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CONTABILIDADE

TRIBUTÁRIA

Ramon Alberto Cunha de Faria


Elisão Fiscal como forma
de planejamento tributário
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Reconhecer a importância do planejamento tributário, a fim de
buscar alternativa válida para redução dos impostos licitamente.
„„ Definir a Elisão Fiscal, como meio de redução da carga tributária.
„„ Identificar a redução dos impostos e desenvolver um planeja-
mento tributário.

Introdução
O planejamento tributário é uma ferramenta que visa projetar
as atividades econômicas da empresa, devido à elevada carga
tributária. Somado à competitividade mundial, leva as empresas a
conhecerem as possíveis alternativas válidas dentro da legislação vi-
gente, a fim de diminuir licitamente a carga tributária e adotar aquela
que melhor convêm, com intuito de reduzir o montante dos tributos.
Neste texto, você vai estudar uma das formas de planejamento tribu-
tário, a Elisão Fiscal. A empresa opta previamente, ou seja, antes do
fato gerador do tributo, pelo caminho que reduz o impacto tributário
nas finanças empresariais, respeitando a legislação vigente.

Planejamento tributário – breve resumo


Atualmente, com os efeitos da globalização, cada vez as empresas se tornam
mais competitivas no mercado, o que desperta a procura por medidas de pla-
nejamento e redução de custos de forma a não perder a qualidade do produto
e/ou serviço e os clientes.
Um dos itens de maior interesse para o empresário, no sentido de planeja-
mento estratégico, seja talvez o planejamento tributário, visto que o custo com
tributos pode chegar a 40% de seu rendimento mensal. Por esse percentual

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pode-se verificar a importância de um planejamento que vise reduzir a carga


tributária.
Todo ato de planejamento é essencialmente obrigatório para os gestores
de uma empresa. Como o mercado exige cada vez mais uma visão de curto
e longo prazo de seu negócio, há necessidade de se ficar atento a novas mu-
danças globais, pois sem um bom planejamento, com certeza, o negócio po-
derá vir a falir.
Você pode perceber, com isso, que o planejamento faz parte do negócio
empresarial e, no Brasil, o planejamento tributário é aos olhos do empresário
uma chance de obter-se uma redução drástica de seus custos por meio de uma
brecha na legislação tributária.
Porém, antes de qualquer tomada de atitude, como a execução de um
planejamento tributário, o empresário deve se atentar para não cometer uma
evasão fiscal, ou seja, um planejamento tributário ilícito, sob pena de carac-
terizar um crime contra a ordem tributária previsto no Código Tributário Na-
cional (CTN), Lei nº 5.172/1966.
A legislação tributária brasileira é a mais complexa do mundo, com mais
de 90 espécies de tributos e uma atualização diária de normas tributárias, que
confundem cada vez mais os aplicadores do direito.
Tendo em vista a bagunça legislativa e a dupla interpretação para um
mesmo fato, o contribuinte pode vislumbrar uma oportunidade de obter uma
receita ou até uma redução drástica em seu custo, focando, assim, como área
essencial em um planejamento.
Você verá que há uma diferença muito tênue entre o planejamento tribu-
tário lícito (elisão fiscal) e o planejamento tributário ilícito (evasão fiscal).
Para que você possa compreender adequadamente, deverá entender o conceito
de ambos.

Conceitos

Elisão fiscal
O conceito de planejamento é uma atividade de prevenção e visa ao estudo de
todos os aspectos metodológicos a seguir por um roteiro determinado. O pla-
nejamento tributário é uma atividade de prevenção, por meio de estudos dos
atos mercantis e jurídicos praticados pelos contribuintes (empresas e afins),
que pretende realizar e verificar se é viável e cabível, dentro dos limites nor-
mativos, a redução de determinada carga tributária.

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A finalidade de todo planejamento tributário é reduzir a carga tributária,


fazendo chegar a um valor real ou devido, já que as variáveis nas legislações
tributárias fazem a probabilidade de erro na interpretação ser grande.
Visto o risco que a legislação tributária causa para o contribuinte, é lógico
e racional que se faça uma análise prévia do fato gerador, para que se possa
tornar viável ou não determinada situação, ou se precaver de riscos para ne-
gócio em razão de tal fato ser de uma tributação muito alta.
Ninguém é obrigado a pagar um tributo além do seu valor devido, sob
pena de essa situação (caso ocorra) ferir ao princípio da capacidade contribu-
tiva, visto que a Constituição Federal (CF) de 1988 proíbe o ato confiscatório,
ou seja, o fisco tributar além de seus limites patrimoniais, fazendo o fato
gerador se tornar inviável devido à carga tributária excedente.
Uma auditoria tributária cuidadosa poderá diminuir os impactos tribu-
tários negativos devido a um desconhecimento na legislação tributária, mas
também não são isentos ao erro, visto que para o fisco a área tributária é
um tanto confusa, pois quem assim a faz são nossos representantes políticos
(vereadores, prefeitos, governadores, presidente, etc.) por meio do poder le-
gislativo. Como a gestão pública dos tributos é movimentada pelos interesses
políticos de arrecadação, muitas vezes, acaba ferindo princípios constitucio-
nais tributários, tornando-se ato inconstitucional.
Todo esse cuidado na licitude no planejamento ao se pagar um tributo é
denominado “elisão fiscal”, na qual, por meio de um estudo aprofundado da
empresa e do negócio jurídico, é possível antever a carga tributária e encon-
trar meios lícitos e legais de se reduzir a carga tributária.

Evasão fiscal
A evasão fiscal é o oposto da elisão, já que se constitui em uma forma ilícita
de planejamento tributária, que tem por fim burlar a legislação tributária para
obter vantagens financeiras indevidas.
A evasão é persuadir o fisco por meio de uma dupla interpretação na lin-
guagem da lei para torna-la mais viável e vantajosa para o contribuinte. É um
planejamento tributário ilícito, pois ao antever o fato gerador e sabendo que
deveria tributar-se de uma maneira e tributa-se de outra, tomando vantagens
em reduzir a carga tributária. Isso se caracteriza como ilicitude no negócio ju-
rídico tributário, podendo ser considerado crime contra a ordem tributária e,
nesse caso, tendo que arcar com uma multa altíssima por uso de má fé contra
o erário público.

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O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão do Minis-


tério da Fazenda, está atento as constantes mudanças no cenário global e no
que tange as operações mercantis, que foram criando cada vez mais situações
que a legislação tributária tem acompanhado para fins de tributação. Recen-
temente, o CARF vem demonstrando que a maioria dos planejamentos tribu-
tários das empresas que possuem grandes grupos empresarias, estão sendo
feito de maneira ilícita, já que quem o fez sabia da intenção de sonegar tributo.
O planejamento tributário, antes visto como uma maneira formal lícita,
agora passou a ser, aos olhos do fisco, uma forma de se obter vantagem tribu-
tária indevida para benefício financeiro do contribuinte.

Propósito negocial
O propósito negocial é um conceito recente que surgiu nos Estados Unidos,
com o estudo de uma doutrina chamada de “business purpose”, ou propósito
negocial. Este estudo introduz ao fisco uma análise mais aprofundada sobre
os atos negociais de uma empresa, a fim de saber se aquela operação teve
uma tributação lícita, ou se agiu de maneira a criar uma situação ilícita, com
a finalidade única de reduzir a carga tributária.
Há duas análises para saber se houve atitude ilícita em determinada ope-
ração mercantil:

1. Conhecer o negócio jurídico de tal operação para aplicar corretamente


o direito no caso concreto e, assim, verificar se o contribuinte agiu de
forma correta.
2. Obter a razão da finalidade da operação, verificando em suas formas
substanciais de análise, se foi somente para reduzir a carga tributária
que a situação ocorreu, aplicando a sansão cabível.

O planejamento tributário ilícito não é uma análise fácil de se fazer por parte do fisco,
pois requer um serviço excelente de auditoria fiscal, com um sistema de cruzamento
de informações totalmente rigoroso e uma tecnologia de primeira linha. O Brasil (en-
quanto governo) possui todas essas qualidades quando o assunto é controlar sua fonte
de riqueza, que é a arrecadação com tributos.

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Não ocorrência do fato gerador


O planejamento tributário, enquanto análise dos métodos, é ato que não cons-
titui crédito tributário, ou seja, o direito de o fisco cobrar o tributo, mas sim
uma previa análise da viabilidade do ato negocial, visto que o fato gerador
ainda não ocorreu. Não ocorrendo o fato gerador, ou seja, a situação de fato
ocorrida, não ensejara cobrança por parte do fisco, pois o tributo somente
pode ser cobrado por meio de lei e vinculado a uma situação concreta (que
aconteceu).
Por esse motivo, da não ocorrência do fato gerador, todo planejamento
tributário lícito, a fim de reduzir a carga tributária, será considerado válido,
útil e eficaz ferramenta para o contribuinte.

Exemplo prático de planejamento tributário


lícito e ilícito
Você verá dois exemplos de planejamento tributário, sendo um considerado
lícito e o outro ilícito, para que entenda a diferença entre reduzir a carga tri-
butária de maneira legal, pela lei, e outra de maneira a burlar o fisco para se
obter uma vantagem tributária como finalidade.

Planejamento tributário lícito – elisão fiscal


Uma determinada empresa, ao apurar seu lucro líquido após o IRPJ e obser-
vando algumas regras compostas na Lei nº 6.404/66 (Lei das S/A) tem por
obrigação remunerar seus sócios com a distribuição dos lucros, seja por meio
de dividendos ou de juros sobre o capital próprio.
A empresa ao distinguir de que forma irá distribuir o lucro aos acionistas,
por dividendos ou juros sobre o capital próprio, terá de fazer um planejamento
tributário, visto que esse propósito negocial poderá ser mais benéfico, tanto
ao sócio como à empresa, pois os JCP podem ser deduzidos da base de cálculo
do imposto de renda.
Por um lado, o sócio acabará por vezes recebendo uma quantia menor de
distribuição de lucro, mas por outro, acabará por maximizar o lucro da em-
presa, visto que a parcela poderá ser deduzida da base de cálculo do imposto
de renda.

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Planejamento tributário ilícito – evasão fiscal


Duas pessoas resolvem fechar um contrato de compra e venda de imóvel no
valor de R$ 200.000,00 e, sabendo que nesta operação incide o imposto sobre
transmissão de bens imóveis (ITBI), resolvem entre si constituírem um CNPJ,
ou seja abrirem uma empresa e serem sócios.
O sócio que quer comprar a casa entra com o capital em dinheiro do valor
do imóvel de R$ 100.000,00, ficando com 50% das quotas do capital, e o
outro, que deseja vender o imóvel, entra com o bem imóvel (casa) como ca-
pital social, obtendo 50% das quotas da empresa. Ambos são sócios com igual
percentual.

Quando se utiliza um bem imóvel para integralização do capital social, ele é imune ao
ITBI.

Após legalizarem a empresa, ambos decidem que o negócio é inviável e


resolvem fechar a empresa, sem antes ter iniciado a atividade empresarial.
Porém, no momento da transferência do capital, o sócio que entrou com o
dinheiro pega sua parte do capital com a casa, e o que entrou com a casa como
quota, pega o dinheiro. Você pode ver que houve uma inversão dos valores
que os sócios investiram, e se olhar mais atentamente, verá que isso foi uma
forma de comprar uma casa, sem ter que pagar o ITBI, ou seja, de reduzir a
carga tributária.
Você pode perceber que a finalidade dessa situação é unicamente para
reduzir a carga tributária.

Esta operação já foi deflagrada pelo fisco e houve uma solução para que isto não
ocorra. Se um bem imóvel sair do capital de uma empresa e não for para o sócio que o
integralizou, será tributado pelo ITBI.

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1. Planejamento tributário tem por b) Aumentar os gastos com os


finalidade proporcionar à entidade tributos.
uma redução da carga tributária c) Não apropriar-se de créditos
dentro da legalidade. Essa iniciativa é tributários.
denominada: d) Avaliar todas as despesas e as
a) Evasão fiscal. provisões permitidas pelo Fisco
b) Processo de solicitação de como aumento da receita.
redução de alíquotas de impostos e) Competir em um mercado
diretos e/ou indiretos. globalizado.
c) Processo de substituição de 4. O conceito de evasão fiscal, ao con-
impostos por taxas. trário da elisão, consiste em prática
d) Elisão Fiscal. contrária à lei. Sobre ela é correto
e) Processo administrativo de aprovei- afirmar que:
tamento de créditos de impostos, a) Geralmente é cometida após a
de taxas e de contribuições. ocorrência do fato gerador da
2. Quando pode-se considerar que obrigação tributária, objetivando
tenha ocorrido o fato gerador e que reduzi-la ou ocultá-la.
seus efeitos são existentes? b) Através do planejamento evita-se
a) Economicidade, que se refere a ocorrência do fato gerador. E,
ao aspecto econômico do fato
por não ocorrer o fato gerador, o
tributável.
tributo não é devido.
b) Tratando-se de situação de fato,
c) Entre os métodos usados para
desde o momento em que se
evadir tributos, estão a emissão
verifiquem as circunstâncias ma-
de informações, as entregas das
teriais necessárias a que produza
declarações e a produção de
os efeitos que normalmente lhe
documentos que contenham
são próprios.
informações verdadeiras, como
c) Tratando-se da situação contábil,
a contratação de notas fiscais, de
desde o momento em que esteja
faturas, de duplicatas, etc.
definitivamente constituída, nos
d) A evasão “omissiva”, aquela que
termos de direito aplicável.
pode ser praticada com a in-
d) Aquela que decorre da própria lei.
tenção (dolo) ou não (culpa), foi
e) Legalidade, que se refere à
exigibilidade do cumprimento subclassificada por imprópria e
do princípio constitucional da por inação.
legalidade. e) Evasão ilícita: O indivíduo cons-
3. O objeto do planejamento tributário é: ciente e voluntariamente procura
a) A economia tributária sem eliminar, reduzir ou protelar o
infringir a legislação. pagamento do tributo devido

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por meios ilícitos. Essa forma de o montante do tributo e sua


evasão, também designada pelo alíquota ou reduzir a base de
autor como fraude fiscal, foi por cálculo do tributo.
ele subdividida em fraude, em d) Aumentar os impostos, as taxas e
simulação e em conluio fiscal. as contribuições.
5. As finalidades do planejamento e) Evitar a incidência do fato gerador
tributário são: do tributo, reduzir o montante do
a) Elisão Fiscal, Evasão Fiscal e Sone- tributo, sua alíquota ou reduzir
gação Fiscal. a base de cálculo do tributo e
b) Lucro Real, Lucro Presumido e retardar o pagamento do tributo,
Lucro Arbitrado. postergando (adiando) o seu
c) Aumentar a incidência do fato pagamento sem a ocorrência da
gerador do tributo, reprimir multa.

LARENZ, K. Metodologia da ciência do direito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,


1997.

OLIVEIRA, N. J. Elisão, evasão e planejamento tributário. [S. l.: s.n, 201-?]. Disponível em:
<http://www.unaerp.br/revista-cientifica-integrada/edicoes-anteriores/edicao-n-4-
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RIZZI, A. O. Limites do planejamento tributário: diferenças entre elisão e evasão fiscal.


Conteúdo Jurídico, Brasília. 07 fev. 2014. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.
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YAMASHITA, D. Elisão e evasão de tributos. Planejamento tributário: limites à luz do abuso


do direito e da fraude a lei. São Paulo: Lex Editora, 2005.

YAMASHITA, D. Justiça, interpretação e elisão tributária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

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