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Ao senhor
Otávio Ribeiro Damaso
Diretor de Regulação do Sistema Financeiro - DENOR
ativosvirtuais.denor@bcb.gov.br:
c/c
Sr. João André Calvino Marques Pereira - Chefe de Unidade;
Sr. Mardilson Fernandes Queiroz - Consultor; e
Sr. Antônio Marcos Fonte Guimarães - Consultor
Registramos nossa profunda apreciação ao trabalho técnico de alta qualidade que vem
sendo desenvolvido por este D. Departamento de Regulação do Sistema Financeiro -
DENOR em respeito à efetiva implementação da moldura regulatória necessária ao
desenvolvimento do mercado de ativos virtuais e à adoção das tecnologias de registro
distribuído com segurança e estabilidade. Consideramos, além disso, acertada e
alvissareira a atribuição ao D. Banco Central, pelo Poder Executivo, de autoridade pela
disciplina do funcionamento e supervisão das PSAVs. A disposição do deste D. Banco
Central em ouvir aberta e francamente a sociedade civil e todos os interessados, e a
abertura para a colaboração direta com mercados, investidores, participantes e usuários
demonstradas, indicam o proveitoso caminho que será seguido.
Destacamos que contamos com o valioso apoio, na condução das reuniões e consolidação
das considerações e comentários ora apresentados, do Pinheiro Neto Advogados, Vieira
Rezende Advogados, Carlos Maurício Mirandola, Jonathan Doering Darcie e prof Courtnay
Guimarães Jr (representando o Hard Fork Cafe Brasil - HFC, organização descentralizada
de discussão e pensamento sobre criptoativos, existente desde 2016 e com 6 mil
participantes distribuidos em 390 grupos de estudo).
Atenciosamente,
Os autores agradecem o apoio do HFC, sem o qual a esta contribuiáo não teria sido
possível.
NOTA METODOLÓGICA
A presente contribuição foi dividida em tópicos, em observação aos questionamentos
apresentados por meio do roteiro descrito pelo BCB no Edital da CP 97/23.
Essa inversão de ordem é proposital, portanto, e visa a capturar uma lógica regulatória que
foi identificada no mandato da lei, que é a de promover a inovação e a diversidade de
modelos de negócio, não engessando um setor tecnológico que está em constante e rápido
desenvolvimento por meio de regulação. Ao diferenciar atividades a serem reguladas, a Lei
das PSAVs acertou ao permitir que não fosse exigida uma entidade padrão específica para
tal atuação, ou a obrigatoriedade de cumulação mínima de certas licenças.
DEFINIÇÕES
“ANBIMA”: a Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais,
pessoa jurídica de direito privado funcionando como associação privada autorreguladora.
“Ativos Virtuais” ou “Criptoativos”: os ativos descritos no art. 3º c/c Parágrafo Único do art.
1º da LPSAV.
“BCB” ou “Banco Central”: o Banco Central do Brasil, autarquia federal responsável pela
regulação das atividades de intermediação financeira, bancária, e serviços financeiros
não-bancários nos termos da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964 e demais leis
relacionadas com atividades financeiras.
“LPSAV” ou “Lei das PSAVs”: a Lei nº 14.478, de 21 de dezembro de 2022, a lei que
regulamenta a constituição, registro, funcionamento e dissolução das prestadoras de
serviço de ativos virtuais.
Nessa hipótese, seria importante haver critérios específicos para os tipos de licença e as
instituições interessadas poderiam solicitar autorização para operar em um ou mais
modalidades, a depender das atividades a serem prestadas.
Nesse sentido, pensamos ser indicada a adoção de uma moldura regulatória que permita a
autorização, atividade a atividade, da prestação de serviço das PSAVs. Em outras palavras,
à medida que seu modelo de negócio envolvesse a prestação de atividade específica, uma
PSAV poderia requisitar previamente autorização para a sua prestação. Além disso,
diferentes arranjos e combinações de atividades poderiam ser possíveis dentro de uma
mesma PSAV.
A Tabela 11A abaixo indica a correspondência das atividades reguladas, nos termos da Lei
das PSAVs, atividades tradicionais do mercado financeiro, e uma proposta de prestação de
serviço a ser regulada nos termos da Lei das PSAVs.
Isso, no entanto, não implica dizer que todas as combinações de atividades seriam
possíveis ou desejáveis. Reconhecemos que certas combinações de atividades podem
gerar conflitos de interesses, ou mesmo ser incompatíveis entre si. Haveria, portanto,
necessidade de se prever na regulamentação os casos de obrigatoriedade de
estabelecimento de segregações internas, chinese walls, separação de responsabilidades,
e outras medidas para os casos de conflitos de interesses entre atividades autorizadas a
uma mesma PSAV. Igualmente, seria importante que ficassem claros os casos de
incompatibilidade, que envolveriam segregação das atividades em pessoas jurídicas
diferentes.
Seguindo a letra e espírito da própria Lei das PSAVs, encontramos uma moldura conceitual
que favorece a abordagem de regulação por atividade. O art. 5º da lei é a base dela,
apresentando uma lista de atividades que as PSAVs executam, em nome próprio ou de
terceiros.
1
Em regulação financeira, observamos por exemplo a abordagem utilizada pelo Reino Unido em
relação às atividades listadas no Financial Services and Markets Act 2000.
Tabela 11A: Atividades da LPSAV e Serviços Prestados
A tabela abaixo organiza uma lista de atividades na forma proposta pelo art. 5º da LPSAV, e
as compara com a regulação de atividades financeiras.
gestão de
recursos
coordenação de
ofertas públicas
Cruzando a Tabela 11B com a Tabela 11C, encontramos uma correspondência entre a
atividade descrita na Lei das PSAVs, o risco regulatório apresentado, e o tipo de
autorização requerida dos prestadores. As atividades em que o interesse regulatório e a
pressão a ser exercida pelo regulador seja mais alto são aquelas que necessitam de
autorização prévia; as atividades de baixo risco regulatório necessitam menor pressão, o
que leva a procedimentos simplificados de autorização. Inclusive, as atividades
classificadas como “Livre-operação” poderiam ser dispensadas de procedimentos de
autorização, seja por interpretação direta dos poderes incluídos no art. 7º, I da Lei das
PSAVs, seja por exclusão da definição de serviços incluídos no art. 5º.
Indicamos também a leitura da Tabela 13A abaixo, juntamente com os comentários que a
acompanham, para melhor compreensão dos fatores considerados em relação à avaliação
de risco regulatório em concreto e pressão regulatória.
Tabela 11C: Relacionamento entre pressão regulatória, tipo de autorização, e tipo de
licença requerida
Outrossim, é necessário avaliar também quais atividades podem ser cumuladas dentro de
uma mesma entidade, e quais não podem em vista de conflitos de interesses e
incompatibilidade. Considerando-se que que se quer promover a multiplicidade de modelos
de negócio, espera-se que devam existir cumulação de atividades de diferentes tipos, ou
seja, uma “geometria variável” de autorizações. Essa análise, portanto, deve ser realizada
em concreto, pois os conflitos e incompatibilidades não poderiam ser avaliados em
profundidade se ocorressem em tese.
A tabela abaixo busca realizar tais cruzamentos. Ela apresenta, por nível requerido de
segregação, uma avaliação do grau de conflituosidade entre atividades, e o tipo de medidas
de segregação exigido. O nível mínimo de segregação seria a ausência dela, nos casos em
que não se identificasse potenciais conflitos. O nível máximo de segregação seria a
segregação de controle, em que, em vista da incompatibilidade de atividades na mesma
pessoa jurídica ou grupo, não se toleraria que o mesmo controlador realizasse ambas ao
mesmo tempo. Esse último caso é excepcionalíssimo, e está bastante documentado,
principalmente em vista dos escândalos FTX e outros.
Tabela 11D: Conflitos de interesses, incompatibilidades e necessidade de segregação
Empréstimo de AVs vs
Mercado de bolsa
12. A autorização para funcionamento de provedores de serviços de ativos virtuais
deveria abranger as instituições financeiras e de pagamento existentes no país ou
deveria estar vinculada a um tipo específico e exclusivo de instituição a ser
autorizada pelo Banco Central do Brasil?
Em vista da abordagem de regulação por atividade, e não por instituição, tem-se que
diversas instituições, financeiras e não-financeiras, estariam aptas a solicitar autorização
para operar como prestadora de serviços de ativos virtuais. Por conta do princípio da
neutralidade regulatória, e como forma de promover a diversidade de modelos de negócio,
competição e inovação, e ao mesmo tempo manter a isonomia e equidade no “campo de
jogo” (“level the play field”), a autorização de funcionamento não deveria estar vinculada a
um tipo específico de instituição.
Todavia, nos casos em que as atividades a serem oferecidas por determinada instituição
estejam relacionadas a serviços tipicamente oferecidos por instituições financeiras ou de
pagamento reguladas pelo Banco Central, como empréstimo de moeda fiduciária ou
oferecimento de contas de pagamento e cartões pré ou pós-pagos, a instituição também
deveria solicitar autorização para operar na referida modalidade, seja de instituição
financeira ou de pagamento.
Por fim, dentro da lógica da autorização por atividade, mesmo instituições financeiras e de
pagamentos já autorizadas pelo Banco Central e que estejam em funcionamento, mas
optem por oferecer serviços de PSAVs, devem solicitar autorização prévia para operar no
mercado de ativos virtuais, estando sujeitas aos escrutínios de autorização como qualquer
outra instituição, uma vez que também precisariam comprovar a capacidade para prestação
de serviços relacionados a ativos virtuais, especialmente com relação a requisitos mínimo
de segurança e conhecimento da tecnologia. A equivalência de requisitos entre serviços
virtuais e serviços tradicionais poderia ser desenvolvida na forma de procedimento
abreviado de “reconhecimento” de aptidão.
A tabela abaixo relaciona riscos levantados associados com a prestação de certos serviços,
e a classificação desses riscos em termos de potencial de perda (alto, médio/alto, médio,
médio/baixo, baixo e baixíssimo). Os riscos discutidos são os comumente avaliados na
gestão ordinária de riscos de instituições financeiras: mercado, liquidação, contraparte,
operacional, prudencial, câmbio.
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial
troca entre ativos virtuais e inciso I, in fine risco de mercado médio / alto
moeda estrangeira
risco de câmbio
risco de liquidação
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial
risco operacional
risco prudencial
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial
risco prudencial
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial*
(para carteiras
relevantes)
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial*
(para carteiras
relevantes)
risco de contraparte
risco operacional
risco prudencial*
(para carteiras
relevantes)
risco de contraparte
risco operacional
14. É recomendável que as prestadoras de serviços de ativos virtuais estabeleçam
critérios no sentido de selecionar ou eleger os ativos virtuais que disponibilizem para
as operações de seus clientes. Nesse sentido, quais requisitos de cumprimento
obrigatório devem ser adotados em relação aos ativos virtuais ofertados e os
respectivos emissores?
Em segundo, como “ representação digital de valor que pode ser negociada ou transferida
por meios eletrônicos e utilizada para realização de pagamentos ou com propósito de
investimento” (art. 3º da Lei das PSAVs), os ativos virtuais têm sido negociados e ofertados
de forma não regulada em nível internacional, o que, reconhecemos, gera preocupações
para investidores, ofertantes, reguladores, tomadores de serviços e demais participantes do
mercado.
Propomos, por isso, dois princípios que devem embasar as regras de listagem. O primeiro
seria a separação entre ativos novos e ativos já negociados em outras plataformas,
inclusive internacionalmente. Em relação a novos ativos, sem histórico de negociação,
deveria haver padronização das informações mínimas relativas, tanto a emissores, como a
características do ativo (principalmente no caso de ativos sem emissor), que poderiam ser
obtidas na forma de prospectos padronizados e formulários de referência em oferta inicial e
registro. Em relação a ativos com histórico de negociação, o foco estaria em regras de
transparência pós-trade e preços praticados em outras praças, em conjunto com
disseminação de informações relevantes / fatos relevantes.
2
Caso também se interprete o inciso I do art. 5º como atividade de venda e distribuição de cripto
ativos, também se inclui nesta lista.
O segundo princípio a ser adotado é o da autorregulação. Considerando-se que liquidez e
fluxo de negócios são bastante importantes, principalmente para os serviços de troca,
compra e venda de ativos virtuais, os PSAVs tendem a confluir em associações e órgãos
independentes de autorregulação. Numa abordagem parecida com o trabalho realizado pela
CVM em relação à ANBIMA, e dado que entidades autorreguladoras têm a capacidade de
manter-se próximas do mercado ao mesmo tempo em que entendem potencialmente as
demandas e necessidade da regulação, mantendo neutralidade no mercado, pensamos ser
importante, principalmente para temas similares à listagem, que fóruns multipartites, neutros
e com relacionamento com reguladores federais, participem da discussão.
15. Quais são os requisitos regulatórios necessários para garantir a segurança na
custódia de ativos virtuais, considerando as diferenças existentes entre essa
atividade e os custodiantes de ativos financeiros e valores mobiliários tradicionais?
Nos termos definidos pela legislação e pelas práticas de mercado, a custódia na forma
própria envolve sua entrega à entidade custodiante para preservação. É a custódia
propriamente dita dos ativos, ou custódia direta. Juridicamente, portanto, serviços de
custódia confundem-se com o depósito previsto no Capítulo IX, art. 627 e ss do Código
Civil, em que o depositário se obriga a restituir a coisa móvel até que o depositante a
reclame (art. 627). Nos casos em que se entrega coisa fungível, a obrigação do depositário
é restituição de coisa do mesmo gênero, em quantidade e qualidade semelhante (art. 645),
3
Para definições a respeito, vide Resolução CVM nº 32, Glossário BCB de Termos, e Código
ANBIMA de Serviços Qualificados, entre outros disponíveis no mercado.
o que implica, portanto, transferência de propriedade do bem depositado. O mesmo deve
ser aplicado aos ativos digitais.
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Em common law, por exemplo, existem três formas básicas de tenancy para todas as propriedades:
tenancy by entirety, em que todos os co-tenants tem ao mesmo tempo a propriedade, e quando um
co-tentant usa, frui, goza ou dispõe da propriedade, o faz em nome de todos (ou destrói a tenancy by
entirety); tenancy in common, em que os co-tenants têm direito a fração ideal da co-propriedade,
usando, fruindo, gozando e dispondo de forma fracionada e sem depender de acordo com outros
co-tenants; e joint tenancy, em que os co-tenants usam, fruem, e gozam da propriedade em comum
acordo, mas não podem transferir a propriedade sem o acordo os demais co-tenants.
Conforme classificação na Tabela 11A, a custódia de terceiros gera conflito de interesses
com serviços de gestão de carteira, operações de alavancagem, ou mesmo operações em
carteira própria (Nível 2). Além disso, tendo em vista a impossibilidade de controlar o próprio
bem entregue em custódia no caso dele ser emprestado, a custódia seria incompatível com
o empréstimo para terceiros e negociação em bolsa (Nível 3) - a decisão de empréstimo de
ativos custodiados, nesse caso, deveria pertencer àquele que deposita e entrega o ativo (o
cliente), e não ao custodiante (o prestador de serviço).
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Disponível neste link.
TEMA I - SEGREGAÇÃO PATRIMONIAL E GESTÃO DE RISCOS
Inicialmente, gostaríamos de restringir esse comentário aos seguintes serviços: (i) serviços
financeiros relacionados a ativos virtuais (especificamente relacionados ao recebimento de
dinheiro para fins da compra de ativos virtuais); (ii) serviços de custódia de instrumentos
que possibilitem controle sobre ativos virtuais e (iii) serviços de administração de
instrumentos que possibilitem controle sobre ativos virtuais. Tais serviços são identificados
como geradores de conflitos de interesses, e os incentivos para ocorrência de tais conflitos
são potencializados com a cumulação de atividades, conforme descrito acima nas Tabelas
11C, 11D, e 13A. Por isso indica-se que sua prestação esteja sujeita a diversos níveis de
segregações, além da patrimonial: Segregação operacional, de informações, de pessoas, e
física.
Para efetivar uma conferir proteção aos recursos entregues pelos clientes às prestadoras de
serviços de ativos virtuais e que ainda não tenham sido direcionados para algum
investimento em específico, acreditamos que bons exemplos a ser mencionados, que
permitem implementar a efetiva segregação patrimonial, são os seguintes:
Inicialmente, gostaríamos de restringir esse comentário aos seguintes serviços: (i) serviços
financeiros relacionados a ativos virtuais (especificamente relacionados ao recebimento de
dinheiro para fins da compra de ativos virtuais); (ii) serviços de custódia de instrumentos
que possibilitem controle sobre ativos virtuais e (iii) serviços de administração de
instrumentos que possibilitem controle sobre ativos virtuais.
Conforme indicado na resposta anterior, para conferir proteção aos recursos entregues
pelos usuários finais aos PSAVs e que ainda não tenham sido direcionados para algum
investimento em específico, acreditamos que deve ser adotado controle e proteção
semelhantes aos conferidos atualmente (i) às “contas de registro”, no caso de CTVMs e
DTVMs, nos termos da Resolução CMN n° 5.008, de 24 de março de 2022, ou (ii) às
“contas de pagamento”, no caso de Instituições de Pagamento, nos termos da Lei n°
12.865, de 9 de outubro de 2013, e da Resolução BCB n° 80, de 25 de março de 2021. Isto
é, deveria haver restrições ao uso dos referidos recursos, podendo os recursos dos clientes
em reais estarem vinculados a títulos públicos.
● de capital mínimo;
Ainda, conforme mencionado na resposta anterior, seria recomendável também: (i) haver
uma obrigação contratual das PSAVs de manterem os fundos e ativos virtuais de seus
clientes de forma segregada, estipulando as condições dessa segregação, inclusive as
condições para resgate dos ativos e as hipóteses de transferência dos recursos e ativos
virtuais em caso de insolvência da PSAV; (ii) estabelecer termos e condições que informem
os clientes dos riscos associados à estrutura de manutenção de recursos de clientes em
moeda fiduciária; (iii) realizar auditorias periódicas, internas e externas, dos fundos
mantidos em contas dos clientes; e (iv) exigir da PSAV políticas, manuais e procedimentos
que disciplinem matérias como gerenciamento de riscos, compliance, segurança
cibernética, prevenção à lavagem de dinheiro, combate ao financiamento do terrorismo.
Contudo, caso este D. Banco Central entenda oportuno permitir tais operações, acreditamos
que a regulamentação a ser editada deveria, então, impor às VASPs a obrigação de (i)
contabilizar os ativos no balanço patrimonial da VASP, (ii) manter os clientes
ostensivamente informados sobre todos os riscos e implicações em caso de insolvência da
VASP, e (iii) solicitar autorização expressa aos clientes para utilizar os ativos virtuais de
titularidade do respectivo cliente, custodiados na própria instituição, para realizar operações
com terceiros.
Para tanto, sugerimos que a regulamentação a ser editada por este D. Banco Central
preveja que VASPs que desejem se habilitar para realizar as operações mencionadas acima
estejam sujeitas a uma exigência maior de capital e de patrimônio líquido, em linha com o
que já é praticado para CTVMs e DTVMs. Entendemos que tais mecanismos seriam
importantes para mitigar o risco de crédito que as VASPs estariam expostas nesse tipo de
operação. Adicionalmente, recomendamos que este D. Banco Central estabeleça limites de
“alavancagem” do cliente em relação ao patrimônio que mantém em determinada VASP.
Ainda, no caso de operações realizadas pelo mesmo cliente com diferentes VASPs, este D.
Banco Central poderia estabelecer regras e requisitos mais amplos, a fim de permitir que
cada VASP avalie o risco e os limites de crédito que deverão ser conferidos aos seus
respectivos clientes em cada operação garantida, considerando as múltiplas operações
realizadas, em linha com o que é atualmente permitido pela Resolução CMN n° 5.008, de
24 de março de 2022 às Distribuidoras e Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários.
Por fim, entendemos que seria importante restringir os ativos que podem ser utilizados para
realizar as operações, excluindo dessa hipótese os ativos tokenizados.
5. Considerando alguns mecanismos existentes no arcabouço regulatório do sistema
financeiro, deve existir algum tipo de proteção aos investidores, na forma de seguros
ou de fundos garantidores (a exemplo do Fundo Garantidor de Créditos – FGC ou do
Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito – FGCoop), com cobertura até
determinados valores, com recursos originados do próprio segmento? Quais são os
tipos de seguros que podem ser associados às operações do segmento?
Entendemos que, se, por um lado, seguros ou fundos garantidores seriam capazes de
trazer maior segurança aos clientes das VASPs, especialmente em eventual caso de
insolvência ou fraude, por outro, tais mecanismos trariam maior complexidade, custos e
burocracias para a operação das VASPs, o que, nesse momento inicial ainda de
desenvolvimento do mercado, poderia se apresentar como uma barreira à entrada de novos
participantes no novo mercado.
Além disso, é importante ponderar que a existência de seguros ou fundos garantidores pode
representar um incentivo perverso, à medida que as VASPs mais solventes e
bem-administradas estariam subsidiando as VASPs não tão bem administradas ou que
optem por assumir riscos excessivos em suas operações. De forma geral, essa dinâmica de
formação de fundos garantidores no mercado tem o potencial de distorcer o mercado,
desencorajar a gestão de riscos responsável e, em última análise, prejudicar a confiança
dos investidores no setor de ativos virtuais.
Em vista disso, e em linha com a resposta à questão 1 acima, entendemos que a melhor
forma de proteger os ativos virtuais custodiados junto às VASPs seria assegurar o
tratamento segregado ao do patrimônio das prestadoras de serviços de ativos virtuais.
No entanto, caso este D. Banco Central entenda que a estrutura de contratação de seguros
e/ou formação de fundos garantidores é pertinente, sugerimos que seja adotada a postura
de encorajar o desenvolvimento e implementação de tais mecanismos, ao invés de
estabelecer qualquer tipo de obrigatoriedade nesse sentido. Além disso, poderia ser exigido
também que o fundo garantidor assegure as operações de diferentes VASPs com base em
uma avaliação prévia de risco de liquidez e crédito, bem como considerando para tanto o
valor de ativos contribuídos por cada VASP para o fundo. Sendo esse o caso, seria
importante, também, que ficasse claro aos usuários finais o limite de proteção do fundo em
relação a cada VASP.
Por fim, uma possível alternativa seria a imposição de contratação de seguro privado pelas
VASPs para assegurarem parte de suas operações e mitigarem o risco de insolvência. Essa
alternativa tem a capacidade de, simultaneamente, promover a concorrência e a adequada
precificação dos serviços, mas dependeria da oferta desse tipo de cobertura pelo mercado
segurador brasileiro.
6. Os serviços de custódia de ativos virtuais podem estar associados a uma
remuneração decorrente do staking, que consiste no trabalho de validação de
transações na blockchain mediante a disponibilização de ativos virtuais como
garantia. Entretanto, essa prática assume alguns riscos, entre os quais da perda de
parte ou da totalidade dos ativos virtuais como penalidade por erros na verificação de
transações e registros na blockchain. Assim sendo, que medidas poderiam ser
adotadas para a proteção do investidor que autoriza o custodiante de ativos virtuais a
empregar os seus recursos como garantia para o staking e para mitigar o risco
operacional envolvido, caso essa operação seja, eventualmente, admitida na
regulamentação brasileira?
Caso a atividade de staking venha a ser permitida pela regulamentação brasileira a ser
publicada por este D. Banco Central, sem que seja caracterizada como oferta de valores
mobiliários, entendemos que o Banco Central deveria estabelecer requisitos e obrigações
mínimos que busquem assegurar a transparência e dar a devida informação aos
investidores que solicitarem contratar esta atividade a respeito dos riscos inerentes a tais
operações, como:
Adicionalmente, é preciso também que fique claro que os ativos virtuais objeto de staking
não são objeto de custódia, esses ativos são depositados em protocolos de staking e não
ficam custodiados na VASP, de modo que a operação de staking deveria ser separada dos
serviços de custódia.
Por fim, entendemos que, caso a VASP opte por prestar tais atividades, deveria ser avaliada
a possibilidade das VASPs responderem administrativamente pelos prejuízos causados por
erros na verificação de transações nos casos de perdas resultantes de culpa ou dolo de
referidas instituições.
7. Uma preocupação dos reguladores e supervisores decorre dos riscos da realização
de pagamentos transfronteiriços por meio de ativos virtuais, considerando possíveis
tentativas de arbitragens regulatórias. Quais as vantagens e as desvantagens
identificadas nos pagamentos transfronteiriços liquidados com ativos virtuais? De
que forma os prestadores de serviços de ativos virtuais podem inibir tentativas de
acobertar operações ilegítimas com o uso de tais instrumentos?
Para inibir tentativas de acobertar operações ilegítimas de câmbio com ativos virtuais,
sugerimos a implementação pelo regulador das seguintes medidas preventivas:
Adicionalmente, sugerimos também que este D. BCB estende a aplicação das regras e
dispositivos previstos na Circular n° 3.978, de 23 de janeiro de 2020, para as VASPs, assim
como foi feito recentemente para as instituições de pagamento.
Nessa hipótese, em razão da natureza dos ativos virtuais, entendemos que o registro da
operação de câmbio seria realizado independente da liquidação em moeda fiduciária,
podendo as VASPs transferir ativos virtuais internacionalmente. Atualmente, para que haja o
registro cambial de uma transferência internacional com ativos virtuais (sem que haja
liquidação em moeda fiduciária) é preciso que sejam feitas operações simultâneas de
câmbio, o que não nos parece ser o mais eficiente.
Inclusive, para evitar que um pagamento transfronteiriço seja realizado sem a devida
operação de câmbio correspondente, acreditamos que este D. BCB poderia criar uma
regulamentação própria, que preveja de forma mais clara quando e como essas operações
de câmbio devem ser feitas e quais seriam os seus “fatos geradores”
Por fim, entendemos que a classificação de tais operações deveria ser realizada com base
na natureza da operação subjacente, que não necessariamente será definida como a
compra e venda de ativos virtuais.
8. Os ativos virtuais propiciam a criação e o desenvolvimento de novos e complexos
modelos de negócios pelas prestadoras de serviços de ativos virtuais, como meio de
pagamento ou investimento. Em relação aos capitais internacionais, há interesse no
uso de ativos virtuais em operações de investimento direto (por exemplo, a
integralização de capital no exterior por investidor residente ou no país por investidor
não residente) e em operações de crédito externo (por exemplo, a captação externa
de ativos virtuais por residente)? Quais seriam as vantagens e as desvantagens?
Em vista disso e com a regulamentação do mercado de ativos virtuais, que trará maior
segurança jurídica aos interessados, haverá um incentivo para que investidores
estrangeiros qualificados realizem aportes no País, facilitando a captação internacional por
empresas brasileiras, bem como disponibilizará alternativas de investimentos aos
investidores brasileiros.
Importante notar que há diversos fundos de cripto ativos internacionais que possuem capital
em stablecoins (e.g. USDC). Nesse caso, entendemos que seria importante considerar a
possibilidade de tais entidades realizarem investimentos no Brasil utilizando seu capital em
stablecoins por meio de instituições autorizadas a operar em câmbio ou, caso a nova
regulamentação venha a permitir, VASPs que possuírem autorização para operar em
câmbio.
9. A regulamentação relativa aos capitais estrangeiros no país não dispõe
expressamente sobre os ativos virtuais, o que resulta na aplicação da disciplina
dirigida à categoria ampla dos “ativos intangíveis”. Deveria ser considerada alguma
qualificação específica aos ativos virtuais na regulamentação sobre capitais
brasileiros no exterior e capitais estrangeiros no país? E em termos de tratamento, o
que deveria ser considerado?
De início, cumpre notar que, no que diz respeito ao tratamento de ativos virtuais como “ativo
intangível”, existe uma preocupação a respeito do tratamento prudencial. Ao se tratar um
ativo virtual como “ativo intangível”, o consumo de capital pode ser muito punitivo e
assimétrico em relação ao exigido no caso de valores mobiliários ou ativos financeiros. Por
esse motivo, entendemos que, nos casos em que não seja possível a classificação de
acordo com o ativo subjacente (e.g. valor mobiliário ou ativo financeiro), deveria ser criada
uma categoria específica para os ativos virtuais.
Acreditamos que referida categoria deveria ser mais ampla, abrangendo todos os ativos
virtuais sujeitos à Lei 14.478, de modo a dar o mesmo tratamento a todos ativos sujeitos a
essa Lei e à regulamentação do BCB, excluindo aqueles que possuem natureza de moedas
eletrônicas, valores mobiliários ou ativos financeiros.
Além da criação de uma categoria específica para ativos virtuais, entendemos que este D.
Banco Central deverá definir regras específicas para seu tratamento contábil a fim de
garantir a uniformização dos padrões adotados por cada VASP.
10. Quais medidas podem ser adotadas para as instituições garantirem a existência
de fundos suficientes para atender aos compromissos de contratos derivativos que
envolvam ativos virtuais, especialmente em condições de mercado adversas, como
situações de estresse?
Para que as instituições garantam a existência de fundos suficientes para atender aos
compromissos assumidos em contratos derivativos, entendemos que a regulamentação a
ser editada por esse D. Banco Central poderia prever mecanismos de controle de risco para
operações com ativos virtuais equivalentes aos aplicáveis às instituições financeiras ao lidar
com valores mobiliários ou ativos financeiros, tais como:
[1] Auditoria que visa garantir que os custodiantes mantenham integralmente os fundos de seus clientes, realizadas por
terceiros independentes para eliminar a possibilidade de falsificação dos dados das reservas
Tema III Contratação de serviços essenciais
16. Nos casos em que as prestadoras mantêm a custódia dos ativos virtuais de
clientes em entidades prestadoras de serviços de custódia estabelecidas no exterior,
quais são as garantias necessárias a serem prestadas pela entidade no país, com
vistas a preservar os recursos dos clientes? Que medidas são adequadas para
garantir o acesso aos ativos dos clientes e o cumprimento de demandas legais e
outras eventuais necessidades?
Considerações Iniciais:
De acordo com as perguntas 20, 25 e 27, entendemos que se precisa definir a questão de
POSSE e CONTROLE destes ativos, antes de elaborar seus procedimentos.
Outro aspecto é de ordem fiduciária (custodiantes formais, com podem ser tratados todos
os PSAVs.
Aspectos tecno-internacionais:
Temos como exemplo o próprio "Toolkit for financial institutions and financial authorities"
feito pelo Financial Stability Board como base inicial de referência, além das atuais
regulamentações do próprio sistema financeiro nacional.6
https://www.fsb.org/2023/06/enhancing-third-party-risk-management-and-oversight-a-toolkit-for-financi
al-institutions-and-financial-authorities-consultative-document/
17. Em relação ao item 16, quais garantias podem ser exigidas dos fornecedores às
outras atividades contratadas de terceiros estabelecidos no exterior, inclusive de
serviços de tecnologia, de forma a salvaguardar os clientes?
Acreditamos que um bom ponto de partida sejam as boas práticas já adotadas no mercado
atualmente, verificando a autorregulação da ANBIMA e da ABCripto por exemplo.
Outra alternativa seria olharmos para as regras que já existem hoje para IPs e IFs, verificar
se fazem sentido para as VASPs ou teria algo a ser alterado.
Referidas regras deveriam ter como base o modelo de abordagem baseada no risco
(risk-based approach), adotado atualmente na Circular nº 3.978, de 23 de janeiro de 2020,
aplicável às instituições autorizadas a funcionar pelo D. Banco Central, haja vista que
confere às instituições maior discricionariedade para determinar os procedimentos a serem
adotados tendo em vista o porto, serviço prestado e robustez de cada parceiro.
20. Como são armazenadas as chaves privadas no fluxo de trabalho das prestadoras
de serviços de ativos virtuais? Quais devem ser e quais podem ser os procedimentos
para o armazenamento e a administração das chaves privadas, inclusive quando
particionadas e atribuídas a partes distintas? Para cada procedimento de
armazenamento, identifique como se daria a divisão de responsabilidades entre os
detentores das partes e os riscos associados a esses procedimentos. Quais
procedimentos são – ou poderiam ser – adotados para a constituição de ônus e
gravames ou para efetuar o bloqueio judicial de ativos virtuais?
7
Nesse sentido:
https://www.lexology.com/library/detail.aspx?g=4b748387-2de3-4faa-aa2f-b20ea3482b13.
21. Quais são as referências para a formação dos preços dos ativos virtuais
disponibilizados para negociação em plataformas e exchanges? De que forma a
regulação pode endereçar disposições que mitiguem os riscos associados à captura
de preços de diversos provedores distintos?
Assim como em demais ativos, entendemos que a formação dos preços é baseada nas
influências do mercado, citando como tais: (i) liquidez; (ii) oferta e demanda; e (iii)
informações disponíveis.
Como mercado livre, entendemos que a captura de preços não representa um grande
problema atualmente. O mercado parece ser bem eficiente em consolidar estes preços,
uma vez que essa informação está amplamente acessível através de APIs, data providers
consolidadores e nas próprias blockchains. Quando há divergências de preços, estas são
rapidamente diminuídas pela ação de arbitradores.
Após a emissão da ordem pelo investidor, a plataforma verifica se o investidor possui fundos
ou ativos para a efetivação da operação, seguido assim pela execução da ordem. No caso
de não existência de contraparte central, haverá a necessidade de um casamento de ordem
entre o vendedor e o comprador.
● No caso de ativos virtuais, na maioria dos casos os ativos têm de ser liquidados em
suas redes pertinentes (por exemplo, da rede Bitcoin);
● Em certos casos, os ativos são transferidos para REDES (no caso das DEX -
Distributed Exchanges), ficando em um terceiro custodiante. Este caso específico
demanda atenção detalhada.
24. Considerando a volatilidade de preços dos ativos e, em alguns casos, até mesmo
das tarifas de alguns tipos de transações, quais as medidas que as provedoras de
serviços de ativos virtuais devem adotar para garantir a clareza das informações
sobre as tarifas cobradas, de modo que os clientes tomem decisões convergentes
com seus interesses, necessidades e objetivos? Quais exigências normativas
poderiam garantir a devida compreensão dessas informações pelo cliente?
Sugerimos que o Banco Central adote postura semelhante à adotada pela CVM na
Resolução CVM nº 178, de 14 de fevereiro de 2023, que dispões sobre a atividade de
Agentes Autônomos de Investimento – AAI, em que há Termo de Ciência que o investidor
deverá assinar informando que tem conhecimento que há uma remuneração para o AAI
pelos serviços prestados, além disso, podendo o investidor solicitar ao AAI, para que este
descreve como é remunerado por produtos e serviços ofertados.
Também sugerimos buscar evitar limitar as tarifas que podem ser cobradas, ao menos
nesse momento inicial.
25. Deve ser definido um percentual mínimo de ativos custodiados em cold wallets?
Qual é o fundamento técnico para o estabelecimento desse percentual?
Acreditamos ser uma exigência de difícil aplicação igualitária para os diversos modelos de
negócios e de segurança aplicados.
Tendo em vista que os motivos para criação de uma cold wallet são:
Entendemos que não seria possível estabelecer uma porcentagem mínima para todas as
prestadoras de serviços. Esse patamar mínimo iria depender de quais são os ativos
negociados e qual o nível de segurança aplicado pela prestadora de serviços, podendo ser
alterado conforme o risco é mitigado.
Isso ajuda a mitigar eventuais riscos sistêmicos, tornando o mercado mais dinâmico e
eficiente.
Exemplo: Cliente A vai comprar USDC na VASP usando como base um preço de mercado.
VASP pode carregar USDC no balanço para entregar real-time ao cliente e depois fazer a
operação a mercado (OTC ou em outra VASP) pela mesma.
Caso o regulador se sinta desconfortável, pode iniciar operando por tranches (limites por
volumes financeiros ou por quantidade de transações).
27. Um dos temas mais relevantes em relação aos ativos virtuais é a caracterização
do controle desses ativos. Em sua avaliação, qual é a forma mais adequada de
definição de controle sobre ativos virtuais e como essa definição se amolda aos
casos de compartilhamento da chave?
Entende-se que a forma mais adequada de definição de controle sobre ativos virtuais
depende da sua natureza, circunstâncias e objetivos específicos do titular desses ativos.
Nesse contexto, deve-se entender como “controlador” aquele que possui acesso às chaves
e pode ordenar e fechar a transação, mesmo em um cenário em que tais chaves estejam
partidas. Já em um cenário em que não é possível verificar esse tipo de titularidade (isto é,
controle total sobre as chaves), recomenda-se que seja definido como controlador aquela
pessoa que possui o poder de iniciar uma transação.
Quem tem/pode ter o poder de formar uma chave e assinar (mesmo que a chave esteja
partida, se eu tiver todas as partes por exemplo) controla. O problema é como definir
quando ninguém tem, aí talvez que pode iniciar transações controladas, mas isso é
desconsiderado em todas as legislações atuais.
As prestadoras de ativos virtuais devem ter sistemas de governança sólidos, incluindo uma
estrutura organizacional clara, com linhas de responsabilidade bem definidas, transparentes
e coerentes, processos eficazes de identificação, gestão, controle e comunicação dos riscos
a que estejam ou possam vir a estar expostos e mecanismos adequados de controle
interno, procedimentos administrativos e contabilísticos sólidos. Os membros dos órgãos de
administração das entidades atuantes no mercado de ativos virtuais devem possuir a
idoneidade e a competência necessárias, em termos de qualificações, experiência e
competências, para desempenharem as suas funções e assegurarem uma boa gestão.
Entretanto, entende-se que o projeto não deveria estabelecer uma governança mínima
fechada já que tal estrutura está diretamente relacionada a prestadora de ativo virtual e a
atividade pretendida (e.g. volume de negociações, público alvo etc). Assim, entende-se que
seria necessário que cada prestadora de ativo virtual apresente um estudo de viabilidade
que evidencie a capacidade econômica e financeira de cumprir o objeto, com descrição dos
meios humanos, técnicos e materiais afetos ao exercício de suas atividades.
29. É fundamental que as empresas realizem uma avaliação adequada de riscos com
o propósito de identificar como os seus produtos e serviços podem vir a ser
utilizados para fins ilícitos, como a lavagem de dinheiro e a realização de
transferências de formas não autorizadas ou mediante meios não oficiais. Nesse
contexto, que tipos de ilícitos podem ser praticados por meio de transações com
ativos virtuais? De que forma as prestadoras de serviços de ativos virtuais podem
atuar para evitar a ocorrência de ilícitos dessa natureza?
Entende-se que os principais ilícitos referentes a transações com ativos virtuais são
referentes a:
(i) realização de due diligence nas pessoas jurídicas que utilizam seus serviços,
sendo necessário fornecer documentos que comprovem o beneficiário final (e.g.
contrato social e livro de registro de ações nominativas) e
(ii) utilizam de provedores de sistemas de compliance avançados que facilitam a
verificação da informação.
Uma das formas de mitigação do fato acima, seria a identificação pelo próprio cliente se tal
carteira teria o objetivo de “saída” local ou offshore, de forma que um maior nível
informacional seja aplicável apenas no segundo caso. Neste caso específico, a VASP
poderia deixar para o cliente designar se a carteira de saída é local ou offshore, a partir daí
sendo exigido as informações conforme regulação atual. Para um pagamento a um
fornecedor fora do Brasil, por exemplo, me parece fazer sentido pedir informações iguais as
pedidas por um IF que faz câmbio, por outro lado, garantir que aquela carteira é de fato do
fornecedor parece inviabilizar negócios mesmo, talvez faça mais sentido esse reporting ser
do cliente e algo que pode ser usado para validações futuras por amostragem. No caso da
operação local, não sei como se enquadraria, porque no exemplo que vou pagar uma
padaria com ativos virtuais, precisaria identificar a padaria pelo menos com as mesmas
informações de uma chave PIX (razão social e CNPJ), mais uma vez fica dificuldade de
provar que a carteira X é de fato da padaria]
31. Considera-se fundamental que as empresas estejam preparadas para cumprir
imediatamente, na forma da Lei nº 13.810, de 8 de março de 2019, as determinações
de indisponibilidade de ativos previstas em resoluções do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas (ONU) ou de seus comitês de sanções. Como devem
ser tratadas as operações com movimentação suspeita pelas prestadoras de serviços
de ativos virtuais? Como deve ser realizado o monitoramento de prevenção à
lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo (PLD/FT)?
32. A segurança cibernética se configura como um dos temas centrais para o bom
funcionamento das prestadoras de serviços de ativos virtuais. Sobre esse ponto,
quais os requisitos necessários para manutenção dessa segurança no segmento e
quais são os fatores mitigadores do risco cibernético no segmento?
Como ponto de partida, uma alternativa pode ser olharmos para as regras que já existem
hoje para IPs e IFs e verificar se fazem sentido para as VASPs ou teria algo a ser alterado.
Com isso, a política de segurança cibernética dos VASPs deve ser específica para o
ambiente de cripto ativos, levando em conta a natureza irreversível das transações em
blockchain. Esta política deve abordar a segurança das chaves privadas, que são
fundamentais para o controle de cripto ativos, e os procedimentos para sua gestão segura,
incluindo o uso de soluções de armazenamento apropriadas como cold, warm e hot wallets,
dependendo do perfil de risco e da frequência de acesso aos ativos. Os padrões de gestão
de saldos devem ser validados objetivamente, a partir de critérios definidos a priori e que se
submetem a atualizações em base periódica. Além disso, deve-se enfatizar a importância
da implementação de controles rigorosos para autenticação, acesso e transações,
minimizando assim os riscos associados a fraudes e acessos não autorizados, o que inclui
a aplicação de tecnologias de autenticação multifator e criptografia de ponta a ponta.
Por fim, tema relevante e que merece atenção particular é o que diz respeito à contratação
de serviços de processamento e armazenamento de dados e de computação em nuvem. A
regulação neste aspecto deve levar em conta a realidade de que muitos prestadores de
serviços de infraestrutura no mercado de cripto ativos são entidades estrangeiras. Com
isso, a implementação de regulamentações rígidas ou excessivamente restritivas na
contratação desses serviços – especialmente em relação a temas de natureza não técnica,
acordos de cooperação, etc. – pode ter implicações significativas para as VASPs brasileiras.
Ainda que o regramento porvir deva ser construído em sentido de garantir a segurança e a
integridade dos dados e ativos custodiados, geridos ou administrados por VASPs, ao
mesmo tempo devem permitir o acesso a serviços de infraestrutura global de alta qualidade
e confiabilidade.
Tema VI Prestação de informações e proteção dos clientes
Com isso, a colocação de padrões informacionais inadequados pode não apenas se refletir
em “não serviço” ao cliente, que não se vê adequadamente informado em relação aos
fatores e critérios determinantes de risco nas operações com ativos virtuais, mas em
verdadeiro desserviço, quando o standard eventualmente erigido como critério acaba por
gerar desorientação e violação de expectativas.
Entretanto, a aplicação dos princípios ao mercado dos ativos virtuais carrega consigo
desafios significativos em termos de classificação e adequação de riscos. Note-se que,
ainda hoje e mesmo diante da existência de milhares de ativos virtuais servindo a
finalidades distintas, suportados em diversas tecnologias e com estruturas por vezes
inteiramente distintas, deparamo-nos com um mercado que se vê quase que inteiramente
correlacionado ao Bitcoin ou um ou outro expoente, fazendo com que se mova em blocos
nos quais raros os ativos que se movem independentemente, especialmente nos casos de
grandes eventos ou acontecimentos.
E neste contexto, salvo melhor juízo, não nos parece que as chamadas stable coins devam
ser objeto de tratamento específico no que diz respeito a juízos de adequação a perfil de
cliente ou usuário.
Uma vez que se entenda que suitability é requisito formativo da adequação regulatória do
mercado de ativos virtuais – o que, reitere-se, nos parece adequado –, não se vê
necessidade a priori de que sejam feitas distinções por qualquer razão a tais ativos virtuais,
que provavelmente e em razão de orientação dirigida por princípios, deverão ser objeto das
mesmas advertências dirigidas a outros ativos do mercado.
35. No processo de distribuição, colocação e negociação de ativos virtuais, deve ser
garantida a prestação de informações relativas aos instrumentos, por meio de
documentos fidedignos disponibilizados ao cliente, os quais devem apresentar
linguagem clara, objetiva e adequada a sua natureza e complexidade, de forma a
permitir ampla compreensão sobre as condições de funcionamento, os seus
mecanismos e os riscos incorridos. Nesse processo, quais as informações
necessárias para o atendimento, de maneira inequívoca, dessa garantia?
A diversidade dos ativos virtuais, com suas distintas naturezas e características sugere a
orientação para que a prestação de informações seja guiada por princípios, permitindo uma
adaptação mais efetiva ao contexto específico de cada operação e tipo de ativo virtual.
● Riscos de volatilidade
● Riscos de liquidez
● Riscos de má formação de preços
● Riscos tecnológicos
● Riscos de custódia ou auto-custódia, sendo o caso
Além disso, para assegurar que os clientes estejam plenamente cientes e compreendam os
riscos associados aos ativos virtuais, é recomendável que as respectivas atividades sejam
acessadas apenas após o aceite do termo de adesão. Este termo deve ser elaborado em
linguagem clara e acessível, detalhando os riscos mencionados e garantindo que os
clientes reconheçam explicitamente sua compreensão e aceitação desses riscos antes de
iniciarem quaisquer operações, bem como demais informações relacionadas e que sejam
importantes para a orientação de atividades.
Temas VII Regras de Transição
36. Como deve ser regulamentada a regra de transição prevista no art. 9º da Lei nº
14.478, de 2022? Devem ser estabelecidas fases de adequação? O tempo e os
critérios de adequação devem ser segmentados de acordo com o risco e o porte das
prestadoras? Se sim, quais os critérios que deveriam ser considerados na
regulamentação da regra de transição? Considerando o prazo mínimo de seis meses
previsto na regra de transição, qual seria o prazo ideal a ser estabelecido pelo Banco
Central do Brasil?
Dentro deste cenário, e usando como referência principal o período de vigência das novas
regras, sugerimos que para as entidades que já estejam operacionais no momento em que
a nova regulamentação entrar em vigor, quaisquer novos requisitos ou limitações às
atividades – sem distinção de sua natureza – não deveriam ser aplicados antes de 12
meses da publicação oficial das novas regras regentes das atividades respectivas. Com
isso, ainda que diante do cenário de requisitos mais intensos a serem cumpridos por
entidades destinatárias de um novo conjunto de regras a serem atendidas, mesmo nesse
caso poderão adotar as providências necessárias à sua adaptação.
Para além do efeito sobre o regulado, este intervalo de tempo se apresenta também como
oportunidade para que o regulador avalie a eficácia e a adequação da regulamentação
inicial. Durante esses período e também em relação às demais janelas de tempo até a
eficácia da regulação, é essencial que o regulador mantenha diálogo aberto com as VASPs
reguladas e entidades de classe. Esse engajamento contínuo é vital para identificar áreas
que possam necessitar de ajustes finos nas regulamentações, conforme surgem novas
informações e compreensões acerca do impacto prático das regras. A evolução do debate
público e as experiências compartilhadas pelas entidades reguladas fornecerão insights
valiosos que poderão levar à revisão e ao aprimoramento das normativas.
Prazo esse que também servirá para permitir que ajustes sejam realizados em relação a
aspectos que não tenham sido bem adequadamente regrados ou cobertos de início.
Também é recomendável que haja ajuste em prazos em vista do risco das atividades
desenvolvidas e porte. Reportamo-nos à classificação de risco por atividade desenvolvida
na resposta à pergunta de n. 13, acima, que serve como base às nossas considerações em
relação à construção das estruturas de prazo. Com isso, nossa sugestão é a de que o prazo
mais curto seja requisito para entidades que desenvolvam apenas atividades aqui
consideradas de risco alto. Não existindo risco alto em atividade, para entidades que
exerçam apenas aquelas consideradas de risco médio, sugere-se adição de mais 6 meses
ao prazo inaugural, mantidos os 12 meses subsequentes para que o processo todo seja
completado adequadamente. Também deve ser considerado um outro adicional de 6 meses
decorrente do pequeno porte da entidade, que também seria adicionado ao prazo inaugural
sempre que se considere que a postulante não se qualifica como de VASP de grande porte.
E por fim, também parece adequado que a regulação preveja uma janela de dispensa de
registro (em sentido amplo) ou de processo de registro simplificado tanto para entidades
cujas atividades sejam consideradas de baixo risco ou que, por serem dotadas de porte
diminuto, possam atuar sem que estejam de pronto sujeitas às mesmas regras aplicáveis a
entidades de porte maior, ainda que para atividades de risco considerado elevado.
Nesse sentido, um dos principais desafios que emergem com a regulação dos ativos virtuais
é assegurar que os prestadores de serviços brasileiros, enquanto cumpridores dos
requisitos regulatórios locais, mantenham também uma posição competitiva no cenário
global. O mercado de ativos virtuais é intrinsecamente global, com players e consumidores
que operam além das fronteiras nacionais. Portanto, a regulação brasileira não deve ser um
entrave, mas um facilitador para que as empresas nacionais possam competir em boas
condições com seus pares internacionais.
Com isso, é fundamental que a regulação brasileira esteja alinhada com as melhores
práticas e padrões internacionais, promovendo um ambiente de negócios que seja ao
mesmo tempo seguro, inovador e atrativo para investimentos. Isso implica em um esforço
contínuo de atualização e adaptação regulatória, acompanhando as tendências e inovações
do mercado global. A regulação deve evitar a imposição de barreiras desnecessárias que
possam limitar a capacidade de inovação e crescimento das empresas brasileiras, ao
mesmo tempo em que garante a proteção necessária aos consumidores e à integridade do
mercado.
Aqui, parece que boa parte da solução possa estar em estabelecer canais de comunicação
eficientes e ágeis entre o regulador e regulados. Com a instalação de diálogo contínuo e de
acesso facilitado – que tem sido, aliás, a tradição do Banco Central em relação a todos os
seus esforços regulatórios mais recentes –, o processo de transição em direção a um
ambiente inteiramente regulado poderá ocorrer com maior tranquilidade para o regulado,
dentro dos prazos e formas previstos, com a contrapartida ao regulador de que terá
visibilidade mais precisa em relação aos casos-limites e situações difíceis, podendo
inclusive, sendo o caso, promover alterações nas regras de regência diante da detecção de
incompatibilidades ou outras situações que demandem mudanças.
Temas VIII Manifestações Gerais
● Além disso, outros temas mais específicos precisam ser abordados, no contexto do
Banco Central ou da CVM ou da Susep, como:
● O tratamento dado a produtos únicos do mundo de cripto economia, como trocas
diretas entre ativos (pair trading);
● Derivativos
● Tratamento de riscos (operacionais, mercado e crédito) no âmbito específico de
ativos virtuais, em especial no tratamento de Basiléia.
● Cosif e outros demonstrativos contábeis (incluindo hedge accounting)
● Mecanismo como o Fundo Garantidor de Crédito, para este mercado. 8
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2023/12/bc-cogita-fundo-garantidor-para-apli
cacoes-em-criptos.shtml