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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

UNIDADE DE ESTUDO 03

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO


Profª. Isabel Vieira

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Dando continuidade ao estudo dos fundamentos teóricos do planejamento


tributário, vamos abordar mais detalhadamente as tipificações da Simulação e Dissimulação,
as quais são espécies de evasão fiscal, ou seja, a economia de impostos através de meios
ilícitos ou ilegais.

Antes de adentrarmos no tema específico, vamos relembrar as possibilidades de


redução do custo tributário:

 Evasão fiscal: ilícito penal, sancionado com multa qualificada. São ações ilícitas
praticadas pelo contribuinte com o intuito de não pagar o tributo devido. Nesse
sentido, adotam-se práticas contrárias à lei ou, ainda, proibidas por lei, para “fugir”
do pagamento de tributos;
 Elusão Fiscal: ilícito civil, apenas, sancionado com multa simples. Caracteriza-se por
toda e qualquer ação e omissão que tenha por único objetivo o não pagamento do
tributo. Entretanto, trata-se de ilícito civil, onde tal prática não se configura ilícito
penal. Nesse caso, a principal consequência é a desconsideração do fato ou ato
jurídico, realizando-se a efetiva tributação, cominada à aplicação de multa de ofício,
simples, e com juros;
 ELISÃO FISCAL: economia legal de tributos, conhecido como Planejamento Tributário.
São as práticas previstas em lei para a diminuição do custo tributário para o
contribuinte

SIMULAÇÃO E DISSIMULAÇÃO

Na Simulação o que ocorre é que as partes praticam um ato ou negócio jurídico


aparentemente lícito e possível, sendo que, no entanto, o fim almejado é diferente. Um bom
e simples exemplo é, em compra e venda de alguma mercadoria, inserir na Nota Fiscal um
valor inferior ao real, a fim de pagar menos o tributo. Nesse caso, há um negócio jurídico
lícito, porém as partes “escondem” a veracidade dos elementos constituintes do ato
negocial. É uma forma de “enganar” um terceiro, em regra, o fisco.

É importante frisar que a Simulação não é presumida!!! Cabe ao órgão fiscalizador


provar a sua existência e prática para a devida punição. Porém, é muito comum, no dia a dia
do contribuinte, o fisco utilizar-se da simples justificativa de “Simulação” para autuar o
contribuinte, sem demonstrar os elementos que caracterizam, de fato, a simulação, ou,
ainda, sem demonstrar qual seria o negócio real a ser realizado. Isso é um problema atual e
constante, o qual deve ser analisado e prevenido pelos departamentos jurídicos e tributários
da empresa.

Nesse sentido, atente-se para o art. 167 do CC/02:

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se
válido for na sua substância e na forma.

§1° Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais


realmente se conferem, ou transmitem;

II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

Ainda sobre a Simulação, há de se destacar que, doutrinariamente, há diferença


entre Simulação Relativa e Simulação Absoluta. Na Simulação Relativa as partes almejam
praticar um negócio jurídico, “escondido” no negócio jurídico aparente. É o caso citado onde
o preço constante em NF é diferente do real, ou seja, há um ato negocial diferente do
apresentado. Nesse caso, o fisco pode desconsiderar o negócio jurídico aparente e tributar o
dissimulado, o escondido, se este for lícito e possível. É a chamada Dissimulação.

No caso da Simulação Absoluta, o negócio jurídico realizado não condiz com a


realidade, não demonstra a vontade real das partes, nem parcialmente. Diz-se que há uma
declaração de vontade falsa, negócio jurídico inexistente.

Tanto a Simulação Absoluta quanto a Relativa (Dissimulação) são consideradas como


Evasão Fiscal, passíveis de autuação, aplicação de multas exorbitantes e, ainda,
responsabilização civil e penal do contribuinte e responsáveis. Sem contar que, apesar de a
lei antielisiva nacional não ter sido regulamentada ainda, é muito comum a autoridade fiscal
desconsiderar o negócio jurídico simulado e tributar, com seus ônus de multa e juros, o
negócio jurídico escondido.

Nesse sentido, citam-se as seguintes decisões do CARF:

Planejamento Tributário, simulação. Negócio jurídico indireto – A simulação existe


quando a vontade declarada no negócio jurídico não se coaduna com a realidade
do negócio firmado. Para se identificar a natureza do negócio praticado pelo
contribuinte, deve ser identificada qual é a sua causalidade, ainda que esta
causalidade seja verificada na sucessão de vários negócios intermediários sem
causa, na estruturação das chamadas step transactions. Assim, negócio jurídico
sem causa não pode ser caracterizado como negócio jurídico indireto. O fato
gerador decorre da identificação da realidade e dos efeitos dos fatos efetivamente
ocorridos, e não de vontades formalmente declaradas pelas partes contratantes ou
pelos contribuintes. SIMULAÇÃO. A Subscrição de novas ações de uma sociedade
anônima, com a sua integralização em dinheiro e registro de ágio, para
subsequente retirada da sociedade da sócia originária, com resgate das ações para
guarda e posterior cancelamento caracteriza simulação de venda da participação
societária. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MULTA. No planejamento tributário,
quando identificada a convicção do contribuinte de estar agindo segundo o
permissivo legal, sem ocultação da prática e da intenção final dos seus negócios,
não há como ser reconhecido o dolo necessário à qualificação da multa, elemento
este constante do caput dos arts. 71 a 73 da Lei 4.502/64 (Processo: n°
19515.001895/2007-11, Recurso n° 165.479 Voluntário, Acórdão n° 1401-00.155 4°
Câmara / 1° Turma Ordinária, Data do Julgamento: 28/01/2010).

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS. Período de apuração: 01/05/2001 a


31/12/2004. CISÃO SIMULADA DE EMPRESA. DESCONSIDERAÇÃO DE VÍNCULOS
LABORAIS PACTUADOS, LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO EM NOME DA EMPRESA
ORIGINÁRIA. Constatando-se a ocorrência de reorganização societária simulada,
com o intuito de repassar parcela do faturamento cindida para outra (s) criada(s)
para aderir a sistema favorecido de tributação, o fisco pode desconsiderar os laços
laborais pactuados com esta(s) e vincular os trabalhadores diretamente à empresa
originária, em nome da qual serão lançadas as contribuições decorrentes, desde
que se demonstre a confusão entre os quadros funcionais das empresas
envolvidas. (Recurso n° 251017 – Número do Processo – 35856.002520/2006-74-
Órgão Julgador Primeira Turma/Quarta Câmara / Segunda Seção de Julgamento.
Data da Sessão 23/09/2010. Número do Acórdão2401-001.388).

Por isso, ao adotar medidas para a redução, extinção ou postergação da carga


tributária empresarial, deve-se ter em mente se a forma adotada, o objeto e a declaração do
negócio jurídico correspondem à fiel vontade das partes, pois, se houver alguma
inconformidade ou desconexão, a autoridade fiscal pode desconsiderar o ato e tributar
diferentemente.
REFERÊNCIAS

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ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1990.
BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução à Ciência das Finanças. 12° ed. Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 1977.
BANDEIRA DE MELLO, C.A. Curso de Direito Administrativo. 4.ed. São Paulo: Malheiros,
1993.
BORGES, Humberto Bonavides. Planejamento Tributário. IPI, ICMS, ISS e IR. 13 ed. São
Paulo: Atlas, 2014.
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 18° ed. São Paulo:
Malheiros, 2002.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 22° ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
CHAVES, Francisco Coutinho. Planejamento Tributário na Prática: Gestão Tributária
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____Comentários à Reforma Administrativa. De acordo com as Emendas Constitucionais 18
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DORIA, Antônio Roberto Sampaio. Elisão e Evasão Fiscal. 2 ed. São Paulo: Bushatsky, 1977.
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NOBREGA, Airton Rocha. O Princípio Constitucional de Eficiência. In: Fórum Administrativo,
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um diálogo luso-brasileiro. Coimbra., Portugal: Grupo Almedina, 2012. Cadernos IDEFF
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TREIGER GRUPENMACHER, Betina. Exonerações Tributárias: incentivos e benefícios
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diálogo luso-brasileiro. Coimbra, Portugal: Grupo Almedina, 2012. Cadernos IDEFF
Internacional.

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