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CLÁUSULAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA

RETROVENDA: é a cláusula adjeta à compra e venda, pela qual


o vendedor se reserva o direito de reaver, em certo prazo, o imóvel
alienado, restituindo ao comprador o preço, mais as despesas por ele
realizadas, inclusive as empregadas em melhoramento do imóvel.
É apenas admissível nas vendas de imóveis; torna a
propriedade resolúvel; o vendedor só poderá resgatar o imóvel
alienado dentro de prazo improrrogável de 3 anos, ininterruptos e
insuscetíveis de suspensão; o direito de resgate é intransmissível,
não sendo suscetível de cessão por ato inter vivos, mas passa a seus
herdeiros.
Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus,
o vendedor, para adquirir o direito de resgate, depositará a quantia
judicialmente.
Se depositado menos que o valor estipulado, só terá direito à
restituição se, dentro do prazo determinado pelo juiz, o alienante
depositar o valor para completar.
Por exemplo, se Antônio compra um imóvel de R$ 100.000,00
de Bernardo, com a cláusula de retrovenda com prazo de um ano, e
Bernardo precisa do dinheiro e sabe que em menos de um ano o
recuperará, então vende com essa cláusula, de modo a recuperar o
imóvel vendido, antes do prazo se exaurir. Se Bernardo, em menos
de um ano, devolver o valor a Antônio com as despesas de
transferência do imóvel, resolvido estará o contrato. Portanto, é uma
propriedade temporária, exaurindo-se o prazo de um ano, a
propriedade é de Antônio.

VENDA A CONTENTO: é a cláusula que subordina o contrato à


condição de ficar desfeito se o comprador não se agradar da coisa; é
a que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória
se o comprador declarar que a coisa adquirida lhe satisfaz; ela
reputar-se-á feita sob condição suspensiva, não se aperfeiçoando o
negócio enquanto o adquirente não se declarar satisfeito.
É mais comum na venda de gêneros que costumam se provar
como bebidas, ou que precise pesar ou experimentar como roupas.
Pode ser de duas espécies:
1) suspensiva: nesta venda a contento o comprador não paga o
preço e adquire a coisa por empréstimo. Se gostar paga o preço e
adquire a coisa, se não gostar devolve sem dar explicações (510).
Como a coisa é do vendedor, se a coisa perecer enquanto o
comprador experimenta, o prejuízo será do vendedor, afinal res perit
domino (= a coisa perece para o dono). No art 509 temos a venda ad
gustum (degustação) aplicável a gêneros alimentícios.  Tanto na
venda a contento do 509 como na venda sujeita a prova do 510 o
comprador fica como comodatário (= empréstimo, 511).
2) resolutiva: nesta segunda espécie, o comprador paga o
preço e adquire a coisa como dono, se não gostar devolve a coisa,
desfaz a compra e exige o dinheiro de volta. Caso a coisa venha a
perecer durante a prova o prejuízo aqui será do comprador. Se as
partes não estipularem prazo para a prova do bem, o vendedor
deverá intimar o comprador para se manifestar (512). 
Exemplo: as vendas realizadas pelo POLISHOP.

PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA: é o pacto adjeto à compra e


venda em que o comprador de coisa móvel ou imóvel fica com a
obrigação de oferecê-la a quem lhe vendeu, para que este use do seu
direito de prelação em igualdade de condições, no caso de pretender
vendê-la ou dá-la em pagamento.
A preferência possui duas espécies:
a) convencional: depende de contrato/de acordo de vontades, é
a preferência que nos interessa;
b) legal: interessa ao Direito Público, quando, por exemplo, o
Estado desapropria uma casa para fazer uma rua, depois desiste,
cabe então preferência ao ex-dono para readquirir o imóvel (519 – é
conhecida como retrocessão de Direito Administrativo, sendo uma
cláusula implícita em toda desapropriação). Na preferência não cabe
ação real (na retrocessão sim), então se o comprador vende a um
terceiro sem oferecer ao vendedor, o vendedor não poderá recuperar
a casa do terceiro, poderá apenas exigir uma indenização
do comprador que não respeitou a cláusula da preempção
(518).  A preferência difere da retrovenda, por cinco motivos:
1) a preferência não precisa de registro em Cartório de Imóveis
e nem constar na escritura pública;
2) na preferência a iniciativa é do comprador em querer
vender, enquanto na retrovenda é o vendedor que tem a iniciativa e
a faculdade de comprar de volta;
3) a retrovenda só se aplica a imóveis, com efeito real (507, in
fine), e a preferência a móveis e imóveis, sem efeito real (518);
4) na retrovenda se extingue uma venda, aqui na preferência
se celebra novo contrato;
5) o direito à retrovenda se transmite aos herdeiros (507), o
direito à preferência não (520).

RESERVA DE DOMÍNIO: Ter-se-á a reserva de domínio


quando se estipula que o vendedor reserva para si a sua propriedade
até o momento em que se realize o pagamento integral do preço;
dessa forma, o comprador só adquirirá o domínio da coisa se
integralizar o preço, momento em que o negócio terá eficácia plena.
Não se aplica a imóveis, só a móveis comprados a prazo. Para
os imóveis comprados a prazo existe o direito do promitente
comprador, do art. 1417, assunto de Civil 5. Posse e propriedade são
conceitos que vocês vão estudar no próximo semestre, mas já dá
para entender que, na VRD o comprador ocupa a coisa mas só se
torna seu dono quando pagar todas as prestações. O normal é a
simples tradição já transmitir a propriedade, mas na VRD, além da
tradição, o vendedor exige o pagamento integral do preço. Como o
comprador não é dono da coisa, caso as prestações não sejam pagas
o vendedor poderá, através do Juiz, recuperar a coisa que é sua, ao
invés de exigir apenas as perdas e danos por descumprimento do
contrato (389, 526).  O comprador não pode atrasar o pagamento
das prestações, mas pode antecipá-las (133). A coisa precisa ser
individualizada, ter caracterização detalhada (ex: cor, modelo, ano,
placa, número do chassis, número do motor, etc.) para permitir a
apreensão judicial.  A VRD não se trata de contrato preliminar, mas
sim de contrato definitivo com cláusula de reserva de domínio. Sem
cláusula expressa, não há VRD, mas simples venda a prazo,
tornando-se o comprador dono pela tradição, de modo que o não
pagamento das prestações se resolve em perdas e danos e pronto
(522).  Para o vendedor a VRD é mais segura do que a venda
simples, pois a coisa fica como garantia. Mas se a coisa for retomada
pelo vendedor ele não poderá ficar com ela, e sim terá que vendê-la
para cobrir seu prejuízo e devolver o excedente ao comprador (527,
1364). Como a coisa pertence ao vendedor até o pagamento de todas
as prestações, o prejuízo pela sua destruição em caso de
furto/acidente deveria ser do vendedor, afinal vocês sabem que res
perit domino ( = a coisa perece para o dono). Porém aqui na VRD
existe uma exceção a este princípio, de modo que res perit emptoris (
= a coisa perece para o comprador, 524), e deve ser assim afinal o
vendedor-proprietário não tem o menor controle sobre o uso da coisa
e se o prejuízo fosse seu poderia ensejar muitas fraudes. A VRD exige
forma escrita, não pode ser verbal, mas dispensa escritura pública,
basta o instrumento particular (522). Este registro a que o artigo 522
se refere não é o registro imobiliário, afinal a VRD só se aplica a
móveis; este é o registro no Cartório de Títulos e Documentos mas a
jurisprudência dispensa tal registro. Se a coisa for vendida pelo
comprador a terceiros a venda deve ser desfeita, afinal o comprador
não é dono ainda, não podendo vender o que não é seu. Mas se o
terceiro estava de boa-fé e desconhecia a cláusula de reserva de
domínio, a venda pode prevalecer conforme parte final do art. 523. O
legislador optou pela segurança jurídica do terceiro ao invés do
direito de propriedade do vendedor.
TROCA OU PERMUTA (art. 533, I e II)

CONCEITO

É o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por


outra que não seja dinheiro (senão seria compra e venda).
É ainda chamado de câmbio e escambo, contudo, pelos usos
temos câmbio como sendo troca de moedas e escambo troca
internacional de bens.

CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS

É contrato bilateral, oneroso comutativo, translativo de


propriedade, gerando a obrigação de transferir para o outro o
domínio da coisa objeto da sua prestação, em geral consensual,
podendo ser solene, quando, por exemplo, troca-se um imóvel por
outro, tendo neste caso que celebrar-se por escritura pública.

OBJETO

Deve ser dois bens. Se por ventura, em vez de coisa, trocar por
um serviço, não será troca.
A coisa a ser trocada não precisará, necessariamente, ser
individuada, bastando que seja passível de determinação.
São suscetíveis de troca todas as coisas que puderem ser
vendidas no mercado.
Não é necessário que os bens sejam da mesma espécie ou
tenham valor igual ou equivalente.
Podem ser permutados: móveis por móveis, móveis por
imóveis, coisa corpórea por coisa corpórea, coisa por direito, direito
por direito.
Assim, se A troca sua bicicleta avaliada em R$ 5.000,00, pela
bicicleta de B avaliada em 6.000,00, este voltará 1.000,00 a B. Desta
forma, como a diferença a ser devolvida é menor que 50%,
configura-se a troca.
Diferente se dá se a bicicleta de A vale R$ 1000,00, e a de B
vale 10.000.00, a diferença é de 9.000,00, aí não se terá mais a
troca e sim uma compra e venda.

RELAÇÃO COM A COMPRA E VENDA

Ambos tem a mesma natureza, a troca se diferencia da compra


e venda porque:

- na compra e venda a prestação de um dos contraentes é


dinheiro e na troca é coisa;
- na compra e venda, uma vez entregue a coisa vendida, se
não quitado seu preço, não mais poderá pedir a devolução, já na
troca poderá reaver;

Em suma, aplicam-se as mesmas regras da compra e venda ä


troca, contudo, o art. 533, I e II trazem normas específicas da troca,
quais sejam:
a) salvo convenção em contrário, cada um dos permutantes
pagará por metade as despesas da troca, além de pagar, cada um, o
imposto que incidir sobre o bem adquirido; Já na compra e venda, as
despesas com a escritura ficam a cargo do comprador e as da
tradição, por conta do vendedor;
b) anulável é a troca de valores desiguais entre ascendente
e ascendente, sem expresso consentimento dos outros descendentes
e cônjuge do alienante; Caso isso ocorra, os prejudicados terão o
prazo decadencial de 2 anos, contados da data da conclusão da
permuta para anulá-lo.
CONTRATO ESTIMATÓRIO (534 a 537 CC)

É o contrato pelo qual uma pessoa estrega à outra coisa móvel


para vender, ficando esta com a opção de pagar o preço ou restituir a
coisa, dentro do prazo firmado.
É o negócio jurídico onde alguém, CONSIGNATÁRIO, recebe de
outro (CONSIGNANTE) bens móveis, ficando autorizado a vendê-los,
em nome próprio, a terceiros, obrigando-se a pagar um preço
estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas no
prazo estipulado.
Mais conhecido como venda em consignação, tem natureza
mercantil, aproxima-se da compra e venda e da permuta,
relacionando-se ainda com o depósito e com o mandato sem
representação para vender. Ex. venda de objetos ao público sem que
o vendedor desembolse valor avultoso ou tenha capital de giro para
obtê-las, com a finalidade de revenda.

Se não for devolvido no prazo pactuado, notifica-se o


CONSIGNATÁRIO a fim de que o mesmo proceda à devolução, deverá
o CONSIGNANTE notificá-lo para que proceda a tal devolução.

Ex. A, famoso pintor, entrega à B, três telas a fim


de que o mesmo a deixe exposta em sua galeria
para que algum interessado a adquira.
Suponhamos que o valor de uma das telas é de
R$ 150.000,00, poderá B vender ao comprador, C,
pelo valor de R$ 155.000,00, tendo o dever de
repassar os R$150.000,00 a B, e devolver as
outras duas telas no prazo estipulado, sob pena
de ser notificado a fazê-lo, ou, não o fazendo, ser
interpelado judicialmente a devolvê-lo, vendê-lo
ou pagar o preço estipulado, tudo acrescido de
juros moratórios, perdas e danos, cláusula penal e
custas judiciais.

NATUREZA JURÍDICA

É um contrato típico, bilateral, oneroso e real, visto que requer


a entrega da coisa móvel ao CONSIGNATÁRIO.

DOMÍNIO

Insta salientar que o domínio do bem será do CONSIGNANTE,


até que o consignatário os negocie com terceiros ou pague o preço
preestabelecido pelo CONSIGNANTE.

PREÇO

O preço estipulado pelo CONSIGNATÁRIO ao CONSIGNANTE


deve ser abaixo do valor de mercado para que este possua interesse
em adquiri-lo ou vendê-lo por um preço maior obtendo um lucro.

PRAZO

Pode ser determinado ou indeterminado, mas nunca perpétuo,


senão seria venda.
Quando indeterminado, o consignante poderá retomar a coisa
quando quiser, através de notificação ou denúncia vazia.
Se determinado, deverá ser respeitado, salvo se o consignante
demonstrar em juízo a necessidade urgente e imprevista de reaver a
coisa, devendo, neste caso, pagar multa contratual.

DAS DIVULGAÕES PUBLICITÁRIAS


Competem ao CONSIGNATÁRIO, não podendo o CONSIGNANTE
alterar negócio levado a efeito entre aquele e um terceiro adquirente.

PENHORA OU SEQUESTRO DOS BENS CONSIGNADOS

a) EM PODER DO CONSIGNATÁRIO – não poderão


ser penhorados ou seqüestrados os bens em seu poder enquanto
não tiver este pago o preço ao CONSIGNANTE, podendo fazê-lo, tão
somente, quando o CONSIGNATÁRIO se comprometer, findo o
prazo, a pagar o preço ao CONSIGNANTE.
b) EM PODER DO CONSIGNANTE – os credores do
CONSIGNANTE poderão seqüestrar ou penhorar os bens
consignados, atingindo o seu direito de receber o preço a ser pago
pelo CONSIGNATÁRIO ou TERCEIRO ADQUIRENTE.

DESPESAS

As despesas com a custódia, venda e expedição, correm única e


exclusivamente pelo CONSIGNATÁRIO, compensando-se, com a
diferença entre o preço estimado e o preço de venda a terceiro.

RESTITUIÇÃO NÃO INTEGRAL

O CONSIGNATÁRIO não se liberta da obrigação de pagar o


preço, se a restituição dos bens consignados, em sua integridade, se
tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputado (ato de
terceiro, fato de coisa ou anima, caso fortuito ou força maior), salvo
se comprovada a culpa do próprio CONSIGNANTE pela perda ou
deterioração.

OBRIGAÇÕES DO CONSIGNATÁRIO
 Indenizar sempre que seja impossível restituir a coisa, mesmo
por caso fortuito ou força maior, por ser hipótese de
responsabilidade objetiva, independe de culpa;
 Não tem direito ao reembolso de despesas com a conservação
normal da coisa;
 Regras normais de despesas extraordinárias: o consignante
deverá reembolsar as benfeitorias úteis e necessárias; as
voluptuárias, só se tiverem sido autorizadas;
 Pagar o preço da coisa no prazo ajustado ou restituí-la;
OBRIGAÇÕES DO CONSIGNANTE
 Entregar a coisa e esperar prazo suficiente para que seja
vendido;
 Não pode exigir o preço antes do prazo;
 Não pode dispor da coisa antes da restituição.

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