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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

UNIDADE DE ESTUDO 04

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO


Profª. Isabel Vieira

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

1. Abuso de Direito e Abuso de Forma

O abuso de direito e abuso de forma estão no campo da Elusão Fiscal, pois o seu
cometimento caracteriza ilícito civil, apenas.

Nos termos do art. 187 do CC/2002:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.

Para se configurar o abuso de direito, deve-se analisar a finalidade social do negócio,


ou seja, se há interesse do agente em lesar a outra parte ou terceiros interessados, no caso,
o fisco. Nesse sentido, o agente utiliza de meios que vão além do seu campo de exercício de
direito, “desequilibrando” interesses. Em suma, o abuso de direito se caracteriza pela ação
do contribuinte, através da sua liberdade negocial, em praticar atos que não condizem com a
real intenção econômica e negocial da operação, com o intuito de minimizar o montante
tributário devido ou afastar a incidência tributária na operação.

Já no abuso de forma há “duas operações”, uma escondida em forma de outra, com


o único objetivo de iludir terceiros. Pode ser entendido como a própria Dissimulação, pois as
partes querem praticar um negócio jurídico, no entanto, adotam forma diferente da
aplicada, a fim de aparentar outro ato.

Importante mencionar que, no caso do abuso de forma, há certa discussão doutrinária e


jurisprudencial se este realmente caracteriza-se como ilícito, pois, tendo em vista a liberdade
negocial e a inexistência de tipificação limitada de negócios jurídicos, poderia o contribuinte
utilizar-se de meios legais para a redução de seu custo tributário.
No entanto, como ocorre em qualquer tipo de evasão ou elusão fiscal, cabe ao
agente tributário demonstrar que a ação do contribuinte foi praticada com o único objetivo
de fraudar o fisco, prejudicando o erário público. Essa comprovação é necessária para a
desqualificação do ato e possível tributação consequente.

2. Negócio Jurídico Indireto

Denomina-se negócio jurídico indireto quando as partes se utilizam de um negócio


jurídico previsto em lei para atingir objetivo diverso daquela espécie.

Nesse caso, o ato negocial é previsto em lei, no entanto, a intenção é alcançar


objetivo diverso daquele estipulado pela legislação.

PROPÓSITO NEGOCIAL

Atualmente, utiliza-se a expressão “Propósito Negocial” para excluir a ilicitude dos


atos considerados como abuso de direito, de forma ou sob a forma de negócio jurídico
indireto.

Segundo a Teoria dos Ilícitos Civis, o propósito negocial será encontrado quando
houver a justificação, seja ela econômica, comercial, societária ou financeira, para a
realização de determinado negócio jurídico. Por exemplo, o contribuinte poderá justificar
algum negócio jurídico pela necessidade de aumento de receita ou redução de custo; ganho
de eficiência e concorrência no mercado; reestruturação societária justificada ou, ainda,
através de empréstimos e ou financiamentos que lhe alterem o financeiro empresarial.

Para se verificar a existência do Propósito Negocial e, assim, evitar-se a


desconsideração do negócio jurídico e consequente tributação onerada de multa e juros,
devem ser levados em consideração os seguintes itens:

 Existir justificativa de caráter financeiro, societário, econômico ou comercial;


 Tal justificativa deverá estar, necessariamente, baseada em laudos, pareceres ou
relatórios técnicos sobre a situação;
 Se as operações terão consequência efetiva com relação ao montante tributário
devido;
 Se há prazo razoável entre a data das operações e a data da economia fiscal.
Portanto, conclui-se que, excluindo os casos de evasão fiscal, através de
simulação/fraude/conluio, nos casos de Elusão Fiscal, estando presente o Propósito
Negocial, haverá uma grande defesa para o contribuinte, o que evitará a autuação e
consequente tributação dos negócios jurídicos considerados como ilícitos pela autoridade
fiscal. Para isso, importante a tomada de decisões na organização com o aval e participação
de membros de diversos departamentos, a fim de se justificar a operação, minimizando,
assim, o risco de autuação tributária.

OPERACIONALIZANDO O PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

O planejamento tributário, dentro de uma organização, deve ser operacionalizado


por meio de três esferas:

 Internamente: no âmbito da própria empresa, onde as decisões e ações gerenciais


devem ser realizadas com o intuito de evitar a ocorrência do fato gerador, a
diminuição de seu montante ou a postergação do pagamento, através de atos lícitos
e possíveis.
 Administrativamente: Utilizar-se de meios permitidos na legislação a fim de
minimizar o custo tributário. Assim, a empresa pode buscar a autoridade
administrativa tributária para solicitar uma readequação de classificação ou, por
exemplo, cadastrar-se para a obtenção de redução de alíquota de determinado
tributo ou para a utilização do benefício da isenção fiscal;
 Judicialmente: é a utilização do contencioso judicial para postergar o pagamento,
através da suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ou, ainda, para discutir
autuação ou cobrança possivelmente indevida.

Analisando os aspectos acima descritos, podemos concluir que, para a devida


aplicação do Planejamento Tributário, como ferramenta da Governança Tributária, há a
necessidade da tomada de decisões justificada, utilizando-se de documentação
fundamentada para a realização de certos negócios jurídicos, a fim de que seja minorado ou
até mesmo extinto o custo tributário de forma legal e possível, considerando mínimo o risco
de autuação.
INDICAÇÃO DE VIDEOS

https://www.youtube.com/watch?v=Oetj0auwW-M

https://www.youtube.com/watch?v=wc0f17zGcqc

https://www.youtube.com/watch?v=80mL98UZd7M&list=PLoaEgfUVQsXHc3oFdZ4QNlajAqt3r5rv0

REFERÊNCIAS

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