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NOTA:
Características dos direitos reais: 1) INERÊNCIA; 2) EFICÁCIA ERGA OMNES (DEVER GERAL DE
ABSTENÇÃO); 3) FORTE TUTELA; 4) SEQUELA; 5) PREFERÊNCIA/PREVALÊNCIA (art. 5º crp º 291º CC);
O direito de A é um direito de propriedade, sendo o direito real de gozo mais amplo, uma vez que o proprietário
goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso (art. 1305º CC).
Do contrato de constituição do direito de superfície (art. 1524º CC) entre A e B resultou, para B, a obrigação de
entrega anual de 50kg de compota de laranja e de uma prestação anual no valor de 2 000€.
Ora, as obrigações reais são obrigações de conteúdo positivo que oneram o titular de um direito real pelo simples
facto de o ser (obrigações “propter rem”) - embora as obrigações reais estejam sujeitas ao princípio da
taxatividade (pois pertencem ao estatuto de direitos reais), isto não significa que a fonte das obrigações reais seja
exclusivamente a lei. Na verdade, por vezes, a fonte da obrigação real é a vontade das partes, sendo certo que este
poder de conformação do conteúdo do direito tem de ser atribuído diretamente da lei- o cânone superficiário é
uma dessas situações, como comprova a letra do art. 1530º CC: no ato de constituição do direito de superfície pode
convencionar-se o pagamento de um preço a ser pago anualmente pelo tempo determinado pelas vontades das
partes. Assim, a obrigação de entrega anual de 2000 euros é uma obrigação real.
Resta agora saber como se comporta a obrigação real uma vez que é transmitida- se as obrigações de “facere” são
ambulatórias, as de “dare” não o são. Por isso, aquando da transmissão do direito, as obrigações de “dare”
autonomizam-se no património do devedor, que fica onerado ao cumprimento, apesar de já não ser titular do direito.
No entanto, havendo prestações futuras, fica o novo titular do direito a cumpri-las nos exatos termos acordados, sem
prejuízo de revisão nos termos da obrigação real por parte do novo titular.
Como tal, a prestação anual é uma obrigação de “dare”, ou seja, não é uma obrigação ambulatória- assim, B terá de
pagar terá de responder até 2021 pelo não pagamento anual e não C. C poderá ser exigido pela quantia de 2000
euros a partir de 2021, dado que o cânone superficiário faz parte do conteúdo do direito real, acompanhando-o,
tendo eficácia erga omnes.
Ora, no que toca à obrigação de entrega anual da compota das laranjas, esta não configura uma obrigação real,
dado que o artigo 1530º/3 CC ressalva às prestações em dinheiro, e sendo a entrega de laranjas uma prestação em
género, não se trata de uma obrigação real- porém pode referir-se como uma obrigação autónoma, visto que o
princípio da taxatividade confere eficácia obrigacional, quando não prevista na lei (art. 1306º/1 CC). Como tal, visto
ser uma obrigação autónoma, A não a poderá exigir a C, visto ter eficácia inter partes- terá de exigir o cumprimento
a B.
2. A, proprietário de uma vivenda, constituiu a favor de B um direito de usufruto. Com o decurso do tempo
as telhas estragaram-se o que está a gerar problemas de infiltrações desde Dezembro passado. Em Março,
B doou o usufruto a C. Hoje, A, o proprietário, exige que C proceda às reparações necessárias. Quid juris?
O direito de A é um direito de propriedade, sendo o direito real de gozo mais amplo, uma vez que o proprietário
goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso (art. 1305º CC). A constitui a favor de B um direito de usufruto
(art. 1439º CC).
Ora, as obrigações reais são obrigações de conteúdo positivo que oneram o titular de um direito real pelo simples
facto de o ser (obrigações “propter rem”), sendo a obrigação constante no art. 1472º CC uma obrigação real, sendo
que nos diz este mesmo artigo no nº1: “Estão a cargo do usufrutuário tanto as reparações ordinárias indispensáveis
para a conservação da coisa como as despesas de administração”.
Resta agora saber como se comporta a obrigação real uma vez que é transmitida- se as obrigações de “facere” são
ambulatórias, as de “dare” não o são. Por isso, aquando da transmissão do direito, as obrigações de “dare”
autonomizam-se no património do devedor, que fica onerado ao cumprimento, apesar de já não ser titular do direito.
No entanto, neste caso, estamos perante uma obrigação real de “facere”, sendo uma obrigação ambulatória, na
medida em que sendo transmitido o direito real, o até aí obrigado deixa de ter legitimidade para fazer o que quer
que seja sobre a coisa- assim, quem tem que cumprir a obrigação de reparação é C. Sem prejuízo, porém, da
renúncia do direito que sustenta a obrigação (o usufruto) em favor do proprietário (A), caso em que a propriedade
previamente onerada deixa de o estar, regressando pois às suas fronteiras originais (características de elasticidade)
- 1472º/3 CC; esta é uma renúncia liberatória que implica a extinção do direito real, através de uma declaração
unilateral, receptícia e de caracter oneroso.
PRINCÍPIOS ORIENTADORES DOS DIREITOS REAIS
Partes componentes e parte integrantes:
o Partes componentes→ constituem a estrutura da coisa, e sem elas, estaria incompleta ou imprópria
para uso (p.e., porta da casa, tijolos das paredes…). Assim, ainda que possam ser objeto de negócios
jurídicos (têm individualidade própria), não podem ser levantadas sem prejuízo da coisa a que se
encontram ligadas;
o Partes integrantes→ (art. 204.º/3 CC) são as coisas móveis unidas materialmente com carácter de
permanência a um prédio, tornando-o mais produtivo, seguro, cómodo ou bonito. Assim, ainda que
sejam individualizáveis, têm uma função instrumental, embora a coisa não deixe de existir completa
e idónea ao uso a que se destina sem elas.
Coisas acessórias (art. 210º CC): As coisas acessórias ou pertenças são as coisas móveis que, não constituindo
partes integrantes, estão afetadas de forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outra (p.e., recheio de
uma casa - art. 210.º/1 CC). Assim, são certas, autónomas e determinadas, pelo que não são abrangidas pelos
negócios jurídicos que tenham por objeto a coisa principal, a menos que as partes convencionem em
contrário (art. 210.º/2 CC).
A solução alterar-se-ia se G tivesse doado o quadro a P; na verdade, a doação de coisas móveis é uma exceção
ao princípio da consensualidade, já que os seus efeitos dependem da entrega da coisa doada (947º/2 CC).
Assim, P só se teria tornado proprietária do quadro (se tivesse naturalmente aceitado a doação- 945º CC) uma
vez que esta lhe tivesse sido entregue (teria que ter havido traditio).
Consequentemente, a venda feita a C faria desta proprietária, sem possibilidade de revindicação por parte de
P- só assim não seria, se a doação tivesse sido celebrada pela forma escrita, porque a forma torna desnecessária
o modo.
POSSE
O caso apresentado versa sobre a matéria referente à posse, descrita ao longo dos artigos 1251º e ss do CC. Assim,
a posse é um facto juridicamente relevante, na perspetiva da Drª. Mónica Jardim, sendo que é um poder que se
manifesta quando alguém atua por forma correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito
real.
1. AQUISIÇÃO PAULATINA; ITP POR OPOSIÇÃO DO DETENTOR; TRADIÇÃO REAL EXPLÍCITA; AÇÃO DE
REIVINDICAÇÃO
A, em 2000, emigrou para a Alemanha. B, seu vizinho, pensando que A jamais regressaria, passou a
habitar e cultivar o seu terreno, desde 2002, como se fosse proprietário. Em 2005, deu-o de arrendamento
rural a C. Em 2010, C vendeu o imóvel a D. Hoje (3 de maio de 2018) A voltou da Alemanha, deparando-
se com a situação. A pretende reagir.
Primeiramente, A tem na sua esfera jurídica um direito de propriedade sobre o terreno- apesar de ter emigrado,
não perde o seu direito de propriedade, já que este é tendencialmente perpétuo, não se extinguindo pelo não
uso, salvo nos casos expressamente previstos na lei (art. 298º CC).
No que toca a B, desde 2002 que se comporta como proprietário- em virtude disso, B adquiriu a posse do
terreno. Para haver posse, segundo a conceção subjetivista, defendida por Savigny, tem de haver 2 elementos:
corpus (domínio de facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa) e animus (intenção de atuar como
titular do direito). A posse foi adquirida ORIGINARIAMENTE, por AQUISIÇÃO PAULATINA (prática reiterada,
com publicidade, de atos materiais correspondentes ao exercício de um direito de propriedade) - art. 1263º-A
CC.
Características da posse: não titulada (a posse é titulada quando se funda num título em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real e a prática de atos reiterados não é um título de aquisição da propriedade, logo,
ninguém adquire a propriedade nestes termos) – art. 1259º; de má fé (a posse não titulada presume-se de má
fé, a presunção em causa é ilidível, mas no caso concreto é provável que seja de má fé) – art. 1260º; pacífica
(não houve coação física nem coação moral) – 1261º; quanto à publicidade, o facto de ser uma aquisição
paulatina não pressupõe que a posse seja pública (para que a posse seja pública é suposto que a posse seja
cognoscível pelos interessados, logo, a questão é saber se A podia ter sabido. A cognoscibilidade apura-se
tendo em conta o homem médio) – art. 1262º.
A perde a posse para B passado um ano da nova posse- art. 1267º/1/d) CC.
Em 2005, B deu de arrendamento rural a C. Passa C a ser mero detentor- é detentor porque tem o corpus
(domínio de facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa), mas não tem o animus (intenção de atuar
como titular do direito) - art. 1253º CC (conceção subjetivista de Savigny). Em causa está um detentor
privilegiado porque é um dos (locatário, mandatário, comodatário) que beneficia da tutela possessória – art.
1037º/2.
No entanto C, em 2010, ao vender o prédio a D, mudou o animus, adquirindo a posse ORIGINARIAMENTE, por
INVERSÃO DO TÍTULO DE POSSE POR OPOSIÇÃO DO DETENTOR (art. 1263º/d) e 1265º CC). A posse de C
é não titulada, porque não se funda num título em abstrato idóneo à aquisição da propriedade; logo, presume-
se de má fé; pacífica; e oculta.
Assim, D adquire a posse DERIVADAMENTE por TRADIÇÃO REAL EXPLÍCITA- C, o antigo possuidor, transmite
para o novo possuidor, havendo atos de empossamento sobre a coisa.
Características da posse: não titulada (não se funda num título idóneo à aquisição do direito real), presume-se
de má fé, pacífica e pública.
A dispõe das ações de defesa da propriedade. A ação que se enquadra é a ação de reivindicação, nos termos
do artigo 1311º e ss do CC, intentada por A (proprietário) contra D, possuidor.
Neste sentido, na ação de reivindicação A realiza 2 pedidos: o reconhecimento do direito de propriedade e a
restituição da coisa. Por sua vez, A terá de provar a sua propriedade (artigo 581º/4 do CPC - a causa de pedir
da ação é o facto do qual resulta o direito de propriedade). Para a prova da propriedade abrem-se as seguintes
opções: a prova diabólica, em que teria de percorrer a cadeia de transmissões anteriores à sua aquisição até
encontrar uma aquisição originária; a prova do registo (artigo 7º do Código do Registo Predial) e a prova da
posse. Quanto a esta última, para que A conseguisse recorrer à prova da posse, este teria de ser possuidor,
reunindo os pressupostos da conceção subjetiva da posse (corpus e animus). Contudo, isso não ocorre, dado
que A não exerce poderes de facto sobre a coisa, portanto, é afastada a presunção oferecida pela posse (artigo
1268º do CC). Note-se que, A perdeu pela posse de B com duração superior a um ano, mesmo que esta seja
contrária à sua vontade (artigo 1267º/d) do CC). Sendo assim, terá de provar pelo registo, que se presume, ou
através da prova diabólica, que causa alguma dificuldade.
Em suma, A, enquanto titular do direito de propriedade, poderá intentar a ação de reivindicação do seu direito.
Ressalva-se que a titularidade do direito vence sempre.
A partir de 2000, B muda de animus, passando a comportar- se como titular do direito, passando a possuidor. B
adquiriu a posse ORIGINARIAMENTE por INVERSÃO DO TÍTULO DE POSSE POR ATO DE TERCEIRO- esta
verifica-se sempre que, num primeiro momento, temos um possuidor e um detentor e depois surge um terceiro
que se arroga a titularidade do direito real e que celebra com um detentor um negócio em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real. Neste caso, o C celebrou com B um negócio de compra e venda – um negócio, em
abstrato.
Características da posse: não titulada (a causa é a mudança de animus, não a celebração do contrato; a
mudança de animus não é um título idóneo à aquisição do direito real); sendo não titulada, a posse presume-se
de má fé, mas essa presunção é ilidível, sendo que B pode tentar provar que, no momento em que adquiriu
posse, em que mudou de animus ignorava que o direito era de A (1260º). Ainda, a posse é pacífica, porque não
foi adquirida não recorreu à violência. No momento em que adquiriu, terá sido oculta, mas posteriormente terá
sido pública (ex: deixou de pagar a renda – um senhorio medianamente diligente ter-se-á questionado porque
é que o arrendatário não paga).
A dispõe das ações de defesa da propriedade. A ação que se enquadra é a ação de reivindicação, nos termos
do artigo 1311º e ss do CC, intentada por A (proprietário) contra D, possuidor.
Neste sentido, na ação de reivindicação A realiza 2 pedidos: o reconhecimento do direito de propriedade e a
restituição da coisa. Por sua vez, A terá de provar a sua propriedade (artigo 581º/4 do CPC - a causa de pedir
da ação é o facto do qual resulta o direito de propriedade). Para a prova da propriedade abrem-se as seguintes
opções: a prova diabólica, em que teria de percorrer a cadeia de transmissões anteriores à sua aquisição até
encontrar uma aquisição originária; a prova do registo (artigo 7º do Código do Registo Predial) e a prova da
posse. Quanto a esta última, para que A conseguisse recorrer à prova da posse, este teria de ser possuidor,
reunindo os pressupostos da conceção subjetiva da posse (corpus e animus). Contudo, isso não ocorre, dado
que A não exerce poderes de facto sobre a coisa, portanto, é afastada a presunção oferecida pela posse (artigo
1268º do CC). Note-se que, A perdeu pela posse de B com duração superior a um ano, mesmo que esta seja
contrária à sua vontade (artigo 1267º/d) do CC). Sendo assim, terá de provar pelo registo, que se presume, ou
através da prova diabólica, que causa alguma dificuldade.
Em suma, A, enquanto titular do direito de propriedade, poderá intentar a ação de reivindicação do seu direito.
Ressalva-se que a titularidade do direito vence sempre.
Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real.
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.
A posse de B é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos ainda não decorridos para invocar usucapião. Ilidindo a presunção,
pode beneficiar do prazo de 15 anos (art. 1296º CC). Nessa situação, B conseguiria invocar a usucapião desde
2015 e adquirir originariamente o direito de propriedade.
3. SERVIDÃO DE PASSAGEM
A, dono de um prédio rústico relativamente encravado, passa desde há vinte anos, através do prédio de
B, confinado com o seu. Acontece agora que B vendeu o seu prédio a C, que vedou o prédio e opõe-se a
que António continue a passar por lá. Pode A reagir?
Primeiro temos de questionar qual é a intencionalidade de A quando passa pelo prédio do seu vizinho: 1)
porque falou com o seu vizinho e este permitiu que assim fosse; 2) passa porque considera que tinha direito a
fazê-lo.
Aproveitando-se da tolerância do vizinho, A é um mero detentor- é detentor porque tem o corpus (domínio de
facto ou exercício de poderes de facto sobre a coisa), mas não tem o animus (intenção de atuar como titular do
direito) - art. 1253º CC (conceção subjetivista de Savigny). Como não é titular de nenhum direito real, não poderá
reagir contra C, nem como titular de um direito real, nem como possuidor.
No entanto, se passa por aquele prédio há mais de vinte anos, atuando como se tivesse uma servidão de
passagem, então existe posse de A em termos de uma servidão de passagem, demonstrando que tinha corpus
e animus. No entanto, C, novo proprietário do prédio impede a sua passagem.
As servidões legais são aquelas que são previstas na lei, a partir do art. 1550º e ss e que podem ser constituídas
coercivamente mediante decisão judicial ou administrativa sempre que falte acordo. A questão da servidão legal
é que A terá de pagar, porque todas as servidões legais pressupõe esse pagamento (art. 1554º).
Porque não fundou a sua posse na posse do seu antecessor, adquiru a posse ORIGINARIAMENTE, por
AQUISIÇÃO PAULATINA (prática reiterada, com publicidade, de atos materiais correspondentes ao exercício
de um direito de propriedade) - art. 1263º-A CC.
Características da posse: não titulada (a posse é titulada quando se funda num título em abstrato idóneo à
aquisição de um direito real e a prática de atos reiterados não é um título de aquisição da propriedade, logo,
ninguém adquire a propriedade nestes termos) – art. 1259º; de má fé (a posse não titulada presume-se de má
fé, a presunção em causa é ilidível, mas no caso concreto é provável que seja de má fé) – art. 1260º; pacífica
(não houve coação física nem coação moral) – 1261º; quanto à publicidade, o facto de ser uma aquisição
paulatina não pressupõe que a posse seja pública (para que a posse seja pública é suposto que a posse seja
cognoscível pelos interessados, logo, a questão é saber se A podia ter sabido. A cognoscibilidade apura-se
tendo em conta o homem médio) – art. 1262º.
A perde a posse para B passado um ano da nova posse- art. 1267º/1/d) CC.
Tendo sido A privado daquela posse em termos de servidão de passagem, porque C vedou o prédio,
esbulhando o primeiro, o possuidor pode reagir pela tutela possessória: Como é que B pode reagir?
AQUISIÇÃO DE POSSE POR USUCAPIÃO
Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real.
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.
A posse de B é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos ainda não decorridos para invocar usucapião- que se verifica, logo
poderia adquirir por usucapião.
4. Em 1988, A, proprietário do imóvel X, celebrou um contrato de comodato com B, seu vizinho, para que
este pudesse instalar uma esplanada no seu prédio. B é dono de um restaurante de um prédio vizinho.
Em 1996, como o negócio corria bem a B, este tomou a decisão de comprar o imóvel a A e celebrou com
A um contrato de compra e venda, mas por documento particular. Há dois meses, B vendeu o tal imóvel a
C. A agora descobriu que o negócio que celebrou padeceu de vício de forma, nunca tendo deixado de ser
proprietário e pretende invocar essa invalidade. O novo proprietário, C, questiona-se como poderá reagir.
O A é proprietário e possuidor do prédio X. A celebra um contrato de comodato com B, em 1988. Até 1996, B
instalava a esplanada do restaurante como mero proprietário. Em 1996, A e B celebraram um contrato de
compra e venda com vista à aquisição do direito de propriedade. Mas este padecia de um vício de forma, não
tendo a titularidade sido transmitida para B.
No entanto, desde 1996, B passa a atuar como se fosse proprietário e tem corpus e animus. Esta posse foi
adquirida derivadamente, porque é fundada na posse do antecessor, porque começa a possuir com acordo
com o anterior possuidor. Dentro da aquisição DERIVADA - TRADIÇÃO REAL IMPLÍCITA. No seio da tradição
real implícita, adquire por TRADITIO BREVI MANI, porque o detentor converte-se em possuidor com base num
acordo com um até ali possuidor.
Esta posse é não titulada, porque B passou a possuir como proprietário porque celebrou um contrato de
compra e venda, só padece de vícios de forma (apenas foi reduzida a documento particular).
Consequentemente, a posse presume-se de má fé, apesar de esta presunção ser ilidível. Em princípio, B estaria
mesmo a atuar de boa fé (ignorando estar a lesar o direito de A). Ainda, é pacífica (não recorre a qualquer
coação) e pública (suscetível e efetivamente conhecida por A).
Como é que C pode reagir? AQUISIÇÃO DE POSSE POR USUCAPIÃO
Tendo em conta as características da posse de B, possuidor, poderá reagir contra A, através da invocação da
usucapião (art. 1287º CC) - a posse mantida por um lapso de tempo, de forma pacífica e pública, pode conduzir
à aquisição do direito. Trata-se de uma forma de aquisição originária do direito real. A posse de C dura há dois
meses. Contudo, pode juntar o tempo de posse de B aos seus dois meses (acessão da posse – art. 1256º).
Requisitos: deve existir posse (corpus e animus); posse pública e pacífica (art. 1297º CC); deve ocorrer durante
um lapso de tempo, que irá depender da existência de título e registo da posse, a boa ou má-fé, e se o bem é
móvel ou imóvel; e a invocação da usucapião, visto que a mesma não opera automaticamente nem é de
conhecimento oficioso (art. 1292º e 303º CC) - a usucapião é invocada judicial ou extrajudicialmente.
A posse de C é não titulada, portanto presume-se de má fé; é ainda pacífica e pública, como vimos- assim,
estando de má fé, são necessários 20 anos- juntando os seus 2 meses ao tempo de posse de B através da
acessão de posse, poderá invocar usucapião.
COMPROPRIEDADE
B decide casar em julho de 2002 com A. A e B compraram uma casa em conjunto, tendo a escritura pública
sido lavrada em fevereiro deste ano. Porém, B decidiu cancelar o casamento e em abril vendeu a casa a C,
que, neste momento, está a habitar o imóvel. Poderá A intentar uma ação de preferência contra B e C?
O caso prático em questão refere-se a um problema de compropriedade, descrito nos artigos 1403º e ss. do CC; a
compropriedade designa a situação em que duas ou mais pessoas são, em simultâneo, titulares de um direito de
propriedade sobre a mesma coisa (art. 1403º/1 CC). É a titularidade que se divide e não a coisa.
Nos termos do art. 1405º CC, os comproprietários exercem em conjunto as vantagens e utilidades na proporção da
sua quota parte.
Contudo, no que toca à alienação da coisa comum vale o artigo 1408º do CC. Impedem-se os comproprietários,
de praticar qualquer ato de alienação, sem o consentimento dos outros consortes, sob pena de aplicação do regime
jurídico da alienação/oneração de coisa alheia, pelo que, pelo princípio nemu plus iuris (ninguém pode vender mais
do que aquilo que é titular), o negócio é nulo- como tal, o negócio entre B e C é nulo (892º CC).
Neste caso poderá considerar-se a hipótese de conversão do negócio (inválido) de alienação de parte da coisa,
num negócio (válido) de alienação da quota. Se o comproprietário não pode vender parte da coisa, porque está a
vender coisa de outrem, pode, contudo, vender, livremente, a sua quota na comunhão, desde que se suponha que,
mesmo as partes sabendo da invalidade, assim o teriam querido (art. 293.º CC). Se assim suceder, quem aparecia
como comprador da coisa passa a comprador de quota. No entanto, antes de se sedimentar a sua posição de
consorte, terá que se conceder preferência aos restantes consortes (artigo 1409º do CC).
Sendo assim, A poderá intentar numa ação de preferência contra B, que deveria ter respeitado o disposto no art.
1409º CC- com esta ação, poderá haver para si a quota alienada (a quota parte de B).
Por fim, A pode ainda intentar numa ação de reivindicação contra C, nos termos so art. 1405º CC: “cada consorte
pode reivindicar de terceiro a coisa comum”. Com isto, deduzirá 2 pedidos. Primeiramente, o reconhecimento do
seu direito de propriedade e de seguida a restituição da coisa.
Em janeiro de 2022, A, B e C adquiriram em conjunto um carro. Enquanto decorria o seu turno, A contratou
um mecânico para que fizesse umas reparações necessárias à manutenção do seu automóvel. Há cerca de 2
dias enviou uma mensagem a B e C pedindo o pagamento proporcional das despesas. Nenhum deles aceita,
porém, fazem-no, alegando que, não só nunca foram consultados, como nunca autorizaram tais reparações.
Terão razão?
O caso prático em questão refere-se a um problema de compropriedade, descrito nos artigos 1403º e ss. do CC; a
compropriedade designa a situação em que duas ou mais pessoas são, em simultâneo, titulares de um direito de
propriedade sobre a mesma coisa (art. 1403º/1 CC). É a titularidade que se divide e não a coisa.
Nos termos do art. 1405º CC, os comproprietários exercem em conjunto as vantagens e utilidades na proporção da
sua quota parte.
No caso concreto estamos perante um ato de administração ordinária (atos que se traduzem em benfeitorias
necessárias, que pretendem evitar a perda da coisa ou atos de alienação de frutos perecíveis- neste caso, reparações
necessárias à manutenção do automóvel). Sendo assim, devemos aplicar os artigos 1407º e 985º do CC, onde se
prevê que todos os comproprietários tem igual poder para administrar, ou seja, para praticar atos de administração
ordinária, na falta de convenção em contrário. Sendo assim, A poderia proceder à reparação do automóvel, sem que
houvesse necessidade de contactar e informar os restantes consortes.
Após a reparação da coisa, os artigos 1405º e 1411º do CC pressupõe que os consortes devem contribuir, na
proporção das respetivas quotas, para as despesas necessárias. Portanto, trata-se de uma obrigação real de
conteúdo positivo (dar ou fazer), que vincula o titular de um direito real apenas pelo simples facto de o ser. Contudo,
ressalva-se a possibilidade da renúncia liberatória, extinguindo-se a obrigação real, através de uma declaração
unilateral, receptícia e de caracter oneroso.
A resposta seria a mesma caso A fervoroso adepto do FFP tivesse mandado pintar um grande azul e branco
dragão no tejadilho do carro?
Quanto à pintura do tejadilho do carro, a resposta afigura-se de forma diferente, uma vez que se trata de um ato de
administração extraordinário. Não há uma regra em matéria de compropriedade. Para sabermos se podem
praticar tais atos, aplicamos o artigo 1024º do CC, que surge em matéria de arrendamento. Sendo assim,
entendendo-se que se para a locação de uma coisa comum pelo prazo inferior a 6 anos é um ato de administração
ordinária que necessita do consentimento de todos os consortes, então, para os atos de administração
extraordinária também é preciso unanimidade. Neste sentido, A apenas poderia ordenar tal pintura se o B e o C,
enquanto comproprietários, acordassem nessa pintura.