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CASOS PRÁTICOS- DIREITO DAS COISAS

DIREITOS REAIS VS DIREITOS DE CRÉDITO

NOTA:

Características dos direitos reais: 1) INERÊNCIA; 2) EFICÁCIA ERGA OMNES (DEVER GERAL DE
ABSTENÇÃO); 3) FORTE TUTELA; 4) SEQUELA; 5) PREFERÊNCIA/PREVALÊNCIA (art. 5º crp º 291º CC);

1. PREVALÊNCIA- DIREITO PESSOA DE GOZO VS DIREITO PESSOAL DE GOZO


A deu de arrendamento a B uma casa de praia durante o mês de Agosto. B pagou a renda
antecipadamente. De seguida, A deu de arrendamento a mesma casa, pelo mesmo período de tempo, a
C. B, no dia 1 de Agosto chegou à casa e o C já lá estava instalado com a sua família. Quem teria direito a
lá ficar?
O direito de arrendamento é um direito pessoal de gozo que deve ser entendido como um tertium genus a
organizar entre o Direito Real (visto que após traditio, o poder por ele conferido é imediato e direto) e os Direitos
de Crédito (visto que não existe uma relação de soberania como nos direitos reais, mas sim uma relação
obrigacional) - e porque é assim, são eficazes inter partes.
Neste caso A deu de arrendamento a casa a B e C no mesmo mês, sendo atribuídos dois direitos pessoais de
gozo incompatíveis a dois sujeitos diferentes.
Este conflito é dirimido pelo art. 407º CC, no qual se dá prevalência ao direito primeiramente constituído, em
detrimento do critério da detenção- a característica de prevalência não é exclusiva dos direitos reais, porque
existe também nos direitos pessoais de gozo (nos direitos de crédito, em regra, não há qualquer prevalência).
Deste modo, tendo sido o contrato celebrado primeiro com B, o direito de usar a praia durante o mês de agosto
será dele.

2. PREVALÊNCIA- DIREITO REAL VS DIREITO DE CRÉDITO; PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE


A celebrou contrato de recolha de tangerinas com B, sendo que este podia recolher todas as tangerinas
que o terreno produzisse, durante 20 anos. Em fevereiro de 2022, A vendeu a C por documento particular
autenticado o seu prédio, e C agora não permite que B recolha as tangerinas. B consulta-o para saber se
pode opor-se à posição de C. Que lhe responderia?
No caso sub judice, estamos diante um contrato celebrado entre A e B, que pressupõe a recolha de tangerinas
por parte de B durante 20 anos- B goza assim de um direito de crédito sobre o prédio em causa.
O direito de A, antes de fevereiro de 2022, era um direito de propriedade sendo que este, o proprietário, podia
usar, fruir e dispor da sua coisa, de modo pleno e exclusivo (artigo 1305º do CC). Em 2022, A vendeu o seu
prédio (bem imóvel - artigo 204º/1/a) do CC) a C, através de um documento particular autenticado a C, tendo
sido transmitida a propriedade de A para C. Uma vez que a forma constante da lei foi observada, entendemos
que o negócio é válido (artigo 875º do CC). Contudo, C não permite que B recolha as tangerinas.
Relativamente aos direitos reais, que gozam de eficácia absoluta e são oponíveis erga omnes, devemos
distinguir as características de prevalência e sequela. Enquanto que a sequela é o poder reconhecido ao titular
do direito real de seguir a coisa onde quer que ela se encontre, quando se encontre privado do exercício dos
poderes sobre ela, a preferência manifesta-se em caso de conflito- como tal, os direitos reais afastam os
direitos de crédito e direitos pessoais de gozo que tenham sido constituídos posteriormente ou
anteriormente, e os direitos reais que tenham sido posteriormente constituídos.
Deste modo, como o direito de B é um direito de crédito, em virtude da regra da preferência, o direito real de
C, mesmo posteriormente constituído, prevaleceria face a B, já que é eficaz erga omnes. Portanto, B veria a sua
posição ceder perante o direito de propriedade que foi transferido para C.
Por outro lado, imaginemos, porém, que as partes pretendiam que o direito de B fosse um direito real, ou seja,
com eficácia absoluta. De acordo com o artigo 1306º do CC, que consagra o princípio da taxatividade, apenas
existem os direitos reais previstos na lei, e, portanto, as partes não podem constituir outros direitos reais.
Contudo, ao atender às características do direito de B, apesar de poder ser integrado na categoria dos direitos
reais de gozo, não se encaixa em nenhum, tendo por base a letra da lei. Sendo assim, uma vez que não
consubstancia um direito real, a solução seria a nulidade, pela violação de uma norma imperativa que é o
princípio da taxatividade. No entanto, a regra favor negotti consagra uma solução face a esta nulidade. A
conversão do negócio declarado nulo num negócio válido, através do artigo 293º do CC, bastando para isso
que o negócio convertido respeite os requisitos formais e substanciais e que corresponda à vontade das partes.
Mas, acresce que, o negócio em causa, apenas teria eficácia obrigacional, isto é, inter partes. Como tal, uma vez
que apenas tem eficácia inter partes, o seu direito não seria oponível ao direito de propriedade de C, e, então,
teria de ceder novamente ao direito de propriedade atribuído a C.
2.1. PRINCÍPIO DA CONSENSUALIDADE; FORTE TUTELA (DEVER GERAL DE ABSTENÇÃO);
PRETENSÃO REAL
Entretanto, D, contratado pela Câmara Municipal de Coimbra, no âmbito da requalificação de obras
nas margens do rio Mondego, decidiu depositar no terreno de C 3 toneladas de areia. C exige que D
limpe o terreno. Mas este recusa-se a fazê-lo alegando que o proprietário do terreno é A, já que que é
quem se encontra inscrito no registo predial como proprietário do imóvel. Terá razão?
De acordo com o artigo 408º/1 do CC, que consagra o princípio da consensualidade, a constituição,
modificação ou extinção dos direitos reais ocorre por mero efeito do contrato, ressalvando as exceções
previstas na lei (artigo 947º/2, 669º e 681º/2 do CC). Sendo assim, uma vez que os direitos reais se constituem
por mero efeito de contrato e a venda de um bem imóvel não se encontra numa das exceções previstas para
o princípio da consensualidade, o C adquiriu o direito de propriedade. Em 2022, A vendeu o seu prédio
(bem imóvel - artigo 204º/1/a) do CC) a C, através de um documento particular autenticado a C, tendo sido
transmitida a propriedade de A para C. Uma vez que a forma constante da lei foi observada, entendemos
que o negócio é válido (artigo 875º do CC), portanto, poderá produzir os seus efeitos reais, sendo oponível
erga omnes (princípio da causalidade que deverá ser conjugado com o princípio da consensualidade).
Sendo assim, D não tem razão, já que o registo em Portugal tem apenas efeitos declarativos.
Como tal, o direito de C é um direito real, e, de acordo com as regras da forte tutela e sequela, o titular do
direito real pode seguir a coisa onde quer que ela se encontre, bem como, os terceiros ficam onerados com
o dever geral de abstenção, impendido-os de praticar atos que impeçam o exercício do direito de
propriedade- assim, não tendo C autorizado D a usar o terreno para depositar areia, em consequência, D
será obrigado à remoção da areia do terreno e à indemnização pelos danos sofridos por C.
Deste modo, surge uma pretensão real que é uma relação jurídica de natureza obrigacional em que
intervém o titular do direito real, como credor, e o sujeito que interferiu no exercício desse direito, como
devedor.
No entanto, para que o direito de C seja oponível a determinados terceiros, nomeadamente os do artigo
5º/4 do Código do Registo Predial, ou seja, terceiros que tenham adquirido de um autor comum direitos
incompatíveis entre si, é necessário proceder ao registo, já que os factos sujeitos a registo, como é o direito
de propriedade (artigo 2º/1/a) do Código do Registo Predial), apenas podem produzir efeitos em relação a
terceiros depois de efetuado o registo. Porém, apesar de C não ter procedido ao registo, D não detêm de
um direito sobre aquele imóvel, portanto, apenas terá de cumprir com o dever geral de abstenção face ao
direito de C→ no entanto, a situação poderia mudar se D tivesse celebrado com A, por exemplo, uma
servidão predial (1543º CC), ao invés de um acordo com eficácia meramente obrigacional. Neste caso, como
a servidão predial é um direito real de gozo menor, e tendo sido constituído antes do direito de C, impor-
se-ia a este, nos mesmos termos em que anteriormente já se imporia a A.

3. PREVALÊNCIA; HIPOTECA; DIREITO DE RETENÇÃO


A, em 2006, recebeu de B, a título de mútuo a quantia de 200.000 euros, tendo sido acordado que a
quantia deve ser paga até ao final de 2020 e que se constituiria a favor da credora uma hipoteca sobre
um apartamento que A é proprietária- a hipoteca foi registada em 2006.
Entretanto, em 2018, A contratou C para realizar uma obra no apartamento, ficando acordado que o
montante de 30.000 euros das obras devem ser pagos até outubro de 2019- na data, A não consegue
pagar a C, que desde outubro de 2019 que não deixa A entrar no apartamento até o valor das obras lhe
serem pagos.
B quer saber se a sua posição está prejudicada. Quid iuris?
A hipoteca é um direito real de garantia que pode incidir sobre bens imóveis (204º+ 688º CC) e que confere ao
titular o direito de ser pago pelo valor da coisa com preferência em relação aos restantes credores. Este
elemento de preferência surge com o registo (natureza constitutiva do registo-687º CC e 4º crp). É também
este elemento que permite que se constitua, sobre a mesma coisa, vários direitos reais de garantia, incluindo a
hipoteca (713º CC), sendo que sobre a mesma coisa podem ser constituídas várias hipotecas, valendo a regra
prior in tempore, havendo preferência de pagamento dos credores titulares dos direitos reais em função da data
de constituição destes.
Para alem de várias hipotecas, pode ainda haver sobre o mesmo bem, a constituição de uma hipoteca e um
direito de retenção (direito real de garantia- 759º CC) - que é o que acontece neste caso. Para além da hipoteca
constituída em 2006, constitui-se, a favor de C um direito de retenção. Ora, uma vez que a hipoteca foi
constituída antes do direito de retenção, deveria valer a regra prior in tempore. Porém, segundo o nº2 do art.
759º CC, o direito de retenção prevalecerá sobre a hipoteca, mesmo que esta tenha sido constituída antes.
Numa manifesta exceção à regra de prevalência, C tem direito a ser paga antes de B.
OBRIGAÇÕES REAIS

1. A é proprietário de um extenso pomar. Em janeiro de 2010, concedeu a B, por um período de 50 anos, o


direito de mantê-lo com a entrega anual de 50kg de compota de laranja e de uma prestação anual no
valor de 2 000€, obrigações estas que deviam ser cumpridas todos os dias 31 de dezembro. Em janeiro
de 2021, B transmitiu o seu direito a C. Há cerca de 2 semanas, A entrou em contacto com C para exigir o
cumprimento daquelas 2 obrigações correspondentes ao ano de 2020, bem como, das relativas ao ano
de 2021. C, porém, afirma que nada tem a ver com o acordo celebrado entre A e B, pelo que, não só se
recusa a satisfazer as pretensões de A, como logo adianta que não se considera devedor para o futuro de
qualquer uma das prestações. Terá razão?

O direito de A é um direito de propriedade, sendo o direito real de gozo mais amplo, uma vez que o proprietário
goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso (art. 1305º CC).
Do contrato de constituição do direito de superfície (art. 1524º CC) entre A e B resultou, para B, a obrigação de
entrega anual de 50kg de compota de laranja e de uma prestação anual no valor de 2 000€.
Ora, as obrigações reais são obrigações de conteúdo positivo que oneram o titular de um direito real pelo simples
facto de o ser (obrigações “propter rem”) - embora as obrigações reais estejam sujeitas ao princípio da
taxatividade (pois pertencem ao estatuto de direitos reais), isto não significa que a fonte das obrigações reais seja
exclusivamente a lei. Na verdade, por vezes, a fonte da obrigação real é a vontade das partes, sendo certo que este
poder de conformação do conteúdo do direito tem de ser atribuído diretamente da lei- o cânone superficiário é
uma dessas situações, como comprova a letra do art. 1530º CC: no ato de constituição do direito de superfície pode
convencionar-se o pagamento de um preço a ser pago anualmente pelo tempo determinado pelas vontades das
partes. Assim, a obrigação de entrega anual de 2000 euros é uma obrigação real.
Resta agora saber como se comporta a obrigação real uma vez que é transmitida- se as obrigações de “facere” são
ambulatórias, as de “dare” não o são. Por isso, aquando da transmissão do direito, as obrigações de “dare”
autonomizam-se no património do devedor, que fica onerado ao cumprimento, apesar de já não ser titular do direito.
No entanto, havendo prestações futuras, fica o novo titular do direito a cumpri-las nos exatos termos acordados, sem
prejuízo de revisão nos termos da obrigação real por parte do novo titular.
Como tal, a prestação anual é uma obrigação de “dare”, ou seja, não é uma obrigação ambulatória- assim, B terá de
pagar terá de responder até 2021 pelo não pagamento anual e não C. C poderá ser exigido pela quantia de 2000
euros a partir de 2021, dado que o cânone superficiário faz parte do conteúdo do direito real, acompanhando-o,
tendo eficácia erga omnes.
Ora, no que toca à obrigação de entrega anual da compota das laranjas, esta não configura uma obrigação real,
dado que o artigo 1530º/3 CC ressalva às prestações em dinheiro, e sendo a entrega de laranjas uma prestação em
género, não se trata de uma obrigação real- porém pode referir-se como uma obrigação autónoma, visto que o
princípio da taxatividade confere eficácia obrigacional, quando não prevista na lei (art. 1306º/1 CC). Como tal, visto
ser uma obrigação autónoma, A não a poderá exigir a C, visto ter eficácia inter partes- terá de exigir o cumprimento
a B.

2. A, proprietário de uma vivenda, constituiu a favor de B um direito de usufruto. Com o decurso do tempo
as telhas estragaram-se o que está a gerar problemas de infiltrações desde Dezembro passado. Em Março,
B doou o usufruto a C. Hoje, A, o proprietário, exige que C proceda às reparações necessárias. Quid juris?

O direito de A é um direito de propriedade, sendo o direito real de gozo mais amplo, uma vez que o proprietário
goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso (art. 1305º CC). A constitui a favor de B um direito de usufruto
(art. 1439º CC).
Ora, as obrigações reais são obrigações de conteúdo positivo que oneram o titular de um direito real pelo simples
facto de o ser (obrigações “propter rem”), sendo a obrigação constante no art. 1472º CC uma obrigação real, sendo
que nos diz este mesmo artigo no nº1: “Estão a cargo do usufrutuário tanto as reparações ordinárias indispensáveis
para a conservação da coisa como as despesas de administração”.
Resta agora saber como se comporta a obrigação real uma vez que é transmitida- se as obrigações de “facere” são
ambulatórias, as de “dare” não o são. Por isso, aquando da transmissão do direito, as obrigações de “dare”
autonomizam-se no património do devedor, que fica onerado ao cumprimento, apesar de já não ser titular do direito.
No entanto, neste caso, estamos perante uma obrigação real de “facere”, sendo uma obrigação ambulatória, na
medida em que sendo transmitido o direito real, o até aí obrigado deixa de ter legitimidade para fazer o que quer
que seja sobre a coisa- assim, quem tem que cumprir a obrigação de reparação é C. Sem prejuízo, porém, da
renúncia do direito que sustenta a obrigação (o usufruto) em favor do proprietário (A), caso em que a propriedade
previamente onerada deixa de o estar, regressando pois às suas fronteiras originais (características de elasticidade)
- 1472º/3 CC; esta é uma renúncia liberatória que implica a extinção do direito real, através de uma declaração
unilateral, receptícia e de caracter oneroso.
PRINCÍPIOS ORIENTADORES DOS DIREITOS REAIS
Partes componentes e parte integrantes:

o Partes componentes→ constituem a estrutura da coisa, e sem elas, estaria incompleta ou imprópria
para uso (p.e., porta da casa, tijolos das paredes…). Assim, ainda que possam ser objeto de negócios
jurídicos (têm individualidade própria), não podem ser levantadas sem prejuízo da coisa a que se
encontram ligadas;
o Partes integrantes→ (art. 204.º/3 CC) são as coisas móveis unidas materialmente com carácter de
permanência a um prédio, tornando-o mais produtivo, seguro, cómodo ou bonito. Assim, ainda que
sejam individualizáveis, têm uma função instrumental, embora a coisa não deixe de existir completa
e idónea ao uso a que se destina sem elas.

Coisas acessórias (art. 210º CC): As coisas acessórias ou pertenças são as coisas móveis que, não constituindo
partes integrantes, estão afetadas de forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outra (p.e., recheio de
uma casa - art. 210.º/1 CC). Assim, são certas, autónomas e determinadas, pelo que não são abrangidas pelos
negócios jurídicos que tenham por objeto a coisa principal, a menos que as partes convencionem em
contrário (art. 210.º/2 CC).

1. NOÇÃO DE COISA; PRINCÍPIO DA CONSENSUALIDADE


B vendeu a G, em Junho de 2019 uma moradia; quando se preparava para iniciar as obras de restauro, G
descobriu uma boneca de porcelana numa arrecadação do imóvel, que juntamente com os frisos de
madeira que rematavam o teto da sala da sala de jantar, vendeu a H. Acordaram, todavia, as partes que a
entrega de ambos os bens seria feita apenas em Maio desse ano.
Chegado o mês do combinado, G afirmou estar impossibilitado de cumprir a obrigação de entrega dos
frisos a H, uma vez que tinha vendido a moradia a S. Por outro lado, embora tenha ficado com a boneca,
pois S não tinha interesse na mesma, tem dúvidas se realmente a pode entregar a H, já que B lhe enviou
um sms a pedir a boneca, visto ter valor familiar.
Afinal, a quem pertencem os frisos e a boneca??
No que toca as alienações da moradia, de B para G e de G para S: de acordo com o artigo 408º/1 do CC, que
consagra o princípio da consensualidade, a constituição, modificação ou extinção dos direitos reais ocorre por
mero efeito do contrato, ressalvando as exceções previstas na lei (artigo 947º/2, 669º e 681º/2 do CC). Sendo
assim, uma vez que os direitos reais se constituem por mero efeito de contrato e a venda de um bem imóvel não
se encontra numa das exceções previstas para o princípio da consensualidade, G adquire o direito de
propriedade de B, e posteriormente S adquire de G. Uma vez que a forma constante da lei foi observada,
entendemos que o negócio é válido (artigo 875º do CC), portanto, poderá produzir os seus efeitos reais, sendo
oponível erga omnes (princípio da causalidade que deverá ser conjugado com o princípio da
consensualidade).
Não havendo vícios na transferência de propriedade, avaliemos então a questão dos frisos primeiramente: ora,
os frisos são partes integrantes (art. 204.º/3 CC), sendo as coisas móveis unidas materialmente com carácter de
permanência a um imóvel (moradia), tornando-o mais produtivo, seguro, cómodo ou bonito. Assim, ainda que
sejam individualizáveis, têm uma função instrumental, embora a coisa não deixe de existir completa e idónea ao
uso a que se destina sem elas- por lhes faltar o requisito de autonomia, os frisos pertencem ao proprietário do
imóvel, por força da regra segundo a qual o proprietário é dono do solo e de tudo aquilo que nele se encontrar
(superfícies solo cedit- 1344º CC). Assim, se compreende a solução que se encontra no nº 2 do art. 408º CC: o
direito de propriedade sobre parte integrante apenas se transfere para o comprador uma vez que ela seja
separada da coisa principal; ou seja, só quando os frisos forem separados da coisa principal é que entra em
ação o princípio da consensualidade (até lá, o contrato de compra e venda dos frisos apenas tem efeito
meramente obrigacional), pois só depois da separação é que se torna autónoma, certa e determinada,
suscetível de constituir o objeto dos direitos reais. Porém, antes da separação dos frisos, G vendeu a moradia a
S, sendo este último o proprietário da moradia, e, portanto, dos frisos- o contrato de G e H tem então um efeito
meramente obrigacional, não sendo oponível a S. Sem prejuízo, de H requerer pagamento de indemnização
por incumprimento do contrato de compra e venda, nos termos gerais da responsabilidade civil.
Já a boneca é coisa autónoma e determinada (210º CC), pelo que não foi abrangida pelos negócios jurídicos
que tenham por objeto a coisa principal (moradia), a menos que as partes convencionem em contrário (art.
210.º/2 CC); assim, a boneca ainda pertence a B, e por isso, deve ser devolvida por B, sob pena de intentar uma
ação de reivindicação, requerendo a devolução da coisa- a venda da boneca entre G e H é venda de coisa alheia,
e, portanto, negócio ferido de nulidade (892º CC).
2. PRINCÍPIO DA CONSENSUALIDADE; EXCECÇÕES
G vendeu a P um quadro por um preço de 5000 euros, tendo sido convencionado que a entrega do valor
e do quadro seria no mês seguinte. Ora, antes dessa data, G vendeu esse mesmo quadro por 7500 euros
a C, entregando o quadro logo nesse mesmo dia.
P quer saber como pode fazer para reagir.
Por força do princípio da consensualidade (art. 408º/1), os direitos reais transmitem-se por mero efeito do
contrato, não sendo necessário qualquer ato de entrega. Quando pensamos no princípio da consensualidade,
temos de pensar que basta o título, mas que o mesmo tem de existir, ser válidos e ser apto a produzir efeitos
reais – princípio da causalidade.
Ou seja, o quadro pertence a C; apesar de não ter havido entrega da coisa do preço, a proposta com a aceitação
da venda, implica um efeito translativo que se dá imediatamente – 879º CC- isto desde que o título de compra
e venda não comporte vícios.
Consequentemente, G procedeu a venda de coisa alheia. No entanto, o bem está com C. Por isso, P poderá
intentar uma ação de reivindicação contra o C, pedindo o reconhecimento do seu direito de propriedade e a
restituição da coisa- 1311º CC. Na causa de pedir, teria de invocar o contrato de compra e venda, que suscita o
problema da prova diabólica. P terá de provar não apenas que celebrou o contrato, mas também com aquele
que era titular da coisa (por força do princípio nemo plus iuris), porque adquiriu derivadamente. Se G tivesse
adquirido originariamente, o problema extinguia-se, em caso contrário, teria de regressar na linha de
transmissões até descobrir quem o tivesse adquirido originariamente.
Para se fugir a esta prova, poder-se-á recorrer a presunções. Uma delas aplica-se quando existe registo, logo, P
não pode recorrer à mesma. A segunda é a que deriva da posse, a qual não pode aproveitar P, porque nunca
teve a possibilidade de exercer poderes de facto sobre a coisa, quem os exerce é um terceiro, C. Logo,
concluímos que P terá problemas de posse. Ainda se poderá invocar a usucapião. P poderá invocar a usucapião
a favor de G. A usucapião pode ser invocada por um interessado – art. 305º. Por exemplo, um credor pode ter
interesse em invocar a usucapião a favor do devedor, pode ser por ter essa mesma dívida que o próprio devedor
não invocou ainda a usucapião. Por isso, P poderia invocar a usucapião a favor de G e poderia realizar uma
junção de tempos de posse– art. 1256º. Uma pessoa que não tenha tempo de posse sozinha, pode juntar ao seu
tempo o tempo de vários antecessores, até fazer o tempo necessário para invocar a usucapião – acessão de
posse (que não tem nada que ver com a acessão industrial imobiliária). Sem prejuízo de C exigir de G uma
indemnização por incumprimento contratual, nos termos da responsabilidade civil.

2.1. Qual seria a resposta caso o quadro tivesse sido doado a P?

A solução alterar-se-ia se G tivesse doado o quadro a P; na verdade, a doação de coisas móveis é uma exceção
ao princípio da consensualidade, já que os seus efeitos dependem da entrega da coisa doada (947º/2 CC).
Assim, P só se teria tornado proprietária do quadro (se tivesse naturalmente aceitado a doação- 945º CC) uma
vez que esta lhe tivesse sido entregue (teria que ter havido traditio).
Consequentemente, a venda feita a C faria desta proprietária, sem possibilidade de revindicação por parte de
P- só assim não seria, se a doação tivesse sido celebrada pela forma escrita, porque a forma torna desnecessária
o modo.

POSSE

O caso apresentado versa sobre a matéria referente à posse, descrita ao longo dos artigos 1251º e ss do CC. Assim,
a posse é um facto juridicamente relevante, na perspetiva da Drª. Mónica Jardim, sendo que é um poder que se
manifesta quando alguém atua por forma correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito
real.

1. AQUISIÇÃO PAULATINA; ITP POR OPOSIÇÃO DO DETENTOR; TRADIÇÃO REAL EXPLÍCITA; AÇÃO DE
REIVINDICAÇÃO
A, em 2000, emigrou para a Alemanha. B, seu vizinho, pensando que A jamais regressaria, passou a
habitar e cultivar o seu terreno, desde 2002, como se fosse proprietário. Em 2005, deu-o de arrendamento
rural a C. Em 2010, C vendeu o imóvel a D. Hoje (3 de maio de 2018) A voltou da Alemanha, deparando-
se com a situação. A pretende reagir.
Primeiramente, A tem na sua esfera jurídica um direito de propriedade sobre o terreno- apesar de ter emigrado,
não perde o seu direito de propriedade, já que este é tendencialmente perpétuo, não se extinguindo pelo não
uso, salvo nos casos expressamente previstos na lei (art. 298º CC).
No que toca a B, desde 2002 que se comporta como proprietário- em virtude disso, B adquiriu a posse do
terreno. Para haver posse, segundo a conceção subjetivista, defendida por Savigny, tem de haver 2 elementos:
corpus (domínio de facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa) e animus (intenção de atuar como
titular do direito). A posse foi adquirida ORIGINARIAMENTE, por AQUISIÇÃO PAULATINA (prática reiterada,
com publicidade, de atos materiais correspondentes ao exercício de um direito de propriedade) - art. 1263º-A
CC.
Características da posse: não titulada (a posse é titulada quando se funda num título em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real e a prática de atos reiterados não é um título de aquisição da propriedade, logo,
ninguém adquire a propriedade nestes termos) – art. 1259º; de má fé (a posse não titulada presume-se de má
fé, a presunção em causa é ilidível, mas no caso concreto é provável que seja de má fé) – art. 1260º; pacífica
(não houve coação física nem coação moral) – 1261º; quanto à publicidade, o facto de ser uma aquisição
paulatina não pressupõe que a posse seja pública (para que a posse seja pública é suposto que a posse seja
cognoscível pelos interessados, logo, a questão é saber se A podia ter sabido. A cognoscibilidade apura-se
tendo em conta o homem médio) – art. 1262º.
A perde a posse para B passado um ano da nova posse- art. 1267º/1/d) CC.

Em 2005, B deu de arrendamento rural a C. Passa C a ser mero detentor- é detentor porque tem o corpus
(domínio de facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa), mas não tem o animus (intenção de atuar
como titular do direito) - art. 1253º CC (conceção subjetivista de Savigny). Em causa está um detentor
privilegiado porque é um dos (locatário, mandatário, comodatário) que beneficia da tutela possessória – art.
1037º/2.
No entanto C, em 2010, ao vender o prédio a D, mudou o animus, adquirindo a posse ORIGINARIAMENTE, por
INVERSÃO DO TÍTULO DE POSSE POR OPOSIÇÃO DO DETENTOR (art. 1263º/d) e 1265º CC). A posse de C
é não titulada, porque não se funda num título em abstrato idóneo à aquisição da propriedade; logo, presume-
se de má fé; pacífica; e oculta.

Assim, D adquire a posse DERIVADAMENTE por TRADIÇÃO REAL EXPLÍCITA- C, o antigo possuidor, transmite
para o novo possuidor, havendo atos de empossamento sobre a coisa.
Características da posse: não titulada (não se funda num título idóneo à aquisição do direito real), presume-se
de má fé, pacífica e pública.

Como é que A (proprietário) pode reagir? AÇÃO DE REIVINDICAÇÃO

A dispõe das ações de defesa da propriedade. A ação que se enquadra é a ação de reivindicação, nos termos
do artigo 1311º e ss do CC, intentada por A (proprietário) contra D, possuidor.
Neste sentido, na ação de reivindicação A realiza 2 pedidos: o reconhecimento do direito de propriedade e a
restituição da coisa. Por sua vez, A terá de provar a sua propriedade (artigo 581º/4 do CPC - a causa de pedir
da ação é o facto do qual resulta o direito de propriedade). Para a prova da propriedade abrem-se as seguintes
opções: a prova diabólica, em que teria de percorrer a cadeia de transmissões anteriores à sua aquisição até
encontrar uma aquisição originária; a prova do registo (artigo 7º do Código do Registo Predial) e a prova da
posse. Quanto a esta última, para que A conseguisse recorrer à prova da posse, este teria de ser possuidor,
reunindo os pressupostos da conceção subjetiva da posse (corpus e animus). Contudo, isso não ocorre, dado
que A não exerce poderes de facto sobre a coisa, portanto, é afastada a presunção oferecida pela posse (artigo
1268º do CC). Note-se que, A perdeu pela posse de B com duração superior a um ano, mesmo que esta seja
contrária à sua vontade (artigo 1267º/d) do CC). Sendo assim, terá de provar pelo registo, que se presume, ou
através da prova diabólica, que causa alguma dificuldade.
Em suma, A, enquanto titular do direito de propriedade, poderá intentar a ação de reivindicação do seu direito.
Ressalva-se que a titularidade do direito vence sempre.

2. ITP POR ATO DE TERCEIRO; AÇÃO DE REIVINDICAÇÃO; USUCAPIÃO


A resolveu emigrar para o Brasil e antes, em 1998 deu de arrendamento um prédio urbano a B. Em 2000,
C, não proprietário nem possuidor convenceu B de que era proprietário e celebrou com este um contrato
de arrendamento do imóvel. A partir desta data, B passou a portar-se como proprietário.
Agora, em 2016, A regressou e pretende reagir. Pode?
E B, como pode reagir?
Primeiramente, A tem na sua esfera jurídica um direito de propriedade sobre o terreno- apesar de ter emigrado,
não perde o seu direito de propriedade, já que este é tendencialmente perpétuo, não se extinguindo pelo não
uso, salvo nos casos expressamente previstos na lei (art. 298º CC).
Antes de ir embora, A deu de arrendamento o prédio a B. Passa B a ser mero detentor- é detentor porque tem
o corpus (domínio de facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa), mas não tem o animus (intenção de
atuar como titular do direito) - art. 1253º CC. Em causa está um detentor privilegiado porque é um dos (locatário,
mandatário, comodatário) que beneficia da tutela possessória – art. 1037º/2 (conceção subjetivista de Savigny).

A partir de 2000, B muda de animus, passando a comportar- se como titular do direito, passando a possuidor. B
adquiriu a posse ORIGINARIAMENTE por INVERSÃO DO TÍTULO DE POSSE POR ATO DE TERCEIRO- esta
verifica-se sempre que, num primeiro momento, temos um possuidor e um detentor e depois surge um terceiro
que se arroga a titularidade do direito real e que celebra com um detentor um negócio em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real. Neste caso, o C celebrou com B um negócio de compra e venda – um negócio, em
abstrato.
Características da posse: não titulada (a causa é a mudança de animus, não a celebração do contrato; a
mudança de animus não é um título idóneo à aquisição do direito real); sendo não titulada, a posse presume-se
de má fé, mas essa presunção é ilidível, sendo que B pode tentar provar que, no momento em que adquiriu
posse, em que mudou de animus ignorava que o direito era de A (1260º). Ainda, a posse é pacífica, porque não
foi adquirida não recorreu à violência. No momento em que adquiriu, terá sido oculta, mas posteriormente terá
sido pública (ex: deixou de pagar a renda – um senhorio medianamente diligente ter-se-á questionado porque
é que o arrendatário não paga).

Como é que A (proprietário) pode reagir? AÇÃO DE REIVINDICAÇÃO

A dispõe das ações de defesa da propriedade. A ação que se enquadra é a ação de reivindicação, nos termos
do artigo 1311º e ss do CC, intentada por A (proprietário) contra D, possuidor.
Neste sentido, na ação de reivindicação A realiza 2 pedidos: o reconhecimento do direito de propriedade e a
restituição da coisa. Por sua vez, A terá de provar a sua propriedade (artigo 581º/4 do CPC - a causa de pedir
da ação é o facto do qual resulta o direito de propriedade). Para a prova da propriedade abrem-se as seguintes
opções: a prova diabólica, em que teria de percorrer a cadeia de transmissões anteriores à sua aquisição até
encontrar uma aquisição originária; a prova do registo (artigo 7º do Código do Registo Predial) e a prova da
posse. Quanto a esta última, para que A conseguisse recorrer à prova da posse, este teria de ser possuidor,
reunindo os pressupostos da conceção subjetiva da posse (corpus e animus). Contudo, isso não ocorre, dado
que A não exerce poderes de facto sobre a coisa, portanto, é afastada a presunção oferecida pela posse (artigo
1268º do CC). Note-se que, A perdeu pela posse de B com duração superior a um ano, mesmo que esta seja
contrária à sua vontade (artigo 1267º/d) do CC). Sendo assim, terá de provar pelo registo, que se presume, ou
através da prova diabólica, que causa alguma dificuldade.
Em suma, A, enquanto titular do direito de propriedade, poderá intentar a ação de reivindicação do seu direito.
Ressalva-se que a titularidade do direito vence sempre.

Como é que B pode reagir? AQUISIÇÃO DE POSSE POR USUCAPIÃO

Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real.
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.

A posse de B é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos ainda não decorridos para invocar usucapião. Ilidindo a presunção,
pode beneficiar do prazo de 15 anos (art. 1296º CC). Nessa situação, B conseguiria invocar a usucapião desde
2015 e adquirir originariamente o direito de propriedade.

3. SERVIDÃO DE PASSAGEM
A, dono de um prédio rústico relativamente encravado, passa desde há vinte anos, através do prédio de
B, confinado com o seu. Acontece agora que B vendeu o seu prédio a C, que vedou o prédio e opõe-se a
que António continue a passar por lá. Pode A reagir?
Primeiro temos de questionar qual é a intencionalidade de A quando passa pelo prédio do seu vizinho: 1)
porque falou com o seu vizinho e este permitiu que assim fosse; 2) passa porque considera que tinha direito a
fazê-lo.
Aproveitando-se da tolerância do vizinho, A é um mero detentor- é detentor porque tem o corpus (domínio de
facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa), mas não tem o animus (intenção de atuar como titular do
direito) - art. 1253º CC (conceção subjetivista de Savigny). Como não é titular de nenhum direito real, não poderá
reagir contra C, nem como titular de um direito real, nem como possuidor.
No entanto, se passa por aquele prédio há mais de vinte anos, atuando como se tivesse uma servidão de
passagem, então existe posse de A em termos de uma servidão de passagem, demonstrando que tinha corpus
e animus. No entanto, C, novo proprietário do prédio impede a sua passagem.
As servidões legais são aquelas que são previstas na lei, a partir do art. 1550º e ss e que podem ser constituídas
coercivamente mediante decisão judicial ou administrativa sempre que falte acordo. A questão da servidão legal
é que A terá de pagar, porque todas as servidões legais pressupõe esse pagamento (art. 1554º).
Porque não fundou a sua posse na posse do seu antecessor, adquiru a posse ORIGINARIAMENTE, por
AQUISIÇÃO PAULATINA (prática reiterada, com publicidade, de atos materiais correspondentes ao exercício
de um direito de propriedade) - art. 1263º-A CC.
Características da posse: não titulada (a posse é titulada quando se funda num título em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real e a prática de atos reiterados não é um título de aquisição da propriedade, logo,
ninguém adquire a propriedade nestes termos) – art. 1259º; de má fé (a posse não titulada presume-se de má
fé, a presunção em causa é ilidível, mas no caso concreto é provável que seja de má fé) – art. 1260º; pacífica
(não houve coação física nem coação moral) – 1261º; quanto à publicidade, o facto de ser uma aquisição
paulatina não pressupõe que a posse seja pública (para que a posse seja pública é suposto que a posse seja
cognoscível pelos interessados, logo, a questão é saber se A podia ter sabido. A cognoscibilidade apura-se
tendo em conta o homem médio) – art. 1262º.
A perde a posse para B passado um ano da nova posse- art. 1267º/1/d) CC.
Tendo sido A privado daquela posse em termos de servidão de passagem, porque C vedou o prédio,
esbulhando o primeiro, o possuidor pode reagir pela tutela possessória: Como é que B pode reagir?
AQUISIÇÃO DE POSSE POR USUCAPIÃO
Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real.
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.
A posse de B é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos ainda não decorridos para invocar usucapião- que se verifica, logo
poderia adquirir por usucapião.

4. Em 1988, A, proprietário do imóvel X, celebrou um contrato de comodato com B, seu vizinho, para que
este pudesse instalar uma esplanada no seu prédio. B é dono de um restaurante de um prédio vizinho.
Em 1996, como o negócio corria bem a B, este tomou a decisão de comprar o imóvel a A e celebrou com
A um contrato de compra e venda, mas por documento particular. Há dois meses, B vendeu o tal imóvel a
C. A agora descobriu que o negócio que celebrou padeceu de vício de forma, nunca tendo deixado de ser
proprietário e pretende invocar essa invalidade. O novo proprietário, C, questiona-se como poderá reagir.

O A é proprietário e possuidor do prédio X. A celebra um contrato de comodato com B, em 1988. Até 1996, B
instalava a esplanada do restaurante como mero proprietário. Em 1996, A e B celebraram um contrato de
compra e venda com vista à aquisição do direito de propriedade. Mas este padecia de um vício de forma, não
tendo a titularidade sido transmitida para B.
No entanto, desde 1996, B passa a atuar como se fosse proprietário e tem corpus e animus. Esta posse foi
adquirida derivadamente, porque é fundada na posse do antecessor, porque começa a possuir com acordo
com o anterior possuidor. Dentro da aquisição DERIVADA - TRADIÇÃO REAL IMPLÍCITA. No seio da tradição
real implícita, adquire por TRADITIO BREVI MANI, porque o detentor converte-se em possuidor com base num
acordo com um até ali possuidor.
Esta posse é não titulada, porque B passou a possuir como proprietário porque celebrou um contrato de
compra e venda, só padece de vícios de forma (apenas foi reduzida a documento particular).
Consequentemente, a posse presume-se de má fé, apesar de esta presunção ser ilidível. Em princípio, B estaria
mesmo a atuar de boa fé (ignorando estar a lesar o direito de A). Ainda, é pacífica (não recorre a qualquer
coação) e pública (suscetível e efetivamente conhecida por A).
Como é que C pode reagir? AQUISIÇÃO DE POSSE POR USUCAPIÃO
Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real. A posse de C dura há dois
meses. Contudo, pode juntar o tempo de posse de B aos seus dois meses (acessão da posse – art. 1256º).
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.
A posse de C é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos- juntando os seus 2 meses ao tempo de posse de B através da
acessão de posse, poderá invocar usucapião.

5. CONSTITUTO POSSESSÓRIO TRILATERAL


A era proprietário e deu em comodato, para que durasse 25 anos. Tem uma excelência proposta para
venda do imóvel e celebrou com C o contrato de compra e venda. Mas, como não queria falhar com a sua
palavra, convenceu o novo proprietário também a assumir a sua obrigação com o B.
A era proprietário e B era arrendatário. A transmite a propriedade a B, mas convencionando que a detenção
permanecerá. Constitutivo possessório trilateral

6. CONSTITUTO POSSESSÓRIO BILATERAL


Em junho de 2010, A doou a B, por escrito particular, o prédio rústico onde estavam plantadas dezenas
de sobreiros. 2 anos depois, B decidiu vender o prédio a C, negócio que foi formalizado por documento
escrito, mantendo-se, porém, o 1º como arrendatário de uma parte do imóvel. D, filho de A, entretanto
falecido em março de 2021, tomou conhecimento da situação e decidiu intentar uma ação de restituição
contra B, terá sucesso na sua pretensão?
De modo a apreciar a pretensão de D, devemos atender aos vários acontecimentos por ordem.
Primeiramente, A doou a B o seu prédio rústico, por escrito particular. Contudo, o negócio em causa é nulo,
dado que padece de vícios formais, visto que a doação de coisas imóveis (artigo 204º do CC) só é válida se for
celebrada por escritura pública ou por documento particular autenticado. Uma vez que foi por escrito
particular, o negócio é então nulo e não produz quaisquer efeitos (artigos 220º e 289º do CC). Sendo assim, A
permanece o titular do direito de propriedade e B é apenas possuidor, já que tem corpus (exercício de poderes
de facto sobre a coisa imóvel) e animus (intencionalidade especifica de atuar como titular de um direito real) -
SAVIGNY.
De seguida, B adquiriu derivadamente a posse por tradição real explícita, já que o antigo possuidor transmitiu
para o novo possuidor, existindo atos de empossamento. Contudo, B vende o prédio a C, através de documento
escrito, mantendo-se B como arrendatário de uma parte do imóvel. Com isto, C adquire posse DERIVADAMENTE
por CONSTITUTO POSSESÓRIO BILATERAL. No entanto, a propriedade mantém-se na esfera jurídica de A, já
que, mesmo que o negócio entre A e B tivesse sido válido, o negócio entre B e C era inválido, novamente, por
vícios formais, já que é exigida a forma do artigo 875º do CC para a compra e venda.
Sendo assim, visto que A veio a falecer em março de 2021, a propriedade e a titularidade do direito passou para
D, herdeiro de A, por sucessão por morte (artigo 1255º do CC). Neste sentido, D, visto que é proprietário do
prédio rústico em causa, pode intentar uma ação de reivindicação- Como é que D (proprietário) pode reagir?
AÇÃO DE REIVINDICAÇÃO
A dispõe das ações de defesa da propriedade. A ação que se enquadra é a ação de reivindicação, nos termos
do artigo 1311º e ss do CC, intentada por D (proprietário) contra C, possuidor.
Neste sentido, na ação de reivindicação D realiza 2 pedidos: o reconhecimento do direito de propriedade e
a restituição da coisa. Por sua vez, D terá de provar a sua propriedade (artigo 581º/4 do CPC - a causa de pedir
da ação é o facto do qual resulta o direito de propriedade). Para a prova da propriedade abrem-se as seguintes
opções: a prova diabólica, em que teria de percorrer a cadeia de transmissões anteriores à sua aquisição até
encontrar uma aquisição originária; a prova do registo (artigo 7º do Código do Registo Predial) e a prova da
posse. Visto que adquiriu a posse originariamente, seria possível provar a propriedade.
Em suma, D, enquanto titular do direito de propriedade, poderá intentar a ação de reivindicação do seu direito.
Ressalva-se que a titularidade do direito vence sempre.
7. BENFEITORIAS E FRUTOS
Em 1 de outubro de 2007, A constituiu em benefício de B, por documento particular, um direito de
usufruto vitalício, sobre o prédio rústico. B começou imediatamente a explorar o prédio na qualidade de
usufruto e efetuou nele benfeitorias no valor de 20.000€. Há cerca de um mês, A ficou a saber que o
negócio devia ter sido celebrado por escritura pública e pretende intentar a ação tendente à declaração
de nulidade do negócio, por vício de forma.
O usufruto pode ser temporário ou vitalício. O problema é que há um vício de forma e efetivamente B nunca se
tornou usufrutuário.
A pode invocar o vício de forma como proprietário pleno, que nunca deixou de ser. Mas B tem posse, tendo
adquirido a mesma por AQUISIÇÃO DERIVADA POR TRADIÇÃO EXPLÍCITA. No entanto, não sendo titulada,
presume-se de má fé, apesar de poder ser ilidida. Ele não tem tempo de posse para invocar a usucapião (mesmo
que ilida a presunção). Por isso, terá mesmo de entregar o prédio a A e este voltará a exercer os poderes de
facto como proprietário pleno.
B realizou BENFEITORIAS no valor de 20.000€ (art. 1273º e ss). B tem interesse em ilidir a presunção. Se as
benfeitorias fossem necessárias, quer ele estivesse de boa ou má fé, B teria direito a uma indemnização. No
entanto, o possuidor de boa fé poderia reter a coisa até ser indemnizado e até pode promover a venda judicial
da coisa (art. 754º e 756º-b, que exclui o direito de retenção para o possuidor de má fé).
Se as benfeitorias úteis, realizadas para aumentar o valor da coisa, estando de boa ou má fé tinha direito ao
levantamento das mesmas, se não comportassem um prejuízo para a coisa. Depois, estando de boa ou má fé,
pode ser ressarcido ao abrigo do enriquecimento sem causa. Estando de boa fé, teria direito de retenção.
Se fossem voluptuárias, o possuidor de má fé perde-as e o possuidor de boa fé tem possibilidade de as
levantar.
Não resulta do caso, de forma direta, mas também temos de referir o facto de em causa estar um prédio rústico
e de A pretender atribuir a B um direito de usufruto. Como o direito de usufruto é um direito de usar e fruir.
Estando no prédio há 11 anos, pode suscitar-se também o problema dos FRUTOS (212º CC- naturais ou civis).
Quanto aos frutos, estão previstos no art. 1270º e 1215º. Se ele conseguisse ilidir a presunção de má fé, fazia
seus os frutos percebidos ao longo dos anos (que foi colhendo), até ao dia em que soubesse estar a usar direito
de outrem. Quanto aos frutos pendentes, perdia-os (art. 1270º/2), mas tinha direito a ser indemnizado pelas
despesas de cultura, sementes e matérias-primas no geral, desde que, não fossem superiores ao valor dos frutos
que viessem a ser colhidos. Quanto aos frutos percepiendos, não respondia por eles. Não ilidindo a presunção,
estaria de má fé, o que nos remete para o art. 1215º, vai ter de restituir todos os frutos percebidos de todos os
anos,apesar de terem direito de ser indemnizados por sementes, matérias-primas e restantes encargos. Quanto
aos frutos pendentes, aplica-se o art. 1215º/2, segundo o qual perdia-os sem direito a indemnização e por fim,
responde pelos frutos percebiendos (artigo 1271º do CC).

COMPROPRIEDADE

B decide casar em julho de 2002 com A. A e B compraram uma casa em conjunto, tendo a escritura pública
sido lavrada em fevereiro deste ano. Porém, B decidiu cancelar o casamento e em abril vendeu a casa a C,
que, neste momento, está a habitar o imóvel. Poderá A intentar uma ação de preferência contra B e C?

O caso prático em questão refere-se a um problema de compropriedade, descrito nos artigos 1403º e ss. do CC; a
compropriedade designa a situação em que duas ou mais pessoas são, em simultâneo, titulares de um direito de
propriedade sobre a mesma coisa (art. 1403º/1 CC). É a titularidade que se divide e não a coisa.

Assim, quando A e B compraram a casa em conjunto em fevereiro de 2022, tornaram-se comproprietários do


imóvel (204º CC), sendo simultaneamente titulares sobre a mesma coisa certa e determinada, tendo quotas
qualitativamente iguais, uma vez que não há convenção em contrário (1403º/1 e 2 CC).

Nos termos do art. 1405º CC, os comproprietários exercem em conjunto as vantagens e utilidades na proporção da
sua quota parte.

Contudo, no que toca à alienação da coisa comum vale o artigo 1408º do CC. Impedem-se os comproprietários,
de praticar qualquer ato de alienação, sem o consentimento dos outros consortes, sob pena de aplicação do regime
jurídico da alienação/oneração de coisa alheia, pelo que, pelo princípio nemu plus iuris (ninguém pode vender mais
do que aquilo que é titular), o negócio é nulo- como tal, o negócio entre B e C é nulo (892º CC).

Neste caso poderá considerar-se a hipótese de conversão do negócio (inválido) de alienação de parte da coisa,
num negócio (válido) de alienação da quota. Se o comproprietário não pode vender parte da coisa, porque está a
vender coisa de outrem, pode, contudo, vender, livremente, a sua quota na comunhão, desde que se suponha que,
mesmo as partes sabendo da invalidade, assim o teriam querido (art. 293.º CC). Se assim suceder, quem aparecia
como comprador da coisa passa a comprador de quota. No entanto, antes de se sedimentar a sua posição de
consorte, terá que se conceder preferência aos restantes consortes (artigo 1409º do CC).

Sendo assim, A poderá intentar numa ação de preferência contra B, que deveria ter respeitado o disposto no art.
1409º CC- com esta ação, poderá haver para si a quota alienada (a quota parte de B).

Por fim, A pode ainda intentar numa ação de reivindicação contra C, nos termos so art. 1405º CC: “cada consorte
pode reivindicar de terceiro a coisa comum”. Com isto, deduzirá 2 pedidos. Primeiramente, o reconhecimento do
seu direito de propriedade e de seguida a restituição da coisa.

Em janeiro de 2022, A, B e C adquiriram em conjunto um carro. Enquanto decorria o seu turno, A contratou
um mecânico para que fizesse umas reparações necessárias à manutenção do seu automóvel. Há cerca de 2
dias enviou uma mensagem a B e C pedindo o pagamento proporcional das despesas. Nenhum deles aceita,
porém, fazem-no, alegando que, não só nunca foram consultados, como nunca autorizaram tais reparações.
Terão razão?

O caso prático em questão refere-se a um problema de compropriedade, descrito nos artigos 1403º e ss. do CC; a
compropriedade designa a situação em que duas ou mais pessoas são, em simultâneo, titulares de um direito de
propriedade sobre a mesma coisa (art. 1403º/1 CC). É a titularidade que se divide e não a coisa.

Assim, quando A, B e C ao comprarem um carro em conjunto em Janeiro de 2022, tornaram-se comproprietários,


sendo simultaneamente titulares sobre a mesma coisa certa e determinada, tendo quotas qualitativamente iguais,
uma vez que não há convenção em contrário (1403º/1 e 2 CC).

Nos termos do art. 1405º CC, os comproprietários exercem em conjunto as vantagens e utilidades na proporção da
sua quota parte.

No caso concreto estamos perante um ato de administração ordinária (atos que se traduzem em benfeitorias
necessárias, que pretendem evitar a perda da coisa ou atos de alienação de frutos perecíveis- neste caso, reparações
necessárias à manutenção do automóvel). Sendo assim, devemos aplicar os artigos 1407º e 985º do CC, onde se
prevê que todos os comproprietários tem igual poder para administrar, ou seja, para praticar atos de administração
ordinária, na falta de convenção em contrário. Sendo assim, A poderia proceder à reparação do automóvel, sem que
houvesse necessidade de contactar e informar os restantes consortes.

Após a reparação da coisa, os artigos 1405º e 1411º do CC pressupõe que os consortes devem contribuir, na
proporção das respetivas quotas, para as despesas necessárias. Portanto, trata-se de uma obrigação real de
conteúdo positivo (dar ou fazer), que vincula o titular de um direito real apenas pelo simples facto de o ser. Contudo,
ressalva-se a possibilidade da renúncia liberatória, extinguindo-se a obrigação real, através de uma declaração
unilateral, receptícia e de caracter oneroso.

A resposta seria a mesma caso A fervoroso adepto do FFP tivesse mandado pintar um grande azul e branco
dragão no tejadilho do carro?

Quanto à pintura do tejadilho do carro, a resposta afigura-se de forma diferente, uma vez que se trata de um ato de
administração extraordinário. Não há uma regra em matéria de compropriedade. Para sabermos se podem
praticar tais atos, aplicamos o artigo 1024º do CC, que surge em matéria de arrendamento. Sendo assim,
entendendo-se que se para a locação de uma coisa comum pelo prazo inferior a 6 anos é um ato de administração
ordinária que necessita do consentimento de todos os consortes, então, para os atos de administração
extraordinária também é preciso unanimidade. Neste sentido, A apenas poderia ordenar tal pintura se o B e o C,
enquanto comproprietários, acordassem nessa pintura.

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