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Planejamento Tributário
Prof. Dr. Luís Eduardo Schoueri
Os Limites do Planejamento
Tributário: as experiências alemã,
francesa, espanhola e norte-
americana
O Sistema Alemão
Abuso de formas
Aplicação residual
jurídicas
O Sistema Alemão
1) A obrigação tributária não pode ser eludida ou reduzida
Abuso de mediante o abuso de formas e formulações de direito civil;
formas 2) Quando há abuso, os impostos deverão ser cobrados como o seriam
jurídicas se adotada a forma jurídica adequada para os fenômenos, fatos e
relações econômicos.
Article L64
A fim de restabelecer seu verdadeiro caráter, a administração tem o direito
de descartar, por não serem oponíveis a ela, os atos constitutivos de um
abuso do direito, seja porque esses atos são fictícios, seja porque, ao
buscarem um benefício da aplicação literal dos textos ou de decisões que vai
contra os objetivos perseguidos por seus autores, não puderam ter sido
inspirados por nenhum outro motivo senão o de elidir ou mitigar os
encargos fiscais com que o interessado teria normalmente arcado
considerando sua situação ou atividade concreta, se tais atos não tivessem
sido feitos ou executados.
O Sistema Francês
Article L64
[...] Em caso de desacordo sobre as retificações notificadas com base neste
artigo, a controvérsia é submetida, a pedido do contribuinte, ao parecer do
comitê de abuso tributário. A administração também pode submeter a
disputa ao parecer do comitê.
Se a administração não tiver concordado com a opinião da comissão, ela
deve provar a consistência da retificação.
• Artificialidade
Fraude à lei • Irrelevância Econômica
ou Jurídica
Simulação Requalificação
O Sistema Norte-americano
Artigo 129 (tributos formais x econômicos): “Salvo em se tratando de tributos incidentes sobre
atos jurídicos formais e de taxas, a interpretação da legislação tributária, no que se refere à
conceituação de um determinado ato, fato ou situação jurídica como configurando ou não o fato
gerador, e também no que se refere à determinação da alíquota aplicável, terá diretamente em
vista os resultados efetivamente decorrentes do aludido ato, fato ou situação jurídica, ainda
quando tais a resultados não correspondam aos normais, com o objetivo de que a resultados
idênticos ou equivalentes corresponda tratamento tributário igual”.
Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do
conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos
respectivos efeitos tributários.
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição
Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos
Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
O Sistema Brasileiro
“[...] a doutrina tradicional vem conotando certos fatos jurídicos, tal qual o fato
elisivo, como construção de conteúdo econômico, com efeitos jurídicos. Assim o
entende, Amilcar de Araújo Falcão, que o qualifica como fato jurídico de conteúdo
econômico ou mesmo fato econômico de relevância jurídica. Distrações desse
gênero, conduziram o pensamento à ideia de que seja necessário ao direito tomar
emprestado o fato econômico para cumprir com suas funções prescritivas de
conduta”.
“[...] não há fatos jurídicos puros ou fatos econômicos puros. O que existe são
cortes de linguagem. Nós, juristas, montamos realidade jurídica que representa o
corte. Desta maneira, construímos a interpretação jurídica. Nada disso impede que
economistas tomem a mesma base objetiva e produzam enunciados econômicos
sobre ela. Produzem-se, por sua vez, outros cortes sobre o mesmo acontecimento,
compondo novo signo”.
Consideração Econômica
O Sistema Brasileiro
CTN:
Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, Art. 118. A definição legal do
considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os fato gerador é interpretada
seus efeitos: abstraindo-se:
I - tratando-se de situação de fato, desde o
momento em que o se verifiquem as circunstâncias I - da validade jurídica dos
materiais necessárias a que produza os efeitos que atos efetivamente praticados
normalmente lhe são próprios; pelos contribuintes,
responsáveis, ou terceiros,
II - tratando-se de situação jurídica, desde o
momento em que esteja definitivamente constituída, bem como da natureza do seu
nos termos de direito aplicável. objeto ou dos seus efeitos;
• Abuso do direito
- Destinado a atos ilícitos
- Influência francesa
• Consideração econômica
• Abuso de formas
- Rejeição histórica
- Analogia: proibição
• Fraude à lei
- Qual comando legal seria
fraudado?
• Simulação
Evolução Jurisprudencial do
CARF
Evolução do tema na doutrina e
jurisprudência
Abordagem
Formalista
Artigo 116, parágrafo único
Abordagem
Formalista
Alteração no CTN
Artigo 116, parágrafo único
Medida Provisória nº 66/02 (REJEITADA pelo Congresso)
Art. 14. São passíveis de desconsideração os atos ou negócios jurídicos que visem a reduzir o valor
de tributo, a evitar ou a postergar o seu pagamento ou a ocultar os verdadeiros aspectos do fato
gerador ou a real natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária
§ 1º Para a desconsideração de ato ou negócio jurídico dever-se-á levar em conta, entre outras, a
ocorrência de: I - falta de propósito negocial; ou II - abuso de forma.
§ 2º Considera-se indicativo de falta de propósito negocial a opção pela forma mais complexa ou
mais onerosa, para os envolvidos, entre duas ou mais formas para a prática de determinado ato.
§ 3º Para o efeito do disposto no inciso II do § 1º, considera-se abuso de forma jurídica a prática de
ato ou negócio jurídico indireto que produza o mesmo resultado econômico do ato ou negócio
jurídico dissimulado.
Abordagem Rejeição da MP
Formalista 66/02
Alteração no CTN
Artigo 116, parágrafo único
Simulação
Consideração econômica
- 35 autores;
- Palavras-chave.
Business purpose:
critérios usados pelo CARF
Empresa
superavitária
Evolução dos julgados do CARF
• 1994
Acórdão CSRF 01-01.874: planejamento válido (legalidade)
• 1996
Acórdão CSRF 01-02.107: planejamento inválido (falta de business purpose)
• 2002
Acórdão 103-21046: planejamento válido (legalidade)
Acórdão 103-21047: planejamento inválido (legalidade: simulação)
• 2003
Acórdão 101-94127: planejamento válido (legalidade)
• 2004
Acórdão 107-07596: planejamento válido (business purpose)
• 2006
Acórdão 105-15822: planejamento válido (legalidade)
• 2007
Acórdão 105-16.677: planejamento válido (legalidade)
Exemplo: operação “casa e
separa”
Operação “casa e separa”
Fundos imediatamente
disponíveis (Caixa) da
Empresa A
Empresa B
Operação “casa e separa”
Empresa B Empresa A
Incorporação
Evolução dos julgados do CARF
• 2001
– Acórdão 101-93704: planejamento válido (legalidade)
• 2003
– Acórdão 101-94340: planejamento válido (legalidade)
• 2004
– Acórdão 101-94771: planejamento inválido (legalidade: simulação)
• 2005
– Acórdão 101-95018: planejamento inválido (ausência de business purpose)
• 2006
– Acórdão 104-21498: planejamento inválido (ausência de business purpose)
– Acórdão 104-21675: planejamento inválido (ausência de business purpose)
– Acórdão 101-95818: planejamento inválido (legalidade: simulação)
• 2007
– Acórdão 104-22250: planejamento inválido (legalidade: simulação)
Exemplo: Ágio
e empresa-veículo
Ágio e Empresa-veículo
Empresa X integraliza o capital da
Empresa Z com ações da Empresa
X X1
Z
Empresa Z
X1
contabiliza ágio
derivado das
ações da Empresa
X1
Empresa Z se torna
controladora da
Empresa X1
Ágio e Empresa-veículo
X Empresa Z é
incorporada pela
Empresa X1
Z Empresa X1 registra
ágio em sua
contabilidade
X1
“Caso Libra”
• “Penso que o cerne da questão não é o meio de pagamento utilizado, mas sim a
ocorrência de dispêndio para obter algo de terceiros, que não pertença ao
adquirente, de forma a definir a aquisição. (...) Não se trata, como ocorre no
presente caso, do estabelecimento do valor patrimonial do investimento pelos
próprios sócios.”
• “Tal afirmação é equivocada. Não se pode confundir o pretenso ágio que teria
surgido na investidora HOOVER quando do aumento do seu capital com quotas da
JCAE do Brasil (18/12/2003), com o ágio que nasce na JCBA, quando do aumento
do capital nesta última (18/12/2003), mediante entrega, pela HOOVER, de quotas
da JCAE do Brasil. São ágios diferentes. O primeiro ágio surgiu com as negociações
realizadas entre a HOOVER(USA) e a JCI (USA). O segundo, quando do aumento de
capital realizado pela HOOVER(USA) em sua controlada, a JCBA (fiscalizada).”
“Caso Johnson”
• “Em direito tributário não existe o menor problema em a pessoa agir para
reduzir sua carga tributária, desde que atue por meios lícitos. Inclusive, é
de se esperar que as pessoas façam isso, sendo recriminável exatamente
a conduta oposta”
“Caso Gerdau”
• “Desde que o contribuinte atue conforme a lei, ele pode fazer seu
planejamento tributário para reduzir sua carga tributária. O fato de sua
conduta ser intencional (artificial), não traz qualquer vicio. Estranho seria
supor que as pessoas só pudessem buscar economia tributária lícita se
agissem de modo casual, ou que o efeito tributário fosse acidental”
Técnico
Caso Felipão
• CARF, Ac. 106-14.244, 2004: “embora presente a
expectativa de economia de imposto mediante a elisão esta não se
configura em face da prestação laboral cuja remuneração tributa-
se pela legislação do imposto de renda das pessoas físicas”.
Técnico
Caso Felipão
Cons. José Ribamar Barros Penha: “Se foi este, pessoa física, quem prestou
os serviços a este cabe a remuneração e a correspondente tributação do Imposto de
Renda como determina a legislação tributária transcrita”.
Código Civil - Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Caso Ratinho
• 51% - Ratinho
Empresa do Ratinho
• 49% - Solange (Esposa)
Apresentador
de TV
Caso Ratinho
• CARF, Ac. 104-21583, 2006: “Não tenho dúvidas, que as cláusulas
contratuais, esclarecem sem margem de erro que os serviços a serem prestados
serão prestados pessoalmente pela pessoa física do apresentador Carlos Roberto
Massa, de forma que não se pode negar que os valores pagos pelas empresas
envolvidas, relativos ao trabalho pessoal do apresentador Carlos Roberto Massa,
são rendimentos tributáveis na pessoa física”.
INSS patronal (20%)
INSS segurado individual (tabela)
IRF (27,5%)
ISS (2 a 5%)
Apresentador de
TV
Caso Ratinho
Cons. Nelson Mallmann: “É nítido que o referido artigo (art. 129 da Lei
11.196/05) inovou no ordenamento jurídico, pois até então, a legislação tributária acerca
do imposto de renda nunca deixou dúvidas que rendimentos provenientes da exploração
do serviço individualmente prestado por um artista, ou seja, serviço personalíssimo, seria
tributado na pessoa física prestadora do serviço, mesmo que os serviços fossem
contratados e ajustados por meio de uma pessoa jurídica, pois se verifica que, na
realidade, o que foi contratado foi um serviço individual”.
“Não pairam dúvidas, para quem analisa as peças contidas nos autos, que se trata,
realmente, de um caso de trabalho pessoal, ou seja, prestação de serviços de natureza
pessoal, prestados pelo próprio litigante, na geração dos rendimentos em causa, pois sem
ele, com absoluta certeza que o faturamento da empresa ficaria em torno de receita bruta
"quase zero", pois é de uma pretensão sem fronteiras querer fazer crer que retirando o Sr.
Carlos Roberto Massa que o faturamento continuaria no mesmo patamar”.
Casos de Atletas
Salário
2006 a 2013
Sucessivos programas de
Desjudicialização
parcelamento (REFIS, PAES etc)
schoueri@usp.com.br