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MERCADO FINANCEIRO

E DE CAPITAIS

INTRODUÇÃO
O Sistema Financeiro Nacional possui a sua atual estrutura derivada das leis da
Reforma Bancária (Lei n.º 4.595/64) e do Mercado de Capitais (Lei n.º 4.728/65),
que o subdividiram em subsistema normativo e subsistema de intermediação.
No primeiro estão as instituições que normatizam e fiscalizam os participantes
do mercado financeiro; no segundo, estão as instituições participantes, dentre
as quais se verificam as instituições bancárias, não bancárias e auxiliares, com
destaque para os denominados agentes especiais (Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal e BNDES). Nas próximas linhas serão abordados os
participantes do sistema financeiro nacional, suas características e
particularidades. Também discutiremos a estrutura e o funcionamento dos
diferentes mercados financeiros: monetário, de crédito, cambial e de capitais.

A Estrutura do Sistema Financeiro Nacional: O Subsistema Normativo

O Sistema Financeiro Nacional, conforme nos ensina Assaf Neto (2018, p. 40),
“pode ser entendido como um conjunto de instituições financeiras e instrumentos
financeiros que visam, em última análise, transferir recursos dos agentes
econômicos (pessoas, empresas, governo) superavitários para os deficitários”.
Sua atual estrutura foi regulamentada logo nos primeiros anos dos governos
militares, que instituíram as leis da Reforma Bancária (Lei n.º 4.595/64) e do
Mercado de Capitais (Lei n.º 4.728/65), e, dessa forma, o sistema passou a ter a
seguinte estrutura:
Figura 1.1 - Sistema Financeiro Nacional
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2018, p. 40).

O Subsistema Normativo
Como se verifica pelo nome, nesse subsistema estão os participantes que
normatizam e fiscalizam os participantes do subsistema de intermediação
financeira. Aqui falaremos sobre o Conselho Monetário Nacional, o Banco
Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários.

O Conselho Monetário Nacional (CMN)


Conforme Assaf Neto (2018, p. 42):

O Conselho Monetário Nacional é um órgão eminentemente normativo, não


desempenhando nenhuma atividade executiva. O CMN estabelece as diretrizes
para o bom funcionamento e processa todo o controle do sistema financeiro
nacional, influenciando as ações de órgãos normativos como o BNDES, por
exemplo, além de assumir funções legislativas das instituições financeiras
públicas e privadas. O Conselho Monetário está revestido de amplas atribuições,
que podem ser identificadas na finalidade principal de sua criação: formulação
de toda a política de moeda e do crédito, objetivando atender aos interesses
econômicos e sociais do país.
Trata-se de um órgão que, como pôde ser observado, estabelece a condução da
política econômica do país conforme as determinações do Governo Federal.
Quanto ao funcionamento, verificamos que:

Os membros do CMN reúnem-se uma vez por mês para deliberar sobre assuntos
como adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da
economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço
de pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras;
propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros;
zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; e coordenar as
políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa.
(BANCO CENTRAL DO BRASIL, [201-b]).
Entre suas atribuições, conforme destaca Assaf Neto (2018), temos:

● A fixação das normas e diretrizes da política cambial.

● Regulamentar as taxas de juros.

● Regular a constituição e o funcionamento das instituições financeiras.

● Acionar medidas de prevenção contra desequilíbrios macroeconômicos.

● Disciplinar todos os tipos de créditos.

● Regular as operações de redesconto.

O Conselho Monetário Nacional é composto pelo presidente do Banco Central,


Ministro da Economia e técnicos. Conforme nos mostra Assaf Neto (2018, p. 43),
“estão previstas, também, Comissões Consultivas, que têm por objetivo
assessorar o Conselho Monetário Nacional nos assuntos que lhe forem
pertinentes”, como a Bancária, a de Mercado de Capitais, a de Crédito Rural,
entre outras.

O Banco Central do Brasil (Bacen)


O Banco Central do Brasil possui entre suas atribuições ser o agente fiscalizador
das instituições financeiras e o executor da política monetária do governo.
Enquanto agente fiscalizador das instituições financeiras, cabe ao Bacen permitir
a abertura de instituições financeiras e, sempre que acionado, promover
empréstimos de socorro de liquidez – denominado redesconto bancário. Em
casos extremos, pode também decretar o encerramento de suas atividades e,
caso constate condução fraudulenta ou irregularidades, fazer denúncias ao
Ministério Público Federal.

No que tange à política monetária, sua ação como executor dá-se no exercício
do controle dos meios de pagamento, da execução do orçamento monetário e
da gestão das dívidas interna e externa. Aqui cabe destacar o seu papel de
executor das operações de compra e venda de títulos do governo: ao realizar
essas ações, não apenas atua captando recursos para o Governo Federal como
também exerce a política monetária, restritiva ou expansionista, conforme
execute operações de venda ou compra de títulos federais.

Por fim, o Bacen possui o monopólio das operações de câmbio, ou seja, apenas
a instituição, através de seus agentes autorizados, pode realizar a troca de
moeda local por moeda estrangeira – Dólar, Libra ou Euro basicamente, e vice-
versa. Negociações ocorridas fora de seu ambiente são consideradas ilegais.
Através do Banco Central é possível também receber ou enviar recursos
financeiros ao exterior.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


A CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia e que atua sobre
a orientação do CMN. É administrada por um presidente e quatro diretores
indicados diretamente pelo presidente da república. Entre suas funções,
conforme nos mostra Assaf Neto (2018, p. 44), estão:

[...] promover medidas incentivadoras à canalização das poupanças ao mercado


acionário; estimular o funcionamento das bolsas de valores e das instituições
operadoras do mercado acionário, em bases eficientes e regulares; assegurar a
lisura nas operações de compra e venda de valores mobiliários e promover a
expansão de seus negócios; dar proteção aos investidores de mercado.
Dessa forma, a CVM atua em três importantes segmentos de mercado:
empresas de capital aberto, corretoras de valores e, juntamente com o Bacen,
instituições financeiras e corretoras vinculadas a essas instituições. Por
normatizar o mercado, cabe a CVM autorizar e monitorar todas as empresas que
comercializem ações e debêntures na bolsa de valores.

O Subsistema de Intermediação

No subsistema de intermediação estão todas as empresas participantes do


mercado financeiro, como as instituições bancárias, não bancárias e auxiliares.
Contudo, cabe um primeiro destaque aos agentes especiais por serem
participantes que atuam realizando ações consideradas estratégicas pelo
Governo Federal: o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O Banco do Brasil
O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista, com seu controle
acionário exercido pelo Governo Federal. É uma instituição financeira comum,
que atua realizando empréstimos tanto para pessoas físicas como jurídicas em
suas diversas modalidades e captando recursos no mercado de capitais. No
entanto, realiza algumas operações exclusivas para o governo, como receber os
tributos e rendas federais, e receber os depósitos compulsórios realizados pelas
instituições financeiras assim como as operações de redesconto para o Bacen.

Contudo, aqui cabe destacar o seu papel como banco de investimento e


desenvolvimento, realizando operações de crédito de médio e longo prazos para
fomentar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas e, de maneira
mais significativa, as atividades rurais.
Caixa Econômica Federal
A Caixa Econômica Federal, diferentemente do Banco do Brasil, é uma empresa
estatal, ou seja, não possui ações negociadas na bolsa de valores, sendo,
portanto, administrada conforme a conveniência do Governo Federal.

Assim como o Banco do Brasil, funciona como um banco múltiplo, realizando


operações de crédito para pessoas físicas e jurídicas, e captação de recursos no
mercado financeiro. Entretanto, a CEF atua estrategicamente para o governo em
três frentes:

• Enquanto gestora dos recursos captados pelo FGTS, é a maior


financiadora habitacional do país, possuindo as menores taxas do
mercado para habitação popular. Sendo assim, conduz a política
habitacional desenvolvida pelo governo.
• Possui o monopólio das operações de penhor. O penhor é uma
modalidade de crédito pela qual o credor aliena um bem que fica em
custódia da instituição, normalmente joias e objetos de arte.
• Possui o monopólio dos jogos de azar do país, administrando as
modalidades de jogos das loterias federais.

Aqui, cabe destaque para atuação da CEF no financiamento imobiliário popular.


Segundo Assaf Neto (2018, p. 46), “a Caixa Econômica Federal constitui-se, com
base em sua função social, no principal agente do SFH (Sistema Financeiro de
Habitação) atuando no financiamento da casa própria, principalmente no
segmento de baixa renda.” Para se ter uma ideia, segundo dados do Banco
Central, a instituição possui uma participação de cerca de 69% do mercado,
conforme figura a seguir:
Figura 1.3: Carteira de crédito imobiliário, em bilhões, acumulado até setembro
de 2018
Fonte: Adaptado de Alvarenga (2019, on-line).

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)


O BNDES é uma empresa pública federal vinculada ao Ministério da Economia
e responsável pelo financiamento de longo prazo notadamente de projetos
industriais em segmentos considerados estratégicos para o país. É importante
explicar, contudo, que o BNDES não opera diretamente com os tomadores: o
crédito é analisado e repassado através de seus agentes repassadores, que
são as instituições financeiras de uma maneira geral. Suas modalidades de
financiamento são direcionadas para aquisição de máquinas e equipamentos
para indústria, agricultura e capital de giro. O BNDES pode também atuar como
sócio em grandes projetos, como foi a construção dos estádios para a Copa do
Mundo, realizada no Brasil, no ano de 2014, e as Olimpíadas, no ano de 2016.

Para realizar suas operações, o BNDES dispõe, conforme Assaf Neto (2018),
das seguintes subsidiárias:

Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial):


destinada ao financiamento de máquinas e equipamentos industriais para
empresas nacionais.

BNDES Participações S.A.:


tem como finalidade reforçar a capitalização da empresa nacional, participando,
como acionista minoritário, do capital social. O BNDES atuaria assim injetando
recursos diretamente através da aquisição de ações das empresas
demandantes de recursos para realização de investimentos.

Entre os maiores tomadores do BNDES, historicamente falando, verificam-se a


Petrobras e a Vale do Rio Doce, conforme se observa no gráfico a seguir:

Figura 1.3: Cinco maiores tomadores do BNDES, em milhares de reais


Fonte: Adaptado de BNDES… (2019, on-line).
Verifica-se dessa forma a importância da instituição no financiamento de
empresas nacionais para investimentos diversos que foram realizados tanto no
país como no exterior.

Instituições Financeiras Bancárias


As instituições financeiras atuam no mercado brasileiro realizando o exercício da
intermediação financeira: captam recursos através da venda de títulos de crédito,
como os certificados de depósitos bancários (CDBs), e os emprestam a
tomadores de recursos através de diversas modalidades de crédito, que serão
citadas mais à frente. São constituídos sob a forma de sociedade anônima e,
portanto, são objeto de fiscalização por parte tanto do Banco Central como da
CVM. Conforme Assaf Neto (2018, p. 48):

Os bancos comerciais têm a prestação de serviços como uma importante


atividade, podendo realizar pagamentos de cheques, transferências de fundos e
ordens de pagamentos, cobranças diversas, recebimentos de impostos e tarifas
públicas, aluguel de cofres e custódia de valores, serviços de câmbio etc. As
principais operações ativas desenvolvidas pelos bancos comerciais concentram-
se na concessão de créditos por meio de descontos de títulos, crédito pessoal,
crédito rural, adiantamentos sob caução de títulos comerciais, cheques especiais
etc. Os recursos dessas instituições são provenientes, principalmente, dos
depósitos à vista e a prazo, operações de redesconto bancário e assistência
financeira e operações de câmbio.
Considerando o volume de negócios, as instituições financeiras podem ser
classificadas como de varejo e atacado. Os bancos de varejo possuem grande
volume de movimentações financeiras diárias e atendem tanto a pessoas físicas
como a jurídicas em suas diversas necessidades; já os bancos de atacado são
mais direcionados ao atendimento de pessoas jurídicas, realizando um menor
número de operações, porém, envolvendo valores mais expressivos. Segundo
dados do Banco Central, no ano de 2019 os cinco maiores bancos brasileiros
são, em ativos, o Itaú Unibanco (1,5 trilhões), o Banco do Brasil (R$ 1,39
trilhões), o Bradesco (R$ 1,305 trilhões), a Caixa Econômica Federal (1,300
trilhões) e o Santander (0,73 trilhões). Ainda segundo o Bacen, no ano de 2018
essas cinco instituições chegaram a concentrar mais de 84% da carteira de
crédito do país.

Os Mercados Financeiros: O Mercado Monetário e o Mercado de Crédito

Os mercados financeiros, conforme Assaf Neto (2018), desenvolvem-se de


forma segmentada, em quatro subdivisões, a saber: mercado de crédito,
mercado monetário, mercado de capitais e mercado cambial. Ainda segundo
Assaf Neto (2018, p. 61):

Apesar de servirem de referência para o estudo do mercado financeiro, esses


segmentos sugeridos de mercado muitas vezes se confundem na prática,
permitindo que as várias operações financeiras interajam por meio de um amplo
sistema de comunicações. Apresentam, ainda, uma referência comum para as
diversas negociações financeiras, a taxa de juros, entendida como a moeda de
troca desses mercados.
Os mercados financeiros são assim estruturados:

Estrutura dos mercados financeiros

Mercados Atuação maturidade

Controle dos meios de pagamentos (liquidez) da Curtíssimo e curto


Monetário
economia prazos
Crédito Créditos para consumo e capital de giro das empresas Curto e médio prazos

Capitais Investimentos, financiamentos e outras operações Médio e longo prazos

Cambial Conversão de moedas À vista e curto prazo

Quadro 1.1 - Estrutura dos mercados financeiros


Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2018, p. 61).

Os mercados funcionam através de um mecanismo de intermediação financeira,


que, em linhas gerais, corresponde ao processo onde instituições financeiras
captam recursos de doadores de recursos (investidores, pessoas que obtém
recursos acima de suas necessidades) para emprestá-los a tomadores de
recursos (pessoas que demandam recursos financeiros além de suas posses).
A recompensa para os investidores seriam os juros obtidos e, para as instituições
financeiras, os juros além do acordado a ser pago aos investidores, os custos da
operação e uma recompensa de risco, denominada spread bancário.

Figura 1.4 - Intermediação financeira


Fonte: belchonock / 123RF.
O Mercado Monetário
O mercado monetário é organizado de forma a controlar a liquidez da economia
e das taxas de juros. Os ativos negociados têm como referência a taxa de juros,
constituindo assim sua mais importante moeda de transação. Caracteriza-se por
ser um mercado de curtíssimo prazo, responsável pela formação das taxas
referenciais de juros da economia – as taxas Selic e DI. Segundo Assaf Neto
(2018, p. 62):

O mercado monetário é essencial para o estabelecimento do nível de liquidez da


economia, controlando e regulando o fluxo de moeda convencional (papel-
moeda) e de moeda escritural (depósitos à vista nos bancos comerciais). Para
adequar o volume de moeda com o objetivo de manutenção de liquidez da
economia, a autoridade monetária (Banco Central) atua no mercado financeiro
disponibilizando ou retirando recursos da economia.
São negociados nesse mercado principalmente os papéis emitidos pelo tesouro
nacional, no entanto, são negociados também os certificados de depósitos
interfinanceiros (CDI, exclusivamente entre instituições financeiras); os
certificados de depósito bancário (CDBs) e as debêntures.

O Selic e a Cetip
O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) foi desenvolvido no ano de
1979 pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições
de Mercado Aberto), para operar com títulos de emissão do tesouro nacional.
Conforme nos ensina Assaf Neto (2018, p. 62):

O Selic é um sistema informatizado que executa a custódia dos títulos públicos


de emissão do Tesouro Nacional (Dívida Pública Mobiliária Federal), e efetua
também o registro, controle e liquidação das operações com esses papéis. No
Selic as operações são liquidadas uma a uma em tempo real.
São participantes do Selic todas as instituições autorizadas a funcionar pelo
Banco Central. No entanto, estamos mais acostumados com a ver na mídia a
taxa Selic. Segundo Assaf Neto (2018), a taxa Selic representa a taxa média das
operações diárias de financiamento realizadas entre instituições financeiras no
mercado monetário, lastrada em títulos públicos e sendo tratada como taxa
básica de juros na economia brasileira, servindo então como referência para a
formação dos juros de mercado. A taxa Selic é fixada pelo Governo Federal no
âmbito do Comitê de Política Monetária (COPOM).

A Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos Privados (Cetip) foi


constituída no ano de 1986, similar ao Selic, tendo os CDIs como principal título
negociado. Entretanto, a Cetip opera também com os títulos de emissão privada,
como os CDBs, debêntures e Commercial Papers (notas promissórias). Como já
dissemos, no ano de 2017 a Cetip se fundiu a BMF&Bovespa, constituindo o
conglomerado B3 (Brasil, Bolsa, Balcão).
Os Títulos Públicos
Os títulos públicos são papéis emitidos pelo governo, com a finalidade de captar
recursos no mercado financeiro e realizar a política monetária. Conforme nos
ensina Assaf Neto (2018 p. 65)

Essencialmente, os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional estão


voltados para a execução da política fiscal do Governo, antecipando receitas
orçamentárias ou financiando déficits fiscais. Anteriormente, o Banco Central
podia emitir títulos públicos com o objetivo principal de implementação e
execução da política monetária. No entanto, por resolução do Conselho
Monetário Nacional, o Banco Central não pode mais emitir títulos da dívida
pública desde o ano 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – 04.05.2000). Para
execução de política monetária o Banco Central opera no mercado aberto
negociando somente títulos de emissão do Tesouro Nacional.
Os títulos públicos são considerados papéis de baixíssimo risco, por terem a sua
liquidez garantida pelo tesouro nacional, entretanto, esse conceito não se aplica
a países com grandes instabilidades em sua economia. É o caso, por exemplo,
da Venezuela nos anos de 2018 e 2019, país com sua economia em situação
extremamente deficitária; nesse caso, os papéis do país são considerados de
altíssimo risco dada a incapacidade do país de honrar as suas dívidas. Em um
extremo oposto, o papel reconhecidamente de risco zero mundialmente é o título
da dívida dos Estados Unidos da América, sendo que, obviamente, um dos que
menos paga juros no mundo. Os títulos brasileiros são considerados de baixo
risco e, portanto, uma interessante forma de investimento tanto para pessoas
físicas como jurídicas. A sua compra se dá pelo intermédio de uma corretora de
valores, ou seja, investidores interessados precisam abrir uma conta em uma
corretora para acessá-los. Mais adiante será explicado o procedimento para se
abrir uma conta em uma corretora de valores.

Existem os seguintes títulos à disposição para compra:

Título Rendimento Remuneração

Letras do Tesouro Nacional Prefixado No vencimento

Notas do Tesouro Nacional - F Prefixado Semestral e no vencimento

Notas do Tesouro Nacional – B


IPCA + taxa prefixada No vencimento
principal

Nota do Tesouro Nacional – B IPCA + taxa prefixada Semestral e no vencimento


Letras Financeiras do Tesouro Selic + taxa prefixada No vencimento

Quadro 1.2 - Títulos do Tesouro Nacional


Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2018 p. 66).

Os prazos de vencimento são definidos no momento da emissão, conforme a


política econômica do governo. As vendas desses papéis podem se dar de três
formas:

• Ofertas públicas com a realização de leilões.


• Venda direta pelo tesouro.
• Emissões destinadas a atender finalidades específicas.

O Mercado de Crédito
No mercado de crédito são oferecidos os recursos necessários ao atendimento
das necessidades de recursos financeiros das pessoas físicas, que os usam para
o consumo, como das pessoas jurídicas, normalmente para o capital de giro.
Aqui as instituições financeiras atuam como intermediadores de recursos,
captando recursos de poupadores e os emprestando aos tomadores de
recursos. Para os poupadores, o banco remunera a uma determinada taxa,
emprestando-os aos tomadores a uma taxa expressivamente maior, pois ela
deve refletir os custos de captação, as despesas administrativas envolvidas na
atividade bancária, os impostos e o prêmio pelo risco. Essa diferença é
denominada, como observamos anteriormente, spread bancário. Existem
dezenas de modalidades de crédito, mas nos ateremos às mais comuns.

Cheque Especial
O cheque especial é uma modalidade de crédito rotativo destinado tanto para
pessoas físicas como jurídicas. É utilizado automaticamente tão logo os recursos
da conta corrente do tomador zerem e é coberto (pago) à medida que novos
recursos sejam creditados.

É importante ressaltar que as taxas de juros normalmente cobradas por esse


produto são as mais altas do mercado, pois as taxas de juros são prefixadas,
mas podem mudar ao longo do tempo. Portanto, é evitado pelas empresas, que
possuem alternativas mais baratas. Contudo, para pessoas físicas, ainda é uma
das modalidades mais utilizadas de crédito de curto prazo.

As contas Garantidas
As contas garantidas são produtos destinados exclusivamente a pessoas
jurídicas e possuem um uso similar ao do cheque especial, já que também se
trata de limite de caráter rotativo, contudo, existem algumas diferenças: a
liberação de recursos deve ser monitorada pelo gerente responsável pela conta
e, comumente, o produto possui garantias atreladas, ou seja, possuem garantias
extras ao aval dos sócios. Essas garantias podem ser:
• recebíveis, como duplicatas mantidas em uma carteira e, eventualmente,
cheques pré-datados.
• alienação fiduciária de veículos, máquinas e equipamentos.
• penhor mercantil.

As contas garantidas que possuem recebíveis atrelados são cobertas


automaticamente pelas duplicatas de uma determinada carteira de recebíveis,
caso o saldo esteja devedor. Na prática, é uma das garantias mais atraentes
pelas instituições financeiras, pois permite, além de acompanhar a liquidez dos
títulos de seus clientes, uma cobertura mais rápida do risco. A alienação
fiduciária é uma garantia pela qual determinado bem, como veículos, máquinas
e equipamentos, ficam em garantia. Em termos de qualidade de garantia,
contudo, veículos são mais atraentes porque, além de possuírem maior liquidez,
a observação quanto à alienação fica em observação no DUT (documento único
de transferência), enquanto a garantia de máquinas e equipamentos é
meramente contratual. Por fim, no penhor mercantil a empresa se compromete
a manter determinado valor em estoque para cobrir o risco sempre que utilizar a
conta garantida. Dada a inviabilidade de acompanhar a manutenção da garantia,
essa modalidade é apenas um confort, uma garantia a mais, além do aval dos
sócios.

Para as lojas de varejo existe uma modalidade específica de conta garantida,


denominada conta garantida cartão. E uma conta garantida que possui como
garantia os recebimentos de cartão de crédito, sendo que as maquinetas ficam
“travadas” na conta. O limite é calculado considerando a média de recebimentos
e o número de parcelamentos normalmente concedidos, podendo ser de três a
doze vezes essa média, dependendo do perfil da empresa. Essa modalidade de
conta garantida é considerada, dadas as garantias, de baixo risco pelas
instituições financeiras.

Desconto de Recebíveis
É uma modalidade de crédito que pode ser concedida sobre a forma de uma
linha de crédito – um limite preestabelecido para que a empresa realize seus
descontos – ou através de uma operação pontual. Aqui é importante frisar que a
instituição financeira não faz a compra do título, apenas realiza a antecipação do
valor. Dessa forma, caso o sacado do título não honre o compromisso, quem
deverá fazê-lo é o cedente, caracterizando assim uma operação de crédito. O
funcionamento é extremamente simples: os valores são creditados na conta
corrente do tomador mediante um deságio, e o título migra de uma carteira
simples ou registrada para uma carteira descontada, na qual é feito o
acompanhamento da quitação da operação. Caso o título seja pago, é baixado
automaticamente; caso contrário, será debitado da conta corrente do cedente.
Idealmente, o prazo máximo de vencimento dos títulos é de 90 dias,
dependendo, claro, do perfil de cada cliente quanto aos seus prazos médios de
recebimentos.
Hot Money
As operações de Hot Money normalmente são realizadas por grandes empresas
e servem para necessidades de curtíssimo prazo.

No glossário do Banco Central, o produto é assim definido:

Hot money, em sua origem, designa fundos aplicados em ativos financeiros, em


diversos países, que atraem pela possibilidade de ganhos rápidos devido a
elevadas taxas de juros ou a grandes diferenças cambiais. São operações de
curtíssimo prazo, em que os recursos podem ser deslocados de um mercado
para outro com muita rapidez. Esses recursos são administrados por
especuladores no mercado de câmbio e caracterizam-se por alta volatilidade, em
oposição às aplicações de bancos centrais, bancos de investimento ou
investidores domésticos. Por essa particularidade, são considerados causadores
de turbulências nos mercados financeiros, em algumas situações. No Brasil, o
termo hot money, amplamente empregado por bancos comerciais, por extensão
de sentido aplica-se também a empréstimos de curtíssimo prazo (de 1 a 29 dias).
Esses empréstimos têm a finalidade de financiar o capital de giro das empresas
para cobrir necessidades imediatas de recursos. (BANCO CENTRAL DO
BRASIL, [201-a]).
Verifica-se então que o recurso é normalmente utilizado para desencaixes
pontuais ou em situações emergenciais.

Giro Parcelado
O giro parcelado é uma operação de empréstimo realizado para pessoas
jurídicas, similar ao empréstimo pessoal realizado para pessoas físicas: é uma
modalidade pela qual o tomador toma determinada quantia, que é creditada em
sua conta corrente, e seus pagamentos se dão de forma parcelada, normalmente
não superiores a 24 meses, dependendo, claro, dos valores envolvidos e do perfil
do cliente. É uma alternativa interessante quando a empresa está muito tomada
em operações rotativas e com dificuldade para cobri-las, pois as taxas de juros
são normalmente menores. É comum que a instituição financeira peça garantias
extras para concessão do risco, que podem ser veículos ou, dependendo dos
valores envolvidos, hipoteca de imóveis. A taxa de juros envolvida na operação
é prefixada. A Hipoteca é a dação de imóveis, como terrenos, casas e galpões,
como garantia em adicional ao crédito. Antes, porém, o bem deve ser avaliado
por uma empresa especializada, sendo que o laudo tem um custo significativo,
o que o torna então uma garantia cara para o tomador. Imóveis que possuem
residentes não são uma garantia boa a ser aceita, em função dos custos judiciais
de desocupação.

Operações de Vendor
A operação de vendor, conforme nos ensina Assaf Neto (2018, p. 72):

É uma operação de crédito em que uma instituição bancária paga à vista a uma
empresa comercial os direitos relativos às vendas realizadas e recebidos em
cessão, em troca de uma taxa de juros de intermediação. No vendor, a empresa
vendedora atua como cedente do crédito, e o banco como cessionário e
financiador do comprador. O banco paga à vista ao vendedor o valor dos créditos
recebidos, descontado dos respectivos encargos financeiros. A responsabilidade
principal do pagamento dos títulos ao banco é da empresa compradora, sendo
por isso geralmente exigido que seja cliente conhecida da instituição.
Dessa forma, a operação permite diversas vantagens para a empresa comercial
vendedora, como a possibilidade de recebimento à vista, a redução da base de
cálculo dos impostos e comissões incidentes sobre o faturamento (PIS, Cofins,
ICMS, IPI). Para a empresa compradora, a operação também pode ser atraente,
pois permite o acesso a taxas de juros mais baixas do que se tomasse
empréstimo para fazer a aquisição. Assim sendo, o objetivo da operação é
viabilizar as vendas a prazo, permitindo que a empresa vendedora receba a vista
e, ao mesmo tempo, conceda um crédito ao comprador, conforme se observa na
figura abaixo:

Figura 1.5 - O vendor


Fonte: Assaf Neto (2018, p. 72).

Crédito Direto ao Consumidor e Cartões de Crédito


O crédito direto ao consumidor (CDC) é uma modalidade de crédito destinada
tanto para pessoas físicas como jurídicas para aquisição de bens e serviços.
Dependendo do tipo do bem e dos valores envolvidos, existe a possibilidade de
alienação até que o financiamento seja integralmente quitado. É o caso, por
exemplo, da aquisição de veículos, sendo que o bem se mantêm em garantia,
com observação inscrita no DUT. Para bens de valores menores, como
eletrodomésticos, por exemplo, não há a alienação. O pagamento é feito de
forma parcelada, normalmente de 12 a 36 parcelas, sendo que a taxa de juros
envolvida na operação é prefixada.

O cartão de crédito é uma modalidade também para pessoas físicas e jurídicas,


sendo também usado para aquisição de bens e serviços, que também podem
ser adquiridos parceladamente. É muito usado por pequenas empresas em
função da sua praticidade. Os limites são determinados no momento da
aquisição do cartão, mas podem sofrer ajustes conforme o comportamento de
crédito do cliente, normalmente para maiores valores. Uma das grandes
vantagens do uso dessa modalidade é a aquisição parcelada de bens sem
acréscimo de juros, no entanto, os valores são restringidos pelo limite.

Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC)


O ACC é uma modalidade de crédito destinada exclusivamente a empresas
exportadoras. A ideia é adiantar parcial ou integralmente os valores referentes a
uma exportação futura ou em andamento. As taxas de juros são bem menores
do que em outras modalidades de crédito, e os recursos podem ser utilizados
para aquisição de insumos de produção e capital de giro. Segundo Assaf Neto
(2018, p. 74):

A operação pode ocorrer na fase de produção da mercadoria a ser embarcada


ao exterior, apresentando-se com características de financiamento à produção.
Nessa fase, a operação é conhecida por ACC – Adiantamento de Contrato de
Câmbio. O exportador pode solicitar o adiantamento dos recursos somente após
o embarque da mercadoria ao importador, sendo a operação nesse caso
denominada ACE – Adiantamento sobre Cambiais Entregues. Ao solicitar o ACE
na fase pós-embarque, o exportador aufere toda a variação cambial ocorrida no
período coberto desde a produção até a entrega final da mercadoria.
A análise de crédito envolvida na concessão do risco avalia, além da saúde
financeira da empresa, o histórico de pagamentos cambiais que, na prática, são
os recursos utilizados para quitação da operação. Essa informação pode ser
obtida nos sistemas de dados do Banco Central (Sisbacen).

Leasing
O leasing não chega a ser exatamente uma operação de crédito, embora
funcione praticamente como se fosse. É uma operação que na prática se
constituiu de um “aluguel”, pelo qual o proprietário do bem – o arrendador –
concede ao locatário – denominado arrendatário – o direito de uso de
determinado bem por um período de tempo determinado. Os arrendadores são
empresas de leasing normalmente vinculadas a instituições financeiras, e os
arrendadores são empresas de diversos segmentos, destacando-se aqui as
empresas de aviação, grandes usuárias dessa modalidade.

O leasing proporciona aos arrendatários diversas vantagens, como:

• O "financiamento" total do bem.


• A possibilidade de uso dos equipamentos durante a vigência do contrato.
• A liberação do capital de giro.
• Dupla economia fiscal (dedução fiscal dos aluguéis e não-imobilização do
equipamento – os pagamentos das contraprestações do leasing são
dedutíveis do imposto de renda).
• Melhoria dos índices financeiros (pelo baixo índice de imobilização –
como se trata de um "aluguel", o bem não é contabilizado no imobilizado
da empresa). Dessa maneira, isso mostra uma empresa com alta
produtividade, mas com altos índices de liquidez

As operações de leasing possuem prazos que podem variar bastante, mas o


Banco Central determina que, para veículos, o prazo mínimo é de 24 meses, e
para outros ativos com vida útil superior a cinco anos, o prazo mínimo é de 36
meses.

Os Mercados Financeiros: o Mercado de Câmbio e o Mercado de Capitais

Nos mercados de câmbio são realizadas as operações envolvendo moedas


estrangeiras, nas operações de importações e exportações. No mercado de
capitais temos o ambiente em que as empresas buscam recursos não exigíveis
ou exigibilidades de longo prazo. Nas próximas linhas desenvolveremos as
características desses mercados.

O Mercado de Câmbio
Em uma definição mais restrita da palavra, câmbio vem de “cambiar”, que
significa trocar, e, no que tange a operações com moedas, o câmbio justamente
expressa as operações de troca de moeda local por moeda estrangeira, e vice-
versa, para realização de operações comerciais. A taxa de câmbio justamente
nos mostra quantas unidades de moeda local são necessárias para adquirir uma
unidade de moeda estrangeira. Por exemplo, no mês de junho de 2019, na
média, são necessários R$ 4,00 para compra de 1 dólar americano. Conforme
nos ensina Assaf Neto (2018, p. 99):

Esse mercado reúne todos os agentes econômicos que tenham motivos para
realizar transações com o exterior, como operadores de comércio internacional,
instituições financeiras, investidores e bancos centrais, que tenham
necessidades de realizar exportações e importações, pagamentos de
dividendos, juros e principal de dívidas, royalties e recebimentos de capitais e
outros valores. No Brasil, a política cambial é definida pelo CMN e executada
pelo Bacen.
É importante ressaltar que no Brasil o mercado de câmbio não é apenas
controlado, mas monopolizado pelo Banco Central, ou seja, apenas algumas
instituições – como bancos, corretoras e distribuidoras e agências de turismo –
autorizadas podem fazer operações de câmbio. Esse controle é necessário para
que possa ser possível controlar as reservas cambiais e manter o valor da moeda
nacional em relação às estrangeiras.

Conforme Assaf Neto (2018), o mercado de câmbio no Brasil encontra-se


segmentado em Mercado de câmbio de taxas livres (câmbio comercial) e
Mercado de câmbio de taxas flutuantes (câmbio turismo).

Mas, afinal, o que determina a taxa de câmbio? O que faz a moeda nacional – o
Real – se valorizar ou desvalorizar diariamente? Em linhas gerais, é
o mercado que faz a moeda oscilar de valor, ou seja, a demanda seja por moeda
local ou estrangeira. Se as perspectivas econômicas forem positivas, a tendência
é que haja uma entrada maior de moedas estrangeiras, para aproveitar
oportunidades de investimento. Dessa forma, em uma situação em que a oferta
é maior do que a procura por moeda estrangeira, ela tende a perder o valor;
contudo, o contrário ocorre quando o pessimismo toma conta do mercado, pois,
nesse caso, a tendência é que os dólares sejam mais comprados pelos
investidores, por se tratar de uma moeda mais estável. É importante frisar que o
otimismo e pessimismo do mercado não são influenciados apenas pela
conjuntura do mercado local, pois notícias boas ou ruins vindo de determinados
países, como a China, o Japão e os Estados Unidos, e da Europa como um todo
também podem impactar negativamente em nosso mercado, sobretudo porque
o Brasil possui uma economia ainda em estágio de desenvolvimento.

Outro fator que também influencia na determinação da taxa de câmbio é a


política cambial exercida pelo governo. Idealmente, o câmbio deve ser livre, ou
seja, sua taxa deve ser determinada pelas forças de mercado; no entanto, o
governo pode adotar um regime de câmbio fixo, e, nesse caso, a paridade é
normalmente fixada por força de lei, sendo normalmente de R$ 1,00 para um
dólar (o Brasil adotou esse regime entre julho de 1994 e fevereiro de 1998, o que
quase desestabilizou o Real e a situação econômica do país). Outra política
cambial é a denominada flutuação suja (dirty floating), também chamada regime
de bandas cambiais. Nesse caso, o governo permite que a taxa oscile entre
patamares máximos e mínimos, ora comprando, ora vendendo no mercado
futuro, conforme a situação da economia. O Brasil adotou esse regime no início
dos anos 1980, durante o governo Figueiredo.

O Mercado de Capitais
O mercado de capitais é o meio ambiente em que as empresas buscam recursos
não exigíveis ou exigibilidade de longo prazo para realização de investimentos,
sobretudo em bens de capital. Conforme nos ensina Assaf Neto (2018, p. 81), o
mercado de capitais

[...] assume papel dos mais relevantes no processo de desenvolvimento


econômico. É o grande municiador de recursos permanentes para a economia,
em virtude da ligação que efetua entre os que têm capacidade de poupança, ou
seja, os investidores, e aqueles carentes de recursos de longo prazo, ou seja,
que apresentam déficit de investimento. O mercado de capitais está estruturado
de forma a suprir as necessidades de investimentos dos agentes econômicos,
por meio de diversas modalidades de financiamentos a médio e longo prazos
para capital de giro e capital fixo. É constituído pelas instituições financeiras não
bancárias, instituições componentes do sistema de poupança e empréstimo
(SBPE) e diversas instituições auxiliares.
Segundo Pinheiro (2016), seu surgimento foi pautado em dois princípios:
contribuir para o desenvolvimento econômico, impulsionando os capitais para os
investimentos e incentivando a formação da poupança privada, e permitir a
estruturação de uma sociedade pluralista e baseada na economia de mercado,
permitindo a participação da sociedade nos resultados da economia.

Existem mais de uma dezena de ativos negociados no mercado, mas,


considerando os objetivos do material, vamos focar naqueles de maior
relevância a seguir.

Principais Ativos Negociados


Entre os papéis negociados nos mercados de capitais, destacamos:

a) Ações

As ações por definição são uma fração do capital social de uma sociedade
anônima de capital aberto. Podem ser adquiridas por qualquer pessoa que
possua uma conta em uma corretora de valores, podendo ser vendida também
a qualquer momento, com liquidação em D+2. Suas operações são
regulamentadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). É possível ganhar
dinheiro no mercado de ações das seguintes maneiras:

• Dividendos que correspondem a uma parte dos lucros auferidos pela


empresa. Pela Lei n.º 6.404/76, todas as empresas são obrigadas a
distribuir pelo menos 25% de seu lucro líquido sobre a forma dessa
remuneração aos acionistas. A quantia que cabe aos acionistas é paga
em dinheiro e creditada na conta corrente cadastrada na corretora em que
o investidor opera.
• Juros sobre capital próprio: é uma espécie de artifício usado pelas
empresas para evitar a tributação, nesse caso, a tributação que incide
sobre a remuneração, que é de 15%, é paga pelo acionista, descontando-
se na fonte.
• Valorização dos papéis: as ações oscilam diariamente conforme os
rumores do mercado, e a ideia, nesse sentido, é buscar vendê-los por um
preço maior do que foi comprado. É muito importante observar o
comportamento do preço dos papéis para ter uma noção sobre o melhor
momento para se comprar (em situações de baixa) e para se vender (em
situações de alta).

É importante observar que a remuneração das ações está vinculada aos


resultados atuais ou à perspectiva de lucros que as empresas ofereçam aos
investidores, ou seja, empresas em situação de prejuízo não pagam dividendos
nem juros e seus papéis normalmente possuem desvalorização constante.

As ações podem ser classificadas basicamente em:

• Ações ordinárias: conferem ao seu detentor o direito a voto nas diversas


decisões que são tomadas pelas empresas. São reconhecidas pela
designação ON informada após o código de cada ação.
• Ações preferenciais: o investidor não possui direito a voto, mas, como nos
bem ensina Assaf Neto (2018), conferem aos seus proprietários a
preferência e vantagens nos recebimentos dos dividendos, com a fixação
de um dividendo mínimo obrigatório e preferência no reembolso de capital
em caso da dissolução da sociedade.

Ainda segundo o autor, as ações podem ser classificadas em A, B, C, etc., com


benefícios informados nos estatutos de cada empresa. Entre os benefícios que
podem ser conferidos aos acionistas, conforme Assaf Neto (2018), também
podemos citar:

• Bonificações: distribuição gratuita de ações aos atuais acionistas por


conta de aumento de capital, de forma a permitir que mantenham as
proporções de participação antes do aumento.
• Direito de subscrição: direito concedido aos atuais acionistas serem
consultados previamente em todo aumento de capital, visando à
aquisição de novas ações em proporção às ações já possuídas, a fim de
manter a sua participação proporcional na empresa.

b) Debêntures

Conforme nos ensina Assaf Neto (2018, p.56), “Debêntures são títulos de dívida
de longo prazo emitidos por sociedades por ações e destinados, geralmente, ao
financiamento de projetos de investimentos (fixo e giro) ou para alongamento do
perfil de endividamento das empresas”. É importante frisar que, diferentemente
das ações, as debêntures possuem uma remuneração que não é vinculada ao
resultado das empresas, ou seja, o seu pagamento, que se dá sobre a forma de
juros, constitui-se em obrigações. Conforme Assaf Neto (2018), as taxas de juros
podem ser prefixadas, flutuantes ou mistas, ou seja, uma taxa prefixada
acrescida de uma taxa de juros acrescida de um índice de correção da economia.
Quanto à forma de remuneração, os juros podem ser pagos pelo período de sua
vigência ou apenas quando vencem, no momento de seu resgate.

Assim como as ações, as emissões de debêntures são normatizadas pela CVM,


e a sua forma de aquisição também se dá através de corretoras.

c) Derivativos Financeiros

Os derivativos financeiros são papéis negociados no âmbito dos mercados


futuros, ou seja, a cotação de seus ativos reflete as expectativas dos preços que
os investidores possuem para as próximas semanas, meses, etc., para
determinados ativos. Por isso o nome “derivativo”, ou seja, as suas cotações
“derivam” das cotações dos ativos a que são referenciados no mercado à vista.
A seguir exporemos resumidamente as características para os principais
derivativos financeiros negociados: os contratos a termo e futuro padronizados,
as opções e os swaps.

• Os contratos a termo ou futuro padronizados são papéis em que uma


parte se obriga a entregar a outra determinado produto em data futura a
um preço previamente estabelecido. No caso dos contratos a termo,
normalmente são negociadas moedas; nos contratos futuro são
negociados commodities, como a arroba de boi, açúcar, milho, algodão,
café, entre outros. A diferença dos contratos futuro em relação aos
contratos a termo é que nestes algumas condições, como quantidade,
qualidade, data e local de entrega, são previamente estabelecidas e são
padronizadas, ou seja, todos os contratos têm as mesmas características;
já os contratos a termo têm seus ativos negociados definidos “nos termos”
de cada contrato, dessa forma, são usados para ativos mais específicos,
como, além das moedas, até mesmo obras de arte.
• Os contratos de opções oferecem ao seu detentor, diferentemente dos
contratos a termo ou futuro padronizados, o direito, e não a obrigação,
de assumir determinada posição em data futura. Dessa forma, o investidor
somente exercerá a posição se for para auferir ganhos. Contudo, há um
preço: a aquisição das opções demanda o pagamento de um prêmio, que
é um valor pago à vista para os vendedores das opções (denominados
lançadores). Esse valor não é devolvido independentemente se o
investidor exercer ou não a opção e, caso não for fazê-lo, diz-se que a
opção vira “pó”. Existem basicamente dois tipos de opções quanto à
modalidade e ao direito de exercício: quanto à modalidade, as opções
podem ser de compra (conferem ao seu detentor o direito de comprar um
ativo a um preço previamente estabelecido) e de venda (conferem ao seu
detentor o direito de vender determinado ativo a um preço previamente
estabelecido); quanto ao direito de exercício, as opções podem ser
americanas (podem ser exercidas a qualquer tempo) ou europeias
(somente podem ser exercidas no vencimento, sendo que essa é a única
modalidade disponível no mercado brasileiro).
• O swap é uma operação pela qual duas partes ajustam a troca de um
índice de correção monetária sobre determinado fluxo de recebimentos
ou de pagamentos, sendo que as modalidades mais comuns no Brasil são
os swaps de taxa de câmbio e de juros. Suponha que uma empresa tenha
uma dívida em uma taxa pós-fixada, por exemplo. É possível assim que
ela troque com uma contraparte (uma instituição financeira, por exemplo)
essa taxa pós por uma prefixada, deixando, dessa forma, de correr o risco
das flutuações das taxas de juros. Para a empresa será vantajoso caso
as taxas de juros subam para acima da taxa pré-acordada, contudo,
deverá pagar a contraparte caso as taxas de juros pós-fixadas fiquem
abaixo da taxa pré-fixada. Mecanismo similar é feito para o caso
de swap de câmbio.
Referências

ALVARENGA, D. Caixa já pratica juros de mercado no crédito imobiliário;


compare as taxas dos bancos para a casa própria. Economia. G1, 08 jan. 2019.
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/08/caixa-ja-
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BANCO CENTRAL DO BRASIL. Hot money. Banco Central. Brasília, [201-a].


Disponível em:
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BNDES divulga no site 50 maiores tomadores de recursos e facilita navegação


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GRANER, F.; ZAIA, C.; PUPO, F. Governo quer diminuir fatia do BB na área de
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PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais: fundamentos e técnicas. 8. ed. São


Paulo: Grupo GEN, 2016.

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