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Planeamento Fiscal
Docente: Jaime Esteves
Índice
Índice ................................................................................................................................... 2
1. Introdução ..................................................................................................................... 5
2. Enquadramento ............................................................................................................ 6
5. Conclusão ................................................................................................................... 15
6. Bibliografia .................................................................................................................. 16
Índice de Figuras
AT – Autoridade Tributária
CAAD – Centro de Arbitragem Administrativa
CPA – Código de Procedimento Administrativo
CPPT – Código do Procedimento e Processo Tributário
CIRC – Código do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas
LGT – Lei Geral Tributária
TJUE – Tribunal de Justiça da União Europeia
1. INTRODUÇÃO
2. ENQUADRAMENTO
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Apontamentos da disciplina disponibilizados pelo professor.
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Art.38º/2 LGT – “São ineficazes no âmbito tributário os actos ou negócios jurídicos essencial ou principalmente
dirigidos, por meios artificiosos ou fraudulentos e com abuso das formas jurídicas, à redução, eliminação ou
diferimento temporal de impostos que seriam devidos em resultado de factos, actos ou negócios jurídicos de
idêntico fim económico, ou à obtenção de vantagens fiscais que não seriam alcançadas, total ou parcialmente,
sem utilização desses meios, efetuando-se então a tributação de acordo com as normas aplicáveis na sua
ausência e não se produzindo as vantagens fiscais referidas.”
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Cfr Alberto Xavier, Direito Tributário Internacional.
3. CASO PRÁTICO
3.1 ENUNCIADO
“As famílias Pereira e Vitorino detêm, cada, uma sociedade. A família Pereira detém a
“Jeans Pereira, Lda” e a família Vitorino a “Vitorino Têxteis, Lda”. Ambas as sociedades
dedicam-se, entre outras atividades, à produção de calças de ganga. As famílias decidiram
concentrar esta atividade de modo a ganharem economia de escala. Para o efeito acordaram
criar uma filial comum, detida em partes iguais pelas atuais sociedades, e para a qual
pretendem transferir toda a atividade até agora desenvolvida com a produção de calças de
ganga, incluindo o património e contratos afetos a essa atividade. Diga, justificadamente, a
melhor forma de estruturar a operação, de modo a minimizar os impostos devidos e refira
eventuais dificuldades à concretização dessa operação.”
ENTRADA DE ATIVOS
Parte do Parte do
Transferência de um ramo de Transferência de um ramo de
capital capital
atividade: atividade:
social social
Produção de calças de ganga, Produção de calças de ganga,
50% 50%
incluindo o património e contratos incluindo o património e contratos
afetos a esta atividade afetos a esta atividade
3.2 RESOLUÇÃO
O CIRC prevê, nos art.ºs 72º e seguintes, o regime fiscal aplicável à transformação e
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reestruturação de sociedades, estabelecendo a possibilidade do exercício de opção pelo
regime especial aplicável às fusões, cisões, entradas de ativos e permutas de partes sociais,
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que consiste no regime de neutralidade fiscal que prevê o diferimento da tributação incidente
sobre as operações de reestruturação.
Embora operação de entrada de ativos seja muito parecida com a cisão e se possam
confundir, estas têm diferenças, das quais destaco o empobrecimento da entidade cindida ao
contrário do não empobrecimento da entidade contribuidora:
pois na operação de cisão, o ramo de atividade transferido para a entidade
beneficiária é retribuído aos sócios da sociedade cindida com partes
representativas do capital social da respetiva entidade beneficiária,
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Reestruturação empresarial pode ser entendida como o conjunto de medidas tomadas pelas empresas que podem
alterar a estrutura de ativos (pela aquisição ou venda de ativos) ou a estrutura de financiamento (pela modificação da
proporção de dívida e capital próprio).
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O regime de neutralidade fiscal prevê o diferimento da tributação incidente sobre as operações de reestruturação.
De acordo com a descrição do caso prático em análise estamos perante uma operação
de entrada de ativos, pois as sociedades contribuidoras “Jeans Pereira, Lda” e “Vitorino
Têxteis, Lda”, dedicando-se ambas, entre outras atividades, à produção de calças de ganga,
decidem transferir esse ramo de atividade, incluindo o património e contratos afetos a esse
ramo, com o propósito de criar economias de escala (razão económica válida), concentrando-o
numa nova sociedade (filial), sendo a sociedade delas beneficiária, tendo como contrapartida
partes de capital social para ambas as sociedades contribuidoras na proporção de 50%
cada.
Nos termos do nº4 do art.º 73º do CIRC “considera-se ramo de atividade o conjunto
de elementos que constituem, do ponto de vista organizacional, uma unidade económica
autónoma, ou seja, um conjunto capaz de funcionar pelos seus próprios meios, o qual pode
compreender as dívidas contraídas para a sua organização ou funcionamento.”
De acordo com a alínea a) do nº7 do art.º73 do CIRC, as famílias Pereira e Vitorino
podem optar pela aplicação deste regime especial à operação de entrada de ativos para
criação da filial, pelas suas sociedades terem sede ou direção efetiva em território português
sujeitas e não isentas de IRC.
De acordo com o nº1 do art.º 74º do CIRC, a neutralidade fiscal deste regime consiste
em obter uma vantagem fiscal (exclusão de tributação na operação), existindo um diferimento
no tempo quer para os beneficiários, quer para os transmitentes, uma vez que a data e valores
dos ativos e passivos transferidos não alteram nenhuma das suas características fiscais.
Nesse sentido, na determinação do lucro tributável das sociedades contribuidoras:
não é considerado qualquer resultado derivado da transferência dos elementos
patrimoniais em consequência da entrada de ativos,
nem são considerados como rendimentos, nos termos do n.º 3 do artigo 28.º e do
n.º 3 do artigo 35.º, os ajustamentos em inventários e as perdas por imparidade e
outras correções de valor que respeitem a créditos, inventários e, bem assim, nos
termos do n.º 4 do artigo 39.º, as provisões relativas a obrigações e encargos
objeto de transferência, aceites para efeitos fiscais, …
Por outro lado, no nº2 estabelece que a aplicação do regime especial determina que a
sociedade beneficiária mantenha, para efeitos fiscais, os elementos patrimoniais objeto de
transferência pelos mesmos valores que tinham nas sociedades contribuidoras antes da
realização da operação de entrada de ativos, considerando-se que tais valores são os que
resultam da aplicação das disposições do CIRC ou de reavaliações efetuadas ao abrigo de
legislação de carácter fiscal.
Nos termos do nº3, na determinação do lucro tributável da sociedade beneficiária deve
ter-se em conta o seguinte:
O apuramento dos resultados respeitantes aos elementos patrimoniais
transferidos é feito como se não tivesse havido entrada de ativos;
As depreciações ou amortizações sobre os elementos do ativo fixo tangível, do
ativo intangível e das propriedades de investimento contabilizadas ao custo
histórico transferidos são efetuadas de acordo com o regime que vinha sendo
seguido nas sociedades contribuidoras;
Os ajustamentos em inventários, as perdas por imparidade e as provisões que
foram transferidos têm, para efeitos fiscais, o regime que lhes era aplicável nas
sociedades contribuidoras.
No art.º 78º estão definidas as respetivas obrigações acessórias a cumprir para usufruir
deste regime, nomeadamente:
Dever de comunicação, da opção pela aplicação do regime especial, à Autoridade
Tributária e Aduaneira na declaração anual de informação contabilística e fiscal, a
que se refere o artigo 121.º, relativa ao período de tributação em que a operação é
realizada:
Pela sociedade beneficiária, no caso de entrada de ativos, exceto
quando não seja residente em território português nem disponha de
estabelecimento estável aí situado, caso em que a obrigação deve ser
cumprida pela sociedade contribuidora;
Para efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 74.º, a sociedade contribuidora deve
integrar no processo de documentação fiscal a que se refere o artigo 130.º os
seguintes elementos:
Declaração da sociedade beneficiária de que obedece ao disposto no
n.º 3 do artigo 74.º;
No entanto, esta operação não pode ter como principal objetivo ou como um dos
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principais objetivos obter apenas uma vantagem fiscal, ou seja, a evasão fiscal , caso contrário
a AT realizará as correspondentes liquidações adicionais de imposto, aplicando a cláusula
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especial anti-abuso prevista no nº10 do art.º 73 do CIRC.
Assim, caso a operação de entrada de ativos não possa beneficiar do regime de
neutralidade fiscal, a operação será tributada como qualquer operação de entradas em espécie
para realização do capital social da beneficiária.
Na esfera da sociedade beneficiária, a entrada em espécie será considerada uma
variação patrimonial positiva que não concorre para a formação do lucro tributável, como prevê
a al. a) do nº1 do art.21º do CIRC.
Na esfera da sociedade contribuidora, a operação será equiparada, para efeitos de
tributação, a uma permuta de bens. Considerar-se-á como valor de realização dos bens
transmitido (caso estes se encontrem registados como ativos ou instrumentos financeiros) o
valor de mercado das participações sociais recebidas, nos termos da al. a) nº3 art.º46º do
CIRC. Caso os bens transferidos se encontrem registados como existências, o valor do rédito
será idêntico ao justo valor das participações recebidas, cfr parágrafo 12 da NCRF20.
Para que não seja posta em causa, pela AT, a opção de aplicação do regime especial é
essencial que a totalidade dos rendimentos das sociedades intervenientes estejam sujeitas ao
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Evasão fiscal = Planeamento fiscal abusivo; foca-se em operações que têm como objetivo contornar a lei fiscal sem
expressamente a infringir, ou seja, estes comportamentos não violam um qualquer dever de cooperação, mas ainda
assim não são desejados pelo legislador, por visarem manifestamente ladear o ordenamento jurídico-tributário para
conseguir um objetivo oposto aos valores que o estruturam. (cfr Sanches, 2006)
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Cfr. Art.º73º nº10 do CIRC.
mesmo regime de tributação em IRC e/ou ter “razões económicas válidas” para realizar a
entrada de ativos, tais como reestruturação ou racionalização das atividades das sociedades
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contribuidoras – cfr art.º 73º nº3 do CIRC e nº15 al. a) da diretiva .
Neste caso podemos considerar que a intenção de concentrar o ramo de atividade de
produção de calças de ganga de ambas as sociedades constituindo uma filial por elas detidas
na mesma proporção, com o objetivo de criar economias de escala é justificação dos
requisitos exigidos para aplicação do regime especial de neutralidade fiscal.
4. ANÁLISE DE JURISPRUDÊNCIA
como objetivo a fraude ou a evasão fiscais. O fato da operação não ser realizada por
razões económicas válidas, como a reestruturação ou a racionalização das atividades das
sociedades que participam na operação, pode constituir presunção de que essa operação
tem esse objetivo. Sendo que pode constituir uma presunção de que uma operação de fusão
entre duas sociedades do mesmo grupo não é efetuada por «razões económicas válidas», na
aceção do artigo 11.º, n.º 1, alínea a) da Diretiva 90/434/CEE, o facto de, à data da operação
de fusão, a sociedade incorporada não exercer nenhuma atividade, não deter nenhuma
participação financeira e se limitar a transmitir para a sociedade incorporante prejuízos fiscais
elevados e de origem indeterminada, ainda que essa operação tenha para o grupo um efeito
positivo consubstanciado em economias em termos de estrutura de custos.
Segundo o acórdão Leur-Bloem do TJUE, razões puramente fiscais não são razões
económicas válidas.
5. CONCLUSÃO
Planeamento fiscal é o exercício ativo e não abusivo dos princípios da iniciativa privada
e da liberdade contratual pela opção de conformação dos factos jurídicos tributários, mediante
renúncia a um comportamento (comportamento substituído) que origina maior onerosidade e
penosidade fiscal (fricção tributária).
Substituindo-o por um outro (ou uma série ordenada de outros) material e
economicamente equivalente (comportamento de substituição), mas que proporciona uma
vantagem fiscal traduzida, designadamente, na eliminação, redução ou diferimento de
impostos, isto é que proporciona um capital disponível mais elevado após impostos, em virtude
de exclusões tributárias, benefícios fiscais ou alternativas fiscais, decorrentes de ação
intencional, ou não, do legislador fiscal.
O problema político da humanidade é combinar três coisas: eficiência económica,
justiça social e liberdade individual.
O regime de neutralidade fiscal das fusões, cisões, entrada de ativos e permutas de
partes sociais permite o diferimento do imposto.
No entanto o regime deixa de ser aplicado quando se conclua que teve como principal
objetivo a evasão fiscal, nomeadamente quando as sociedades intervenientes não tenham a
totalidade dos seus rendimentos sujeitos ao mesmo regime de tributação em IRC e quando as
operações não tenham sido realizadas por razões económicas válidas, tais como
reestruturação ou a racionalização das atividades das sociedades.
Por consequência existem limites ao planeamento fiscal através da aplicação da
Cláusula geral antiabuso.
A aplicação da Cláusula geral antiabuso tem por objetivo evitar a manipulação da forma
jurídica para obtenção de um resultado fiscal vantajoso (em detrimento da eficiência
económica), causando o efeito de ineficácia fiscal dos negócios abusivos, justificada por
razões de equidade e justiça na distribuição dos encargos.
Para aplicar a cláusula geral antiabuso prevista no artigo 38º/2 da LGT, é necessário
que estejam preenchidos os respetivos requisitos: redução da carga fiscal, utilização de meios
artificiosos e abuso da forma jurídica. A AT tem o especial dever de fundamentação e cumprir o
procedimento especial previsto no art.º 63º da LGT.
Nesse sentido, o comportamento abusivo não pode ser presumido mas sim
comprovado.
6. BIBLIOGRAFIA