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ECONOMIA

DE MOÇAMBIQUE
AULA 3
Quadro teórico-conceptual do liberalismo
PROGRAMA DE REABILITAÇÃO ECONÓMICA (PRE) E O ENGAJAMENTO
DAS ELITES NO MUNDO DOS NEGÓCIOS
QUADRO TEÓRICO CONCEPTUAL DAS PRIVATIZAÇÕES

• A “CONTRA-REVOLUÇÃO” NEOCLÁSSICA
• A crítica neoclássica e a contra-revolução na Economia do
• Desenvolvimento
• 1. As “duas vagas” de crítica neoclássica
• 2. A emergência da Economia Política Neoclássica
• - Uma matriz teórica: a tradição neoclássica
• - Eficiência económica e determinação dos preços correctos
• - A imperfeição do Estado e os fracassos do Estado
A TRADIÇÃO NEOCLÁSSICA
• A teoria económica neoclássica foi construída em torno do mecanismo dos
preços. Os elementos fundamentais em que assenta a sua construção podem
ser sintetizados nos seguintes pontos:

• 1. Os indivíduos tomam decisões racionais (hipóteses da racionalidade


económica e do individualismo metodológico);

• 2. Os mecanismos do mercado livre (as forças da procura e da oferta)


conduzem a preços equilibradores;

• 3. A eficiência só é possível em condições de concorrência perfeita;


A TRADIÇÃO NEOCLÁSSICA
• 4. Ao nível macroeconómico, a economia de mercado possui (dentro do
sistema de preços) mecanismos auto-equilibradores (equilíbrio entre
mercados).

• 5. O comércio internacional livre é mutuamente vantajoso para os


participantes.

• 6. Em mercados concorrenciais, os factores de produção obtêm rendimentos


que são iguais às suas respectivas produtividades marginais.

• 7. A concorrência perfeita é a mais adequada para o crescimento económico.


Os preços correctos são tão importantes para aumentar a oferta de factores
no longo prazo, como o são para promover a eficiência no curto prazo
O DOGMA DIRIGISTA (Deepak Lal, 1983)

• 1. O mecanismo dos preços pode ser substituído por várias formas de


intervenção do Estado, para a promoção do desenvolvimento.

• 2. A atenção dada pela teoria neoclássica à afectação dos recursos existentes


tem menos importância no desenho das políticas públicas.

• 3. A perspectiva clássica (século XIX) da liberdade de comércio não é válida


para os países em desenvolvimento.

• 4. A redução da pobreza e a melhoria na distribuição dos rendimentos


requerem uma intensa e contínua intervenção do Estado para a redistribuição
dos activos e manipulação dos rendimentos factoriais.
O DOGMA DIRIGISTA (Deepak Lal, 1983)
• A fundamentação da necessidade do dirigismo para promover o desenvolvimento
económico acaba por assentar na alegada irrelevância da teoria económica
neoclássica e, mais concretamente:

• Na passagem do objectivo da eficiência para o da acumulação do capital [do


problema da afectação dos recursos existentes e para o problema do crescimento
dos recursos materiais].

• Na passagem da perspectiva micro para a perspectiva macroeconómica [dos


preços relativos para as modificações do rendimento como mecanismo de
ajustamento entre a procura e a oferta].

• No abandono de hipóteses fundamentais da teoria económica neoclássica.


FRACASSO DAS POLÍTICAS ECONÓMICAS
• Do ponto de vista da política económica de desenvolvimento, a Economia
Política Neoclássica defendia a ideia de que o fraco desempenho dos países
em desenvolvimento resultava, principalmente, das políticas incorrectas dos
Governos desses países. E na base dessas políticas incorrectas estava a
proliferação dos controlos económicos.

• A proliferação dos controlos económicos teve, como consequências:


• o crescimento da burocracia;
• a distorção no funcionamento dos mercados;
• a criação de condições geradoras de rendas de monopólio;
• o desenvolvimento do comportamento de procura de renda.
CONSEQUÊNCIAS DA PROLIFERAÇÃO DOS CONTROLOS
Economia do Desenvolvimento DCI João Estêvão

Figura 4.1
CONSEQUÊNCIAS DA PROLIFERAÇÃO DOS CONTROLOS

PROLIFERAÇÃO DOS CONTROLOS

Distorção no
Crescimento da
burocracia funcionamento dos
mercados

Tendências monopolistas
(criação de rendas)

Comportamento de Distorção dos preços


procura de renda (preços incorrectos)

Desperdício de
recursos para o
Ineficiência
crescimento
económico

FRACASSOS DO ESTADO
IMPERFEIÇÃOD DO ESTADO
• Ao considerar a intervenção do Estado como causa principal do fracasso das
políticas de desenvolvimento, a Economia Política Neoclássica estava a
substituir a hipótese da “imperfeição dos mercados” pela hipótese da
“imperfeição do Estado”, como elemento central da análise.

• O Estado não pode ser considerado como uma espécie de “guardião social da
benevolência”.

• O Estado é constituído por um grande número de actores (políticos,


burocratas, tecnocratas, etc.) que se associam em diferentes grupos e com
interesses próprios.

• Dado que não existem indivíduos ou grupos altruístas, é mais realista assumir
que os indivíduos agem por interesses próprios, estejam no sector privado ou
no público.
IMPERFEIÇÃO DO ESTADO
• Dada a imperfeição do Estado, o excesso do seu activismo cria uma dinâmica
associada à pressão de “interesses pessoais” e de “grupos de interesse”
conflituantes, à burocratização, à corrupção e ao comportamento de “procura
de renda” (rent-seeking), dinâmica que afecta negativamente a actividade
económica e o crescimento económico.
O FRACASSO DO ESTADO

• Para a Economia Política Neoclássica, as causas do fracasso do mercado são


consideradas como insignificantes, enquanto se coloca no centro da análise o
fracasso do Estado, sob a forma de incapacidade administrativa, corrupção,
centralização do poder e perda de liberdade individual. O fracasso do Estado
não é, portanto, um resultado da inércia da burocracia, mas o produto da
criação de organizações para regular a actividade económica, no interesse
público, que é sistematicamente frustrada pelo poder político dos interesses
de grupos e pela incapacidade administrativa.
A NOVA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO

• Os principais elementos da estratégia proposta pela Economia Política Neoclássica


são os seguintes:

• Abolição de todas as intervenções que distorcem os mecanismos do preço.

• Redução da dimensão do sector público, através das privatizações e da


transferência do maior número possível de tarefas para o sectorprivado.

• Liberalização do comércio externo, para remover os incentivos à orientação para


o mercado interno e substituí-los por incentivos à orientação para as actividades
de exportação.
A NOVA POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO
• A Reforma Económica integra várias políticas que, no seu conjunto, identificam o
modo neoclássico de encarar a transição económica. Inclui três grandes grupos de
políticas:

• Estabilização macroeconómica: políticas de correcção dos desequilíbrios


macroeconómicos (défice fiscal, inflação e desequilíbrio externo).

• Reforma (ajustamento) estrutural: conjunto de políticas destinadas a modificar a


estrutura da produção e de consumo, a alterar o rácio dos recursos internos
(poupança/investimento) e a aumentar a eficiência e flexibilidade da economia;

• Orientação para o exterior: conjunto de políticas que encaram a expansão das


exportações como motor do crescimento económico e do desenvolvimento.
A REFORMA ECONÓMICA
• Reforma económica é uma expressão ampla que costuma ser utilizada para integrar o conjunto de políticas de
transformação estrutural das economias, com base na perspectiva neoclássica dos mercados concorrenciais. As
suas principais dimensões:

• Reforma estrutural – transformação das estruturas económicas e institucionais e dos modelos de gestão
macroeconómica, com o objectivo de libertar e flexibilizar o funcionamento dos mercados e, assim, melhorar a
actividade e o desempenho económico.

• Estabilização – Correcção dos desequilíbrios públicos, de oferta de moeda e de pagamentos externos, com o
objectivo de controlar a inflação e reduzir a instabilidade macroeconómica.

• Ajustamento estrutural – conjunto de reformas com o objectivo de modificar a estrutura da produção


(privilegiando os bens transaccionáveis) e do consumo (privilegiando bens não transaccionáveis), alterar os
rácios de recursos internos (poupança/investimento) e aumentar a eficiência e a flexibilidade da economia.

• Estratégia de desenvolvimento orientada para o exterior – conjunto de políticas que privilegiam as exportações
como o principal motor do crescimento económico e do desenvolvimento. Procura aumentar os incentivos para
o crescimento das exportações e o alinhamento dos preços internos com os preços
internacionais.
A REFORMA ECONÓMICA
• Liberalização e desregulação – conjunto de políticas que integram o objectivo do
ajustamento e que incidem na remoção de todas as formas de intervenção do Estado
no funcionamento da economia.

• Privatização – conjunto de políticas que integram o objectivo do ajustamento e que


procuram transferir a actividade produtiva e o máximo possível de operações para o
sector privado da economia.

• Racionalização orçamental – reformas ao nível do orçamento do Estado, que


procuram tornar mais eficiente a gestão dos recursos públicos e mais orientados para
o apoio ao crescimento económico

• Reforma das instituições públicas – Modificações nas instituições e organizações


públicas para tornar mais operacional o conjunto das reformas, em particular, através
da passagem de controlos administrativos para mecanismos de apoio à actividade
privada.
COMPONENTES TÍPICAS DOS PROGRAMAS DE ESTABILIZAÇÃO
DO FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL
• 1. Redução do défice público, principalmente, através da redução das despesas públicas, reforma
dos impostos e subidas das taxas de utilização dos serviços públicos.
• 2. Contenção (ou redução) salarial, com o objectivo de reduzir os custos de funcionamento e
conter a inflação.
• 3. Subida dos preços de certos bens, como alimentares, para reduzir os subsídios do Estado e
taxas adicionais nos bens e serviços fornecidos pelo Estado, como forma de aumentar as receitas
públicas
• 4. Controlo dos fluxos de financiamento interno, de forma a reduzir a expansão do crédito e da
moeda.
• ∗ Reduzir o financiamento monetário do Estado (empréstimos do Banco Central e da banca
comercial) e aumentar o recurso aos mercados financeiros.
• ∗ Aumentar as taxas de juro, para reduzir a procura de investimento e aumentar a poupança
doméstica.
• 5. Desvalorização da taxa de câmbio, procurando aumentar a competitividade das exportações
• e influenciar o nível das importações, com o objectivo de reduzir o défice da balança de
pagamentos
• 6. Negociação do serviço da dívida, principalmente, através do seu reescalonamento.
REFORMAS ESTRUTURAIS (principais componentes)
• Liberalização dos mercados para a determinação dos preços [“deixar funcionar os
mercados”]
• 2. Ajustamento dos preços aos valores de raridade [“estabelecer preços correctos”]
• • liberalização e reforma do comércio;
• • redução das restrições ao investimento estrangeiro;
• • ajustamento da taxa de câmbio;
• • liberalização e reforma financeira;
• • desregulamentação do mercado do trabalho;
• • ajustamento dos preços agrícolas;
• • eliminação de todos os controlos sobre os preços e redução das regulamentações que
inibem o comportamento de mercado.
• 3. Desvio de recursos do Estado para o sector privado [privatizações]
• 4. Racionalização do papel do Estado no processo de desenvolvimento [reformas para
tornar mais eficiente o uso dos recursos do Estado]
• 5. Reforma das instituições. [reformas legais e institucionais necessárias para garantir o
sucesso do conjunto da reforma económica]
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• No IV Congresso da Frelimo, em 1983, o partido reconhece, ainda que
implicitamente, os limites do seu projecto político e de desenvolvimento,
baseado na socialização do campo, e inicia um processo de liberalização que
acabaria por determinar a viragem do tipo de economia centralmente
planificada para uma de matriz liberal. Nesse mesmo ano assina um acordo
com as instituições multilaterais, nomeadamente o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). Em 1987 inicia com os programas
de estabilização e ajustamento estrutural cuja designação em Moçambique
será Programa de Reabilitação Económica (PRE). Essas reformas irão culminar
com a alteração da constituição em 1990, para uma de cariz liberal,
introduzindo assim a democracia multipartidária.
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• A abertura para uma economia de mercado foi seguida pela entrada massiva
de recursos em ajuda externa, o que facilitou um processo de acumulação que
iria ganhar a sua maior expressão com a aquisição das empresas estatais pelos
membros da elite baseadas no Estado e no partido Frelimo. Hanlon (2004) fala
de práticas de corrupção levadas a cabo por indivíduos politicamente bem
colocados, desenvolvidas com o beneplácito de instituições financeiras
internacionais, como o BM, sob o pretexto de ser necessário criar uma elite
capitalista indígena. As privatizações podem ser circunscritas às lógicas de
corrupção perpetradas pela “burguesia” ligada a Frelimo que sentia como
legítimo contornar a legislação para fazer prevalecer interesses privados em
vez dos colectivos.
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Se o IV Congresso da Frelimo iniciou uma abertura incipiente para o mercado, será
o V Congresso do partido, realizado em 1989, que abrirá espaço para que os seus
membros pudessem enriquecer. Deste modo, quando o Congresso autoriza que os
elementos da Frelimo participem no sector privado esse facto dá ao partido o
poder de recompensar os seus apoiantes concedendo-os empresas estatais. Os
grupos internos do partido viram no processo das privatizações uma oportunidade
de se enriquecerem. A elite usou o seu poder para se beneficiar do processo e
através de um processo de “preservação transformativa” construiu uma base de
apoiantes dentro do sector privado, o que lhe permitiu manter a sua influência
política (Pitcher 2003). Efectivamente, a Confederação das Associações Económicas
(CTA), em vez de constituir uma esfera autónoma e independente do governo,
estão os dois imbricados um no outro. Os membros da CTA no sector bancário,
turismo, comércio e manufacturas gozam de grande apoio de personalidades
influentes no partido (Pitcher 2012).
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• De Mira (2005) chama a atenção para a velocidade com que os políticos mudaram a
sua ideologia do comunismo para negócios através da transformação do espírito
administrativo do colectivismo para o capitalismo individualista. O autor descreve o
facto de membros do Comité Central no IV Congresso aparecerem em 99 empresas
criadas entre 1987 a 1997. O mesmo padrão é encontrado no Comité Central que
resultou do V Congresso, no qual seus membros aparecem em 112 empresas. Os
membros do Comité Central do VI Congresso criaram 103 e os do VII Congresso 72
empresas. Os membros do Conselho de Ministro entre 1987 a 1994 criaram 97
empresas, dando origem ao nascimento de tendências para o estabelecimento de
alianças políticas de toda a natureza. Os membros do Conselho de Ministro de 1994
a 1999 têm os seus nomes envolvidos em 56 empresas e outros sectores
governamentais relevantes.
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Esta trajectória constituirá um dos argumentos usados por vários autores para
referir que os programas de estabilização e ajustamento estrutural
legitimaram o espírito aquisitivo que era fortemente condenado no período
socialista. Isto levou a uma situação em que toda a gente, ao mais alto nível,
pilhasse os recursos públicos como forma de acumular riqueza pessoal ou
simplesmente sobreviver. As privatizações não foram transparentes,
possibilitando que pessoas politicamente bem conectadas beneficiassem
delas. O conhecimento interno (inside knowledge) sobre as privatizações nas
redes de políticos poderão ter distorcido os preços restringido informação de
modo a favorecer certos indivíduos ou grupos de interesse. Num contexto
como este, oficiais de topo usaram suas posições públicas para ganhar
vantagens na arena do empresariado privado (Harrison 2010).
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Efectivamente, durante a privatização das empresas estatais, e não obstante os
conflitos distribucionais, a disciplina e experiência mostrada pelo partido Frelimo,
num sistema de estabilidade entre dois partidos, ajudou a manter os seus
apoiantes. O patrocínio, corrupção e falta de transparência foram algumas das
características distintivas desta estratégia, incluindo um apelo feito pela liderança
para a lealdade dos membros do partido e tentativas feitas para acalmar outros
grupos através da distribuição de bens de clube. De facto, o governo usou as
privatizações para alargar a sua rede do partido. A Frelimo aproveitou-se do
processo para construir os seus interesses através do investimento no sector
privado. Investidores domésticos com ligações próximas à Frelimo receberam ou
compraram empresas indo desde a área do turismo à área financeira, o que
significou que os membros do partido moveram-se da política para o mundo dos
negócios ou, como o Presidente Armando Emílio Guebuza, usaram a sua influência
na esfera política para promover a sua expansão na economia de mercado (Pitcher
2012).
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Existe uma longa lista de empresários politicamente bem conectados que
beneficiaram de ligações próximas com o presidente, incluindo ex primeiras damas,
antigos primeiro ministros e membros do exército. A centralização do controlo do
Estado sobre as privatizações assegurou que o partido no poder tivesse influência
substancial na forma como as empresas deviam ser vendidas e a quem seriam
vendidas. O governo usou a sua autoridade para favorecer os interesses do partido e
assegurar que as empresas fossem vendidas a membros leais ao partido. Legislação
adicional foi introduzida de modo a fortificar a presença do Estado e assegurar o
favoritismo para os membros do partido, mesmo depois de já estarem funcionais as
instituições vistas como necessárias para a sua implementação (Ibidem).
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Harrison (2010) afirma que a liberalização instável à qual Moçambique foi
submetido criou o tipo de condições que transformaram algumas práticas que
podem ser classificadas como corrupção na característica chave da política
democrática do país, levando à erosão da legitimidade do Estado e da elite
política.

• Por outro lado, Cramer (2001) argumenta que Moçambique constitui um bom
exemplo para mostrar como múltiplos são os objectivos do programa de
privatizações, podendo transformar-se num omnibus com diferentes objectivos
entre agentes externos, como o Banco Mundial, e os internos como a Frelimo ou
o governo. A literatura mainstream acerca das privatizações assume que existe
um contraste entre os sectores público e privado. Entretanto, as duas arenas são
afectadas pela mesma cultura de processo de tomada de decisão. Não existe
evidência que suporte a ideia de um sector privado com melhor desempenho
em relação ao público. Os burocratas no sector público não são
necessariamente ineficientes.
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• De facto, Castel-Branco (2001) aponta que pessoas do sector de
negócios, altos oficiais do governo e do exército pressionaram para
que houvesse privatizações pois estas configuravam uma oportunidade
para investir o capital acumulado durante os tempos de guerra através
de corrupção e extracção de imposto de guerra. Estes actores
beneficiaram das privatizações ao longo do processo sem que fosse
num contexto de política industrial que teria o condão de permitir que
o Estado ganhasse com a geração de altos fluxos de receitas destas
novas empresas.
PRIVATIZAÇÕES EM MOÇAMBIQUE
• Macamo (2014) argumenta que no contexto da abertura de
Moçambique ao capitalismo a Frelimo reagiu de forma
consistente com a sua cultura política, consubstanciada na
lógica de que só ela pode garantir a soberania do país e que
por isso o enriquecimento dos seus membros constitui uma
resposta patriótica ao assalto capitalista. O autor ecoa a
acepção de Pitcher (2002) ao referir que o partido
instrumentalizou as privatizações para beneficiar indivíduos
próximos do partido através da sua colocação estratégica no
centro de gestão de recursos financeiros que depois são
canalizados para fins partidários.

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