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Seguro

 Trata-se de contrato muito importante que divide por várias


pessoas o prejuízo imposto a alguém pelo acaso. Várias pessoas
pagam e apenas aquelas que sofrerem perdas, a depender do destino
(= alea), receberão indenização.

Os segurados são implicitamente solidários, pois cada um


contribui para indenizar quem sofrer um acidente. As pessoas
prudentes celebram seguro. Por tudo isso o seguro deve ser
incentivado.

Interessa também ao Direito Comercial (ex: seguro marítimo),


e ao Direito Previdenciário (ex: seguros sociais, seguro desemprego,
salário maternidade, acidente do trabalho, etc).  Vamos hoje nos
limitar ao           seguro       do Direito Civil, que possui duas
espécies:

Seguro de dano: contrato pelo qual uma empresa


especializada obriga-se para com uma pessoa física ou jurídica,
mediante prêmio por esta devida, a lhe pagar uma indenização se
ocorrer um sinistro previsto no contrato ao patrimônio do segurado
(757).

Só pode ser seguradora pessoa jurídica devidamente autorizada


(pú do 757). A seguradora recebe o prêmio, assume o risco e paga a
indenização se ocorrer o sinistro.  

O seguro de dano protege o patrimônio do segurado, qualquer


que seja o bem de pessoa física ou jurídica, contra incêndio,
abalroamento, roubo, acidente, etc.

Se o sinistro ocorrido não estiver expressamente previsto no


contrato não há indenização. Por isso   as clausulas de exclusão do
seguro constam no contrato  após as de clausulas  de cobertura, para
melhor entendimento do consumidor.

O segurado paga uma remuneração chamada prêmio, e terá


direito à indenização se ocorrer o sinistro. A seguradora não pode
dispensar/remir o prêmio de um dos segurados até para garantir sua
solvência na cobertura do sinistro dos demais segurados.

O objeto do seguro é o risco do patrimônio que se transfere ao


segurado. O risco/o perigo existe, qualquer de nossos bens pode
subitamente sofrer um dano e perecer, porém o sinistro é potencial.
Quando o risco se materializa nós temos o sinistro (ex: acidente de
trânsito, incêndio na nossa casa) surgindo para a seguradora a
obrigação de indenizar.

Características:

- é contrato bilateral tendo o segurado a obrigação de pagar


o prêmio como compensação à seguradora pelo risco assumido
(763); tem também o dever de não agravar o risco (768, ex: fazer
“pega” com o carro, vender fogos em casa). A seguradora tem
interesse na conservação do bem do segurado (771), e tem   
a           obrigação de pagar a indenização se o  sinistro ocorrer
(776,772).

- a obrigação do segurado é certa, já a da seguradora é


eventual. Por isso o seguro é contrato aleatório, pois se durante o
prazo do contrato não ocorrer nenhum sinistro, a seguradora nada irá
desembolsar, porém o prêmio não será devolvido (764). Obs: quando
a seguradora paga o prejuízo do segurado, terá ação regressiva
contra o causador do dano (786, ex: A bate no carro de B que tinha
seguro; B vai receber a indenização da seguradora que vai processar
A para receber o que pagou a B; art. 346, III).
Ressalto que o contrato só é aleatório quando analisado
isoladamente, entre segurado e seguradora. Isto porque quando visto
de forma coletiva, entre seguradora e todos os seus segurados, o
contrato para a seguradora não é aleatório já que apenas uma parte
dos segurados daquela seguradora sofrerá sinistro.

Se todos sofrerem um acidente, a seguradora poderá entrar em


insolvência. Por isso é importante a seguradora analisar as propostas
de acordo com a probabilidade daquele bem sofrer um sinistro. O
Direito é uma ciência humana, mas a Estatística é uma ciência exata,
então a seguradora, através de uma análise das circunstâncias, avalia
o risco, calcula o prêmio e aceita ou recusa o seguro (759).

A falência da seguradora não isenta o segurado de


responsabilidade (§ 4º do 787, ex: A bate no carro de B e A tinha
seguro, porém sua seguradora está insolvente, A então terá que
pagar o prejuízo de B).

- quanto à falência da seguradora isso é muito raro pois, antes


de uma quebra, a seguradora entra em liquidação extra judicial, com
a nomeação de interventor para posteriormente ser  assumida por
outra seguradora.

Em suma: o sistema de seguros é feito para absorver impactos


mais fortes em uma ou outra empresa. Tanto que as operações das
seguradoras são registradas e monitoradas pela Susep  (Autarquia do
Governo Federal www.susep.gov.br ) não havendo condição, exceto
por fraudes,  da seguradora assumir obrigações que não possa
cumprir, excedendo seu limite técnico. Caso queira exceder esse
limite, deve a seguradora  fazer co-seguros (dentro do país )ou re-
seguros (fora do pais) dividindo risco  e prêmio com outras
empresas. 
-  é oneroso: as partes agem com interesse patrimonial, não
por liberalidade.

- é solene: prova-se por escrito mediante apólice com os


detalhes do art. 760, mas admite-se seguro pelo consenso, antes da
apólice, quando por exemplo se transmite à seguradora o fax da nota
fiscal do carro 0 km adquirido numa loja.

- é contrato de adesão, com suas cláusulas previamente


estabelecidas pelo Governo (Susep) e pela seguradora, surgindo o
consenso com o “aceite” do consumidor. Na verdade o  consumidor
figura como “proponente” (aquele que propõe seu ingresso no
seguro) e a seguradora pode recusá-lo (ex: proponente é criminoso,
cometeu fraudes,  etc., existe até uma “lista negra de CPFs” porque
aumenta a potencialidade do  risco, onerando o custo do seguro para
os bons consumidores, por isso a proposta pode ser recusada).

- é duradouro: o seguro pode durar dias, meses e anos.

Valor máximo da indenização: o seguro de dano tem por


limite o valor da coisa, afinal seguro não existe para enriquecer,
apenas para evitar uma perda, não se podendo segurar uma coisa
por mais do que ela valha (778). A seguradora visa ao lucro no seu
negócio, mas o segurado não (781). Também não se pode segurar
um bem em mais de uma seguradora (782). O que se admite é nos
seguros de alto valor as seguradoras dividirem seus riscos com outras
seguradoras (co-seguro do 761).

           Boa fé: é um princípio aplicável a todos os contratos,


mas no contrato de seguro a boa-fé é exigida com mais rigor, de
modo que o segurado não pode mentir e nem omitir nenhuma
informação relevante à seguradora (765, ex: o carro dorme em
garagem ou na rua? Quem guia mais o carro é um jovem ou um
adulto?) A lei pune com a perda da indenização o segurado que viola
a boa-fé, mesmo que o bem segurado tenha sido vistoriado pela
seguradora (766, 784 e pú).

Seguro de pessoa, este por sua vez subdivide-se em   seguro


de saúde e seguro de vida. Como saúde e vida não têm preço,
pode-se fazer seguro de pessoa em mais de uma seguradora (789).
No seguro de saúde as indenizações serão divididas entre as
seguradoras que o cliente tiver porque o objeto da indenização é a
despesa comprovada.

No seguro de vida, que realmente não tem preço, tantas


quantas forem as apólices serão indenizadas.

O seguro de saúde  garante as condições médico-hospitalares


em caso de enfermidades.

O seguro de vida consiste no pagamento pela seguradora de


um capital a um beneficiário do segurado, após sua morte ou
invalidez permanente   (792 e pú).

Tal beneficiário pode ser indicado e substituído a qualquer


tempo pelo segurado. Na verdade a morte é o objeto do seguro de
vida, pois é com a morte do segurado que o capital é pago.

O segurado paga um prêmio à seguradora que assume o risco


da sua morte (796). O capital pago pela seguradora não é herança,
afinal não integra o patrimônio do segurado, por isso um estranho
pode ser beneficiário, mesmo sem ser parente (794).

Como no seguro de dano, o segurado não pode agravar o risco


de morrer (ex: pular de pára-quedas, 768, mas e o 799?).
Igualmente a seguradora não cobre acidente provocado
intencionalmente pelo próprio segurado (762). E se o segurado se
suicida, a seguradora pagará o capital ao beneficiário? Só após o
prazo de carência do art. 798.

   Seguro de pessoas em grupo: previsto no art. 801, usado por


empresas para garantir saúde a seus funcionários.

 Fiança: 

 É um contrato que garante o pagamento de uma dívida.


Também existe a fiança criminal, que será estudada em Processo
Penal, e permite criminosos responderem a processos em liberdade.
No Direito de Família existe uma fiança/caução que o Juiz pode exigir
do tutor para garantir o patrimônio do pupilo (pú do 1.745).

 Aqui no Direito Patrimonial a fiança é um contrato que faz


aumentar a chance do credor receber sua dívida, pois além do
devedor em si, outra pessoa, com seus bens, garante o pagamento
dessa dívida (822, ex: A aluga um apartamento a B e exige um fiador
C, então se B não pagar o aluguel, C irá fazê-lo). O fiador não tem
débito, mas responsabilidade. Todo credor precisa de segurança para
celebrar contratos e fazer empréstimos, assim quanto maior o direito
concedido pelo ordenamento jurídico aos credores, menor será a
exigência de garantia desses credores. Com menos exigências, o
crédito fica mais fácil e todos nós poderemos trocar de carro ou
reformar a casa, aquecendo a economia.

As garantias ou cauções jurídicas podem ser:

a) reais: é uma coisa que vai garantir o credor se o devedor


for insolvente (1.419, ex: jóia empenhada, terreno hipotecado, carro
alienado fiduciariamente, etc, tudo isto é assunto de Direitos Reais na
Coisa Alheia – Civil 5).
 b) pessoais ou fidejussórias:   é outra pessoa, com seu
patrimônio, que vai garantir o credor (391, ex: aval e fiança). Aval
será estudado em Direito Comercial e fiança hoje, mas já dá para
perceber que as garantias reais, como os Direitos Reais em geral, são
mais seguros e poderosos do que os Direitos Obrigacionais. Sim, pois
se o fiador/avalista também não tiver bens o credor estará
duplamente frustrado.

Já uma garantia real (ex: um terreno hipotecado) não


desaparece fácil como uma pessoa pode empobrecer.

Conceito de fiança: contrato pelo qual o fiador assume


perante o credor a obrigação de pagar a dívida se o
devedor/afiançado não pagar (818). Fiança vem do verbo fiar,
confiar. As partes do contrato são o credor e o fiador. O
devedor/afiançado (ex: inquilino) não é parte do contrato acessório
de fiança, mas apenas parte do contrato principal  que a fiança
garante (ex: locação). Tanto o afiançado não é parte da fiança que
ele não pode impedir que o credor e o fiador celebrem a garantia
(820).

Benefício de ordem: este é o direito do fiador de primeiro ver


executados os bens do afiançado (827, ex: se o inquilino não pagar o
aluguel, o locador irá primeiro processá-lo para só depois executar os
bens do fiador). No silêncio da fiança, existe o benefício de ordem,
mas o fiador pode expressamente renunciar a essa vantagem por
exigência do credor ou por amizade com o devedor (828, I e II).

Benefício de divisão: nas dívidas elevadas, pode haver mais


de um fiador para garanti-la, hipótese em que todos os fiadores
estarão solidariamente obrigados pela dívida toda (revisem
obrigações solidárias). Mas expressamente os co-fiadores podem
estabelecer o benefício da divisão, pelo qual cada fiador só
responderá por parte da dívida, afastando a solidariedade (829 e pú).

Sub-rogação: se o fiador pagar a dívida ao credor, poderá


depois processar o afiançado (831, 832, 346, III).

Características da fiança:

-É contrato unilateral: só o fiador tem obrigação de pagar a


dívida se o afiançado for insolvente, já que o credor não tem nenhum
dever e o afiançado não é parte da fiança. –

-É contrato gratuito: o fiador age por confiança e amizade


com o afiançado, o fiador não busca vantagem patrimonial. Admite-
se excepcionalmente fiança onerosa quando o devedor remunera o
fiador para garantir-lhe a dívida, o que pode ocorrer nas fianças
bancárias.

-É contrato solene: não pode ser verbal e na dúvida deve


beneficiar o fiador (819 e 114, ex: fiador de aluguel não se
responsabiliza, via de regra, por dívidas de condomínio).

-É contrato acessório: a fiança não tem vida própria, sempre


garante um contrato principal, e se tal contrato for nulo, a fiança
também o será, mas o contrário não (184, in fine).

-É contrato personalíssimo: o credor precisa confiar no


fiador (825) e o fiador precisa ter bens executáveis (826). Se o fiador
morrer, seus herdeiros respondem pela dívida do afiançado dentro
dos limites da herança (836).

         Extinção da fiança:

a) quando o fiador unilateralmente deixa de garantir a dívida


(835);
b) por falta de legitimidade do fiador (1.647, III);

c) pelo decurso do tempo quando a fiança tem prazo certo;

d) se o credor  perdoar o devedor (838, I);

e) pelo cumprimento da obrigação principal pelo devedor,


hipótese em que a fiança se extingue sem produzir seus efeitos.

CONTRATO DE CONSTITUIÇÃO DE RENDA

(Arts. 803/813)

1) Conceito: é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a


pagar uma outra, a título gratuito, uma prestação periódica (art.
803). Em sua modalidade onerosa, uma pessoa recebe de outra certo
capital, consistente em bens móveis ou imóveis, obrigando-se a
pagar a esta ou a um terceiro, eleito beneficiário, uma prestação por
determinado prazo (art. 804).

2) Partes:

i) rendeiro ou censuário: é o devedor da renda.

ii) instituidor ou censuente: é o credor da renda, ou aquele


que a institui em benefício de um terceiro.

* O uso do termo “instituidor” é mais apropriado em se


tratando de constituição de renda onerosa.

** Ambas as partes podem ser pessoas naturais ou jurídicas.

3) Classificação: bilateral ou unilateral; oneroso (comutativo


ou alegatório) ou gratuito; temporário e solene.

i) quanto ao caráter temporário desse negócio jurídico, note-se


que o art. 806 admite que a constituição de renda seja celebrada por
prazo certo ou por vida, podendo ultrapassar a vida do devedor, mas
não do credor, seja ele o contratante, seja um terceiro;

ii) o art. 807 é explícito ao prever a forma pública para o


contrato de constituição de renda.

4) Modo de constituição: o Código Civil de 1916 (art. 1.424)


possibilitava a constituição de renda por ato entre vivos ou de última
vontade (testamento). Pelo Código Civil de 2002, no entanto,
suprimiu a referência aos atos de última vontade. Assim, a
constituição de renda confirma sua natureza contratual e, portanto,
só pode ser celebrada por ato entre vivos.

5) Extinção:

a) O contrato de constituição de renda, como se viu, é


necessariamente temporário, podendo ser fixado por prazo certo ou
por vida, podendo ultrapassar a vida do devedor, mas não do credor,
seja ele o contratante, seja um terceiro. Assim, o contrato de
constituição de renda se extinguirá pelo decurso do prazo ou pela
morte do credor (instituidor) ou do beneficiário.

b) A morte do devedor das prestações (rendeiro) só extinguirá


o contrato se houver cláusula contratual nesse sentido, ou se os bens
deixados a seus herdeiros não formarem capital suficiente à
manutenção da renda, já que “o herdeiro não responde por encargos
superiores às forças da herança” (art. 1.792).

c) A teor do art. 810, também haverá resolução por


inadimplemento, que a lei denomina, nesse dispositivo, “rescisão”. Se
a constituição de renda foi onerosa, a resolução implicará o retorno
dos bens ao patrimônio do instituidor ou censuente.

TRANSAÇÃO 
Trata-se na verdade de um contrato, o Código Civil trata como
contrato, mas para alguns autores a transação é modo de extinção
das obrigações.

Conceito da doutrina: transação é a solução contratual da


lide; conceito da lei: transação é o contrato pelo qual as partes
terminam ou previnem um litígio mediante concessões mútuas, art.
840.

É essencial que na transação existam concessões mútuas, ou


seja, cada uma das partes perde e ganha um pouco. As concessões
podem ser desproporcionais, ou seja, uma parte pode se quiser
perder mais do que a outra, mas as concessões têm que ser mútuas.

Se uma das partes perde tudo e esta parte é o credor existe


remissão da dívida (vide item 9), mas não transação.  Igualmente, se
o devedor perde tudo existe pagamento, mas não transação.

É curioso que se uma das cláusulas do contrato de transação


for nula, o contrato todo será anulado, pois a nulidade de uma
cláusula quebra esse equilíbrio das concessões que as partes
buscaram (848). Diz-se que a transação é por isso indivisível.

Aplicação: a transação não se aplica a todas as obrigações,


mas apenas às obrigações de caráter patrimonial privado (841), que
são justamente estas obrigações que nós encontramos aqui no
Direito Civil.

Todavia, tolera-se transação em outras áreas, como no Direito


de Família, quando as partes transacionam sobre pensão alimentícia;
ou no Direito do Trabalho quando as partes transacionam sobre
salários atrasados; ou no Direito Penal quando o Ministério Público
transaciona com o réu, e o réu reconhece a culpa em troca de uma
pena menor; ou no Direito Administrativo quando o Governo
transaciona com o contribuinte para receber impostos. Enfim, a
transação é típica do Direito Civil, mas pelas suas vantagens admite-
se cada vez mais em outras áreas.

Falando de Direito Penal, devo dizer que a transação civil sobre


fato que constitui crime não extingue a ação penal. Ex: se A agride B
e quebra seu braço, vai responder penalmente por lesão corporal e
civilmente pelos danos causados a B com tratamento médico, tempo
que ficou sem trabalhar, danos morais se for o caso, etc. Se A e B
fazem uma transação civil, não impede o Promotor de continuar
processando a criminalmente para receber uma pena de prisão (846).
Vocês verão em responsabilidade civil a relação entre a Justiça Penal
e a Civil quando um mesmo fato interessa a ambas (935).

Espécies:

a) preventiva: visa evitar uma ação judicial, ou seja, as partes


fazem um acordo antes de submeter a lide ao Judiciário; pode ser
feita por instrumento particular, ou seja, por contrato escrito e
assinado pelas partes, testemunhas e advogados, se houver;

b) terminativa ou judicial: é a transação feita na Justiça,


após iniciado o processo, quando o acordo é homologado pelo Juiz.
Vamos encontrar estas duas espécies no art. 842.

A vantagem da transação judicial é que ela não pode ser mais


discutida, pois foi feita perante o Juiz, tornando-se coisa julgada. Já a
transação preventiva, embora também segura, sempre pode ser
questionada em Juízo, alegando uma das partes que foi coagida, que
se enganou, etc. (849).

Efeito: a transação extingue a obrigação decorrente daquela


controvérsia entre as partes.  
ARBITRAGEM 

Nosso CC chama a arbitragem de compromisso e existe uma lei


específica sobre arbitragem de nº 9.307/96, conhecida como Lei
Marco Maciel, pela influência deste político pernambucano na sua
aprovação. Trata-se de um tema moderno e maravilhoso para uma
monografia de final de curso.

Conceito: arbitragem é o acordo pela qual as partes, por não


chegarem à transação, concordam em ter sua lide submetida à
decisão de um árbitro, de um “juiz particular”, afastando tal lide da
Justiça Estatal. Através da arbitragem as partes pedem a um terceiro
que aprecie a lide, e tal decisão deverá ser cumprida pelas partes,
como se fosse uma sentença judicial. Ressalto que na transação,
através de mediação, as partes escolhem a solução da lide, enquanto
na arbitragem as partes escolhem o árbitro, mas não escolhem a
decisão.

            Esta lei 9.307 foi alvo de muitas controvérsias, até que
o Supremo, em 2002, julgou sua constitucionalidade, e desde então a
arbitragem vem crescendo em todo o país e contribuindo para
desafogar a Justiça.

Vantagens da arbitragem:

a) celeridade: maior rapidez na solução da lide, tendo em


vista a conhecida sobrecarga do Judiciário e os entraves da legislação
processual;

b) custo menor: quando se ganha tempo também se ganha


dinheiro;
c) sigilo: o processo arbitral não é público como o processo
judicial, onde as decisões são divulgadas na internet e no Diário
Oficial, provocando desgaste emocional;

d) escolha do árbitro: não se pode escolher o Juiz, pois


depende sempre das regras de competência e da distribuição no
Fórum, porém se pode escolher o árbitro, que deve ser uma pessoa
idônea, preparada, conhecida das partes, especialista na área do
litígio (ex: engenheiro, médico, contador); isto é uma questão crucial
pois o Juiz não entende de medicina, engenharia, contabilidade, etc,
e precisa sempre nomear um perito para lhe ajudar a julgar
processos nestas áreas;

e) impossibilidade de recurso: a decisão do árbitro é


irrecorrível, e se a parte sucumbente não cumpri-la, a parte
vencedora vai executá-la perante o Juiz; só aqui é que o Juiz entra,
para executar a decisão arbitral com a força do Estado, caso o
sucumbente voluntariamente não acate; já na Justiça Estatal existem
inúmeros recursos (cerca de trinta), graus de jurisdição (cerca de
oito), entraves burocráticos e formalidades desnecessárias previstas
no arcaico Código de Processo Civil; f) paz social: a solução rápida da
arbitragem traz paz social e elimina as incertezas entre particulares
que atrapalhem a realização de negócios e  a circulação de dinheiro
na sociedade;

g) alivia a Justiça: a utilização da arbitragem deixa o


Judiciário com mais tempo para agir nas questões onde a presença
do Estado é indispensável, como nas questões penais, administrativas
e tributárias.

Desvantagens da arbitragem:

-ela só faz sentido para casos sofisticados e de valor elevado; 


-é preciso pagar os honorários do árbitro e as despesas do
Tribunal;

-tem que ser conduzida por árbitros com conhecimento e


tribunais com estrutura para fazer perícias e produzir provas; caso
contrário a solução será injusta com o agravante que não cabe
apelação. 

  Aplicação da arbitragem: no Direito Internacional, na


solução de divergências obrigacionais entre empresas multinacionais,
ou na solução de disputas entre países soberanos (ex: dúvidas sobre
a fronteira entre dois países);  no Direito Civil em matéria patrimonial
(852, ex: direito de vizinhança, contratos, direito da informática,
direito autoral, responsabilidade civil, etc).  Na Espanha inclusive,
conforme publicado no Jornal do Magistrado da AMB, edição de
outubro de 2003, funciona uma corte arbitral com mais de mil anos,
na cidade de Valencia. É um tribunal privado que julga problemas
com o uso de água entre os agricultores numa região árida,  e os
árbitros são os próprios agricultores.

Espécies:

a) cláusula compromissória (853): as partes celebram um


contrato e dispõem numa cláusula que, se houver algum litígio futuro
entre elas, a lide será submetida à arbitragem e não à Justiça; esta
cláusula é mera precaução;

b) compromisso arbitral (851): já existe litígio entre as


partes e elas resolvem submeter a questão a um árbitro e não a um
Juiz para solucionar a controvérsia.

Atualmente já há vários escritórios de advocacia especialistas


em arbitragem. Alguns Juízes são contra a arbitragem por achar que
vão perder poder, mas eu discordo, acho que é pura vaidade destes
colegas, e nós devemos aceitar tudo que venha para desafogar a
Justiça e beneficiar a população, estimulando mais negócios e
comércio.

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