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Análise do Acordão:

No acórdão em apreço temos a situação onde o recorrente AA, interpõe recurso da sentença proferida pelo
Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, que autorizou a aplicação das disposições anti abuso para efeitos
de determinação do rendimento tributável em sede de IRS.
Assim, de forma sumária, a AT entendeu que as operações de cedência de ações e de transformação da
sociedade por quotas em sociedade anónima tiveram como principal finalidade a não incidência de imposto
sobre as mais-valias obtidas, considerando as operações manifestamente artificiais e abusivas. Como tal,
recorreu a normas anti abuso, que têm particular importância na intervenção da Administração na luta contra
a “elisão fiscal”, e que, no caso, permitiriam contrariar os efeitos fiscais normais da transformação da forma
societária, ao abrigo do art. 38º, nº 2 da LGT.
No entanto, devemos avaliar se estão verificados pressupostos de aplicação da cláusula anti abuso, devendo
esta ser feita de forma restritiva, tendo em conta a natureza excecional da mesma, permitindo que a
tributação seja efetuada por aplicação de outras regras que não as normas gerais que a lei prevê para o
negócio efetivamente efetuado, constituindo um desvio ao pp. da segurança jurídica na sua dimensão de
previsibilidade fiscal. Por outro lado, com a sua aplicação, não pode pretender coartar-se a liberdade de
gestão fiscal, restringida quando a mesma se baseia em esquema abusiva (o que não se verificou).
Para além disto, retiramos na norma que a cláusula geral anti abuso não tem em vista a compensação da
perda de receita fiscal à AT, mas sim eliminar vantagens fiscais ilegítimas que alguém obteve.
É importante referir ainda, que nenhuma censura deve ser feita ao planeamento ou gestão fiscal que procure
a minimização dos impostos a pagar, desde que feito dentro dos limites da lei e do direito, podendo assim os
sujeito passivo escolher as formas menos onerosas de tributação.
Em suma, ainda que a transformação da sociedade em sociedade anónima tivesse sido motivadas por razões
exclusivamente fiscais, não pode deixar de se aceitar fiscalmente tal transformação com todas as suas
implicações legais e fiscais, na medida em que foi o próprio legislador que optou por tributar as mais-valias
resultantes da alienação de quotas e não tributar as mais valias resultantes da alienação de ações.
Consequentemente, tal como decidido, não se verifica uma situação enquadrável no nº 2 do art. 38º da LGT,
desde logo por não existir um acto que possa considerar-se dirigido essencial ou primacialmente à obtenção
de vantagens fiscais (pois ele foi dirigido também à criação de uma sociedade anónima por se pretender que
ela funcionasse com as características e potencialidades que lhe são inerentes), mas também por não ter sido
utilizado qualquer meio artificioso ou fraudulento para obtenção de vantagens fiscais.
O acórdão em apreço aborda o recurso interposto pelo recorrente contra a decisão do Tribunal
Administrativo e Fiscal do Porto, que autorizou a aplicação das disposições anti abuso para determinar o
rendimento tributável em sede de IRS.
A Autoridade Tributária (AT) considerou as operações de cedência de ações e transformação da sociedade
por quotas em sociedade anónima como artificiais e abusivas, visando evitar a tributação das mais-valias.
Como tal, recorreu a normas anti abuso, que têm particular importância na intervenção da Administração na
luta contra a “elisão fiscal”, e que, no caso, permitiriam contrariar os efeitos fiscais normais da
transformação da forma societária, ao abrigo do art. 38º, nº 2 da LGT.
Assim, ao longo do acórdão discute-se, entre outras questões, a verificação dos pressupostos de aplicação da
cláusula anti abuso, que deve ser feita de forma restritiva, evitando desvios ao princípio da segurança
jurídica e preservando a liberdade de gestão fiscal, desde que dentro dos limites legais. Sublinha-se ainda
que a cláusula visa eliminar vantagens fiscais ilegítimas, e não compensar perdas de receita fiscal à AT.
Reforça-se, também, a legitimidade do planeamento fiscal que busca a minimização dos impostos por parte
dos sujeitos passivos, desde que esteja em conformidade com a lei e o direito.
Concluímos, desta forma, que a transformação em sociedade anónima, mesmo por motivos fiscais, deve ser
aceita, pois foi escolha do legislador tributar mais-valias de quotas, e não tributar mais-valias de ações.
Assim, não se verifica uma situação enquadrável no art. 38º, nº 2 da LGT, por falta de um ato primariamente
dirigido à obtenção de vantagens fiscais e pela ausência de meios artificiosos ou fraudulentos. Pelo que, a
decisão favorece a aceitação fiscal da transformação societária com as suas implicações legais e fiscais.

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