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1. COMPRA E VENDA
CASO PRÁTICO 1
A acordou com B a compra da casa deste último, por um preço de 300.000€.
Classifique e indique o contrato que aqui está em causa.
Em primeiro lugar, devemos dizer que o contrato aqui em causa é a compra e venda.
A compra e venda é muito importante em termos económicos e sociais, dado que é
um dos contratos que mais se realiza, hoje em dia.
É importante saber que a sua regulamentação é paradigmática. Segundo o art.939ºCC,
o regime da compra e venda irá aplicar-se a todos os contratos onerosos. Quer isto
dizer que, na regulamentação dos contratos onerosos, quando falta qualquer aspeto a
ser regulamentado, irá aplicar-se o regime da compra e venda.
CASO PRÁTICO 2
A intentou contra B uma ação de reivindicação sobre uma fração autónoma situada
na Praça da República de Coimbra. No entretanto, B vendeu a fração a C, casado com
D, juíza no Tribunal de Família e Menores de Coimbra.
Pronuncie-se sobre a validade desta venda.
Uma fração autónoma - ex: prédio com andar A, B, C, e D. Cada andar é uma fração.
Uma ação de reivindicação serve para reaver algo que é meu. No âmbito de uma ação
de reivindicação, discutimos quem é o proprietário, se é A ou B.
Se a casa fosse de A, ele estaria a vender coisa alheia.
Se a propriedade fosse de B, à partida, a compra e venda seria válida.
Temos aqui duas situações diferentes. Ora, nem uma coisa nem outra funcionam aqui,
porque o CC diz-nos que podem haver situações em que não seja permitida a compra e
venda. Uma dessas situações é a compra e venda de coisa ou direito litigioso. Este
regime consta do art.876ºCC. Deste artigo, devemos remeter para o art.579ºCC.
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Contratos Civis 2022/2023
Ora, no nosso caso, o processo decorre em Coimbra. O direito litigioso foi transmitido
a C, mas este era casado com D, juíza no Tribunal de Família e Menores de Coimbra.
Então, segundo art.579º e tendo em conta que D exerce função em Coimbra, esta
compra e venda seria nula.
Há, aqui, uma divergência doutrinal: a Dr. Olinda Garcia, entende que o
art.579ºCC, deve ser interpretado restritivamente, de forma onde se diz
“área”, deveria dizer-se “tribunal”. Com esta nova interpretação, esta
proibição já não se aplicaria, porque a ação de reivindicação iria para o cível,
não iria para o mesmo tribunal. Aqui, não haveria nenhuma proibição.
Há, ainda, quem entenda que neste caso não se aplica a proibição, porque,
efetivamente, a compra e venda não foi feita a D, mas a C.
CASO PRÁTICO 3
A fez um contrato de compra e venda, com o seu neto, B, de um automóvel novo.
Sabendo que A tem um outro neto, C, o qual não deu consentimento para esta
compra e venda, será o presente contrato válido?
Este contrato não é válido. Está aqui em causa mais uma proibição de compra e venda.
Esta exceção consiste no facto dos pais e avos não poderem vender a filhos ou netos
se os outros filhos ou netos não consentirem na venda – art.877ºCC.
O negócio é anulável – art.877º/2.
A fundamentação para a necessidade de consentimento diz respeito ao Direito das
Sucessões.
Quando A morre, os herdeiros são B e C, e estes vão herdar os direitos e as obrigações
de A.
- Vamos imaginar que a compra e venda foi feita por 30.000€. A compra e
venda não é sujeita a colação. Então, B recebe 50.000€ e C recebe 50.000€. B fica a
ganhar porque recebe esta quantia, e o prédio. Será que B pagou ou isto foi
combinado com o pai? B vai sempre ficar a ganhar.
Então, este regime existe para não ocorrerem compras e venda simuladas para
prejudicarem ou deserdarem um filho (ou neto...).
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CASO PRÁTICO 4
António foi a uma loja de decorações, comprar cortinados e carpetes. Selecionou,
alguns de que gostava e combinou com o vendedor que, nesse mesmo dia, ele
(vendedor) iria lá a casa para António ver quais ficariam melhor e escolher os que vai
comprar.
CASO PRÁTICO 5
António comprou uma camisola para oferecer ao pai no próximo sábado. Combinou
com o dono da loja que, caso o pai não gostasse da cor da mesma, iria lá trocá-la na
próxima semana.
CASO PRÁTICO 6
António comprou na loja do bairro, dois pares de calças para o seu filho, que tem 2
anos. A dona da loja, que conhece a criança, assegurou que as calças serviam, mas
combinaram que, se não servissem, António poderia trocá-las por um tamanho
maior.
CASO PRÁTICO 7
O senhor António estava com grandes dificuldades económicas e, por esse motivo,
vendeu a Bernardo, um apartamento de que era proprietário e, pelo qual, tem muita
estima, por ter sido a casa em que viveu, logo depois de casar.
a) Podem António e Bernardo convencionar um contrato em que António venha
a readquirir o apartamento no prazo de 5 anos? O que está em causa neste
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Contratos Civis 2022/2023
Desta, forma, quanto ao caso prático, temos o prazo de 5 anos, o que significa que
eles podem fazê-lo, dado que os 5 anos são o prazo máximo para tal. Caso não
convencionassem prazo, a consequência seria a redução para o prazo de 5 anos.
CASO PRÁTICO 8
Em janeiro de 2023, António comprou a Bernardo, proprietário de um stand de
automóveis, um automóvel com reserva de propriedade a favor de Bernardo, até ao
pagamento do preço, a efetuar em agosto de 2023. Qualifique a figura contratual em
causa e a sua forma.
Quid Iuris se António não pagar o preço?
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EX: A faz uma compra. Venda ao seu neto I. Daquelas muitas doutrinas, precisamos de
saber duas, essencialmente.
Há uma doutrina que diz que, apenas C tem que consentir. Outra diz que, para alem de
C, devem consentir, G e H.
Quem defende que G e H não tem que consentir, diz que não o tem que fazer porque
estes já estão representados.
A outra doutrina que estes podem ser afetas, não existe representação nenhum, aliás,
existe um conflito de interesses e, por isso, deve exigir-se o consentimento de G e H
- uma das perguntas que suscita mais dúvidas, prende-se com a venda a retro.
Vamos imaginar que A celebra um contrato de compra e venda retro com B. Neste
momento B é proprietário. B sendo proprietário pode ou não arrendar o prédio? Sim,
porque o direito de propriedade lhe permite. Vamos imaginar que B celebra um
contrato de locação (arrendamento), com C? A quer resolver o contrato, e, paga o
preço para isso. Na resolução do contrato, quem passa a ser o proprietário, é António.
Então, vamos subsumir este caso ao art.1051º/c). O direito com qual o contrato foi,
com base, celebrado cessou, por isso, o contrato de locação caduca.
Quando o contrato caduca, a pessoa ainda tem 6 meses para sair do prédio.
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CASO PRÁTICO 9
António vendeu a Bernardo um automóvel, com reserva de propriedade, em janeiro
de 2021. Combinaram que o preço seria pago em 5 prestações mensais, de 2000€
cada. As prestações iriam vencer-se no dia 3 de cada mês. Bernardo encontra-se em
mora, quanto à prestação dos meses de março e abril. Quais são os direitos de
António?
Neste caso, falamos de uma compra e venda a prestações – arts.934º e ss.
Em primeiro lugar, temos que ver se existiu ou não reserva de propriedade. Se existir,
como é o caso, poderá haver direito à resolução do contrato. Mas, também poderá
haver direito a exigir o pagamento do preço.
Caso não haja reserva de propriedade, não há lugar à resolução do contrato
O art.934º, fala ainda da falta de pagamento de uma só prestação que não exceda 1/8
do preço. Quer isto dizer que, segundo este artigo, havendo reserva de propriedade,
só se pode resolver o contrato, quando falte uma prestação que exceda 1/8 do preço.
E, também, neste caso, não se perde o benefício do prazo.
Havendo reserva de propriedade, só poderá haver a resolução do contrato, quando
esteja em causa mais que 1/8 do valor do preço.
Neste caso, foram incumpridas duas prestações, o que significa que existe uma perda
de confiança, por parte do vendedor e, este, poderá resolver o contrato. Vencem-se as
restantes prestações, por força deste incumprimento, pelo que Bernardo terá que
pagar o resto do preço.
Vamos imaginar que o preço de um contrato de compra e venda é de 100.000€ em prestação e que
cada prestação é de 1.000€. vamos imaginar que uma pessoa não cumpre duas prestações de
1.000€ - isto não excede a 1/8 do preço, mas, a doutrina entende que, por haver incumprimento de
duas, ou mais, prestações, que juntas não excedam a 1/8 do preço, poder-se-á, à mesma, recorrer à
resolução do contrato.
Art.781º - este artigo parece contradizer um pouco o art.934º. No entanto, este último
consagra uma regra excecional e, por isso, sobrepõe-se ao art.781º.
CASO PRÁTICO 10
Em agosto de 2022, A vendeu a B, como próprio, um prédio rústico, que, na
realidade, pertencia à massa da herança de Xavier, falecido, pelo valor de 100.000€.
Ao saber, hoje, deste facto, B pretende reagir. Quid Iuris se, na partilha da herança, o
prédio vier a ser adjudicado a A?
O problema aqui presente, é uma venda de coisa alheia. Mas para termos a certeza,
temos que ver os seus pressupostos:
- se o vendedor não tem legitimidade;
- se há venda de coisa alheia como própria – arts.892º e ss..
Estes dois pressupostos são verificados, o que significa que a venda de coisa alheia é
nula. Esta nulidade pode ser invocada a todo o tempo, pode ser conhecida
oficiosamente pelo tribunal e cada uma das partes deve restituir tudo aquilo que
receber e esta pode ser invocada por qualquer interessado.
O regime geral da nulidade em um pequeno desvio no art.892º, parte final.
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E alguns casos, esta venda pode considerar-se válida – pela simulação – art.291º; art.
243º e arts.4º e 5º CRN.
Na compra e venda de coisa alheia, existe a obrigação de convalidação: quem vende
uma coisa alheia, vai ficar obrigado a adquirir a propriedade do bem ou a titularidade
do direito. então, tendo o vendedor, sanado a nulidade (ou seja, adquirindo a
propriedade), deve indemnizar o comprador pelo interesse contratual positivo –
posição em que etária se se tivesse celebrado um contrato válido.
No caso de não conseguir convalidar, ou seja, se não for sanada a nulidade, o vendedor
deve indemnizar o comprador pelo interesse contratual negativo – colocar o
comprador na posição em que estaria se não tivesse celebrado o contrato (despesas,
etc...).
Neste caso, o que acontecia ao contrato é que este foi convalidado, porque, no
momento em que foi celebrado, a coisa não estava na posse do vendedor, no entanto,
ele acabou por adquirir a propriedade da coisa, através da herança. Então, a
propriedade irá transferir-se para o comprador.
CASO PRÁTICO 11
A compra um automóvel num stand de automóveis. O dono do stand atesta a
existência da documentação, mas diz que não conhecia o vendedor e, portanto, não
oferece garantias.
Mais tarde, a polícia vai a casa de A e comunica-lhe que comprou um carro roubado.
Quid iuris quanto ao stand de automóveis?
Sendo que o stand não conhecia o vendedor do carro, ele não era proprietário do
carro, pelo que está aqui em causa uma venda de bem alheio.
A venda de coisa alheia gera a nulidade e, à partida temos a obrigação de restituição –
A teria que restituir o automóvel e o stand tem que restituir o preço – art.894º.
Será que o vendedor pode ser responsabilizado por evicção? Quando alguém vende
uma coisa alheia pode ser responsabilizado por isso.
O caso prático diz-nos que o stand disse que não conhecia quem lhe tinha vendido o
carro e que não oferecia, por isso, nenhuma garantia.
Segundo o art.903º/2, a declaração contratual de que o vendedor não garante a sua
legitimidade, ou não responde pela evicção, envolve derrogação de todas as
disposições legais ao que o nº anterior preceitua.
Estas declarações contratuais são válidas, ou seja, esta desoneração de indemnizações
poderá ser feitas nestes casos, em que o vendedor não oferece a garantia porque não
conhece quem vendeu o carro.
Então, aqui, o stand não iria ser responsabilizado (só se nada tivesse dito).
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Temos aqui uma venda de bens onerados – arts.905º e ss. na venda de bens onerados
existe um vício, mas este nada tem a ver com as qualidades próprias da coisa. A coisa
pode estar onerada com um direito real de gozo ou de garantia.
O que é que acontece quando o vendedor assegura ao comprador que o prédio tem
alguma vantagem jurídica (ex: o prédio tem uma servidão sobre o prédio vizinho)? Se
esta situação não se vier a verificar, a lei não diz, e, por isso, a doutrina divide-se. Há
quem diz que se enquadrar na venda de coisas defeituosas, outros, que se enquadra,
no incumprimento. O Dr. Menezes Leitão defende que se enquadra aqui na venda de
bens onerados.
No nosso caso, existe uma relação contratual entre António e Bernardo e também
existe uma relação contratual com Carlos, que é o arrendatário do apartamento.
Acontece que existe o art.1057º, que protege o locatário (o arrendatário). Este diz-nos
que a posição do arrendatário vai-se transmitir para o adquirente do direito de
propriedade.
Então, aqui existe a venda de um bem onerado e, quando se tratam de bens onerados,
temos vários meios de tutela – art.905º. este artigo diz que o contrato pode ser
anulável, com base no erro e no dolo. É anulável com base no erro (remissão para os
art.247º e 251º). Os pressupostos para ser anulável são:
- que o declaratário conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade do
elementos sobre o qual incidiu o erro. Se era essencial para a pessoa que a compra
tivesse sido feita sem o arrendamento.
Pode ser anulável por dolo (arts. 253º e 254º). O dolo era a utilização de artifícios para
induzir ou manter o comprador em erro.
Podemos ter, também, uma eventual convalesça do contrato – art.906º. Isto significa
que a anulabilidade do contrato pode ser sanada, se, por qualquer motivo
desaparecerem os ónus sobre o prédio.
O art.906º/2 diz-nos que a anulabilidade persiste, porém, se a existência dos ónus já
tiver causado juízo ao comprador ou s este já tivesse pedido a resolução do contrato –
isto configura uma exceção.
Neste caso, não há nada que António possa fazer para convalescer o contrato.
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Além destes meios, temos ainda a redução do preço – art.911º, que nos diz que se as
circunstâncias nos mostrarem que sem erro ou dolo, o comprador teria adquirido o
bem, mas por preço inferior, então, haverá o direito de redução do preço. Para além
desta redução, está excluído o recurso á anulabilidade, bem como à obrigação de
convalescer o contrato. Mas, além desta redução do preço, ainda existe a
indemnização por erro ou dolo.
Tem que existir um defeito e este tem que ter repercussões no âmbito do programa
contratual – art.913º.
No caso, o carro ao perder água, deixou de circular e deixa de realizar o fim a que é
destinado. As repercussões que podem ocorrer em abstrato, pode ser:
- o vício pode originar a desvalorização da coisa;
- a não correspondência com o que foi assegurado pelo vendedor.
- o vício pode gerar a ineptidão para o fim a que a coisa se destina.
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O art.913º diz que se vai aplicar o regime da vende de bens onerados, com as devidas
adaptações – aplica-se em tudo o que não seja regulado pelo regime da compra e
venda de bens defeituosos.
Vão aplicar-se, por remissão, à venda de coisas defeituosas, a anulação do contrato
por erro ou dolo.
Outro efeito que a compra e venda de coisas defeituosas tem e a reparação ou
substituição da coisa defeituosa – art.914º. Deste artigo resulta uma primazia: a
reparação vai sempre prevalecer sobre a substituição – uma coisa só pode ser
substituída, quando não for suscetível de ser reparada.
Outro efeito, são as indemnizações. Existem: a indemnização por erro (regime de bens
onerados, com a ressalva de que a indenização não será devida se o vendedor
desconhecia sem culpa, o vício ou a falta de qualidade de que a coisa padece); a
indemnização por dolo (regime de bens onerados); indemnização pelo não
cumprimento da obrigação de reparação ou substituição (aqui aplicamos o art.910º,
por remissão).
Depois, existe, ainda, o direito à redução do preço, ou seja, se o comprador tivesse
comprado o bem na mesma, mas por um preço inferior, terá direito a esta redução do
preço – art.911º ex vi 913º.
Quanto aos prazos para o exercício destes direitos, existem vários. Existe o chamado
prazo de denúncia e os prazos da proposição de ação. Em primeiro lugar, temos alguns
prazos de denúncia por defeito, no art.916º: o comprador deve sempre denunciar ao
vendedor o vício ou a falta de qualidade da coisa, com uma exceção – quando houver
dolo. Quer isto dizer, que, aqui existe um ónus por parte do comprador, um encargo
que por este, deve ser exercido, para que possa beneficiar de algum direito. A prova da
denúncia tem que ser feita pelo comprador – este tem que provar que fez a denúncia.
A forma da denúncia obedece ao princípio da liberdade de forma – art.219ºCC, o que
significa que pode ser feita de qualquer forma, o que, na prática, torna mais difícil a
prova, daí ser melhor ter algo por escrito.
Então, os prazos, quanto a bens móveis, é de 30 dias depois de conhecido o defeito e
dentro de 6 meses após a entrega da coisa. Realça-se que estes são cumulativos.
Quanto aos bens imoveis, o prazo é de 1 ano, depois de conhecido o defeito e dentro
de 5 anos após a entrega da coisa.
Como no caso em questão, estamos perante um bem móvel, aplica-se o prazo de 30
dias depois de conhecido o defeito e de 6 meses após a entrega da coisa.
Releva dizer que o comprador deve sempre negociar o defeito, exceto em caso de
dolo.
No entanto, para além destes prazos, há mais um que se tem que verificar – art.917º:
este artigo nada tem a ver com a denúncia, é outro tipo de prazo. Este artigo diz-nos
que a ação de anulação deve ser instaurada no prazo de 6 meses a contar da denúncia.
Se neste caso, as partes tivessem colocado uma cláusula a dizer que “o carro será
vendido no estado em que se encontra” – se esta existir, o stand vai-se
desresponsabilizar, isto é, o ónus passa para o comprador, por isso é que se põe a
questão da sua validade. Entende-se que esta é válida nos termos do art.912º ex vi
913º.
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Neste caso, António teria direito à reparação do bem, mas caso esta não fosse
possível, o bem seria substituído.
Nesta frequência, só vai sair até ao término da doação. Ou seja, compra e venda de
coisas defeituosas, e a doação.
Quanto à locação, esta será para orais e para exame.
Quanto à estrutura, será semelhante. Mas, talvez o caso prático seja mais pequeno.
Haverá, em princípio, duas afirmações para comentar.
CASO PRÁTICO
3. Em 2020, Manuel doou à sua sobrinha e afilhada Maria, uma moradia, com a
condição de ela ficar a viver na terra e de não vir a casar. Entretanto, Maria
ganhou uma bolsa de estudo e pretende mudar-se para a Áustria.
Nestes casos, contrato celebrado foi o contrato de doação – arts.940º e ss. CC – que é
definido como um contrato (embora, em alguns casos possa não o ser), porque exige
uma proposta e uma aceitação, na qual o doador, por um espírito de liberalidade e à
custa do seu património, atribuía um direito ou assuma uma obrigação, em benefício
do donatário.
Realce-se que, a doação só caduca, se não for aceite, com a morte do devedor.
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Relativamente ao primeiro caso, está em questão uma doação modal, visto que, ao
donatário é exigido um encargo – que consiste numa restrição imposta àquele que vai
beneficiar da liberalidade, ou seja, vai obrigar o donatário a realizar determinada
prestação, em favor do ator da liberalidade, de um terceiro ou do próprio beneficiário
(art.963ºCC). No enanto, este encargo não pode ser de tal dimensão que vai desvirtuar
aquele espírito de liberalidade.
O que aconteceu neste caso, foi que Bernardo, deixou de cumprir o encargo, podendo
chamar-se à coação, o art.965ºCC.
Como Bernardo não cumpriu o encargo, António pode, de acordo com o art.966ºCC,
optar pela resolução da doação, porque, o donatário não tem uma obrigação principal
(porque estas cláusula de encargos é acessória – daí não podermos ir para o regime
geral).
O contrato tem que manter uma cláusula que preveja a resolução da doação. Mas, por
regra, estas cláusulas não se consagram.
Então, neste caso, António não pode resolver o contrato, porque não houve qualquer
previsão para tal.
Porém, o caso não acaba aqui, visto que Bernardo tentou envenenar António. Por isso,
vamos ver se este facto, tem alguma relevância para o caso. Aqui, abre-se a
possibilidade da doação ser destruída por revogação, e, neste caso, devemos ter
atenção ao art.975ºCC (quando a doação não pode ser revogada por ingratidão: se a
doação for feita para casamento; sendo remuneratória (ou seja, exemplos dos jeeps);
se o doador houver perdoado o donatário). O art.974ºCC tem como epigrafes “casos
de ingratidão”. De acordo com este artigo, para o qual devemos remeter para os
arts.2034º e 2166ºCC.
Neste caso, a tentativa de homicídio é um crime punido com mais de 6 meses de
prisão, o problema é que Bernardo ainda não foi condenado. Então, a revogação da
doação, só pode ter lugar após a condenação de Bernardo.
Devemos ter atenção ao art.976º/1. Vamos imaginar que após dois anos, Bernardo é
condenado. O prazo para invocar a revogação é de 1 ano. Entende-se que temos que
considerar, também a data da condenação – vamos entender que o facto que lhe deu
causa, seria a condenação caso ela tivesse existido, para evitar que o prazo já tenha
passado. Então, este prazo vai começar a contar a partir da condenação.
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Porém, no nosso caso, temos um incapaz, e nesse caso, rege o art.951ºCC, que diz que,
estas pessoas não podem aceitar doações modais. No entanto, quanto a doações
puras estas produzirão efeitos, independentemente da aceitação.
Então, de facto, houve doação.
O problema seguinte é a cláusula de reversão, que, nos termos do art.960ºCC é
admitida pelo ordenamento português. Se o donatário morrer antes do doador, os
bens revertem para o doador, porém, normalmente, o doador pretende que o bem
reverta apenas quando não há descendentes do donatário, por isso, o legislador prevê
as duas hipóteses. Em princípio, a reversão só se dá quando morrer o donatário e os
descendentes ou quando o donatário morra e não deixe descendentes. Se nada for
escrito no contrato, entende-se que só existe reversão quando o donatário e os
descendentes morrem.
Neste caso, existe uma descendente, Carolina, então, a doação não vai reverter e será
esta que vai ficar com o apartamento.
Relativamente ao terceiro caso, temos uma cláusula condicional aposta pelo doador.
Quanto a estas cláusulas rege o art.967ºCC. Temos que remeter este artigo para os
arts.2230º a 2233ºCC e 2186ºCC.
Tendo em conta estes artigos, entendemos que a cláusula estipulada, ou seja, as
condições apostas pelo doador, têm-se por, não escritas – art.2230º/1/2CC.
A Dra. Olinda Garcia entende que tudo o que implica a restrição à liberdade individual,
é nula. Ex: se houver uma cláusula que estipule a condição de alguém ter que ir
passear com o pai todos os dias às 17h.
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