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CASO PRÁTICO 1
1. O senhor A é proprietário do prédio rústico X, localizado na Lousã. Celebrou
com a sociedade de ... do Centro (AEC), um contrato, nos termos do qual, a
esta associação se concedia, pelo prazo de 30 anos, um “direito de usufruto”
sobre tal imóvel, para que os associados aí pudessem desenvolver as suas
atividades de observação e coleta de insetos.
Mais acordaram as partes que a AEC pagaria ao proprietário uma prestação anula, no
valor de 5.000€ e que, em caso algum, poderiam ser colhidos os frutos produzidos
pelas árvores ou permitir o acesso de qualquer outra pessoa, singular ou coletiva, ao
imóvel.
Há 3 meses, A vendeu o prédio X a C e este, agora, impede os membros da ACE de
nele entrarem. D, presidente da associação, consulta-o, para saber se pode reagir
contra esta situação. O que lhe responderia?
Foi constituído um direito de usufruto, para fazerem observação e coleta de insetos.
Entretanto, A vendeu o prédio a C e este não permite que os associados entrem no
imóvel. Logo, existe, aqui, um conflito.
Qual é a primeira coisa a fazer perante um conflito, n que diz respeito ao acesso e
utilização de uma coisa? Temos que qualificar os direitos para descobrir qual a
natureza jurídica do direito, pela qual descobrimos como resolver o conflito. Isto
porque os direitos reais gozam de eficácia absoluto, impõe a terceiros um dever geral
de abstenção. Ora, tendo em conta esta eficácia absoluta, conseguimos o critério de
coordenação e compatibilização dos direitos.
Dizemos, por hipótese, que, se tivéssemos aqui dois direitos reais, ambos com eficácia
absoluta, então, quando C recebe o direito de propriedade, está obrigado a um dever
geral de abstenção em relação ao direito real concedido. Ou seja, a coisa já está
onerada por um direito real anterior, o que significa que C está obrigado a respeitar o
direito real constituído a favor da associação – regra da prevalência, segundo a
doutrina clássica (da eficácia absoluta decorre a prevalência, logo, num conflito entre
diretos reais, vence sempre o primeiramente constituído e num conflito entre direito
real e direito de crédito, vence sempre o primeiro). Segundo a nossa posição, não faz
sentido autonomizarmos a prevalência, porque entendemos que a eficácia absoluta já
resolve este problema.
Guardamos a regra da preferência para os direitos reais de garantia (?).
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Direito das Coisas I 2022/2023
condição de serem pagos os 5.000€ por ano, não podem entrar pessoas não
autorizadas. Esta situação é compatível com algum dos direitos reais? Não é porque as
partes lhe chamaram de “direito de usufruto”, que este o seja, verdadeiramente.
Então, olhamos para o art.1439ºCC, do qual consta a noção de direito de usufruto e
entendemos que, no caso em questão, não está em causa um verdadeiro direito de
usufruto, visto que os frutos não podem ser colhidos, o que significa que o titular deste
direito não tem, pelo menos, a fruição natural. Na noção de direito de usufruto, o
legislador diz-nos que este pressupõe a fruição temporária, mas plena, da coisa.
Além disso, a fruição não é apenas uma faculdade natural, pode ser civil (ex:
arrendamento). Neste contrato, nenhuma outra pessoa singular ou coletiva pode
entrar no imóvel, pelo que não, aqui, nem fruição natural e nem civil.
Ainda, relativamente à prestação anual, as partes tentam introduzir uma obrigação
real, no estatuto do direito real, estando a alterar, usando a liberdade contratual, a
conformação do conteúdo do direito. mas eles podem fazê-lo, porque o legislador o
permite. Caso não haja autorização do legislador, as partes não podem alterar a
conformação do conteúdo do direito.
Portanto, chegamos à conclusão de que este direito constituído a favor da associação
não é um direito de usufruto. Não havendo, no usufruto, nenhuma norma, que
autorize as partes a alterar o conteúdo do direito, tornando-o oneroso, então, mesmo
que estivesse em causa um direito de usufruto, esta estipulação contratual não
poderia ter efeito real, porque se estaria a constituir uma obrigação real atípica (o que
viola o princípio da taxatividade). Seria nulo por violação do princípio da taxatividade?
Não, pois, segundo o art.1306º/1, 1º parte, o legislador salva o negócio e diz que este
terá efeitos obrigacionais, através de uma presunção – presume que as partes teriam
querido que o negócio produzisse efeitos obrigacionais, caso tivessem previsto que
não produzisse efeitos reais.
Qual é o dano? Teríamos um direito de usufruto, ao qual teria sido acrescentada uma
obrigação real atípica. O que fazemos nesta situação é salvar o direito real (de
usufruto) e consideramos que a obrigação real atípica tem apenas efeitos
obrigacionais. Isto não quer dizer que a associação, se fosse titular de um direito de
usufruto, deixasse de ficar obrigada ao pagamento. Teríamos que construir uma
relação complexa.
Isto é muito importante por causa da transmissão do direito real. O direito de usufruto
é um direito transmissível. Enquanto o usufrutuário originário for vivo, podem existir
várias transmissões.
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A seguir temos as servidões reais. Uma servidão – art.1543º - é um encargo posto num
prédio, a favor de outro prédio, pertencente a dono diferente. Também não é o que
está em causa, embora houvesse aqui o encargo da entrada das pessoas (mas este não
é feito em benefício de outro prédio).
No CC não temos mais direitos de gozo, mas sabemos que existem mais dois: direito
real de habitação periódica (time-sharing) e direito real de habitação duradoura. Não
estão em causa, aqui, também.
Mas isto não significa que a associação não possa reagir. O que ela pode fazer é pedir
uma indemnização a A, porque este se colocou numa situação de incumprimento –
regime da responsabilidade civil (contratual).
NOTA: Nós aqui falamos da conjugação entre direitos reais e, para isso, é preciso falar
de um instituto muito importante que é o registo predial.
Existe um caso muito semelhante a este, mas que é diferente. O caso é como
este: A é proprietário de um prédio, no qual estão plantadas macieiras e ele
vendeu a B, todas as maçãs que o prédio produzisse até ao final do ano.
Entretanto, A vendeu o prédio a C. Quando B se preparava para colher as
maçãs, C impede-o. B diz que comprou as maçãs, antes de C ter adquirido o
direito de propriedade. Como resolvemos isto?
O que aqui se passa, é que quando A e B celebraram a compra e venda das
maçãs, haveria a transmissão da propriedade, a obrigação de entrega e a
obrigação de pagamento do preço – art.879ºCC. Este artigo diz-nos que, no
direito português, o mesmo negócio jurídico pode produzir efeitos reais e
obrigacionais, basta o encontro de vontades para que se produzam os efeitos –
princípio da consensualidade (art.408º/1). Os direitos reais constituem-se,
modificam-se e extinguem-se, por mero efeito da vontade.
Para que haja a transmissão ou constituição de direito real, tem que haver
coisa. Os direitos reais incidem sempre sobre coisa certa, determinada e
autónoma.
Ora, no caso em questão, não encontramos uma coisa, certa, nem determinada
e muito menos autónoma. Portanto, temos uma compra e venda de bem futuro
e, sobre bens futuros não podem incidir direitos reais. Então, desta compra e
venda entre A e B não resultavam efeitos reais. Logo, desse contrato só
resultou a obrigação de A entregar a coisa e de B de pagar o preço. O efeito real
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Este princípio vale para todos os direitos reais e não apenas, para a propriedade.
Todavia, o art.408º/1 acautela algumas exceções a este princípio. O art.879º mostra
um elenco dos efeitos essenciais da compra e venda. Se o contrato padecer de um
vício de nulidade, não há, nem obrigações e nem transmissão da propriedade, porque
a nulidade não produz quaisquer efeitos.
Os negócios jurídico-reais, quando têm por objeto imóveis, têm uma forma especifica:
escritura pública ou documento particular autenticado.
Mas, vale realçar que a forma não é uma exceção ao princípio da consensualidade, isto
porque, quando o legislador exige forma, isto significa que a vontade se tem que
expressar por um meio de comunicação específico. Mesmo quando a vontade tenha
de ser expressa, por imposição legislativa, de uma especial forma, ainda assim, os
efeitos reais se imputam à vontade e, por isso, não temos exceção ao princípio da
consensualidade.
É a vontade que tem este poder de produzir efeitos reais, só que esta vontade tem que
se expressar de forma específica – então esta é apenas uma exceção ao princípio da
liberdade de forma, segundo a qual a vontade se pode exteriorizar de qualquer forma -
art.219º.
Na escritura pública, quem poe a vontade das partes num papel, é o notário,
assegurando uma verdadeira imparcialidade entre os sujeitos que se apresentam
perante ele e que eles compreendem as consequências do ato que decidiram celebrar.
Até 2008, em Portugal a escritura pública era obrigatória. Mas, a partir de 2008, o
legislador entendeu que basta o escrito particular autenticado. Esta data é muito
importante por causa da posse!!
O legislador só não baixou o nível de exigência de forma, como, simultaneamente,
permitiu que a autenticação do documento escrito fosse feita por mais sujeitos que
não um notário: conservador; advogados; solicitadores; câmaras de comércio e
indústria.
A escritura pública só pode ser feita por um notário.
A formalização dos contratos serve para assegurar a reflexão sobre os atos que
praticam e a sua importância. É uma forma de tutela dos sujeitos. A forma não
consiste numa forma de exercício de poderes do Estado. É sim, uma forma de
tutela dos sujeitos.
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A ação negatória, como todas as ações reais, tem como causa de pedir o facto jurídico
do qual deriva o direito. isto significa que o autor terá de provar a titularidade do
direito, que pretende ver titulado.
O registo, nada tem a ver com aquisição de direitos reais, a não ser em casos
excecionais. Porque o registo, em Portugal, é meramente declarativo e não
constitutivo. O registo atua à posteriori e serve para dar oponibilidade aos direitos
reais, mas estes já a tinham porque têm eficácia erga omnes. Então dizemos que lhe
dão, porque o registo atua numa situação muito especifica, uns terceiros muito
específicos – aqueles que adquirem de um alguém comum, direitos reais totalmente
incompatíveis (ex: A vende a B um terreno e vende o mesmo terreno a C. Estes direitos
são totalmente incompatíveis. Então, se C registar primeiro, este será o proprietário.
Daí que haja aqui uma exceção ao princípio nemo plus iuris. Se o B tivesse registado o
direito, logo após a aquisição, então seria ele que seria o proprietário e C nunca teria
conseguido registar). A probabilidade destes casos acontecerem é cada vez menor,
porque, em Portugal, neste momento, o registo é obrigatório, sob pena de pagamento
de uma sanção pecuniária. O registo continua a ser declarativo, ainda que seja
obrigatório. Art.5º Código Registo Predial.
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Existe ainda, outro problema. Embora as hipotecas tenham que ser registadas, para se
considerarem verdadeiramente constituídas, a verdade é que o ordenamento jurídico
português, conhece das hipotecas que estão fragilizadas. Porque, acima das hipotecas,
tem que se pagar a outros credores – crédito que possam ser constituídos após a
hipoteca, mas em que estes credores têm preferência sobre os credores hipotecários,
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porque são dotados de garantias reais. Fala-se aqui, de uma exceção à preferência
hipotecária. Estas exceções introduzem risco no nosso sistema de crédito, porque mais
do que essa preferência, elas não conhecem da mesma publicidade que as hipotecas.
Estas exceções (privilégios creditórios) são:
- as taxas de justiça – devidas por causa da execução de um imóvel.
Então, o nosso problema está no incumprimento do contrato promessa. Se ele não for
cumprido pelo promitente vendedor, H tem o direito a pedir uma indemnização a E,
pelo incumprimento, que será, normalmente, o dobro do sinal, que é mais fácil de
calcular.
Este crédito à indemnização, resultante do incumprimento do contrato-promessa, é
um crédito regular. Mas, sempre que haja a traditio, o legislador, concede ao
comprador um direito de retenção. Até ao momento em que foi declarado o
incumprimento do contrato-promessa, H esteve autorizado a utilizar o imóvel. Quando
H declara não cumprido o contrato-promessa e exige a indemnização, ele pode ou
entregar a coisa e depois esperar o sinal em dobro ou recusar-se à obrigação de
entrega da coisa, decorrente do incumprimento do contrato-promessa (retém a coisa
como titular de um direito real de garantia). Este direito de retenção tem preferência
sobre a hipoteca.
Nota: caso de inversão do tipo de posse pela oposição do detentor do direito – art.1265º.
CASO PRÁTICO 2
Em janeiro de 2023, B comprou a A a “Quinta das Amoreiras”, tendo,
imediatamente, iniciado as obras de adaptação do imóvel à instalação de uma casa
de repouso.
Para tanto, vendeu a C, alguns dos pinheiros, plantados numa parte do terreno,
ficado, porém, acordado, que apenas seriam recolhidos em abril de 2023.
Também vendeu a D um automóvel velho que encontrou debaixo de uma pilha de
lenha na garagem e vendeu a E uma antena parabólica, que se encontra instalada no
telhado da casa principal, bem como uma roçadora que era usada por A para limpar
o pinhal.
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NOTA: As partes componentes distinguem-se das partes integrantes. Estas fazem parte da
estrutura da coisa, de modo tal, que, se forem separadas da cisa principal, esta última perde a
sua utilidade. Ex: tijolos, portas, janelas.
sim, doada. A doação de coisa móvel, não funciona como a compra e venda –
art.947º/2. Este artigo diz-nos que a doação de coisa móvel tem que ser celebrada por
escrito, caso contrário, ela tem que ser entregue (nesta existe uma exceção ao
princípio da consensualidade, porque é preciso o acordo das partes e o ato material de
entrega). O legislador dá duas alternativas.
B doou a E a antena parabólica. Caso a doação tenha sido feita por escrito e B já
tivesse separado a antena do telhado, então, o proprietário é E. Caso a doação não
tiver sido feita por escrito e, mesmo que a coisa já tenha sido separada, aí a coisa
pertence a B, porque ainda não houve traditio. Portanto, é não adquire o direito de
propriedade sobre a coisa.
Relativamente à roçadeira, esta é uma coisa acessória – art.210º (coisas móveis que
não constituem partes integrantes, mas que estão afetadas de forma duradoura ao
serviço de uma coisa. Não há ligação material, mas sim uma ligação funcional).
Tudo o que tenha ligação funcional e não tenha ligação material à coisa principal é
coisa acessória.
Tem que haver vontade das partes, no sentido de associar à coisa principal a
propriedade sobre as coisas acessórias – art.210º/2. O que quer dizer que, se na
alienação da quinta a favor de B, nada tiver sido dito, em relação à roçadeira, esta
seria propriedade de B.
A roçadeira foi doada por B a E, mas ela não pertencia a B, porque nada foi dito na
alienação do imóvel. logo, a doação é nula. Não fosse este vício de invalidade
substancial, haveria ainda que ponderar a exceção ao princípio da consensualidade,
nos termos do qual, não tendo sido a atuação celebrada por escrito, o direito de
propriedade só se transmitiria com a traditio.
Em relação ao carro, este é uma coisa móvel – art.205º (tudo o que não for imóvel, é
bem móvel). O carro pertence a A, porque a venda é nula, uma vez que se trata de
venda de bem alheio.
Os pinheiros (é igual ao caso dos frutos). É uma compra e venda de bem móvel futuro.
Os pinheiros não são entendidos como bens imóveis, por isso, não seria precisa a
escritura pública. Até serem colhidos, são considerados partes integrantes. Só no
momento da colheita é que se transmite a propriedade.
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Quando não existe animus e existe apenas corpus, o que existe é uma detenção.
Detentores são aqueles que exercem poderes de facto sobre a coisa sem intenção de
se comportarem como titulares de um direito real.
Quando olhamos para o nosso caso, vemos que A é titular de um direito real. B é
possuidor, porque tem corpus e tem animus do direito real de propriedade. C é o
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detentor, visto que tem corpus, mas não tem animus, não age com intencionalidade de
se comportar como titular do direito real.
Porque é que A não é possuidor? A não tem corpus e nem animus. A perdeu a posse
quando, segundo o art.1267º/1/d), quando se constitui uma posse contrária que dure
mais do que 1 ano.
B adquiriu a posse quando começou a cultivar o prédio. A posse mais antiga cede
perante a mais nova.
A perdeu a posse. B ficou com a posse e C é o possuidor.
(Para o Dr. Mota Pinto, a posse é um direito real provisório, porque destina-se a
desaparecer. Que posse é que tem que desaparecer? A posse formal – aquela que não
é acompanhada pela titularidade de um direito e que se contrapõe à posse causal –
aquela que é acompanhada da titularidade do direito.)
Outra coisa diferente pode acontecer. A pode intentar uma ação de reivindicação e B
pode dizer que já é possuidor há tantos anos, que quer ser reconhecido como titular
do direito – usucapião. As duas linhas vão novamente convergir, mas agora, no
património de B.
Por isso, estas são as principais razoes que levam a doutrina a dizer que a posse é um
direito real provisório, ou porque se vai atribuir a posse ao antigo titular do direito, ou
porque se vai atribuí-la ao possuidor.
A posse causal também tem a sua utilidade, mas aquela cujos efeitos mais interessam
ao direito, é a posse formal.
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A posse tem que ser pública e pacífica. Mas, para efeitos de contagem de tempo,
temos que saber que o tempo da posse necessário varia em função de outras
características, por exemplo, se ela está de boa ou má-fé. Art.1259º.
Não precisamos apenas de saber se a posse é pública ou pacifica, temos que saber se
ela é de boa ou má-fé.
Temos que ter em conta 4 características, que funcionam em pares – arts.1258º e ss. :
- boa ou má-fé – art.1260º
- pacífica ou violenta – art.1261º
- pública ou oculta – art.1262º.
Só que, para caracterizarmos a posse temos que saber de que modo foi adquirida.
Pode ser adquirida de forma originária ou derivada.
A posse é adquirida originariamente, se for estabelecida entre o adquirente possuidor
e a coisa, uma relação direta que não depende da intervenção do anterior possuidor.
A posse é adquirida derivadamente se houver um ato de tradição do anterior
possuidor para o adquirente possuidor.
A posse é adquirida derivadamente, quando existe uma transmissão da posse, do
anterior adquirente, para o novo.
Nós afirmamos que um sujeito é possuidor a partir do momento em que este exerce o
corpus e o animus, mas precisamos de saber o modo de aquisição da posse, porque,
em função deste, são retirados efeitos e consequências jurídicas diferentes, conforme
o modo de aquisição da posse.
No nosso caso, B adquiriu a posse originariamente, porque não houve nenhum ato de
transmissão da posse de A para B – aquisição paulatina da posse (prática reiterada com
publicidade de atos materiais que corresponde ao exercício de direitos reais –
art.1263º/a)).
Posse titulada: é a posse que se funda num título, em abstrato, idóneo, à aquisição do
direito real, nos termos do qual se possui. Quer isto dizer que, depois de termos
identificado o direito real, nos termos do qual se possui (no nosso caso, direito de
propriedade), vamos verificar se existe um modo de aquisição desse direito real, que
corresponda ao modo de aquisição da posse. Vamos ver se esse direito real, nos
termos do qual se possuir, pode ser adquirido da mesma forma que se adquiriu a
posse.
Como falamos de direito de propriedade, recorremos ao art.1316º - regime jurídico do
direito de propriedade -, que nos mostra que a posse de B não é titulada (a usucapião
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Posse não titulada: esta presume-se, sempre, de má-fé. Ou seja, a posse de B presume-
se de má-fé, mas, realce-se, que esta presunção é ilidível. Se se conseguir afastar esta
presunção, provando a boa-fé, o prazo deixa de ser de 20 anos, para passar a ser de
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Como se afasta a presunção de má-fé? Provando, – art.1260º - que o possuidor
ignorava no momento da aquisição que estava a lesar direito de outrem.
Chegamos à conclusão que B tem uma posse não titulada, porque o modo de aquisição
da sua posse não tem correspondência nos modos de aquisição do direito, nos termos
do qual possui – que é o direito de propriedade.
Não há dúvida nenhuma que a usucapião funciona apenas para os direitos reais de
gozo, à exceção do uso e de habitação. Pressupostos de funcionamento da usucapião:
posse, pública e pacífica; tempo; e invocação, porque ela não funciona
autonomamente.
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A posse pode ser exercida por intermédio de outrem, que, neste caso é C, o
arrendatário, que é um mero detentor – art.1253º/a). a detenção, de 2017 até cá, não
perturba a posse de B.
Art.303º, 2º parte – sendo C representante do possuidor, ele pode invocar a aquisição
por usucapião, em nome e benefício de B, na ação de reivindicação.
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ela ainda não foi cumprida, e houve, entretanto, transmissão do direito real que
sustenta a obrigação, no nosso caso, o direito de usufruto.
Há quem diga que todas as obrigações são ambulatórias e que, uma vez constituídas
seguem o titular do direito real. Mas, nós não seguimos esta posição, seguimos a
posição do Dr. Henrique Mesquita, que diz que devemos encontrar regras de cada tipo
de obrigação. Dr. Henrique Mesquita concluiu que as obrigações de facere, devem ser
consideradas ambulatórias, ou seja, seguem o direito, já as obrigações de dare, serão,
por princípio, não ambulatórias, cristalizam-se na esfera jurídica do sujeito que for
titular do direito real, no momento da sua constituição, mas se o estado em que a
coisa se encontra revelar a necessidade do cumprimento dessa obrigação de dare, elas
são ambulatórias.
Então, no nosso caso, quem tem poder direito e imediato sobre a coisa é A, o que já
não acontece com C. Portanto, Dr. Henrique Mesquita diz que quem deve pagar é A,
porque está em causa uma obrigação de facere.
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O art.1267º consagra as causas da perda da posse. O B não teve posse suficiente para
a enquadrarmos na alínea b) deste artigo e ele perdeu a posse por cedência – alínea c).
Portanto, isto quer dizer que temos dificuldade de encontrar, no A, o modo de perda
da posse. A só perdeu a posse em relação às duas primeiras frações em 2006, mais um
dia e das outras duas em 2008, mais um dia – alínea d).
Quanto à posse de B, esta é uma posse não titulada, porque não se funda num título
em abstrato idóneo à aquisição do direito de propriedade. Sendo não titulado,
presume-se de má-fé. é uma posse pacifica, porque foi adquirida sem coação. É uma
posse oculta, visto que não é exercida de maneira a ser conhecida pelos interessados.
A aquisição destes factos é uma aquisição derivada por aquisição real, não sabemos se
houve apenas uma simbologia de entrega.
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que se elidir essa presunção (provando que não estavam a lesar direito de outrem),
para que o tempo de aquisição por usucapião, seja reduzido para 15 anos. Caso não
consigam elidir não podem invocar a usucapião, porque aí o prazo seria de 20 anos.
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CASO PRÁTICO
Em 2010, A vendeu a B, por escritura particular, um prédio de habitação. 10 anos
depois, B deu de arrendamento a C. Poucos meses depois, C é convencido por D de
que é este o verdadeiro proprietário do bem, celebrando, então, com ele, um
contrato de compra e venda.
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(na inversão do título da posse pro ato de terceiro, tem que aparecer um terceiro que
não é possuidor e que celebre com o possuidor um ato apto a ...).
E adquiriu derivadamente por tradição real, uma aquisição derivada. É uma posse não
titulada, porque há vicio de forma e, por isso presume-se de má-fé. É uma posse
pacífica e, pública, pelo menos em relação a B. E adquiriu há pouco tempo a sua posse,
por isso não valeria a pena invocar a sua usucapião. Acessão também não pode haver,
porque a posse de C era originária.
Então, deveria devolver o bem a F, mas podia tentar provar a sua posição através do
regime jurídico das benfeitorias da posse – art.1273º e ss. Este regime das benfeitorias
da posse, depende das benfeitorias que foram feitas: se são úteis, necessárias ou
voluptuárias. Neste caso, não nos é dito que benfeitorias foram feitas.
Para saber, temos que recorrer ao art.216ºCC.
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CASO PRÁTICO
A e B são comproprietários de um apartamento, localizado no centro da cidade de
Coimbra. Dois andares abaixo, vive C, que adotou, há cerca de 3 meses, um cão que
passa o dia sozinho na varanda. C não tem os cuidados necessários para assegurar a
higiene do espaço, de modo que e com particular intensidade nas últimas semanas,
A e B foram obrigados a dormir na sala, já que o cheiro nauseabundo, os impede de
usar o quarto da moradia.
Desesperados cm esta situação, A e B consultam-no para saber se e como podem
reagir. Que lhes responderia?
Temos aqui uma situação de conflito de vizinhança no âmbito da propriedade
horizontal. Se nós tivermos uma situação em que o proprietário de um prédio rústico
constrói neste prédio, um edifício e dividiu-o em frações, em apartamentos. Na
construção, está apenas uma única coisa, uma vez que os direitos incidem sobre coisa
certa, determinada e autónoma. Então, o proprietário, não pode vender uma fração a
A, porque não podemos ter mais que um direito de propriedade sobre a mesma coisa.
Para ele poder vender cada apartamento a uma pessoa diferente, tem que fazer de
cada um uma coisa certa, determinada e autónoma – isto é, sujeitando-os ao regime
da propriedade horizontal.
Quando o legislador se refere a negócio jurídico – art.1417ºCC, ele refere-se a um
negócio jurídico unilateral – a autonomização não é material, como no caso dos frutos,
mas sim jurídica, segundo Mota Pinto.
Então, passou a haver 6 direitos de propriedade horizontal, dos quais o proprietário
pode fazer o que quiser, nomeadamente vender. Naturalmente, este problema não se
coloca se o proprietário quisesse fazer apenas um contrato de arredamento.
Realce-se que é possível haver propriedade horizontal, vertical – umas ao lado das
outras.
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A e B podem reagir, porque as emissões que provem do prédio de C são ilícitas. E como
podem reagir? Pelos mesmos meios de tutela da propriedade: ações de prevenção
contra danos; ação confessória (permitir pedir ao tribunal que declare a existência de
um direito que por alguma razão se tornou objeto de dúvida); ação negatória; ação de
reivindicação. Só a ação de reivindicação está prevista no CC no art.1311ºCC.
A ação negatória serve para reagir contra posse e detenção ilegítimas.
Eos pedidos que caracterizam a ação negatória, são o que declare a inexistência na
esfera jurídica do réu de um direito que permita atuar no direito real. Pede-se também
que seja reconstituída a ... material tal como existia antes. Havendo justo receio de
que se venham a repetir, no futuro, atos semelhantes, pode pedir-se também que o
tribunal condene o réu a, no futuro, não reincidir nestes atos.
Esta seria a ação indicada a intentar na defesa de A e de B.
O legislador parece tender para a teoria da comunhão, mas aqui, não defendemos
isso.
Os direitos dos comproprietários podem ser quantitativamente diferentes.
CASO PRÁTICO
Tendo decidido casa, em julho de 2023, A e B compraram uma casa em conjunto,
tendo a escritura pública sido lavrada em fevereiro deste ano. Porém, B decidiu
cancelar o casamento e, em abril, aproveitando o facto de A estar ausente do país,
vendeu a casa a C, que, neste momento, até já habita o imóvel.
Poderá A intentar uma ação de preferência contra B e C?
nós devemos atentar que a alienação de quota e de coisa estão sujeitas a regras
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Na nossa situação, o objeto da alienação de B não foi a quota mas a coisa. Aqui, o
regime é diferente – art.1408º/1CC. O comproprietário não pode fazer o que entender
para alienação do bem, os comproprietários têm que atuar em uníssono.
B alienou toda a coisa, sendo esta proibida, evidentemente. Mas o legislador refere-se
a “parte ...” porque é mais tendencial que os comproprietários alienem uma coisa que
entendem corresponde à sua quota parte. Se houver alienação da coisa ou de parte
especificada, o negócio é nulo. Para os restantes consortes, o negócio é como se não
existisse.
Não fz sentido intentar uma ação de preferência nesta situação, porque o negócio é
nulo, muito menos, sendo ele comproprietário do imóvel.
O que A pode fazer, é intentar uma ação de reivindicação, já que C já vivia no imóvel –
precisamente para recuperar o domínio de facto sobre a coisa, pois C tem um direito
de propriedade ilícito.
CASO PRÁTICO
1. A, B e C, adquiriram um automóvel para as suas deslocações quotidianas na
cidade de Coimbra. Acordaram ainda, na divisão da utilização do automóvel,
por turnos, de 3 meses. Enquanto decorria o seu turno, A decidiu inscrever-se
numa prova de perícia automóvel. B e C, pretendem impedi-lo de usar o carro
nessas condições.
Poderão fazê-lo?
Neste caso, temos três problemas diferentes: um que tem a ver com o uso
comum; outro a ver com a administração ordinária; e outro de um ato de
administração extraordinária.
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Direito das Coisas I 2022/2023
Usar a coisa comum e administrar a coisa comum são duas coisas diferentes.
Neste caso, A quer utilizar o carro para fazer perícias automóveis. Ora, isto
prejudica o fim a que a coisa se destina? Pode ou não (são aceitáveis várias
respostas).
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art.1406ºCC, porque este artigo nos diz eu todos os comproprietários têm direito a
usar a coisa, desde que não a usem com a fim diferente daquele a que a coisa se
destina e não impeça a utilização por parte dos outros consortes. Ora, o projeto de B
impedia que A usasse o apartamento.
Mas o art.1406º (norma supletiva) porém, nada impede os consortes de disciplinar o
uso da coisa de forma diferente da que sugere o artigo. O legislador concede um
grande espaço de abertura no direito de propriedade titulado em comunhão. O
legislador sugere uma forma de compatibilização dos interesses dos consortes.
Sendo certo que, tudo o que implica alteração do estatuto da compropriedade, tem
que passar, necessariamente, pelo acordo de todos os consortes, mesmo que desse
acordo resulte que só um deles vai usar o bem – teoria da comunhão (todos têm que
concordar com a decisão da mudança de regime jurídico).
Portanto, este pré-problema é fácil de resolver. B não pode utilizar o apartamento
para viver com a sua família, a não ser que, com B concordo com tal.
Mas o problema aqui, é das obras. A decidiu fazer uma transformação radical do bem
comum. Até quando, o facto de A ser administrador seria relevante? Os
comproprietários podem decidir que apenas um deles seja administrador do bem.
portanto, não há problema em decidir que A seja administrador. Mas, sendo ele
administrador não cabem sobre eles as competências desta mudança radical do bem,
porque não cabe na administração ordinária do bem (é administração extraordinária
tudo o que vá para alem do uso e fruição do bem). Ora, temos aqui um ato de
administração extraordinária – art.1024º: Dr. Henrique Mesquita analisando a
compropriedade, chegou à conclusão que este instituto serve para proporcionar a
vários sujeitos a possibilidade de usufruírem, normalmente, do bem, mas sempre no
entendimento que haveria uma utilização normal do bem. Daí que, mesmo sendo
todos administradores, pode apenas um deles tomar a decisão relativamente a atos de
administração ordinária.
Logo, isto nos impele quando chamarmos à decisão, todos os comproprietários. Tudo o
que vá para além do ordinário, implica que todos os consortes se pronunciem sobre o
assunto. A administração extraordinária cabe nos poderes de exercício unânime.
O Dr. Henrique Mesquita encontrou fundamento legal no art.1024º, relativo ao
arrendamento. O nº2 diz que, quando. Objeto do concreto seja um prédio indiviso,
todos os consortes têm que se pronunciar sobre o negócio de arrendamento, por
escrito, antes ou depois do negócio, sob pena deste ser válido. Portanto, no âmbito da
compropriedade, for celebrado um contrato de arrendamento por menos de 6 anos,
temos um ato de administração ordinária cujo regime escapa ao art.1407º. Se o
arrendamento for por mais de 6 anos, é um ato de administração extraordinária e
também todos os consortes se têm que pronunciar.
Então, se para os atos de administração ordinária todos se têm que pronunciar, Dr.
Henrique Mesquita entendeu que, por maioria de razão, nos atos de administração
extraordinária, tem que haver o consentimento de todos os consortes.
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Naturalmente, sendo o ato de A ilícito, B não tem que participar nas despesas. Não se
aplica, aqui, a regra de que os comproprietários participam na medida das suas quotas,
nos encargos.
CASO PRÁTICO
A é proprietário de um prédio rústico e decidiu, nele, elevar um edifício de 5 andares,
com um apartamento por piso.
Terminadas as obras e para auxiliar o seu amigo B, que passava dificuldades
financeiras, A, por escrito particular, declarou constituir um direito de usufruto sobre
o primeiro andar.
Quando, porém, se dirigiram ao notário, para autenticar o documento, este recusou-
se a fazê-lo, afirmando que, o primeiro andar não é coisa suscetível de constituir
objeto de um direito real.
Terá razão? Que conselho daria a A?
A pretendia constituir um direito de usufruto a favor de B. Era necessário autenticar
por escrito particular o direito de usufruto? Era, porque se trata de um negócio jurídico
real quanto aos seus efeitos, que tem por objeto um imóvel. No entanto, temos um
problema – o notário não autenticou, porque não havia coisa suscetível de constituir
direito real. Ora, o notário tem razão - está em causa um prédio urbano, mesmo que,
materialmente, o edifício corresponda a um objeto de propriedade horizontal. É
necessário que o titular do direito de propriedade quer substituir o direito de
propriedade ordinário, por tantos direitos de propriedade horizontal, quantas frações
pretenda edificar – temos que ter coisa certa, determinada e autónoma.
Portanto, é o proprietário que decide qual regime jurídico quer ver dominado a
construção.
Portanto, este usufruto é impossível.
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