os resultado.

Os produtos bancários de captação de fundos são conhecidos como recursos e representam as


operações passivas dos bancos sendo assim contabilizadas em contas do passivo. Os produtos
bancários de concessão de fundos, porém, são conhecidos como aplicações, representado as
operações activas dos bancos, e sendo contabilizadas em contas do activo.

2.2 O plano de contas e sua sistematização para as instituições de crédito e financeiras

O Plano de Contas para as Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras em vigor (Aviso


13/GGBM/99) estabelece uma aproximação às regras e práticas da comunidade bancária
internacional e é constituído por nove classes, nomeadamente:

1. Disponibilidades;

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2. Aplicações;
3. Imobilizações;
4. Recursos Alheios;
5. Contas Internas e de Regularização;
6. Recursos Próprios e Equiparados;
7. Custos por Natureza;
8. Proveitos por Natureza; e
9. Contas extrapatrimoniais.
A organização interna das classes reflecte, de forma explícita, a aplicação dos seguintes critérios
básicos de ordenação:

 Natureza do elemento patrimonial;

 Sector institucional;

 Situação de residência;

 Distinção entre moeda nacional e estrangeiras;

 Prazo das operações; e

 Consideração dos sectores fundamentais da economia.

Esta organização pode ser resumida no seguinte quadro:

Hierarquia das classes de contas e suas tipificações

Natureza  Disponibilidades;

 Aplicações

 Recursos alheios;

 Imobilizações;

 Contas internas e de regularizações;

 Recursos próprios e equiparados;

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 Custos por natureza e

 Extra patrimoniais.

Sujeitos  Sector de actividade:

o Instituições de credito;

o Sociedades financeiras e

o Outros

 Residência:

o Residentes e

o Não residentes.

Prazos das operações  Curto prazo e

 Médio e longo prazo.

Unidade de medida Moeda nacional e estrangeira

Garantias conexas  Garantias do estado;

 Hipotecas;

 Outras e

 Sem garantia.

2.2.1 Posicionamento das contas no balanço

Apesar de existir discrepâncias entre o plano de contas para instituições de crédito e sociedades
financeiras e o plano geral de contabilidade a equação fundamental do balanço é a mesma, se não
vejamos:

Activo = Passivo + Fundos Próprios

Assim se seguirmos o dispositivo horizontal do balanço, as contas irão se posicionar no balanço


da seguinte maneira:

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Activo Passivo e fundos próprios

1. Disponibilidades 4. Recursos alheios

2. Aplicações 5. Contas internas e de regularização


(saldos credores)
3. Imobilizações
6. Recursos próprios e equiparados
5. Contas internas e de regularização
(saldos devedores)

9. Contas extrapatrimoniais 9. Contas extrapatrimoniais

2.2.2 Análise das classes de contas

Um banco, como qualquer unidade económica, está inserido num determinado ambiente
económico com o qual mantém permanentes ligações em termos de fluxos reais a que
correspondem fluxos monetários, mas no sentido oposto àquele. No sector bancário, dada a
natureza da sua actividade (intermediação financeira), haverá fluxos de recursos dos poupadores
para o banco e destes para os investidores. Assim estar-se-á na presença de aplicações, ao
falarmos de:

 Aquisição de imobilizados;

 Concessão de crédito;

 Depósitos noutros bancos;

 Pagamento de salários

 Liquidação de juros.

Estamos na presença de recursos nas seguintes situações:

 Aumento de capital por entrada de dinheiro;

 Obtenção de fundos no mercado monetário;

 Depósito de clientes;

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 Cobrança de juros.

Tal como em qualquer facto patrimonial, os fluxos são susceptíveis de revestir duas naturezas
diferentes patrimoniais: factos patrimoniais qualitativos (patrimoniais) e factos patrimoniais
quantitativos (de exploração):

Fluxo Natureza

Patrimoniais De Exploração

 Aquisição de imobilizado; X

 Concessão de crédito; X

Aplicações  Depósito noutros bancos; X

 Pagamento de salários; X

 Liquidação de juros X

 Aumento de capital; X

 Obtenção de fundos no mercado X


monetário;
Recursos X
 Depósito de clientes;
X
 Cobrança de juros.

A dupla sistematização que observou no quadro anterior está consagrada na legislação


contabilística do sector financeiro através da seriação de classes de contas, com duas excepções:

Classe 5 – conta interna e de regularização, reúne simultaneamente contas de aplicações e


recursos e nem sempre traduz ligações ao exterior, quer dizer, o movimento dessas contas muita
vezes não representa um fluxo.

Classe 9 – Contas extrapatrimoniais, envolvem a relevação de responsabilidades ou


compromissos assumidos pelos bancos ou pelos demais sujeitos perante este e que não houve
ainda fluxo patrimonial ou de exploração.

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2.2.3 Relação entre as classes de contas

Se prestarmos atenção ao diagrama anterior, verifica-se que existe uma relação entre classes de
contas, se não vejamos:

 A integração de contas de custos e de proveitos dá origem a resultados que por sua vez
permitem a constituição de reservas e criação de provisões específicas;

 Os recursos alheios originam juros de operações passivas (custos por natureza); e

 As aplicações originam juros de operações activas (proveitos por natureza).

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