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FINANCEIRA
C615
CLAUDIO, ULYSSES FERREIRA COELHO
Inclui bibliografia
CDD: 657.48
SUMÁRIO
Introdução..............................................................................................................................6
Objetivos ................................................................................................................................7
Resumo..................................................................................................................................4 8
Resumo..................................................................................................................................8 1
MÓDULO 3: FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL ...............................................8 2
Resumo............................................................................................................................... 116
Resumo............................................................................................................................... 1 4 2
Caro(a) aluno(a),
Esperamos que este curso ajude você a entender melhor conceitos, expressões, práticas e
procedimentos da contabilidade e, também, a compreender como a Ciência Contábil pode
efetivamente ser um instrumento útil para um bom desempenho profissional. Lembre-se
de aproveitar ao máximo os recursos oferecidos no material didático da disciplina e as
interações que terá com seu professor on-line. Discuta com seus colegas os conceitos tra-
tados em cada módulo e tente conectá-los à sua realidade. Seu engajamento é essencial
para o seu sucesso nesta jornada!
Bons estudos!
Por ser uma ciência social aplicada, a contabilidade incorpora conceitos e percepções cul-
turais de determinada sociedade e, como estas apresentam peculiaridades distintas, isso
acaba afetando a ciência contábil.
Nesse sentido, conhecer os princípios fundamentais que regem a lógica contábil é extrema-
mente necessário para a compreensão da contabilidade como instrumento de apoio geren-
cial às empresas no contexto atual. Além disso, o conhecimento da estrutura e composição
dos principais demonstrativos contábeis apresenta-se como uma questão fundamental para
a análise e interpretação das condições econômicas e financeiras e da capacidade empre-
sarial de uma organização. Afinal, os usuários externos da contabilidade precisam dessas
informações.
Como visto, a contabilidade apresenta um viés gerencial, ou seja, é auxiliadora dos usuários
internos – gestores, principalmente. Assim sendo, o presente trabalho abordará aspectos
relacionados aos custos de produção e aos mecanismos de acompanhamento e controle,
hoje tão necessários para manter em condições estáveis a saúde financeira dos negócios.
OBJETIVOS
Após concluir o estudo da disciplina Contabilidade Financeira e Gerencial, você será capaz
de:
FUNDAMENTOS DA
CONTABILIDADE
FINANCEIRA
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Com essa gama de informações e conceitos será possível visualizar toda sequência de pro-
cedimentos contábeis, desde o registro inicial das operações até a sua evidenciação final por
meio de relatórios, planilhas e demonstrações.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao completar este módulo de estudo, você será capaz de:
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
PRINCÍPIOS, CONCEITOS FUNDAMENTAIS E ESTRUTURA
CONCEITUAL DA CONTABILIDADE
Situação 1
José Maurício Kint é um microempresário que trabalha no ramo de alimentos. Muito ativo,
acompanha de perto todo o processo de produção. É minucioso e detalhista. Muito embora
delegue poderes aos seus colaboradores, Kint se envolve em várias atividades operacionais.
É possível vê-lo discutindo o cardápio de seu restaurante e, logo em seguida, questionando
a logística de distribuição dos alimentos entre a sede e as duas filiais de sua empresa. Kint
procura sempre aproveitar as oportunidades e, por vezes, o microempresário utiliza seu
próprio cartão de crédito para aproveitar descontos. Não obstante, utiliza seu próprio au-
tomóvel particular em várias tarefas, mesmo que a empresa também possua um veículo. “É
tudo uma questão de economizar o tempo”, indaga Kint quando o questionam.
Situação 2
Nelson Ratiotti é consultor de empresas e foi contratado pela Companhia AST Indústria e
Comércio S/A. Antes de iniciar seu trabalho, quis conhecer a empresa e se surpreendeu com
os cerca de dez caminhões novos recém-adquiridos para agilizar a entrega dos produtos aos
12 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Situação 3
A companhia Ashton S/A está descontinuando suas operações. Para isso, colocaram à venda
suas máquinas de produção. Os diretores, no entanto, estão muito decepcionados com as
ofertas recebidas. “Elas estão muito abaixo do valor de mercado”, questionam eles.
O que as três situações têm em comum? As três situações apresentadas, embora hipotéti-
cas, retratam a realidade de fatos que efetivamente podem acontecer no dia a dia das em-
presas. De todo modo, elas mantêm estreita relação com alguns princípios fundamentais de
contabilidade.
Nesse sentido, o senhor Kint, apresentado na primeira situação, apesar de se mostrar pres-
tativo e atento ao gerenciamento de seu negócio nas suas atividades diárias, mistura recur-
sos particulares com recursos da empresa. Com isso, ele fere um princípio contábil básico
que é o Princípio da Entidade.
TOME NOTA
Ainda que o senhor Kint seja o sócio majoritário de sua empresa, ele deve preservar a trans-
parência na sua estrutura patrimonial, tendo clareza e fazendo a separação entre aquilo que
é da pessoa jurídica que gerencia e aquilo que é da pessoa física. Mas como apresentar um
relatório contábil da condição patrimonial da empresa se os recursos estão misturados?
Da mesma forma, a segunda situação apresenta outra inobservância aos princípios contá-
beis. Se o objetivo básico da contabilidade é apresentar informação útil aos usuários da in-
formação contábil, esta precisa retratar a realidade econômica e não se ater à forma jurídica
realizada no evento.
A terceira situação, por sua vez, nos mostra que a avaliação de uma empresa deve conside-
rar que ela continuará existindo por um prazo indeterminado. É o Princípio da Continuidade.
14 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
TOME NOTA
É nessa perspectiva que os demonstrativos contábeis devem apresentar seus dados e in-
formações. O fato de não considerar essa condição ou circunstância acarreta em mudança
da avaliação dos ativos da empresa. É exatamente isso o que ocorre no exemplo que foi
apresentado.
Como se pode observar, os princípios contábeis foram sendo construídos a partir do debate
sobre problemas verificados na prática empresarial e nos eventos que implicavam em regis-
tro e apuração de resultados, atividades estritamente contábeis.
Portanto, é necessário desconsiderar a ideia de que teoria e prática são coisas distintas e
independentes. A teoria sustenta a prática e, ao mesmo tempo, a prática faz surgir conceitos
teóricos.
VOCÊ SABIA?
Contrato social é o documento formal de constituição de uma empresa. Deve ser re-
gistrado na junta comercial do estado em que se situa a sede da empresa e deve
conter as características básicas de sua estruturação: nome da empresa, qualificação
dos sócios, endereço da empresa, valor do capital social, participação societária, entre
outras coisas. Nesse documento é fundamental haver uma cláusula definindo que a
empresa irá funcionar por tempo indeterminado. É o princípio da continuidade que só
não estará presente no documento se a empresa se constituir com prazo determinado
para encerramento.
15 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Todos esses demonstrativos contábeis devem não só apresentar uma composição e estru-
tura adequada às necessidades exigidas pelas regras societárias, mas, também, atender às
características qualitativas da informação contábil útil, prevista em outro pronunciamento
contábil: o CPC de Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-
-Financeiro. De acordo com o pronunciamento, as características qualitativas são:
Comparabilidade
Relevância Verificabilidade
Representação fidedigna Tempestividade
Compreensiblidade
NA PRÁTICA
A relevância da informação traz em seu bojo outras características importantes para o usu-
ário. Dentre elas a capacidade de o usuário utilizar essa informação para fazer estimativas
e predições para o futuro, ou seja, a informação não é útil somente para o momento atual,
mas, também, para permitir projeções que ajudem os usuários a estimar o valor da empre-
sa a partir das possibilidades de retorno que o negócio possa gerar nos próximos anos. Da
mesma forma que a informação relevante tem caráter preditivo, ela também representa um
valor confirmatório do momento atual.
REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA
Para ser útil, a informação contábil-financeira não tem só que representar um fenômeno
relevante, mas tem também que representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe
representar. Isso é o que preconiza o pronunciamento contábil e essa é a razão pela qual
a segunda situação, apresentada na contextualização contida no início desta unidade, se
mostrava inadequada.
Comparabilidade
A informação contábil será mais útil se puder ser comparada com uma informação similar
sobre outras entidades ou, também, sobre a mesma companhia para outros exercícios so-
ciais. A consistência, que representa a utilização dos mesmos métodos de mensuração, é
um meio para se chegar à comparabilidade.
18 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
NA PRÁTICA
Verificabilidade
Essa característica ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedigna-
mente o fenômeno econômico que se propõe representar. Nesse caso, diferentes avaliado-
res, analisando de forma independente as informações contábeis de uma empresa, podem
chegar a um consenso quanto às suas condições, por essa representar um retrato da reali-
dade econômica daquela organização em particular.
Tempestividade
Num contexto em que as informações ocorrem de forma instantânea e por meio de vários
canais, as informações contábeis precisam estar disponíveis aos usuários em tempo ade-
quado, para que tenham condições de analisá-las e, assim, tomar a decisão que lhes pareça
adequada. Nesse sentido, quanto mais antiga for, a informação menos utilidade ela terá.
19 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Compreensibilidade
UNIDADE 2
MÉTODOS DE REGISTRO E CONTROLES CONTÁBEIS
A forma de registrar os eventos econômicos ocorre por meio do método das partidas dobra-
das que apresenta basicamente duas regras:
Para a efetivação do método das partidas dobradas é necessário que os registros sejam
feitos em contas contábeis que identifiquem fielmente a operação realizada. Esses registros
são denominados “lançamentos contábeis”. São nos lançamentos contábeis que se realizam
os registros de débito e crédito. O conjunto de lançamentos contábeis feitos em um deter-
minado período é chamado de “escrituração”. A escrituração pode ser:
20 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
ESCRITURAÇÃO
CONTÁBIL FISCAL
De modo geral, todas as contas podem ser classificadas em: ativo, passivo, patrimônio líqui-
do (denominadas contas patrimoniais), despesa e receita (denominadas contas de resulta-
do).
A lógica de funcionamento dos débitos e créditos nas contas obedece ao seguinte critério:
21 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
CONTAS
DÉBITOS CRÉDITOS
PATRIMONIAIS
Constituição de
PASSIVO Quitação de obrigações
obrigações
CONTAS DE
RESULTADO
Ao analisar a figura, é possível perceber que, classificar corretamente uma conta contábil,
auxilia bastante na compreensão dos registros de débitos e créditos do método das partidas
dobradas.
22 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Contas movimentadas /
Operações Lançamento contábil
classificação
Pagamento de salários
Caixa = ativo (saída de re-
Crédito: Caixa
cursos)
É evidente que tais operações apresentariam valores monetários que seriam registrados
nas contas pelos seus respectivos valores e mantendo a igualdade prevista no método das
partidas dobradas. O CPC de Estrutura Conceitual, no item 4.4, apresenta a definição de
cada um desses grupos. Em relação ao balanço patrimonial, fornece definições para cada
um dos componentes patrimoniais, a saber: ativo, passivo e patrimônio líquido.
Muito embora os conceitos de ativo, passivo e patrimônio líquido sejam antigos, eles pre-
cisam ser regularmente atualizados, justamente pela inserção de recursos e situações do
contexto empresarial que não existiam anteriormente.
NA PRÁTICA
Uma empresa ganhou uma concessão do governo federal para exploração de uma
rodovia. A duração do contrato é de dez anos e a empresa pode cobrar pedágios nesse
trajeto, mas terá que fazer melhoramentos constantes na rodovia. Logicamente, isso
trará benefícios econômicos para a empresa e, portanto, apresenta uma característica
fundamental de um ativo. Mas como contabilizá-lo? Como realizar a mensuração?
Outro exemplo seria a compra de um computador. É fácil identificar o preço pelo qual
ele foi adquirido. Porém, se a empresa construir um software que facilite os processos
internos de seu trabalho, como identificar seu valor contábil? Nesse caso, a empresa
deve contabilizá-lo como ativo intangível e, inicialmente, registrá-lo pelo seu custo.
■ Receitas: são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a
forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que
resultam em aumentos do patrimônio líquido e que não estejam relacionados com a
contribuição dos detentores dos instrumentos patrimoniais (proprietários da entida-
de). As receitas podem surgir das atividades de venda de produtos ou da prestação
de serviços. Podem também se originar de investimentos em mercado de ações e/ou
aplicações financeiras.
24 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
O registro de todas as contas tem como objetivo principal fazer um histórico das operações
realizadas pela empresa de modo que se possa resgatar, por meio de documentos e lança-
mentos contábeis, as ações realizadas. Há, ainda, outro propósito fundamental, que está li-
gado ao objetivo básico da contabilidade, que é informar a situação patrimonial e financeira
da empresa após determinado período.
Balanço Patrimonial
ATIVO R$ PASSIVO R$
CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponível 10.000,00
Fornecedores
100.000,00
Estoque 90.000,00
Obrigações fiscais
35.000,00
Contas a receber 50.000,00
Obrigações traba-
25.000,00
NÃO CIRCULANTE lhistas
IMOBILIZADO
Móveis e utensílios
PASSIVO LÍQUIDO R$
100.000,00
Máquinas e equipa-
mentos 150.000,00 Capital social
250.000,00
A partir da adoção das normas internacionais de contabilidade, a DRE deve começar pela
receita líquida. Tanto a receita bruta de vendas quanto os impostos sobre vendas devem ser
calculados separadamente.
a. Como a empresa pode ter apresentado prejuízo se ela conseguiu pagar todas as con-
tas e obrigações nesse ano?
a. Além do dinheiro em caixa, a empresa possui, ainda, mercadorias que pode vender
rapidamente e converter esse valor em dinheiro. É possível, sem muita dificuldade,
pagar as obrigações vincendas.
Quando a contabilidade faz os registros das operações da empresa, ela o faz de modo inte-
gral. O que isso quer dizer?
Significa que se uma empresa vender algum ativo a prazo em doze prestações, a contabilida-
de deve registrar, na data da venda, o valor total, ainda que a última parcela só seja recebida
um ano depois. Isso ocorre porque a contabilidade adota o regime de competência para fa-
27 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
zer o registro das operações. Por esse regime, as despesas e receitas devem ser registradas
com base no fato gerador do evento (quando ela surgiu) e não quando ocorre a movimenta-
ção financeira (pagamento da despesa ou recebimento da receita).
Dessa forma, é possível, como no exemplo apresentado, que a empresa tenha dinheiro em
caixa e apresente prejuízo ou, de forma contrária, não tenha dinheiro em caixa e ainda sim
possa auferir lucros. Pode-se afirmar, então, sem sombra de dúvidas, que lucro não é caixa
e vice-versa.
INFORMAÇÃO EXTRA
Controle de estoque
É evidente que todas as contas contábeis devem ser acompanhadas e, em maior ou menor
grau, podem auxiliar o gestor na tomada de decisão. Há que se considerar, porém, que
algumas contas representam pontos nevrálgicos no desempenho do negócio. Uma dessas
contas contábeis é o estoque de mercadorias.
Numa empresa comercial, comprar e vender mercadorias representa a atividade fim, o seu
objeto de negócio. Por essa razão, a conta estoque de mercadorias é sempre bastante mo-
vimentada e, geralmente, registra valores significativos nos lançamentos contábeis, se com-
parada com outras operações realizadas pela empresa.
Além disso, deve-se levar em consideração, também, os aspectos tributários. Boa parte dos
tributos tem como fato gerador a venda (ICMS, PIS e COFINS, por exemplo) e outros sobre o
lucro (IRPJ e CSLL).
A fim de controlar os estoques de produtos, dois métodos são adotados no Brasil: o método
Primeiro que Entra, Primeiro que Sai (PEPS) e o custo médio. Para analisar melhor, observe
o exemplo a seguir:
NA PRÁTICA
Decorridos cinco dias após essa compra, a empresa adquiriu de outro fornecedor ou-
tras 50 unidades do mesmo produto, a prazo. O valor total da compra foi R$ 5.250,00.
O lançamento para esse registro seria:
Isso vai depender do método escolhido para controlar os estoques. Veja como ficaria
o resultado em cada situação.
a) Método PEPS
Produtos adquiridos:
Total 90 9.250,00
30 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Venda de 70 produtos:
Nesse caso, o lucro bruto apurado na transação seria o valor da venda menos o CMV,
ou seja:
Tomando por base o mesmo exemplo do método anterior, veja agora como fica o con-
trole, caso a empresa opte pelo método do custo médio.
31 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Produtos adquiridos:
Pelo método do custo médio, deve-se considerar os preços unitários médios quando
se realiza uma venda. Nesse caso, é preciso dividir o custo total de aquisição pela
quantidade de produtos adquiridos.
VOCÊ SABIA?
Existe também o método último que entra primeiro que sai (ueps). Mas esse método
não é aceito no brasil, pois, numa situação de inflação, a cada nova compra, o preço
fica mais alto. Sendo assim, se os últimos preços saem primeiro, o cmv tende a ser
mais alto, reduzindo o lucro da empresa. Nesse caso, as empresas recolheriam menos
tributos ao fisco.
32 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
UNIDADE 3
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS –
BALANÇO PATRIMONIAL E DEMONSTRAÇÃO
DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
Balanço patrimonial
No intuito de prestar auxílio aos diversos usuários que necessitam de informações econô-
micas e financeiras das empresas, a contabilidade se utiliza de demonstrativos contábeis.
Afinal, o objetivo essencial da contabilidade é prover aos usuários informações úteis para a
tomada de decisão.
E como fazer para que essas informações estejam disponíveis para os usuários? Como fazê-
-las chegar até eles?
Existem muitos canais de comunicação da empresa com esses usuários. O Relatório da Ad-
ministração, que traz a apresentação de fatos relevantes, formulário de referência, entre
outros itens, é um deles. Mas a forma principal de evidenciação dos resultados alcançados
pela empresa é por meio de Demonstrativos Contábeis. E isso precisa ser feito com regula-
ridade, afinal, a maior parte dos usuários da contabilidade é externa, ou seja, não estão no
dia a dia da empresa.
Como não é possível retratar todos os aspectos relevantes da empresa num único demons-
trativo, tem-se um conjunto deles. Esse conjunto de demonstrativos é denominado de “De-
monstrações Contábeis”.
O Balanço Patrimonial por certo é o mais conhecido e famoso desses demonstrativos con-
tábeis, mas não é o único a ser elaborado e evidenciado pelas empresas. Há também a
Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Lí-
quido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa, a Demonstração do Valor Adicionado, além de
notas explicativas e pareceres de auditoria e, também, em alguns casos, o parecer do con-
selho fiscal. Nesse sentido, conhecer a composição e estrutura desses relatórios é condição
fundamental para um completo entendimento da importância da ciência contábil para o
mundo dos negócios.
33 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Balanço Patrimonial
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE CIRCULANTE
Investimentos
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Imobilizado
Intangível
A linha divisória entre curto prazo e longo prazo fundamenta-se no exercício social1, ou seja,
eventos cuja realização ocorra até o final do exercício seguinte devem ser classificados no
circulante e eventos com prazo de realização superior a este devem ser classificados no ati-
vo não circulante.
1 Exercício social representa o período de apuração dos resultados alcançados por uma empresa num
determinado período. De modo geral, o exercício social praticado pelas empresas é de um ano.
34 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Ativo circulante
Nesse grupo de contas deve-se classificar primeiramente a conta caixa e todas as demais
contas consideradas como equivalentes de caixa. Mas o que são equivalentes de caixa?
Não se pode esquecer de que caixa representa o dinheiro em espécie, que está fisicamente
na empresa (na caixa registradora, no cofre ou na gaveta, por exemplo). Se o dinheiro estiver
numa conta corrente em nome da empresa, esse valor não representa caixa. No entanto,
está tão facilmente disponível quanto o dinheiro em espécie. Basta emitir um cheque ou
utilizar o cartão de débito, ou seja, é igualmente possível comprar artigos de interesse ou
fazer pagamentos. Nesse caso, o dinheiro em banco representa um equivalente de caixa.
Aplicações financeiras, como caderneta de poupança, por exemplo, também representam
um equivalente de caixa.
Além do caixa e dos equivalentes de caixa, no ativo circulante aparecem, também, os es-
toques de mercadorias. Nesse momento, os produtos que a empresa comprou não repre-
sentam dinheiro em espécie (caixa). Porém, brevemente serão. Tão logo haja a venda, a
empresa os substituirá por caixa.
Desse entendimento surge uma questão: mas e se a venda for a prazo? Nesse caso, não
haveria troca de mercadorias por dinheiro. Isso é fato. No entanto, tão logo se complete o
prazo concedido pela empresa, o cliente deixará na empresa o valor correspondente em
dinheiro. Sendo assim, os valores a receber também fazem parte do ativo circulante.
Quando uma empresa adquire bens com o intuito de utilizá-los nas suas atividades normais,
esses ativos devem ser classificados no subgrupo Imobilizado. São variados os exemplos de
ativos: veículos, móveis e utensílios, máquinas e equipamentos, computadores e periféricos,
35 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
entre outros. Basta que a sua utilização esteja associada direta ou indiretamente às ativida-
des operacionais da empresa que se caracteriza como um ativo imobilizado.
Pela utilização desses ativos no dia a dia da empresa, é natural que sofram desgaste e,
consequentemente, cheguem ao final de sua vida útil. Por essa razão é que esses ativos so-
frem depreciação2. No entanto, é difícil medir o desgaste de um ativo. Por essa razão é que
existem variados métodos criados na tentativa de buscar uma medida que represente esse
desgaste e perda de valor.
Alguns métodos são mais arbitrários que outros. No Brasil, o método largamente utilizado é
denominado “método linear” (também conhecido como “linha reta” ou “cotas constantes”).
Para uma melhor compreensão do cálculo desse método, considere que uma empresa ad-
quiriu um ativo no valor de R$ 10.000,00.
Por esse método você deve considerar uma vida útil estimada e calcular uma depreciação
proporcional para todo o período. Vida útil seria o tempo em que o ativo teria condições de
funcionamento até se transformar numa sucata. Nesse caso, se o ativo tivesse uma vida útil
de cinco anos, pelo método de depreciação linear, o cálculo seria: valor do ativo dividido pela
vida útil estimada desse ativo.
Ano 0 Imobilizado
Máquinas............................ 10.000,00
Imobilizado
Ano 1
Máquinas............................ 10.000,00
2 Depreciação representa a perda de valor contábil de um bem pelo seu uso, desgaste ou
obsolescência.
36 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Imobilizado
Ano 2
Máquinas............................ 10.000,00
Imobilizado
Ano 3
Máquinas............................ 10.000,00
Imobilizado
Ano 4
Máquinas............................ 10.000,00
Imobilizado
Ano 5
Máquinas............................ 10.000,00
Nesse caso, ao final do quinto ano, a máquina não apresentaria valor contábil e deveria ser
retirada do patrimônio da empresa até pela ideia de que não traria mais benefícios.
A adoção das normas internacionais pelas empresas brasileiras passou a considerar dois
aspectos importantes:
2. A necessidade de se estimar um valor residual, que seria um valor contábil final que
representaria o valor pelo qual esse ativo seria vendido.
O último subgrupo de contas do ativo não circulante é o Intangível. Nele estão inseridos
os bens incorpóreos que, apesar dessa característica, trazem benefício econômico para as
empresas. Os exemplos mais clássicos de contas classificáveis nesse grupo são as marcas
e patentes. No entanto, cada vez mais o número de ativos classificáveis nesse subgrupo
aumenta. Contratos de concessão, softwares, direitos de usos e processos, direitos autorais,
entre outros são exemplos de ativos invisíveis nos quais as empresas podem gerar receitas
a partir de sua utilização.
Passivo
Essa parte do balanço patrimonial reúne as obrigações da empresa assumidas com outras
pessoas físicas ou jurídicas nas suas relações comerciais e financeiras. As obrigações mais
comuns que as empresas assumem são:
Se tais obrigações ocorrerem até o final do exercício social seguinte, devem ser classificadas
no circulante. Caso contrário, serão alocadas no passivo não circulante.
38 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Patrimônio líquido
O grupo de contas do patrimônio líquido reúne as obrigações próprias da empresa, ou seja,
as obrigações que a empresa (pessoa jurídica) tem com as pessoas (físicas ou jurídicas) que
a constituíram.
A primeira conta do patrimônio líquido é o capital social, que representa o investimento ini-
cial aplicado pelos sócios ou acionistas para começar as atividades da empresa. Esse grupo
de contas é composto, ainda, pelas reservas. Estas podem advir do resultado das operações
normais da empresa (reservas de lucro) ou, ainda, de negociações de ações e outros títulos
mobiliários (reservas de capital).
Por conta das normas internacionais de contabilidade, o patrimônio líquido contém tam-
bém a conta ajustes de avaliação patrimonial que representa a contrapartida de ativos e/
ou passivos que tiveram seu valor contábil ajustado pela concepção de registro pelo valor
justo. Esse grupo de contas é completado ainda com as contas ações em tesouraria e Pre-
juízo Acumulado. Essas contas aparecerão somente em situações específicas e (espera-se)
por período breve.
É com essa composição de grupos de contas e com regras bastante claras para a classifi-
cação destas contas nos grupos específicos que o Balanço Patrimonial apresenta sintetica-
mente, e numa data específica, a condição patrimonial e financeira da empresa.
= Resultado bruto
(-) Administrativas
= Resultado Líquido
*Tributos sobre o lucro: Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Como se pode observar, a DRE começa pela receita líquida de vendas e a primeira apuração
ocorre deduzindo-se o CMV, como foi visto na unidade anterior, quando foi discorrido sobre
controle de estoques. O resultado dessa primeira subtração recebe o nome de “resultado
bruto”, por considerar apenas o que a empresa “ganhou” nas vendas realizadas no período
em relação aos “gastos” para aquisição desses produtos. Genericamente, compara venda
com compra.
Sabe-se, no entanto, que a conta nunca é tão simples assim. Para realizar as atividades de
compra e venda, as empresas fazem diversas despesas. São as denominadas “despesas
operacionais”. Estas despesas geralmente são registradas em grupos de gastos semelhantes
e são realizadas para manter a estrutura das atividades normais da empresa.
As classificações mais comuns são despesas gerais e administrativas, que reúnem contas
como salários, aluguel, água, luz, telefone, entre outros, e despesas com vendas, que con-
templa as despesas associadas à atividade comercial de vendas, como fretes, comissões
sobre vendas, gastos com marketing, entre outros.
40 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
As despesas e receitas financeiras são um capítulo à parte na composição da DRE. Elas não
são classificadas como operacionais porque não guardam relação com a atividade da em-
presa. No entanto, as empresas de modo geral, na realização de suas atividades industriais
e comerciais, utilizam o sistema financeiro e, por essa razão, podem arcar com despesas
financeiras (pagamento de juros, concessão de descontos financeiros e pagamento de tribu-
tos, como o Imposto Sobre Operações Financeiras – IOF), assim como podem se beneficiar e
gerar receitas financeiras (obtenção de descontos e cobrança de juros). Nesse caso, deve-se
confrontar o total das receitas financeiras com o total das despesas financeiras de um perí-
odo e apresentar o resultado líquido na DRE.
Por fim, calculam-se os tributos incidentes sobre o lucro, a saber, o IRPJ e a CSLL. Todo esse
cálculo tem como objetivo apurar o resultado líquido do período, a última linha na compo-
sição da DRE.
UNIDADE 4:
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS: DEMONSTRA-
ÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E DEMONSTRAÇÃO DAS MUTA-
ÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO
O lucro apurado pela empresa em determinado período pode ser distribuído para os acio-
nistas (dividendos). Pode também ser retido na empresa por conta de investimentos e ações
específicas que se queira fazer no futuro ou, ainda, pode ser reinvestido na empresa. Nesse
caso, parte do lucro é incorporada ao capital social.
VOCÊ SABIA?
Todas as companhias de capital aberto são obrigadas a constituir uma reserva para
fins de proteção aos seus acionistas minoritários. O nome dessa reserva é “reserva
legal”. Dessa forma, na maioria das vezes, a empresa não pode distribuir todo o seu
lucro aos acionistas sem destinar 5% do seu valor a título de reserva legal. Uma das
situações em que a empresa fica desobrigada a fazê-lo é o caso de o valor destinado a
essa conta atingir 20% do valor do capital social da empresa.
A demonstração das mutações do patrimônio líquido tem como objetivo apresentar as va-
riações ocorridas em cada uma das contas do grupo, evidenciando seu saldo inicial, as mo-
dificações no período e seu saldo final.
42 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
A fim de compreender melhor as mudanças que podem ocorrer nas contas do patrimônio
líquido, que são passíveis de apresentação e explicação na DMPL, veja a seguir uma breve
explanação das contas pertencentes ao patrimônio líquido.
Capital social
Esta conta reúne o investimento inicial feito pelos sócios ou acionistas para início das ativi-
dades da empresa. A ela são incorporadas novas integralizações e/ou incorporações feitas
ao capital.
VOCÊ SABIA?
Reservas de capital
São fundos constituídos pela empresa que não derivam das suas atividades normais. Elas
surgem de transações no mercado financeiro e que podem gerar recursos para as empre-
sas, devendo constar no patrimônio líquido. As reservas de capital originam-se de:
■ Ágio na emissão de ações: acréscimo de valor pago pelo acionista em relação ao valor
nominal da ação.
Reservas de lucro
Além das reservas de capital, existem também as reservas de lucro que, tais como aquelas,
também representam fundos constituídos pela empresa. A diferença é que esses fundos
são constituídos a partir dos lucros que a empresa apurou no período. As principais reservas
de lucro são:
■ Reserva legal: instituída com o objetivo de dar garantias ao capital social da empresa.
Como o próprio nome sugere, sua constituição é obrigatória. A lei exige sua constitui-
ção. A alíquota para retenção é de 5% do lucro. A sua destinação cessará quando o va-
lor dessa conta atingir 20% do capital social ou quando o seu saldo, somado às demais
reservas de capital, atingir 30% do capital social.
Com base no exemplo, pode-se observar que, apesar de a empresa apresentar um lucro de
R$280.000,00, ela só tem R$ 50.000,00 em caixa. Isso ocorre por conta do regime de com-
petência.
Despesas e receitas são registradas com base no fato gerador do evento e não com base na
movimentação financeira. Nesse caso, a empresa não tem como distribuir dividendos aos
acionistas porque uma parcela significativa do lucro ainda não foi convertida em dinheiro,
ou seja, ainda não foi transformado em caixa. Eis a razão para a constituição dessa reserva. É
evidente que, na medida em que a conversão do lucro ocorrer, isto é, o lucro se transformar
em dinheiro, aí sim a empresa deveria distribuir os dividendos acordados.
Agora que você estudou brevemente as contas que compõem o patrimônio líquido, veja um
modelo simplificado da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). Como
dito anteriormente, essa demonstração apresenta sucintamente a movimentação ocorrida
nas contas, a fim de visualizar seus saldos iniciais e finais.
É evidente que esse demonstrativo contábil pode ser mais simples ou mais complexo, de-
pendendo da quantidade e da variedade de operações que a empresa realizou no período
que impactaram (positiva ou negativamente) o saldo das contas do patrimônio líquido.
Uma empresa apresentava um patrimônio líquido que continha Capital Social com R$
120.000,00 e reserva legal com R$ 10.000,00.
No exercício atual ela obteve um lucro de R$ 200.000,00 e após a destinação da reserva legal
(obrigatória) o distribuiu da seguinte forma: 50% para dividendos e 50% para reserva para
expansão. Veja na demonstração a seguir.
Ajustes de exercí-
cios anteriores
Reversão de
reservas
Lucro Líquido do
200.000,00 200.000,00
período
Distribuição
200.000,00
proposta
Reserva
95.000,00 (95.000,00)
para expansão
Reserva de lucros
a realizar
Dividendos a
(95.000,00) (95.000,00)
distribuir
Os valores são evidenciados em cada linha e coluna. O saldo inicial (primeira linha) apresen-
ta os valores do ano anterior. O saldo final (última linha) o resultado final que será transpor-
tado para a DMPL do próximo ano. Ao final, a soma da última linha da demonstração precisa
somar o mesmo valor da soma da última coluna. A coluna do total.
46 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
■ Fluxo Operacional.
■ Fluxo de Investimentos.
■ Fluxo de Financiamento.
Esse fluxo procura evidenciar a movimentação financeira ocorrida nas atividades rotineiras
da empresa. Qual o volume de recursos que a empresa acumulou no período em função das
vendas de suas mercadorias e produtos? Por outro lado, qual foi o montante de recursos
gastos na compra desses mesmos produtos?
É evidente que o fluxo de recursos não pode ser explicado somente pelas compras e vendas.
Há toda uma estrutura necessária para manter o ritmo das operações e garantir a continui-
dade das atividades. Por essa razão é que o fluxo de caixa operacional também evidencia os
recursos gastos nas despesas operacionais da empresa.
Conhecer esses montantes fornece razoável condição para que os usuários tenham possibi-
lidade de realizar uma análise aprofundada da situação operacional da empresa.
Esse fluxo relaciona-se com o ativo não circulante do Balanço Patrimonial. É que nesse gru-
po de contas do balanço que ficam registradas aquelas contas de caráter mais duradouro
no patrimônio. São contas relacionadas com o longo prazo.
Ocorre que ativos e passivos podem também sofrer alterações em seus valores contábeis
por conta de sua mensuração pelo valor justo, que pode apresentar resultado diferente do
valor contábil líquido. Nesse caso, haverá variação do saldo da conta, mas não ocorrerá mo-
vimentação financeira.
47 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE FINANCEIRA
Não se pode esquecer de que a DFC trabalha pelo regime de caixa e, portanto, registra
apenas eventos que implicaram na entrada e/ou saída de dinheiro. O foco da DFC reside na
movimentação financeira.
O último fluxo da DFC é o de financiamento. Esse fluxo procura evidenciar uma questão
básica nos negócios: Quem paga a conta? Ou melhor, dizendo, quem financia as operações?
Seja nas atividades de curto prazo (retratadas no fluxo de caixa operacional), seja nas ações
de longo prazo (delineadas no fluxo de caixa de investimentos), é preciso evidenciar de onde
vieram os recursos que ajudaram a movimentar esses fluxos. Nesse sentido, o fluxo de cai-
xa de financiamento associa-se com o passivo exigível e o patrimônio líquido, visto que são
esses grupos de contas do balanço patrimonial que evidenciam as obrigações da empresa,
ou seja, as origens de recursos.
INFORMAÇÃO EXTRA
O conjunto de demonstrativos contábeis não fica completo sem que se tenha um texto
adicional para explicar mais detalhadamente os números apresentados nas demons-
trações. Na maioria das vezes, os números são insuficientes para esclarecer uma situ-
ação. É preciso texto para completar a ideia. Esse é o objetivo das notas explicativas:
oferecer informação adicional aos números contábeis contidos nos demonstrativos.
Algumas das questões que se pode suscitar ao observar os números dos demonstra-
tivos contábeis são: Como se chegou a esse valor? Qual foi o critério de mensuração?
Qual foi a taxa de câmbio utilizada? Qual método de controle foi aplicado?
RESUMO
Neste módulo foram analisados alguns princípios fundamentais de contabilidade, enfati-
zando a qualidade da informação que a contabilidade presta a seus usuários. Foi visto que
a evidenciação dessas informações deve traduzir a realidade econômica da empresa e, por-
tanto, precisam ser mensurados com critérios adequados e demonstrados nos relatórios de
forma sistemática e resumida.
DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS E SUAS
EVIDENCIAÇÕES
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Você estudou no módulo anterior os principais demonstrativos contábeis pelos quais as em-
presas divulgam os seus resultados operacionais, a sua estrutura patrimonial e a sua condição
financeira.
Por essa razão é que se faz a análise financeira dos demonstrativos contábeis. Eles permitem
uma consistência analítica das reais condições do negócio a partir da comparação de dados
dos vários demonstrativos.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao concluir esse módulo, você estará apto a:
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
MENSURAÇÃO DE ATIVOS E PASSIVOS
Antes de sair para o trabalho, Rodrigo viu seu pai muito concentrado olhando pla-
nilhas e informações de economia na internet. A curiosidade falou mais alto e ele
voltou dirigindo-se ao seu pai: “O que você tanto olha com atenção?”.
Seu pai, então, fez um sinal para que ele se aproximasse. Rodrigo sentou-se ao seu
lado e então ele disse: “Tenho certa quantia em dinheiro e gostaria de adquirir ações
de uma dessas empresas”, falou já apresentando os demonstrativos contábeis das
empresas.
Enquanto Rodrigo apreciava os dados, seu pai o questionava: “Como saber qual
empresa está em melhores condições financeiras? Que critérios eu devo utilizar para
concretizar minha escolha? Será que esses valores aí retratados efetivamente de-
monstram a realidade das empresas?”.
Rodrigo mexeu a cabeça e, fazendo uma expressão de dúvida, prometeu ao seu pai:
“Vou levar essas informações ao pessoal da contabilidade da minha empresa para
que eles façam uma avaliação. Depois conto os detalhes”.
Imagine que as informações que estavam sendo analisadas pelo pai de Rodrigo estejam
sucintamente apresentadas nos dados a seguir:
53 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
A partir da análise dos dados, como é possível responder aos questionamentos que o pai de
Rodrigo apresenta?
Na unidade anterior foi apresentado que as informações contábeis precisam ser úteis para
a tomada de decisões e que a contabilidade, por meio de seus princípios, normas e regras,
contém os instrumentos necessários para garantir a eficácia dessa utilidade.
Para que a informação seja útil, ela precisa ser confiável e relevante. Nesse sentido, os com-
ponentes patrimoniais devem ser registrados e evidenciados por um valor que reflita a reali-
dade econômica que ele apresenta. Na contextualização anterior, essa foi uma das questões
levantadas pelo pai de Rodrigo: será que esses valores aí retratados efetivamente demons-
tram a realidade das empresas?
Nesse sentido, é fundamental compreender a forma pela qual a empresa mensura seus ati-
vos e passivos. Esses componentes patrimoniais devem expressar a essência econômica do
evento e os valores ali apresentados devem ser calculados e registrados com critérios claros
e em obediência às normas contábeis, para que garantam confiabilidade e relevância.
Quando a empresa adquire um ativo (um imóvel, uma máquina ou um veículo, por exemplo),
ela acorda um valor com o vendedor, comprometendo-se a pagar. Nesse caso, esse novo
ativo –agora incorporado ao patrimônio da empresa – deve ser registrado pelo seu valor de
compra. Registra-se, então, o ativo pelo seu valor de custo de aquisição e, da mesma forma,
registra-se a obrigação (caso a transação não tenha sido à vista) pelo valor combinado e nas
condições acordadas entre comprador e vendedor.
Tem-se, nesse momento, a medida de mensuração mais utilizada pelas empresas, que é o
custo histórico como registro da operação. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC) de Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação do Relatório Contá-
bil Financeiro, em seu item 4.55, letra A, o custo histórico ocorre quando:
Pode acontecer, no entanto, que, com o passar do tempo, o preço para comprar um produto
similar ao que a empresa possui venha a ficar diferente daquele valor adquirido pela empre-
55 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
sa na data de compra. Nesse caso, seria necessário atualizá-lo. Para tanto, o pronunciamen-
to contábil apresenta ainda outra medida de mensuração: o custo corrente de reposição. Ele
é representado da seguinte forma:
Os ativos são mantidos pelos montantes Os passivos são reconhecidos pelos mon-
em caixa ou equivalentes de caixa que te- tantes em caixa ou equivalentes de caixa,
riam de ser pagos se esses mesmos ativos não descontados, que seriam necessá-
ou ativos equivalentes fossem adquiridos rios para liquidar a obrigação na data
na data do balanço. do balanço.
Observe que, nesse caso, a base temporal de medida é a data do fechamento do balanço
(geralmente 31 de dezembro) e não a efetiva data do evento. Nesse caso, haveria, hipoteti-
camente, um ajuste do valor entre a data de compra e a data de fechamento do exercício so-
cial ao se analisar o custo de comprar, na data do balanço, um ativo nas mesmas condições
daquele que está operando na empresa.
Ocorre que tanto o custo histórico quanto o custo corrente de reposição levam em con-
sideração o valor de entrada, ou seja, os componentes patrimoniais ativos e passivos são
registrados no balanço pelo preço necessário para a aquisição do produto. Entretanto, há
medidas que consideram não o valor de compra, mas, sim, o preço de venda. Esse é o caso,
por exemplo, do valor realizável de vendas, que considera, no caso dos ativos, os valores
pelos quais esse ativo poderia ser trocado por caixa e os passivos pelo montante a ser pago
para a liquidação da obrigação.
Toda a discussão em torno dos critérios de mensuração de ativos e passivos tem como
pano de fundo a expectativa de melhor retratar a condição econômica da empresa. Tem-se
a preocupação de que os valores do balanço e dos demais demonstrativos contábeis não
representem uma ficção, mas, sim, algo próximo da realidade econômica.
Por conta dessa busca pelo valor que melhor expressa a realidade econômica do patrimônio
é que atualmente o critério de registro de ativos e passivos pauta-se pelo valor justo.
O CPC 46, cujo tema é a mensuração do valor justo, apresenta a seguinte definição:
Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago
pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes
do mercado na data de mensuração
O valor justo representa um valor de saída e indica o montante de valor de caixa que ele
pode gerar para a empresa. Representa uma forma de mensuração mais recente que o cus-
56 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
to histórico e que surgiu pela necessidade de se buscar formas de medir ativos e passivos
com valores mais próximos da realidade econômica naquele momento.
Uma pergunta que se pode fazer nesse momento seria: Mas como saber o valor que eu re-
ceberia ou pagaria em dinheiro pelos ativos e passivos que possuo nesse exato momento?
A resposta a essa pergunta é relativamente simples: é preciso perguntar aos compradores e
aos vendedores por quanto eles negociariam. Nesse caso, é preciso fazer uma consulta ao
mercado, ou seja, é necessário fazer uma pesquisa a fim de saber o valor justo do ativo ou
passivo.
A empresa tem autonomia para escolher a forma e o método de consulta, mas deve fazê-lo
pelo menos uma vez a cada exercício social. Ao fazer essa consulta, ela estará averiguando
se os valores contábeis de seus ativos e passivos presentes no seu balanço patrimonial es-
tão coerentes com os valores que esses mesmos ativos e passivos estão sendo negociados
por outras empresas no mercado no presente momento.
Na verdade, essa pesquisa é feita para testar a veracidade e coerência dos valores contá-
beis. Trata-se do teste de recuperabilidade (ou impairment test), ou seja, o teste de redução
ao valor recuperável de ativos. Nesse caso, é preciso entender os conceitos associados que
estão presentes no CPC 1, que trata do valor recuperável do ativo.
TOME NOTA
3 O CPC 22, que trata do tema “Informações por Segmento”, define segmento operacional como
uma unidade do negócio que desenvolve negócios independentes que geram resultado e para o qual
haja informação financeira individualizada.
57 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
NA PRÁTICA
Uma empresa adquiriu uma máquina no ano 0 pelo valor de R$ 200.000,00. Espera per-
manecer com o ativo por quatro anos e, definindo um valor residual de R$ 120.000,00,
escolhe o método de depreciação linear para realizar o ajuste contábil do ativo.
O valor contábil é superior ao valor negociado pelo mercado. Apresentar esse valor
no balanço não representa a realidade econômica, visto que um usuário vai entender
que, com aquela máquina, caso a empresa decida vendê-la, conseguirá R$180.000,00,
o que não é verdade. O ativo está desvalorizado porque o seu valor contábil excede ao
valor recuperável, ou seja, a empresa não consegue trocar o valor contábil pelo valor
equivalente em caixa.
Para retratar a realidade econômica, a empresa deve colocar no seu balanço o valor
de R$150.000,00 (preço negociado no mercado) e recalcular a depreciação para os
períodos seguintes. Esse seria, então, o valor justo da máquina e ofereceria aos usuá-
rios externos uma representação fidedigna das condições de mercado e do real valor
patrimonial do ativo.
Se por outro lado, ao realizar o teste de recuperabilidade (impairment test), o valor negocia-
do no mercado for superior ao valor contábil, nenhuma alteração deverá ser feita, visto que,
se o mercado negocia o ativo a um preço superior, o valor contábil daquele ativo “recupera”
59 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
o valor evidenciado no balanço e, portanto, não implica apresentar o valor que não esteja
coerente com a realidade econômica.
Por fim, é importante ressaltar que o valor em uso difere do valor justo porque este último
refere-se a terceiros (participantes do mercado) e o valor em uso remete a uma condição
interna da empresa que pode não ser aplicável ao mercado em geral. É a empresa que, em
suas condições normais, estima os fluxos de caixa futuro. Outras empresas, ao calcular o
valor em uso, por certo o fariam de forma diferente porque as condições seriam diferentes.
Portanto, para que o teste de recuperabilidade ocasione uma redução do valor a ser divul-
gado no Balanço Patrimonial, o valor recuperável precisa ser menor que o valor justo e o
valor em uso.
UNIDADE 2
INDICADORES DE LIQUIDEZ E ENDIVIDAMENTO
■ De forma vertical.
■ De forma horizontal.
ATIVO CIRCULANTE R$
Clientes 16.000,00
TOTAL 74.000,00
Dessa forma, se for dividido o valor dos estoques pelo total do ativo circulante, será possível
encontrar o total de participação dessa conta no grupo ao qual ela pertence.
Pode-se verificar que a participação dos estoques no grupo do ativo circulante tem crescido
nos últimos exercícios, alcançando uma diferença significativa de 2014 para 2015. Assim
ocorre na análise horizontal.
Há, por exemplo, um conjunto de indicadores utilizados para medir a liquidez da empresa,
ou seja, a capacidade que a empresa tem para quitar as dívidas que assumiu nos prazos
previamente acordados. Uma série de questionamentos envolve a utilizados desse indica-
dor: Os recursos são suficientes? Será que as dívidas são muito altas? Quando elas vencem?
Indicadores de liquidez
Os principais indicadores de liquidez são:
■ Liquidez imediata.
■ Liquidez corrente.
■ Liquidez seca.
■ Liquidez geral.
Esses indicadores são utilizados para medir a capacidade da empresa em quitar as suas dí-
vidas em relação a prazos específicos. A figura a seguir mostra uma composição de tempo
com base num exercício social com duração de um ano, ou trezentos e sessenta dias.
62 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
CURTÍSSIMO PRAZO
CURTO PRAZO
LONGO PRAZO
Sabe-se que as obrigações com terceiros devem ser quitadas antes das obrigações com os
sócios. Por outro lado, os recursos para pagar tais obrigações devem vir do ativo circulante.
Sendo assim, as análises de liquidez comparam valores do ativo circulante em relação aos
valores do passivo circulante. A única exceção é a liquidez geral como será visto mais adian-
te.
A fim de melhor analisar cada indicador, será utilizada a estrutura patrimonial a seguir como
referência dos cálculos dos indicadores.
ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 650.000,00 Circulante 630.000,00
Investimentos
1.000.000,00
Imobilizado
300.000,00
Intangível
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.670.000,00
TOTAL 2.500.000,00 2.500.000,00
A liquidez imediata, como o próprio título sugere, mede a capacidade de quitação de dívi-
das com terceiros no presente momento ou num curtíssimo espaço de tempo. Nesse senti-
do, compara o valor de caixa e equivalentes em relação ao total de obrigações com terceiros.
Significa, então, que, para cada real de dívida, a empresa dispõe de R$ 0,22 para quitação
imediata.
Esse indicador deve ser analisado sob a perspectiva de que a empresa precisa manter dinhei-
ro em caixa para pagar compromissos com data de vencimento muito próxima, para cobrir
gastos eventuais ou, até mesmo, para aproveitar oportunidades que surgem. No entanto,
não faz sentido manter esse indicador com resultados muito altos porque pode indicar má
gestão dos recursos. Sendo assim, se uma empresa apresenta como resultado do cálculo da
liquidez imediata o valor de R$1,20, por exemplo, pode-se questionar: Por que manter tanto
recurso em caixa se nem todas as dívidas deverão ser quitadas imediatamente? Por que não
aplicar parte desses recursos na produção?
De fato, nem sempre a empresa tem necessidade de pagar todas as dívidas assumidas ime-
diatamente. Nesse caso, há outro indicador, o quociente de liquidez corrente. Ele é mais
abrangente que a liquidez imediata porque não considera apenas o caixa, mas, sim, todo o
ativo circulante. O resultado do cálculo da liquidez corrente, tomando como base o exemplo
apresentado, é:
Nesse caso, o resultado aponta que, para cada real de dívida que compõe o passivo circulan-
te, a empresa apresenta R$1,03 para pagamento. Sendo assim, os recursos dos ativos são
suficientes para pagar todo o passivo e, para cada real pago, sobram R$ 0,03.
64 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Outro indicador de medida de liquidez é a liquidez seca cuja diferença básica da liquidez
corrente é a retirada dos estoques do cálculo. Esse indicador pode ser útil para medir a ca-
pacidade de pagamento de dívidas em ocasiões nas quais a empresa tem dificuldades de es-
coamento do estoque em função de retração econômica, de redução do volume de vendas
ou qualquer outro evento que tenha impacto significativo sobre os estoques.
O indicador, com base nos dados de referência do exemplo, traria o seguinte resultado:
Todos os indicadores analisados até agora se focam no curto prazo. Mas há também a possi-
bilidade de análise de liquidez no longo prazo. Nesse caso, utiliza-se o indicador de liquidez
geral.
Para calcular a liquidez geral, é necessário considerar, além dos ativos e passivos circulantes,
também os seus correspondentes não circulantes. Ocorre que, no caso do ativo, só deve-se
considerar o subgrupo Realizável a Longo Prazo. O cálculo ficaria da seguinte forma:
O resultado apurado é R$ 0,84 (valor arredondado), o que indica que a liquidez da empresa
no longo prazo é de R$ 0,84 para cada real de dívida.
Num primeiro momento, pode-se entender, que para um indicador de liquidez, quanto mais
alto for o seu resultado, melhor será para a empresa. No entanto, isso não representa a ver-
dade em todas as situações. Há certos limites que podem variar de empresa para empresa
e de acordo com o segmento de atuação para que isso indique má gestão dos recursos. Por
exemplo, se o resultado de uma liquidez imediata é superior a R$ 1,00, entende-se que há
muito recurso em caixa. Então, pode-se questionar por que tais recursos não são aplicados
à produção.
65 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Se for tomado por base um índice de liquidez corrente, por exemplo, para considerá-
-lo positivo, seu resultado precisa apresentar um valor superior a r$1,00. Um resulta-
do menor do que esse indica que o passivo circulante é maior do que o ativo circu-
lante, o que, a princípio, não é bom. Nesse sentido, entende-se que, quanto maior for
o resultado desse índice, melhor. Mas até que ponto um índice de liquidez corrente
extremamente alto é bom? Veja a situação apresentada a seguir e reflita sobre a
liquidez corrente que ela evidencia:
Índices de endividamento
Numa linguagem contábil e financeira, o passivo pode ser denominado “capital de terceiros”
e, o patrimônio líquido, “capital próprio”. Por essa razão, os indicadores de endividamento
que analisam basicamente a estrutura desses dois grupos de conta são também denomina-
dos “índices de estrutura de capital”.
O objetivo básico desses indicadores é evidenciar a forma como a empresa obtém os recur-
sos para gerir o negócio. Nesse sentido, pode-se calcular a participação do capital de ter-
ceiros no conjunto das obrigações da empresa. Para tanto, basta dividir o total do passivo
(circulante + não circulante) pela soma do total das obrigações.
Para apresentar os cálculos desses indicadores, foi utilizado o mesmo exemplo de demons-
trativo contábil aplicado aos indicadores de liquidez:
Desse modo, entende-se que, no montante das obrigações da empresa, 25,20% delas refe-
rem-se a obrigações assumidas com terceiros e 74,80% referem-se a obrigações próprias.
Embora não seja uma regra geral, entende-se que não se deve pesar muito determinado
tipo de obrigação em detrimento de outra. Nesse caso, um equilíbrio entre essas duas fon-
tes de recursos é benéfico e, quase sempre, valores próximos a 50% de ambas as participa-
ções demonstram que a empresa possui uma boa estrutura de capital.
Esse resultado aponta que 75,90% das obrigações assumidas com terceiros deverão ser qui-
tadas até o término do exercício social seguinte, ou seja, no curto prazo.
a estrutura de capital da empresa, trazem informações relevantes e que podem ser úteis
numa avaliação de um negócio. Eles representam um importante balizador na análise por
quocientes, mas não são os únicos. Há também outros conjuntos de indicadores igualmente
relevantes. Serão apresentados mais dois desses conjuntos de indicadores na próxima uni-
dade deste módulo.
UNIDADE 3
INDICADORES DE MARGEM E RENTABILIDADE
Indicadores de margem
Não há como negar que os lucros apurados pelas empresas representam um importante
dado de análise. Medir a margem desse lucro em relação ao total de vendas e associado ao
volume de produção pode indicar se a empresa está fazendo bom uso dos recursos que tem
à disposição e, além disso, pode dar pistas de se é ainda possível melhorá-lo. Nesse caso, há
vários indicadores para medir e analisar a lucratividade da organização.
O indicador de lucratividade mais abrangente é a margem bruta. Esse indicador faz uma
análise do volume de receitas líquidas em face aos custos de produção numa indústria ou
de comercialização no comércio.
68 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Além disso, Assaf Neto (2014) lembra que uma empresa pode ter uma margem operacional
positiva, mas apresenta um endividamento alto e terá que arcar com juros desses financia-
mentos e isso pode reduzir sensivelmente o lucro. O autor apresenta, ainda, uma situação
em que a empresa pode ter lucro operacional, mas investir em mercados derivativos e apu-
rar um prejuízo financeiro.
Por essa razão é que uma parcela significativa das empresas elabora o Lucro Antes dos Ju-
ros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA), ou EBTIDA (Earning Before Interest, Taxes,
Depreciation and Amortization), procurando evidenciar a capacidade operacional da empresa
na geração de caixa desconsiderando os juros (cujas taxas são definidas pelo mercado),
69 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
os impostos (que são compulsórios e com percentuais e cálculos definidos pela legislação
tributária) e a depreciação e a amortização (que não representam desembolsos de caixa).
Nesse caso, se for tomado como base a DRE apresentada anteriormente, e considerando
que a depreciação, que é uma despesa administrativa, totalizou R$ 53.120,00, tem-se o se-
guinte:
Nesse caso, a confrontação entre receitas e despesas consideraria tão somente aquelas
despesas que movimentaram o caixa e cujo montante do desembolso dependeu exclusiva-
mente de decisões gerenciais da empresa.
É evidente que ninguém quer investir em um negócio que sabidamente tem pouquíssima
condição de dar certo. Portanto, há também um conjunto de indicadores que procuram
medir a rentabilidade do negócio a partir de vários parâmetros: total do ativo, patrimônio
líquido, entre outros.
Tais indicadores procuram apresentar um valor médio, a fim de garantir uma melhor con-
cepção desse resultado. Como os demonstrativos contábeis apresentam informações do
exercício social corrente e do exercício social imediatamente anterior, basta somar esses
valores (do início e do final do período) e dividi-los por dois, que será encontrado esse valor
médio.
Para calcular o retorno sobre o patrimônio líquido é preciso considerar o patrimônio líquido
da empresa. A fórmula para cálculo é a seguinte:
Lucro Líquido
Patrimônio Líquido médio
Sabe-se que o lucro líquido apurado no período será transferido temporariamente para a
conta de lucros acumulados, que é classificada no patrimônio líquido e de lá será transferida
para as contas de reserva de lucro, capital social e/ou dividendos a distribuir. De fato, o lucro
aumenta o total do patrimônio líquido. Por esse indicador, verifica-se o quanto o patrimônio
líquido será impactado pelo lucro do período.
O lucro líquido pode também ser comparado ao ativo da empresa, pois é no ativo que se
encontram as aplicações de recursos da empresa. Esse indicador procura medir a renta-
bilidade do negócio face ao seu investimento total. Em outras palavras, mede o quanto a
empresa obtém de lucro líquido para cada real investido. Para calcular, basta dividir o lucro
líquido pelo ativo total médio:
Lucro líquido
Ativo Total médio
Quocientes calculados a partir do lucro líquido apurado pela empresa são de total interesse
do acionista. No entanto, para uma análise mais específica por parte do investidor, é inte-
ressante saber o lucro relacionado a cada ação. Dessa forma, para uma análise mais indi-
vidualizada, cada acionista poderá multiplicar o valor do lucro por ação pela quantidade de
ações que possui.
Para calcular o lucro por ação, basta dividir o lucro líquido do período pela quantidade de
ações em que o capital se encontra distribuído. Isso é feito pela seguinte fórmula:
Patrimônio líquido
Quantidade de ações
Entretanto, sabe-se que nem todo lucro apurado pela empresa em determinado período
acaba indo para a conta corrente do acionista e, sim, somente aquela parcela que é distribu-
ída por meio de dividendos. Nesse caso, outra importante informação a ser obtida por meio
de indicadores é a proporção do dividendo por ação.
71 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Nesse caso, é preciso encontrar a parcela do lucro que será destinada aos acionistas e divi-
di-la pela quantidade de ações do capital social da empresa.
VOCÊ SABIA?
As companhias brasileiras podem ter seu capital social dividido em ações de dois
tipos: ordinárias e preferenciais.
Ações preferenciais = não concedem esse direito. Tais ações, por sua vez, têm priori-
dade no recebimento de dividendos.
Nesse sentido há dois indicadores para análise do retorno esperado. Um deles é a margem
líquida, cuja fórmula é a seguinte:
Outro indicador importante nesse sentido é o giro do ativo, cuja fórmula está apresentada
a seguir:
Muitas empresas utilizam a estratégia da margem para auferir seus lucros. Outras, porém,
utilizam a estratégia do giro.
72 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Um litro de leite é geralmente mais barato num supermercado do que numa mer-
cearia de bairro. A razão é que o supermercado pode colocar uma margem de lucro
pequena por saber que a venda ocorrerá rapidamente e em grande quantidade. Nes-
se caso, o seu retorno será pelo giro, ou seja, pela quantidade de produtos vendidos
num curto espaço de tempo.
Isso não ocorre na mercearia de bairro, que sabe que o produto provavelmente não
será vendido na mesma rapidez e proporção de um supermercado. Sendo assim,
coloca-se uma margem de lucro maior, a fim de compensar essa “demora” na venda
do litro de leite.
Você pode observar que a receita de vendas aparece nas duas fórmulas apresen-
tadas: uma como numerador e outra como denominador. Se elas forem retiradas,
tem-se, então, a fórmula da TRI, como pode ser observado a seguir:
ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 135.000,00 Circulante 168.000,00
Não Circulante 244.000,00 Patrimônio Líquido 211.000,00
TOTAL 379.000,00 TOTAL 379.000,00
Assim como o ROI apresenta um quociente que deriva de outros dois, a saber a Margem
Líquida e o Giro do Ativo, outro quociente que pode derivar de outros indicadores é o fator
de insolvência (FI).4
4 Modelo de análise de risco elaborado por Stephen Charles Kanitz, na década de 1970,
conhecido como “termômetro de Kanitz”.
74 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Uma empresa se torna insolvente quando não tem como dispor de recursos para saldar
as suas dívidas. Nesse caso, ela entra em processo falimentar. A falência ocorre quando se
reconhece a incapacidade da empresa de quitar os compromissos assumidos.
O cálculo do fator de insolvência é feito a partir da fórmula proposta por Kanitz, que está
descrita a seguir:
FI = X1 + X2 + X3 - X4 - X5
O fator de insolvência, segundo a fórmula, pode atingir um resultado (nota) que pode variar
de -7 (sete negativo) a +7 (sete positivo). Quanto maior for o resultado, mais equilibrada a
empresa está em relação aos aspectos de liquidez, endividamento e lucratividade. Observe
que é uma análise que considera conjuntos de indicadores já estudados nesse módulo.
Isso pode ser melhor analisado quando se verifica os elementos da fórmula de Kanitz, des-
critos a seguir:
c. O subgrupo do ativo não circulante Realizável a Longo Prazo e o Passivo não Circulante
não apresentam valores.
(72.000 / 211.000) x 0,05 + (135.000 / 160.000) x 1,65 + (94.500 / 168.000) x 3,55 – (135.000 /
168.000) x 1,06 – (168.000 / 211.000) x 0,33
Nesse caso, segundo o resultado obtido, nota-se que a empresa tem bom equilíbrio em rela-
ção aos aspectos de liquidez, endividamento e lucratividade, mas ainda pode melhorar, visto
que o método pode chegar a um resultado de sete como resultado positivo.
Outro indicador importante é o grau de alavancagem5 financeira (GAF), que busca asso-
ciar dois aspectos fundamentais para o bom desempenho de qualquer negócio: a gestão do
capital de giro e a rentabilidade.
O GAF considera informações sobre ativo, passivo e patrimônio líquido, ou seja, apresenta
uma análise geral de todos os componentes da estrutura patrimonial. Sua fórmula é a se-
guinte:
O retorno sobre o ativo da empresa (RSA) está relacionado com a rentabilidade do negócio.
Mostra como o indicador de alavancagem busca descrever as condições que a empresa tem
de alavancar (aumentar) o retorno sobre o investimento. Ele se torna peça fundamental de
análise. Eis a razão pela qual é referenciado mais de uma vez na fórmula de GAF.
O retorno sobre o ativo da empresa é obtido dividindo-se o lucro líquido apurado pelo ativo
total da empresa e multiplicando-se o resultado por cem. Isso pode ser representado pela
seguinte fórmula básica:
O custo da dívida (CD) busca apresentar o sacrifício que a empresa tem de arcar (juros, va-
riação de taxas cambiais, entre outros) a fim de garantir o investimento. Todo e qualquer in-
vestimento vai requerer em maior ou menor grau um desembolso. Esse é o custo da dívida.
O passivo (P), ou passivo exigível, é o local do balanço em que são evidenciadas as dívidas e,
consequentemente, o custo dessa dívida esta inserido nos valores ali apresentados.
O patrimônio líquido (PL) por sua vez também representa uma obrigação da empresa com
os seus acionistas e tem forte sensibilidade à fórmula de alavancagem, pois o resultado (po-
sitivo ou negativo) dessa capacidade de aumento da rentabilidade do negócio que a fórmula
do GAF se propõe apresentar será reconhecida e evidenciada no patrimônio líquido.
Por fim, o ativo total aparece na fórmula pela simples razão de que é no ativo que se en-
contram os recursos que a empresa dispõe para, ao mesmo tempo, quitar suas obrigações
com terceiros e remunerar os acionistas acima das expectativas de retorno que eles estão
dispostos a aceitar.
Uma vez mais é necessário recorrer ao Balanço Patrimonial e à DRE apresentados nas pági-
nas anteriores e que foram base para o estudo ROI e do fator de insolvência. Será feita aqui
uma pequena alteração, acrescentando as despesas financeiras para auxiliar na análise da
fórmula e da apresentação do quociente.
ATIVO R$ PASSIVO R$
Circulante 135.000,00 Circulante 168.000,00
Não Circulante 244.000,00 Patrimônio Líquido 211.000,00
TOTAL 379.000,00 TOTAL 379.000,00
O primeiro passo seria calcular o Retorno sobre o Ativo (RSA) que seria:
Em seguida, deve-se calcular o custo da dívida. Nesse caso, considere as despesas financei-
ras associadas ao passivo gerador de encargos. Sabe-se que o passivo contempla obrigações
relacionadas ao funcionamento (fornecedores, contas a pagar, obrigações trabalhistas) e
obrigações relacionadas ao financiamento (empréstimos, financiamentos governamentais,
financiamentos bancários). No exemplo determinado, considera-se o valor total do passivo.
77 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
O terceiro passo é relacionar o passivo ao patrimônio líquido, que são as fontes de recursos
da empresa. Se for dividido o passivo pelo patrimônio líquido, será encontrado o grau de
endividamento. Esse resultado também será utilizado na fórmula e o resultado é:
Nesse caso, a interpretação seria: cada 1% de rentabilidade gerado pela empresa transfor-
mou-se em 1,08% graças à alavancagem favorável.
Além disso, pode-se observar que, para cada R$100,00 investidos, a empresa gera um lucro
de R$19,00 (RSA). Paga juros de R$12,00 para cada R$100,00 tomado (CD). Logo, em cada
R$100,00 tomados, ganha R$ 7,00.
Todos os indicadores financeiros analisados neste módulo têm suas fórmulas e cálculo pau-
tados em informações desses dois demonstrativos contábeis. No entanto, a Demonstração
dos Fluxos de Caixa (DFC) também apresenta informações importantes para uma análise
consistente das condições econômicas e financeiras da empresa e, por essa razão, uma boa
quantidade de indicadores financeiros pode ser extraída dos componentes desse demons-
trativo.
78 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS E SUAS EVIDENCIAÇÕES
Sabe-se que a DFC pode ser apresentada por dois métodos: direto e indireto. Além disso,
independentemente do método utilizado pela empresa, a DFC apresenta, de forma sistema-
tizada, três fluxos de caixa distintos, que são: operacional, de investimentos e de financia-
mento.
Balanço Patrimonial
Ativo 2015 2014
Circulante
Caixa 45.000,00 10.000,00
Clientes 40.000,00 25.000,00
Estoques 30.000,00 15.000,00
Não Circulante Imobilizado
Imóveis 100.000,00 50.000,00
Máquinas 50.000,00 60.000,00
Móveis e utensílios 40.000,00 40.000,00
(-) Depreciação Acumulada (10.000,00) (5.000,00)
TOTAL DO ATIVO 295.000,00 195.000,00
Passivo 2015 2014
Circulante
Fornecedores 90.000,00 60.000,00
Financiamentos bancários 110.000,00 80.000,00
IRPJ a pagar 10.000,00 0
Dividendos a distribuir 15.000,00 0
Patrimônio Líquido
Capital 60.000,00 55.000,00
Reservas de Lucro 10.000,00 0
TOTAL DO PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO 295.000 195.000
A partir das informações contidas nesses fluxos, é possível extrair dados importantes sobre
aspectos financeiros do negócio. Por exemplo: sabe-se que o objetivo da DFC é apresentar
resumidamente o caminho que o dinheiro percorreu ao longo do período, ou seja, de onde
ele veio (de quais fontes se obteve o recurso) e para onde ele foi (em qual dos fluxos foi
aplicado).
Como dito anteriormente, a DFC trabalha com a ideia de evidenciar a movimentação de re-
cursos (caixa) a partir de três fluxos. Indicadores associados à comparação e análise desses
fluxos pode representar um importante auxílio informativo para uma tomada de decisão.
Como se pode observar, o fluxo de caixa operacional é o que mais apresenta indicadores de
análise. Na verdade, na elaboração da DFC é o fluxo operacional que determina a diferença
entre os métodos (direto e indireto) de elaboração. Os fluxos de investimentos e de financia-
mentos são exatamente iguais em ambos os métodos.
O resultado do fluxo operacional, para fins de análise, pode ser calculado a partir de vários
componentes importantes das demonstrações contábeis:
O RSV mede o quanto a empresa consegue gerar de fluxo de caixa líquido com suas opera-
ções em relação a cada unidade vendida.
Nesse último caso, o indicador busca apresentar a parcela do lucro que foi realizada financei-
ramente, ou seja, representou efetiva entrada de caixa. Ele pode indicar o posicionamento
da organização em relação ao seu próprio ciclo de vida, visto que associa o conceito de caixa
(pautado no regime de caixa) ao conceito de lucro (que se pauta no regime de competência).
Outro indicador que pode ser apurado a partir do fluxo de caixa das operações é a taxa de
queima, que geralmente é utilizada quando o resultado do fluxo operacional é negativo.
Nesse caso, busca-se medir em quanto tempo o Capital Circulante Líquido (CCL), que é o
resultado da subtração do ativo circulante em relação ao passivo circulante, será consumido
pelo fluxo negativo de caixa operacional. A fórmula é:
Como o CCL em nosso exemplo é negativo (AC < PC), a taxa de queima também apresenta
resultado negativo.
RESUMO
Neste módulo você estudou vários indicadores econômicos e financeiros utilizados pelas
empresas, por analistas e pelo mercado em geral, no intuito de obter informações mais con-
clusivas sobre as condições econômicas e financeiras de determinado negócio.
A análise financeira por meio de indicadores ou índices não se apresenta como única forma
ou metodologia para a avaliação de empresas. No entanto, pela sua variedade e amplitude
mostram-se interessantes para ajudar a balizar opiniões sobre as condições gerais do ne-
gócio.
Você percebeu que, para se realizar uma consistente avaliação da empresa, é necessário se
cercar de um conjunto de instrumentos para análise, considerando, inclusive, questões ex-
ternas à organização, como desenvolvimento econômico ou situação política, por exemplo,
e não somente dados contábeis. Portanto, torna-se evidente que a análise de indicadores
econômicos e financeiros elaborados a partir das informações contábeis prestadas pelas
empresas em seus demonstrativos contábeis representa um importante instrumento de
avaliação de qualquer negócio.
Por fim, você compreendeu que os principais temas de análise sobre qualquer projeto, in-
vestimento ou negócio, a saber, liquidez, endividamento, lucratividade, rentabilidade, entre
outros, apresentam um número significativo de índices. Estes índices, se trabalhados con-
juntamente e de forma harmônica, podem apresentar um retrato bastante consistente das
reais condições econômicas e financeiras de uma empresa.
Módulo 3
FUNDAMENTOS DA
CONTABILIDADE
GERENCIAL
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Nos módulos anteriores foi dada especial atenção à contabilidade financeira, cujo foco de
atenção reside nos usuários externos da contabilidade. Porém, há também os usuários inter-
nos, principalmente os gestores, que necessitam de informações contábeis que os ajudem a
tomar decisões acertadas e com menor risco sobre o destino da empresa.
E, de fato, a contabilidade pode ser extremamente útil aos gestores do negócio pela qualidade
e volume de informações que pode prestar. Além disso, a forma de composição dos custos, o
modo como serão acumulados e contabilizados e os métodos que podem ser utilizados repre-
sentam condições fundamentais para que a empresa tenha efetivo controle de seus custos de
produção e consiga obter lucros que atendam as suas expectativas.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao final desse módulo você será capaz de:
■ Analisar como os custos podem ser apurados por meio das atividades realizadas pela
empresa.
ESTRUTURA DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem o gerenciamento de recursos huma-
nos em projetos, este módulo está dividido em:
UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Dona Flora entra no supermercado e, ao começar a fazer suas compras, observa que
os preços dos produtos estão muito altos. Ela, inclusive, ouviu comentários de outros
consumidores próximos fazendo a mesma reclamação.
Ao passar pela última gôndola, antes de se dirigir ao caixa, Dona Flora encontrou Gus-
tavo, o gerente geral do supermercado. Ela o conhecia há cerca de vinte anos. Após os
cumprimentos iniciais, Dona Flora reclamou com Gustavo sobre o preço dos produtos.
Ela ouviu do gerente a seguinte resposta: “Realmente os preços estão altos. Ocorre
que o custo de comercialização subiu muito. Os fornecedores aumentaram os preços
e não concedem prazos mais alongados para quitarmos nossas obrigações com eles.
Além disso, os tributos que a empresa tem de recolher oneram bastante o preço de
aquisição e não há outra saída senão repassarmos esse custo para o consumidor. Já
fiz vários cálculos e até reduzimos um pouco nossas margens de lucro, porém, o custo
de comercialização aumentou consideravelmente”.
Dona Flora ainda argumentou: “Mas esses fornecedores que você fala não poderiam
reduzir um pouco os preços?”.
“É, não sei aonde vamos parar!”, respondeu Dona Flora, com ar de desanimação e,
sorrindo, despediu-se de Gustavo.
É importante frisar que nem todo o gasto realizado pela empresa, de fato, representa um
custo de produção.
TOME NOTA
Gasto é um termo genérico que está relacionado a pagamentos efetuados pela em-
presa. São sacrifícios financeiros que a empresa faz com o objetivo de obter maior
lucratividade.
GASTOS
São dispêndios associados à venda
e distribuição dos produtos. São
gastos associados à manutenção
DESPESAS das atividades estruturais da empre-
sa que não estejam associados ao
processo produtivo.
VOCÊ SABIA?
As perdas, por sua vez, não são habituais (pelo menos não devem ser), não decor-
rem da vontade da empresa, pois representam eventos anormais quando que não se
tem mais condição de gerar receitas.
Com base nas terminologias, pode-se verificar quão importante é classificar corretamente
os gastos que efetivamente representem custos de produção, visto é que a soma desses
custos que trará o valor monetário que traduz o esforço de fabricação ou de comercialização
do produto. As perdas, ou desperdícios, oneram o custo de produção.
88 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
TOME NOTA
TOME NOTA
Custo indireto de fabricação (CIF) pode ser apresentado com vários outros nomes ou
expressões. Os exemplos mais comuns, além do CIF, são: custos indiretos de produ-
ção (CIP), custos de apoio à produção (CAP) ou, ainda, encargos indiretos.
NA PRÁTICA
Situação 1
Paulo Valença e Ana Lúcia Seixas montaram uma confecção. Alugaram um espaço,
contrataram algumas costureiras e iniciaram seu trabalho. Paulo cuida da parte
financeira e administrativa. Ana, por sua vez, incumbe-se do marketing e da relação
com os fornecedores. Muito embora a contabilidade seja terceirizada, Paulo e Ana
têm considerável preocupação com os custos de fabricação das roupas e acompa-
nham por meio de planilhas específicas cada passo do processo de produção.
Situação 2
TOME NOTA
Sendo assim, se uma empresa possuir no início de um determinado mês R$ 1.000,00 de ma-
teriais adquiridos no mês anterior e adquirir mais R$ 2.000,00, será possível saber o quanto
desses materiais foi aplicado à produção nesse mês, calculando os materiais estocados no
final do período. Por exemplo, se sobrar em estoque R$ 500,00, sem que tenha havido qual-
quer devolução de materiais, sabe-se que o montante de materiais utilizados na produção
nesse período foi de R$ 2.500,00.
É importante ressaltar que o valor dos materiais adquiridos será classificado no ativo circu-
lante no Balanço Patrimonial da empresa. Ele permanecerá com essa classificação até que
seja introduzido no processo produtivo do período e, nesse caso, se transformará em custo.
Portanto, para apurar o custo da produção do período, é necessário adicionar aos materiais
utilizados a mão de obra aplicada e os custos indiretos incorridos no processo.
Nas duas situações também há trabalhadores. Na Situação 1 todos os funcionários são cos-
tureiras e realizam a mesma atividade. Já na Situação 2, em razão do tamanho, da complexi-
dade e do número de funcionários da empresa, várias atividades e funções diferentes estão
presentes.
A mão de obra representa o gasto com pessoal aplicado na realização de atividades ineren-
tes à produção de um determinado produto.
91 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Imagine que uma empresa da área de construção civil tenha na sua folha de paga-
mento mensal os seguintes trabalhadores e seus respectivos valores:
Em ambas as situações existem custos indiretos. Na Situação 1 tem-se o aluguel. Ele não
representa um material nem tampouco uma mão de obra. Na Situação 2 as duas fábricas e
o armazém geram custos que também não são classificáveis, como mão de obra ou mate-
riais. No entanto, precisam ser contabilizados e calculados e devem fazer parte do custo de
fabricação dos produtos.
Os custos indiretos de fabricação são gastos adicionais necessários à consecução das ati-
vidades de produção.
De modo geral, é possível saber quanto custou cada unidade da roupa produzida na Situa-
ção 1 e o quanto cada saco de cimento consumiu de material, na Situação 2. De igual modo,
é possível calcular o custo de mão de obra de fabricação de cada um desses produtos. No
entanto, é impossível fazer uma associação das roupas fabricadas na Situação 1 com o alu-
guel do espaço de fabricação. Tampouco é possível relacionar o custo de produção de cada
92 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Nesse caso, os materiais e a mão de obra são denominados “custos diretos” porque é pos-
sível aplicar diretamente valores relativos a esses componentes a cada unidade produzida.
Nesse sentido, os custos diretos podem ser aferidos por meio da fórmula: Quantidade x
Custo Unitário.
Por exemplo: imagine que uma empresa fabrique tortas doces finas por encomenda. Para a
fabricação das tortas são gastos quatro ovos, 500gr de farinha de trigo e 250gr de achocola-
tados. Cada torta demora cerca de 1h para ser produzida.
É possível saber o custo unitário de material gasto na fabricação de cada torta, pois cada
uma delas consome:
4 ovos – se a dúzia custa R$ 6,00, cada ovo custo R$ 0,50, então o custo unitário é R$
2,00.
500 gr de farinha de trigo – se o quilo custa R$ 4,00, então o custo unitário é R$ 2,00.
Sendo assim, o custo direto das tortas é R$ 7,00. Se a empresa fabricar 50 tortas, o custo dos
materiais será R$ 7,00 x 50 unidades = R$ 350,00.
Da mesma forma, na suposição de que o funcionário que fabrica os doces recebe R$ 9,00
por hora de trabalho, e sabendo de que a confecção das tortas demanda uma hora de tra-
balho, também é possível calcular a mão de obra, que é:
Tal cálculo não pode ser feito da mesma forma para todos os custos. Então como fazê-lo em
relação ao aluguel do local? E ao valor da depreciação das máquinas utilizadas na fabricação
das tortas? Por essa razão é que tais custos são classificados como indiretos.
VOCÊ SABIA?
Outros, por exemplo, podem ser classificados como diretos ou indiretos, dependen-
do da forma como são apurados, implicando nessa mesma relação de custo x be-
nefício. A depreciação é um bom exemplo dessa situação. Se a depreciação de uma
máquina ocorrer com base na metodologia de unidades produzidas, então é possível
fazer uma associação direta desse custo. Se por outro lado, utilizar-se o método line-
ar como a parcela de depreciação anual é predefinida, temos um custo indireto.
Sendo assim, em relação ao objeto de custo7, todos os custos podem ser classificados em
diretos e indiretos. Há custos em que é possível verificar ou estabelecer uma ligação com
o produto (custos diretos). Existem outros, por sua vez, em que isso não é possível (custos
indiretos).
7 O objeto de custo representa o objeto que será mensurado. Por exemplo, os móveis que serão fabricados,
as roupas que serão produzidas ou o automóvel que será montado.
94 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Aluguel 12.000,00
Aluguel 12.000,00
Por essa razão é que é importante não só conhecer os custos que a empresa incorreu, mas,
também, o comportamento que eles apresentam. As principais classificações de custos es-
tão apresentadas a seguir:
■ Custos variáveis: são aqueles cujo valor se altera de acordo com o volume produzi-
do. Nesse caso, as matérias-primas necessárias à fabricação de determinado produto
representam custos variáveis. Se a produção aumentar, seu valor consequentemente
sofrerá aumento. Se por outro lado a produção diminuir, o seu valor também reduz.
Exemplo: numa loja de móveis, a madeira (matéria-prima) é um custo variável. Mais móveis
necessitam de mais madeira. Portanto, se a encomenda de móveis diminui, a empresa com-
prará menos madeira.
■ Custos fixos: são aqueles que não estão atrelados a essa variação no volume de pro-
dução. Nesse sentido, o aluguel representa um custo fixo. Quer se produza muito ou
pouco, o seu valor já está definido.
96 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Exemplo: o aluguel é um custo fixo. Quer se produza muito ou pouco, o valor não se altera.
É importante ressaltar que custo fixo necessariamente não significa dizer que o custo tenha
que ter sempre o mesmo valor. Uma conta de telefone, por exemplo, pode ter um valor final
de pagamento diferente a cada mês. No entanto, trata-se de um custo fixo, visto que essa
alteração de valor não guarda relação com o volume de produção.
Existem também alguns custos que podem ser fixos ou variáveis, dependendo da forma
como são alocados. A mão de obra, por exemplo, pode ser um custo variável, quando o
pagamento é feito em função da quantidade de produtos manuseados pelo trabalhador.
Nesse caso, se esse trabalhador utilizar mais produtos, seu salário será maior. Caso con-
trário, haverá uma redução desse valor. Porém, se a empresa determina um salário mensal
para este trabalhador, a quantidade de produtos utilizados não causa alteração em seus
vencimentos, logo, a mão de obra direta é fixa.
Há também situações em que determinado custo apresenta uma parcela fixa e outra variá-
vel. O melhor exemplo para esse caso é a energia elétrica. Mesmo que a empresa não tra-
balhe um dia sequer na produção, ela irá fazer o pagamento de um valor mínimo de energia
elétrica. Esse valor é fixo, pois independe da capacidade de produção. No entanto, há uma
parcela variável, visto que se gastará mais ou menos energia em função do volume produ-
zido. Custos com essas características podem ser tratados como custos semivariáveis ou,
ainda, como semifixos.
TOME NOTA
Ocorre que, ao final do mês, é possível que a empresa tenha produtos que ainda não es-
tejam totalmente prontos. Nesse caso, quando se fala em custo da produção acabada,
faz-se referência à soma dos custos daqueles produtos que foram integralmente fabricados
e estão prontos para a venda naquele período.
O custo dos produtos vendidos, por sua vez, representa a quantidade de produtos prontos
que foram negociados nesse mesmo período.
A companhia SABBE S/A trabalha com um único tipo de produto que é vendido pelo preço
de R$ 17,00. Em determinado período, produziu 15.000 produtos e vendeu 14.000 unidades.
Os custos de produção foram:
Considerando que todos os produtos que foram produzidos tenham sido integralmente
completados, então o custo da produção acabada é igual ao custo da produção do período.
UNIDADE 2
SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS
NA PRÁTICA
Por outro lado, o sistema de acumulação de custos por processo contínuo apresen-
ta uma repetição que permite não só compreender todo o processo, mas, também,
mensurar o tempo gasto em cada estágio.
Uma fábrica de chocolates, uma indústria de biscoitos ou, até mesmo, uma empresa
de refrigerantes apresentam uma atividade propensa à acumulação de custos por
processo. Vale dizer que, num processo contínuo, a preocupação básica é apurar o
custo unitário de cada produto ou serviço.
NA PRÁTICA
CIF = R$ 10.000,00
102 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Essa empresa iniciou a produção de 2.000 unidades das quais 1.200 foram concluídas.
Para aquelas que não foram concluídas foi apurado o seguinte grau de acabamento:
Nesse caso será necessário apurar o grau de acabamento por componente de produ-
ção:
Unidades em
Resultado da
Componente Unidades processamento +
produção
de produção completadas grau de
equivalente
acabamento
É possível, portanto, calcular o custo unitário por componente e, com isso, encontrar o
custo unitário de produção do período:
Total 11,75
103 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
A partir desse valor unitário é possível calcular o custo da produção acabada e o custo
dos produtos em processamento.
Uma loja de roupas pode, ao mesmo tempo, trabalhar por processo contínuo a pro-
dução de algumas peças e, também, vendê-las sob encomenda específica do cliente. A
mesma situação pode ocorrer com uma revendedora e veículos ou com empresas do
setor petrolífero.
UNIDADE 3
MÉTODO DE CUSTEIO POR ABSORÇÃO
Entender o comportamento dos custos ajuda nas decisões gerenciais. Por essa razão é que
existe toda uma gama de estudos a respeito de métodos de custeio, além das formas de
contabilização desses custos.
Uma empresa pode ter uma produção significativa, pode vender milhares de produtos, mas
ela precisa saber quanto custa produzir cada produto. O custo unitário é uma informação
contábil importante para o gerenciamento do negócio.
Método de custeio significa, portanto, a forma como se estrutura a composição dos custos.
104 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Nesse sentido, verifica-se uma primeira distinção entre os métodos de custeio, que é o cus-
teio por absorção e o custeio variável:
■ Custeio por absorção: atribui tanto custos fixos quanto variáveis aos produtos.
■ Custeio variável: atribui somente custos variáveis aos produtos. Os custos fixos são
debitados a resultado.
O custeio por absorção é o mais antigo método de custeamento. Sua utilização ocorre em
longa escala não só por conta de sua longevidade, mas também – e principalmente – porque
atende às exigências legais dos países e está de acordo com as normas internacionais de
contabilidade. No custeio por absorção cada unidade fabricada recebe custos de materiais,
de mão de obra e de custos indiretos de fabricação.
O custeio variável por sua vez não tem essa prerrogativa de atendimento aos aspectos legais
e se mostra muito mais efetivo para uma análise gerencial, visto que permite identificar os
custos e despesas variáveis de cada produto.
VOCÊ SABIA?
O método de custeio por absorção apresenta algumas variações que o identificam como
pleno8 ou parcial.
Nesse método de custeamento são atribuídos aos produtos não só os custos de produção
(fixos e variáveis), mas, também, as despesas gerais e administrativas e aquelas relaciona-
das à atividade de vendas.
Esse método de custeamento atribui todos os custos de produção (fixos e variáveis), mas
não considera as despesas gerais e administrativas, nem tampouco as despesas de vendas.
A ideia básica de não alocação dessas despesas aos produtos é que estas são ainda mais
indiretas que os custos indiretos de fabricação. Dessa forma, como já é crítica a situação de
determinados critérios de rateio extremamente arbitrários dos custos indiretos de fabrica-
ção, muito pior seria a aplicação disso em relação às despesas.
Existe uma variação do custeio por absorção parcial que geralmente é denominado “custeio
por absorção parcial modificado”. Nele, todos os custos variáveis são considerados, mas
nem todos os custos fixos o são. Para tanto, há uma classificação dos custos fixos em estru-
turais e operacionais:
■ Custos fixos estruturais: custos que dão suporte e sustentação às instalações, como,
por exemplo: aluguel, IPTU, depreciação do imóvel e manutenção predial.
Como se pode observar, tanto o método de custeio parcial quanto o método de custeio
parcial modificado não consideram as despesas, mas apenas os custos fixos e variáveis.
Além disso, no método de custeio parcial modificado só são considerados, além dos custos
variáveis, os custos fixos operacionais. Os custos fixos estruturais não são contabilizados no
cálculo.
8 Também conhecido por absorção integral, é o método que considera, também, o custo dos
encargos financeiros, denominado RKW.
106 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
NA PRÁTICA
Custos
Materiais (2,00 x 15.000) = 30.000,00
Mão de obra direta (1,50 x 15.000) 22.500,00
Custos indiretos (aluguel e supervisão) = 19.500,00
Total 72.000,00
Despesas
Despesas administrativas 10.000,00
Despesas com vendas (0,20 x 14.000) 2.800,00
Total 12.800,00
O custo unitário de produção seria: custo total dividido por 15.000 unidades fabrica-
das, a saber:
É importante observar que pelo fato de nem toda produção ser vendida, no custeio
por absorção, parte dos custos diretos estão adicionados aos produtos que ainda não
foram vendidos e que estão classificados no ativo circulante do balanço patrimonial.
108 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
UNIDADE 4
MÉTODO DE CUSTEIO COM BASE EM ATIVIDADES
O custeio com base em atividades, ou como é conhecido, ABC (Activity Based Costing), é o
mais recente método de custeamento abordado neste material. Sua concepção foi desen-
volvida nos Estados Unidos da América, durante a década de 1980, com a proposta de re-
duzir as distorções provocadas pelo rateio dos custos indiretos de fabricação que por vezes
se mostravam altamente arbitrários. Por essa razão, o ABC assemelha-se ao custeio por
absorção, no entanto, não recorre a rateios.
109 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
VOCÊ SABIA?
Quando o custeio por absorção foi criado, dentre os elementos para a composição
do custo, o custo indireto era o que apresentava os menores valores. Naquela época,
os maiores custos residiam nos materiais e na mão de obra.
O custeio ABC parte da premissa de que os produtos consomem atividades e estas, por sua
vez, é que são as consumidoras de custos. Dessa forma, é preciso medir as atividades e não
os produtos propriamente.
Nesse caso são custeadas, primeiramente, as atividades para, depois, verificar qual a pro-
porção de consumo de cada produto ou linha de produção em relação a essa atividade. Para
realizar essa medição, são utilizados direcionadores de custos.
O sistema de custeamento ABC foi elaborado basicamente para fins gerenciais e disponibi-
liza informações econômicas para a tomada de decisão tanto no nível operacional quanto
estratégico.
É importante frisar que o custeio ABC também considera os elementos de custos materiais,
mão de obra e custos indiretos de fabricação. Estes últimos, no entanto, ou são atribuídos
diretamente ou por meio de direcionadores de custos.
Nesse momento faz-se necessário apresentar duas definições de expressões que são funda-
mentais para a compreensão do funcionamento do custeio ABC e de sua lógica de atribuição
de custos. Estas expressões são: atividades e direcionadores de custos.
110 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
DIRECIONADOR
ATIVIDADES DE CUSTOS
O método de custeamento ABC mede o custo das atividades e o desempenho dos processos
internos e dos produtos porque, de acordo com Crepaldi (2014), segue os seguintes estágios:
■ Atribui custos aos produtos e/ou serviços realizados com base no consumo de ativida-
des que cada produto ou serviço consumiu dessa atividade.
Uma empresa realiza diversas atividades: compra mercadorias, estoca produtos, elabora a
folha de pagamento, realiza a movimentação (interna e externa) de produtos, entre outras.
Para cada uma dessas atividades existe um evento inicial e este seria o seu direcionador de
custos. O quadro a seguir apresenta um exemplo dessa situação:
Algumas atividades, no entanto, não são significativas do ponto de vista da análise de cus-
tos. Por exemplo:
■ Podem não gerar valor, retratando apenas aspectos administrativos que não acarre-
tam valores monetários.
A fim de demonstrar algumas diferenças entre o método de custeio por absorção (tradicio-
nal) e o método ABC no que diz respeito aos resultados alcançados, veja um exemplo com o
propósito de evidenciar tais divergências.
112 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
NA PRÁTICA
A companhia Nas Nuvens Ltda. trabalha com uma diversa linha de materiais e peças
de computadores e periféricos. Os produtos da empresa são adquiridos de forma
on-line. A empresa não possui uma loja física. No entanto, possui representações em
três estados para atender a demanda de forma regionalizada. Nesse sentido, a pri-
meira representação fica em São Paulo, que fica responsável pela região sul e sudes-
te. Goiânia é a segunda representação e se ocupa de atender a região centro-oeste.
A terceira representação está situada em Fortaleza e responde pelas regiões norte e
nordeste.
Apesar da unidade de Fortaleza ter menor número de pessoal, o espaço físico da re-
presentação é maior que 90m2, enquanto que em Goiânia e São Paulo os espaços
têm apenas 45m2. Isso ocorre porque a representação de Fortaleza abrange distâncias
maiores, visto que as regiões norte e nordeste são extensas e, muitas vezes, há a ne-
cessidade de estocagem de alguns materiais para venda ou de uso interno.
Além disso, a empresa tem outros custos indiretos, como energia, segurança, limpe-
za, manutenção, entre outros, que totalizam R$ 84.000,00 mensais, somando as três
representações.
Tomando como base o custeio por absorção, como é possível calcular os custos indiretos de
fabricação?
Nesse caso, será necessário estabelecer um critério de rateio. Dentro do exemplo apresen-
tado, uma possibilidade seria realizar o rateio com base na mão de obra direta, obtendo os
seguintes dados:
Por esse critério de rateio dos custos indiretos, a representação em São Paulo teria os maio-
res custos e num percentual quase três vezes superior à representação de Fortaleza.
Poderia ser, porém, que o critério de rateio fosse o espaço físico utilizado e não o número
de funcionários. Nesse caso, os dados seriam os seguintes:
Observe que, agora, com base nesse novo critério de rateio, diferentemente da situação
anterior, as representações de São Paulo e Fortaleza ficaram bastante próximas e a repre-
sentação de Goiânia teria um menor custo total, fato que não aconteceu pelo outro critério
de rateio.
Se por outro lado a empresa optasse pelo método ABC, ela não incorreria em rateios, mas
teria que encontrar um direcionador de custos que pudesse retratar o evento que inicia
a atividade de venda. No exemplo apresentado, o direcionador seria a solicitação on-line
efetuada pelo cliente e que não só gera o lançamento contábil do registro, mas, também,
direciona para os demais estágios da atividade que fará com que o cliente receba o produto
em sua casa.
Inicialmente pode-se pensar que o método ABC continua fazendo rateios dos custos indi-
retos. No entanto, a proposta desse método é identificar uma relação causal da utilização
desses recursos. A premissa é que são as atividades que geram custos e, nesse sentido, é
fundamental a análise do processo de trabalho da empresa a fim de identificar os direcio-
nadores de custos. Eis a razão pela qual foi dado destaque a essas duas definições porque
delas derivam uma série de decisões que garantirão a consistência e eficácia do método
ABC. Sendo assim, caso uma empresa decida utilizar o método de custeio ABC, deve cumprir
as seguintes etapas:
115 FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL
Nesse caso deve-se estudar a melhor relação causal da atividade, a fim de que os direciona-
dores de custos sejam consistentes em retratar a realidade econômica dos custos associa-
dos a essas atividades.
É necessário dividir os custos da atividade pelo total dos direcionadores de custos. Essa taxa
servirá de base para os cálculos de alocação de custos.
Nesse caso, após a definição da taxa que servirá de base para os direcionadores de custos,
deve-se multiplicá-la pelo volume do direcionador de cada produto. Por exemplo, o custo
por pedido é determinado pela multiplicação da quantidade de pedidos exigida para deter-
minado produto pela taxa unitária por atividade.
É evidente que essas etapas estão resumidas, podendo ser desmembradas em várias sube-
tapas. Além disso, na prática, sempre surgirão demandas adicionais para a implantação do
método ABC. Uma das críticas que se faz ao método é que ele é de difícil acompanhamento
e custoso na sua implantação e acompanhamento. Por outro lado, pode trazer benefícios
significativos do ponto de vista gerencial para a tomada de decisão.
RESUMO
Neste módulo você estudou sobre os principais conceitos da contabilidade de custos, veri-
ficando sua importância como instrumento de auxílios para que gestores, gerentes e admi-
nistradores tomem decisões importantes sobre o futuro da empresa.
Também estudou que os custos podem ter diversas classificações e que conhecê-las per-
mite uma consistente acumulação de custos. E, por fim, verificou que os custos podem ser
analisados de várias formas, inclusive pelas atividades que a empresa realiza, que é o caso
do custeamento ABC.
Módulo 4
Quando um cliente chega à loja e pergunta quanto custa determinado produto, a empresa já
deve ter feito a si mesmo essa pergunta, pois o custo de produzi-lo é que suscitará um preço
de venda adequado. Preço esse que deve superar os custos de produção e, ainda, apresentar
uma margem de lucro.
Porém, o processo de fabricação requer uma série de custos, alguns variáveis, outros fixos e
deve considerar a capacidade operacional de produção da empresa. Nesse sentido, os custos
podem variar mês a mês, processo a processo e acompanhar toda essa dinâmica é fundamen-
tal para que se tenha sempre controle sobre o processo produtivo.
São esses os temas centrais deste módulo e que permitirão a compreensão não só da análise
dos custos associados ao processo de produção, mas, também, aos gastos necessários para a
concretização da venda do produto.
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao final desse módulo você será capaz de:
ESTRUTURA DO MÓDULO
UNIDADE 1
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E PONTO DE EQUILÍBRIO
Ao conversar com outro amigo empresário sobre a questão, este lhe deu um conselho:
Amigo: Você precisa analisar essa questão com mais cuidado e entender o porquê da
situação.
Amigo: Sim, porém, mais do que controlar os custos, é preciso analisá-los. Até mesmo
para averiguar se os preços de venda praticados são compatíveis com esses custos.
121 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
Ocorre que a análise dos custos apurados, seja qual for o sistema de acumulação de custo
utilizado ou o método de custeio praticado são fundamentais para se estabelecer não só a
estratégia da empresa, mas, também, para ratificar suas diretrizes operacionais. Em outras
palavras, as informações de custos devem ser utilizadas como instrumento de tomada de
decisão e não somente para controle. Essa é a questão fundamental apresentada no caso
inicial. É evidente que o controle deve existir para se impedir fraudes, evitar desperdícios,
mas não deve parar aí. As informações de custos são instrumentos úteis à tomada de deci-
são gerencial.
Nesse caso, o custeio variável mostra-se consistente para fins de tomada de decisão, visto
que possibilita apresentar o ganho efetivo que cada produto concede ao lucro em sua ven-
da. É importante lembrar, como estudado no módulo anterior, que esse método de cus-
teamento considera tão somente os custos variáveis na sua base de cálculo inicial. Há a
concepção de que os custos fixos, de modo geral, são incorridos independentemente do
volume de produção.
Ao fazer a distinção entre custos fixos e variáveis, dando atenção especial ao último, o mé-
todo de custeamento variável elimina problemas de rateio de custos, que por serem, boa
parte das vezes, arbitrários e subjetivos, prejudicam o processo de tomada de decisão.
A utilização do custeio variável apresenta uma série de conceitos importantes, como mar-
gem de contribuição, grau de alavancagem, ponto de equilíbrio, dentre outros, que auxiliam
os gestores de várias maneiras em suas decisões, inclusive no que tange ao estabelecimento
do preço de venda ao consumidor. Esses conceitos é que tomarão parte de seus estudos a
partir desse momento.
Margem de contribuição
O método de custeio variável considera apenas os custos variáveis. Nesse caso, você pode
se perguntar: E os custos fixos? São descartados?
122 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
É evidente que não, afinal, eles foram consumidos e não há como ignorá-los. Na lógica do
custeio variável, os custos fixos já existem e isso independe da produção. Nesse caso, a em-
presa precisa realizar um volume de vendas que supere esses “custos que já existem”.
Outra questão importante a se considerar é que boa parte dos problemas de alocação de
custos, independentemente do método de custeio ou do sistema de acumulação de custos,
reside nos custos indiretos de fabricação, porque os demais já estão identificados e aloca-
dos diretamente aos produtos.
É por essa razão que ao se considerar os custos variáveis e não os fixos considera-se o
comportamento dos custos em relação à fabricação do produto. É daí que surge a margem
de contribuição, que nada mais é do que a diferença entre o preço de venda e os custos e
despesas variáveis associados a cada unidade de um determinado produto. Para se chegar
ao valor da margem de contribuição, é necessário aplicar a fórmula a seguir:
Como as empresas geralmente trabalham com diversos tipos de produtos, a análise das
margens de contribuição unitária de cada um deles pode oferecer uma boa radiografia das
contribuições dos produtos na geração de receitas e na consequente obtenção de lucros.
Alguns produtos podem ter uma boa margem de contribuição, mas seu volume de vendas
é baixo. Por outro lado, podem existir produtos com uma margem de contribuição relativa-
mente baixa, mas seu volume de vendas é altíssimo. A direção da empresa, a partir dessas
informações, pode decidir com menor propensão de riscos quais as medidas mais adequa-
das no que tange ao volume de produção de tais produtos.
123 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
NA PRÁTICA
No exemplo, apesar do prato A ter um volume de vendas menor, ele contribui mais
significativamente no lucro da empresa.
Grau de alavancagem
Uma pequena alavanca pode movimentar um peso muito maior. Esse é um conceito oriun-
do da física e que o meio empresarial utiliza para analisar um aumento do lucro a partir do
aumento da quantidade de produção de determinado produto. Nesse sentido, é possível
que uma pequena variação na quantidade de produtos produzidos e vendidos resulte em
uma variação muito maior na sua lucratividade.
Ponto de equilíbrio
Associado aos conceitos de margem de contribuição e de grau de alavancagem, tem-se tam-
bém outro conceito muito importante para a estratégia de um negócio: o ponto de equilí-
brio.
O ponto de equilíbrio, também denominado de “ponto de ruptura” (break even point), ques-
tiona que, se a empresa, mesmo antes de iniciar a produção, já incorre em custos fixos,
quanto será necessário fabricar (e vender) para cobrir esses custos?
De fato, em qualquer situação, a empresa tem primeiro custos para depois aparecerem as
receitas. O ponto de equilíbrio é, na verdade, o momento em que o volume de vendas iguala
os custos de produção. É o momento no qual a empresa não tem nem lucro nem prejuízo.
Os valores de receitas e custos são os mesmos.
É fácil notar, então, que as vendas a partir desse ponto representam lucro efetivo, visto que
os custos já foram cobertos (compensados) com as vendas anteriores. Nesse sentido, a mar-
gem de contribuição pode ser utilizada para calcular o ponto de equilíbrio.
A fim de melhor visualizar esses conceitos, considere o exemplo a seguir e, a partir dele,
estude as formas de apresentação do ponto de equilíbrio.
Exemplo
Empresa ABBA S/A: vende um único produto cujo preço de venda é R$ 100,00.
Durante esse mesmo período sua estrutura de custos e despesas foi a seguinte:
Informações adicionais
PONTO DE EQUILÍBRIO CONTÁBIL (PEC) = CUSTOS FIXOS (CF) + DESPESAS FIXAS (DF)
MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO UNITÁRIA
Sabe-se, portanto, que a empresa atinge o ponto de equilíbrio contábil assim que vender
2.000 unidades do produto.
Outra forma de descobrir o PEC é por meio do valor monetário. Com base no exemplo, sa-
be-se que a margem de contribuição unitária do produto equivale a 50% do preço de venda,
já que o preço de venda do produto é R$ 100,00 e a margem R$ 50,00. Nesse caso, basta
utilizar a fórmula considerando não o valor monetário, mas o valor percentual da margem
de contribuição unitária, que é:
A empresa atinge o ponto de equilíbrio contábil quando seu volume de vendas alcançar
a soma de R$ 200.000,00. Esse resultado também pode ser alcançado multiplicando-se a
quantidade de produtos do ponto de equilíbrio (no caso, 2.000 unidades) pelo preço de
venda do produto (R$ 100,00).
A contabilidade trabalha pelo regime de competência. Por conta disso, considera custos e
despesas que não passam pelo caixa, ou seja, não implicam em desembolso. O exemplo
apresentado traz a depreciação do maquinário, que é um custo fixo de produção, mas que
a empresa não realiza nenhum desembolso.
Nesse caso, a empresa atingiria o ponto de equilíbrio financeiro ao vender 1.720 unidades
do produto.
Para saber o valor monetário do ponto de equilíbrio financeiro, é necessário fazer o seguinte
cálculo:
O ponto de equilíbrio econômico (PEE) considera um conceito muito importante para a ci-
ência econômica, que é o custo de oportunidade. É compreensível que qualquer investidor
queira obter retorno do investimento realizado. Mais do que isso, um investidor pode ter
determinada expectativa de retorno, ou seja, não é qualquer retorno, mas, sim, aquele que
satisfaça as suas expectativas.
Dessa forma, a fim de garantir esse retorno desejado, é possível calcular o ponto de equi-
líbrio com base na expectativa de retorno do acionista. Essa é a preocupação do ponto de
equilíbrio.
Quantidade = x
Preço de venda 100,00x
Lucro desejado (25%) 25,00x
Custos e despesas variáveis 50,00x
Custos e despesas fixas 100.000,00
PEE em quantidade:
50 x = 100.000 + 25x
25x = 100.000
Dessa forma, para se atingir o ponto de equilíbrio econômico (PEE), é necessário vender
4.000 unidades do produto ou alcançar um volume de vendas no montante de R$ 400.000,00.
Cada cálculo do ponto de equilíbrio (se contábil, financeiro ou econômico) tem utilidade es-
pecífica e pode ser utilizado indistintamente pelas empresas. O que importa, entretanto, é
apurar uma informação de qualidade que retrate a realidade econômica do evento, no caso
o processo de produção da empresa.
As incertezas econômicas que pairam no contexto atual fazem com que os preços dos insu-
mos variem, as condições de negociação sejam modificadas, os prazos de entregas e/ou de
pagamentos sejam alterados. Há, portanto, muitas variáveis que podem alterar o valor dos
custos (fixos ou variáveis) e o preço de venda dos produtos. Isso sem considerar as questões
tributárias que, dado o contexto nacional de uma elevada carga tributária, não pode em ne-
nhuma hipótese ser deixada em segundo plano.
Por essa razão, é sempre importante acompanhar essas mudanças e ajustar os valores das
margens de contribuição dos produtos e os seus respectivos pontos de equilíbrio, a fim de
manter uma informação sempre atualizada sobre a capacidade produtiva da empresa e
suas condições de gerar lucros condizentes com as expectativas dos acionistas.
130 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
UNIDADE 2
FATORES LIMITANTES AO USO DA MARGEM DE CONTRIBUI-
ÇÃO E CUSTOS FIXOS IDENTIFICÁVEIS
Além disso, outros fatores internos, como insuficiência de capacidade de crédito junto a ins-
tituições financeiras e/ou ausência de capital de giro para financiar o aumento da produção,
também podem ser destacados.
Imagine que uma empresa da área de construção civil tenha na sua folha de paga-
mento mensal os seguintes trabalhadores e seus respectivos valores:
Preço unitário de
500,00 450,00 430,00
venda
= Margem de con-
300,00 300,00 246,00
tribuição
Considerando esses dados, fica evidente que os melhores produtos no que diz respei-
to à contribuição ao lucro são os produtos A e B.
Tempo de utilização
Produtos Condições de venda de máquinas para a
produção
Ocorre que a empresa teve um problema com o maquinário e a reposição de peças de-
morou mais do que o esperado. Por meio de estudos internos realizados pela equipe,
chegou-se à conclusão de que nessas condições a empresa conseguiria, no máximo,
90.000 horas/máquina de produção.
Portanto, atender a demanda nesse mês não será possível, pois ela ultrapassa a capa-
cidade total de produção, como se observa a seguir:
Observe que agora, ao considerar o fator de limitação, a ordem das margens de contri-
buição se diferenciou. O produto C, que anteriormente apresentava a menor margem
de contribuição, agora assumiu o primeiro lugar, com a maior margem de contribuição
entre os produtos. De forma inversa, a margem de contribuição do produto B dimi-
nuiu. Dessa forma, considerando as condições de limitação e preocupada com a oti-
mização do lucro, a empresa deverá fabricar os produtos nas seguintes quantidades:
O produto B teria uma produção menor nesse mês por conta do fator de limitação,
que é a utilização das máquinas. Ocorre que, como sua fabricação requer um tempo
maior de uso das máquinas, a ausência destas torna a margem de contribuição do pro-
duto menor. Sendo assim, a preocupação principal será apresentar o maior retorno
possível, ou seja, o lucro maior. Portanto, é melhor reduzir a produção desse produto
específico
Outra questão importante diz respeito aos custos fixos identificáveis. Quando se fala
de margem de contribuição, ou do custeio variável, é natural pensar em deixar os cus-
tos fixos em segundo plano, concedendo toda a atenção aos custos variáveis. Porém,
se tais custos puderem ser identificados aos produtos, estes devem ser considerados.
Veja um exemplo dessa situação:
Imagine que uma empresa fabrique quatro produtos aqui denominados de Alfa, Beta,
Gama e Ômega. Suponha ainda que, nessa empresa, haja dois departamentos de
produção trabalhando exclusivamente para alguns produtos. O departamento A, por
exemplo, só é utilizado para a fabricação dos produtos Alfa e Beta. Já o departamento
B, para os produtos Gama e Ômega. Em relação aos produtos, essas são as informa-
ções disponíveis sobre custos variáveis e custos fixos identificáveis:
Margem de contri-
buição dos produ- 150.000,00 324.000,00 242.500,00 228.000,00 944.500,00
tos
Segunda Margem
10.000,00 132.000,00 104.500,00 (12.000,00) 234.500,00
de contribuição
Resultado 34.500,00
135 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
Observa-se, então, que os custos fixos, quando identificáveis, tornam-se tão importan-
tes quanto os custos variáveis no processo de tomada de decisão.
UNIDADE 3
CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA
A determinação do preço de venda de produtos e serviços, porém, não requer somente in-
formações sobre custos. Há que se considerar outras variáveis, tais como:
136 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
Como se pode observar, são muitas as variáveis a considerar na hora de estabelecer o preço
de venda de um produto, mas, seja como for, são três os principais modelos para gestão de
preços de venda que as empresas podem se orientar (PADOVEZE, 2013, p. 326):
Outra questão importante já destacada nesta unidade diz respeito ao grau de concorrência.
Se há muitas empresas em determinado segmento de mercado e se existem pequenas di-
ferenças entre os produtos oferecidos por essas empresas e, além disso, nenhuma dessas
empresas pode influenciar significativamente os preços, mudam-se as decisões sobre qual
valor de venda final será estabelecido para os clientes. Por exemplo, se em determinado
ramo de atividade existem poucas empresas competindo, logo, aquelas que abrangem par-
celas significativas do mercado exercem liderança e têm que decidir os preços que serão
fixados para os seus produtos.
Quando a empresa orienta-se pelo custo, ela tão somente considera os custos totais de pro-
dução acrescidos de determinada margem de lucro desejada. Nesse sentido, as empresas
devem controlar seus custos de produção para evitar ao máximo que eles se elevem a ponto
de inibir a sua aquisição por parte dos clientes.
Nessa preocupação com o controle dos custos é que surge o conceito de custo padrão, cuja
ideia central é estabelecer um padrão de comportamento dos custos fixando um montante
final esperado. Nesse sentido, as diferenças entre o custo padrão estimado e o custo real
são analisadas de forma criteriosa. A fixação desses padrões e a rigidez do controle e acom-
panhamento dos valores dependerão basicamente dos objetivos da empresa ao estabele-
cê-los. Podem-se implantar alguns tipos de padrões, como:
O estabelecimento do custo padrão pode ser feito somente aos custos de matéria-prima e
não a todos os custos.
138 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
A diferença entre a orientação pelos custos e orientação pelo mercado está apresentada a
seguir:
ORIENTAÇÃO ORIENTAÇÃO
PELO CUSTO PELO MERCADO
Preço de venda
Custo da produção de mercado
+ -
Margem de lucro Margem de lucro
=
Preço de venda
=
desejado Custo Meta
O cálculo do markup consiste em adicionar uma margem de lucro aos custos de fabricação
de um produto ou de execução de um serviço. A fórmula seria a seguinte:
139 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
Porém, como o markup representa um percentual que se soma ao custo unitário do produ-
to, a equação relativa ao preço de venda seria:
Sendo assim, por exemplo, se determinado produto tiver um custo unitário apurado de
R$100,00 e a empresa trabalhar com um markup de 30%, o preço de venda deverá ser
R$130,00. No entanto, apesar dessa margem de lucro adicionada ao custo, e que formou o
preço de venda do produto ou serviço, não se está considerando as despesas gerais e admi-
nistrativas nem tampouco os tributos que incidem sobre a venda. Este tema é, inclusive, o
tópico que você verá a seguir.
Além do ICMS, duas outras contribuições, a Contribuição para Finalidade Social (Cofins) e o
Programa de Integração Social (PIS), devidos ao governo federal, são também tributos que
incidem sobre a venda. Tais contribuições podem ser devidas de forma cumulativa, quando
não há compensação dos valores pagos, enquanto que no regime não cumulativo essa pos-
sibilidade de compensação é possível.
O PIS e o Cofins incidem sobre a venda e o ICMS incide sobre a circulação (movimentação)
de mercadorias. Isso ocorre tanto na compra quanto na venda. No entanto, o ônus do reco-
lhimento do tributo se dá para aquele que vende.
140 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
NA PRÁTICA
PIS = 0,65%
COFINS = 3%
ICMS = 19%
Sendo assim:
Note que, apesar do lucro desejado pelo markup ser de 50%, o lucro efetivo, por conta
dos tributos, representou apenas 11,9% (14,70 / 123,72).
141 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
TOME NOTA
Nesse caso, enquanto no custeio por absorção a expectativa é que os custos fixos sejam
cobertos integralmente, no custeio marginal entende-se que qualquer contribuição para a
recuperação desses custos fixos já traz algum significado. De acordo com Lins e Silva (2005),
sob o custeio marginal, um dirigente encarregado da fixação de preços tem maior liberdade
de ação.
Nesse método são considerados somente aqueles custos identificados de maneira a estabe-
lecer um preço que minimamente cubra os custos fixos identificáveis. Geralmente o custo
marginal é utilizado em situações nas quais haja pedidos extraordinários e não constantes e
que tais solicitações adicionais não extrapolem sua capacidade produtiva.
142 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
Observe o exemplo a seguir, que compara a formação de preços com base no custeio por
absorção e, também, com base no custeio marginal:
Custos
Custos da Custos fixos não
Custo da maté- Despesas Custo
mão de obra fixos iden- identificá-
ria-prima variáveis total
direta tificáveis veis (ra-
teio)
Imaginando que a expectativa da empresa é um lucro de 30%, o preço de venda teria o valor
de R$ 124,10 (que representaria o acréscimo de 30% sobre o custo total).
A situação na qual a empresa não trabalha com sua capacidade total de operação e, tendo
a possibilidade de uma venda adicional, entende-se que qualquer valor superior a R$ 55,00
(custo da MP + custo da MOD + despesas variáveis) representaria algo positivo que ajudaria
na cobertura dos custos fixos.
Resumo
Neste módulo foram apresentados conceitos muito importantes relacionados à contabilida-
de gerencial. Você estudou sobre margem de contribuição, ponto de equilíbrio e alavanca-
gem operacional, que são fundamentais para a utilização dos custos para fins de tomada de
decisão gerencial. Além disso, percebeu que a análise e a gestão dos custos são fundamen-
tais para a compreensão do comportamento dos custos e permitem ao gestor uma amplia-
ção das condições empresariais no curto e no longo prazo.
Verificou, ainda, a importância dos custos para a decisão do preço de venda do produto ou
serviço, observando que muitas outras variáveis, além dos custos, devem ser levadas em
consideração na hora da determinação do valor a ser cobrado dos clientes.
Por fim, compreendeu que decisões de compra, venda, controle de custos, estimativas e
acompanhamentos são primordiais aos gestores, que tomarão essas decisões com mais
segurança e menores riscos quanto mais tiverem controle das informações gerenciais de
custos.
143 RELAÇÃO CUSTO, VOLUME E LUCRO
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