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CONTABILIDADE

FINANCEIRA
C615
CLAUDIO, ULYSSES FERREIRA COELHO

Contabilidade Financeira e Gerencial / Ulysses Ferreira


Coelho. – Rio de Janeiro: Grupo Ibmec Educacional, 2016.

144 p.; 20x26 cm

Inclui bibliografia

1. Contabilidade Financeira 2. Demonstrações contábeis


3. Contabilidade gerencial 4. Relação Custo, Volume e Lucro
I. Claudio, Ulysses Ferreira Coelho II. Ibmec Online III. Título.

CDD: 657.48
SUMÁRIO

ABERTURA DA DISCIPLINA ...........................................................................................................5

Mensagem do professor ......................................................................................................5

Introdução..............................................................................................................................6

Objetivos ................................................................................................................................7

MÓDULO 1: FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA ...............................................8

Unidade 1: Princípios, conceitos fundamentais e estrutura conceitual da contabilida-


de ...........................................................................................................................................1 1

Unidade 2: Métodos de registro e controles contábeis .................................................1 9

Unidade 3: Demonstrações contábeis obrigatórias: Balanço Patrimonial e Demonstra-


ção do Resultado do Exercício ...........................................................................................3 2

Unidade 4: Demonstrações contábeis obrigatórias: Demonstração dos Fluxos de Cai-


xa e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido .............................................4 0

Resumo..................................................................................................................................4 8

MÓDULO 2: DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES ....................................4 9

Unidade 1: Mensuração de ativos e passivos ..................................................................5 2

Unidade 2: Indicadores de liquidez e rentabilidade .......................................................5 9

Unidade 3: Indicadores de margem e rentabilidade .....................................................6 7

Resumo..................................................................................................................................8 1
MÓDULO 3: FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL ...............................................8 2

Unidade 1: Fundamentos da contabilidade de custos ..................................................8 5

Unidade 2: Sistemas de acumulação de custos ..............................................................9 9

Unidade 3: Métodos de custeio: absorção x variável .................................................. 103

Unidade 4: Método de custeamento ABC ..................................................................... 108

Resumo............................................................................................................................... 116

MÓDULO 4: RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO .................................................................. 117

Unidade 1: Margem de contribuição e ponto de equilíbrio ....................................... 1 2 0

Unidade 2: Fatores limitantes ao uso da margem de contribuição e custos fixos iden-


tificáveis ............................................................................................................................. 1 3 0

Unidade 3: Custos e formação do preço de venda ...................................................... 1 3 5

Resumo............................................................................................................................... 1 4 2

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 143


MENSAGEM DO PROFESSOR

Caro(a) aluno(a),

A contabilidade é um importante instrumento de auxílio gerencial e de apoio à tomada


de decisões econômicas e financeiras. Num contexto empresarial, cercado de incertezas
e de acirrada competição, é fundamental cercar-se de informações que efetivamente mi-
nimizem os riscos de uma decisão equivocada. Além disso, é importante dizer que a con-
tabilidade passa por um processo de internacionalização de procedimentos e normas.
Isso quer dizer que o aprendizado desta disciplina no Brasil possibilita o conhecimento de
práticas e políticas aplicáveis nos principais mercados do planeta.

Nesse sentido, compreender os princípios contábeis e as normas orientadoras da área


contábil e financeira é condição fundamental para um bom desempenho profissional.
Além disso, mais do que construir relatórios, é preciso analisá-los com consistência e, so-
bretudo, utilizar as informações contábeis para fins gerenciais.

Esperamos que este curso ajude você a entender melhor conceitos, expressões, práticas e
procedimentos da contabilidade e, também, a compreender como a Ciência Contábil pode
efetivamente ser um instrumento útil para um bom desempenho profissional. Lembre-se
de aproveitar ao máximo os recursos oferecidos no material didático da disciplina e as
interações que terá com seu professor on-line. Discuta com seus colegas os conceitos tra-
tados em cada módulo e tente conectá-los à sua realidade. Seu engajamento é essencial
para o seu sucesso nesta jornada!

Bons estudos!

Equipe Ibmec Online


INTRODUÇÃO

Por ser uma ciência social aplicada, a contabilidade incorpora conceitos e percepções cul-
turais de determinada sociedade e, como estas apresentam peculiaridades distintas, isso
acaba afetando a ciência contábil.

A harmonização dos processos contábeis em nível mundial é a tônica do contexto atual. O


processo de globalização da economia iniciado no final do século passado alterou de modo
significativo a percepção do modus operandi da contabilidade em todo o mundo. Com isso,
o Brasil teve que modificar a forma de enxergar a contabilidade para que pudesse se ade-
quar às práticas contábeis utilizadas nos principais mercados internacionais.

Nesse sentido, conhecer os princípios fundamentais que regem a lógica contábil é extrema-
mente necessário para a compreensão da contabilidade como instrumento de apoio geren-
cial às empresas no contexto atual. Além disso, o conhecimento da estrutura e composição
dos principais demonstrativos contábeis apresenta-se como uma questão fundamental para
a análise e interpretação das condições econômicas e financeiras e da capacidade empre-
sarial de uma organização. Afinal, os usuários externos da contabilidade precisam dessas
informações.

Como visto, a contabilidade apresenta um viés gerencial, ou seja, é auxiliadora dos usuários
internos – gestores, principalmente. Assim sendo, o presente trabalho abordará aspectos
relacionados aos custos de produção e aos mecanismos de acompanhamento e controle,
hoje tão necessários para manter em condições estáveis a saúde financeira dos negócios.
OBJETIVOS
Após concluir o estudo da disciplina Contabilidade Financeira e Gerencial, você será capaz
de:

■ Compreender a importância dos princípios fundamentais de contabilidade na prática


profissional e no meio empresarial.

■ Analisar as informações presentes nos principais relatórios contábeis emitidos pelas


empresas.

■ Conhecer normas da contabilidade societária (financeira) utilizadas pelas empresas


em suas práticas diárias.

■ Conhecer os principais conceitos da contabilidade gerencial e de custos.

■ Compreender a importância da apuração de custos e dos sistemas de custeio para a


tomada de decisão empresarial.
Módulo 1

FUNDAMENTOS DA
CONTABILIDADE
FINANCEIRA
INTRODUÇÃO DO MÓDULO

Para uma completa compreensão da utilização da contabilidade como um instrumento de


apoio à tomada de decisões e controle operacional e financeiro, você estudará neste módulo
alguns dos mais importantes princípios, conceitos e expressões que fazem parte do jargão
contábil e financeiro.

A metodologia de escrituração contábil, as normas de registro e a forma de cálculo e mensu-


ração dos componentes patrimoniais também serão analisadas, a fim de compreender que
os resultados apurados pela empresa são fruto de decisões gerenciais. Por essa razão é que
a averiguação da composição e estrutura dos principais demonstrativos contábeis que as em-
presas são obrigadas a apresentar aos seus usuários externos também serão objetos de es-
tudo neste módulo.

Com essa gama de informações e conceitos será possível visualizar toda sequência de pro-
cedimentos contábeis, desde o registro inicial das operações até a sua evidenciação final por
meio de relatórios, planilhas e demonstrações.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao completar este módulo de estudo, você será capaz de:

■ Conhecer as principais expressões e termos da área contábil e financeira.

■ Compreender o método de registro contábil e os critérios de apuração do resultado.

■ Conhecer a estrutura e composição dos principais demonstrativos contábeis, a saber,


o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração
dos Fluxos de Caixa.

ESTRUTURA DO MÓDULO

■ Unidade 1: Princípios, conceitos fundamentais e estrutura conceitual da contabilidade

■ Unidade 2: Métodos de registro e controles contábeis

■ Unidade 3: Demonstrações contábeis obrigatórias: Balanço Patrimonial e Demonstra-


ção do Resultado do Exercício

■ Unidade 4: Demonstrações contábeis obrigatórias: Demonstração dos Fluxos de Caixa


e Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido
11 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

UNIDADE 1
PRINCÍPIOS, CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ESTRUTURA
CONCEITUAL DA CONTABILIDADE

Para contextualizar os princípios contábeis e iniciar os estudos desta unidade, propõe-se a


análise das situações apresentadas a seguir:

Situação 1

José Maurício Kint é um microempresário que trabalha no ramo de alimentos. Muito ativo,
acompanha de perto todo o processo de produção. É minucioso e detalhista. Muito embora
delegue poderes aos seus colaboradores, Kint se envolve em várias atividades operacionais.
É possível vê-lo discutindo o cardápio de seu restaurante e, logo em seguida, questionando
a logística de distribuição dos alimentos entre a sede e as duas filiais de sua empresa. Kint
procura sempre aproveitar as oportunidades e, por vezes, o microempresário utiliza seu
próprio cartão de crédito para aproveitar descontos. Não obstante, utiliza seu próprio au-
tomóvel particular em várias tarefas, mesmo que a empresa também possua um veículo. “É
tudo uma questão de economizar o tempo”, indaga Kint quando o questionam.

Situação 2

Nelson Ratiotti é consultor de empresas e foi contratado pela Companhia AST Indústria e
Comércio S/A. Antes de iniciar seu trabalho, quis conhecer a empresa e se surpreendeu com
os cerca de dez caminhões novos recém-adquiridos para agilizar a entrega dos produtos aos
12 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

clientes. Ao analisar o Balanço Patrimonial da empresa, no entanto, não localizou os cami-


nhões. Quando questionou sobre o fato com um dos funcionários do setor, Ratiotti obteve
a seguinte resposta: “Os caminhões foram adquiridos por arrendamento mercantil. Como
no documento não aparece o nome da empresa e, sim, o da financeira, não o registramos
no Balanço”.

Situação 3

A companhia Ashton S/A está descontinuando suas operações. Para isso, colocaram à venda
suas máquinas de produção. Os diretores, no entanto, estão muito decepcionados com as
ofertas recebidas. “Elas estão muito abaixo do valor de mercado”, questionam eles.

O que as três situações têm em comum? As três situações apresentadas, embora hipotéti-
cas, retratam a realidade de fatos que efetivamente podem acontecer no dia a dia das em-
presas. De todo modo, elas mantêm estreita relação com alguns princípios fundamentais de
contabilidade.

O objetivo da contabilidade é prestar informações econômicas e financeiras sobre as con-


dições da empresa que sejam úteis e efetivamente ajudem as pessoas em suas tomadas de
decisão.
13 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Investidores, credores, acionistas, gerentes e diretores e governo são alguns exemplos de


usuários das informações contábeis que se interessam pelos relatórios contábeis e financei-
ros apresentados pelas empresas em cada período.

Nesse sentido, o senhor Kint, apresentado na primeira situação, apesar de se mostrar pres-
tativo e atento ao gerenciamento de seu negócio nas suas atividades diárias, mistura recur-
sos particulares com recursos da empresa. Com isso, ele fere um princípio contábil básico
que é o Princípio da Entidade.

TOME NOTA

O Princípio da Entidade estabelece que o patrimônio da empresa não pode se con-


fundir com o patrimônio dos sócios. Os recursos devem ser delimitados, e não mis-
turados, sob pena de distorcer as informações contábeis da empresa quanto à sua
situação patrimonial.

Ainda que o senhor Kint seja o sócio majoritário de sua empresa, ele deve preservar a trans-
parência na sua estrutura patrimonial, tendo clareza e fazendo a separação entre aquilo que
é da pessoa jurídica que gerencia e aquilo que é da pessoa física. Mas como apresentar um
relatório contábil da condição patrimonial da empresa se os recursos estão misturados?

Da mesma forma, a segunda situação apresenta outra inobservância aos princípios contá-
beis. Se o objetivo básico da contabilidade é apresentar informação útil aos usuários da in-
formação contábil, esta precisa retratar a realidade econômica e não se ater à forma jurídica
realizada no evento.

Muito embora no documento do veículo conste a razão social da financeira, na prática, os


veículos são da empresa. É ela quem abastece, faz manutenção, utiliza os caminhões, entre
outras coisas. Não apresentar os valores relativos a esses ativos nos relatórios contábeis
torna o patrimônio ilusório, incoerente com a realidade de fato e, portanto, nada útil para a
tomada de decisões.

A terceira situação, por sua vez, nos mostra que a avaliação de uma empresa deve conside-
rar que ela continuará existindo por um prazo indeterminado. É o Princípio da Continuidade.
14 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

TOME NOTA

O Princípio da Continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação e a


apresentação dos componentes leva em conta esta circunstância.

É nessa perspectiva que os demonstrativos contábeis devem apresentar seus dados e in-
formações. O fato de não considerar essa condição ou circunstância acarreta em mudança
da avaliação dos ativos da empresa. É exatamente isso o que ocorre no exemplo que foi
apresentado.

Como se pode observar, os princípios contábeis foram sendo construídos a partir do debate
sobre problemas verificados na prática empresarial e nos eventos que implicavam em regis-
tro e apuração de resultados, atividades estritamente contábeis.

Portanto, é necessário desconsiderar a ideia de que teoria e prática são coisas distintas e
independentes. A teoria sustenta a prática e, ao mesmo tempo, a prática faz surgir conceitos
teóricos.

VOCÊ SABIA?

Contrato social é o documento formal de constituição de uma empresa. Deve ser re-
gistrado na junta comercial do estado em que se situa a sede da empresa e deve
conter as características básicas de sua estruturação: nome da empresa, qualificação
dos sócios, endereço da empresa, valor do capital social, participação societária, entre
outras coisas. Nesse documento é fundamental haver uma cláusula definindo que a
empresa irá funcionar por tempo indeterminado. É o princípio da continuidade que só
não estará presente no documento se a empresa se constituir com prazo determinado
para encerramento.
15 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

No seu propósito de informar as condições econômicas, financeiras e sociais do patrimônio,


a contabilidade apresenta um conjunto de demonstrações contábeis. O conjunto completo
dessas demonstrações está previsto no Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) 26 que
trata da apresentação das demonstrações contábeis. Segundo o pronunciamento, o conjun-
to completo de demonstrações contábeis reúne:

■ Balanço Patrimonial (do início do período mais antigo, comparativamente apresenta-


do, ao final do período).

■ Demonstração do Resultado do período.

■ Demonstração do Resultado Abrangente do período.

■ Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido do Período.

■ Demonstração dos Fluxos de Caixa do período.

■ Notas Explicativas, compreendendo um resumo das políticas contábeis significativas e


outras informações elucidativas.

■ Demonstração do Valor Adicionado do período (se exigido legalmente ou por algum


órgão regulador).

Todos esses demonstrativos contábeis devem não só apresentar uma composição e estru-
tura adequada às necessidades exigidas pelas regras societárias, mas, também, atender às
características qualitativas da informação contábil útil, prevista em outro pronunciamento
contábil: o CPC de Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-
-Financeiro. De acordo com o pronunciamento, as características qualitativas são:

CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS


FUNDAMENTAIS DE MELHORIA

Comparabilidade
Relevância Verificabilidade
Representação fidedigna Tempestividade
Compreensiblidade

Figura 1.1: Características da informação contábil

As características qualitativas devem balizar todas as informações contidas nas demonstra-


ções contábeis e auxiliar todos os usuários da contabilidade, mas principalmente os investi-
dores (já existentes e potenciais) e os credores por empréstimo e demais credores. Por essa
razão é que relevância é uma característica fundamental nos relatórios contábeis.
16 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Uma informação é considerada relevante quando auxilia o usuário da informação contábil


de forma efetiva na tomada de decisão. Outra forma de evidenciar a relevância de uma in-
formação contábil é quando a sua ausência faz diferença na decisão final do usuário e, por
essa razão, não deve deixar de ser evidenciada.

NA PRÁTICA

A decisão sobre o montante e os prazos de distribuição de dividendos é uma informa-


ção relevante. Da mesma forma o critério de mensuração de estoques também é uma
informação útil. Nesse sentido, as estimativas e os julgamentos de avaliação definidos
pela empresa para seus ativos e passivos representam indubitavelmente informações
úteis. De modo geral, qualquer decisão do acionista controlador, ou advinda de uma
deliberação da assembleia geral que possa influir de modo considerável na decisão
dos investidores de comprar, vender ou manter valores mobiliários da companhia, é
relevante.

A relevância da informação traz em seu bojo outras características importantes para o usu-
ário. Dentre elas a capacidade de o usuário utilizar essa informação para fazer estimativas
e predições para o futuro, ou seja, a informação não é útil somente para o momento atual,
mas, também, para permitir projeções que ajudem os usuários a estimar o valor da empre-
sa a partir das possibilidades de retorno que o negócio possa gerar nos próximos anos. Da
mesma forma que a informação relevante tem caráter preditivo, ela também representa um
valor confirmatório do momento atual.

Além da relevância, outra característica fundamental expressa no pronunciamento é a re-


presentação fidedigna. Esta característica qualitativa fundamental está relacionada à confia-
bilidade não só da documentação comprobatória, mas, também, em relação à medida de
mensuração aplicada na avaliação de ativos e passivos da empresa no balanço patrimonial.
A representação fidedigna deve ser:
17 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA

NEUTRA COMPLETA LIVRE DE ERRO

Figura 1.2: Representação fidedigna – Características

Para ser útil, a informação contábil-financeira não tem só que representar um fenômeno
relevante, mas tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe
representar. Isso é o que preconiza o pronunciamento contábil e essa é a razão pela qual
a segunda situação, apresentada na contextualização contida no início desta unidade, se
mostrava inadequada.

Além das características qualitativas fundamentais da informação contábil, o pronuncia-


mento considera as informações qualitativas de melhoria, que são:

Comparabilidade

A informação contábil será mais útil se puder ser comparada com uma informação similar
sobre outras entidades ou, também, sobre a mesma companhia para outros exercícios so-
ciais. A consistência, que representa a utilização dos mesmos métodos de mensuração, é
um meio para se chegar à comparabilidade.
18 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

NA PRÁTICA

A característica qualitativa da comparabilidade está intimamente relacionada com o


contexto empresarial atual, em que comumente se estabelece ranking de empresas a
fim de avaliar seu tamanho e capacidade. Qual é a maior empresa do setor de alimen-
tos? Qual a primeira instituição financeira de determinado país? Questões como estas
sempre são divulgadas na mídia e são de interesse de usuários em geral. Não é sem
razão que existem organizações internacionais de rating, que avaliam a capacidade de
pagamento de países e empresas, a partir de critérios próprios e que procuram avaliar
a segurança dos investimentos.

Verificabilidade

Essa característica ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedigna-
mente o fenômeno econômico que se propõe representar. Nesse caso, diferentes avaliado-
res, analisando de forma independente as informações contábeis de uma empresa, podem
chegar a um consenso quanto às suas condições, por essa representar um retrato da reali-
dade econômica daquela organização em particular.

De fato, vive-se um tempo em que a disponibilidade da informação alcançou níveis jamais


vistos. O número de informações é elevado e complexo e há extrema facilidade de acesso.
Expressões como “sociedade da informação”, “sociedade do conhecimento” e “tempo é di-
nheiro” são ouvidas e/ou lidas com bastante regularidade. Por essa razão é que as informa-
ções contábeis prestadas pelas empresas precisam alcançar os usuários a tempo e em hora,
para que estes possam analisá-las e, a partir de então, tomar suas decisões. É sobre esse
aspecto que repousa a característica qualitativa de melhoria da tempestividade.

Tempestividade

Num contexto em que as informações ocorrem de forma instantânea e por meio de vários
canais, as informações contábeis precisam estar disponíveis aos usuários em tempo ade-
quado, para que tenham condições de analisá-las e, assim, tomar a decisão que lhes pareça
adequada. Nesse sentido, quanto mais antiga for, a informação menos utilidade ela terá.
19 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Compreensibilidade

Se as informações contábeis forem organizadas e classificadas segundo as normas, elas


apresentarão o resultado das operações de forma clara clareza e adequada e, por conse-
guinte, os usuários terão boas condições de analisar a estrutura patrimonial, econômica e
financeira da empresa. Espera-se, no entanto, que tais usuários tenham um conhecimento
razoável dos negócios nos quais a companhia está envolvida, bem como as políticas e práti-
cas utilizadas pela contabilidade.

Como se observa, para a apresentação dos relatórios contábeis, é fundamental atentar-se


para vários princípios contábeis e a evidenciação dos resultados deve levar em consideração
as características qualitativas da informação contábil, que, sendo fundamental ou de melho-
ria, indubitavelmente representam princípios e condições que devem ser criteriosamente
observados.

UNIDADE 2
MÉTODOS DE REGISTRO E CONTROLES CONTÁBEIS

Escrituração e classificação de contas


Para que a contabilidade atenda ao seu objetivo primordial de prestar informações úteis aos
seus usuários, seguindo rigorosamente normas e princípios contábeis, é necessário fazer os
registros de forma correta.

A forma de registrar os eventos econômicos ocorre por meio do método das partidas dobra-
das que apresenta basicamente duas regras:

1. Não existe débito sem crédito.

2. Para todo o débito existe um crédito de igual valor.

Para a efetivação do método das partidas dobradas é necessário que os registros sejam
feitos em contas contábeis que identifiquem fielmente a operação realizada. Esses registros
são denominados “lançamentos contábeis”. São nos lançamentos contábeis que se realizam
os registros de débito e crédito. O conjunto de lançamentos contábeis feitos em um deter-
minado período é chamado de “escrituração”. A escrituração pode ser:
20 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

ESCRITURAÇÃO

CONTÁBIL FISCAL

Lançamentos feitos em sistemas


contábeis, realizados diariamente a Lançamentos feitos diariamente a
fim de apurar os saldos das contas fim de apurar tributos que devem
de ativo, passivo, patrimônio líqui- ser recolhidos ao fisco (governo).
do, despesa e receita.

Figura 1.3: Escrituração contábil e fiscal

Os conceitos de débitos e créditos são aplicáveis às contas de acordo com a classificação


que estas recebem. Nesse sentido, as contas podem ser classificadas em grupos que serão
evidenciados nos demonstrativos contábeis. Algumas contas serão apresentadas no Balan-
ço Patrimonial, outras, por sua vez, e de acordo com a sua natureza, constarão na Demons-
tração do Resultado do Exercício (DRE).

De modo geral, todas as contas podem ser classificadas em: ativo, passivo, patrimônio líqui-
do (denominadas contas patrimoniais), despesa e receita (denominadas contas de resulta-
do).

A lógica de funcionamento dos débitos e créditos nas contas obedece ao seguinte critério:
21 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

CONTAS
DÉBITOS CRÉDITOS
PATRIMONIAIS

Entrada de recursos, bens Saída de recursos,


ATIVO adquiridos e valores a bens vendidos e valores
receber recebidos

Constituição de
PASSIVO Quitação de obrigações
obrigações

PATRIMÔNIO Redução da riqueza dos Aumento na riqueza dos


LÍQUIDO acionistas acionistas

CONTAS DE
RESULTADO

São sempre debitadas


DESPESA

RECEITA São sempre creditadas

Figura 1.4: Lógica de funcionamento de débitos, créditos e saldo

Ao analisar a figura, é possível perceber que, classificar corretamente uma conta contábil,
auxilia bastante na compreensão dos registros de débitos e créditos do método das partidas
dobradas.
22 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Contas movimentadas /
Operações Lançamento contábil
classificação

Mercadorias = ativo (bem


Débito: Mercadorias
adquirido)
Compra de mercadorias a
prazo Fornecedores = passivo (va-
Crédito: Fornecedores
lor a pagar)

Salários = despesa Débito: Salários

Pagamento de salários
Caixa = ativo (saída de re-
Crédito: Caixa
cursos)

Caixa = ativo (entrada de re-


Débito: Caixa
cursos)
Venda de máquinas à vista
Máquinas = Ativo (bem ven-
Crédito: Máquinas
dido)

Caixa = ativo (entrada de re-


Débito: Caixa
cursos)
Recebimento de aluguel
Aluguel = receita Crédito: Aluguel

Quadro 1.1: Exemplos de lançamentos contábeis

É evidente que tais operações apresentariam valores monetários que seriam registrados
nas contas pelos seus respectivos valores e mantendo a igualdade prevista no método das
partidas dobradas. O CPC de Estrutura Conceitual, no item 4.4, apresenta a definição de
cada um desses grupos. Em relação ao balanço patrimonial, fornece definições para cada
um dos componentes patrimoniais, a saber: ativo, passivo e patrimônio líquido.

■ Ativo: é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e


do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade. O dinhei-
ro que a empresa possui (caixa), as máquinas, os móveis, os veículos adquiridos, assim
como os valores relativos à venda de mercadorias realizadas a prazo são exemplos
clássicos de ativos.

■ Passivo: é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja


liquidação se espera que resulte na saída de recursos capazes de gerar benefícios
econômicos. Nesse sentido, as dívidas assumidas com instituições financeiras (em-
préstimos, por exemplo), as obrigações comerciais com outras empresas (empresas
fornecedoras de matéria-prima), além das obrigações trabalhistas e tributárias são
exemplos de contas classificadas como passivos.
23 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

■ Patrimônio líquido: é o interesse residual dos ativos da entidade depois de deduzidos


todos os seus passivos. Representa a riqueza do acionista e contempla o capital social,
que é o valor inicial investido. As reservas de lucro e as reservas de capital são exem-
plos de contas classificáveis nesse grupo.

Muito embora os conceitos de ativo, passivo e patrimônio líquido sejam antigos, eles pre-
cisam ser regularmente atualizados, justamente pela inserção de recursos e situações do
contexto empresarial que não existiam anteriormente.

NA PRÁTICA

Uma empresa ganhou uma concessão do governo federal para exploração de uma
rodovia. A duração do contrato é de dez anos e a empresa pode cobrar pedágios nesse
trajeto, mas terá que fazer melhoramentos constantes na rodovia. Logicamente, isso
trará benefícios econômicos para a empresa e, portanto, apresenta uma característica
fundamental de um ativo. Mas como contabilizá-lo? Como realizar a mensuração?

Outro exemplo seria a compra de um computador. É fácil identificar o preço pelo qual
ele foi adquirido. Porém, se a empresa construir um software que facilite os processos
internos de seu trabalho, como identificar seu valor contábil? Nesse caso, a empresa
deve contabilizá-lo como ativo intangível e, inicialmente, registrá-lo pelo seu custo.

O pronunciamento (item 4.25, do CPC) apresentou também definições sobre despesas e


receitas. Estes elementos são tratados como mensuradores de desempenho. As definições
presentes no documento são:

■ Receitas: são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a
forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que
resultam em aumentos do patrimônio líquido e que não estejam relacionados com a
contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais (proprietários da entida-
de). As receitas podem surgir das atividades de venda de produtos ou da prestação
de serviços. Podem também se originar de investimentos em mercado de ações e/ou
aplicações financeiras.
24 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

■ Despesas: são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil,


sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos,
que resultam em decréscimo do patrimônio líquido e que não estejam relacionados
com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais. Nesse caso, despe-
sas como água, luz e telefone, por exemplo, são denominadas despesas administrati-
vas e os fretes e as comissões sobre vendas são exemplos de despesas com vendas.
Há também as despesas financeiras com juros e despesas tributárias, como IPTU, IOF,
entre outras.

O registro de todas as contas tem como objetivo principal fazer um histórico das operações
realizadas pela empresa de modo que se possa resgatar, por meio de documentos e lança-
mentos contábeis, as ações realizadas. Há, ainda, outro propósito fundamental, que está li-
gado ao objetivo básico da contabilidade, que é informar a situação patrimonial e financeira
da empresa após determinado período.

O Balanço Patrimonial é o demonstrativo que apresenta a composição do patrimônio da


empresa. Nele, tanto ativos como passivos são classificados em grupos chamados de circu-
lante (curto prazo) ou não circulante (longo prazo). No que tange aos aspectos financeiros, a
demonstração do resultado do exercício reúne as despesas e receitas dispostas num mode-
lo esquemático que identificam grupos específicos de despesas e receitas. Com base nessas
informações iniciais, observe a situação de um empresário ao se deparar com os relatórios
contábeis apresentados pela contabilidade.
25 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Balanço Patrimonial

ATIVO R$ PASSIVO R$

CIRCULANTE CIRCULANTE

Disponível 10.000,00
Fornecedores
100.000,00
Estoque 90.000,00
Obrigações fiscais
35.000,00
Contas a receber 50.000,00
Obrigações traba-
25.000,00
NÃO CIRCULANTE lhistas

IMOBILIZADO

Móveis e utensílios
PASSIVO LÍQUIDO R$
100.000,00
Máquinas e equipa-
mentos 150.000,00 Capital social
250.000,00

(-) Depreciação acu- (30.000,00) (-) Prejuízo acumu-


(40.000,00)
mulada lado

TOTAL 370.000,00 TOTAL 370.000,00

Demonstração do Resultado do Exercício

RECEITA BRUTA DE VENDAS E SERVIÇOS 400.000,00

(-) IMPOSTOS SOBRE VENDAS (99.000,00)


26 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

= RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 301.000,00

(-) CMV (201.000,00)

= RESULTADO BRUTO 100.000,00

(-) DESPESAS OPERACIONAIS (140.000,00)

= PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (40.000,00)

A partir da adoção das normas internacionais de contabilidade, a DRE deve começar pela
receita líquida. Tanto a receita bruta de vendas quanto os impostos sobre vendas devem ser
calculados separadamente.

Os principais questionamentos apresentados foram:

a. Como a empresa pode ter apresentado prejuízo se ela conseguiu pagar todas as con-
tas e obrigações nesse ano?

a. Como a empresa pode apresentar prejuízo se possui R$ 10.000,00 em dinheiro? Quer


dizer que a empresa tem dinheiro sobrando e ao mesmo tempo prejuízo?

a. Além do dinheiro em caixa, a empresa possui, ainda, mercadorias que pode vender
rapidamente e converter esse valor em dinheiro. É possível, sem muita dificuldade,
pagar as obrigações vincendas.

Quando a contabilidade faz os registros das operações da empresa, ela o faz de modo inte-
gral. O que isso quer dizer?

Significa que se uma empresa vender algum ativo a prazo em doze prestações, a contabilida-
de deve registrar, na data da venda, o valor total, ainda que a última parcela só seja recebida
um ano depois. Isso ocorre porque a contabilidade adota o regime de competência para fa-
27 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

zer o registro das operações. Por esse regime, as despesas e receitas devem ser registradas
com base no fato gerador do evento (quando ela surgiu) e não quando ocorre a movimenta-
ção financeira (pagamento da despesa ou recebimento da receita).

Dessa forma, é possível, como no exemplo apresentado, que a empresa tenha dinheiro em
caixa e apresente prejuízo ou, de forma contrária, não tenha dinheiro em caixa e ainda sim
possa auferir lucros. Pode-se afirmar, então, sem sombra de dúvidas, que lucro não é caixa
e vice-versa.

O quadro a seguir apresenta a diferença entre os dois regimes de registro: competência


(utilizado pela contabilidade) e caixa (utilizado pela área de finanças).

Regime de competência e regime de caixa

Regimes Fato gerador Objetivo principal Utilização

Ocorrência do Apresentar a condi-


Competência Contabilidade
evento ção patrimonial

Movimentação Apresentar a condi-


Caixa Finanças
financeira ção financeira

INFORMAÇÃO EXTRA

É importante ressaltar que os regimes de competência e de caixa não são excludentes


entre si, mas complementares. Não se trata de regime certo ou errado, mas, sim, de
propostas diferentes. Apesar de a contabilidade adotar o regime de competência para
seus registros, ela também apresenta informações que retratam o regime de caixa.
Inclusive, a demonstração dos fluxos de caixa é um demonstrativo contábil que, di-
ferente de todos os demais, adota o regime de caixa e não o regime de competência.
28 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Controle de estoque
É evidente que todas as contas contábeis devem ser acompanhadas e, em maior ou menor
grau, podem auxiliar o gestor na tomada de decisão. Há que se considerar, porém, que
algumas contas representam pontos nevrálgicos no desempenho do negócio. Uma dessas
contas contábeis é o estoque de mercadorias.

Numa empresa comercial, comprar e vender mercadorias representa a atividade fim, o seu
objeto de negócio. Por essa razão, a conta estoque de mercadorias é sempre bastante mo-
vimentada e, geralmente, registra valores significativos nos lançamentos contábeis, se com-
parada com outras operações realizadas pela empresa.

Além disso, deve-se levar em consideração, também, os aspectos tributários. Boa parte dos
tributos tem como fato gerador a venda (ICMS, PIS e COFINS, por exemplo) e outros sobre o
lucro (IRPJ e CSLL).

A fim de controlar os estoques de produtos, dois métodos são adotados no Brasil: o método
Primeiro que Entra, Primeiro que Sai (PEPS) e o custo médio. Para analisar melhor, observe
o exemplo a seguir:

NA PRÁTICA

Uma empresa adquiriu de um fornecedor 40 unidades de um determinado produto.


O preço total pago para a aquisição foi R$ 4.000,00 e foi pago à vista. O lançamento
contábil para esse fato seria:

Débito: Estoque de mercadorias 4.000,00

Crédito: Caixa 4.000,00


29 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Decorridos cinco dias após essa compra, a empresa adquiriu de outro fornecedor ou-
tras 50 unidades do mesmo produto, a prazo. O valor total da compra foi R$ 5.250,00.
O lançamento para esse registro seria:

Débito: Estoque de mercadorias 5.250,00

Crédito: Fornecedores 5.250,00

A empresa, então, realizou a venda de 70 unidades desse produto a um cliente pelo


valor de R$10.500,00. Qual foi o lucro apurado pela empresa nesse caso hipotético?

Isso vai depender do método escolhido para controlar os estoques. Veja como ficaria
o resultado em cada situação.

a) Método PEPS

Produtos adquiridos:

Quantidade Custo unitário Custo total

1ª compra 40 100,00 4.000,00

2ª compra 50 105,00 5.250,00

Total 90 9.250,00
30 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Como a empresa vendeu 70 produtos, se utilizar o método PEPS, precisa considerar


o preço dos produtos adquiridos na primeira compra e somente depois considerar o
preço dos produtos da segunda compra. Dessa forma, a fim de apurar o custo da mer-
cadoria vendida (CMV), ela deve realizar o seguinte cálculo:

Venda de 70 produtos:

40 produtos de preço unitário de R$ 100,00 = R$ 4.000,00


30 produtos de preço unitário de R$ 105,00 = R$ 3.150,00
= Total do Custo da Mercadoria Vendida = R$ 7.150,00

Nesse caso, o lucro bruto apurado na transação seria o valor da venda menos o CMV,
ou seja:

Receita de vendas = R$ 10.500,00


( - ) CMV = R$ (7.150,00)
= Lucro Bruto = R$ 3.350,00

Pode-se observar que, pelo método PEPS de controle de estoques, é fundamental


manter a independência dos preços adquiridos, não os misturando. Além disso, a or-
dem cronológica dos eventos precisa ser rigorosamente obedecida e cada nova com-
pra deve ser identificada como um registro posterior.

Tomando por base o mesmo exemplo do método anterior, veja agora como fica o con-
trole, caso a empresa opte pelo método do custo médio.
31 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

b) Método Custo Médio

Produtos adquiridos:

Quantidade Custo unitário Custo total

1ª compra 40 100,00 4.000,00

2ª compra 50 105,00 5.250,00

Total 90 102,78 9.250,00

Pelo método do custo médio, deve-se considerar os preços unitários médios quando
se realiza uma venda. Nesse caso, é preciso dividir o custo total de aquisição pela
quantidade de produtos adquiridos.

Por esse método, o CMV seria o resultado da quantidade de produtos vendidos, no


caso 70 produtos, multiplicado pelo custo médio de aquisição, ou seja:

Receita de vendas = R$ 10.500,00


( - ) CMV = R$ (7.194,60) resultado de 70 unidades x R$ 102,78
= Lucro Bruto = = R$ 3.305,40

VOCÊ SABIA?

Existe também o método último que entra primeiro que sai (ueps). Mas esse método
não é aceito no brasil, pois, numa situação de inflação, a cada nova compra, o preço
fica mais alto. Sendo assim, se os últimos preços saem primeiro, o cmv tende a ser
mais alto, reduzindo o lucro da empresa. Nesse caso, as empresas recolheriam menos
tributos ao fisco.
32 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

UNIDADE 3
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS –
BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO
DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

Balanço patrimonial
No intuito de prestar auxílio aos diversos usuários que necessitam de informações econô-
micas e financeiras das empresas, a contabilidade se utiliza de demonstrativos contábeis.
Afinal, o objetivo essencial da contabilidade é prover aos usuários informações úteis para a
tomada de decisão.

O investidor precisa de informações que o ajudem a decidir se vai continuar investindo na


empresa. O credor, por sua vez, precisa de informações para continuar concedendo em-
préstimos à empresa. Até mesmo os gerentes e administradores necessitam de informa-
ções que os ajudem a tomar decisões e, por essa razão, recorrem às informações contábeis.

E como fazer para que essas informações estejam disponíveis para os usuários? Como fazê-
-las chegar até eles?

Existem muitos canais de comunicação da empresa com esses usuários. O Relatório da Ad-
ministração, que traz a apresentação de fatos relevantes, formulário de referência, entre
outros itens, é um deles. Mas a forma principal de evidenciação dos resultados alcançados
pela empresa é por meio de Demonstrativos Contábeis. E isso precisa ser feito com regula-
ridade, afinal, a maior parte dos usuários da contabilidade é externa, ou seja, não estão no
dia a dia da empresa.

Como não é possível retratar todos os aspectos relevantes da empresa num único demons-
trativo, tem-se um conjunto deles. Esse conjunto de demonstrativos é denominado de “De-
monstrações Contábeis”.

O Balanço Patrimonial por certo é o mais conhecido e famoso desses demonstrativos con-
tábeis, mas não é o único a ser elaborado e evidenciado pelas empresas. Há também a
Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Lí-
quido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração do Valor Adicionado, além de
notas explicativas e pareceres de auditoria e, também, em alguns casos, o parecer do con-
selho fiscal. Nesse sentido, conhecer a composição e estrutura desses relatórios é condição
fundamental para um completo entendimento da importância da ciência contábil para o
mundo dos negócios.
33 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

O Balanço Patrimonial é o demonstrativo contábil que apresenta a posição patrimonial e


financeira da empresa num determinado momento. Nele encontram-se informações sobre
os ativos da empresa, ou seja, os recursos que a organização adquiriu ao longo de sua traje-
tória e que é fruto de suas operações. Além disso, reúne as obrigações que a empresa assu-
miu para fazer jus a esses ativos. Denomina-se passivo aquelas obrigações originadas com
terceiros e, patrimônio líquido, aquelas obrigações da empresa relacionada com os sócios.

Esse demonstrativo apresenta resumidamente um retrato da condição patrimonial da em-


presa. Evidencia o que ela tem (ativos) e, também, o que precisa pagar (passivos), dando
razoável condição para uma análise de liquidez da empresa, ou seja, a capacidade de paga-
mento de dívidas assumidas.

A fim de garantir uma informação patrimonial de qualidade, o Balanço Patrimonial apresen-


ta uma estrutura própria que procura classificar as contas do ativo pela ordem de liquidez,
ou seja, pelo tempo de conversão de determinado bem ou direito em dinheiro. Da mesma
forma, o passivo é classificado de acordo com o prazo de pagamento.

A composição do Balanço Patrimonial está disposta da seguinte forma:

Balanço Patrimonial

ATIVO PASSIVO

CIRCULANTE CIRCULANTE

NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE

Realizável a longo prazo

Investimentos
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Imobilizado

Intangível

A linha divisória entre curto prazo e longo prazo fundamenta-se no exercício social1, ou seja,
eventos cuja realização ocorra até o final do exercício seguinte devem ser classificados no
circulante e eventos com prazo de realização superior a este devem ser classificados no ati-
vo não circulante.

1 Exercício social representa o período de apuração dos resultados alcançados por uma empresa num
determinado período. De modo geral, o exercício social praticado pelas empresas é de um ano.
34 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Ativo circulante
Nesse grupo de contas deve-se classificar primeiramente a conta caixa e todas as demais
contas consideradas como equivalentes de caixa. Mas o que são equivalentes de caixa?

Não se pode esquecer de que caixa representa o dinheiro em espécie, que está fisicamente
na empresa (na caixa registradora, no cofre ou na gaveta, por exemplo). Se o dinheiro estiver
numa conta corrente em nome da empresa, esse valor não representa caixa. No entanto,
está tão facilmente disponível quanto o dinheiro em espécie. Basta emitir um cheque ou
utilizar o cartão de débito, ou seja, é igualmente possível comprar artigos de interesse ou
fazer pagamentos. Nesse caso, o dinheiro em banco representa um equivalente de caixa.
Aplicações financeiras, como caderneta de poupança, por exemplo, também representam
um equivalente de caixa.

Além do caixa e dos equivalentes de caixa, no ativo circulante aparecem, também, os es-
toques de mercadorias. Nesse momento, os produtos que a empresa comprou não repre-
sentam dinheiro em espécie (caixa). Porém, brevemente serão. Tão logo haja a venda, a
empresa os substituirá por caixa.

Desse entendimento surge uma questão: mas e se a venda for a prazo? Nesse caso, não
haveria troca de mercadorias por dinheiro. Isso é fato. No entanto, tão logo se complete o
prazo concedido pela empresa, o cliente deixará na empresa o valor correspondente em
dinheiro. Sendo assim, os valores a receber também fazem parte do ativo circulante.

Ativo não circulante


Esse grupo apresenta uma subdivisão em quatro subgrupos, Realizável a Longo Prazo, In-
vestimentos, Imobilizado e Intangível. No Realizável a Longo Prazo são registrados os valo-
res a receber, cuja data efetiva de recebimento seja superior ao exercício social seguinte.

Já o subgrupo de Investimentos reúne os recursos investidos pela empresa, com a intenção


mantê-los por um prazo relativamente longo. Tais recursos não participam das atividades
normais da empresa, nem estão associados ao seu processo produtivo. As ações adquiridas
de outras companhias são um exemplo de contas classificáveis como investimentos. Com
tais ações, as empresas têm expectativas de benefícios, mas não os utilizam para a realiza-
ção das atividades normais. Uma obra de arte também é um exemplo de conta classificada
nesse subgrupo do ativo não circulante.

Quando uma empresa adquire bens com o intuito de utilizá-los nas suas atividades normais,
esses ativos devem ser classificados no subgrupo Imobilizado. São variados os exemplos de
ativos: veículos, móveis e utensílios, máquinas e equipamentos, computadores e periféricos,
35 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

entre outros. Basta que a sua utilização esteja associada direta ou indiretamente às ativida-
des operacionais da empresa que se caracteriza como um ativo imobilizado.

Pela utilização desses ativos no dia a dia da empresa, é natural que sofram desgaste e,
consequentemente, cheguem ao final de sua vida útil. Por essa razão é que esses ativos so-
frem depreciação2. No entanto, é difícil medir o desgaste de um ativo. Por essa razão é que
existem variados métodos criados na tentativa de buscar uma medida que represente esse
desgaste e perda de valor.

Alguns métodos são mais arbitrários que outros. No Brasil, o método largamente utilizado é
denominado “método linear” (também conhecido como “linha reta” ou “cotas constantes”).
Para uma melhor compreensão do cálculo desse método, considere que uma empresa ad-
quiriu um ativo no valor de R$ 10.000,00.

Por esse método você deve considerar uma vida útil estimada e calcular uma depreciação
proporcional para todo o período. Vida útil seria o tempo em que o ativo teria condições de
funcionamento até se transformar numa sucata. Nesse caso, se o ativo tivesse uma vida útil
de cinco anos, pelo método de depreciação linear, o cálculo seria: valor do ativo dividido pela
vida útil estimada desse ativo.

Preço do ativo Vida útil Depreciação anual

R$ 10.000,00 5 anos R$ 2.000,00

No Balanço Patrimonial, o ativo seria demonstrado da seguinte forma:

Ativo Não Circulante

Ano 0 Imobilizado

Máquinas............................ 10.000,00

Ativo Não Circulante

Imobilizado
Ano 1
Máquinas............................ 10.000,00

(-) Depreciação Acumulada (2.000,00)

2 Depreciação representa a perda de valor contábil de um bem pelo seu uso, desgaste ou
obsolescência.
36 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Ativo Não Circulante

Imobilizado
Ano 2
Máquinas............................ 10.000,00

(-) Depreciação Acumulada (4.000,00)

Ativo Não Circulante

Imobilizado
Ano 3
Máquinas............................ 10.000,00

(-) Depreciação Acumulada (6.000,00)

Ativo Não Circulante

Imobilizado
Ano 4
Máquinas............................ 10.000,00

(-) Depreciação Acumulada (8.000,00)

Ativo Não Circulante

Imobilizado
Ano 5
Máquinas............................ 10.000,00

(-) Depreciação Acumulada (10.000,00)

Nesse caso, ao final do quinto ano, a máquina não apresentaria valor contábil e deveria ser
retirada do patrimônio da empresa até pela ideia de que não traria mais benefícios.

A adoção das normas internacionais pelas empresas brasileiras passou a considerar dois
aspectos importantes:

2. A necessidade de se estimar um valor residual, que seria um valor contábil final que
representaria o valor pelo qual esse ativo seria vendido.

3. A necessidade de se considerar o período de utilização do ativo pela empresa e não o


sua vida útil total.
37 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Dessa forma, imaginando as mesmas condições do exemplo anteriormente apresentado,


considere que, apesar da vida útil do ativo ser de cinco anos, a empresa só pretende utilizá-
-lo por três anos. Além disso, calculou um valor residual de R$ 3.100,00. Nesse caso ter-se-ia:

Valor do ativo = R$ 10.000,00


(-) valor residual = (R$ 3.100,00)
= Saldo a depreciar R$ 6.900,00

A depreciação anual seria: R$ 6.900,00 / 3 anos = R$ 2.300,00

A depreciação representa um registro importante no Balanço Patrimonial das empresas,


principalmente porque na maior parte das vezes elas têm uma grande quantidade de ativos
de valores significativos nesse subgrupo do ativo não circulante.

O último subgrupo de contas do ativo não circulante é o Intangível. Nele estão inseridos
os bens incorpóreos que, apesar dessa característica, trazem benefício econômico para as
empresas. Os exemplos mais clássicos de contas classificáveis nesse grupo são as marcas
e patentes. No entanto, cada vez mais o número de ativos classificáveis nesse subgrupo
aumenta. Contratos de concessão, softwares, direitos de usos e processos, direitos autorais,
entre outros são exemplos de ativos invisíveis nos quais as empresas podem gerar receitas
a partir de sua utilização.

Passivo
Essa parte do balanço patrimonial reúne as obrigações da empresa assumidas com outras
pessoas físicas ou jurídicas nas suas relações comerciais e financeiras. As obrigações mais
comuns que as empresas assumem são:

■ Obrigações comerciais: compra a prazo de mercadorias e/ou outros bens de uso.

■ Obrigações financeiras: empréstimos e financiamentos bancários ainda não pagos.

■ Obrigações trabalhistas: salários e encargos sociais a pagar aos empregados.

■ Obrigações tributárias: tributos devidos e ainda não pagos.

Se tais obrigações ocorrerem até o final do exercício social seguinte, devem ser classificadas
no circulante. Caso contrário, serão alocadas no passivo não circulante.
38 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Patrimônio líquido
O grupo de contas do patrimônio líquido reúne as obrigações próprias da empresa, ou seja,
as obrigações que a empresa (pessoa jurídica) tem com as pessoas (físicas ou jurídicas) que
a constituíram.

A primeira conta do patrimônio líquido é o capital social, que representa o investimento ini-
cial aplicado pelos sócios ou acionistas para começar as atividades da empresa. Esse grupo
de contas é composto, ainda, pelas reservas. Estas podem advir do resultado das operações
normais da empresa (reservas de lucro) ou, ainda, de negociações de ações e outros títulos
mobiliários (reservas de capital).

Por conta das normas internacionais de contabilidade, o patrimônio líquido contém tam-
bém a conta ajustes de avaliação patrimonial que representa a contrapartida de ativos e/
ou passivos que tiveram seu valor contábil ajustado pela concepção de registro pelo valor
justo. Esse grupo de contas é completado ainda com as contas ações em tesouraria e Pre-
juízo Acumulado. Essas contas aparecerão somente em situações específicas e (espera-se)
por período breve.

É com essa composição de grupos de contas e com regras bastante claras para a classifi-
cação destas contas nos grupos específicos que o Balanço Patrimonial apresenta sintetica-
mente, e numa data específica, a condição patrimonial e financeira da empresa.

Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)


A demonstração do resultado do exercício (DRE) reúne as receitas apuradas pela empresa ao
longo de um período, confrontando-as com as despesas realizadas nesse mesmo período. Trata-
se de um demonstrativo de cunho financeiro e que apresenta o desempenho que a empresa
obteve em função das decisões gerenciais que sua administração tomou.
39 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

A composição básica da DRE é a seguinte:

+ Receita Líquida de vendas

(-) Custo da Mercadoria Vendida

= Resultado bruto

(-) Despesas operacionais

(-) Administrativas

(-) Com vendas

= Resultado antes das despesas e receitas financeiras

+ ou (-) Resultado financeiro

= Resultado antes dos tributos sobre o lucro

(-) IRPJ e CSLL*

= Resultado Líquido

*Tributos sobre o lucro: Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Como se pode observar, a DRE começa pela receita líquida de vendas e a primeira apuração
ocorre deduzindo-se o CMV, como foi visto na unidade anterior, quando foi discorrido sobre
controle de estoques. O resultado dessa primeira subtração recebe o nome de “resultado
bruto”, por considerar apenas o que a empresa “ganhou” nas vendas realizadas no período
em relação aos “gastos” para aquisição desses produtos. Genericamente, compara venda
com compra.

Sabe-se, no entanto, que a conta nunca é tão simples assim. Para realizar as atividades de
compra e venda, as empresas fazem diversas despesas. São as denominadas “despesas
operacionais”. Estas despesas geralmente são registradas em grupos de gastos semelhantes
e são realizadas para manter a estrutura das atividades normais da empresa.

As classificações mais comuns são despesas gerais e administrativas, que reúnem contas
como salários, aluguel, água, luz, telefone, entre outros, e despesas com vendas, que con-
templa as despesas associadas à atividade comercial de vendas, como fretes, comissões
sobre vendas, gastos com marketing, entre outros.
40 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

As empresas podem criar outras classificações e outros grupos de despesas se entenderem


que, assim, poderão oferecer aos usuários da contabilidade informações mais úteis sobre
os gastos realizados pela empresa.

As despesas e receitas financeiras são um capítulo à parte na composição da DRE. Elas não
são classificadas como operacionais porque não guardam relação com a atividade da em-
presa. No entanto, as empresas de modo geral, na realização de suas atividades industriais
e comerciais, utilizam o sistema financeiro e, por essa razão, podem arcar com despesas
financeiras (pagamento de juros, concessão de descontos financeiros e pagamento de tribu-
tos, como o Imposto Sobre Operações Financeiras – IOF), assim como podem se beneficiar e
gerar receitas financeiras (obtenção de descontos e cobrança de juros). Nesse caso, deve-se
confrontar o total das receitas financeiras com o total das despesas financeiras de um perí-
odo e apresentar o resultado líquido na DRE.

Por fim, calculam-se os tributos incidentes sobre o lucro, a saber, o IRPJ e a CSLL. Todo esse
cálculo tem como objetivo apurar o resultado líquido do período, a última linha na compo-
sição da DRE.

UNIDADE 4:
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS: DEMONSTRA-
ÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E DEMONSTRAÇÃO DAS MUTA-
ÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)


O grupo do Balanço Patrimonial denominado “patrimônio líquido” representa a obrigação
da empresa em relação aos seus sócios ou acionistas. Por essa razão, ele assume uma im-
portância fundamental, visto que os donos do negócio não querem só saber as condições
econômicas e financeiras da empresa, mas, também, os lucros apurados e qual destino foi
dado a esse lucro. De modo geral, o lucro apurado na DRE pode ter três destinos. A figura a
seguir retrata essa questão:
41 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

LUCRO LÍQUIDO DO PERÍODO

Distribuição do lucro Retenção dos Incorporação do


aos acionistas ganhos apurados lucro apurado ao

DIVIDENDOS RESERVA DE LUCRO CAPITAL SOCIAL

Figura 1.5: Destinos possíveis do lucro

O lucro apurado pela empresa em determinado período pode ser distribuído para os acio-
nistas (dividendos). Pode também ser retido na empresa por conta de investimentos e ações
específicas que se queira fazer no futuro ou, ainda, pode ser reinvestido na empresa. Nesse
caso, parte do lucro é incorporada ao capital social.

VOCÊ SABIA?

Todas as companhias de capital aberto são obrigadas a constituir uma reserva para
fins de proteção aos seus acionistas minoritários. O nome dessa reserva é “reserva
legal”. Dessa forma, na maioria das vezes, a empresa não pode distribuir todo o seu
lucro aos acionistas sem destinar 5% do seu valor a título de reserva legal. Uma das
situações em que a empresa fica desobrigada a fazê-lo é o caso de o valor destinado a
essa conta atingir 20% do valor do capital social da empresa.

A demonstração das mutações do patrimônio líquido tem como objetivo apresentar as va-
riações ocorridas em cada uma das contas do grupo, evidenciando seu saldo inicial, as mo-
dificações no período e seu saldo final.
42 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

A fim de compreender melhor as mudanças que podem ocorrer nas contas do patrimônio
líquido, que são passíveis de apresentação e explicação na DMPL, veja a seguir uma breve
explanação das contas pertencentes ao patrimônio líquido.

Capital social
Esta conta reúne o investimento inicial feito pelos sócios ou acionistas para início das ativi-
dades da empresa. A ela são incorporadas novas integralizações e/ou incorporações feitas
ao capital.

VOCÊ SABIA?

A integralização de capital ocorre quando os acionistas investem mais recursos de seu


próprio bolso em favor da empresa. Por sua vez, na incorporação ao capital social os
sócios não fazem novos desembolsos, mas utilizam parte do lucro apurado pela em-
presa para aplicá-los ao capital. Nesse caso, os acionistas recebem mais ações.

Reservas de capital
São fundos constituídos pela empresa que não derivam das suas atividades normais. Elas
surgem de transações no mercado financeiro e que podem gerar recursos para as empre-
sas, devendo constar no patrimônio líquido. As reservas de capital originam-se de:

■ Ágio na emissão de ações: acréscimo de valor pago pelo acionista em relação ao valor
nominal da ação.

■ Alienação de partes beneficiárias: títulos negociáveis que a companhia pode criar a


qualquer momento, cuja venda representa uma reserva de capital.

■ Alienação de bônus de subscrição: títulos mobiliários negociáveis em bolsa.


43 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Reservas de lucro
Além das reservas de capital, existem também as reservas de lucro que, tais como aquelas,
também representam fundos constituídos pela empresa. A diferença é que esses fundos
são constituídos a partir dos lucros que a empresa apurou no período. As principais reservas
de lucro são:

■ Reserva legal: instituída com o objetivo de dar garantias ao capital social da empresa.
Como o próprio nome sugere, sua constituição é obrigatória. A lei exige sua constitui-
ção. A alíquota para retenção é de 5% do lucro. A sua destinação cessará quando o va-
lor dessa conta atingir 20% do capital social ou quando o seu saldo, somado às demais
reservas de capital, atingir 30% do capital social.

■ Reserva estatutária: constituída pelo estatuto da sociedade. Quando isso ocorrer, o


estatuto deve definir claramente sua finalidade e fixar os critérios para a sua seleção,
estabelecendo, inclusive, o limite máximo de destinação.

■ Reserva para expansão: criada em assembleia, constituída para fins de expansão e


investimento futuro. Os critérios para sua utilização, bem como a proposta orçamen-
tária para identificar as fontes de recursos e sua aplicação, devem estar claramente
definidos e os recursos contabilizados não podem ser utilizados para outros fins, se
não para aquele pelo qual a assembleia decidiu quando da sua constituição.

■ Reserva para contingências: constituída em assembleia de acionistas, tem como pro-


pósito utilizar parte do lucro líquido para compensar prejuízos que podem advir de
eventos ou fatos futuros e que poderão afetar negativamente o resultado da empresa.
Por exemplo, a sede da empresa está localizada perto de um rio que enche rapida-
mente após as chuvas. É razoável pensar que, em função dos problemas climáticos
que atualmente se enfrenta e de fatos já ocorridos que causaram transtorno à empre-
sa, há grande probabilidade do evento voltar a acontecer.

■ Reserva de lucros a realizar: como a contabilidade trabalha com base no regime de


competência, a constituição dessa reserva fica condicionada à realização financeira do
resultado do período.

Analise um exemplo, considerando uma versão resumida da DRE:

DRE Valor Condição ao final do período


Receita líquida de vendas 1.000.000,00 70% recebido e 30% a receber
(-) CMV (280.000,00) 100% pago
(-) Despesas operacionais (320.000,00) 90% pago
(-) IRPJ e CSLL (120.000,00) 50% pago
= Lucro líquido do período 280.000,00
44 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Com base no exemplo, pode-se observar que, apesar de a empresa apresentar um lucro de
R$280.000,00, ela só tem R$ 50.000,00 em caixa. Isso ocorre por conta do regime de com-
petência.

Despesas e receitas são registradas com base no fato gerador do evento e não com base na
movimentação financeira. Nesse caso, a empresa não tem como distribuir dividendos aos
acionistas porque uma parcela significativa do lucro ainda não foi convertida em dinheiro,
ou seja, ainda não foi transformado em caixa. Eis a razão para a constituição dessa reserva. É
evidente que, na medida em que a conversão do lucro ocorrer, isto é, o lucro se transformar
em dinheiro, aí sim a empresa deveria distribuir os dividendos acordados.

■ Ajustes de avaliação patrimonial: essa conta é constituída a partir dos lançamentos


contábeis de ajustes de ativos e passivos em função de seus valores justos apurados.
A conta ajustes de avaliação patrimonial é, na verdade, a contrapartida contábil do re-
gistro das variações entre valor contábil e valor justo. Tal conta não constava no rol de
contas do patrimônio líquido até a Lei 11.638/2007, momento em que o Brasil passou
a adotar as normas internacionais de contabilidade.

■ Ações em tesouraria: destina-se ao registro de ações do capital social livremente ne-


gociada em bolsa e cuja aquisição é realizada pela própria empresa. Para que a empre-
sa realize essa operação, a administração da companhia deve explicitar o motivo pelo
qual a organização optou por realizar tal operação.

■ Prejuízo acumulado: dentro da concepção das normas internacionais de contabilida-


de, a conta de lucros acumulados assumiu caráter de transitoriedade. Tão logo o lucro
seja apurado, deve-se decidir qual destino será dado a ele. Por essa razão, a conta
lucros acumulados não mais aparece no balanço da empresa. Os prejuízos acumula-
dos, por sua vez, não assumiram caráter de transitoriedade e, caso ocorra, deve ser
evidenciado no patrimônio líquido.

Agora que você estudou brevemente as contas que compõem o patrimônio líquido, veja um
modelo simplificado da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). Como
dito anteriormente, essa demonstração apresenta sucintamente a movimentação ocorrida
nas contas, a fim de visualizar seus saldos iniciais e finais.

É evidente que esse demonstrativo contábil pode ser mais simples ou mais complexo, de-
pendendo da quantidade e da variedade de operações que a empresa realizou no período
que impactaram (positiva ou negativamente) o saldo das contas do patrimônio líquido.

Resumidamente, a demonstração apresenta o saldo inicial das contas. Em seguida, apresen-


ta individualmente as modificações (aumentos ou reduções) dos saldos de cada conta para,
ao final, apresentar o resultado após essas mudanças. Observe o exemplo a seguir:
45 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

Uma empresa apresentava um patrimônio líquido que continha Capital Social com R$
120.000,00 e reserva legal com R$ 10.000,00.

No exercício atual ela obteve um lucro de R$ 200.000,00 e após a destinação da reserva legal
(obrigatória) o distribuiu da seguinte forma: 50% para dividendos e 50% para reserva para
expansão. Veja na demonstração a seguir.

Capital Lucro Total


Reservas de lucro
social acumulado
Lucros a
Legal Expansão
realizar
Saldo inicial –
120.000,00 10.000,00 130.000,00
2016

Ajustes de exercí-
cios anteriores

Reversão de
reservas

Lucro Líquido do
200.000,00 200.000,00
período

Distribuição
200.000,00
proposta

Reserva legal 10.000,00 (10.000,00)

Reserva
95.000,00 (95.000,00)
para expansão

Reserva de lucros
a realizar

Dividendos a
(95.000,00) (95.000,00)
distribuir

Total 120.000,00 20.000,00 95.000,00 0 0 235.000,00

Os valores são evidenciados em cada linha e coluna. O saldo inicial (primeira linha) apresen-
ta os valores do ano anterior. O saldo final (última linha) o resultado final que será transpor-
tado para a DMPL do próximo ano. Ao final, a soma da última linha da demonstração precisa
somar o mesmo valor da soma da última coluna. A coluna do total.
46 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)


A demonstração dos fluxos de caixa é o único demonstrativo contábil que não adota o re-
gime de competência. Como o próprio nome assim sugere, fundamenta-se no regime de
caixa. Esse demonstrativo pode ser apresentado por dois métodos: O direto e o indireto.
Independentemente do método, a DFC apresenta três fluxos de evidenciação:

■ Fluxo Operacional.

■ Fluxo de Investimentos.

■ Fluxo de Financiamento.

Fluxo de caixa operacional

Esse fluxo procura evidenciar a movimentação financeira ocorrida nas atividades rotineiras
da empresa. Qual o volume de recursos que a empresa acumulou no período em função das
vendas de suas mercadorias e produtos? Por outro lado, qual foi o montante de recursos
gastos na compra desses mesmos produtos?

É evidente que o fluxo de recursos não pode ser explicado somente pelas compras e vendas.
Há toda uma estrutura necessária para manter o ritmo das operações e garantir a continui-
dade das atividades. Por essa razão é que o fluxo de caixa operacional também evidencia os
recursos gastos nas despesas operacionais da empresa.

Conhecer esses montantes fornece razoável condição para que os usuários tenham possibi-
lidade de realizar uma análise aprofundada da situação operacional da empresa.

Fluxo de caixa de investimentos

Esse fluxo relaciona-se com o ativo não circulante do Balanço Patrimonial. É que nesse gru-
po de contas do balanço que ficam registradas aquelas contas de caráter mais duradouro
no patrimônio. São contas relacionadas com o longo prazo.

O fluxo de investimentos procura evidenciar exatamente isso: os investimentos de longo


prazo. Nesse sentido, apresenta acréscimos e decréscimos nas contas dos subgrupos In-
vestimentos, Imobilizado e Intangível. Tais acréscimos e decréscimos, quando originados de
compras e vendas desses ativos, são evidenciados nesse fluxo.

Ocorre que ativos e passivos podem também sofrer alterações em seus valores contábeis
por conta de sua mensuração pelo valor justo, que pode apresentar resultado diferente do
valor contábil líquido. Nesse caso, haverá variação do saldo da conta, mas não ocorrerá mo-
vimentação financeira.
47 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

Não se pode esquecer de que a DFC trabalha pelo regime de caixa e, portanto, registra
apenas eventos que implicaram na entrada e/ou saída de dinheiro. O foco da DFC reside na
movimentação financeira.

Fluxo de caixa de financiamento

O último fluxo da DFC é o de financiamento. Esse fluxo procura evidenciar uma questão
básica nos negócios: Quem paga a conta? Ou melhor, dizendo, quem financia as operações?

Seja nas atividades de curto prazo (retratadas no fluxo de caixa operacional), seja nas ações
de longo prazo (delineadas no fluxo de caixa de investimentos), é preciso evidenciar de onde
vieram os recursos que ajudaram a movimentar esses fluxos. Nesse sentido, o fluxo de cai-
xa de financiamento associa-se com o passivo exigível e o patrimônio líquido, visto que são
esses grupos de contas do balanço patrimonial que evidenciam as obrigações da empresa,
ou seja, as origens de recursos.

INFORMAÇÃO EXTRA

O conjunto de demonstrativos contábeis não fica completo sem que se tenha um texto
adicional para explicar mais detalhadamente os números apresentados nas demons-
trações. Na maioria das vezes, os números são insuficientes para esclarecer uma situ-
ação. É preciso texto para completar a ideia. Esse é o objetivo das notas explicativas:
oferecer informação adicional aos números contábeis contidos nos demonstrativos.

Algumas das questões que se pode suscitar ao observar os números dos demonstra-
tivos contábeis são: Como se chegou a esse valor? Qual foi o critério de mensuração?
Qual foi a taxa de câmbio utilizada? Qual método de controle foi aplicado?

De modo geral, as notas explicativas têm o objetivo de:

1. Apresentar critérios de suporte às demonstrações contábeis. Sabe-se que as ati-


vidades empresariais são complexas e as formas e metodologias diversas. Nesse
caso, explicar quais critérios foram adotados, quais métodos foram escolhidos
e que premissas foram tomadas para se mensurar um ativo ou calcular um pas-
sivo mostra-se como informação extremamente relevante para os usuários da
contabilidade.
48 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA

2. Divulgar informações que não são apresentadas em outros lugares. As notas


explicativas não devem se resumir a explicar números contábeis contidos nas
demonstrações. São, também, úteis para oferecer informação complementar re-
levante e que pode facilitar a decisão do usuário.

3. Fornecer informações adicionais para uma apresentação adequada.

RESUMO
Neste módulo foram analisados alguns princípios fundamentais de contabilidade, enfati-
zando a qualidade da informação que a contabilidade presta a seus usuários. Foi visto que
a evidenciação dessas informações deve traduzir a realidade econômica da empresa e, por-
tanto, precisam ser mensurados com critérios adequados e demonstrados nos relatórios de
forma sistemática e resumida.

Foi estudada a composição e estrutura dos principais demonstrativos contábeis, como o


Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração das Mu-
tações do Patrimônio Líquido e a Demonstração dos Fluxos de Caixa. E, por fim, explicou-se
que a organização desses demonstrativos concede ao usuário razoável condição para uma
análise consistente das condições econômicas e financeiras da empresa.
Módulo 2

DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS E SUAS
EVIDENCIAÇÕES
INTRODUÇÃO DO MÓDULO

Você estudou no módulo anterior os principais demonstrativos contábeis pelos quais as em-
presas divulgam os seus resultados operacionais, a sua estrutura patrimonial e a sua condição
financeira.

Muito embora as informações prestadas estejam sistematizadas, organizadas e sumarizadas


nesses relatórios, nem sempre é possível ter uma compreensão consistente do que os núme-
ros traduzem. É preciso interpretá-los. Para tanto, é fundamental conhecer os critérios e mé-
todos de mensuração de ativos e passivos e, mais do que isso, é preciso relacionar e integrar
as informações de cada demonstrativo contábil.

Por essa razão é que se faz a análise financeira dos demonstrativos contábeis. Eles permitem
uma consistência analítica das reais condições do negócio a partir da comparação de dados
dos vários demonstrativos.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao concluir esse módulo, você estará apto a:

■ Compreender as formas, tipos e modelos de mensuração de ativos e passivos.

■ Conhecer os principais indicadores econômicos e financeiros utilizados pelas empre-


sas para avaliação e análise.

■ Identificar as possibilidades de análise empresarial por meio da conjugação de vários


indicadores financeiros.

ESTRUTURA DO MÓDULO

■ Unidade 1: Mensuração de ativos e passivos

■ Unidade 2: Indicadores de liquidez e endividamento

■ Unidade 3: Indicadores de margem e rentabilidade

■ Unidade 4: Análise do fluxo de caixa


52 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

UNIDADE 1
MENSURAÇÃO DE ATIVOS E PASSIVOS

Para iniciar o debate sobre o assunto, analise a situação a seguir:

Antes de sair para o trabalho, Rodrigo viu seu pai muito concentrado olhando pla-
nilhas e informações de economia na internet. A curiosidade falou mais alto e ele
voltou dirigindo-se ao seu pai: “O que você tanto olha com atenção?”.

Seu pai, então, fez um sinal para que ele se aproximasse. Rodrigo sentou-se ao seu
lado e então ele disse: “Tenho certa quantia em dinheiro e gostaria de adquirir ações
de uma dessas empresas”, falou já apresentando os demonstrativos contábeis das
empresas.

Enquanto Rodrigo apreciava os dados, seu pai o questionava: “Como saber qual
empresa está em melhores condições financeiras? Que critérios eu devo utilizar para
concretizar minha escolha? Será que esses valores aí retratados efetivamente de-
monstram a realidade das empresas?”.

Rodrigo mexeu a cabeça e, fazendo uma expressão de dúvida, prometeu ao seu pai:
“Vou levar essas informações ao pessoal da contabilidade da minha empresa para
que eles façam uma avaliação. Depois conto os detalhes”.

Imagine que as informações que estavam sendo analisadas pelo pai de Rodrigo estejam
sucintamente apresentadas nos dados a seguir:
53 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Empresa 1 R$ Empresa 2 R$ Empresa 3 R$


Ativo circulante Ativo circulante Ativo circulante
Caixa e equi- 130.100 Caixa e equi- 99.400 Caixa e equi- 111.400
valentes valentes valentes

Estoques 190.200 Estoques 156.000 Estoques 188.200

Valores a 45.000 Valores a 69.000 Valores a 70.000


receber receber receber
Ativo Não circulante Ativo Não circulante Ativo Não circulante
Investimen- 200.000 Investimen- 177.000 Investimen- 198.000
tos tos tos

Imobilizado 180.000 Imobilizado 163.000 Imobilizado 155.000


líquido líquido líquido
80.000
Intangível Intangível 44.000 Intangível 79.000
TOTAL 825.300 TOTAL 708.400 TOTAL 801.600
Passivo circulante Passivo circulante Passivo circulante
Fornecedo- 204.000 Fornecedo- 330.000 Fornecedo- 162.800
res res res

Contas a 177.000 Contas a 178.400 Contas a 137.200


pagar pagar pagar
Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido Patrimônio Líquido
Capital social 300.000 Capital social 160.000 Capital social 350.000

Reservas de 144.300 Reservas de 40.000 Reservas de 151.600


lucro lucro lucro
TOTAL 825.300 TOTAL 708.400 TOTAL

A partir da análise dos dados, como é possível responder aos questionamentos que o pai de
Rodrigo apresenta?

O objetivo principal da contabilidade é prestar informações úteis sobre a condição econô-


mica e patrimonial da empresa. Nesse sentido, é preciso considerar as bases da construção
dessas informações contábeis e isso nos remete à forma de mensuração de ativos e a ava-
liação de passivos.

Não se esqueça de que os demonstrativos contábeis representam um modelo da realidade


econômica e que, de forma sistematizada e sucinta, apresentam os resultados alcançados
num determinado período.
54 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Na unidade anterior foi apresentado que as informações contábeis precisam ser úteis para
a tomada de decisões e que a contabilidade, por meio de seus princípios, normas e regras,
contém os instrumentos necessários para garantir a eficácia dessa utilidade.

No módulo anterior, você estudou que a contabilidade evidencia a situação patrimonial e


financeira de uma empresa para os agentes econômicos – internos e externos – por meio
das demonstrações contábeis. Dessa forma, as demonstrações contábeis representam um
dos principais canais de comunicação da empresa com os usuários externos da informação
contábil.

Para que a informação seja útil, ela precisa ser confiável e relevante. Nesse sentido, os com-
ponentes patrimoniais devem ser registrados e evidenciados por um valor que reflita a reali-
dade econômica que ele apresenta. Na contextualização anterior, essa foi uma das questões
levantadas pelo pai de Rodrigo: será que esses valores aí retratados efetivamente demons-
tram a realidade das empresas?

Nesse sentido, é fundamental compreender a forma pela qual a empresa mensura seus ati-
vos e passivos. Esses componentes patrimoniais devem expressar a essência econômica do
evento e os valores ali apresentados devem ser calculados e registrados com critérios claros
e em obediência às normas contábeis, para que garantam confiabilidade e relevância.

Quando a empresa adquire um ativo (um imóvel, uma máquina ou um veículo, por exemplo),
ela acorda um valor com o vendedor, comprometendo-se a pagar. Nesse caso, esse novo
ativo –agora incorporado ao patrimônio da empresa – deve ser registrado pelo seu valor de
compra. Registra-se, então, o ativo pelo seu valor de custo de aquisição e, da mesma forma,
registra-se a obrigação (caso a transação não tenha sido à vista) pelo valor combinado e nas
condições acordadas entre comprador e vendedor.

Tem-se, nesse momento, a medida de mensuração mais utilizada pelas empresas, que é o
custo histórico como registro da operação. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC) de Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação do Relatório Contá-
bil Financeiro, em seu item 4.55, letra A, o custo histórico ocorre quando:

Os passivos são registrados pelos mon-


tantes dos recursos recebidos em troca da
Os ativos são registrados pelos montantes obrigação ou, em algumas circunstâncias
pagos em caixa ou equivalentes de caixa (como, por exemplo, imposto de renda),
ou pelo valor justo dos recursos entregues pelos montantes em caixa ou equivalentes
para adquiri-los na data da aquisição. de caixa se espera serão necessários para
liquidar o passivo no curso normal das ope-
rações.

Pode acontecer, no entanto, que, com o passar do tempo, o preço para comprar um produto
similar ao que a empresa possui venha a ficar diferente daquele valor adquirido pela empre-
55 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

sa na data de compra. Nesse caso, seria necessário atualizá-lo. Para tanto, o pronunciamen-
to contábil apresenta ainda outra medida de mensuração: o custo corrente de reposição. Ele
é representado da seguinte forma:

Os ativos são mantidos pelos montantes Os passivos são reconhecidos pelos mon-
em caixa ou equivalentes de caixa que te- tantes em caixa ou equivalentes de caixa,
riam de ser pagos se esses mesmos ativos não descontados, que seriam necessá-
ou ativos equivalentes fossem adquiridos rios para liquidar a obrigação na data
na data do balanço. do balanço.

Observe que, nesse caso, a base temporal de medida é a data do fechamento do balanço
(geralmente 31 de dezembro) e não a efetiva data do evento. Nesse caso, haveria, hipoteti-
camente, um ajuste do valor entre a data de compra e a data de fechamento do exercício so-
cial ao se analisar o custo de comprar, na data do balanço, um ativo nas mesmas condições
daquele que está operando na empresa.

Ocorre que tanto o custo histórico quanto o custo corrente de reposição levam em con-
sideração o valor de entrada, ou seja, os componentes patrimoniais ativos e passivos são
registrados no balanço pelo preço necessário para a aquisição do produto. Entretanto, há
medidas que consideram não o valor de compra, mas, sim, o preço de venda. Esse é o caso,
por exemplo, do valor realizável de vendas, que considera, no caso dos ativos, os valores
pelos quais esse ativo poderia ser trocado por caixa e os passivos pelo montante a ser pago
para a liquidação da obrigação.

Toda a discussão em torno dos critérios de mensuração de ativos e passivos tem como
pano de fundo a expectativa de melhor retratar a condição econômica da empresa. Tem-se
a preocupação de que os valores do balanço e dos demais demonstrativos contábeis não
representem uma ficção, mas, sim, algo próximo da realidade econômica.

Por conta dessa busca pelo valor que melhor expressa a realidade econômica do patrimônio
é que atualmente o critério de registro de ativos e passivos pauta-se pelo valor justo.

O CPC 46, cujo tema é a mensuração do valor justo, apresenta a seguinte definição:

Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago
pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes
do mercado na data de mensuração

O valor justo representa um valor de saída e indica o montante de valor de caixa que ele
pode gerar para a empresa. Representa uma forma de mensuração mais recente que o cus-
56 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

to histórico e que surgiu pela necessidade de se buscar formas de medir ativos e passivos
com valores mais próximos da realidade econômica naquele momento.

Uma pergunta que se pode fazer nesse momento seria: Mas como saber o valor que eu re-
ceberia ou pagaria em dinheiro pelos ativos e passivos que possuo nesse exato momento?
A resposta a essa pergunta é relativamente simples: é preciso perguntar aos compradores e
aos vendedores por quanto eles negociariam. Nesse caso, é preciso fazer uma consulta ao
mercado, ou seja, é necessário fazer uma pesquisa a fim de saber o valor justo do ativo ou
passivo.

A empresa tem autonomia para escolher a forma e o método de consulta, mas deve fazê-lo
pelo menos uma vez a cada exercício social. Ao fazer essa consulta, ela estará averiguando
se os valores contábeis de seus ativos e passivos presentes no seu balanço patrimonial es-
tão coerentes com os valores que esses mesmos ativos e passivos estão sendo negociados
por outras empresas no mercado no presente momento.

Na verdade, essa pesquisa é feita para testar a veracidade e coerência dos valores contá-
beis. Trata-se do teste de recuperabilidade (ou impairment test), ou seja, o teste de redução
ao valor recuperável de ativos. Nesse caso, é preciso entender os conceitos associados que
estão presentes no CPC 1, que trata do valor recuperável do ativo.

O pronunciamento apresenta, por exemplo, o conceito de unidade geradora de caixa.

TOME NOTA

Unidade Geradora de Caixa representa o menor grupo identificável de ativos que


gera entradas de caixa, entradas essas que são, em grande parte, independentes das
entradas de caixa de outros ativos ou outros grupos de ativos.

As empresas que trabalham, por exemplo, com segmentos operacionais³ geradora-


específicos (por exemplo: companhias de petróleo e gás produzem gasolina, etanol
e diesel; companhias de bebidas podem ter sucos, refrigerantes, bebidas alcoólicas
em vários graus; entre outras) apresentam nesses segmentos unidades geradoras de
caixa.

3 O CPC 22, que trata do tema “Informações por Segmento”, define segmento operacional como
uma unidade do negócio que desenvolve negócios independentes que geram resultado e para o qual
haja informação financeira individualizada.
57 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

A figura a seguir apresenta outras definições importantes:

VALOR CONTÁBIL VALOR EM USO

é o montante pelo qual o ativo está


reconhecido no balanço depois da é o valor presente de fluxos de caixa
dedução de toda respectiva depre- futuros esperados que devem advir
ciação, amortização ou exaustão de um ativo ou de unidade geradora
acumulada e ajuste para perdas. de caixa.

VALOR JUSTO VALOR RECUPERÁVEL

de um ativo ou de unidade geradora


de caixa é o maior montante entre o
seu valor justo líquido de despesa de
venda e o seu valor em uso.

Figura 2.1: Conceitos contábeis associados a valor


58 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Com base nas definições apresentadas, analise um exemplo:

NA PRÁTICA

Uma empresa adquiriu uma máquina no ano 0 pelo valor de R$ 200.000,00. Espera per-
manecer com o ativo por quatro anos e, definindo um valor residual de R$ 120.000,00,
escolhe o método de depreciação linear para realizar o ajuste contábil do ativo.

Ao final do ano 1, a empresa realizou um teste de recuperabilidade (impairment test).


Por meio dele, percebeu que uma máquina similar à adquirida pela empresa está sen-
do negociada no mercado pelo valor de R$150.000,00. O valor contábil da máquina,
no entanto, é:

Máquinas 200.000 (custo de aquisição)


(-) depreciação acumulada (20.000) (200.000 – 120.000 = 80.000 / 4 anos)
= Valor contábil 180.000

O valor contábil é superior ao valor negociado pelo mercado. Apresentar esse valor
no balanço não representa a realidade econômica, visto que um usuário vai entender
que, com aquela máquina, caso a empresa decida vendê-la, conseguirá R$180.000,00,
o que não é verdade. O ativo está desvalorizado porque o seu valor contábil excede ao
valor recuperável, ou seja, a empresa não consegue trocar o valor contábil pelo valor
equivalente em caixa.

Para retratar a realidade econômica, a empresa deve colocar no seu balanço o valor
de R$150.000,00 (preço negociado no mercado) e recalcular a depreciação para os
períodos seguintes. Esse seria, então, o valor justo da máquina e ofereceria aos usuá-
rios externos uma representação fidedigna das condições de mercado e do real valor
patrimonial do ativo.

Se por outro lado, ao realizar o teste de recuperabilidade (impairment test), o valor negocia-
do no mercado for superior ao valor contábil, nenhuma alteração deverá ser feita, visto que,
se o mercado negocia o ativo a um preço superior, o valor contábil daquele ativo “recupera”
59 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

o valor evidenciado no balanço e, portanto, não implica apresentar o valor que não esteja
coerente com a realidade econômica.

Por fim, é importante ressaltar que o valor em uso difere do valor justo porque este último
refere-se a terceiros (participantes do mercado) e o valor em uso remete a uma condição
interna da empresa que pode não ser aplicável ao mercado em geral. É a empresa que, em
suas condições normais, estima os fluxos de caixa futuro. Outras empresas, ao calcular o
valor em uso, por certo o fariam de forma diferente porque as condições seriam diferentes.
Portanto, para que o teste de recuperabilidade ocasione uma redução do valor a ser divul-
gado no Balanço Patrimonial, o valor recuperável precisa ser menor que o valor justo e o
valor em uso.

A correta mensuração de ativos e passivos garante que os valores contábeis apresentados


nos demonstrativos contábeis retratem a realidade econômica e patrimonial da empresa. A
partir de então, com a garantia de que os valores estão corretos e se pautam nos princípios
e normas contábeis, pode-se fazer uma análise mais detalhada das condições da empresa.
Na verdade, essa era a preocupação do pai do Rodrigo no exemplo apresentado no início da
unidade. Esses pontos serão analisados com mais cuidado nas unidades seguintes.

UNIDADE 2
INDICADORES DE LIQUIDEZ E ENDIVIDAMENTO

As demonstrações contábeis fornecem informações contábeis e financeiras a respeito das


condições da empresa num determinado período. São informações úteis, fidedignas, com
base em princípios e normas contábeis, auditadas (obrigatoriamente quando companhias
abertas) e apresentadas de forma sistematizada e resumida. Ainda assim, é possível fazer
análises mais detalhadas sobre os números contábeis das demonstrações, a fim de se alcan-
çar uma melhor compreensão da saúde financeira da empresa.
60 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

A análise das demonstrações contábeis pode ser realizada:

■ De forma vertical.

■ De forma horizontal.

■ Por meio de quocientes.

A análise vertical refere-se, na verdade, a um coeficiente de participação de uma determina-


da conta dentro do grupo ao qual pertence. Pode-se saber, por exemplo, qual a participação
da conta estoque no grupo do ativo circulante. Veja o exemplo a seguir:

ATIVO CIRCULANTE R$

Caixa e equivalentes de caixa 12.000,00

Estoques de mercadorias 38.000,00

Clientes 16.000,00

Outros valores a receber 8.000,00

TOTAL 74.000,00

Dessa forma, se for dividido o valor dos estoques pelo total do ativo circulante, será possível
encontrar o total de participação dessa conta no grupo ao qual ela pertence.

R$ 38.000,00 = 0,51 então o estoque representa 51% do total do ativo circulante


R$ 74.000,00

A análise horizontal verifica os resultados, comparando-os entre períodos. Utilizando o


exemplo acima, considerando-o como sendo do exercício social de 2015, é possível obter os
seguintes dados:

2013 2014 2015

Participação dos estoques no


35% 40% 51%
grupo do ativo circulante
61 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Pode-se verificar que a participação dos estoques no grupo do ativo circulante tem crescido
nos últimos exercícios, alcançando uma diferença significativa de 2014 para 2015. Assim
ocorre na análise horizontal.

Para a realização da análise econômico-financeira há, tradicionalmente, um conjunto de in-


dicadores utilizados para avaliar pontos específicos sobre aspectos importantes das empre-
sas.

Há, por exemplo, um conjunto de indicadores utilizados para medir a liquidez da empresa,
ou seja, a capacidade que a empresa tem para quitar as dívidas que assumiu nos prazos
previamente acordados. Uma série de questionamentos envolve a utilizados desse indica-
dor: Os recursos são suficientes? Será que as dívidas são muito altas? Quando elas vencem?

A forma como as empresas assumem obrigações também é uma preocupação. É preciso


quitar essas dívidas. Elas foram assumidas em condições normais de mercado? Será neces-
sário arcar com juros muito altos? Para analisar melhor essas questões, utiliza-se os indica-
dores de endividamento.

Esses dois conjuntos de indicadores (liquidez e endividamento) serão apresentados a seguir.

Indicadores de liquidez
Os principais indicadores de liquidez são:

■ Liquidez imediata.

■ Liquidez corrente.

■ Liquidez seca.

■ Liquidez geral.

Esses indicadores são utilizados para medir a capacidade da empresa em quitar as suas dí-
vidas em relação a prazos específicos. A figura a seguir mostra uma composição de tempo
com base num exercício social com duração de um ano, ou trezentos e sessenta dias.
62 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Até 3 meses de 3 meses a um ano + de um ano

CURTÍSSIMO PRAZO

CURTO PRAZO

LONGO PRAZO

Figura 2.2: Limites e prazos vinculados ao exercício social

Sabe-se que as obrigações com terceiros devem ser quitadas antes das obrigações com os
sócios. Por outro lado, os recursos para pagar tais obrigações devem vir do ativo circulante.
Sendo assim, as análises de liquidez comparam valores do ativo circulante em relação aos
valores do passivo circulante. A única exceção é a liquidez geral como será visto mais adian-
te.

A fim de melhor analisar cada indicador, será utilizada a estrutura patrimonial a seguir como
referência dos cálculos dos indicadores.

ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 650.000,00 Circulante 630.000,00

Caixa e equivalentes 140.000,00 Fornecedores 190.000,00

Estoque de mercadorias 300.000,00 Obrigações trabalhistas 62.000,00

Clientes Obrigações tributárias


180.000,00 138.000,00
Outros valores a receber Outras contas a pagar
30.000,00
240.000,00
63 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Não Circulante 50.000,00 Não Circulante

Realizável a longo prazo 500.000,00 Empréstimos 200.000,00

Investimentos
1.000.000,00
Imobilizado
300.000,00
Intangível
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.670.000,00
TOTAL 2.500.000,00 2.500.000,00

A liquidez imediata, como o próprio título sugere, mede a capacidade de quitação de dívi-
das com terceiros no presente momento ou num curtíssimo espaço de tempo. Nesse senti-
do, compara o valor de caixa e equivalentes em relação ao total de obrigações com terceiros.

Liquidez imediata = 140.000,00 = 0,22 ou R$ 0,22 (o número foi arredondado)


630.000,00

Significa, então, que, para cada real de dívida, a empresa dispõe de R$ 0,22 para quitação
imediata.

Esse indicador deve ser analisado sob a perspectiva de que a empresa precisa manter dinhei-
ro em caixa para pagar compromissos com data de vencimento muito próxima, para cobrir
gastos eventuais ou, até mesmo, para aproveitar oportunidades que surgem. No entanto,
não faz sentido manter esse indicador com resultados muito altos porque pode indicar má
gestão dos recursos. Sendo assim, se uma empresa apresenta como resultado do cálculo da
liquidez imediata o valor de R$1,20, por exemplo, pode-se questionar: Por que manter tanto
recurso em caixa se nem todas as dívidas deverão ser quitadas imediatamente? Por que não
aplicar parte desses recursos na produção?

De fato, nem sempre a empresa tem necessidade de pagar todas as dívidas assumidas ime-
diatamente. Nesse caso, há outro indicador, o quociente de liquidez corrente. Ele é mais
abrangente que a liquidez imediata porque não considera apenas o caixa, mas, sim, todo o
ativo circulante. O resultado do cálculo da liquidez corrente, tomando como base o exemplo
apresentado, é:

Ativo circulante = 650.000,00 = R$ 1,03


Passivo Circulante 630.000,00

Nesse caso, o resultado aponta que, para cada real de dívida que compõe o passivo circulan-
te, a empresa apresenta R$1,03 para pagamento. Sendo assim, os recursos dos ativos são
suficientes para pagar todo o passivo e, para cada real pago, sobram R$ 0,03.
64 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Outro indicador de medida de liquidez é a liquidez seca cuja diferença básica da liquidez
corrente é a retirada dos estoques do cálculo. Esse indicador pode ser útil para medir a ca-
pacidade de pagamento de dívidas em ocasiões nas quais a empresa tem dificuldades de es-
coamento do estoque em função de retração econômica, de redução do volume de vendas
ou qualquer outro evento que tenha impacto significativo sobre os estoques.

O indicador, com base nos dados de referência do exemplo, traria o seguinte resultado:

Ativo circulante – Estoques = 650.000,00 – 300.000,00 = 0,55


Passivo Circulante 630.000,00

Sendo assim, sem considerar os estoques, a capacidade de pagamento da empresa é de R$


0,55 para cada real de dívida assumida.

Todos os indicadores analisados até agora se focam no curto prazo. Mas há também a possi-
bilidade de análise de liquidez no longo prazo. Nesse caso, utiliza-se o indicador de liquidez
geral.

Para calcular a liquidez geral, é necessário considerar, além dos ativos e passivos circulantes,
também os seus correspondentes não circulantes. Ocorre que, no caso do ativo, só deve-se
considerar o subgrupo Realizável a Longo Prazo. O cálculo ficaria da seguinte forma:

Ativo Circulante + Ativo Não Circulante


= 650.000,00 + 50.000,00 =
(Realizável a longo prazo)
Passivo Circulante + Passivo não circulante 630.000,00 + 200.000,00

O resultado apurado é R$ 0,84 (valor arredondado), o que indica que a liquidez da empresa
no longo prazo é de R$ 0,84 para cada real de dívida.

Num primeiro momento, pode-se entender, que para um indicador de liquidez, quanto mais
alto for o seu resultado, melhor será para a empresa. No entanto, isso não representa a ver-
dade em todas as situações. Há certos limites que podem variar de empresa para empresa
e de acordo com o segmento de atuação para que isso indique má gestão dos recursos. Por
exemplo, se o resultado de uma liquidez imediata é superior a R$ 1,00, entende-se que há
muito recurso em caixa. Então, pode-se questionar por que tais recursos não são aplicados
à produção.
65 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

PARE PARA PENSAR

Se for tomado por base um índice de liquidez corrente, por exemplo, para considerá-
-lo positivo, seu resultado precisa apresentar um valor superior a r$1,00. Um resulta-
do menor do que esse indica que o passivo circulante é maior do que o ativo circu-
lante, o que, a princípio, não é bom. Nesse sentido, entende-se que, quanto maior for
o resultado desse índice, melhor. Mas até que ponto um índice de liquidez corrente
extremamente alto é bom? Veja a situação apresentada a seguir e reflita sobre a
liquidez corrente que ela evidencia:

BALANÇO PATRIMONIAL DA EMPRESA SELTON S/A


Ativo
Circulante 800.000,00
Não circulante
Imobilizado líquido 100.000,00
Intangível 120.000,00
TOTAL 1.020.000,00
Passivo
Circulante 100.000,00
Não circulante 100.000,00
Patrimônio líquido 820.000,00
TOTAL 1.020.000,00

Observe que, ao calcular a liquidez corrente (800.000 / 100.000), chega-se a um resultado


de R$ 8,00. Sendo assim, para cada R$ 1,00 de dívida, a empresa possui R$ 8,00 para pagar.
Teoricamente, ao quitar a obrigação, sobrariam R$ 7,00 que não precisariam ficar estáticos
no ativo circulante, mas, sim, investidos e aplicados no capital fixo, por exemplo, com inves-
timentos de longo prazo ou na imobilização de itens que poderiam melhorar e ampliar a
capacidade produtiva da empresa.

Nesse sentido, os indicadores de liquidez, ainda que conceitualmente apresentem melhores


resultados, quando alcançam valores positivos mais altos, possuem limites. Nesse caso, é
preciso analisar cada caso individualmente e, principalmente, comparar esse índice com
dados anteriores para fins de comparação (análise horizontal).
66 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Índices de endividamento
Numa linguagem contábil e financeira, o passivo pode ser denominado “capital de terceiros”
e, o patrimônio líquido, “capital próprio”. Por essa razão, os indicadores de endividamento
que analisam basicamente a estrutura desses dois grupos de conta são também denomina-
dos “índices de estrutura de capital”.

O objetivo básico desses indicadores é evidenciar a forma como a empresa obtém os recur-
sos para gerir o negócio. Nesse sentido, pode-se calcular a participação do capital de ter-
ceiros no conjunto das obrigações da empresa. Para tanto, basta dividir o total do passivo
(circulante + não circulante) pela soma do total das obrigações.

Para apresentar os cálculos desses indicadores, foi utilizado o mesmo exemplo de demons-
trativo contábil aplicado aos indicadores de liquidez:

Passivo Exigível = 630.000,00 = 0,2520 ou 25,20%


Passivo Exigível + P. Líquido 2.500.000,00

De modo semelhante, pode-se calcular a participação do capital próprio no conjunto das


obrigações da empresa pela fórmula:

Patrimônio Líquido = 1.870.000,00 = 0,7480 ou 74,80%


Passivo Exigível + P. Líquido 2.500.000,00

Desse modo, entende-se que, no montante das obrigações da empresa, 25,20% delas refe-
rem-se a obrigações assumidas com terceiros e 74,80% referem-se a obrigações próprias.

Embora não seja uma regra geral, entende-se que não se deve pesar muito determinado
tipo de obrigação em detrimento de outra. Nesse caso, um equilíbrio entre essas duas fon-
tes de recursos é benéfico e, quase sempre, valores próximos a 50% de ambas as participa-
ções demonstram que a empresa possui uma boa estrutura de capital.

Pode ser importante, também, dimensionar a composição do endividamento, que é o in-


dicador que identifica quanto das dívidas assumidas com terceiros é de curto prazo. Para
encontrar o resultado, é preciso utilizar a seguinte fórmula:

Passivo Circulante = 630.000,00 = 0,7590 ou 75,90%


Passivo Circulante + Passivo não circulante 830.000,00

Esse resultado aponta que 75,90% das obrigações assumidas com terceiros deverão ser qui-
tadas até o término do exercício social seguinte, ou seja, no curto prazo.

O conjunto de indicadores de liquidez, que mede a capacidade de pagamento de obrigações


assumidas com terceiros e o conjunto de indicadores de endividamento que mensuram
67 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

a estrutura de capital da empresa, trazem informações relevantes e que podem ser úteis
numa avaliação de um negócio. Eles representam um importante balizador na análise por
quocientes, mas não são os únicos. Há também outros conjuntos de indicadores igualmente
relevantes. Serão apresentados mais dois desses conjuntos de indicadores na próxima uni-
dade deste módulo.

UNIDADE 3
INDICADORES DE MARGEM E RENTABILIDADE

Indicadores de margem
Não há como negar que os lucros apurados pelas empresas representam um importante
dado de análise. Medir a margem desse lucro em relação ao total de vendas e associado ao
volume de produção pode indicar se a empresa está fazendo bom uso dos recursos que tem
à disposição e, além disso, pode dar pistas de se é ainda possível melhorá-lo. Nesse caso, há
vários indicadores para medir e analisar a lucratividade da organização.

Os indicadores que medem a lucratividade são denominados “indicadores de margem”. É


evidente que as informações necessárias para o cálculo dos indicadores de margem devem
ser extraídas da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Veja a seguir um exemplo
de DRE (resumido) cujos valores serão utilizados para a demonstração dos índices.

Receita Líquida de vendas e serviços 1.298.200,00


(-) Custo da mercadoria vendida (477.400,00)
= Resultado Bruto 820.800,00
(-) despesas operacionais (393.120,00)
Gerais e administrativas (193.120,00)
Com vendas (200.000,00)
= Resultado antes das receitas e despesas financeiras 427.680,00
+ ou (-) resultado financeiro (20.000,00)
= resultado antes dos tributos sobre o lucro 447.680,00
(-) Tributos sobre o lucro (188.450,00)
= Resultado líquido 259.230,00

O indicador de lucratividade mais abrangente é a margem bruta. Esse indicador faz uma
análise do volume de receitas líquidas em face aos custos de produção numa indústria ou
de comercialização no comércio.
68 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

A fórmula para encontrar a margem bruta é:

Resultado Bruto = 820.800,00 = 0,6322 ou 63%


Receita líquida de vendas 1.298.200.00

Para se chegar ao resultado, deduz-se da receita líquida o custo da mercadoria vendida


(CMV) nas empresas comerciais ou o custo dos produtos vendidos (CPV) nas empresas in-
dustriais. Nesse caso, esse indicador mede o quanto os custos consumiram na receita e
reduziram o lucro do negócio. O resultado desse indicador é sempre apresentado em mar-
gens percentuais.

É também possível calcular um indicador de margem considerando as despesas operacio-


nais. Nesse caso, ter-se-ia a margem operacional. Apesar de a margem operacional acres-
centar as despesas operacionais no cálculo da margem, ela ainda não considera todas as
parcelas dedutíveis do lucro. É que a empresa precisa deduzir, ainda, as despesas financei-
ras e os tributos que incidem sobre o lucro. Somente depois de deduzidas todas as despesas
é que empresa chega ao lucro líquido do período. Dessa forma, se for dividido esse lucro
líquido pela receita líquida de vendas, será encontrada a margem líquida, cuja fórmula para
cálculo é a seguinte:

Lucro Líquido = 239.230,00 = 0,1842 ou 18%


Receita líquida de vendas 1.298.200,00

Considerando as informações apresentadas, é possível notar que a empresa reteve, a título


de lucro, 18% da sua receita líquida de vendas, ou seja, do total das suas vendas após a de-
dução de eventuais devoluções de vendas e, principalmente, dos tributos que incidem sobre
a venda de produtos e serviços.

A construção da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) pauta-se no regime de com-


petência que realiza os registros contábeis com base no fato gerador, independentemente
da movimentação financeira. Soma-se a isso o fato de que alguns procedimentos contábeis,
como o cálculo da depreciação dos ativos imobilizados, por exemplo, impactam o resultado,
mas não apresentam qualquer interferência no caixa da empresa.

Além disso, Assaf Neto (2014) lembra que uma empresa pode ter uma margem operacional
positiva, mas apresenta um endividamento alto e terá que arcar com juros desses financia-
mentos e isso pode reduzir sensivelmente o lucro. O autor apresenta, ainda, uma situação
em que a empresa pode ter lucro operacional, mas investir em mercados derivativos e apu-
rar um prejuízo financeiro.

Por essa razão é que uma parcela significativa das empresas elabora o Lucro Antes dos Ju-
ros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA), ou EBTIDA (Earning Before Interest, Taxes,
Depreciation and Amortization), procurando evidenciar a capacidade operacional da empresa
na geração de caixa desconsiderando os juros (cujas taxas são definidas pelo mercado),
69 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

os impostos (que são compulsórios e com percentuais e cálculos definidos pela legislação
tributária) e a depreciação e a amortização (que não representam desembolsos de caixa).

Nesse caso, se for tomado como base a DRE apresentada anteriormente, e considerando
que a depreciação, que é uma despesa administrativa, totalizou R$ 53.120,00, tem-se o se-
guinte:

Receita Líquida de vendas e serviços 1.298.200,00


(-) Custo da mercadoria vendida (477.400,00)
= Resultado Bruto 820.800,00
(-) despesas operacionais (343.000,00)
Gerais e administrativas - depreciação (143.000,00)
Com vendas (200.000,00)
= Lucro Operacional 477.800,00

Nesse caso, a confrontação entre receitas e despesas consideraria tão somente aquelas
despesas que movimentaram o caixa e cujo montante do desembolso dependeu exclusiva-
mente de decisões gerenciais da empresa.

Indicadores de rentabilidade (Retorno)


O lucro líquido serve como referência para vários indicadores da rentabilidade (retorno),
pois o lucro mensura o desempenho alcançado pela empresa num determinado período.
Nesse sentido, é preciso averiguar se os resultados das decisões tomadas ao longo do perí-
odo geraram ou não retorno positivo. A empresa cresceu? Ela está em melhores condições
do que estava antes? Qual o retorno que um investimento nessa empresa pode gerar?

É evidente que ninguém quer investir em um negócio que sabidamente tem pouquíssima
condição de dar certo. Portanto, há também um conjunto de indicadores que procuram
medir a rentabilidade do negócio a partir de vários parâmetros: total do ativo, patrimônio
líquido, entre outros.

Tais indicadores procuram apresentar um valor médio, a fim de garantir uma melhor con-
cepção desse resultado. Como os demonstrativos contábeis apresentam informações do
exercício social corrente e do exercício social imediatamente anterior, basta somar esses
valores (do início e do final do período) e dividi-los por dois, que será encontrado esse valor
médio.

Um desses indicadores é o retorno sobre o patrimônio líquido, também conhecido como


retorno sobre o capital próprio. Esse indicador mensura, em termos percentuais, o retor-
no que o lucro apurado no período concede sobre o investimento dos acionistas no negócio.
70 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Para calcular o retorno sobre o patrimônio líquido é preciso considerar o patrimônio líquido
da empresa. A fórmula para cálculo é a seguinte:

Lucro Líquido
Patrimônio Líquido médio

Sabe-se que o lucro líquido apurado no período será transferido temporariamente para a
conta de lucros acumulados, que é classificada no patrimônio líquido e de lá será transferida
para as contas de reserva de lucro, capital social e/ou dividendos a distribuir. De fato, o lucro
aumenta o total do patrimônio líquido. Por esse indicador, verifica-se o quanto o patrimônio
líquido será impactado pelo lucro do período.

O lucro líquido pode também ser comparado ao ativo da empresa, pois é no ativo que se
encontram as aplicações de recursos da empresa. Esse indicador procura medir a renta-
bilidade do negócio face ao seu investimento total. Em outras palavras, mede o quanto a
empresa obtém de lucro líquido para cada real investido. Para calcular, basta dividir o lucro
líquido pelo ativo total médio:

Lucro líquido
Ativo Total médio

Quocientes calculados a partir do lucro líquido apurado pela empresa são de total interesse
do acionista. No entanto, para uma análise mais específica por parte do investidor, é inte-
ressante saber o lucro relacionado a cada ação. Dessa forma, para uma análise mais indi-
vidualizada, cada acionista poderá multiplicar o valor do lucro por ação pela quantidade de
ações que possui.

Para calcular o lucro por ação, basta dividir o lucro líquido do período pela quantidade de
ações em que o capital se encontra distribuído. Isso é feito pela seguinte fórmula:

Lucro líquido do período


Quantidade de ações

Conceito igualmente associado ao lucro por ação é a identificação do valor patrimonial da


ação. Nesse caso, ao invés de dividir o lucro líquido pela quantidade de ações, faz-se a divi-
são a partir do total do patrimônio líquido. Isso é feito pela seguinte fórmula:

Patrimônio líquido
Quantidade de ações

Entretanto, sabe-se que nem todo lucro apurado pela empresa em determinado período
acaba indo para a conta corrente do acionista e, sim, somente aquela parcela que é distribu-
ída por meio de dividendos. Nesse caso, outra importante informação a ser obtida por meio
de indicadores é a proporção do dividendo por ação.
71 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Nesse caso, é preciso encontrar a parcela do lucro que será destinada aos acionistas e divi-
di-la pela quantidade de ações do capital social da empresa.

VOCÊ SABIA?

As companhias brasileiras podem ter seu capital social dividido em ações de dois
tipos: ordinárias e preferenciais.

Ações ordinárias = concedem direito de voto nas assembleias.

Ações preferenciais = não concedem esse direito. Tais ações, por sua vez, têm priori-
dade no recebimento de dividendos.

Uma informação importante para qualquer acionista ou investidor é o retorno obtido de um


investimento que foi realizado. Essa é uma medida importante, inclusive, para avaliar se o
retorno está compatível com as expectativas geradas.

Nesse sentido há dois indicadores para análise do retorno esperado. Um deles é a margem
líquida, cuja fórmula é a seguinte:

MARGEM LÍQUIDA = LUCRO LÍQUIDO


RECEITA DE VENDAS

Outro indicador importante nesse sentido é o giro do ativo, cuja fórmula está apresentada
a seguir:

GIRO DO ATIVO = RECEITA DE VENDAS


ATIVO TOTAL MÉDIO

Esse indicador identifica quanto o volume de vendas correspondeu ao ativo da empresa, ou


seja, o total de vendas corresponde a quantas vezes o seu ativo?

Muitas empresas utilizam a estratégia da margem para auferir seus lucros. Outras, porém,
utilizam a estratégia do giro.
72 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

PARE PARA PENSAR

Um litro de leite é geralmente mais barato num supermercado do que numa mer-
cearia de bairro. A razão é que o supermercado pode colocar uma margem de lucro
pequena por saber que a venda ocorrerá rapidamente e em grande quantidade. Nes-
se caso, o seu retorno será pelo giro, ou seja, pela quantidade de produtos vendidos
num curto espaço de tempo.

Isso não ocorre na mercearia de bairro, que sabe que o produto provavelmente não
será vendido na mesma rapidez e proporção de um supermercado. Sendo assim,
coloca-se uma margem de lucro maior, a fim de compensar essa “demora” na venda
do litro de leite.

O Retorno sobre o Investimento, cuja sigla em inglês é ROI (Return on Investiment),


ou Taxa de Retorno sobre o Investimento (TRI), pode ser obtida a partir da combina-
ção desses dois indicadores financeiros. Multiplica-se a margem de lucro pelo giro do
ativo.

Você pode observar que a receita de vendas aparece nas duas fórmulas apresen-
tadas: uma como numerador e outra como denominador. Se elas forem retiradas,
tem-se, então, a fórmula da TRI, como pode ser observado a seguir:

MARGEM LÍQUIDA GIRO DO ATIVO ROI OU TRI

Lucro Líquido Vendas Lucro Líquido

Vendas Ativo Ativo

Considerando o exemplo a seguir, obtêm-se os seguintes resultados desses indicadores:


73 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Balanço Patrimonial (Resumido)

ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 135.000,00 Circulante 168.000,00
Não Circulante 244.000,00 Patrimônio Líquido 211.000,00
TOTAL 379.000,00 TOTAL 379.000,00

Demonstração do Resultado do Exercício (Resumido)

Receita Líquida de Vendas 299.000,00


(-) CMV (89.000,00)
+ Resultado Bruto 210.000,00
(-) Despesas operacionais (101.000,00)
(-) Tributos sobre o lucro (37.000,00)
= Resultado Líquido 72.000,00

Margem Líquida = 72.000,00 / 299.000,00 = 24%

Giro do ativo = 299.000,00 / 379.000,00 = 73,6%

ROI (TRI) = 72.000,00 / 379.000,00 = 19% (arredondado)

Da mesma forma que um acionista ou investidor se interesse pela informação do retorno


obtido sobre um investimento realizado, é também relevante saber se a companhia man-
tém condições não só de pagar suas obrigações nos prazos acordados, mas, também, capa-
cidade de gerar recursos para financiar compromissos assumidos. Nesse sentido, é impor-
tante analisar a liquidez, o endividamento e o retorno de quocientes que já foram analisados
nesse módulo.

Assim como o ROI apresenta um quociente que deriva de outros dois, a saber a Margem
Líquida e o Giro do Ativo, outro quociente que pode derivar de outros indicadores é o fator
de insolvência (FI).4

4 Modelo de análise de risco elaborado por Stephen Charles Kanitz, na década de 1970,
conhecido como “termômetro de Kanitz”.
74 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Uma empresa se torna insolvente quando não tem como dispor de recursos para saldar
as suas dívidas. Nesse caso, ela entra em processo falimentar. A falência ocorre quando se
reconhece a incapacidade da empresa de quitar os compromissos assumidos.

O cálculo do fator de insolvência é feito a partir da fórmula proposta por Kanitz, que está
descrita a seguir:

FI = X1 + X2 + X3 - X4 - X5

O fator de insolvência, segundo a fórmula, pode atingir um resultado (nota) que pode variar
de -7 (sete negativo) a +7 (sete positivo). Quanto maior for o resultado, mais equilibrada a
empresa está em relação aos aspectos de liquidez, endividamento e lucratividade. Observe
que é uma análise que considera conjuntos de indicadores já estudados nesse módulo.

Isso pode ser melhor analisado quando se verifica os elementos da fórmula de Kanitz, des-
critos a seguir:

■ X1 = Retorno do capital próprio x 0,05

■ X2 = Liquidez geral x 1,65

■ X3 = Liquidez seca x 3,55

■ X4 = Liquidez corrente x 1,06

■ X5 = Grau de endividamento x 0,33

Considerando o Balanço Patrimonial da página anterior como referência e assumindo que:

a. Os estoques representam 30% do ativo circulante.

b. O balanço do exercício social anterior apresentara valores idênticos ao do exercício


corrente.

c. O subgrupo do ativo não circulante Realizável a Longo Prazo e o Passivo não Circulante
não apresentam valores.

É possível apresentar o seguinte:

(72.000 / 211.000) x 0,05 + (135.000 / 160.000) x 1,65 + (94.500 / 168.000) x 3,55 – (135.000 /
168.000) x 1,06 – (168.000 / 211.000) x 0,33

0,0170616 + 1,3921875 + 1,996875 – 0,8517856 – 0,2627488 = 2,4451441 ou 2,45 (arredon-


dando)
75 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Nesse caso, segundo o resultado obtido, nota-se que a empresa tem bom equilíbrio em rela-
ção aos aspectos de liquidez, endividamento e lucratividade, mas ainda pode melhorar, visto
que o método pode chegar a um resultado de sete como resultado positivo.

Outro indicador importante é o grau de alavancagem5 financeira (GAF), que busca asso-
ciar dois aspectos fundamentais para o bom desempenho de qualquer negócio: a gestão do
capital de giro e a rentabilidade.

O GAF considera informações sobre ativo, passivo e patrimônio líquido, ou seja, apresenta
uma análise geral de todos os componentes da estrutura patrimonial. Sua fórmula é a se-
guinte:

GAF = RSA + (RSA – CD) x P/PL)


RSA

Explicando melhor os termos da fórmula:

O retorno sobre o ativo da empresa (RSA) está relacionado com a rentabilidade do negócio.
Mostra como o indicador de alavancagem busca descrever as condições que a empresa tem
de alavancar (aumentar) o retorno sobre o investimento. Ele se torna peça fundamental de
análise. Eis a razão pela qual é referenciado mais de uma vez na fórmula de GAF.

O retorno sobre o ativo da empresa é obtido dividindo-se o lucro líquido apurado pelo ativo
total da empresa e multiplicando-se o resultado por cem. Isso pode ser representado pela
seguinte fórmula básica:

RSA = Lucro x 100


Ativo

O custo da dívida (CD) busca apresentar o sacrifício que a empresa tem de arcar (juros, va-
riação de taxas cambiais, entre outros) a fim de garantir o investimento. Todo e qualquer in-
vestimento vai requerer em maior ou menor grau um desembolso. Esse é o custo da dívida.

O passivo (P), ou passivo exigível, é o local do balanço em que são evidenciadas as dívidas e,
consequentemente, o custo dessa dívida esta inserido nos valores ali apresentados.

5 Alavancagem é uma expressão da área de finanças que estabelece a capacidade da empresa


de utilizar determinados ativos em prol do aumento da rentabilidade (retorno) do negócio.
76 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

O patrimônio líquido (PL) por sua vez também representa uma obrigação da empresa com
os seus acionistas e tem forte sensibilidade à fórmula de alavancagem, pois o resultado (po-
sitivo ou negativo) dessa capacidade de aumento da rentabilidade do negócio que a fórmula
do GAF se propõe apresentar será reconhecida e evidenciada no patrimônio líquido.

Por fim, o ativo total aparece na fórmula pela simples razão de que é no ativo que se en-
contram os recursos que a empresa dispõe para, ao mesmo tempo, quitar suas obrigações
com terceiros e remunerar os acionistas acima das expectativas de retorno que eles estão
dispostos a aceitar.

Uma vez mais é necessário recorrer ao Balanço Patrimonial e à DRE apresentados nas pági-
nas anteriores e que foram base para o estudo ROI e do fator de insolvência. Será feita aqui
uma pequena alteração, acrescentando as despesas financeiras para auxiliar na análise da
fórmula e da apresentação do quociente.

Balanço Patrimonial (Resumido)

ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 135.000,00 Circulante 168.000,00
Não Circulante 244.000,00 Patrimônio Líquido 211.000,00
TOTAL 379.000,00 TOTAL 379.000,00

Demonstração do Resultado do Exercício (Resumido)

Receita Líquida de Vendas 299.000,00


(-) CMV (79.000,00)
+ Resultado Bruto 220.000,00
(-) Despesas operacionais (91.000,00)
(-) Despesas financeiras (20.000,00)
(-) Tributos sobre o lucro (37.000,00)
= Resultado Líquido 72.000,00

O primeiro passo seria calcular o Retorno sobre o Ativo (RSA) que seria:

RSA = 72.000 / 379.000 x 100 = 19%

Em seguida, deve-se calcular o custo da dívida. Nesse caso, considere as despesas financei-
ras associadas ao passivo gerador de encargos. Sabe-se que o passivo contempla obrigações
relacionadas ao funcionamento (fornecedores, contas a pagar, obrigações trabalhistas) e
obrigações relacionadas ao financiamento (empréstimos, financiamentos governamentais,
financiamentos bancários). No exemplo determinado, considera-se o valor total do passivo.
77 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

CD = 20.000 / 168.000 = 11,9% ou 12% (arredondamento)

O terceiro passo é relacionar o passivo ao patrimônio líquido, que são as fontes de recursos
da empresa. Se for dividido o passivo pelo patrimônio líquido, será encontrado o grau de
endividamento. Esse resultado também será utilizado na fórmula e o resultado é:

168.000,00 / 211.000 = 0,79

Sendo assim, já é possível calcular o GAF:

GAF = 0,19 + (0,19 – 0,12) x 0,79 = 1,08


0,19

Nesse caso, a interpretação seria: cada 1% de rentabilidade gerado pela empresa transfor-
mou-se em 1,08% graças à alavancagem favorável.

Além disso, pode-se observar que, para cada R$100,00 investidos, a empresa gera um lucro
de R$19,00 (RSA). Paga juros de R$12,00 para cada R$100,00 tomado (CD). Logo, em cada
R$100,00 tomados, ganha R$ 7,00.

Então, é preciso analisar se tais resultados atendem às expectativas dos acionistas e, do


ponto de vista gerencial, verificar caminhos e possibilidades de tornar o grau de alavanca-
gem financeira ainda melhor.

ANÁLISE DO FLUXO DE CAIXA


É uma parcela significativa dos indicadores financeiros e considera informações do Balanço
Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício.

Todos os indicadores financeiros analisados neste módulo têm suas fórmulas e cálculo pau-
tados em informações desses dois demonstrativos contábeis. No entanto, a Demonstração
dos Fluxos de Caixa (DFC) também apresenta informações importantes para uma análise
consistente das condições econômicas e financeiras da empresa e, por essa razão, uma boa
quantidade de indicadores financeiros pode ser extraída dos componentes desse demons-
trativo.
78 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Sabe-se que a DFC pode ser apresentada por dois métodos: direto e indireto. Além disso,
independentemente do método utilizado pela empresa, a DFC apresenta, de forma sistema-
tizada, três fluxos de caixa distintos, que são: operacional, de investimentos e de financia-
mento.

Analise o exemplo da empresa ASTF S/A:

Balanço Patrimonial
Ativo 2015 2014
Circulante
Caixa 45.000,00 10.000,00
Clientes 40.000,00 25.000,00
Estoques 30.000,00 15.000,00
Não Circulante Imobilizado
Imóveis 100.000,00 50.000,00
Máquinas 50.000,00 60.000,00
Móveis e utensílios 40.000,00 40.000,00
(-) Depreciação Acumulada (10.000,00) (5.000,00)
TOTAL DO ATIVO 295.000,00 195.000,00
Passivo 2015 2014
Circulante
Fornecedores 90.000,00 60.000,00
Financiamentos bancários 110.000,00 80.000,00
IRPJ a pagar 10.000,00 0
Dividendos a distribuir 15.000,00 0
Patrimônio Líquido
Capital 60.000,00 55.000,00
Reservas de Lucro 10.000,00 0
TOTAL DO PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO 295.000 195.000

Demonstração do Resultado do Exercício – 2014


Receita de Vendas 200.000
(-) Custo das Mercadorias Vendidas (80.000)
Lucro Bruto 120.000
(-) Despesas Operacionais
Administrativas e Gerais (50.000)
Com Vendas (30.000)
Depreciação (5.000) (85.000)
= resultado antes dos tributos sobre o lucro 35.000
(-) Tributos sobre o lucro (10.000)
= Lucro Líquido do Exercício 25.000
79 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

DFC – Exercício social 2015


Fluxo Operacional
Lucro líquido do período 25.000,00
+ Depreciação 5.000,00
= Saldo ajustado 30.000,00
(-) variação do saldo de clientes (15.000,00)
(-) variação do saldo de estoques (15.000,00)
+ variação do saldo de fornecedores 30.000,00
= total do fluxo operacional 30.000,00
Fluxo de investimentos
(-) Aquisição de imóveis (50.000,00)
+ venda de máquinas 10.000,00
= total do fluxo de investimentos (40.000,00)
Fluxo de financiamento
+ aquisição de financiamentos 30.000,00
+ Integralização de capital social 5.000,00
= total do fluxo de financiamento 35.000,00

Saldo dos fluxos 35.000,00


+ Saldo inicial de caixa (2014) 10.000,00
= Saldo final de caixa (2015) 45.000,00

A partir das informações contidas nesses fluxos, é possível extrair dados importantes sobre
aspectos financeiros do negócio. Por exemplo: sabe-se que o objetivo da DFC é apresentar
resumidamente o caminho que o dinheiro percorreu ao longo do período, ou seja, de onde
ele veio (de quais fontes se obteve o recurso) e para onde ele foi (em qual dos fluxos foi
aplicado).

Nesse sentido, o indicador financeiro cobertura de dívidas considerará o total do fluxo


operacional (FCO) em relação ao passivo exigível da empresa. Será medida, de certa forma,
a liquidez operacional do negócio. A fórmula para encontrar o resultado é:

COBERTURA DE DÍVIDAS = FLUXO OPERACIONAL ou 30.000,00 = 0,13


PASSIVO EXIGÍVEL 225.000,00

Se o mesmo resultado do fluxo operacional for comparado ao patrimônio líquido, surgirá


uma taxa de retorno do PL, visto que esse resultado tenta retratar o quanto a empresa pos-
sui de capacidade para gerar caixa em relação aos acionistas. Sendo assim, com base nas
informações da DFC, é possível obter a seguinte fórmula:
80 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

RETORNO DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = 0,43


PATRIMÔNIO LÍQUIDO 70.000,00

Como dito anteriormente, a DFC trabalha com a ideia de evidenciar a movimentação de re-
cursos (caixa) a partir de três fluxos. Indicadores associados à comparação e análise desses
fluxos pode representar um importante auxílio informativo para uma tomada de decisão.

Dessa forma, a cobertura de investimentos apresenta uma relação entre os valores do


fluxo de caixa operacional (FCO) e o fluxo de caixa de Investimentos (FCI). A fórmula é a se-
guinte:

COBERTURA DE INVESTIMENTOS = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = - 0,75


FLUXO DE INVESTIMENTOS (40.000,00)

A relação do fluxo operacional com o fluxo de caixa de financiamento (FCF) representaria o


retorno total e a fórmula é:

RETORNO TOTAL = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = 0,86


FLUXO DE FINANCIAMENTO 35.000,00

Como se pode observar, o fluxo de caixa operacional é o que mais apresenta indicadores de
análise. Na verdade, na elaboração da DFC é o fluxo operacional que determina a diferença
entre os métodos (direto e indireto) de elaboração. Os fluxos de investimentos e de financia-
mentos são exatamente iguais em ambos os métodos.

O resultado do fluxo operacional, para fins de análise, pode ser calculado a partir de vários
componentes importantes das demonstrações contábeis:

RETORNO SOBRE VENDAS (RSV) = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = 0,86


RECEITA DE VENDAS 200.000,00

O RSV mede o quanto a empresa consegue gerar de fluxo de caixa líquido com suas opera-
ções em relação a cada unidade vendida.

RETORNO SOBRE O ATIVO (RSA) = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = 0,10


TOTAL DO ATIVO 295.000,00

O RSA mede o quanto a empresa consegue gerar de fluxo de caixa proporcionalmente ao


conjunto de bens e direitos que compõem o total de seu ativo.

FLUXO SOBRE O LUCRO = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = 1,20


LUCRO LÍQUIDO 25.000,00
81 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES

Nesse último caso, o indicador busca apresentar a parcela do lucro que foi realizada financei-
ramente, ou seja, representou efetiva entrada de caixa. Ele pode indicar o posicionamento
da organização em relação ao seu próprio ciclo de vida, visto que associa o conceito de caixa
(pautado no regime de caixa) ao conceito de lucro (que se pauta no regime de competência).

Outro indicador que pode ser apurado a partir do fluxo de caixa das operações é a taxa de
queima, que geralmente é utilizada quando o resultado do fluxo operacional é negativo.
Nesse caso, busca-se medir em quanto tempo o Capital Circulante Líquido (CCL), que é o
resultado da subtração do ativo circulante em relação ao passivo circulante, será consumido
pelo fluxo negativo de caixa operacional. A fórmula é:

TAXA DE QUEIMA = FLUXO OPERACIONAL = 30.000,00 = - 0,25


CCL (120.000,00)

Como o CCL em nosso exemplo é negativo (AC < PC), a taxa de queima também apresenta
resultado negativo.

RESUMO
Neste módulo você estudou vários indicadores econômicos e financeiros utilizados pelas
empresas, por analistas e pelo mercado em geral, no intuito de obter informações mais con-
clusivas sobre as condições econômicas e financeiras de determinado negócio.

A análise financeira por meio de indicadores ou índices não se apresenta como única forma
ou metodologia para a avaliação de empresas. No entanto, pela sua variedade e amplitude
mostram-se interessantes para ajudar a balizar opiniões sobre as condições gerais do ne-
gócio.

Você percebeu que, para se realizar uma consistente avaliação da empresa, é necessário se
cercar de um conjunto de instrumentos para análise, considerando, inclusive, questões ex-
ternas à organização, como desenvolvimento econômico ou situação política, por exemplo,
e não somente dados contábeis. Portanto, torna-se evidente que a análise de indicadores
econômicos e financeiros elaborados a partir das informações contábeis prestadas pelas
empresas em seus demonstrativos contábeis representa um importante instrumento de
avaliação de qualquer negócio.

Por fim, você compreendeu que os principais temas de análise sobre qualquer projeto, in-
vestimento ou negócio, a saber, liquidez, endividamento, lucratividade, rentabilidade, entre
outros, apresentam um número significativo de índices. Estes índices, se trabalhados con-
juntamente e de forma harmônica, podem apresentar um retrato bastante consistente das
reais condições econômicas e financeiras de uma empresa.
Módulo 3

FUNDAMENTOS DA
CONTABILIDADE
GERENCIAL
INTRODUÇÃO DO MÓDULO

Nos módulos anteriores foi dada especial atenção à contabilidade financeira, cujo foco de
atenção reside nos usuários externos da contabilidade. Porém, há também os usuários inter-
nos, principalmente os gestores, que necessitam de informações contábeis que os ajudem a
tomar decisões acertadas e com menor risco sobre o destino da empresa.

E, de fato, a contabilidade pode ser extremamente útil aos gestores do negócio pela qualidade
e volume de informações que pode prestar. Além disso, a forma de composição dos custos, o
modo como serão acumulados e contabilizados e os métodos que podem ser utilizados repre-
sentam condições fundamentais para que a empresa tenha efetivo controle de seus custos de
produção e consiga obter lucros que atendam as suas expectativas.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao final desse módulo você será capaz de:

■ Identificar os fundamentos teóricos e práticos que balizam a contabilidade gerencial.

■ Conhecer os principais sistemas de acumulação de custos adotados pelas empresas.

■ Compreender os métodos de custeio de produtos, processos e/ou atividades, averi-


guando convergências e divergências entre eles.

■ Analisar como os custos podem ser apurados por meio das atividades realizadas pela
empresa.

ESTRUTURA DO MÓDULO

Para melhor compreensão das questões que envolvem o gerenciamento de recursos huma-
nos em projetos, este módulo está dividido em:

■ Unidade 1 – Fundamentos da contabilidade de custos

■ Unidade 2 – Sistemas de acumulação de custos

■ Unidade 3 – Métodos de custeio: Absorção X variável

■ Unidade 4 – Método de custeamento ABC


85 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Para iniciar esta unidade, analise a situação a seguir:

Dona Flora entra no supermercado e, ao começar a fazer suas compras, observa que
os preços dos produtos estão muito altos. Ela, inclusive, ouviu comentários de outros
consumidores próximos fazendo a mesma reclamação.

Ao passar pela última gôndola, antes de se dirigir ao caixa, Dona Flora encontrou Gus-
tavo, o gerente geral do supermercado. Ela o conhecia há cerca de vinte anos. Após os
cumprimentos iniciais, Dona Flora reclamou com Gustavo sobre o preço dos produtos.
Ela ouviu do gerente a seguinte resposta: “Realmente os preços estão altos. Ocorre
que o custo de comercialização subiu muito. Os fornecedores aumentaram os preços
e não concedem prazos mais alongados para quitarmos nossas obrigações com eles.
Além disso, os tributos que a empresa tem de recolher oneram bastante o preço de
aquisição e não há outra saída senão repassarmos esse custo para o consumidor. Já
fiz vários cálculos e até reduzimos um pouco nossas margens de lucro, porém, o custo
de comercialização aumentou consideravelmente”.

Dona Flora ainda argumentou: “Mas esses fornecedores que você fala não poderiam
reduzir um pouco os preços?”.

Gustavo respondeu com um semblante de dúvida: “Eles argumentam que o custo de


fabricação dos produtos subiu muito porque os insumos ficaram mais caros”.

“É, não sei aonde vamos parar!”, respondeu Dona Flora, com ar de desanimação e,
sorrindo, despediu-se de Gustavo.

A contabilidade de custos, que é uma parte importante da contabilidade gerencial, busca de


modo geral, responder a uma questão básica da produção: Quanto custa?

A definição de um preço de venda ao mesmo tempo competitivo em relação ao mercado e


à concorrência e compensador no que tange ao esforço interno de produção, está atrelada
ao custo realizado pela empresa para gerá-lo.

Sendo assim, conhecer os custos necessários para se fabricar ou comercializar um produto


é condição essencial para um bom gerenciamento do negócio e dele depende boa parte do
desempenho operacional que se espera alcançar.
86 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

É importante frisar que nem todo o gasto realizado pela empresa, de fato, representa um
custo de produção.

TOME NOTA

Gasto é um termo genérico que está relacionado a pagamentos efetuados pela em-
presa. São sacrifícios financeiros que a empresa faz com o objetivo de obter maior
lucratividade.

Os gastos podem ser classificados da seguinte forma:

São os gastos na aquisição de


ativos. Em sua maioria, esses ativos
VALOR CONTÁBIL serão classificados como Ativo Não
Circulante Imobilizado.

São os gastos associados à fabri-


cação de um produto. Envolve todas
CUSTOS as fases de produção, encerrando-se
quando o produto está pronto e em
reais condições de ser negociado.

GASTOS
São dispêndios associados à venda
e distribuição dos produtos. São
gastos associados à manutenção
DESPESAS das atividades estruturais da empre-
sa que não estejam associados ao
processo produtivo.

São gastos irrecuperáveis. Podem


derivar de ajustes técnicos,
PERDAS obsolescência de materiais,
refugos, entre outros fatores.

Figura 3.1: Conceitos Fundamentais


87 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

VOCÊ SABIA?

As despesas representam gastos ligados às atividades administrativas e comerciais,


geralmente constantes e extremamente necessários para a manutenção das ativida-
des operacionais da empresa. De modo geral, a empresa tem intenção de realizá-las,
ou seja, a empresa investe nessas despesas com intuito de gerar receitas.

As perdas, por sua vez, não são habituais (pelo menos não devem ser), não decor-
rem da vontade da empresa, pois representam eventos anormais quando que não se
tem mais condição de gerar receitas.

O aluguel da loja, o salário da recepcionista e os serviços de limpeza são exemplos


de despesas. Mas o defeito definitivo (sem possibilidade de conserto) de um ativo e a
capacidade ociosa anormal fruto de uma greve, por exemplo, representam perdas.

Com base nas terminologias, pode-se verificar quão importante é classificar corretamente
os gastos que efetivamente representem custos de produção, visto é que a soma desses
custos que trará o valor monetário que traduz o esforço de fabricação ou de comercialização
do produto. As perdas, ou desperdícios, oneram o custo de produção.
88 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

TOME NOTA

Desperdícios representam gastos anormais do processo de produção e, em grande


parte, podem ser evitados com um controle interno efetivo. A lâmpada que fica acesa
por mais tempo do que o necessário, a máquina que fica ligada quando não está
operando, o ritmo lento da produção por falhas de processos, a falta de planejamen-
to na manutenção dos equipamentos são algumas das situações evitáveis cuja não
observância pode não só trazer prejuízos à organização como um todo, mas, tam-
bém, onerar o custo de fabricação de um produto.

Num processo produtivo, independentemente do tipo de produto que se queira produzir


(básico, padrão, especializado, Premium, entre outros) ou do ramo de atividade que a em-
presa atue (vestuário, alimentação, mobiliário, entre outros) os custos de produção reúnem
os seguintes componentes: materiais, mão de obra e custos indiretos de fabricação.

TOME NOTA

Custo indireto de fabricação (CIF) pode ser apresentado com vários outros nomes ou
expressões. Os exemplos mais comuns, além do CIF, são: custos indiretos de produ-
ção (CIP), custos de apoio à produção (CAP) ou, ainda, encargos indiretos.

Para ratificar essa afirmação, observe os dois exemplos a seguir:


89 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

NA PRÁTICA

Situação 1

Paulo Valença e Ana Lúcia Seixas montaram uma confecção. Alugaram um espaço,
contrataram algumas costureiras e iniciaram seu trabalho. Paulo cuida da parte
financeira e administrativa. Ana, por sua vez, incumbe-se do marketing e da relação
com os fornecedores. Muito embora a contabilidade seja terceirizada, Paulo e Ana
têm considerável preocupação com os custos de fabricação das roupas e acompa-
nham por meio de planilhas específicas cada passo do processo de produção.

Situação 2

A Argum S/A é a maior produtora de cimento situada no triângulo mineiro. Fundada


na década de 1950, tem uma longa história e construiu uma marca de credibilidade.
Possui atualmente duas fábricas, seu armazém de estocagem tem capacidade de
algumas toneladas e conta com cerca de dois mil funcionários. Desde o ano passado,
a companhia passou, também, a exportar o seu produto para outros países.

O que existe em comum nessas duas situações?

Apesar da primeira situação apresentar uma empresa de pequeno porte e a segunda


uma empresa de grande porte, e os ramos de atividade das duas situações serem
completamente distintos, ambas apresentam os seguintes componentes de produ-
ção: materiais, mão de obra e custos indiretos de fabricação.

Os materiais são os insumos utilizados no processo de produção, compreendidos


como a matéria-prima e os demais materiais utilizados para a fabricação de determi-
nado produto.

Na Situação 1, os materiais são os tecidos das roupas, as linhas e os outros acessó-


rios secundários, também necessários à fabricação das roupas. Já na Situação 2 o cal,
a sílica, a alumina e o óxido de ferro, além da água, são os materiais necessários à
fabricação do cimento.
90 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

TOME NOTA

O consumo de materiais diretos de um determinado período pode ser calculado pela


seguinte fórmula:

Estoque inicial de materiais (compras realizadas em períodos anteriores)

+ compra de materiais no período

(-) devoluções de compra (caso ocorram)

(-) estoque final de materiais

Sendo assim, se uma empresa possuir no início de um determinado mês R$ 1.000,00 de ma-
teriais adquiridos no mês anterior e adquirir mais R$ 2.000,00, será possível saber o quanto
desses materiais foi aplicado à produção nesse mês, calculando os materiais estocados no
final do período. Por exemplo, se sobrar em estoque R$ 500,00, sem que tenha havido qual-
quer devolução de materiais, sabe-se que o montante de materiais utilizados na produção
nesse período foi de R$ 2.500,00.

É importante ressaltar que o valor dos materiais adquiridos será classificado no ativo circu-
lante no Balanço Patrimonial da empresa. Ele permanecerá com essa classificação até que
seja introduzido no processo produtivo do período e, nesse caso, se transformará em custo.
Portanto, para apurar o custo da produção do período, é necessário adicionar aos materiais
utilizados a mão de obra aplicada e os custos indiretos incorridos no processo.

Nas duas situações também há trabalhadores. Na Situação 1 todos os funcionários são cos-
tureiras e realizam a mesma atividade. Já na Situação 2, em razão do tamanho, da complexi-
dade e do número de funcionários da empresa, várias atividades e funções diferentes estão
presentes.

A mão de obra representa o gasto com pessoal aplicado na realização de atividades ineren-
tes à produção de um determinado produto.
91 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

PARE PARA PENSAR

Imagine que uma empresa da área de construção civil tenha na sua folha de paga-
mento mensal os seguintes trabalhadores e seus respectivos valores:

Diretor geral 30.000,00


Diretor administrativo e financeiro 20.000,00
Diretor de produção 20.000,00
Secretários administrativos 30.000,00
Analistas contábeis e financeiros 25.000,00
Pedreiros e carpinteiros 15.000,00
Canalizadores 10.000,00
Eletricistas 12.000,00
Pintores 10.000,00
Supervisores e técnicos de produção 25.000,00
Técnicos e auxiliares administrativos 22.000,00
Vendedores e auxiliares de vendas 20.000,00

Quais desses salários se encaixam como mão de obra na produção?

Em ambas as situações existem custos indiretos. Na Situação 1 tem-se o aluguel. Ele não
representa um material nem tampouco uma mão de obra. Na Situação 2 as duas fábricas e
o armazém geram custos que também não são classificáveis, como mão de obra ou mate-
riais. No entanto, precisam ser contabilizados e calculados e devem fazer parte do custo de
fabricação dos produtos.

Os custos indiretos de fabricação são gastos adicionais necessários à consecução das ati-
vidades de produção.

De modo geral, é possível saber quanto custou cada unidade da roupa produzida na Situa-
ção 1 e o quanto cada saco de cimento consumiu de material, na Situação 2. De igual modo,
é possível calcular o custo de mão de obra de fabricação de cada um desses produtos. No
entanto, é impossível fazer uma associação das roupas fabricadas na Situação 1 com o alu-
guel do espaço de fabricação. Tampouco é possível relacionar o custo de produção de cada
92 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

saco de cimento em relação à manutenção das fábricas e do armazém da Situação 2. Nesse


caso, é necessário fazer um rateio desse valor, ou seja, é preciso atribuir uma forma de dis-
tribuição de seu valor para cada unidade produzida. Afinal, não há como alocar esse custos
se não for por meio de estimativas e critérios arbitrários (rateio).

Nesse caso, os materiais e a mão de obra são denominados “custos diretos” porque é pos-
sível aplicar diretamente valores relativos a esses componentes a cada unidade produzida.
Nesse sentido, os custos diretos podem ser aferidos por meio da fórmula: Quantidade x
Custo Unitário.

Por exemplo: imagine que uma empresa fabrique tortas doces finas por encomenda. Para a
fabricação das tortas são gastos quatro ovos, 500gr de farinha de trigo e 250gr de achocola-
tados. Cada torta demora cerca de 1h para ser produzida.

Nas últimas compras, a empresa adquiriu:

Ingredientes Informações Valor unitário Quantidade Valor total


adquirida
Ovos 1 dúzia de ovos R$ 6,00 10 dúzias R$ 60,00
Farinha de trigo Pacote de 1kg R$ 4,00 10 quilos R$ 40,00
Achocolatados Pote de 500gr R$ 6,00 10 potes R$ 30,00

É possível saber o custo unitário de material gasto na fabricação de cada torta, pois cada
uma delas consome:

4 ovos – se a dúzia custa R$ 6,00, cada ovo custo R$ 0,50, então o custo unitário é R$
2,00.

500 gr de farinha de trigo – se o quilo custa R$ 4,00, então o custo unitário é R$ 2,00.

250 gr de achocolatado – se o pote de 500gr custa R$6,00, então o custo unitário é R$


3,00.

Sendo assim, o custo direto das tortas é R$ 7,00. Se a empresa fabricar 50 tortas, o custo dos
materiais será R$ 7,00 x 50 unidades = R$ 350,00.

Da mesma forma, na suposição de que o funcionário que fabrica os doces recebe R$ 9,00
por hora de trabalho, e sabendo de que a confecção das tortas demanda uma hora de tra-
balho, também é possível calcular a mão de obra, que é:

50 horas de trabalho x R$ 9,00 = R$ 450,00


93 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Tal cálculo não pode ser feito da mesma forma para todos os custos. Então como fazê-lo em
relação ao aluguel do local? E ao valor da depreciação das máquinas utilizadas na fabricação
das tortas? Por essa razão é que tais custos são classificados como indiretos.

VOCÊ SABIA?

Certos custos diretos, geralmente de pequeno valor, apesar dessa característica,


podem ser tratados como custos indiretos. Isso porque o trabalho de alocação e de
mensuração direta pode ser muito custoso e o benefício gerado por essa informação
é de pouca relevância para a composição final do produto.

Outros, por exemplo, podem ser classificados como diretos ou indiretos, dependen-
do da forma como são apurados, implicando nessa mesma relação de custo x be-
nefício. A depreciação é um bom exemplo dessa situação. Se a depreciação de uma
máquina ocorrer com base na metodologia de unidades produzidas, então é possível
fazer uma associação direta desse custo. Se por outro lado, utilizar-se o método line-
ar como a parcela de depreciação anual é predefinida, temos um custo indireto.

Sendo assim, em relação ao objeto de custo7, todos os custos podem ser classificados em
diretos e indiretos. Há custos em que é possível verificar ou estabelecer uma ligação com
o produto (custos diretos). Existem outros, por sua vez, em que isso não é possível (custos
indiretos).

Agora analise a situação a seguir:

Uma empresa fabricante de roupas masculinas apresentou o seguinte relatório de produ-


ção nos meses 1 e 2:

7 O objeto de custo representa o objeto que será mensurado. Por exemplo, os móveis que serão fabricados,
as roupas que serão produzidas ou o automóvel que será montado.
94 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Relatório de Produção: Mês 1 – Quantidade de roupas fabricadas no período:


200 unidades

Tipos Custos Valor dos Custos

Matéria-prima (tecidos, linhas e demais acessórios) 42.000,00

Mão de obra direta (costureiros e ajudantes de costura) 34.000,00

Aluguel 12.000,00

Depreciação das máquinas e equipamentos de produção (méto-


2.000,00
do linear)

Relatório de Produção: Mês 2 – Quantidade de roupas fabricadas no período:


400 unidades

Tipos Custos Valor dos Custos

Matéria-prima (tecidos, linhas e demais acessórios) 84.000,00

Mão de obra direta (costureiros e ajudantes de costura) 68.000,00

Aluguel 12.000,00

Depreciação das máquinas e equipamentos de produção (méto-


2.000,00
do linear)

Como se pode observar no exemplo apresentado, o volume de produção do mês 2 dobrou


em relação ao volume de produção do mês 1. Apesar disso, nem todos os custos aumenta-
ram. A matéria-prima e a mão de obra direta (aqui calculada por hora ou volume de produ-
ção) aumentaram proporcionalmente ao volume produzido. No entanto, o aluguel e a de-
preciação (calculada pelo método linear que estabelece um valor fixo) se mantiveram iguais.
95 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Por essa razão é que é importante não só conhecer os custos que a empresa incorreu, mas,
também, o comportamento que eles apresentam. As principais classificações de custos es-
tão apresentadas a seguir:

■ Custos variáveis: são aqueles cujo valor se altera de acordo com o volume produzi-
do. Nesse caso, as matérias-primas necessárias à fabricação de determinado produto
representam custos variáveis. Se a produção aumentar, seu valor consequentemente
sofrerá aumento. Se por outro lado a produção diminuir, o seu valor também reduz.

Exemplo: numa loja de móveis, a madeira (matéria-prima) é um custo variável. Mais móveis
necessitam de mais madeira. Portanto, se a encomenda de móveis diminui, a empresa com-
prará menos madeira.

■ Custos fixos: são aqueles que não estão atrelados a essa variação no volume de pro-
dução. Nesse sentido, o aluguel representa um custo fixo. Quer se produza muito ou
pouco, o seu valor já está definido.
96 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Exemplo: o aluguel é um custo fixo. Quer se produza muito ou pouco, o valor não se altera.

É importante ressaltar que custo fixo necessariamente não significa dizer que o custo tenha
que ter sempre o mesmo valor. Uma conta de telefone, por exemplo, pode ter um valor final
de pagamento diferente a cada mês. No entanto, trata-se de um custo fixo, visto que essa
alteração de valor não guarda relação com o volume de produção.

Existem também alguns custos que podem ser fixos ou variáveis, dependendo da forma
como são alocados. A mão de obra, por exemplo, pode ser um custo variável, quando o
pagamento é feito em função da quantidade de produtos manuseados pelo trabalhador.
Nesse caso, se esse trabalhador utilizar mais produtos, seu salário será maior. Caso con-
trário, haverá uma redução desse valor. Porém, se a empresa determina um salário mensal
para este trabalhador, a quantidade de produtos utilizados não causa alteração em seus
vencimentos, logo, a mão de obra direta é fixa.

Há também situações em que determinado custo apresenta uma parcela fixa e outra variá-
vel. O melhor exemplo para esse caso é a energia elétrica. Mesmo que a empresa não tra-
balhe um dia sequer na produção, ela irá fazer o pagamento de um valor mínimo de energia
elétrica. Esse valor é fixo, pois independe da capacidade de produção. No entanto, há uma
parcela variável, visto que se gastará mais ou menos energia em função do volume produ-
zido. Custos com essas características podem ser tratados como custos semivariáveis ou,
ainda, como semifixos.

Além dessas classificações de custos em relação ao objeto de custeio e ao volume de produ-


ção, há também outras classificações consideradas importantes, como, por exemplo, custo
primário.
97 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

TOME NOTA

Custo primário respeito à soma de valores alocados à matéria-prima utilizada na pro-


dução e à mão de obra aplicada no processo produtivo. O custo primário, na verda-
de, reúne dois dos três componentes da produção, deixando de fora tão somente os
custos indiretos de fabricação.

Já os custos de transformação reúnem todos os gastos associados à produção, exceto os


materiais. Representa, na verdade, a soma da mão de obra direta com os custos indiretos
de fabricação.

Há também nomenclaturas de custos associadas ao processo produtivo com base no regime


de competência que é a base de registro da contabilidade. Nesse caso, o custo da produção
do período reúne todo o gasto de produção (materiais, mão de obra e custos indiretos de
fabricação) associado ao processo produtivo em determinado mês.

Ocorre que, ao final do mês, é possível que a empresa tenha produtos que ainda não es-
tejam totalmente prontos. Nesse caso, quando se fala em custo da produção acabada,
faz-se referência à soma dos custos daqueles produtos que foram integralmente fabricados
e estão prontos para a venda naquele período.

O custo dos produtos vendidos, por sua vez, representa a quantidade de produtos prontos
que foram negociados nesse mesmo período.

Para compreender melhor esses termos, observe a situação a seguir:

A companhia SABBE S/A trabalha com um único tipo de produto que é vendido pelo preço
de R$ 17,00. Em determinado período, produziu 15.000 produtos e vendeu 14.000 unidades.
Os custos de produção foram:

Matéria prima R$ 3,00


Mão de obra direita R$ 2,00
Energia elétrica consumida na produção R$ 0,50
Depreciação de equipamentos R$ 12.000,00
Supervisão geral da fábrica R$ 17.000,00
Aluguel da fábrica R$ 10.000,00
98 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Nesse caso, tem-se os seguintes resultados:

Custo primário = 45.000,00 (3,00 de MP x 15.000 unidades)


30.000,00 (2,00 de MOD x 15.000 unidades)
75.000,00

Custo de transformação = 30.000,00 (2,00 de MOD x 15.000 unidades)


39.000,00 (depreciação + supervisão + aluguel)
69.000,00

Custo da produção do período = 45.000,00 (3,00 de MP x 15.000 unidades)


30.000,00 (2,00 de MOD x 15.000 unidades)
39.000,00 (depreciação + supervisão + aluguel)
114.000,00

Considerando que todos os produtos que foram produzidos tenham sido integralmente
completados, então o custo da produção acabada é igual ao custo da produção do período.

Custo dos produtos vendidos = 42.000,00 (3,00 de MP x 15.000 unidades)


28.000,00 (2,00 de MOD x 15.000 unidades)
36.400,00* (depreciação + supervisão + aluguel)
106.400,00
*Para calcular esse valor, utiliza-se o total do CIF (39.000,00) divide-se por 15.000 unidades produzi-
das, chegando a um custo fixo unitário de R$ 2,60, e multiplica-se por 14.000 unidades vendidas.

Tão importante quanto conhecer as nomenclaturas associadas aos custos e o comporta-


mento dos custos durante o processo produtivo, é fundamental conhecer as formas de acu-
mulação desses custos. É isso que você estudará a seguir.
99 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

UNIDADE 2
SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS

Na Unidade 1 deste módulo, você estudou as características, classificações e comportamen-


tos dos custos de produção. Viu, ainda, qual a composição desses custos, ou seja, quais os
elementos que compõem o custo de fabricação de um produto. Portanto, agora, você estu-
dará como os custos são alocados, que nada mais são do que os sistemas de acumulação de
custos. Estes representam a forma como os custos são apropriados aos produtos, a forma
como eles são atribuídos.

De modo geral, a literatura apresenta dois sistemas de acumulação de custos:

■ Acumulação de custos por ordem de produção.

■ Acumulação de custos por processo contínuo.

O sistema de custeio de acumulação de custos por ordem de produção geralmente é uti-


lizado por empresas cuja atividade não se apresenta de forma repetitiva. Cada serviço, ou
ordem de produção, atende a peculiaridades que podem ser exigências do cliente ou espe-
cificidades do serviço.
100 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

NA PRÁTICA

Uma oficina mecânica realiza atividades propensas a um sistema de acumulação de


custos por ordem de produção. Cada serviço mecânico é diferente, cada peça tem
um custo diferenciado e algumas delas podem exigir um tempo consideravelmente
maior que outras no que se refere à troca e reposição. Não há como saber qual pro-
blema o próximo automóvel que chegará a oficina vai apresentar.

A mesma situação ocorre num hospital ou numa representante oficial de aparelhos


eletroeletrônicos. A incapacidade de prever o tipo de trabalho que a nova demanda
exigirá e a variedade de possibilidades de tipos de serviços diferentes direciona para
um sistema de acumulação de custos por ordem de produção. Isso porque, num
sistema de acumulação de custos por ordem de produção, os custos são alocados a
uma conta específica associada a uma ordem numerada que reúne todos os custos
inerentes àquela produção ou àquele serviço específico.

Por outro lado, o sistema de acumulação de custos por processo contínuo apresen-
ta uma repetição que permite não só compreender todo o processo, mas, também,
mensurar o tempo gasto em cada estágio.

Uma fábrica de chocolates, uma indústria de biscoitos ou, até mesmo, uma empresa
de refrigerantes apresentam uma atividade propensa à acumulação de custos por
processo. Vale dizer que, num processo contínuo, a preocupação básica é apurar o
custo unitário de cada produto ou serviço.

Pelo fato de todos os produtos seguirem um mesmo processo, é possível – e bas-


tante provável – que, ao final de um mês, alguns produtos não estejam totalmente
prontos. Nesse caso, será necessário calcular a produção equivalente.
101 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

NA PRÁTICA

Imagine uma empresa tenha iniciado a produção de 20.000 unidades de um determi-


nado produto, ficando 4.000 em processo de fabricação com um grau de acabamen-
to de 50%.

Para calcular a produção equivalente, é necessário, inicialmente, separar os produtos


acabados daqueles que estão em processo de produção. Em seguida, deve-se mul-
tiplicar esses produtos ainda inacabados pelo seu grau de acabamento. Isso seria
representado da seguinte forma:

Unidades produzidas e terminadas = = 16.000 unidades


Unidades em processo de produção = 4.000 x 50% = 2.000 unidades
18.000 unidades

A produção de 16.000 unidades completas, somadas a 4.000 unidades com produção


de 50%, é equivalente a 18.000 unidades completas. Isso quer dizer que, se em vez da
empresa iniciar a elaboração de produtos e deixá-los feitos pela metade, caso fizesse
2.000 unidades a menos, mas as terminasse, acumularia o mesmo valor de custo.

Ocorre que os componentes do custo da produção podem ter graus de acabamento


diferenciados e isso dificulta um pouco mais o cálculo da produção equivalente.

Por exemplo, imagine que uma companhia apresente as seguintes informações de


custos de produção:

Materiais (matéria-prima) = R$ 6.000,00

Mão de obra = R$ 4.000,00

CIF = R$ 10.000,00
102 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Essa empresa iniciou a produção de 2.000 unidades das quais 1.200 foram concluídas.
Para aquelas que não foram concluídas foi apurado o seguinte grau de acabamento:

■ Os materiais, por serem aplicados no início do processo, têm um grau de acaba-


mento de 100% nas unidades que não foram concluídas.

■ A mão de obra apresenta um grau de acabamento de 50%.

■ Os custos indiretos de fabricação apresentam um grau de acabamento de 50%.

Nesse caso será necessário apurar o grau de acabamento por componente de produ-
ção:

Unidades em
Resultado da
Componente Unidades processamento +
produção
de produção completadas grau de
equivalente
acabamento

Materiais 1.200 800 x 100% = 800 2.000 unidades

Mão de obra 1.200 800 x 50% = 400 1.600 unidades

CIF 1.200 800 x 50% = 400 1.600 unidades

É possível, portanto, calcular o custo unitário por componente e, com isso, encontrar o
custo unitário de produção do período:

Componente Custo / unidades Custo unitário do


de produção produzidas item

Materiais 6.000,00 / 2.000 unidades 3,00

Mão de obra 4.000,00 / 1.600 unidades 2,50

CIF 10.000,00 / 1.600 unidades 6,25

Total 11,75
103 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

A partir desse valor unitário é possível calcular o custo da produção acabada e o custo
dos produtos em processamento.

Custo da produção acabada = 1.200 unidades x R$ 11,75 = R$ 14.100,00

Custo dos produtos em processamento:

Materiais = 800 unidades x 3,00 = 2.400,00


Mão de obra = 400 unidades x 2,50 = 1.000,00
CIF = 400 unidades x 6,25 = 2.500,00
Total 5.900,00

Muito embora a literatura apresente esses dois sistemas de acumulação de custos e


indique os tipos de atividade propensos e apropriados a cada sistema, geralmente as
empresas trabalham com um mix desses dois processos.

Uma loja de roupas pode, ao mesmo tempo, trabalhar por processo contínuo a pro-
dução de algumas peças e, também, vendê-las sob encomenda específica do cliente. A
mesma situação pode ocorrer com uma revendedora e veículos ou com empresas do
setor petrolífero.

Seja como for, independentemente do sistema de acumulação de custos que intente


implantar, o processo de alocação dos custos deve seguir a rigorosos parâmetros de
qualidade e deve ser acompanhado com atenção, sob pena de se distorcer o verdadei-
ro custo de produção em um determinado período.

UNIDADE 3
MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO

Entender o comportamento dos custos ajuda nas decisões gerenciais. Por essa razão é que
existe toda uma gama de estudos a respeito de métodos de custeio, além das formas de
contabilização desses custos.

Uma empresa pode ter uma produção significativa, pode vender milhares de produtos, mas
ela precisa saber quanto custa produzir cada produto. O custo unitário é uma informação
contábil importante para o gerenciamento do negócio.

Método de custeio significa, portanto, a forma como se estrutura a composição dos custos.
104 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

De acordo com Rocha e Martins (2010, p. 58):

Os métodos de custeio diferenciam-se uns dos outros em função


da natureza e do comportamento dos custos que atribuem, ou
não, aos produtos e, em decorrência, dos elementos que, não sen-
do atribuídos aos produtos, devem ser debitados diretamente ao
resultado do período como despesas.

Nesse sentido, verifica-se uma primeira distinção entre os métodos de custeio, que é o cus-
teio por absorção e o custeio variável:

■ Custeio por absorção: atribui tanto custos fixos quanto variáveis aos produtos.

■ Custeio variável: atribui somente custos variáveis aos produtos. Os custos fixos são
debitados a resultado.

O custeio por absorção é o mais antigo método de custeamento. Sua utilização ocorre em
longa escala não só por conta de sua longevidade, mas também – e principalmente – porque
atende às exigências legais dos países e está de acordo com as normas internacionais de
contabilidade. No custeio por absorção cada unidade fabricada recebe custos de materiais,
de mão de obra e de custos indiretos de fabricação.

O custeio variável por sua vez não tem essa prerrogativa de atendimento aos aspectos legais
e se mostra muito mais efetivo para uma análise gerencial, visto que permite identificar os
custos e despesas variáveis de cada produto.

VOCÊ SABIA?

A maior parte dos pesquisadores contábeis e autores de livros de contabilidade


atribuem a origem do método de custeio variável a um pesquisador norte-americano
chamado jonathan N. Harris. Este autor publicou um artigo cujo título era: “What did
we earn last month?”, em que discutia as bases de uma forma de custeio consideran-
do apenas os custos e despesas variáveis. A publicação do artigo ocorreu em 1936.
105 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

O método de custeio por absorção apresenta algumas variações que o identificam como
pleno8 ou parcial.

MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO INTEGRAL

Nesse método de custeamento são atribuídos aos produtos não só os custos de produção
(fixos e variáveis), mas, também, as despesas gerais e administrativas e aquelas relaciona-
das à atividade de vendas.

A premissa subjacente ao conceito de integralidade dos gastos no cálculo do custo de pro-


dução é que as despesas também devem ser incluídas no cálculo do custo do produto em
função de que tais gastos são feitos ou para apoiar as atividades produtivas (serviços admi-
nistrativos) ou para completar o esforço de produção com a geração de receitas (despesas
de vendas).

MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO PARCIAL

Esse método de custeamento atribui todos os custos de produção (fixos e variáveis), mas
não considera as despesas gerais e administrativas, nem tampouco as despesas de vendas.
A ideia básica de não alocação dessas despesas aos produtos é que estas são ainda mais
indiretas que os custos indiretos de fabricação. Dessa forma, como já é crítica a situação de
determinados critérios de rateio extremamente arbitrários dos custos indiretos de fabrica-
ção, muito pior seria a aplicação disso em relação às despesas.

Existe uma variação do custeio por absorção parcial que geralmente é denominado “custeio
por absorção parcial modificado”. Nele, todos os custos variáveis são considerados, mas
nem todos os custos fixos o são. Para tanto, há uma classificação dos custos fixos em estru-
turais e operacionais:

■ Custos fixos operacionais: custos necessários para a manutenção da unidade de ne-


gócio, como, por exemplo: salários e encargos sociais da mão de obra indireta, depre-
ciação de máquinas e equipamentos e treinamento/capacitação de trabalhadores.

■ Custos fixos estruturais: custos que dão suporte e sustentação às instalações, como,
por exemplo: aluguel, IPTU, depreciação do imóvel e manutenção predial.

Como se pode observar, tanto o método de custeio parcial quanto o método de custeio
parcial modificado não consideram as despesas, mas apenas os custos fixos e variáveis.
Além disso, no método de custeio parcial modificado só são considerados, além dos custos
variáveis, os custos fixos operacionais. Os custos fixos estruturais não são contabilizados no
cálculo.

8 Também conhecido por absorção integral, é o método que considera, também, o custo dos
encargos financeiros, denominado RKW.
106 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

A fim de contextualizar o assunto, apresenta-se a seguir um exemplo que procura explicitar


as diferenças entre a metodologia do custeio por absorção em relação ao custeio variável.

NA PRÁTICA

Uma companhia apurou os custos de produção de seu único produto conforme se


mostra a seguir:

Material direto R$ 2,00 por unidade


Mão de obra direta R$ 1,50 por unidade
Aluguel do armazém e da loja R$ 2.500,00
Supervisão geral e mão de obra indireta R$ 17.000,00
Administração geral da empresa R$ 10.000,00
Comissão sobre vendas R$ 0,20 por unidade

A empresa produziu integralmente 15.000 unidades, vendendo 14.000 unidades. O


preço de venda foi R$ 10,00.
107 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

O primeiro passo é calcular o custo unitário de produção:

Custos
Materiais (2,00 x 15.000) = 30.000,00
Mão de obra direta (1,50 x 15.000) 22.500,00
Custos indiretos (aluguel e supervisão) = 19.500,00
Total 72.000,00

Despesas
Despesas administrativas 10.000,00
Despesas com vendas (0,20 x 14.000) 2.800,00
Total 12.800,00

O custo unitário de produção seria: custo total dividido por 15.000 unidades fabrica-
das, a saber:

72.000,00 / 15.000 unid. = R$ 4,80

Diferença entre o custeio por absorção e o custeio variável:

CUSTEIO POR ABSORÇÃO CUSTEIO VARIÁVEL


Receita de vendas 140.000,00 Receita de vendas 140.000,00
14.000 x 10,00 14.000 x 10,00
(-) CMV (4,80 x 14.000) (67.200,00) Custos variáveis dos produ- (49.000,00)
tos vendidos (materiais +
mão de obra)
= Resultado Bruto 72.800,00 Despesas variáveis (2.800,00)
Despesas operacionais = Margem de contribuição 88.200,00
Administrativas (10.000,00) Custos fixos (19.500,00)
Com vendas (2.800,00) Despesas fixas (10.000,00)
= Lucro Operacional 60.000,00 = lucro operacional 58.700,00

É importante observar que pelo fato de nem toda produção ser vendida, no custeio
por absorção, parte dos custos diretos estão adicionados aos produtos que ainda não
foram vendidos e que estão classificados no ativo circulante do balanço patrimonial.
108 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

A perspectiva do custeio variável é que os custos e despesas fixas já existem indepen-


dentemente da produção. Nesse caso, o que realmente importa é avaliar os custos
e despesas variáveis relacionados ao produto a fim de verificar o quanto a venda do
produto contribuiu (razão do nome margem de contribuição) para gerar lucro para a
empresa.

É possível fazer um questionamento neste momento: Qual método é melhor?

Para responder à pergunta, é necessário saber primeiramente o que se deseja desco-


brir. O método de custeio por absorção atende aos princípios fundamentais de conta-
bilidade e, também, a exigências fiscais. O custeio variável, por sua vez, apresenta in-
formação gerencial relevante em relação ao desempenho empresarial e as condições
e necessidades de aumento do lucro. Sendo assim, ambos apresentam condições de
oferecer importante suporte à tomada de decisões gerenciais.

UNIDADE 4
MÉTODO DE CUSTEIO COM BASE EM ATIVIDADES

O custeio com base em atividades, ou como é conhecido, ABC (Activity Based Costing), é o
mais recente método de custeamento abordado neste material. Sua concepção foi desen-
volvida nos Estados Unidos da América, durante a década de 1980, com a proposta de re-
duzir as distorções provocadas pelo rateio dos custos indiretos de fabricação que por vezes
se mostravam altamente arbitrários. Por essa razão, o ABC assemelha-se ao custeio por
absorção, no entanto, não recorre a rateios.
109 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

VOCÊ SABIA?

Quando o custeio por absorção foi criado, dentre os elementos para a composição
do custo, o custo indireto era o que apresentava os menores valores. Naquela época,
os maiores custos residiam nos materiais e na mão de obra.

Entretanto, com o passar do tempo e o avanço da sociedade, a situação se inverteu


e os custos indiretos cresceram vertiginosamente suplantando em muitos casos os
demais custos. Foi por conta desse cenário que se buscou novas formas de custea-
mento, surgindo, assim, o abc.

O custeio ABC parte da premissa de que os produtos consomem atividades e estas, por sua
vez, é que são as consumidoras de custos. Dessa forma, é preciso medir as atividades e não
os produtos propriamente.

Nesse caso são custeadas, primeiramente, as atividades para, depois, verificar qual a pro-
porção de consumo de cada produto ou linha de produção em relação a essa atividade. Para
realizar essa medição, são utilizados direcionadores de custos.

O sistema de custeamento ABC foi elaborado basicamente para fins gerenciais e disponibi-
liza informações econômicas para a tomada de decisão tanto no nível operacional quanto
estratégico.

É importante frisar que o custeio ABC também considera os elementos de custos materiais,
mão de obra e custos indiretos de fabricação. Estes últimos, no entanto, ou são atribuídos
diretamente ou por meio de direcionadores de custos.

Nesse momento faz-se necessário apresentar duas definições de expressões que são funda-
mentais para a compreensão do funcionamento do custeio ABC e de sua lógica de atribuição
de custos. Estas expressões são: atividades e direcionadores de custos.
110 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

DIRECIONADOR
ATIVIDADES DE CUSTOS

Conjunto de tarefas a serem realiza-


É o evento que ocasiona a realização
das em função de determinado pro-
de uma atividade. Por essa razão,
cesso produtivo. Representa a com-
influencia a quantidade de um
binação de recursos (materiais, tec-
trabalho e, portanto, impacta o custo
nológicos, de pessoal) para a con-
total de uma atividade específica.
cretização de uma ação.

Figura 3.2: Relação entre atividades e direcionadores de custos

O método de custeamento ABC mede o custo das atividades e o desempenho dos processos
internos e dos produtos porque, de acordo com Crepaldi (2014), segue os seguintes estágios:

■ Atribui custos às atividades com base no consumo de recursos aplicados.

■ Atribui custos aos produtos e/ou serviços realizados com base no consumo de ativida-
des que cada produto ou serviço consumiu dessa atividade.

■ Reconhece os fatores que determinam os custos de cada atividade e, consequente-


mente, o consumo destas atividades pelos produtos ou, ainda, por outras atividades.

Uma empresa realiza diversas atividades: compra mercadorias, estoca produtos, elabora a
folha de pagamento, realiza a movimentação (interna e externa) de produtos, entre outras.
Para cada uma dessas atividades existe um evento inicial e este seria o seu direcionador de
custos. O quadro a seguir apresenta um exemplo dessa situação:

Atividades Direcionador de custos

Compra de mercadorias Quantidade de pedidos de compra

Venda de produtos Número de notas fiscais de venda

Registro de operações contábeis Número de lançamentos contábeis efetuados

Número de requisições para movimentação do


Movimentação interna de produtos
produto
111 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Algumas atividades, no entanto, não são significativas do ponto de vista da análise de cus-
tos. Por exemplo:

■ Apresentam valores muito baixos e, portanto, pouquíssimo significado em relação ao


conjunto de atividades.

■ São pouco realizadas e nem sempre são necessárias.

■ Podem não gerar valor, retratando apenas aspectos administrativos que não acarre-
tam valores monetários.

Nesse sentido, é papel da organização identificar as principais atividades da companhia e,


além disso, alocar atividades que agregam outras menores, a fim de que a alocação de cus-
tos seja consistente e coerente com as atividades principais da organização.

A fim de demonstrar algumas diferenças entre o método de custeio por absorção (tradicio-
nal) e o método ABC no que diz respeito aos resultados alcançados, veja um exemplo com o
propósito de evidenciar tais divergências.
112 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

NA PRÁTICA

A companhia Nas Nuvens Ltda. trabalha com uma diversa linha de materiais e peças
de computadores e periféricos. Os produtos da empresa são adquiridos de forma
on-line. A empresa não possui uma loja física. No entanto, possui representações em
três estados para atender a demanda de forma regionalizada. Nesse sentido, a pri-
meira representação fica em São Paulo, que fica responsável pela região sul e sudes-
te. Goiânia é a segunda representação e se ocupa de atender a região centro-oeste.
A terceira representação está situada em Fortaleza e responde pelas regiões norte e
nordeste.

Como o serviço de venda e atendimento é todo on-line, não há muitos funcionários na


companhia nas nuvens. Existem seis funcionários em São Paulo, quatro funcionários
em Goiânia e apenas dois funcionários em Fortaleza. Cada funcionário recebe um sa-
lário de R$5.000,00 por mês. Há, ainda, a gerente geral que cuida das três representa-
ções e recebe um salário de R$ 6.000,00.

Apesar da unidade de Fortaleza ter menor número de pessoal, o espaço físico da re-
presentação é maior que 90m2, enquanto que em Goiânia e São Paulo os espaços
têm apenas 45m2. Isso ocorre porque a representação de Fortaleza abrange distâncias
maiores, visto que as regiões norte e nordeste são extensas e, muitas vezes, há a ne-
cessidade de estocagem de alguns materiais para venda ou de uso interno.

Além disso, a empresa tem outros custos indiretos, como energia, segurança, limpe-
za, manutenção, entre outros, que totalizam R$ 84.000,00 mensais, somando as três
representações.

A empresa construiu o seu próprio sistema, que é atualizado semanalmente, e os da-


dos históricos indicam que São Paulo apresenta o maior volume de solicitações men-
sais de compra: 1.000. Em segundo lugar vem Fortaleza com 500 lançamentos mensais
e, por fim, Goiânia com cerca de 200 solicitações mensais.

Como seria possível apurar os custos nessa situação?


113 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Tomando como base o custeio por absorção, como é possível calcular os custos indiretos de
fabricação?

Nesse caso, será necessário estabelecer um critério de rateio. Dentro do exemplo apresen-
tado, uma possibilidade seria realizar o rateio com base na mão de obra direta, obtendo os
seguintes dados:

São Paulo - 6 funcionários (representando 50% do total)


Goiânia - 4 funcionários (representando 33% do total)
Fortaleza - 2 funcionários (representando 17% do total)
Total 12 funcionários

Sendo assim, o custo de cada representação é o seguinte:

Representação Custos diretos Custos indiretos Custo total

São Paulo 30.000,00 45.000,00 75.000,00

Goiânia 20.000,00 29.700,00 49.700,00

Fortaleza 10.000,00 15.300,00 25.300,00

Por esse critério de rateio dos custos indiretos, a representação em São Paulo teria os maio-
res custos e num percentual quase três vezes superior à representação de Fortaleza.

Poderia ser, porém, que o critério de rateio fosse o espaço físico utilizado e não o número
de funcionários. Nesse caso, os dados seriam os seguintes:

São Paulo - 45m2 (representando 25% do total)


Goiânia - 45m2 (representando 25% do total)
Fortaleza - 90m2 (representando 50% do total)
Total 180m2

Dessa forma, o custo de cada representação fica assim:

Representação Custos diretos Custos indiretos Custo total

São Paulo 30.000,00 27.500,00 57.500,00

Goiânia 20.000,00 27.500,00 47.500,00

Fortaleza 10.000,00 45.000,00 55.000,00


114 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Observe que, agora, com base nesse novo critério de rateio, diferentemente da situação
anterior, as representações de São Paulo e Fortaleza ficaram bastante próximas e a repre-
sentação de Goiânia teria um menor custo total, fato que não aconteceu pelo outro critério
de rateio.

Observa-se, então, que a determinação de um critério de rateio pode mudar significativa-


mente a conjuntura de distribuição de custos indiretos e isso interfere no valor final do custo
total pelo fato de que os custos indiretos consomem parcela significativa dos custos totais
dos produtos.

Se por outro lado a empresa optasse pelo método ABC, ela não incorreria em rateios, mas
teria que encontrar um direcionador de custos que pudesse retratar o evento que inicia
a atividade de venda. No exemplo apresentado, o direcionador seria a solicitação on-line
efetuada pelo cliente e que não só gera o lançamento contábil do registro, mas, também,
direciona para os demais estágios da atividade que fará com que o cliente receba o produto
em sua casa.

Com base nos dados do exemplo, os dados ficariam assim:

São Paulo - 1.000 solicitações mensais (representando 59% do total)


Goiânia - 500 solicitações mensais (representando 29% do total)
Fortaleza - 200 solicitações mensais (representando 12% do total)
Total 1.700 solicitações mensais

Representação Custos diretos Custos indiretos Custo total

São Paulo 30.000,00 53.100,00 53.100,00

Goiânia 20.000,00 26.100,00 46.100,00

Fortaleza 10.000,00 10.800,00 20.800,00

Inicialmente pode-se pensar que o método ABC continua fazendo rateios dos custos indi-
retos. No entanto, a proposta desse método é identificar uma relação causal da utilização
desses recursos. A premissa é que são as atividades que geram custos e, nesse sentido, é
fundamental a análise do processo de trabalho da empresa a fim de identificar os direcio-
nadores de custos. Eis a razão pela qual foi dado destaque a essas duas definições porque
delas derivam uma série de decisões que garantirão a consistência e eficácia do método
ABC. Sendo assim, caso uma empresa decida utilizar o método de custeio ABC, deve cumprir
as seguintes etapas:
115 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

Etapa 1: identificação das atividades dos departamentos e setores da empresa.

Essa etapa é importante, inclusive, para a compreensão da estrutura e organização da em-


presa a partir das atividades que realiza. Pode-se chegar à conclusão que determinadas
atividades devem ser suprimidas ou retiradas.

Etapa 2: definir claramente os direcionadores de custo dessas atividades.

Nesse caso deve-se estudar a melhor relação causal da atividade, a fim de que os direciona-
dores de custos sejam consistentes em retratar a realidade econômica dos custos associa-
dos a essas atividades.

Etapa 3: calcular a taxa unitária por atividade.

É necessário dividir os custos da atividade pelo total dos direcionadores de custos. Essa taxa
servirá de base para os cálculos de alocação de custos.

Etapa 4: Atribuir os custos aos produtos.

Nesse caso, após a definição da taxa que servirá de base para os direcionadores de custos,
deve-se multiplicá-la pelo volume do direcionador de cada produto. Por exemplo, o custo
por pedido é determinado pela multiplicação da quantidade de pedidos exigida para deter-
minado produto pela taxa unitária por atividade.

É evidente que essas etapas estão resumidas, podendo ser desmembradas em várias sube-
tapas. Além disso, na prática, sempre surgirão demandas adicionais para a implantação do
método ABC. Uma das críticas que se faz ao método é que ele é de difícil acompanhamento
e custoso na sua implantação e acompanhamento. Por outro lado, pode trazer benefícios
significativos do ponto de vista gerencial para a tomada de decisão.

“CONHECER CUSTOS, NÃO REDUZ CUSTOS. CONHECER CUSTOS E


SEUS COMPORTAMENTOS PERMITE A TOMADA DE DECISÕES”.

PROF DsC RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA


116 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL

RESUMO
Neste módulo você estudou sobre os principais conceitos da contabilidade de custos, veri-
ficando sua importância como instrumento de auxílios para que gestores, gerentes e admi-
nistradores tomem decisões importantes sobre o futuro da empresa.

Verificou, ainda, as formas de acumulação de custos e seus benefícios gerenciais, além de


discutir os métodos de custeamento utilizados pelas empresas, averiguando convergências
e divergências entre eles.

Também estudou que os custos podem ter diversas classificações e que conhecê-las per-
mite uma consistente acumulação de custos. E, por fim, verificou que os custos podem ser
analisados de várias formas, inclusive pelas atividades que a empresa realiza, que é o caso
do custeamento ABC.
Módulo 4

RELAÇÃO CUSTO, VOLUME


E LUCRO
INTRODUÇÃO DO MÓDULO

Quando um cliente chega à loja e pergunta quanto custa determinado produto, a empresa já
deve ter feito a si mesmo essa pergunta, pois o custo de produzi-lo é que suscitará um preço
de venda adequado. Preço esse que deve superar os custos de produção e, ainda, apresentar
uma margem de lucro.

Porém, o processo de fabricação requer uma série de custos, alguns variáveis, outros fixos e
deve considerar a capacidade operacional de produção da empresa. Nesse sentido, os custos
podem variar mês a mês, processo a processo e acompanhar toda essa dinâmica é fundamen-
tal para que se tenha sempre controle sobre o processo produtivo.

São esses os temas centrais deste módulo e que permitirão a compreensão não só da análise
dos custos associados ao processo de produção, mas, também, aos gastos necessários para a
concretização da venda do produto.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao final desse módulo você será capaz de:

■ Conhecer conceitos analíticos importantes, como margem de contribuição e ponto de


equilíbrio.

■ Compreender o impacto de fatores limitantes nos custos de produção.

■ Conhecer métodos e procedimentso para a formação do preço de vena do produto.

ESTRUTURA DO MÓDULO

■ Unidade 1 – Margem de contribuição e ponto de equilíbrio

■ Unidade 2 – Fatores limitantes ao uso da margem de contribuição e custos fixos iden-


tificáveis

■ Unidade 3 – Custos e formação do preço de venda


120 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

UNIDADE 1
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E PONTO DE EQUILÍBRIO

A fim de apresentar os principais conceitos dessa unidade, analise inicialmente o pequeno


caso a seguir:

Hector Rebaque é um empresário envolvido em vários negócios. Inicialmente direcio-


nado para o setor de moda e beleza, agora também possui empreendimentos no setor
alimentício. Nesse último negócio ele se mostra um pouco preocupado.

Hector contratou cozinheiros experientes e realizou uma série de programas de capa-


citação com os funcionários com foco em qualidade no atendimento ao cliente, pro-
cessos administrativos, controle financeiro, entre outros.

O restaurante tem um movimento bastante significativo e os clientes costumam elo-


giar a comida, seja pelo site ou pessoalmente com os gerentes. Apesar disso tudo, a
empresa tem dificuldade em quitar suas obrigações e o lucro é baixo. Em alguns me-
ses até obteve prejuízo, ainda que em valores não muito significativos.

Ao conversar com outro amigo empresário sobre a questão, este lhe deu um conselho:

Hector: O restaurante é ótimo de localização, variedade de ofertas e os clientes sem-


pre elogiam, mas quase não obtenho retorno porque os lucros são baixos.

Amigo: Você precisa analisar essa questão com mais cuidado e entender o porquê da
situação.

Hector: Mas o pessoal faz um controle efetivo dos custos.

Amigo: Sim, porém, mais do que controlar os custos, é preciso analisá-los. Até mesmo
para averiguar se os preços de venda praticados são compatíveis com esses custos.
121 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Os sistemas de acumulação de custos e os métodos de custeio estudados no módulo an-


terior apresentam conceitos, processos e metodologias para acumular e apropriar custos a
fim de se medir o ritmo e as condições das atividades produtivas da empresa.

Ocorre que a análise dos custos apurados, seja qual for o sistema de acumulação de custo
utilizado ou o método de custeio praticado são fundamentais para se estabelecer não só a
estratégia da empresa, mas, também, para ratificar suas diretrizes operacionais. Em outras
palavras, as informações de custos devem ser utilizadas como instrumento de tomada de
decisão e não somente para controle. Essa é a questão fundamental apresentada no caso
inicial. É evidente que o controle deve existir para se impedir fraudes, evitar desperdícios,
mas não deve parar aí. As informações de custos são instrumentos úteis à tomada de deci-
são gerencial.

Nesse caso, o custeio variável mostra-se consistente para fins de tomada de decisão, visto
que possibilita apresentar o ganho efetivo que cada produto concede ao lucro em sua ven-
da. É importante lembrar, como estudado no módulo anterior, que esse método de cus-
teamento considera tão somente os custos variáveis na sua base de cálculo inicial. Há a
concepção de que os custos fixos, de modo geral, são incorridos independentemente do
volume de produção.

Ao fazer a distinção entre custos fixos e variáveis, dando atenção especial ao último, o mé-
todo de custeamento variável elimina problemas de rateio de custos, que por serem, boa
parte das vezes, arbitrários e subjetivos, prejudicam o processo de tomada de decisão.

A necessidade de uma informação gerencial relevante, fidedigna e tempestiva sempre es-


teve presente nas organizações ao longo da história. No entanto, em tempos recentes, nos
quais a economia é globalizada, os mercados são extremamente competitivos e a comple-
xidade das operações empresariais estão atreladas à tecnologia, as informações de custos
são cada vez mais fundamentais.

A utilização do custeio variável apresenta uma série de conceitos importantes, como mar-
gem de contribuição, grau de alavancagem, ponto de equilíbrio, dentre outros, que auxiliam
os gestores de várias maneiras em suas decisões, inclusive no que tange ao estabelecimento
do preço de venda ao consumidor. Esses conceitos é que tomarão parte de seus estudos a
partir desse momento.

Margem de contribuição
O método de custeio variável considera apenas os custos variáveis. Nesse caso, você pode
se perguntar: E os custos fixos? São descartados?
122 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

É evidente que não, afinal, eles foram consumidos e não há como ignorá-los. Na lógica do
custeio variável, os custos fixos já existem e isso independe da produção. Nesse caso, a em-
presa precisa realizar um volume de vendas que supere esses “custos que já existem”.

Outra questão importante a se considerar é que boa parte dos problemas de alocação de
custos, independentemente do método de custeio ou do sistema de acumulação de custos,
reside nos custos indiretos de fabricação, porque os demais já estão identificados e aloca-
dos diretamente aos produtos.

É por essa razão que ao se considerar os custos variáveis e não os fixos considera-se o
comportamento dos custos em relação à fabricação do produto. É daí que surge a margem
de contribuição, que nada mais é do que a diferença entre o preço de venda e os custos e
despesas variáveis associados a cada unidade de um determinado produto. Para se chegar
ao valor da margem de contribuição, é necessário aplicar a fórmula a seguir:

Preço unitário de venda do produto

(-) Custos variáveis unitários associados ao produto

(-) Despesas variáveis unitárias associadas ao produto

= Margem de contribuição unitária

Se for multiplicada a margem de contribuição unitária pela quantidade de produtos fabrica-


dos, surgirá, então, a margem de contribuição total. Essa informação é extremamente rele-
vante, pois indica qual a contribuição de cada produto na cobertura dos custos de produção
e na geração de receitas.

Como as empresas geralmente trabalham com diversos tipos de produtos, a análise das
margens de contribuição unitária de cada um deles pode oferecer uma boa radiografia das
contribuições dos produtos na geração de receitas e na consequente obtenção de lucros.

Alguns produtos podem ter uma boa margem de contribuição, mas seu volume de vendas
é baixo. Por outro lado, podem existir produtos com uma margem de contribuição relativa-
mente baixa, mas seu volume de vendas é altíssimo. A direção da empresa, a partir dessas
informações, pode decidir com menor propensão de riscos quais as medidas mais adequa-
das no que tange ao volume de produção de tais produtos.
123 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

NA PRÁTICA

No exemplo a seguir, imagine que a empresa do Sr. Hector Rebaque, apresentada no


início do módulo, vende três pratos distintos, aqui denominados pratos 1, 2 e 3. Além
disso, considere que um relatório gerencial apresente as informações contábeis a se-
guir:

Prato A Prato B Prato C

Receita de vendas 20.000 28.000 24.700

Custos variáveis (8.000) (15.400) (14.950)

Despesas variáveis (4.000) (8.400) (7.150)

Margem de contribuição 8.000 4.200 2.600

Esse relatório só é possível de ser elaborado, caso se tenha informações operacionais


consistentes e confiáveis. Sendo assim, será preciso manter um controle efetivo das
operações. Os funcionários da empresa realizaram esse controle interno, identifican-
do as seguintes condições para cada prato vendido:

Prato A Prato B Prato C

Receita de vendas 50,00 40,00 38,00

Custos variáveis 20,00 22,00 23,00

Despesas variáveis 10,00 12,00 11,00

Quantidade de pratos vendidos 400 700 650


124 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Se o controle é efetivo e as informações estão disponíveis, é fácil calcular a margem de


contribuição. Basta multiplicar a quantidade de pratos vendidos pelo preço de venda.
Em seguida, atribuir os custos variáveis específicos a cada prato.

No exemplo, apesar do prato A ter um volume de vendas menor, ele contribui mais
significativamente no lucro da empresa.

Mas o que ocorreria se a empresa vendesse maior quantidade de pratos B e C? Qual


seria o impacto dessa mudança no lucro final?

Para responder à pergunta, é necessário considerar o conceito de alavancagem, dis-


posto no tópico a seguir.

Grau de alavancagem
Uma pequena alavanca pode movimentar um peso muito maior. Esse é um conceito oriun-
do da física e que o meio empresarial utiliza para analisar um aumento do lucro a partir do
aumento da quantidade de produção de determinado produto. Nesse sentido, é possível
que uma pequena variação na quantidade de produtos produzidos e vendidos resulte em
uma variação muito maior na sua lucratividade.

O quadro a seguir apresenta as possibilidades de graus de alavancagem:

Graus de alavancagem Fórmula O que expressa

Relação entre variações


no lucro operacional em
% do luro operacional decorrência de variações
Operacional (GAO)
% de vendas nas vendas. Decorre da
existência de custos fi-
xos operacionais.

Relação entre variações


no lucro líquido em de-
% do lucro líquido corrência de variações
Financeira (GAF)
% do lucro operacional no lucro operacional.
Decorre da existência de
custos fixos financeiros.
125 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Relação entre variações


no lucro líquido em de-
% do lucro líquido corrência de variações
Combinada (GAC) % de vendas nas vendas. Decorre da
GAO x GAF existência de custos fi-
xos operacionais e finan-
ceiros.

Quadro 4.1: Graus de alavancagem


Fonte: Bruni e Famá (2003, p. 244).

Ponto de equilíbrio
Associado aos conceitos de margem de contribuição e de grau de alavancagem, tem-se tam-
bém outro conceito muito importante para a estratégia de um negócio: o ponto de equilí-
brio.

O ponto de equilíbrio, também denominado de “ponto de ruptura” (break even point), ques-
tiona que, se a empresa, mesmo antes de iniciar a produção, já incorre em custos fixos,
quanto será necessário fabricar (e vender) para cobrir esses custos?

De fato, em qualquer situação, a empresa tem primeiro custos para depois aparecerem as
receitas. O ponto de equilíbrio é, na verdade, o momento em que o volume de vendas iguala
os custos de produção. É o momento no qual a empresa não tem nem lucro nem prejuízo.
Os valores de receitas e custos são os mesmos.

É fácil notar, então, que as vendas a partir desse ponto representam lucro efetivo, visto que
os custos já foram cobertos (compensados) com as vendas anteriores. Nesse sentido, a mar-
gem de contribuição pode ser utilizada para calcular o ponto de equilíbrio.

O ponto de equilíbrio pode ser apresentado de duas maneiras:

■ Pela quantidade produzida (valores por unidade).

■ Pelo volume de recursos alcançado (valores monetários).

Além disso, há três tipos diferentes de ponto de equilíbrio:

Ponto de equilíbrio contábil Ponto de equilíbrio Ponto de equilíbrio


(PEC) financeiro (PEF) econômico (PEE)
126 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

A fim de melhor visualizar esses conceitos, considere o exemplo a seguir e, a partir dele,
estude as formas de apresentação do ponto de equilíbrio.

Exemplo

Empresa ABBA S/A: vende um único produto cujo preço de venda é R$ 100,00.

Durante esse mesmo período sua estrutura de custos e despesas foi a seguinte:

Materiais (matéria-prima e materiais secundários) R$ 34,00 por unidade


Salários e encargos sociais do pessoal da produção R$ 56.000 por período
Salários e encargos do pessoal administrativo R$ 56.000 por período
Depreciação de equipamentos do processo industrial R$ 56.000 por período
Despesas variáveis R$ 16,00 por unidade
Outras despesas fixas (administração) R$ 5.000 por período

Informações adicionais

a. Quantidade de produtos vendidos no período: 35.000 unidades.

b. Expectativa de retorno dos acionistas 25%.

Ponto de equilíbrio contábil (por quantidade e valor monetário)

Para se calcular o ponto de equilíbrio é preciso descobrir a margem de contribuição do pro-


duto. Com base nas informações do problema, tem-se o seguinte:

Preço de venda do produto 100,00


(-) custos variáveis (34,00)
(-) depesas variáveis (16,00)
= margem de contribuição unitária 50,00

A fórmula para o cálculo do ponto de equilíbrio contábil (PEC) é a seguinte:

PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL (PEC) = CUSTOS FIXOS (CF) + DESPESAS FIXAS (DF)
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO UNITÁRIA

São custos fixos:

56.000,00 (salários e encargos do pessoal da produção)


14.000,00 (depreciação de equipamentos do processo industrial)
127 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

São despesas fixas:

25.000,00 (salários e encargos do pessoal administrativo)


5.000,00 (despesas fixas da administração)

Dessa forma, a fórmula fica da seguinte forma:

PEC = 70.000 (CF) + 30.000 (DF) = 2.000


50,00

Sabe-se, portanto, que a empresa atinge o ponto de equilíbrio contábil assim que vender
2.000 unidades do produto.

Outra forma de descobrir o PEC é por meio do valor monetário. Com base no exemplo, sa-
be-se que a margem de contribuição unitária do produto equivale a 50% do preço de venda,
já que o preço de venda do produto é R$ 100,00 e a margem R$ 50,00. Nesse caso, basta
utilizar a fórmula considerando não o valor monetário, mas o valor percentual da margem
de contribuição unitária, que é:

PEC = 70.000 (CF) + 30.000 (DF) = 200.000,00


0,50

A empresa atinge o ponto de equilíbrio contábil quando seu volume de vendas alcançar
a soma de R$ 200.000,00. Esse resultado também pode ser alcançado multiplicando-se a
quantidade de produtos do ponto de equilíbrio (no caso, 2.000 unidades) pelo preço de
venda do produto (R$ 100,00).

É evidente que, se modificarem as condições de produção e do comportamento dos custos,


ou o preço de venda for alterado, os cálculos devem ser refeitos e atualizados.

Ponto de equilíbrio financeiro (por quantidade e valor monetário)

A contabilidade trabalha pelo regime de competência. Por conta disso, considera custos e
despesas que não passam pelo caixa, ou seja, não implicam em desembolso. O exemplo
apresentado traz a depreciação do maquinário, que é um custo fixo de produção, mas que
a empresa não realiza nenhum desembolso.

O ponto de equilíbrio financeiro (PEF) diferencia-se do ponto de equilíbrio contábil (PEC),


justamente por não considerar em sua fórmula custos e despesas que não representam
efetivos desembolsos de caixa. Sendo assim, e com base nos dados do mesmo exemplo
apresentado, surgiriam os seguintes resultados para o ponto de equilíbrio financeiro:
128 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

a. PEF por quantidade

PEC = 56.000* (CF) + 30.000 (DF) = 1.720


50,00
*retirado R$ 14.000,00 de depreciação

Nesse caso, a empresa atingiria o ponto de equilíbrio financeiro ao vender 1.720 unidades
do produto.

b. PEF por valor monetário

Para saber o valor monetário do ponto de equilíbrio financeiro, é necessário fazer o seguinte
cálculo:

PEC = 56.000 (CF) + 30.000 (DF) = 172.000,00


0,50

O ponto de equilíbrio financeiro é atingido quando o volume de vendas totaliza R$ 172.000,00.


É evidente que o ponto de equilíbrio financeiro será menor que o ponto de equilíbrio contá-
bil, pois reduz o numerador da equação. De todo modo, apresenta uma visão estritamente
relacionada com os fluxos de caixa.

Ponto de equilíbrio econômico

O ponto de equilíbrio econômico (PEE) considera um conceito muito importante para a ci-
ência econômica, que é o custo de oportunidade. É compreensível que qualquer investidor
queira obter retorno do investimento realizado. Mais do que isso, um investidor pode ter
determinada expectativa de retorno, ou seja, não é qualquer retorno, mas, sim, aquele que
satisfaça as suas expectativas.

Dessa forma, a fim de garantir esse retorno desejado, é possível calcular o ponto de equi-
líbrio com base na expectativa de retorno do acionista. Essa é a preocupação do ponto de
equilíbrio.

O exemplo apresentado anteriormente informa a expectativa de retorno dos acionistas, ou


seja, 25% de lucro desejado. Nesse caso, a fórmula do PEE é:

PEE = Custos Fixos + Despesas Fixas + Montante do lucro desejado


Margem de contribuição unitária

Se a expectativa é de 25%, tem-se o seguinte:


129 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Quantidade = x
Preço de venda 100,00x
Lucro desejado (25%) 25,00x
Custos e despesas variáveis 50,00x
Custos e despesas fixas 100.000,00

PEE em quantidade:

x= 70.000 + 30.000 + 25x


50x

50 x = 100.000 + 25x

50x – 25x = 100.000

25x = 100.000

x = 100.000 / 25 = 4.000 unidades

Calculando em valor monetário, tem-se:

PEE = 4.000 unidades x 100,00 = R$ 400.000,00

Dessa forma, para se atingir o ponto de equilíbrio econômico (PEE), é necessário vender
4.000 unidades do produto ou alcançar um volume de vendas no montante de R$ 400.000,00.

Cada cálculo do ponto de equilíbrio (se contábil, financeiro ou econômico) tem utilidade es-
pecífica e pode ser utilizado indistintamente pelas empresas. O que importa, entretanto, é
apurar uma informação de qualidade que retrate a realidade econômica do evento, no caso
o processo de produção da empresa.

Os conceitos de margem de contribuição e de ponto de equilíbrio são úteis para o auxilio na


tomada de decisões e, portanto, devem sempre ser acompanhados.

As incertezas econômicas que pairam no contexto atual fazem com que os preços dos insu-
mos variem, as condições de negociação sejam modificadas, os prazos de entregas e/ou de
pagamentos sejam alterados. Há, portanto, muitas variáveis que podem alterar o valor dos
custos (fixos ou variáveis) e o preço de venda dos produtos. Isso sem considerar as questões
tributárias que, dado o contexto nacional de uma elevada carga tributária, não pode em ne-
nhuma hipótese ser deixada em segundo plano.

Por essa razão, é sempre importante acompanhar essas mudanças e ajustar os valores das
margens de contribuição dos produtos e os seus respectivos pontos de equilíbrio, a fim de
manter uma informação sempre atualizada sobre a capacidade produtiva da empresa e
suas condições de gerar lucros condizentes com as expectativas dos acionistas.
130 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

UNIDADE 2
FATORES LIMITANTES AO USO DA MARGEM DE CONTRIBUI-
ÇÃO E CUSTOS FIXOS IDENTIFICÁVEIS

Apesar de a contabilidade gerencial possibilitar informações relevantes aos gestores a fim


de auxiliá-los no processo de tomada de decisão, há que se considerar, ainda, fatores exter-
nos (econômicos, sociais e ambientais) para ratificar a decisão.

A utilização do custeio variável e do cálculo da margem de contribuição apresenta alguns


fatores limitantes ou restritivos como se observa a seguir:

Demanda de mercado não comporta


um aumento na produção.

Os fornecedores dos insumos de Falta de mão de obra qualificada


materiais não têm capacidade de ATIVIDADES parra aumentar a produção.
aumento de suprimento.

Questões de logística e distribuição


de produtos.

Figura 4.1: Fatores limitantes ao processo de produção

Além disso, outros fatores internos, como insuficiência de capacidade de crédito junto a ins-
tituições financeiras e/ou ausência de capital de giro para financiar o aumento da produção,
também podem ser destacados.

Quando há um fator limitante, o procedimento correto é descobrir a margem de contribui-


ção considerando essa restrição.
131 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

PARE PARA PENSAR

Imagine que uma empresa da área de construção civil tenha na sua folha de paga-
mento mensal os seguintes trabalhadores e seus respectivos valores:

Representação Produto A Produto B Produto C

Preço unitário de
500,00 450,00 430,00
venda

(-) custos variáveis 180,00 120,00 150,00

(-) despesas variá-


20,00 30,00 34,00
veis

= Margem de con-
300,00 300,00 246,00
tribuição

Considerando esses dados, fica evidente que os melhores produtos no que diz respei-
to à contribuição ao lucro são os produtos A e B.

No entanto, a empresa tem realizado pesquisas sistemáticas sobre o volume de ven-


das e a demanda de mercado para cada produto. A partir dessas análises, chegou à
seguinte conclusão:

Tempo de utilização
Produtos Condições de venda de máquinas para a
produção

A Venda média mensal de 20.000 unidades 2 horas

B Venda média mensal de 10.000 unidades 3 horas

C Venda média mensal de 25.000 unidades 1,5 hora


132 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Ocorre que a empresa teve um problema com o maquinário e a reposição de peças de-
morou mais do que o esperado. Por meio de estudos internos realizados pela equipe,
chegou-se à conclusão de que nessas condições a empresa conseguiria, no máximo,
90.000 horas/máquina de produção.

Portanto, atender a demanda nesse mês não será possível, pois ela ultrapassa a capa-
cidade total de produção, como se observa a seguir:

Produto A = 20.000 x 2h = 40.000h


Produto B = 10.000 x 3h = 30.000h
Produto C = 25.000 x 1,5h = 37.500h
Total = 107.500h

Considerando essa limitação relativa à capacidade de horas/máquina nesse período e,


tendo a preocupação de conseguir os melhores resultados em termos de lucrativida-
de, pode-se considerar as melhores margens de contribuição e calculá-las levando em
consideração o fator limitante:

Produto A = 300,00 / 2h = 150,00


Produto B = 300,00 / 3h = 100,00
Produto C = 246,00 / 1,5h = 164,00
Total = 107.500h

Observe que agora, ao considerar o fator de limitação, a ordem das margens de contri-
buição se diferenciou. O produto C, que anteriormente apresentava a menor margem
de contribuição, agora assumiu o primeiro lugar, com a maior margem de contribuição
entre os produtos. De forma inversa, a margem de contribuição do produto B dimi-
nuiu. Dessa forma, considerando as condições de limitação e preocupada com a oti-
mização do lucro, a empresa deverá fabricar os produtos nas seguintes quantidades:

Produto C = 25.000 unidades x 1,5 h/m = 37.500


Produto A = 20.000 unidades x 2 h/m = 40.000
Produto B = 4.166 unidades x 3 h/m = 12.498
89.998
133 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

O produto B teria uma produção menor nesse mês por conta do fator de limitação,
que é a utilização das máquinas. Ocorre que, como sua fabricação requer um tempo
maior de uso das máquinas, a ausência destas torna a margem de contribuição do pro-
duto menor. Sendo assim, a preocupação principal será apresentar o maior retorno
possível, ou seja, o lucro maior. Portanto, é melhor reduzir a produção desse produto
específico

Outra questão importante diz respeito aos custos fixos identificáveis. Quando se fala
de margem de contribuição, ou do custeio variável, é natural pensar em deixar os cus-
tos fixos em segundo plano, concedendo toda a atenção aos custos variáveis. Porém,
se tais custos puderem ser identificados aos produtos, estes devem ser considerados.
Veja um exemplo dessa situação:

Imagine que uma empresa fabrique quatro produtos aqui denominados de Alfa, Beta,
Gama e Ômega. Suponha ainda que, nessa empresa, haja dois departamentos de
produção trabalhando exclusivamente para alguns produtos. O departamento A, por
exemplo, só é utilizado para a fabricação dos produtos Alfa e Beta. Já o departamento
B, para os produtos Gama e Ômega. Em relação aos produtos, essas são as informa-
ções disponíveis sobre custos variáveis e custos fixos identificáveis:

Produtos Custos Variáveis Custos fixos identificáveis

Produto Alfa R$ 550,00 R$ 140,00

Produto Beta R$ 480,00 R$ 160,00

Produto Gama R$ 410,00 R$ 120,00

Produto Ômega R$ 600,00 R$ 200,00

Os custos fixos não identificáveis totalizam R$ 200.000,00.


134 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

No último mês, a empresa teve a seguinte produção e venda:

Quantidade Preço de venda Total em R$

Produto Alfa 1.000 unidades 700,00 700.000,00

Produto Beta 1.200 unidades 750,00 900.000,00

Produto Gama 1.150 unidades 680,00 714.000,00

Produto Ômega 1.200 unidades 790,00 948.000,00

TOTAL DE VENDAS 3.262.000,00

Nesse caso, a apuração da margem de contribuição seria da seguinte forma:

Produto Produto Produto Produto


Total
Alfa Beta Gama Ômega

Receita de vendas 700.000,00 900.000,00 714.000,00 948.000,00 3.262.000,00

(-) custos variáveis (550.000,00) (576.000,00) (471.500,00) (720.000,00) (2.317.500,00)

Margem de contri-
buição dos produ- 150.000,00 324.000,00 242.500,00 228.000,00 944.500,00
tos

(-) custos identifi-


(140.000,00) (192.000,00) (138.000,00) (240.000,00) (710.000,00)
cáveis da produção

Segunda Margem
10.000,00 132.000,00 104.500,00 (12.000,00) 234.500,00
de contribuição

(-) custos ficos co-


muns (não identifi- (200.000,00)
cáveis)

Resultado 34.500,00
135 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Observe que na primeira margem de contribuição, considerando apenas os custos va-


riáveis, os produtos com melhor margem de contribuição, respectivamente, eram Beta,
Gama, Ômega e, por último, Alfa. No entanto, ao adicionar os custos fixos identificáveis
e realizar o cálculo da margem de contribuição, considerando também esse item, os
produtos com melhor margem de contribuição, na sequência, são: Beta, Gama, Alfa e,
por último, Ômega.

Observa-se, então, que os custos fixos, quando identificáveis, tornam-se tão importan-
tes quanto os custos variáveis no processo de tomada de decisão.

Se for retomada a situação anterior, que considerava a existência de um fator limitan-


te, será necessário considerar os custos fixos identificáveis na análise. E, na eventual
necessidade de redução da capacidade de produção, mas mantendo a preocupação
com a otimização do lucro, será necessário reduzir a produção do produto Ômega.

UNIDADE 3
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA

DETERMINANDO O PREÇO DE VENDAS


A mensuração dos custos de produção e a análise do comportamento destes custos trazem
informações gerenciais importantes no sentido de se evitar desperdício de materiais, otimi-
zar os processos de trabalho, acelerar a fabricação, entre outras coisas. Mas, ao final, o que
se espera é um retorno de todo esse esforço em forma de lucro. Para tanto, é necessário
que a receita de vendas supere os custos. Portanto, estabelecer um preço de venda compa-
tível à realização desse objetivo torna-se questão fundamental e digna de criteriosa análise.

A determinação do preço de venda de produtos e serviços, porém, não requer somente in-
formações sobre custos. Há que se considerar outras variáveis, tais como:
136 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Algumas atividades podem ser mais sensíveis a processos inflacionári-


RAMO DE ATIVIDADE os, por exemplo, e os preços dos produtos ou serviços podem variar
continuamente.

GRAU DA Um nível de competitividade acirrada pode impactar de modo significati-


CONCORRÊNCIA vo o preço do produto ou serviço.

CARACTERÍSTICAS Produtos sazonais, perecíveis ou com alta probabilidade de perdas. Tais


DO PRODUTO situações podem fazer o preço do produto oscilar.

O poder de compra da clientela é, sem dúvida, uma importante questão a


CONDIÇÕES ser considerada. Se os clientes estiverem sem recursos, a redução do
ECONÔMICAS preço de venda pode representar uma saída para a manutenção do
volume de vendas.

POLÍTICAS Questões tributárias ou burocráticas podem tornar o preço de um produ-


GOVERNAMENTAIS to ou de um serviço inviável.

Figura 4.2: Variáveis a se considerar na formação do preço de vendas

Como se pode observar, são muitas as variáveis a considerar na hora de estabelecer o preço
de venda de um produto, mas, seja como for, são três os principais modelos para gestão de
preços de venda que as empresas podem se orientar (PADOVEZE, 2013, p. 326):

■ Com base na teoria econômica.

■ Com base nos custos.

■ Com base no mercado.


137 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

A teoria econômica fundamenta-se na lei da oferta e da procura, ou seja, se há muita ofer-


ta e pouca procura, o preço do produto ou serviço tende a reduzir. No entanto, se houver
muita procura e pouca oferta, o preço aumenta. Orientar-se por essa lógica requer que a
empresa tenha conhecimento não só dos seus custos de produção, mas, também, do poten-
cial do mercado consumidor.

Outra questão importante já destacada nesta unidade diz respeito ao grau de concorrência.
Se há muitas empresas em determinado segmento de mercado e se existem pequenas di-
ferenças entre os produtos oferecidos por essas empresas e, além disso, nenhuma dessas
empresas pode influenciar significativamente os preços, mudam-se as decisões sobre qual
valor de venda final será estabelecido para os clientes. Por exemplo, se em determinado
ramo de atividade existem poucas empresas competindo, logo, aquelas que abrangem par-
celas significativas do mercado exercem liderança e têm que decidir os preços que serão
fixados para os seus produtos.

Quando a empresa orienta-se pelo custo, ela tão somente considera os custos totais de pro-
dução acrescidos de determinada margem de lucro desejada. Nesse sentido, as empresas
devem controlar seus custos de produção para evitar ao máximo que eles se elevem a ponto
de inibir a sua aquisição por parte dos clientes.

Nessa preocupação com o controle dos custos é que surge o conceito de custo padrão, cuja
ideia central é estabelecer um padrão de comportamento dos custos fixando um montante
final esperado. Nesse sentido, as diferenças entre o custo padrão estimado e o custo real
são analisadas de forma criteriosa. A fixação desses padrões e a rigidez do controle e acom-
panhamento dos valores dependerão basicamente dos objetivos da empresa ao estabele-
cê-los. Podem-se implantar alguns tipos de padrões, como:

■ Padrão ideal, ou teórico: são padrões criteriosamente estabelecidos e bem “justos”. É


possível que tais padrões, na prática, nunca sejam atingidos. No entanto, servem como
referência e a premissa básica é que a tentativa de alcançá-los proporcionaria uma
melhor eficiência nos controles.

■ Média de custos passados: fundamentam-se no desempenho médio passado, repre-


sentando a própria experiência da empresa.

■ Padrão normal: fundamenta-se nas expectativas futuras de custos, considerando


condições de normalidade econômica, ausência de fatores restritivos ou limitantes e
capacidade operacional.

O estabelecimento do custo padrão pode ser feito somente aos custos de matéria-prima e
não a todos os custos.
138 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Por fim, quando a orientação para o estabelecimento do preço de venda de um produto ou


serviço se dá pelo mercado, é importante ter informações sobre o mercado consumidor, a
concorrência e as condições econômicas. Nesse caso, surge o conceito de custo meta, que
é efetivado a partir da ótica da competitividade do mercado.

A diferença entre a orientação pelos custos e orientação pelo mercado está apresentada a
seguir:

ORIENTAÇÃO ORIENTAÇÃO
PELO CUSTO PELO MERCADO

Preço de venda
Custo da produção de mercado

+ -
Margem de lucro Margem de lucro

=
Preço de venda
=
desejado Custo Meta

Figura 4.3: Diferença entre a orientação pelos custos e pelo mercado

Outra consideração importante a se levar em consideração na hora de estabelecer o preço


de venda, independentemente da orientação da gestão dos preços de venda, é o conceito
de markup. Trata-se de uma metodologia bastante simples para calcular o preço de venda e
é amplamente utilizado pelas empresas.

O cálculo do markup consiste em adicionar uma margem de lucro aos custos de fabricação
de um produto ou de execução de um serviço. A fórmula seria a seguinte:
139 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Markup = Custo unitário + % de lucro desejado

Porém, como o markup representa um percentual que se soma ao custo unitário do produ-
to, a equação relativa ao preço de venda seria:

Preço de venda = Custo unitário + Markup

Sendo assim, por exemplo, se determinado produto tiver um custo unitário apurado de
R$100,00 e a empresa trabalhar com um markup de 30%, o preço de venda deverá ser
R$130,00. No entanto, apesar dessa margem de lucro adicionada ao custo, e que formou o
preço de venda do produto ou serviço, não se está considerando as despesas gerais e admi-
nistrativas nem tampouco os tributos que incidem sobre a venda. Este tema é, inclusive, o
tópico que você verá a seguir.

Importância dos tributos incidentes sobre vendas


Sabe-se que o Brasil tem uma carga tributária bastante alta. Além disso, as empresas podem
se enquadrar em vários regimes tributários. Acrescenta-se, ainda, o fato de que um tributo
bastante significativo e oneroso para as empresas, o Imposto sobre Circulação de Merca-
dorias e Serviços (ICMS), é devido ao governo estadual, que é quem tem competência para
legislar sobre a matéria. Por essa razão, a alíquota desse tributo varia de estado para estado.

Além do ICMS, duas outras contribuições, a Contribuição para Finalidade Social (Cofins) e o
Programa de Integração Social (PIS), devidos ao governo federal, são também tributos que
incidem sobre a venda. Tais contribuições podem ser devidas de forma cumulativa, quando
não há compensação dos valores pagos, enquanto que no regime não cumulativo essa pos-
sibilidade de compensação é possível.

O PIS e o Cofins incidem sobre a venda e o ICMS incide sobre a circulação (movimentação)
de mercadorias. Isso ocorre tanto na compra quanto na venda. No entanto, o ônus do reco-
lhimento do tributo se dá para aquele que vende.
140 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

NA PRÁTICA

Observe a situação a seguir:

Uma empresa apurou, em seu processo de fabricação em determinado mês, um custo


variável (matéria-prima e mão de obra) de R$ 58,00. O custo fixo (rateado por unidade
produzida) somou R$ 25,00 e os tributos incidentes sobre vendas foram:

PIS = 0,65%

COFINS = 3%

ICMS = 19%

A empresa trabalha com um markup de 50%.

Sendo assim:

Preço de venda = custos variáveis + custos fixos + lucros desejado


1 - % de tributos sobre vendas

Preço de venda = 58,00 + 25,00 + 41,50 = 124,50 = 123,72


1 - 0,2265 0,7735

O detalhamento desse preço seria então:

Preço de venda = 123,72


(-) custos variáveis = (58,00)
(-) custo fixo rateado = (23,00)
(-) tributos sobre vendas = (28,02) referente a 123,72 x 22,65%
= Lucro apurado = 14,70

Note que, apesar do lucro desejado pelo markup ser de 50%, o lucro efetivo, por conta
dos tributos, representou apenas 11,9% (14,70 / 123,72).
141 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

TOME NOTA

É prática comum entre as empresas remunerar seus colaboradores com um percen-


tual das vendas. São as denominadas “comissões sobre vendas”. Nesse caso, a comis-
são sobre vendas também deve compor a fórmula do preço de venda. A fórmula é
descrita da seguinte forma:

Preço de venda = Custos variáveis + custos fixos + lucro desejado


1 - % de tributos sobre vendas - % comissão sobre vendas

A determinação do preço de venda pode se fundamentar, também, nos custos marginais. O


conceito de custo marginal está associado ao conceito de receita marginal. Se o custo margi-
nal representa o aumento no custo pelo acréscimo de uma quantidade produzida e vendida,
a receita marginal representa como o aumento na receita corresponde a um aumento da
quantidade produzida e vendida.

Atkinson et al. (2.000, p. 383) afirmam o seguinte:

Se a receita marginal é maior que o custo marginal, aumentar a


quantidade em uma unidade aumentará o lucro. Se a receita mar-
ginal é menor que o custo marginal, então, é possível aumentar o
lucro diminuindo a produção. O lucro, portanto, é maximizado, es-
colhendo-se a quantidade de produção em que a receita marginal
se iguala ao custo marginal.

Nesse caso, enquanto no custeio por absorção a expectativa é que os custos fixos sejam
cobertos integralmente, no custeio marginal entende-se que qualquer contribuição para a
recuperação desses custos fixos já traz algum significado. De acordo com Lins e Silva (2005),
sob o custeio marginal, um dirigente encarregado da fixação de preços tem maior liberdade
de ação.

Nesse método são considerados somente aqueles custos identificados de maneira a estabe-
lecer um preço que minimamente cubra os custos fixos identificáveis. Geralmente o custo
marginal é utilizado em situações nas quais haja pedidos extraordinários e não constantes e
que tais solicitações adicionais não extrapolem sua capacidade produtiva.
142 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

Observe o exemplo a seguir, que compara a formação de preços com base no custeio por
absorção e, também, com base no custeio marginal:

Custos
Custos da Custos fixos não
Custo da maté- Despesas Custo
mão de obra fixos iden- identificá-
ria-prima variáveis total
direta tificáveis veis (ra-
teio)

22,00 25,00 8,00 12,00 13,00 80,00

Imaginando que a expectativa da empresa é um lucro de 30%, o preço de venda teria o valor
de R$ 124,10 (que representaria o acréscimo de 30% sobre o custo total).

A situação na qual a empresa não trabalha com sua capacidade total de operação e, tendo
a possibilidade de uma venda adicional, entende-se que qualquer valor superior a R$ 55,00
(custo da MP + custo da MOD + despesas variáveis) representaria algo positivo que ajudaria
na cobertura dos custos fixos.

Resumo
Neste módulo foram apresentados conceitos muito importantes relacionados à contabilida-
de gerencial. Você estudou sobre margem de contribuição, ponto de equilíbrio e alavanca-
gem operacional, que são fundamentais para a utilização dos custos para fins de tomada de
decisão gerencial. Além disso, percebeu que a análise e a gestão dos custos são fundamen-
tais para a compreensão do comportamento dos custos e permitem ao gestor uma amplia-
ção das condições empresariais no curto e no longo prazo.

Verificou, ainda, a importância dos custos para a decisão do preço de venda do produto ou
serviço, observando que muitas outras variáveis, além dos custos, devem ser levadas em
consideração na hora da determinação do valor a ser cobrado dos clientes.

Por fim, compreendeu que decisões de compra, venda, controle de custos, estimativas e
acompanhamentos são primordiais aos gestores, que tomarão essas decisões com mais
segurança e menores riscos quanto mais tiverem controle das informações gerenciais de
custos.
143 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO

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