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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES

FINANCEIRAS E INDICADORES
DE DESEMPENHO

ENSINO A
DISTÂNCIA
PLANO DE ESTUDOS

Prezados acadêmicos, sejam bem-vindos ao estudo da Análise das Demonstrações


Financeiras e Indicadores de Desempenho. Para darmos início ao nosso conteúdo, é
necessário apresentarmos a ementa da disciplina e seus objetivos, oportunizando com
isso, uma base do que se trata nossa disciplina. Vocês sabem que o conhecimento, é
uma bagagem que levamos para nossa vida, portanto, é de suma importância, buscar o
desenvolvimento profissional e pessoal do mesmo.
Neste contexto, nossa disciplina representará um papel relevante tanto na sua vida
profissional como na acadêmica, desde que, sua postura seja ativa nesse processo, que é
fundamental para seu sucesso.

EMENTA
Estruturação e análise dos demonstrativos contábeis (balanço patrimonial,
demonstração do resultado e demonstração do fluxo de caixa). Análise e interpretação
das situações econômica e financeira de um determinado período. Índices financeiros.
Índices de endividamento. Liquidez e solvência. Giro e retorno. Análises vertical e
horizontal. Necessidade de recursos, capital próprio e de terceiros.
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
• Compreender a necessidade da elaboração do Balanço Patrimonial e da
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);
• Conhecer e estudar cada conta que compõe o Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido
e as contas da DRE;
• Entender a Demonstração do Fluxo de Caixa pelo Método Direto e Indireto;
• Identificar a Análise de Balanços como importante ferramenta de gestão;
• Conhecer as etapas do processo de análise;
• Demonstrar a importância da padronização das demonstrações financeiras para
atender às necessidades de análise;
• Demonstrar as principais reclassificações nas contas do balanço patrimonial e da
demonstração do resultado;
• Aplicar a técnica de Análise Vertical e Horizontal nos principais demonstrativos
contábeis;
• Identificar a importância dos índices de estrutura de capitais;
• Orientar a interpretação e uso dos referidos indicadores relacionados ao
endividamento;
• Avaliar a situação financeira da empresa de acordo com esses indicadores de
liquidez;
• Identificar os objetivos e a importância desses indicadores de rentabilidade;
• Discutir a importância da Análise por Quocientes nas Tomadas de Decisões;
• Apresentar e aplicar a técnica de Análise por Quocientes na modalidade
denominada índices de atividade;
• Interpretar os resultados dos quocientes de atividade, sinalizando algumas
conclusões sobre eles;
• Dar subsídios para compreender o ciclo operacional e financeiro;
• Descrever o uso dos quocientes padrão e relatar a forma de composição desses
índices;
• Redigir um Relatório de Análise sobre a situação econômico-financeira da
empresa;
• Calcular o custo de capital de terceiros;
• Estimar o custo de capital próprio;
• Demonstra o cálculo do custo médio ponderado de capital;
• Entender os principais elementos da gestão do capital de giro;
• Dimensionar a Necessidade de Capital de Giro (NCG), o Capital Circulante Líquido
(CCL) e o Saldo de Tesouraria (ST);
• Demonstrar a importância do Efeito Tesoura;
• Calcular a rentabilidade e explicar seu comportamento através da Análise DuPont;
• Identificar como o EBITDA pode auxiliar no desempenho operacional da
organização;
• Calcular o NOPAT e mostrar que é um indicador medirá a capacidade da empresa
em gerar lucro;
• Reconhecer o Economic Value Added (EVA) como ferramenta de gestão;
• Analisar o método de cálculo do Market Value Added (MVA).

Com estes objetivos, foi pensado e estruturado nosso estudo, que resultou neste
caderno, dividido em quatro unidades, sendo a Unidade 1 Estruturação dos Demonstrativos
Contábeis, a 2 Análise e Interpretação das Situações Econômica e Financeira de um
determinado período, a Unidade 3 Análise Econômico Financeira das Demonstrações
Contábeis e a Unidade 4 Análise Econômico Financeira das Demonstrações Contábeis
parte 2.
Diante do exposto, desejamos a todos, sucesso, pois este material de estudo, está
redigido com terminologias de fácil acesso, com muitos detalhes e com exemplos do que
ocorrem no do dia a dia das empresas.
O PAPEL DA DISCIPLINA NA FORMAÇÃO DO ACADÊMICO

Caros alunos, como já abordamos, este caderno, está organizado de forma que os
assuntos seguem uma sequência, que proporciona fácil absorção de conhecimento na
Análise das Demonstrações Financeiras.
Para atingir um bom nível de compreensão, serão apresentadas situações encontradas
nas empresas, contribuindo na construção das capacidades técnicas, refletindo no
conhecimento de conceitos básicos e metodologias de Análise para apoio à tomada de
decisão.
Entendendo as funções básicas da Análise das Demonstrações Financeiras e
Indicadores de Desempenho e sua utilização, você perceberá que seu papel vai além dos
cálculos, e sim, terá em suas mãos uma importante ferramenta para sua gestão.
Portanto, deseja-se ao final desta trajetória, que você domine os tópicos estudados,
buscando aplicar seus conhecimentos adquiridos, utilizando os principais modelos de
análise para o processo de tomada de decisões dentro das empresas.

Bons estudos!
PROFESSORA

APRESENTAÇÃO DA AUTORA

MARIA ELISABETH PEREIRA KRAEMER

Mestre em Administração pela Universidade


do Vale do Itajaí, UNIVALI (2015). Mestre em
Relações Econômicas e Sociais Internacionais pela
Universidade do Minho – Braga - Portugal (1998).
Especialista em Avaliação Institucional, pela UNB,
(2002). Especialista em Contabilidade Gerencial
e Finanças na UNIVALI, (1998). Especialista em
Auditoria Contábil na UNIVALI, (1994). Especialista
em Ciências Contábeis pela UNIVALI. (1990). Bacharel
em Ciências Contábeis pela UNIVALI (1987). Professora dos Cursos de Administração e
Ciências Contábeis na UNIVALI desde 1990 até 02/2020 nas disciplinas: Administração
Financeira e Orçamentária, Finanças Corporativas, Custos, Contabilidade Gerencial,
Contabilidade Financeira, Análise das Demonstrações Contábeis, Responsabilidade
Social e Ambiental e Análise de Investimento. Orientadora de TCC. Na Univali foi
integrante da Equipe da Pró-reitoria de Ensino (2010 – 2018) com experiência em Ensino
e Avaliação. Foi Membro da CPA, participou da Comissão Local do PROUNI, da Comissão
para elaboração do Balanço Social, Membro do Conselho Curador, do Conselho de
Administração Superior – CAS, do Conselho Universitário, Conselheira Fiscal da PREVISC
– Previdência Complementar, Participante da Comissão Responsável pela Elaboração
da Política de Responsabilidade Socioambiental da Fundação Univali. Membro da
Comissão Titular de Credenciamento de Docentes da Educação Superior, membro do
Conselho Fiscal e Tesoureira da APESI, Membro da Comissão de Avaliação do ProBIC/
PIBIC. Professora do curso Desenvolvimento Regional - Programa de Educação Superior
para o desenvolvimento Regional – PROESDE com as disciplinas Responsabilidade
Social e Ambiental, Educação e Cidadania e Educação e Desenvolvimento. Avaliadora de
Curso de Graduação integrante do BASis – Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de
Avaliação do Ensino Superior SINAES/INEP/MEC desde 2006. Elaboradora de itens para
ENADE do MEC. Avaliadora do Conselho Estadual da Educação – CEE, Avaliadora ad hoc
de várias revistas de contabilidade. Professora da pós na FGV. Livro publicado na Editoria
Atlas sobre Contabilidade de Gestão Ambiental em 2004. Capítulos de livros publicados:
O impacto da contabilidade no terceiro setor In: Aspectos Jurídicos do Terceiro Setor.
2ª ed. São Paulo: MP Editora, 2008; O uso dos resultados da avaliação institucional: um
estudo de caso In: Currículo e Avaliação Investigações e Ações. Editora UNIVALI, 2006 e
Constituindo os resultados do exame nacional de cursos numa perspectiva da avaliação
processual In: Avaliação do ensino superior: referenciais para a construção de um projeto
institucional ed. UNIVALI, 2003 e vários artigos publicados e premiados.

Link lattes: http://lattes.cnpq.br/6610121454493187


E-mail: kraemer@univali.br
SUMÁRIO

UNIDADE 1 - ESTRUTURAÇÃO DOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS.. . . . . . . . . 15


INTRODUÇÃO A UNIDADE........................................................................................................................................ 16
1.1. AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS...............................................................................................................17
1.1.1 Balanço Patrimonial - BP...........................................................................................................................................18
1.1.1.1 Modelo de Balanço Patrimonial .............................................................................................................20
1.2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO - DRE.................................................................24
1.2.1 Modelo de DRE.................................................................................................................................................................24
1.3.DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - DMPL.................................. 26
1.3.1 Mutações nas contas patrimoniais................................................................................................................. 27
1.3.2 Preparando a DMPL....................................................................................................................................................29
1.3.3 Procedimentos que devem ser seguidos para a elaboração..................................................29
1.3.4 Modelo de DMPL............................................................................................................................................................31
1.4 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC........................................................................................32
1.4.1 Equivalentes de Caixa .................................................................................................33
1.4.2 Estrutura da DFC...........................................................................................................................................................34
1.4.3 Classificação das entradas e saídas de Caixa por atividades.................................................34
1.4.4 Transações que devem integrar a DFC.......................................................................................................35
1.4.5 Transações que não envolvem caixa ou equivalentes de caixa............................................38
1.4.6 Métodos de elaboração...........................................................................................................................................39
1.4.7 Estrutura da DFC – Método Direto...................................................................................................................40
1.4.8 Estrutura da DFC – Método Indireto..............................................................................................................42
1.4.9 Elaboração do DFC......................................................................................................................................................43
1.4.9.1 Exemplificando...................................................................................................................................................43
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................47
EXERCÍCIOS.................................................................................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................................... 50
UNIDADE 2 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS SITUAÇÕES ECONÔMICA E
FINANCEIRA DE UM DETERMINADO PERÍODO.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
INTRODUÇÃO A UNIDADE....................................................................................................................................... 54
2.1 HISTÓRICO, CONCEITO, OBJETIVOS E USUÁRIOS DA ANÁLISE DOS DEMONSTRATIVOS
CONTÁBEIS..................................................................................................................................................................... 56
2.1.1 Histórico................................................................................................................................................................................56
2.1.1.1 Estados Unidos..................................................................................................................................................... 57
2.1.1.2 Brasil............................................................................................................................................................................58
2.1.2 Conceito................................................................................................................................................................................61
2.1.3 Objetivos..............................................................................................................................................................................62
2.1.4 Usuários...............................................................................................................................................................................64
2.2 INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE BALANÇOS............................................................................................... 65
2.2.1 Análise Interna e Externa.......................................................................................................................................67
2.2.2 Técnicas para análise..............................................................................................................................................69
2.2.2.1 Análise propriamente dita........................................................................................................................69
2.2.2.2 Análise por quocientes..............................................................................................................................69
2.2.2.3 Análise vertical................................................................................................................................................70
2.2.2.4 Análise horizontal .........................................................................................................................................70
2.2.3 As etapas do processo de análise................................................................................................................70
2.2.4 Estática e dinâmica patrimonial..................................................................................................................... 72
2.2.4.1 Estática Patrimonial....................................................................................................................................... 72
2.2.4.2 Dinâmica Patrimonial...................................................................................................................................74
2.3 EXAME DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS...................................................................................76
2.4 PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS...............................................................77
2.4.1 Simplificação.................................................................................................................................................................... 78
2.4.2 Comparabilidade......................................................................................................................................................... 78
2.4.3 Adequação aos objetivos da análise..........................................................................................................79
2.4.4 Precisão nas classificações de contas......................................................................................................79
2.4.5 Descoberta de erros.................................................................................................................................................79
2.4.6 Intimidade do analista com as demonstrações financeiras da empresa.....................80
2.5 PREPARAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES ANTES DOS CÁLCULOS................................................. 81
2.5.1 Ajustes, simplificações e considerações no Balanço Patrimonial ......................................82
2.5.2 Ajustes, simplificações e considerações no Demonstrativo de Resultado ................82
2.6 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA PADRONIZAÇÃO................................................................ 83
2.7 EXEMPLO PRÁTICO .............................................................................................................................................87
2.7.1 - 1ª Etapa – Exame e Padronização ...............................................................................................................89
2.7.2 - 2ª Etapa – Coleta de dados...............................................................................................................................91
2.7.3 - 3ª Etapa – Análises Horizontal e Vertical................................................................................................91
2.7.3.1 Análise horizontal (AH) ou de evolução ou de método de percentagens hori-
zontais......................................................................................................................................................................................92
2.7.3.2 Análise vertical (AV) ou de estrutura ou método de percentagens
verticais...................................................................................................................................................................................96
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................................102
EXERCÍCIOS...................................................................................................................................................................103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................107

UNIDADE 3 - ANÁLISE ECONÔMICO FINANCEIRA DAS DEMONSTRAÇÕES


CONTÁBEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
INTRODUÇÃO A UNIDADE.......................................................................................................................................110
3.1 ANÁLISE POR INDICADORES FINANCEIROS .........................................................................................111
3.1.1 Aspectos gerais................................................................................................................................................................111
3.1.2 Índices de liquidez (Solvência).........................................................................................................................112
3.1.2.1 Índice de Liquidez imediata (ILI).........................................................................................................116
3.1.2.2 Índice de Liquidez Corrente (ILC).......................................................................................................117
3.1.2.3 Índice de Liquidez Seca (ILS)............................................................................................................... 119
3.1.2.4 Índice de liquidez geral (ILG)...............................................................................................................122
3.1.3 Índices de Estrutura de Capitais e Endividamento......................................................................... 124
3.1.3.1 Endividamento total......................................................................................................................................126
3.1.3.2 Participação de capitais de terceiros............................................................................................128
3.1.3.3 Garantia aos capitais de terceiros...................................................................................................130
3.1.3.4 Composição do endividamento.......................................................................................................... 131
3.1.3.5 Imobilização do capital próprio.........................................................................................................133
3.1.3.6 Imobilização dos recursos não correntes (permanentes)...........................................138
3.2 ANÁLISE POR INDICADORES ECONÔMICOS ......................................................................................140
3.2.1 Índices de Rentabilidade .....................................................................................................................................141
3.2.1.1 Margem da lucratividade das vendas............................................................................................142
3.2.1.1.1 Margem Bruta (MB)..............................................................................................................................142
3.2.1.1.2 Margem Operacional (MO)............................................................................................................144
3.2.1.1.3 Margem Líquida (ML) também chamada de Retorno sobre as vendas
(RSV).................................................................................................................................................................................146
3.2.2.1 Taxas de retorno sobre os recursos investidos.................................................................... 147
3.2.2.1.1 Taxa de Retorno sobre Investimentos (ROI) ou Taxa de Retorno sobre o
Ativo Total (ROA)......................................................................................................................................................148
3.2.2.1.2 Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) ou Rentabilidade do PL..........150
3.2.2.2 Giro do ativo (GA) ou Rotação do ativo (RA).........................................................................152
3.3 RESUMO DOS INDICADORES.......................................................................................................................156
3.4 QUINTA ETAPA: INTERPRETAÇÃO DOS QUOCIENTES.....................................................................157
3.4.1 Quocientes Financeiros......................................................................................................................................... 157
3.4.1.1 Estrutura de Capitais.................................................................................................................................... 157
3.4.1.2 Liquidez..................................................................................................................................................................158
3.4.2 Quocientes Econômicos......................................................................................................................................158
3.4.2.1 Rentabilidade....................................................................................................................................................158
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................................................... 160
EXERCÍCIOS....................................................................................................................................................................161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................163

UNIDADE 4 - ANÁLISE ECONÔMICA FINANCEIRA DAS DEMONSTRAÇÕES


CONTÁBEIS – PARTE 2.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
INTRODUÇÃO A UNIDADE......................................................................................................................................166
4.1 INDICES DE ATIVIDADES ................................................................................................................................168
4.1.1 Índices de prazos médios ....................................................................................................................................169
4.1.1.1 Prazo Médio Renovação dos Estoques............................................................................................172
4.1.1.2 Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV)................................................................174
4.1.1.3 Prazo Médio de Pagamento das Compras (PMPC).............................................................. 175
4.1.1.4 Índice de Posicionamento de Atividades (IPA) ou Quociente de Posiciona-
mento Relativo (QPR)..................................................................................................................................................177
4.1.2. Índices de giro ou de Rotação........................................................................................................................ 179
4.1.2.1 Giro dos estoques (GE)...............................................................................................................................180
4.1.2.2 Giro de Duplicatas a Receber (GDR)...............................................................................................181
4.1.2.3 Giro de Fornecedores (GF).....................................................................................................................182
4.1.3 Interpretação dos índices de atividade....................................................................................................185
4.1.3.1 Ciclo financeiro ou ciclo de caixa (CF ou CC)..........................................................................185
4.1.3.2 Ciclo Operacional (CO)................................................................................................................................187
4.2 FATORES DE INSOLVÊNCIA...........................................................................................................................189
4.2.1 Modelo para prever falência desenvolvido pelo Professor Kanitz.....................................190
4.3. QUOCIENTES-PADRÃO...................................................................................................................................193
4.3.1 Padrão interno..............................................................................................................................................................195
4.3.2 Padrão externo............................................................................................................................................................195
4.3.3 Região geográfica....................................................................................................................................................195
4.3.4 Ramo de atividade...................................................................................................................................................196
4.3.5 Tamanho da empresa.............................................................................................................................................197
4.3.6 Como calcular o quociente-padrão............................................................................................................197
4.4 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO.....................................................................................................................198
4.4.1 Estrutura do relatório...............................................................................................................................................198
4.4.1.1 Relatório da Comercial Vale Doce S.A...........................................................................................200
4.5 ALAVANCAGEM...................................................................................................................................................205
4.5.1 Alavancagem Financeira.....................................................................................................................................206
4.5.2 Grau de Alavancagem Financeira - GAF................................................................................................ 207
4.5.2.1 GAF sem considerar o efeito dos custos com a dívida no Imposto de
Renda.....................................................................................................................................................................................209
4.5.2.2 GAF considerando o efeito dos custos com a dívida no Imposto de
Renda...................................................................................................................................................................................209
4.5.2.3 Identificação do valor de Investimentos e do Passivo Oneroso e não
Oneroso.................................................................................................................................................................................. 211
4.5.2.4 Cálculo do Retorno sobre Investimento (ROI/ROA), Retorno sobre o Patrimô-
nio Líquido (ROE) e Grau de Alavancagem Financeira (GAF)...................................................213
4.6 ESTRUTURA DE CAPITAL ..............................................................................................................................215
4.6.1 Capital Próprio..............................................................................................................................................................216
4.6.2 Capital de Terceiros..................................................................................................................................................217
4.6.3 Custo de Capital.........................................................................................................................................................218
4.6.3.1 Custo de Capital de Terceiros..............................................................................................................219
4.6.3.2 Custo do Capital Próprio.........................................................................................................................221
4.6.3.2.1 Custo das ações ordinárias.......................................................................................................222
4.6.3.2.3 Custo de emissão das novas ações ordinárias e preferenciais.................225
4.6.3.2.4 Custo do lucro retido..................................................................................................................... 227
4.6.3.3 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)..........................................................................228
4.7 CAPITAL DE GIRO OU CAPITAL CIRCULANTE.....................................................................................233
4.7.1 Modelo Tradicional.....................................................................................................................................................233
4.7.1.1 Capital de giro líquido (CGL) ou capital circulante líquido (CCL)............................234
4.7.1.1.1 Capital de Giro Líquido Positivo........................................................................................................235
4.7.1.1.2 Capital de giro líquido negativo................................................................................................236
4.7.1.1.3 Capital de giro líquido nulo.......................................................................................................... 237
4.7.2 Modelo Dinâmico ou de Fleuriet...................................................................................................................238
4.7.2.1 Reagrupamento das contas do Balanço Patrimonial......................................................240
4.7.2.2 Necessidade de Capital de Giro (NCG) – IOG – Investimento Operacional em
Giro...........................................................................................................................................................................................243
4.7.2.3 Capital Permanente Líquido – CPL................................................................................................243
4.7.2.5 O efeito tesoura..............................................................................................................................................246
4.7.2.6 Tipologia de Fleuriet..................................................................................................................................248
4.8 INDICADORES E ANÁLISES ESPECIAIS.................................................................................................250
4.8.1 Análise DuPont............................................................................................................................................................250
4.8.2 EBITDA...............................................................................................................................................................................254
4.8.2.1 Pontos fortes do EBITDA.........................................................................................................................255
4.8.2.2 Pontos fracos do EBITDA.......................................................................................................................255
4.8.2.3 Cálculo do EBITDA......................................................................................................................................256
4.8.2.4 Diferença entre o EBIT e o EBITDA..................................................................................................261
4.8.3 NOPAT.................................................................................................................................................................................261
4.8.4 EVA®......................................................................................................................................................................................264
4.8.4.1 Ativo Operacional (AO) ............................................................................................................................269
4.8.4.2 Passivo Operacional (PO).....................................................................................................................269
4.8.5 MVA®.....................................................................................................................................................................................271
4.8.5.1 Cálculo do Custo Total de Capital (WACC)................................................................................275
4.8.5.2 Cálculo do MVA.............................................................................................................................................276
4.8.5.3 SPREAD DO ACIONISTA............................................................................................................................277
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................................279
EXERCÍCIOS..................................................................................................................................................................280
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................................281
1
unidade

ESTRUTURAÇÃO DOS
DEMONSTRATIVOS
CONTÁBEIS
INTRODUÇÃO A UNIDADE

Nesse primeiro momento do estudo da Análise das Demonstrações Financeiras


e Indicadores de Desempenho, nossa discussão será sobre Estruturação dos
Demonstrativos Contábeis abrangendo: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE), Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido (DMPL),
e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). Para isso, a unidade terá como objetivos de
aprendizagem:
• Compreender a necessidade da elaboração do Balanço Patrimonial e da
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);
• Entender a correlação existente entre o Balanço Patrimonial e a DRE;
• Conhecer e estudar cada conta que compõe o Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido;
• Explicar o que são as atividades operacionais, de investimento e de financiamento
da demonstração dos fluxos de caixa;
• Conhecer a Demonstração do Fluxo de Caixa pelo Método Direto e Indireto;
• Compreender a necessidade da elaboração da Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido (DMPL);
• Entender as principais movimentações que podem afetar o Patrimônio Líquido.

Vamos aos estudos!

16
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1.1. AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

As demonstrações financeiras ou demonstrações contábeis são relatórios elaborados


com base na escrituração mercantil mantida pela empresa, com a finalidade de apresentar
informações aos diversos usuários, principalmente de natureza econômica e financeira,
relativas à gestão do patrimônio ocorrida durante o exercício social. (RIBEIRO, 2008).
Em relação ao tipo de informação que contém os relatórios contábil-financeiros
publicados pelas entidades, o CPC 00 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS,
2019, documento on-line) afirma que eles:

[...] fornecem informação acerca da posição patrimonial e financeira


da entidade que reporta a informação, a qual representa informação
sobre os recursos econômicos da entidade e reivindicações contra a
entidade que reporta a informação. Relatórios contábil-financeiros
também fornecem informação sobre os efeitos de transações e outros
eventos que alteram os recursos econômicos da entidade que reporta
a informação e reivindicações contra ela. Ambos os tipos de informação
fornecem dados de entrada úteis para decisões ligadas ao fornecimento
de recursos para a entidade.

VALE A PENA CONFERIR!!!


CPC 00 (R2) - Disponível em: www.cpc.org.br

Assaf Neto (2012) escreve que, demonstrações contábeis são peças elaboradas com
dados extraídos da escrituração da entidade. Para analisá-las, é preciso que você conheça
os elementos que as compõem, e exige conhecimento do que representa cada conta que
nelas figura. Há uma infinidade de contas decorrentes de inúmeras operações realizadas
por empresas das mais diferentes atividades.
A estrutura conceitual definida no CPC 00 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS
CONTÁBEIS, 2019) aborda que o objetivo da elaboração de demonstrações contábeis é a
divulgação de relatórios contábil-financeiros, apresentando as características qualitativas
desses documentos, auxiliando na definição, no reconhecimento e na mensuração dos
elementos a partir dos quais eles são elaborados.

17
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
As Demonstrações Financeiras são compostas de quatro peças:
• Balanço Patrimonial (BP);
• Demonstração do Resultado do Exercício (DRE);
• Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL);
• Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).

A Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76 modificada pelas Leis 11.638/07 e
Medida Provisória nº449/2008 convertida na Lei 11.941/09) determina a estrutura básica
das quatro demonstrações financeiras referidas anteriormente. As novas leis objetivam
convergir às regras contábeis brasileiras ao padrão contábil internacional.

1.1.1 Balanço Patrimonial - BP

O Balanço Patrimonial é o “retrato” do patrimônio de uma empresa em um


determinado momento, composto por ativos e passivos, ou seja, seus bens e direitos
(ativo) e obrigações (passivo). O ativo envolve os investimentos realizados pela empresa,
como máquinas e imóveis, ou o caixa realizado pelas vendas, enquanto o passivo são as
obrigações contraídas para fornecer recursos para a atividade da empresa, seja por meio
de terceiros ou pelos sócios ou acionistas. (AZEVEDO, 2012).
A diferença entre Ativo e Passivo é chamada Patrimônio Líquido e representa o capital
investido pelos proprietários da empresa, quer através de recursos trazidos de fora da
empresa, quer gerados por esta em suas operações e retidos internamente. Por meio da
leitura do Balanço Patrimonial, você pode identificar, por exemplo, o quanto a sua empresa
está contraindo em empréstimos e decidir se ainda é possível obter financiamentos sem
carregar demais o seu passivo. (AEDB, 2020).
A periodicidade imposta pela Lei para sua elaboração e publicação é anual, porém,
poderão ser levantados a qualquer tempo, de acordo com a necessidade da empresa.
De acordo com o art. 178 da Lei 6.404/76, as contas serão classificadas segundo os
elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento
e a análise da situação financeira da entidade.
Segundo a Lei 11.638/07 em comparação com as modificações feitas pela Lei 11.941/09,
o Balanço Patrimonial deve conter os seguintes grupos de contas:

18
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ATIVO

ATIVO CIRCULANTE
Disponibilidades.
Direitos realizáveis no curso do exercício social seguinte.
Aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte.
ATIVO NÃO CIRCULANTE
São incluídos neste grupo todos os bens de permanência duradoura, destinados ao funcionamento normal
da sociedade e do seu empreendimento, assim como os direitos exercidos com essa finalidade.
O Ativo Não Circulante será composto dos seguintes subgrupos:
Ativo Realizável a Longo Prazo
De uma forma geral, são classificáveis no Realizável a Longo Prazo contas da mesma natureza das do Ativo
Circulante, que, todavia, tenham sua realização certa ou provável após o término do exercício seguinte, o que,
normalmente, significa realização num prazo superior a um ano a partir do próprio balanço.
As despesas apropriáveis após o exercício seguinte também são classificadas no Ativo Realizável a Longo
Prazo.
Os direitos não derivados de vendas, e adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou contro-
ladas, diretores, acionistas ou participantes no lucro da empresa, que não constituírem negócios usuais na
exploração do objeto da empresa, serão classificados no Ativo Realizável a Longo Prazo. (ESTRUTURA DO
BALANÇO PATRIMONIAL).
Investimentos
No subgrupo Investimentos do Ativo Não Circulante devem ser classificadas as participações societárias per-
manentes, assim entendidas as importâncias aplicadas na aquisição de ações e outros títulos de participação
societária, com a intenção de mantê-las em caráter permanente, seja para se obter o controle societário, seja
por interesses econômicos, entre eles, como fonte permanente de renda. (ESTRUTURA DO BALANÇO PATRIMO-
NIAL).
Imobilizado
O Ativo Imobilizado é formado pelo conjunto de bens e direitos necessários à manutenção das atividades da
empresa, caracterizados por apresentar-se na forma tangível (edifícios, máquinas, etc.). O imobilizado abran-
ge, também, os custos das benfeitorias realizadas em bens locados ou arrendados. (ESTRUTURA DO BALANÇO
PATRIMONIAL).
Intangível
Os ativos intangíveis compreendem o leque de bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou
exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido.
Trata-se de um desmembramento do ativo imobilizado, que, a partir da vigência da Lei 11.638/2007, ou seja, a
partir de 01.01.2008, passa a contar apenas com bens corpóreos de uso permanente.
Como exemplos de intangíveis, os direitos de exploração de serviços públicos mediante concessão ou
permissão do Poder Público, marcas e patentes, softwares e o fundo de comércio adquirido. (ESTRUTURA DO
BALANÇO PATRIMONIAL).

PASSIVO

PASSIVO CIRCULANTE
Neste grupo são escrituradas as obrigações da entidade, inclusive financiamentos para aquisição de direitos
do ativo não circulante, quando se vencerem no exercício seguinte. No caso de o ciclo operacional da empre-

19
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
sa ter duração maior que a do exercício social, a concepção terá por base o prazo desse ciclo. (ESTRUTURA
DO BALANÇO PATRIMONIAL).
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
Neste grupo são escrituradas as obrigações da entidade, inclusive financiamentos para aquisição de direitos
do ativo não circulante, quando se vencerem após o exercício seguinte. No caso de o ciclo operacional da
empresa ter duração maior que a do exercício social, a concepção terá por base o prazo desse ciclo. (ESTRU-
TURA DO BALANÇO PATRIMONIAL).
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social
Montante do capital subscrito e, por dedução, parcela não realizada.
Reserva de Capital
Ágio na emissão de ações ou conversão de debêntures e partes beneficiárias.
Produto da alienação de partes, beneficiárias e Bônus de subscrição.
Prêmios recebidos na emissão de debêntures, doações e subvenções para investimentos.
Reserva de Lucros
Contas constituídas a partir de lucros gerados pela companhia.
Lucros ou Prejuízos Acumulados
Lucros gerados pela companhia, que ainda não receberam destinação específica;

1.1.1.1 Modelo de Balanço Patrimonial

A seguir, será demonstrado o Balanço Patrimonial de acordo com a Lei 11.638/07 em


comparação com as modificações feitas pela Lei 11.941/09, a fim de salientar as alterações
propostas por esta última alteração.
Exercício findo em:

Quadro 1 BALANÇO PATRIMONIAL - Exercício findo em:


EXERCÍCIO EXERCÍCIO
CONTAS
ATUAL ANTERIOR
ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
DISPONIBILIDADES
Caixa e Bancos
CLIENTES
Duplicatas a Receber
(-) Perdas Estimadas em Crédito Liquidação Duvidosa
OUTROS CRÉDITOS

20
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Arrendamentos Ativos a Receber
TRIBUTOS A RECUPERAR
Impostos e Contribuições a Recuperar
INVESTIMENTOS TEMPORÁRIOS A CURTO PRAZO
Ações de Outras Empresas
(-) Perdas Estimadas por Redução ao Valor de Mercado
ESTOQUES
Estoques de Mercadorias
(-) Perdas Estimadas por Redução ao Valor Realizável Líquido
DESPESAS DO EXERCÍCIO SEGUINTE
Prêmios de Seguro a Vencer
TOTAL DO ATIVO CIRCULANTE
ATIVO NÃO CIRCULANTE
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
CLIENTES
Duplicatas a Receber
(-) Perdas Estimadas em Crédito Liquidação Duvidosa
CRÉDITOS COM PESSOAS LIGADAS (transações não usuais)
Empréstimos a Diretores
INVESTIMENTOS
AVALIADOS PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL
Participação na Controlada A
AVALIADOS PELO MÉTODO DO VALOR JUSTO
Participação na Companhia A
(-) Perdas Prováveis na Realização de Investimentos
AVALIADOS PELO MÉTODO DO CUSTO DE AQUISIÇÃO
Participação na Controlada B
(-) Perdas Prováveis na Realização de Investimentos
PROPRIEDADES PARA INVESTIMENTO
Terrenos
Apartamentos
(-) Depreciação Acumulada
OUTROS INVESTIMENTOS

21
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Antiguidades
Obras de Arte
IMOBILIZADO
Computadores e Periféricos
(-) Depreciação Acumulada
Jazidas
(-) Exaustão
INTANGÍVEL
Fundo do Comércio
(-) Amortização Acumulada
TOTAL DO ATIVO NÃO CIRCULANTE
TOTAL DO ATIVO
Fonte: Adaptado de Ribeiro 2014, p.41

Continuação Quadro 2 BALANÇO PATRIMONIAL - Exercício findo em:


EXERCÍCIO EXERCÍCIO
CONTAS
ATUAL ANTERIOR
PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
OBRIGAÇÕES A FORNECEDORES
Duplicatas a Pagar
EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS
Bancos conta Empréstimo
OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS
Impostos e Contribuições a Recolher
IR sobre o Lucro Líquido a Recolher
OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIAS
Salários e Encargos a Pagar
OUTRAS OBRIGAÇÕES
Contas a Pagar
PARTICIPAÇÕES E DESTINAÇÕES DO LUCRO LPÍQUIDO
Participações de Empregados a Pagar
Dividendos a Pagar
TOTAL DO PASSIVO CIRCULANTE

22
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
OBRIGAÇÕES A FORNECEDORES
Duplicatas a Pagar
OBRIGAÇÕES A PESSOAS LIGADAS (Transações não usuais)
Empréstimos a Pagar para Controladora
RECEITAS DIFERIDAS
Receitas Recebidas Antecipadamente
Aluguéis Ativos a Vencer
(-)Custos/Despesas ou Encargos Vinculados às Receitas
TOTAL DO PASSIVO CIRCULANTE
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
CAPITAL SOCIAL
Capital Subscrito
(-) Capital a Realizar
RESERVAS
RESERVAS DE CAPITAL
Reserva de Ágio na Emissão de Ações/Quotas
RESERVAS DE LUCROS
Reserva Legal
(+ ou -) Ajustes de Avaliação Patrimonial
(-) Ações em Tesouraria
(+ ou -) Lucros ou Prejuízos Acumulados
Fonte: Adaptado de Ribeiro 2014, p.43

SAIBA MAIS
Para o detalhamento das contas do Balanço Patrimonial, consultar RIBEIRO,
Osni Moura. Estrutura e análise de balanços fácil. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
(2014, p.44 a 55).

23
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1.2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO - DRE

A DRE apresenta as receitas realizadas em um dado período, operacionais ou não


operacionais, a serem subtraídas de eventuais custos e despesas necessários para gerar
esses recursos para a empresa. Ao final dessa conta, deduzindo os tributos sobre o lucro,
teremos o resultado do exercício, que pode ter sido um lucro ou um prejuízo.
É interessante utilizar a DRE comparativamente com períodos anteriores para
acompanhar a performance da empresa. É possível, por exemplo, verificar o crescimento
das vendas na informação da receita bruta. Se estiver havendo um decréscimo, pode ser o
momento para novas ações de marketing. (SAIBA OS OBJETIVOS DAS DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS PARA EMPRESAS, 2020).
Para a elaboração dessa demonstração, deve-se utilizar o Regime Contábil da
Competência, que determina que as receitas e despesas sejam apropriadas ao período
de apuração em função de sua incorrência (fato gerador), independentemente de terem
sido recebidas (receitas) ou pagas (despesas) dentro do período de apuração. (AZEVEDO,
2012).

1.2.1 Modelo de DRE

De acordo com as determinações do artigo 187 da Lei nº 6.404/76, alterada pelas Leis
11.638/07 e 11.941/09, a estrutura da DRE deverá ser conforme a seguir:

Quadro 3 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Exercício findo em:


EXERCÍCIO EXERCÍCIO
DESCRIÇÃO
ATUAL ANTERIOR
1 RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas de Mercadorias e/ou Prestação de Serviços
2 DEDUÇÕES E ABATIMENTOS
Abatimentos sobre Vendas
Vendas Anuladas
Descontos Incondicionais Concedidos
Cofins sobre o Faturamento
ICMS sobre o Faturamento

24
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
PIS sobre o Faturamento
3 RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA (1 – 2)
4 CUSTOS OPERACIONAIS
Custo das Mercadorias Vendidas e dos Serviços Prestados
5 LUCRO OPERACIONAL BRUTO(3 – 4)
6 DESPESAS OPERACIONAIS
Despesas com Vendas
Despesas Financeiras
Despesas Gerais e Administrativas
Outras Despesas Operacionais
7 OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
8 LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL (5 – 6 + 7)
9 OUTRAS RECEITAS
10 OUTRAS DESPESAS
11 RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS DEDUÇÕES (8 + 9 – 10)
12 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO
13 IMPOSTO DE RENDA SOBRE O LUCRO LÍQUIDO
14 RESULTADO DO EXERCÍCIO APÓS AS DEDUÇÕES (11 – 12 – 13)
15 PARTICIPAÇÕES
Debêntures
Empregados
Administradores
Parte Beneficiárias
Instituições ou Fundos Assist. Prev. Empreg.
16 LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO (14 – 15)
17 LUCRO LÍQUIDO ou PREJUÍZO POR AÇÃO DO CAPITAL
Fonte: Adaptado de Ribeiro 2014, p.60

SAIBA MAIS
Para o detalhamento das contas do Balanço Patrimonial, consultar RIBEIRO,
Osni Moura. Estrutura e análise de balanços fácil. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
(2014, p.44 a 55).

25
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1.3.DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO - DMPL

A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) não tem sua publicação
obrigatória pela Lei 6.404/76. No entanto, com a publicação da Resolução n.º 1.185/09, do
CFC, ela passou a fazer parte do conjunto de demonstrações de divulgação obrigatória.
Este demonstrativo é de grande importância, pois nos mostra toda a movimentação
ocorrida no Patrimônio Líquido num dado período, além da formação de todas as
reservas.
O CPC 26 (R1) é aquele que trata das diversas demonstrações contábeis obrigatórias no
Brasil. Encontramos no item 106 deste pronunciamento o que comporá a DMPL:

A entidade deve apresentar a demonstração das mutações do


patrimônio líquido conforme requerido no item 10. A demonstração das
mutações do patrimônio líquido inclui as seguintes informações:
a) O resultado abrangente do período, apresentando separadamente o
montante total atribuível aos proprietários da entidade controladora e o
montante correspondente à participação de não controladores;
b) Para cada componente do patrimônio líquido, os efeitos da aplicação
retrospectiva ou da reapresentação retrospectiva, reconhecidos de
acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis,
Mudança de Estimativa e Retificação de Erro;
c) [eliminado];
d) Para cada componente do patrimônio líquido, a conciliação do saldo
no início e no final do período, demonstrando-se separadamente as
mutações decorrentes:
I. Do resultado líquido;
II. De cada item dos outros resultados abrangentes; e
III. De transações com os proprietários realizadas na condição de
proprietário, demonstrando separadamente suas integralizações e
as CPC 26 (R1) distribuições realizadas, bem como modificações nas
participações em controladas que não implicaram perda do controle.

Além do exposto, o pronunciamento traz algumas outras, se assim podemos dizer,


novidades para a apresentação da DMPL. Uma delas é a adoção de uma coluna que represente
a DRAE (Demonstração do Resultado Abrangente do Exercício). Deve ser criada outra coluna
que divulgue a participação dos acionistas não controladores no PL das controladas.

26
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O CPC 26 estabelece que algumas informações acerca das ações que compõem o
capital social da entidade deverão ser expressas ou no balanço patrimonial ou na DRE ou
na DMPL, o que podemos encontrar no item 79 do referido pronunciamento. No entanto,
as informações referentes aos dividendos reconhecidos devem ser apresentadas tanto na
DMPL quanto nas Notas Explicativas. (ContabilBR.com, 2020).

SAIBA MAIS
CPC 26 (R1)
http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2014.pdf

1.3.1 Mutações nas contas patrimoniais

Como qualquer conta contábil, as contas patrimoniais podem sofrer diversas


alterações no curso das atividades normais da entidade afetando ou não seu patrimônio.

1. Itens que afetam o patrimônio total


2. Acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício.
3. Redução por dividendos.
4. Redução por pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio.
5. Acréscimo por reavaliação de ativos (quando permitida por Lei).
6. Acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos (após
transitarem pelo resultado).
7. Acréscimo por subscrição e integralização de capital.
8. Acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações
integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal.
9. Acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição.
10. Acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures (após transitar pelo
resultado).
11. Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda.
12. Acréscimo ou redução por ajustes de exercícios anteriores. (DEMONSTRAÇÃO
DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÕNIO LÍQUIDI – DMPL, 2020).
13. Redução por reversão da Reserva de Lucros a Realizar para a conta de dividendos

27
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
a pagar. 13 Acréscimo ou redução por outros resultados abrangentes.
14. Redução por gastos na emissão de ações.
15. Ajuste de avaliação patrimonial.
16. Ganhos ou perdas acumuladas na conversão etc. (DEMONSTRAÇÃO DAS
MUTAÇÕES DO PATRIMÕNIO LÍQUIDI – DMPL, 2020).

Itens que não afetam o total do patrimônio


1. Aumento de capital com utilização de lucros e reservas.
2. Apropriações do lucro líquido do exercício, por meio da conta de Lucros
Acumulados, para a formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva de Lucros
a Realizar, Reserva para Contingência e outras.
3. Reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos
Acumulados.
4. Compensação de prejuízos com Reservas etc. (DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES
DO PATRIMÕNIO LÍQUIDI – DMPL, 2020).

As mutações patrimoniais acima mencionadas podem ser classificadas em grupos.


O exemplo apresentado no Apêndice A do Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1)
evidencia a separação em três grupos de mutações, numa formatação que se presta muito
bem à análise do usuário:

1. Transações de capital com os sócios (mutações que afetam o patrimônio líquido


total).
2. Resultados Abrangentes (mutações que afetam o patrimônio líquido total):
a) resultado líquido do exercício;
b) outros resultados abrangentes;
c) reclassificações de outros resultados abrangentes para o resultado do período.
3. Mutações internas, que não afetam o patrimônio líquido total.

As mutações do patrimônio líquido que decorrem de transações de capital com os


sócios são aquelas em que os sócios agem na condição de sócios, e não na de clientes,
fornecedores, financiadores, aplicadores e incluem, por exemplo, aumentos de capital
com novos recursos, devolução de capital, distribuição de lucros, gastos com emissão
de novas ações, compra de ações ou quotas da própria entidade (ações ou quotas em
tesouraria), venda de ações ou quotas em tesouraria e outras. Tais mutações ficam
agrupadas e apresentam um subtotal próprio.

28
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1.3.2 Preparando a DMPL

A preparação deste demonstrativo é bastante simples, pois resta analisar as mudanças


ocorridas nas contas, ou grupos que compõem o Patrimônio Líquido. Tudo isso se
encontra nos registros contábeis do período que abrangerá a DMPL. Monta-se uma
planilha em que cada coluna representará uma conta (ou subgrupo) do PL. Devemos
observar o que diz o CPC 26 que estabelece a criação de mais 3 colunas nesta estrutura:
(CONTABILBR, 2020).
• Outros resultados abrangentes,
• Patrimônio Líquido dos sócios da companhia e
• Participação dos acionistas não controladores no PL da controlada.

De forma coordenada, as transações ocorridas no período são lançadas nas respectivas


colunas, sendo descritas na primeira coluna. Por exemplo, se houve aumento de capital
por utilização de reservas de capital, na coluna que representa esta conta encontraremos
a diminuição do valor e na conta do capital social, o valor que proporcionou o aumento.

ATENÇÃO
Demonstração do Resultado Abrangente
É um relatório contábil que evidencia as mutações ocorridas no patrimônio
líquido durante um período, as quais resultam de transações e outros eventos que não foram
derivados de transações com os sócios na sua qualidade de proprietários.

1.3.3 Procedimentos que devem ser seguidos para a elaboração

• Abrir um papel de trabalho, ou uma planilha, dividido em colunas, no qual


se transcrevem, no topo de cada coluna, os nomes das contas ou subgrupos,
reservando espaço na primeira coluna para a descrição da natureza das transações,
e a coluna final para o patrimônio líquido total;
• Saldo de abertura – transcrever os saldos de cada conta ou subgrupo na data do
balanço final do exercício anterior. Somar os saldos por conta/subgrupo para

29
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
preencher a coluna patrimônio líquido total;
• Adicionar ou subtrair os movimentos ocorridos nas referidas contas, no período,
abrindo linhas para cada natureza de transação, primeiramente as relativas às
transações de capital com os sócios;
• Adicionar ou subtrair os movimentos ocorridos nas contas próprias relativas aos
resultados abrangentes, começando pelo resultado líquido do período, depois os
demais resultados abrangentes e, finalmente, as reclassificações para o resultado;
• Adicionar ou subtrair os movimentos das demais mutações internas do patrimônio
líquido;
• Totalizar, ao final, as colunas, cujos saldos devem coincidir com os saldos do
balanço patrimonial, e totalizar também as linhas. (CONTABILBR.COM, 2020).

A seguir, será descrita a estrutura da DMPL:

Quadro 4 Estrutura da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido


Reservas Lucros ou
Capital prejuízos
Elementos Reava- Total
Social Capital Lucros acumula-
liação dos
Saldo no início do período
(+ou-)Ajustes de períodos (+ou-
(+ou-)
anteriores )
Saldo inicial Ajustado e Corrigido
Reversão da reserva de lucros.
Integração do Capital a Realizar.
(+) (+)
Resultado Líquido do Exercício. (+)
(+ou-
Formação de Reservas de: (-)
(+ou-) )
-Lucros
-Capital
(-)
-Reavaliação
(+)
Capitalização de: (+)
(+)
-Reservas (+)
-Lucros (+) (+)
Dividendos ou lucro creditado (+)
(-)
Aumento de Capital Social Efetu- (-) (-) (-)
(-) (-)
ado pelos sócios acionistas
(+ou-)Compra/venda de suas (+)
(+)
próprias ações
(+ou-)Outras Mutações
Saldo final do período
Fonte: Adaptado de Neves & Viceconti, (2013 p. 206)

30
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1.3.4 Modelo de DMPL

Dados de 31.12.20X4 – Patrimônio Líquido da Cia Alpha

Tabela 1 Patrimônio Líquido da Cia Alpha - Dados de 31.12.20X4


Capital social integralizado 2.000
Reservas de capital 100
Reserva legal 250
Reservas estatutárias 150
Reserva de lucros a realizar 300
Total 2.800
Fonte: Adaptado de NEVES & VICECONTI, (2013 p. 207)

Tabela 2 Mutação das contas do PL em 20X5


Valor líquido da receita de 20X4 não contabilizado 100
Aumento do capital em dinheiro 200
Reversão da reserva de lucros a realizar 300
Lucro líquido apurado no exercício de 20X5 400
Acréscimo de reserva legal (5% de 400) 20
Acréscimo da reserva estatutária 280
Dividendos a distribuir 500
Fonte: Adaptada de Neves & Viceconti, (2013 p. 207)

Tabela 3 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido


Reservas
Lucros
Capital De capi- Estatutá- Lucros a
Elementos Legal acumula- Total
Social tal rias realizar dos
Saldo em 31.12.X4 2.000 100 250 150 300 -0- 2.800
Ajustes de exercícios
100 100
anteriores
Aumento de capital
200 200
social
Reversão da reserva
(300) 300
de lucros a realizar

31
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Lucro líquido em 31.12.
400 400
x5

Destinação do lucro
-Res legal
(20)
-Res est.
20 (280)
Dividendos 280
(500) (500)
Saldo em 31.12.X5 2.200 100 270 430 -0- -0- 3.000
Fonte: Adaptada de Neves & Viceconti, (2013 p. 207)

ATENÇÃO
A DMPL é de elaboração obrigatória para as companhias abertas

1.4 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA - DFC

O Balanço Patrimonial apresenta, em determinado momento (estaticamente), de um


lado (Passivo), a origem dos recursos utilizados pela empresa e, de outro, as aplicações
(Ativo). A peça contábil-financeira que vai mostrar o que isso representa em termos de
dinheiro movimentado no exercício é a DFC que mostra as fontes e aplicações verificadas
durante o exercício e resultam afinal na variação do saldo de caixa.
O Balanço não torna claro, como a empresa passou de determinada posição de
investimento e financiamentos para outra posição, ou seja, quais os recursos adicionais
de que a entidade se utilizou e onde os aplicou.
É aí que entra a DFC, apresentando exatamente estes últimos dados. Através do DFC
é possível conhecer como fluíram os recursos ao longo de um exercício: quais foram os
recursos obtidos, qual a participação das transações comerciais no total de recursos
gerados, como foram aplicados os novos recursos etc.
Essa demonstração foi normatizada a partir de 2008, através da Lei nº. 11.638/07
que determinou sua divulgação em substituição a DOAR (Demonstração das Origens e
Aplicações de Recursos) para todas as companhias abertas e empresas de grande porte,
passando a ser recomendada para as demais empresas pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis através do pronunciamento técnico PME – Contabilidade para Pequenas e
Médias Empresas, o qual foi acatado pelo Conselho Federal de Contabilidade.

32
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) passou a ser um relatório obrigatório pela
contabilidade para todas as sociedades de capital aberto ou com patrimônio líquido
superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
De acordo com Assaf Neto (2012), a Demonstração do fluxo de caixa permite que se
analise, principalmente, a capacidade financeira da empresa em honrar seus compromissos
perante terceiros (empréstimos e financiamentos) e acionistas (dividendos), a geração
de resultados de caixa futuros das operações atuais, e a posição de liquidez e solvência
financeira.

VOCÊ SABIA!
Caixa compreende numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis.

1.4.1 Equivalentes de Caixa

ATENÇÃO!!!
Equivalentes de caixa são aplicações financeiras de curto prazo, de alta li-
quidez, que são prontamente conversíveis em montante conhecido de caixa e que
estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor. (RESOLUÇÃO CFC Nº 1.296, DE 17
DE SETEMBRO DE 2010, 2020).

Segundo a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 1.296/2010


(Pronunciamento Técnico CPC nº 03 (R3), que regulamenta a elaboração da DFC, item 7:

Os equivalentes de caixa são mantidos com a finalidade de atender


a compromissos de caixa de curto prazo e, não, para investimento ou
outros propósitos. Para que um investimento seja qualificado como
equivalente de caixa, ele precisa ter conversibilidade imediata em
montante conhecido de caixa e estar sujeito a um insignificante risco de
mudança de valor. Portanto, um investimento normalmente qualifica-se
como equivalente de caixa somente quando tem vencimento de curto

33
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
prazo, por exemplo, três meses ou menos, a contar da data da aquisição.
Os investimentos em instrumentos patrimoniais (de patrimônio líquido)
não estão contemplados no conceito de equivalentes de caixa, a menos
que eles sejam, substancialmente, equivalentes de caixa, como, por
exemplo, no caso de ações preferenciais resgatáveis que tenham prazo
definido de resgate e cujo prazo atenda à definição de curto prazo”.

VALE A PENA CONFERIR!!!


CPC 03 (R3)
http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/183_CPC_03_R3_rev%2014.pdf

1.4.2 Estrutura da DFC

A Lei nº 6.404/1976 não fixou um modelo da DFC a ser observado por todas as empresas.
Ela limitou-se a estabelecer no inciso I do artigo 188 que a DFC deverá indicar no mínimo
as alterações ocorridas, durante o exercício, no saldo de Caixa e Equivalentes de caixa,
segregando-se essas alterações em três fluxos: das operações, dos financiamentos e dos
investimentos. (RIBEIRO, 2014).

VOCÊ SABIA!!!
Fluxos de caixa são as entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa.

1.4.3 Classificação das entradas e saídas de Caixa por atividades

O inciso I do artigo 188 da Lei 6.404/1976 e as orientações contidas na NBC TG 03


(R3) de 2016 estabelecem que as transações relativas às entradas e saídas de Caixa sejam
selecionadas em três grupos de atividades:

34
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
a. Atividades operacionais - compreende toda a movimentação de dinheiro
ocorrida no desenvolvimento das atividades fins da organização. Por exemplo:
recebimento de vendas, pagamento de fornecedores por compra de materiais,
pagamento dos funcionários etc.
b. Atividades de investimento – são as aquisições e vendas de Ativos de longo prazo
e de outros investimentos não incluídos nos Equivalentes de Caixa. Exemplo:
aquisições ou vendas de participações em outras empresas e de Ativos utilizados
na produção de bens ou na prestação de serviços ligados ao objetivo social da
empresa.

ATENÇÃO!!!
As atividades de investimento não compreendem a aquisição de Ativos com o
objetivo de revenda.

c. Atividades de financiamento - compreendem os recebimentos e pagamentos


ocorridos com terceiros e na captação de recursos para o aumento do capital social
através da integralização ou venda das ações.

1.4.4 Transações que devem integrar a DFC

a) Atividades operacionais
No seu item 14, a NBCTG 03 (R3) de 2016 estabelece os seguintes exemplos de fluxos
de caixa que decorrem das atividades operacionais:
(a) recebimentos de caixa pela venda de mercadorias e pela prestação
de serviços;
(b) recebimentos de caixa decorrentes de royalties, honorários,
comissões e outras receitas;
(c) pagamentos de caixa a fornecedores de mercadorias e serviços;
(d) pagamentos de caixa a empregados ou por conta de empregados;
(e) recebimentos e pagamentos de caixa por seguradora de prêmios e
sinistros, anuidades e outros benefícios da apólice;
(f) pagamentos ou restituição de caixa de impostos sobre a renda, a

35
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
menos que possam ser especificamente identificados com as atividades
de financiamento ou de investimento; e
(g) recebimentos e pagamentos de caixa de contratos mantidos para
negociação imediata ou disponíveis para venda futura.

ACESSE:
NBC TG 03 Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1296.pdf.

Algumas transações, como a venda de item do imobilizado, podem resultar em ganho


ou perda, que é incluído na apuração do lucro líquido ou prejuízo. Os fluxos de caixa
relativos a tais transações são fluxos de caixa provenientes de atividades de investimento.
Entretanto, pagamentos em caixa para a produção ou a aquisição de ativos mantidos para
aluguel a terceiros que, em sequência, são vendidos, conforme descrito no item 68A da
NBC TG 27 – Ativo Imobilizado são fluxos de caixa advindos das atividades operacionais.
Os recebimentos de aluguéis e das vendas subsequentes de tais ativos são também fluxos
de caixa das atividades operacionais. (DFC – DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA,
2020).

SAIBA MAIS!!!
NBC TG 27 (R4)–Disponível em
http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/1274569/do1-2017-12-22-
norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-27-r4-de-24-de-novembro-de-2017-1274565-1274565

b) Atividades de investimento
A NBC TG 03 (R3) de 2016, no seu item 16, a apresenta os seguintes exemplos de fluxos
de caixa que decorrem das atividades de investimentos:

(a) pagamentos em caixa para aquisição de ativo imobilizado,


intangíveis e outros ativos de longo prazo. Esses pagamentos incluem
aqueles relacionados aos custos de desenvolvimento ativados e aos
ativos imobilizados de construção própria;

36
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
(b) recebimentos de caixa resultantes da venda de ativo imobilizado,
intangíveis e outros ativos de longo prazo;
(c) pagamentos em caixa para aquisição de instrumentos patrimoniais
ou instrumentos de dívida de outras entidades e participações
societárias em joint ventures (exceto aqueles pagamentos referentes a
títulos considerados como equivalentes de caixa ou aqueles mantidos
para negociação imediata ou futura);
(d) recebimentos de caixa provenientes da venda de instrumentos
patrimoniais ou instrumentos de dívida de outras entidades
e participações societárias em joint ventures (exceto aqueles
recebimentos referentes aos títulos considerados como equivalentes
de caixa e aqueles mantidos para negociação imediata ou futura);
(e) adiantamentos em caixa e empréstimos feitos a terceiros (exceto
aqueles adiantamentos e empréstimos feitos por instituição financeira);
(f) recebimentos de caixa pela liquidação de adiantamentos ou
amortização de empréstimos concedidos a terceiros (exceto aqueles
adiantamentos e empréstimos de instituição financeira);
(g) pagamentos em caixa por contratos futuros, a termo, de opção e
swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação
imediata ou futura, ou os pagamentos forem classificados como
atividades de financiamento; e,
(h) recebimentos de caixa por contratos futuros, a termo, de opção e
swap, exceto quando tais contratos forem mantidos para negociação
imediata ou venda futura, ou os recebimentos forem classificados como
atividades de financiamento.

Quando um contrato for contabilizado como proteção (hedge) de posição identificável,


os fluxos de caixa do contrato devem ser classificados do mesmo modo como foram
classificados os fluxos de caixa da posição que estiver sendo protegida.

c) Atividades de financiamento
É apresentado no item 17 da NBC TG 03 (R3) de 2016, os seguintes exemplos de fluxos
de caixa que decorrem das atividades de financiamento:

(a) caixa recebido pela emissão de ações ou outros instrumentos


patrimoniais;
(b) pagamentos em caixa a investidores para adquirir ou resgatar ações

37
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
da entidade;
(c) caixa recebido pela emissão de debêntures, empréstimos, notas
promissórias, outros títulos de dívida, hipotecas e outros empréstimos
de curto e longo prazos;
(d) amortização de empréstimos e financiamentos; e,
(e) pagamentos em caixa pelo arrendatário para redução do passivo
relativo a arrendamento mercantil financeiro.

Portanto, são as entradas ou saídas em função de obtenção de recursos de terceiros


e sua amortização e a obtenção de recursos dos acionistas e o respectivo pagamento de
dividendos.

1.4.5 Transações que não envolvem caixa ou equivalentes de caixa

No item 44 da NBC TG 03 (R3) de 2016 muitas atividades de investimento e de


financiamento não têm impacto direto sobre os fluxos de caixa correntes, muito embora
afetem a estrutura de capital e de ativos da entidade.
A exclusão de transações que não envolvem caixa ou equivalentes de caixa da
demonstração dos fluxos de caixa é consistente com o objetivo de referida demonstração,
visto que tais itens não envolvem fluxos de caixa no período corrente.
Exemplos de transações que não envolvem caixa ou equivalente de caixa são:
(a) a aquisição de ativos, quer seja pela assunção direta do passivo respectivo, quer seja
por meio de arrendamento financeiro;
(b) a aquisição de entidade por meio de emissão de instrumentos patrimoniais; e,
(c) a conversão de dívida em instrumentos patrimoniais (PRONUNCIONAMENTO
TÉCNICO CPC 03 (R2) – DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA, 2020).
Ribeiro (2014, p. 92) cita mais alguns exemplos:

a)Aumento de capital com aproveitamento de reservas,


b) Aumento de capital com conversão de obrigações de curto ou de
longo prazo,
c) Aumento de capital com integralização em bens do Ativo Imobilizado,
d) Recebimento de doações, exceto em dinheiro,
e) Transferência de valores do Exigível a Longo Prazo para Passivo
Circulante e do Realizável a Longo Prazo para o Ativo Circulante,

38
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
f) Distribuição de dividendos, enquanto não forem pagos. Essa
transação reduz o Patrimônio Líquido e aumenta o Passivo Circulante,
porém não movimenta o Caixa,
g) Compensações de valores Passivos com valores Ativos, desde que
não envolvam dinheiro etc.

Ressalta-se que no momento do pagamento de dividendos, por ocorrer saída de


numerários do disponível, o Caixa ficará afetado e, consequentemente, o fato será
informado na DFC.

1.4.6 Métodos de elaboração

Para a apresentação da Demonstração dos Fluxos de Caixa, existem basicamente dois


métodos:
a) Método Direto,
b) Método Indireto ou da Reconciliação.

Método Direto – consiste em mensurar diretamente as entradas e saídas de caixa


ou equivalente caixa (disponível) derivados das atividades operacionais, ou seja, as
principais classes de recebimentos brutos e pagamentos brutos são divulgadas.
O item 17 da NBC TG 03 (R3) de 2016 menciona que pelo método direto, as informações
sobre as principais classes de recebimentos brutos e de pagamentos brutos podem ser
obtidas alternativamente:

(a) dos registros contábeis da entidade; ou


(b) pelo ajuste das vendas, dos custos dos produtos, mercadorias ou
serviços vendidos (no caso de instituições financeiras, pela receita de
juros e similares e despesa de juros e encargos e similares) e outros
itens da demonstração do resultado ou do resultado abrangente
referentes a: (i) variações ocorridas no período nos estoques e nas
contas operacionais a receber e a pagar; (ii) outros itens que não
envolvem caixa; e (iii) outros itens tratados como fluxos de caixa
advindos das atividades de investimento e de financiamento.

No Método Direto, os recursos derivados das operações são indicados a partir dos

39
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
recebimentos e pagamentos decorrentes das operações normais efetuadas durante o
período.

1.4.7 Estrutura da DFC – Método Direto

1 – Fluxos de Caixa das atividades operacionais


(+) Recebimentos de Clientes
(+) Recebimento de desconto de duplicatas ou outros títulos de crédito em função de
vendas a prazo
(+) Juros, inclusive sobre o capital próprio, recebidos
(+) Dividendos recebidos
(-) Pagamentos a fornecedores
(-) Juros pagos
(-) Pagamentos de despesas operacionais
(-) Pagamentos de despesas antecipadas
(+/-) Outros recebimentos e pagamentos relativos às atividades operacionais
(=) Caixa gerado (+) ou consumido (-) na atividade

2 – Fluxos de Caixa das atividades de investimento


(+) Recebimentos de vendas de ativos imobilizado e intangíveis
(+) Recebimentos de vendas de participações societárias
(+) Amortizações de empréstimos concedidos a acionistas e/ou empresas controladas
e coligadas
(-) Pagamentos por aquisição de ativos imobilizados e intangíveis
(-) Pagamentos por aquisição de participações societárias
(-) Empréstimos concedidos a acionistas e/ou empresas controladas e coligadas
(+/-) Outros recebimentos e pagamentos relativos à atividades
(=) Caixa gerado (+) ou consumido (-) na atividade

3- Fluxos de Caixa das atividades de financiamento


(+) Recebimentos por venda de ações ou integração de capital
(+) Recebimentos de debêntures emitidas
(+) Recebimentos de empréstimos de curto e longo prazo
(-) Pagamentos de dividendos
(-) Pagamento de juros sobre o capital próprio

40
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
(-) Amortizações de dívidas contraídas
(-) Resgates de debêntures
(-) Pagamentos por resgate ou reembolso das próprias ações
(=) Caixa gerado (+) ou consumido (-) na atividade

4 – Caixa gerado ou consumido nas atividades = Variação do Disponível (1+2+3)


5 – Saldo do Disponível no início do exercício
6 – Saldo do Disponível no final do exercício (4+5)
Fonte: Neves & Viceconti, (2013 p. 275)

Método Indireto ou da Reconciliação – procura reconciliar o lucro líquido do


exercício com o caixa gerado pelas atividades operacionais, mostrando quanto desse
lucro se converteu efetivamente em caixa ou equivalentes-caixa, evidenciando as
parcelas do lucro que foram aplicados em outros grupos do Ativo ou Passivo Circulante.
(JÉSSICA, 2020).
Neste método, os recursos derivados das atividades operacionais são demonstrados
a partir do Resultado do Exercício antes das deduções – CSLL e IR sobre o Lucro Líquido
– (Lucro ou Prejuízo), e ajustado pela adição das despesas e exclusão das receitas
consideradas na apuração do Resultado e que não afetam o Caixa da empresa, isto é, que
não representam saídas ou entradas de dinheiro, bem como pela exclusão das receitas
realizadas no exercício e recebidas no exercício anterior. (RIBEIRO, 2014).

SAIBA!!
CSLL – Contribuição social sobre o lucro líquido
IR – Imposto de renda

O item 20 da NBC TG 03 (R3) de 2016 menciona que pelo método indireto, o fluxo
de caixa líquido advindo das atividades operacionais é determinado ajustando o lucro
líquido ou prejuízo quanto aos efeitos de:

(a) variações ocorridas no período nos estoques e nas contas


operacionais a receber e a pagar;
(b) itens que não afetam o caixa, tais como depreciação, provisões,
tributos diferidos, ganhos e perdas cambiais não realizados e resultado

41
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
de equivalência patrimonial quando aplicável; e
(c) todos os outros itens tratados como fluxos de caixa advindos das
atividades de investimento e de financiamento.

Alternativamente, o fluxo de caixa líquido advindo das atividades operacionais pode


ser apresentado pelo método indireto, mostrando-se as receitas e as despesas divulgadas
na demonstração do resultado ou resultado abrangente e as variações ocorridas no
período nos estoques e nas contas operacionais a receber e a pagar.
Entre os métodos, a principal diferença é quanto à apresentação das atividades
operacionais. A metodologia direta divulga informações mais complexas e de melhor
qualidade, enquanto a metodologia indireta é mais simples, e, consequentemente, requer
menos trabalho em sua elaboração.

1.4.8 Estrutura da DFC – Método Indireto

1 – Fluxos de Caixa das atividades operacionais


Lucro líquido do exercício
(+) Depreciação, amortização ou exaustão
(+) Despesas com a constituição de provisões
(+) Transferências de despesas antecipadas para o resultado
(-) Reversão de provisões
(-) Despesas antecipadas pagas no exercício
(+/-) Receita negativa (positiva) da equivalência patrimonial
(+/-) Perda (ganho) de capital
(+/-) Outras receitas e despesas que não envolvam numerário
(+/-) Aumento/Diminuição em bens e direitos do Ativo Circulante
(+/-) Aumento/Diminuição em obrigações do Passivo Circulante

2 – Fluxos de Caixa das atividades de investimento


Idem ao método direto

3- Fluxos de Caixa das atividades de financiamento


Idem ao método direto

4 – Caixa gerado ou consumido nas atividades = Variação do Disponível (1+2+3)

42
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
5 – Saldo do Disponível no início do exercício
6 – Saldo do Disponível no final do exercício (4+5)
Fonte: Neves & Viceconti, (2013 p. 276)

1.4.9 Elaboração do DFC

Para sua elaboração, tanto método direto ou indireto, os dados são coletados do
Balanço Patrimonial (exercício atual e anterior) e da DRE do exercício atual, além de
consultas em fichas de Razão de algumas contas.

1.4.9.1 Exemplificando

Neves & Viceconti, (2013 p. 277) traz o seguinte exemplo: A Cia. ABC apresentava o
seguinte balanço patrimonial em 31.12.20X8:

Tabela 4 Balanço Patrimonial da Cia ABC em 31.12.20x8


ATIVO PASSIVO + PL
CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponível 80.000 Fornecedores 110.000
Clientes 120.000 Salários a Pagar 30.000
Estoques 50.000 Contas a Pagar 10.000
Tributos a Pagar 10.000
TOTAL CIRCULANTE 250.000 TOTAL CIRCULANTE 160.000

ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE


REALIZÁVEL LONGO PRAZO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Empréstimos a sócios 40.000 Financiamento 100.000
IMOBILIZADO LÍQUIDO 270.000 TOTAL DO PASSIVO NÃO CIRCULANTE 100.000
Imobilizado 370.000 PATRIMÕNIO LÍQUIDO
(-) Depreciação Acumulada 100.000 Capital 220.000
TOTAL DO ATIVO NÃO CIRCULANTE 310.000 Reservas de Lucros 80.000
TOTAL DO PATRIMÕNIO LÍQUIDO 300.000
TOTAL DO ATIVO 560.000 TOTAL DO PASSIVO + PL 560.000
Fonte: Adaptado de NEVES & VICECONTI, (2013 p. 277)

43
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Durante o ano de 20X9, ocorreram os seguintes fatos contábeis na companhia, que
não estão ordenados cronologicamente:

Tabela 5 Fatos contábeis


1) Bruta de vendas à vista 200.000
2) Receita Bruta de vendas à prazo 600.000
3) Compras efetuadas à vista 70.000
4) Compras efetuadas à prazo 330.000
5) Custo das mercadorias Vendidas 350.000
6) Tributos incidentes sobre vendas 80.000
7) Recebimento de clientes pelas vendas a prazo 640.000
8) Pagamento a fornecedores por compras a prazo 370.000
9) Despesas com salários 160.000
10) Despesas de depreciação 20.000
11) Outras despesas operacionais 120.000
12) Pagamento de salários 150.000
13) Pagamento de despesas operacionais 100.000
14) Pagamento de tributos incidentes sobre vendas 70.000
15) Aquisição de imobilizado à vista 60.000
16) Aumento de capital em dinheiro 50.000
Fonte: Adaptado de NEVES & VICECONTI, (2013 p. 277)

Os salários, as despesas operacionais e os tributos incidentes sobre vendas são pagos


sempre no mês subsequente ao mês de competência.
Efetuando-se os lançamentos contábeis, sendo que as contas de resultado são
contabilizadas diretamente na conta Apuração do Resultado do Exercício (ARE), chegou-
se nos seguintes valores conforme o Balanço Patrimonial.

Tabela 6 Balanço Patrimonial em 31.12.20x9 da Cia ABC


ATIVO PASSIVO + PL
CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponível 150.000 Fornecedores 70.000
Clientes 80.000 Salários a Pagar 40.000
Estoques 100.000 Contas a Pagar 30.000
Tributos a Pagar 20.000

44
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
TOTAL CIRCULANTE 330.000 TOTAL CIRCULANTE 160.000

ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE


REALIZÁVEL LONGO PRAZO 40.000 EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Empréstimos a sócios 40.000 Financiamento 100.000
TOTAL DO PASSIVO NÃO 100.000
CIRCULANTE
Imobilizado 430.000 PATRIMÕNIO LÍQUIDO
(-) Depreciação Acumulada 120.000 Capital 270.000
TOTAL DO ATIVO NÃO CIRCULANTE 350.000 Reservas de Lucros 150.000
TOTAL DO PATRIMÕNIO 420.000
LÍQUIDO
TOTAL DO ATIVO 680.000 TOTAL DO PASSIVO + PL 680.000
Fonte: Adaptado de NEVES & VICECONTI, (2013 p. 278)

Elaborando-se a DFC pelo Método Direto, obtém-se:

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA PELO MÉTODO DIRETO

1 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS


(+) Recebimento de vendas 840.000
(-) Pagamento de fornecedores 440.000
(-) Pagamento de salários 150.000
(-) Pagamento de tributos incidentes sobre vendas 70.000
(-) Pagamento das despesas operacionais 100.000 80.000

2 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO


Aumento de capital em dinheiro 50.000

3 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO


Aquisição do Imobilizado em dinheiro (60.000)

4 – VARIAÇÃO DO DISPONÍVEL 70.000


5 – (+) DISPONÍVEL EM 31.12.20X8 80.000
6 – (=) DISPONÍVEL EM 31.12.20X9 150.000

45
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Elaborando-se a Demonstração do Fluxo de Caixa de pelo método indireto, que
efetua a reconciliação contábil entre o lucro líquido do exercício e a geração de caixa nas
atividades operacionais, obtém-se:

DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA PELO MÉTODO INDIRETO

1 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS


(+) Lucro líquido do exercício 70.000
(+) Despesas de depreciação 20.000
(+) Decréscimo em clientes 40.000
(-) Acréscimo em estoques 50.000
(-) Decréscimo de fornecedores 40.000
(+) Acréscimo de salários a pagar 10.000
(+) Acréscimo de contas a pagar 20.000
(+) Acréscimo de títulos a pagar 10.000 80.000

2 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO


Aumento de capital em dinheiro 50.000

3 – FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO


Aquisição do Imobilizado em dinheiro (60.000)

4 – VARIAÇÃO DO DISPONÍVEL 70.000


5 – (+) DISPONÍVEL EM 31.12.20X8 80.000
6 – (=) DISPONÍVEL EM 31.12.20X9 150.000

OBSERVE QUE:
As Despesas de Depreciação são somadas ao Lucro Líquido do Exercício para
anular seu efeito na redução deste último. As despesas de depreciação não pro-
vocam modificações no Disponível da entidade, uma vez que elas não implicam desembolso, ao
contrário das despesas de salários, despesas com tributos e de outras despesas operacionais.

46
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acadêmico: nesse primeiro momento do nosso estudo sobre a Estruturação dos


Demonstrativos Contábeis, foram abordados o Balanço Patrimonial que é uma das
ferramentas mais importantes para se avaliar a situação econômico – financeira de uma
empresa.
Outro tópico importante desta unidade envolveu a Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE), que apresenta o resumo financeiro dos resultados operacionais e não
operacionais de uma empresa.
Esta unidade abordou ainda, a Demonstração da Mutação do Patrimônio Líquido
(DMPL), que é um documento que a contabilidade das empresas utiliza para evidenciar
as alterações do patrimônio líquido.
Também foi discutida a estrutura da Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) e verificou-
se que é um instrumento financeiro essencial para a empresa, o qual gera informações
para planejamento e conhecimento do que ocorre de fato nas organizações, da qual a
administração toma decisões.
Portanto, conforme nosso estudo, esperamos que você tenha percebido a importância
desse material, e tenha adquirido conhecimentos e aproveite essa oportunidade para
aplicar na sua vida profissional.

47
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EXERCÍCIOS

1) Considere as informações extraídas do balanço patrimonial e da demonstração de


resultados do exercício da empresa Rosinha Ltda. referentes ao exercício de X2.

Cia Rosinha
Balanço Patrimonial – exercício findo em 31.12.X2

Ativo X1 X2 Passivo X1 X2
Circulante Circulante
Disponível 21.000 18.000 Fornecedores 60.000 52.500
Clientes 66.000 84.000 Salários a pagar 4.500 6.000
Estoques 37.500 24.000 Contas a pagar 12.000 13.500
Outros créditos 7.500 9.000
Total do Circulante 132.000 135.000 Total do Circulante 76.500 72.000

Cia Rosinha
DRE

Receita Bruta de Vendas 1.350.000


Impostos sobre vendas (334.500)
Receita líquida de vendas 1.015.500
CMV (510.000)
Lucro bruto 505.500
Ignorando o efeito dos tributos, qual o valor pago pela empresa a fornecedores?

2) - Considere os dados extraídos das demonstrações das mutações do patrimônio


líquido da empresa Zanatta referente ao exercício financeiro de X1:
Aumento de Capital Social
Com Lucros e Reservas 37.500
Por subscrição realizada 27.000

Reversão de Reserva de Contingências 3.000


Aquisição de Ações (450)

48
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Ajuste de Avaliação Patrimonial 2.250
Lucro Líquido do Exercício 12.000

Proposta da Administração de Destinação do Lucro


Transferência para reservas
Reserva Legal 600
Reserva Estatutária 5.700
Reserva de Lucros a Realizar 900

Dividendos a Distribuir 7.800


A variação no total do Patrimônio Líquido da empresa Zanatta foi de:

3) O quadro abaixo mostra os dados relativos ao último exercício levantados pelo


contador para a preparação da demonstração do fluxo de caixa de determinada empresa.
Alienação do imobilizado 3.000
Aumento de contas a receber 130.650
Aumento de estoques 217.200
Aumento de salários/obrigações/outros 694.500
Depreciação e amortização do período 215.100
Lucro líquido do período 934.800
Pagamento de financiamentos 582.000
Redução de fornecedores 19.050
Tomada de financiamentos 885.000

Com base nesses dados, calcule pelo método indireto o seguinte:


a) O caixa líquido gerado pelas atividades operacionais.
b) O caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento;
c) O caixa líquido gerado pelas atividades de investimento;

49
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Marcelo Cardoso de. Estrutura e Análise das Demonstrações Financeiras.


Campinas, SP: Alínea, 2012.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-


financeiro. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

BRASIL. Lei no. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por
Ações. Diário Oficial da União, 17 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 02 abr. 2020.

BRASIL. Lei no.11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da


Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e
estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de
demonstrações financeiras.. Diário Oficial da União, 28 dez. 2007. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 02 abr.
2020.

BRASIL. Lei no. 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa
ao parcelamento ordinário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que
especifica; institui regime tributário de transição, alterando o Decreto no 70.235, de 6 de
março de 1972, as Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 8.218,
de 29 de agosto de 1991, 9.249, de 26 de dezembro de 1995, 9.430, de 27 de dezembro
de 1996, 9.469, de 10 de julho de 1997, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 10.426, de 24
de abril de 2002, 10.480, de 2 de julho de 2002, 10.522, de 19 de julho de 2002, 10.887,
de 18 de junho de 2004, e 6.404, de 15 de dezembro de 1976, o Decreto-Lei no 1.598, de
26 de dezembro de 1977, e as Leis nos 8.981, de 20 de janeiro de 1995, 10.925, de 23 de
julho de 2004, 10.637, de 30 de dezembro de 2002, 10.833, de 29 de dezembro de 2003,
11.116, de 18 de maio de 2005, 11.732, de 30 de junho de 2008, 10.260, de 12 de julho de
2001, 9.873, de 23 de novembro de 1999, 11.171, de 2 de setembro de 2005, 11.345, de 14 de
setembro de 2006; prorroga a vigência da Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995; revoga
dispositivos das Leis nos 8.383, de 30 de dezembro de 1991, e 8.620, de 5 de janeiro de 1993,
do Decreto-Lei no 73, de 21 de novembro de 1966, das Leis nos 10.190, de 14 de fevereiro de
2001, 9.718, de 27 de novembro de 1998, e 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.964, de 10 de
abril de 2000, e, a partir da instalação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais,
os Decretos nos 83.304, de 28 de março de 1979, e 89.892, de 2 de julho de 1984, e o art.
112 da Lei no 11.196, de 21 de novembro de 2005; e dá outras providências. Diário Oficial
da União, 27 mai. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/Lei/L11941.htm. Acesso em: 02 abr. 2020.

BRASIL. NBC TG 03 (R3) – Demonstração dos fluxos de caixa, de 19 de agosto de 2016.


Diário Oficial da União, 22 dez. 2016. Disponível em https://poderdacontabilidade.com.
br/wp-content/uploads/2017/05/NBCTG03R3.pdf. Acesso em: 03 abr. 2020.

BRASIL. NBC TG 27 (R4) – Altera a NBC TG 27 (R3) que dispõe sobre ativo imobilizado,

50
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
de 24 de novembro de 2017. Diário Oficial da União, 22 dez. 2017. Disponível em http://
www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/1274569/do1-
2017-12-22-norma-brasileira-de-contabilidade-nbc-tg-27-r4-de-24-de-novembro-
de-2017-1274565-1274565. Acesso em: 03 abr. 2020.

BRASIL. Resolução do CFC Nº. 1.185/09, de 28 de agosto de 2009. Aprova a NBC


TG 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis. Diário Oficial da União,
15 set. 2009. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.
aspx?Codigo=2009/001185. Acesso em: 02 abr. 2020.

BRASIL. Resolução do CFC Nº. 1.296/10, de 28 de agosto de 2009. Aprova a NBC TG 03 –


Demonstração dos Fluxos de Caixa. Diário Oficial da União, 17 set. 2010. Disponível em:
http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1296.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 00 (R2) - Estrutura


conceitual para relatório financeiro, 2019. Disponível em: www.cpc.org.br. Acesso em
06 abr. 2020.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 03 (R3) - Demonstração dos


fluxos de caixa, 2016. Disponível em: www.cpc.org.br. Acesso em 06 abr. 2020.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 23 - Políticas contábeis,


mudança de estimativa e retificação de erro, 2014. Disponível em: www.cpc.org.br.
Acesso em 06 abr. 2020.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS (CPC). CPC 26 (R1) - Apresentação das


demonstrações contábeis, 2011. Disponível em: www.cpc.org.br. Acesso em 06 abr.
2020.

NEVES, Silvério das; VICECONTI, Paulo Eduardo. Contabilidade avançada e análise


das demonstrações financeiras. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

RIBEIRO, Osni Moura. Estrutura e análise de balanços fácil.11. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.

51
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
52
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2
unidade
ANÁLISE E
INTERPRETAÇÃO DAS
SITUAÇÕES ECONÔMICA
E FINANCEIRA DE UM
DETERMINADO PERÍODO

53
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
INTRODUÇÃO A UNIDADE

A Análise das Demonstrações Financeiras é de grande importância na tomada de


decisão gerencial, pois é o estudo detalhado da situação patrimonial das empresas,
através da decomposição, comparação e interpretação das demonstrações contábeis,
com interesse na obtenção de informações analíticas e precisas.
Neste sentido, no estudo da Análise das Demonstrações Financeiras e Indicadores de
Desempenho, vamos abordar sobre Análise e interpretação das situações econômica e
financeira de um determinado período em que focaremos: histórico, conceito, objetivos
e usuários da Análise das Demonstrações Financeiras, introdução à análise de balanços,
suas técnicas e etapas, padronização das demonstrações financeiras e análise horizontal
e vertical.
Para isso, a unidade terá como objetivos de aprendizagem:
• Identificar os conceitos introdutórios e conhecer características históricas da
Análise das Demonstrações Contábeis;
• Compreender a finalidade, identificar os objetivos e distinguir os stakeholders
(interessados) na análise das demonstrações;
• Entender a Análise de Balanços como importante ferramenta de gestão;
• Discutir o papel das análises Interna e Externa no gerenciamento da organização;
• Conhecer as etapas do processo de análise;
• Identificar as principais metodologias de análise;
• Aplicar a primeira etapa da metodologia de análise econômico-financeira;
• Demonstrar a importância da padronização das demonstrações financeiras para
atender às necessidades de análise;
• Exercitar uma situação prática de padronização;
• Demonstrar as principais reclassificações nas contas do balanço patrimonial e da
demonstração do resultado;
• Entender os mecanismos e a função da Análise Vertical e da Análise Horizontal;
• Aplicar a técnica de Análise Vertical e Horizontal nos principais demonstrativos
contábeis;
• Aplicar os conceitos envolvidos com Análise Horizontal e Vertical;
• Extrair algumas conclusões preliminares sobre os percentuais obtidos nessas
tarefas.

Diante do exposto, esperamos que essa Unidade 2 sirva de apoio, pois como diz
Matarazzo (2010) essas Demonstrações Contábeis precisam ser transformadas em

54
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
informações que permitam concluir se a empresa merece ou não crédito, se vem sendo
bem ou mal administrada, se tem ou não condições de pagar suas dívidas, se é ou não
lucrativa, se vem evoluindo ou regredindo, se é eficiente, se irá falir ou se continuará
operando.

Seguindo em frente com sucesso!!!!

55
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.1 HISTÓRICO, CONCEITO, OBJETIVOS E USUÁRIOS DA ANÁLISE DOS
DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS.

2.1.1 Histórico

Na visão de Matarazzo (2010), a análise das demonstrações contábeis, elaborada de


forma mais sistematizada e organizada, originou-se e desenvolveu-se dentro do sistema
bancário e, até hoje é seu principal usuário. Cronologicamente, podemos determinar sua
origem ao final do século XX, quando alguns banqueiros americanos passaram a solicitar
dados financeiros às empresas que estavam pleiteando empréstimos.
O mesmo autor afirma que a análise de demonstrações contábeis ganhou aceitação
ampla quando, em 1895, o Conselho Executivo da Associação dos Bancos no Estado de
New York resolveu recomendar aos seus membros que solicitassem aos tomadores de
empréstimos declarações escritas e assinadas de seus ativos e passivos. Esse mesmo
Conselho, cinco anos depois, divulgou um formulário que incluía espaço para se colocar
os dados do Balanço Patrimonial da organização que estava pleiteando o crédito junto à
instituição financeira.
A seguir, em nível de conhecimento, será apresentado um breve relato sobre a evolução
da Análise das Demonstrações Contábeis e da Contabilidade a partir do final do século
XIX, período em que muitos eventos determinaram a valorização da contabilidade e das
informações que dela podem ser extraídas. (SILVA, p. 11, 2017).
Devido à forte influência da Escola Americana na Contabilidade do Brasil, citamos
dados cronológicos que nortearam a Contabilidade nos Estados Unidos e, na sequência
mencionamos informações que orientaram a contabilidade no Brasil.

VOCÊ SABIA!!!
Os bancos foram às primeiras instituições a utilizarem a Análise das Demons-
trações Contábeis como instrumento auxiliar na tomada de decisão?

56
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.1.1.1 Estados Unidos

Quadro 5 Dados cronológicos que nortearam a Contabilidade nos Estados Unidos


Final do Os banqueiros americanos solicitam das organizações que desejam contrair empréstimos a
séc. XIX apresentação do balanço patrimonial
O Conselho Executivo da Associação de Bancos de New York (NYBA – New York Bankers As-
1895 sociation) recomenda aos seus membros que solicitem balanços dos tomadores de emprésti-
mos
1900 A NYBA divulga um formulário de crédito que inclui espaço para o balanço patrimonial.
William Prost escreve sobre a prática dos bancos em solicitar o balanço patrimonial dos
1906
clientes.
Lei Hepburn, permitindo à ICC (Interstate Commerce Comission), primeira agência reguladora
americana responsável por todos os serviços de transporte interestadual, estabelecer regras
1906 uniformes de contabilidade para as companhias por ela reguladas. Em 1995 este órgão foi
sucedido pela STB (Surface Transportation Board).
Federal Reserve Board (BC dos EUA) determina que só podem ser redescontados os títulos
1915
negociados por empresas que apresentem seu balanço patrimonial ao banco.
Federal Reserve Board publica o livreto Métodos aproximados para a preparação de Relató-
1918
rios de Balanço, que inclui: formulários padronizados para o Balanço.
Alexander Wall desenvolve um método de análise de índices, em especial a relação entre o
1919
Ativo e o Passivo Circulante, através de publicação de artigo no Federal Reserve Bulletin.
James H. Biss sugere a criação da análise através de indicadores-padrão por segmento de
1923
atividade.
Stephen Gilman, ao criticar o sistema de análise por coeficiente propôs a análise horizontal,
1925
com o objetivo de indicar as variações ocorridas nos vários elementos do patrimônio.
Crise no mercado de ações, com a quebra da Bolsa de New York. Nesse mesmo ano os proce-
dimentos apresentados em 1918 pelo Federal Reserve são revistos pelo American Institute of
1929 Certified Public Accountants – AICPA Instituto Americano de Contadores Públicos Certifica-
dos)-, que também faz novas revisões da publicação em 936 e 1950.
Surgiu na companhia DuPont um modelo de análise de rentabilidade (ROI – Return on Invest-
1930
ment) que decompõe a taxa de retorno em taxas de margem de lucro e giro dos negócios.
A agência de risco Dun & Bradstreet passa a elaborar a divulgar índices-padrões para os
1931 diversos ramos de atividades dos EUA, oferecendo este tipo de serviço até os dias atuais, não
apenas nos EUA, mas também em vários países, inclusive Brasil.
1933 A Bolsa de Valores de New York passa a exigir relatórios anuais com parecer de auditoria.
Criação da SEC (Segurities and Exchange Commission) em virtude da crise de 1929 (órgão
1934
equivalente à CVM no Brasil).
1938 A SEC cria o Comitê de Procedimentos Contábeis (APB), sucedido pela FASB.

57
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Surge nos Estados Unidos a demonstração das Origens e Aplicação de Recursos (DOAR),
1972 lançando assim uma visão de análise mais detalhada sobre as variações ocorridas no capital
circulante líquido da empresa de um ano para outro.
Criada a FASB (Financial Accounting Foundation Board), organização designada para estabe-
1973
lecer padrões da contabilidade financeira e relatórios do setor privado.
Lei Sarbanes-Oxley (SOX) – Em razão dos muitos escândalos financeiros envolvendo grandes
corporações e empresas de auditoria, esta lei impõe severas obrigações aos diretores execu-
tivos e diretores financeiros das companhias americanas, que passam a ser explicitamente
2002 responsáveis por estabelecer, avaliar e monitorar a eficácia dos controles internos sobre
relatórios financeiros e divulgações. As empresas de auditora também são feitas algumas
restrições, como, por exemplo, a vedação de uma mesma empresa de autoria prestar serviços
simultâneos de auditoria e consultoria contábil e tributária para seus clientes.
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

2.1.1.2 Brasil

Quadro 6 Dados cronológicos que nortearam a Contabilidade no Brasil


Lei nº 556(Código Comercial Brasileiro) – apesar de não trazer normas de escrituração contá-
1850 beis, determinava que todos os comerciantes fossem obrigados a seguir uma ordem uniforme
de contabilidade e escrituração e ter os livros para esse fim específico.
Publicação do livro Ensaio sobre análise de balanços, de autoria de João Luiz de Souza. De
1932 acordo com comentários de Franco (1992, p. 13), não obstante tratar-se apenas de um ensaio,
sem o aprofundamento das obras atuais, tem grande valor pelo seu pioneirismo no Brasil.
Decreto-Lei nº 2.627 – instituiu a primeira Lei das Sociedades Anônimas, trazendo algumas
1940 regras para avaliação de ativos e distribuição de lucros, revogada mais tarde pela Lei nº
6.404/1976.
Decreto nº 9.295 - criou o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), e regulamentou as profis-
1946
sões de Contador e de Técnico de Contabilidade.
Lei nº 4.728 – regulamenta o mercado de capitais e, dentre outras disposições, estabelece que
cabe ao Conselho Monetário Nacional a expedir normas quanto à organização do Balanço
e das Demonstrações de resultado, padrões de organização contábil, relatórios e pareceres
1965 de auditores independentes registrados no Banco Central, relativas à empresa com ações
negociadas em Bolsas de Valores.
Resolução CFC nº 321 – estabelece normas e procedimentos de auditoria. As normas atual-
1972
mente em vigor foram aprovadas pela Resolução CFC nº 820/97.
Primeira edição de Melhores e Maiores da Revista Exame, uma publicação anual que traz
reportagens e tabelas com os principais números e indicadores extraídos das demonstrações
1974 contábeis das 500 maiores e melhores companhias que operam no Brasil, agrupadas por
segmento econômico.

58
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Stephen C. Kanitz (USP) publica na revista Exame Como prever a falência das empresas, o
1974 chamado “Termômetro de Insolvência”, metodologia que até hoje desperta a atenção dos
estudiosos da Análise de Demonstrações Contábeis.
Lei nº 6.385- cria a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), com a principal função de assegu-
1976
rar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão.
Lei nº 6.404 – a nova Lei das Sociedades Anônimas estabelece, dentre outras normas, as
1976
principais práticas contábeis a serem seguidas pelas S.A. Revoga o Decreto-Lei nº 2.627/1940.
Publicada a 1º edição do Manual de contabilidade das sociedades por ações, de Sérgio de
Iudícibus, Eliseu Martins e Ernesto Rubens Gelbcke, carinhosamente chamado por muitos de a
1979
Bíblia do contador.
Resolução CFC nº 530 – aprova a NBC T-1, estabelecendo os Princípios Fundamentais de
1981
Contabilidade, mais tarde atualizados pela Resolução CFC nº 750/93.
Resolução CFC nº 686 – aprova a NBC T-3, trazendo Conceito, Conteúdo e Nomenclatura das
1990
Demonstrações Contábeis.
1993 Resolução CFC nº 750 – aprova os Princípios Fundamentais de Contabilidade.
Resolução CFC nº 820 – aprova a NBC T-11, Normas de Auditoria Independente das Demonstra-
1997
ções Contábeis.
Lei nº 10.406 – institui o novo Código Civil. Esta Lei revogou o capítulo relativo às Sociedades
Comerciais constante na Lei nº 556/1850 (Código Comercial), estabelecendo novas normas
2002 quanto à organização das empresas e suas obrigações, incluindo aspectos relacionados à
escrituração contábil.
Deliberação nº 488 da CVM – aprova o Pronunciamento do IBRACON NPC nº 27- Demonstra-
2005
ções contábeis – apresentação e divulgações.
A Lei nº 6.404/76 em seu art. 177, §5º, passou a determinar que as normas expedidas pela CVM
2005
devam ser elaboradas em consonância com os padrões internacionais de contabilidade.
O CFC através da Resolução nº 1.055/2005 criou o Comitê de Pronunciamentos Contábeis –
CPC com o objetivo de “estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre
procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir
a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformi-
2005 zação do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabili-
dade Brasileira aos padrões internacionais.
Editada a Lei nº 11.638/2007 e a Medida Provisória nº 449/2008, que estabelece profundas
modificações na forma de contabilização e evidenciação dos fatos contábeis das sociedades
2007 anônimas e das sociedades de grande porte, fazendo-as convergir para os padrões interna-
cionais de contabilidade.
CPC emite o Pronunciamento Conceitual Básico contendo a “Estrutura Conceitual para a
Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis”, através da correlação às Normas
2008
Internacionais de Contabilidade.

59
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Resolução CFC nº 1.121/2008 – Aprova a NBC T 1 – Estrutura Conceitual para a Elaboração e
Pronunciamento Conceitual Básico do CPC que dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a
2008
Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis.
Deliberação CVM nº 539/2008 – aprova o Pronunciamento Conceitual Básico do CPC que
dispõe sobre a Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações
2008 Contábeis, e revoga a Resolução CVM nº 29/1986 (antiga Estrutura Conceitual Básica da
Contabilidade);
Instrução CVM nº 469/2008 – dispõe sobre a aplicação da Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de
2008
2007. Altera as Instruções CVM n° 247, de 27 de março de 1996, e 331, de 4 de abril de 2000;
Resolução CFC nº. 1.157/09 – aprova o Comunicado Técnico CT 03 – Esclarecimentos sobre as
2009
Demonstrações Contábeis de 2008;
Resolução CFC Nº. 1.159/09 – aprova o Comunicado Técnico CT 01 que aborda como os ajustes
das novas práticas contábeis adotadas no Brasil trazidas pela Lei nº. 11.638/07 e MP nº. 449/08
2009
devem ser tratados.
As Instituições Financeiras, a partir do exercício findo em 2010, estão obrigadas a elaborar e
publicar suas Demonstrações Financeiras Consolidadas em IFRS, em atendimento ao Comuni-
2010
cado nº 14.259/2006 do Banco Central do Brasil.
Por sua vez, a CVM também obriga as companhias de capital aberto brasileiras a elaborar e
publicar suas Demonstrações Financeiras Consolidadas em IFRS a partir do exercício findo em
2010
2010, conforme dispõe a Instrução CVM nº 457/2006.
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) emitiu a Circular Susep nº 357/2007, determi-
nando a preparação e publicação de Demonstrações Financeiras Consolidadas em conso-
2010 nância com os pronunciamentos do IASB, referentes ao exercício findo em 31 de dezembro de
2010.
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

VALE A PENA CONFERIR!


Para conhecer mais sobre Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC aces-
se o link:
http://www.cpc.org.br/CPC

Após a apresentação deste relato, percebe-se que a contabilidade brasileira passa


por uma verdadeira revolução. A Lei nº 6.404/76 com a edição da Lei nº 11.638/2007
e da Medida Provisória nº 449/2008, estabelece profundas modificações na forma
de contabilização e evidenciação dos fatos contábeis das sociedades anônimas e das

60
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
sociedades de grande porte, fazendo-as convergir para os padrões internacionais de
contabilidade.

2.1.2 Conceito

A análise de Balanços é uma técnica contábil que consiste no exame e na interpretação


dos dados contidos nas demonstrações contábeis, com o fim de transformar esses dados
em informações úteis aos diversos usuários das informações contábeis. (RIBEIRO, 2014)
Para Iudicibus (2017, p. 28), a análise de balanços é a

arte de saber extrair relações úteis, para o objetivo econômico que


tivermos em mente, dos relatórios contábeis tradicionais e de suas
extensões e detalhamentos [...], observando que, apesar da análise
e suas extensões se basearam na apuração de índice e quocientes
já consagrados, ‘não existe forma científica ou metodologicamente
comprovada de relacionar tais índices de maneira a obter um
diagnóstico preciso’.

Com este conceito, o autor nos faz cogitar sobre as várias possibilidades de
interpretações que surgem a partir das análises, ou seja, cada analista poderia, com o
mesmo conjunto de informações e de quocientes, chegar a conclusões ligeiras ou até
completamente diferenciadas. Estas variações tendem a diminuir quando a análise é
efetuada por profissionais experimentados, que conhecem igualmente bem a empresa.
É o exame de laboratório da saúde econômica, financeira e patrimonial da sociedade.
É um diagnóstico bem estruturado da situação do patrimônio. É uma maneira de
transformar os dados das peças contábeis em valores relativos, tornando-os mais fáceis
de serem comparados com outras empresas ou mesmo com o mercado. (AZEVEDO, 2012).

ATENÇÃO!!!
A Análise de Demonstrações Financeiras é também conhecida como Análise
de Balanço ou Análise das Demonstrações Contábeis.

61
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Já Matarazzo (2010, p. 39), diz que “a análise das demonstrações visa extrair
informações para a tomada de decisão. O perfeito conhecimento do significado de cada
conta facilita a busca de informações precisas”.
Na visão de Assaf Neto (2015, p. 48):

A análise de balanços visa relatar, com base nas informações contábeis


fornecidas pelas empresas, a posição econômico-financeira atual, as
causas que determinaram a evolução apresentada e as tendências
futuras. Em outras palavras, pela análise de balanços extraem-se
informações sobre a posição passada, presente e futura (projetada) de
uma empresa.

A Análise das demonstrações financeiras é o estudo detalhado da situação patrimonial


das empresas, através da decomposição, comparação e interpretação das demonstrações
contábeis, com interesse na obtenção de informações analíticas e precisas.
Portanto, verifica-se que a análise de balanço é de grande importância na tomada
de decisão gerencial, bem como servirá de sinalização para credores e investidores,
muito mais pela interpretação dos indicadores resultantes de aplicações de fórmulas
matemáticas, que pelos números resultantes dessas contas.

2.1.3 Objetivos

A Análise de Balanços tem como objetivo extrair informações das demonstrações


financeiras para as tomadas de decisão. Segundo Matarazzo (2010), as demonstrações
financeiras fornecem uma série de dados sobre a empresa, de acordo com as regras
contábeis. A Análise de Balanços transforma esses dados em informações e esta será
tanto mais eficientes quanto melhores informações produzir.
Para Viceconti e Neves (2014, p. 437) a Análise das Demonstrações Financeiras tem
como objetivo:

Fornecer informações numéricas de dois ou mais períodos, de


modo a auxiliar ou instrumentar acionistas, administradores,
fornecedores, clientes, governo, instituições financeiras,
investidores e outras pessoas físicas ou jurídicas interessadas
em conhecer a situação da empresa ou para tomar decisões.

62
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Matarazzo (2010) comenta que, por meio da análise, podemos extrair informações das
demonstrações contábeis para a tomada de decisões. Tais demonstrações fornecem uma
série de dados sobre a empresa. A análise das demonstrações contábeis visa transformar
esses dados em informações. O processo de análise será mais eficiente à medida que as
informações produzidas possuírem mais qualidade, ou seja, apresentarem confiabilidade,
veracidade, exatidão etc.
A análise das demonstrações contábeis, segundo Assaf Neto (2015), visa relatar, com
base nas informações fornecidas pelas empresas, a posição econômico-financeira atual,
as causas determinantes da evolução apresentada e as tendências futuras.
No processo de elaboração de uma análise das demonstrações contábeis, é muito
importante que façamos a distinção entre dados e informações. Em relação a este tema,
Matarazzo (2010) apresenta as seguintes definições:
• Dados: são números ou descrição de objetos ou eventos que, isoladamente, não
provocam nenhuma reação no leitor;
• Informações: representam, para quem as recebe uma comunicação que pode
produzir reação ou decisão, frequentemente acompanhada de um efeito-surpresa.

Por exemplo: quando se diz que as demonstrações financeiras mostram que a empresa
tem tantos milhares de dívidas, isto é um dado. A conclusão de que a dívida é excessiva ou
é normal, de que a empresa pode pagá-la ou não é informação. Assim sendo, o objetivo
da Análise de Balanço é produzir informação.

Figura 1 Sequência do processo de análise


Fonte:Adaptada de Matarazzo (2010)

Portanto, percebe-se que a coleta de dados é importante para a análise, porém, por
si só não leva o usuário das informações às decisões. Após os cálculos, é necessário
que sejam descobertas as causas que influenciaram a formação de tais números; caso
contrário, não será possível chegar a qualquer tomada de decisão.

63
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.1.4 Usuários

Conforme sinalizado por Padoveze e Benedicto (2007), as informações obtidas


através da análise financeira podem atender diversos objetivos e interesses de seus
envolvidos. Em todo este processo, cada usuário procura detalhes específicos para suas
necessidades. Os principais interessados nas análises de balanços são: fornecedores,
empresas clientes, intermediários financeiros, acionistas, concorrentes, governo e os
próprios administradores.
Em relação a cada um desses, Assaf Neto (2015) aborda sobre quais são os principais
interesses de cada grupo, que será apresentado abaixo.

Quadro 7 Usuários da Análise de Balanços e seus principais interesses


Usuário Finalidade
Sabe-se que a principal preocupação desses é em relação à capacidade de pagamen-
Fornecedores
to da empresa, ou seja, sua liquidez e também o nível de endividamento.
Diz respeito à relevância que existe em se conhecer a capacidade de tal empresa
fornecer os produtos suficientes e no tempo adequado para tal consumidor. Nesse
Empresas
ponto, é importante o conhecimento acerca dos níveis de investimento da empresa,
clientes
suas condições econômicas e financeiras a curto e longo prazo, sua capacidade física
para produção, entre outros aspectos.
Considerados uns dos principais usuários da análise de balanços, o que interessa é
Instituições
conhecer sobre o grau de endividamento, solvência, rentabilidade e a relação com o
financeiras
curto e longo prazo que a empresa trabalha.
Buscam informações capazes de identificar o retorno de seus investimentos na orga-
Acionistas
nização, ou seja, a capacidade de gerar lucros e reembolsá-los.
É interessante conhecer as empresas que lutam diariamente no mesmo ramo que a
Concorrentes organização em questão. Estudar a rentabilidade, liquidez, crescimento de vendas,
auxiliam no crescimento das empresas.
É tido como um dos principais interessados, pois em casos de concorrência pública,
Governo uma análise bem avaliada desempenha papel importante para selecionar as melhores
empresas, de forma a facilitar as escolhas do governo.
Administradores Interesse em conhecer os resultados de sua empresa de forma mais clara e detalhada.
Comissão de Observar se as demonstrações contábeis de uma empresa de capital aberto respon-
Valores Mobili- dem aos requisitos legais do mercado de valores mobiliários, como periodicidade de
ários apresentação, padronização e transparência.
Poder Judiciário Solicitação e apreciação objetiva de perícia.
Fiscalização
Buscar indícios de sonegação de impostos.
tributária

64
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Avaliar o vulto dos equipamentos e instalações, do capital de giro próprio, da solidez
Comissões de
econômico-financeira, buscando identificar se há garantia acessória para o início ou
licitação
continuidade no fornecimento dos bens e serviços.
Para salvaguardar o desempenho das empresas filiadas, a fim de estabelecer padrões
Sindicato de
que possam servir de guia para tomada de decisões por parte das empresas interes-
classe
sadas.
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015) e Silva (2017).

Iudícibus (2017) afirma que, se uma boa análise de balanços é importante para
banqueiros e investidores, para as gerências é ainda mais. O que os diferencia é o enfoque
dos detalhes de cada análise. Através delas, pode-se construir uma série de indicadores
financeiros e avaliar o progresso ou declínio em espaços de tempos menores.
A análise das demonstrações contábeis é essencial para os usuários do sistema de
informações atenderem seus interesses específicos tais como saber através dos relatórios
contábeis se a empresa analisada tem condições de ser financiada e por quanto tempo; se
esses usuários são os seus credores; se vale a pena comprar ações da empresa ou investir
na empresa; se o usuário é o investidor; se o desempenho da direção e da gerência da
empresa é satisfatório e os resultados são favoráveis; se o usuário é o acionista controlador;
enfim, como anda a saúde econômica e financeira da empresa, utilizando-se do processo
de análise. (BEGALLI; PEREZ JR., 2009, p. 239).
Dentro desse contexto, as demonstrações financeiras possuem destaque devido
à grande importância que apresentam, sobretudo em função das informações que
consolidam e através dessas análises, há uma facilidade em se acompanhar os resultados
e auxiliar nas tomadas de decisões.

IMPORTANTE!!!
A Análise das Demonstrações Financeiras é uma das quatro técnicas da ciência
contábil; as outras são a escrituração, as demonstrações financeiras e a auditoria.

2.2 INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE BALANÇOS

Na unidade 1, foram verificados os procedimentos necessários para a apuração do


Resultado do Exercício e estudada a estrutura de cada uma das demonstrações financeiras.

65
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
A partir de agora, você estudará as tarefas que são atribuídas aos analistas de Balanço,
visando à análise e à interpretação das demonstrações financeiras.
Desse modo, a Análise de Balanços começa onde termina a Contabilidade, ou seja,
no fim da demonstração expositiva dos fatos (demonstrações contábeis), conforme
ilustração a seguir:

Figura 2 As atuações da Contabilidade e da Análise de Balanços.


Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

De posse das demonstrações financeiras, o analista irá decompô-las por meio do exame
minucioso de cada uma das contas que compõem essas demonstrações, transcrevendo-
as em mapas padronizados, a fim de facilitar o processo de análise.

ALERTA!!!
O processo de Análise de Balanços começa quando termina o processo contá-
bil. (MARION E RIBEIRO, 2011).

Além disso, o analista coletará dados, escolherá os indicadores apropriados para a


obtenção dos resultados pretendidos, efetuará os cálculos de quocientes, coeficientes
e números índices, interpretará isolada e conjuntamente esses dados, comparando-
os com padrões, para finalmente apresentar suas conclusões por meio de relatórios.
(RIBEIRO, 2014)
Tradicionalmente conhecida por Análise de Balanços, Marion e Ribeiro (2011, p.
145) dizem que “essa técnica contábil não se limita ao Balanço Patrimonial, alcançando,
também, as demais demonstrações financeiras, embora o Balanço Patrimonial e a
Demonstração do Resultado do Exercício sejam as demonstrações mais utilizadas para
análise”.
A análise da situação econômica é feita com base no fluxo de receitas e de
despesas evidenciado na Demonstração do Resultado do Exercício, a fim de verificar,

66
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
principalmente, a rentabilidade alcançada pelo capital investido na organização.
Com a extração dos dados da Demonstração do Resultado do Exercício e os do Balanço
Patrimonial, pode-se conhecer a taxa de retorno do capital investido.
Já os dados extraídos do Balanço Patrimonial, pode-se conhecer seu grau de
endividamento, bem como a existência ou não de solvência suficiente, para que seja
possível cumprir seus compromissos de curto e de longo prazo.

2.2.1 Análise Interna e Externa

A Análise de Balanços interna auxilia os administradores nas suas tomadas de


decisões, pois, embora tenha como ponto de partida os resultados apresentados nas
demonstrações financeiras oficiais, ela também se utiliza de dados constantes das
demonstrações financeiras elaboradas internamente apenas para os fins gerenciais,
além de outras informações de natureza operacional.

ATENÇÃO!!!
Análise de Balanços interna é realizada dentro da entidade por seus próprios
empregados, e visa informar administradores e diretores, auxiliando-os nas toma-
das de decisões.

Para Marion e Ribeiro (2011), essa análise tem por fim informar os gestores sobre o
comportamento econômico e financeiro da organização, dotando-os do conhecimento
necessário para as suas tomadas de decisões.
O conhecimento do desempenho da organização por meio das variações de sua
situação econômica e financeira durante alguns exercícios passados, especialmente em
comparação com seus concorrentes, evidencia as tendências de crescimento, estagnação
ou queda em exercícios futuros, possibilitando aos gestores identificar os rumos corretos
que deverão nortear novos desafios para a organização.
Os objetivos da análise interna são o controle operacional, a avaliação do desempenho
e a coleta e fornecimento de dados para que a empresa possa tomar decisões para corrigir
o comportamento dela e de seus agentes. (AZZOLIN, 2012)
Quando os analistas pertencerem à própria organização objeto da análise, eles não

67
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
encontram dificuldades para coletar os dados necessários para realizar suas tarefas,
especialmente porque têm acesso direto aos controles internos. Por isso, a Análise
Interna é considerada a mais completa.

A Análise Externa é aquela realizada fora da organização objeto da análise, e tem


por finalidade oferecer aos interessados informações que lhes assegurem conhecer a
capacidade que a empresa tem para gerar fluxos de caixa suficientes que lhes garanta boa
lucratividade e estabilidade no mercado para a concretização de negócios, concessões
de créditos, financiamentos etc. É efetuada por profissional externo, normalmente
pertencente às entidades interessadas no resultado da própria análise.
Nesse caso, o analista tem em mãos somente as demonstrações financeiras publicadas
pela organização objeto da análise, além de alguns esclarecimentos adicionais constantes
dos relatórios ou das notas explicativas que acompanham as respectivas demonstrações.

ATENTOS!!!
Análise de Balanços externa é realizada fora da entidade, e visa informar aos
interessados acerca da situação econômica ou da estabilidade da entidade para
concretização de negócios.

A análise externa é promovida por analista não vinculado à empresa e é realizada para
atender finalidades nos campos micro e macroeconômico. Neste sentido, Florentino
(1980) pontua que os campos microeconômicos são: empresa isolada; mercado de
capitais; financiamento e concessões de credito; projetos de instalação ou ampliação
de empresas; fiscalização tributaria; grupos de empresas; seleção de empresas para
procedimentos licitatórios, já os campos macroeconômicos são: mercados setoriais e
contabilidade nacional.
Enquanto o resultado da Análise de Balanços interna visa a auxiliar os administradores
nas suas tomadas de decisões que influenciarão no desempenho da organização, o
resultado da Análise de Balanços externa tem por objetivo mais o conhecimento da
situação econômica e financeira da entidade e auxilia as pessoas estranhas ao objeto da
organização em suas tomadas de decisões em função dos resultados já apurados, não
interferindo, assim, no seu desempenho. (MARION E RIBEIRO, 2011)

68
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.2.2 Técnicas para análise

As técnicas podem ser entendidas como processo para obtenção de conclusões acerca
da situação econômica, financeira da entidade ou de outros aspectos relacionados com o
Patrimônio, de acordo com os interesses dos usuários.
O analista de Balanços tem à sua disposição várias técnicas, podendo ser utilizadas
isoladamente ou em conjunto, dependendo do grau de detalhamento das informações
que se pretende.

VOCÊ SABIA!!!
As técnicas para análise são os procedimentos e cálculos, com a utilização de
papéis de trabalho, adotados pelo analista para desenvolver os vários tipos de análise.

Nesse nosso estudo, veremos cinco dessas técnicas: análise propriamente dita, análise
por quocientes, análise vertical, análise horizontal e comparação com padrões.

2.2.2.1 Análise propriamente dita

É um exame minucioso, abrangendo cada uma das contas que compõem a


demonstração financeira objeto da análise.
Por meio dessa técnica, conforme Ribeiro (2014), o analista decompõe os fenômenos
patrimoniais, familiarizando-se com pormenores que envolvem a composição de cada
conta, bem como de seus respectivos grupos.

2.2.2.2 Análise por quocientes

É o processo implementado para calcular a relação numérica entre dois elementos


patrimoniais ou de resultado, como exemplo, o valor do ativo circulante representa 2,50
em relação ao valor do passivo circulante do mesmo período. (LUNELLI, 2020).

69
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para Ribeiro (2014), é o estudo comparativo entre grupos de elementos das
demonstrações financeiras por meio de índices, objetivando o conhecimento da relação
entre cada um dos grupos do conjunto.

2.2.2.3 Análise vertical

É a análise da estrutura de composição de um grupo ou subgrupo de determinados


elementos patrimoniais ou de resultado em determinado período, calculando a
participação de cada elemento em relação ao todo.
A análise vertical pode ser denominada também de análise de estrutura, ou método
de percentagens verticais.

2.2.2.4 Análise horizontal

Também denominada análise de evolução, ou método de percentagens horizontais,


consiste em verificar a evolução, através do tempo, dos diversos itens que compõem as
demonstrações financeiras.
A análise horizontal permite, em consequência, avaliar o crescimento ou a diminuição
dos componentes das demonstrações financeiras através de uma série histórica, ou seja,
vários períodos. (AZZOLIN, 2012)

2.2.3 As etapas do processo de análise

De posse das demonstrações financeiras, o analista vai decompô-las por meio do exame
minucioso de cada uma das contas que compõem essas demonstrações, transcrevendo-
as em mapas padronizados, a fim de facilitar o processo de análise. Além disso, segundo
Marion e Ribeiro (2011), o analista coletará dados, escolherá os indicadores apropriados
para a obtenção dos resultados pretendidos, efetuará os cálculos de quocientes,
coeficientes e números índices, interpretará isolada e conjuntamente esses dados,
comparando-os com padrões, para finalmente apresentar suas conclusões por meio de
relatórios.

70
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Este trabalho pode ser dividido em sete etapas conforme Marion e Ribeiro (2011),
exame e padronização das demonstrações financeiras, coleta de dados, cálculos dos
indicadores, interpretação de quocientes, análise vertical/horizontal, comparação com
padrões e relatórios.

1a Etapa: Exame e padronização das principais demonstrações financeiras


As demonstrações financeiras a serem analisadas de acordo com Ribeiro (2014) são:
Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração
de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido (DMPL), Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e Demonstração do Valor
Adicionado (DVA).
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), embora tenha deixado
de ser de elaboração obrigatória a partir de 1º/1/2008 (Lei no 11.638/07), pela riqueza de
informações que possibilita, especialmente em relação à evolução do capital de giro da
empresa, deve continuar sendo elaborada e analisada para fins gerenciais.
Nesta etapa da análise, é feito exame minucioso, abrangendo cada uma das contas
que compõem a demonstração financeira objeto da análise.
O analista familiariza-se com pormenores que envolvem a composição de cada conta,
bem como de seus respectivos grupos.

2a Etapa: Coleta de dados


Extração de valores das demonstrações financeiras, como Total do Ativo Circulante,
do Ativo Imobilizado, do Patrimônio Líquido, Valor das Vendas Líquidas etc.

3a Etapa: Análises vertical e horizontal


Interpretação isolada e conjunta de coeficientes e números índices.

4a Etapa: Interpretação de quocientes


Interpretação isolada e conjunta.

5a Etapa: Cálculos dos indicadores


Estes indicadores são: quocientes, coeficientes e números índices.

6a etapa: Comparação com padrões


Cálculos e comparações com quocientes-padrão (média alcançada pelas empresas do
mesmo ramo).

71
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
7a Etapa: Relatórios
Apresentação das conclusões da análise em forma de relatórios inteligíveis por leigos.
Quando esses relatórios se destinarem aos gestores internos, eles deverão contemplar o
grau de conhecimento contábil de cada um.

2.2.4 Estática e dinâmica patrimonial

Antes de detalhar cada etapa acima, é necessário saber que aos usuários das
demonstrações financeiras interessa conhecer dois aspectos do Patrimônio: o aspecto
financeiro e o aspecto econômico.

a) Aspecto financeiro envolve a capacidade da empresa de poder saldar os


compromissos assumidos junto a terceiros. A situação financeira é evidenciada por
meio do Balanço Patrimonial (estática patrimonial)

b) Aspecto econômico envolve o rendimento que o Capital aplicado na empresa


proporciona aos seus investidores. A situação econômica da empresa é ressaltada pela
Demonstração do Resultado do Exercício (dinâmica patrimonial).

IMPORTANTE!!!
A estática patrimonial examina o meio ou riqueza em seus estados estruturais
e de equilíbrio pertinentes, enquanto, a dinâmica, tem como escopo, o movimento.
(RIBEIRO 2014).

2.2.4.1 Estática Patrimonial

O Balanço Patrimonial é um conjunto de elementos representados por Bens, Direitos,


Obrigações e pelo Patrimônio Líquido, compondo assim, o Patrimônio da Entidade em
um determinado momento.
Conforme estudamos na Unidade 1, o Passivo mostra a origem dos Capitais que estão

72
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
à disposição da empresa; o Ativo mostra em que esses Capitais foram aplicados.
Os investimentos efetuados no Ativo em Bens Circulantes (Disponibilidade, Contas
a Receber, Estoques, etc.) e em Bens não Circulantes (Móveis e Utensílios, Veículos,
Equipamentos etc.) devem ser efetuados em proporções adequadas ao ramo de atividade
da empresa. Os Investimentos efetuados no Ativo não Circulante por uma empresa de
transporte coletivo, por exemplo, são bens maiores do que os Investimentos efetuados
por uma empresa comercial que consegue gerir o seu negócio com poucos bens de uso.
(RIBEIRO 2014).
Por outro lado, deve haver também uma proporção adequada entre os Capitais
Próprios e os Capitais de Terceiros investidos na empresa.
Enfim, a comparação desses e de outros dados, como a relação entre o Ativo Circulante
e o Passivo, entre o Ativo Circulante mais o Realizável a Longo Prazo e o Passivo Circulante
mais o Exigível a Longo Prazo, pode ser analisada por meio do Balanço Patrimonial.
(RIBEIRO 2014).
Veja o seguinte Balanço Patrimonial, extraído do livro Estrutura e Análise de Balanços
de Osni Moura Ribeiro, p.139, 2014.

Tabela 7 Balanço Patrimonial da Comercial Paraná S.A em 31.12.X1.


ATIVO PASSIVO
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
Caixa 2.000 Fornecedores 7.000
Clientes 8.000 Contas a Pagar 2.000
Estoques 10.000
TOTAL 20.000 TOTAL 9.000
ATIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Computadores 2.000 Capital 15.000
Móveis e Utensílios 5.000 Reservas para investimentos 3.000
TOTAL 7.000 TOTAL 18.000
TOTAL DO ATIVO 27.000 TOTAL DO PASSIVO 27.000
Fonte: Adaptada de Ribeiro (2014)

De posse do Balanço veja como a situação estática fornece dados para interpretação:
• O Capital Total à disposição da empresa é de R$ 27.000, sendo que R$ 18.000
(66,66%) correspondem a Capitais Próprios e R$ 9.000 (33,33%) correspondem a
Capitais de Terceiros.
• Os Capitais Próprios estão assim compostos:

73
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
a) financiados pelos titulares = R$ 15.000 (83,33%);
b) decorrentes da evolução normal da empresa = R$ 3.000 (16,66%).
• Os Capitais de Terceiros, no valor de R$ 9.000, correspondem a débitos decorrentes
do funcionamento normal da empresa – Fornecedores (compra de mercadorias a
prazo) e Contas a Pagar (Obrigações normais, como impostos, luz, água, salários,
aluguéis, etc.).
• Os Capitais Totais à disposição da empresa foram aplicados no Ativo da seguinte
maneira:
a) no Ativo não Circulante, em Bens de Uso, R$ 7.000, que equivalem a 25,92%;
b) no Ativo Circulante – Capital Circulante foi aplicado R$ 20.000, que correspondem
a 74,08%.
• O Ativo não Circulante corresponde a 38,88% do Capital Próprio, o que significa
que 61,22% desse Capital foram aplicados no Ativo Circulante.
• O Ativo Circulante, que é de R$ 20.000, teve a seguinte origem:
a) R$ 9.000 foram financiados com recursos de Terceiros, pagáveis a curto prazo
(Passivo Circulante), o que corresponde a 45%;
b) R$ 11.000 foram financiados com recursos próprios (diferença entre o Patrimônio
Líquido e o Ativo não Circulante), correspondendo a 55%.
• O Ativo Circulante, que é de R$ 20.000, corresponde a mais de 100% do Passivo
Circulante, que totaliza R$ 9.000.
• Dos R$ 10.000 de estoques, 70% foram comprados a prazo, pois há dívida a
fornecedores no valor de R$ 7.000.
• Os Valores a Receber de Clientes, que são de R$ 8.000, quase empata com os
Valores a Pagar a Fornecedores.

Além desses, outros dados poderão ser extraídos do Balanço Patrimonial para fins de
análise. A interpretação será estudada nas unidades seguintes.

2.2.4.2 Dinâmica Patrimonial

A demonstração financeira que melhor espelha a situação dinâmica do Patrimônio é a


Demonstração do Resultado do Exercício.
Por meio das contas que compõem a Demonstração do Resultado do Exercício,
podemos visualizar as variações, ocorridas durante o exercício, que provocaram
aumentos ou diminuições no Patrimônio Líquido.

74
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Conforme já dissemos, a análise das variações patrimoniais permite aquilatar a
rentabilidade obtida com o Capital investido na empresa.
Observe a seguinte Demonstração do Resultado do Exercício:

Tabela 8 Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial Paraná SA, em 31.12.X1


1.Receita Operacional Líquida
Vendas Líquidas 30.000
2.Custo das Mercadorias Vendidas (12.000)
3.Lucro Bruto 18.000
4.Despesas Operacionais
Despesas com Vendas 5.000
Despesas Financeiras 1.000
Despesas Gerais e Administrativas 8.000 (14.000)
5.Lucro Operacional 4.000
6. Imposto de Renda sobre o Lucro Líquido (1.000)
7. Lucro Líquido do Exercício 3.000
Fonte: Adaptada de Ribeiro (2014)

Veja como a situação dinâmica do patrimônio permite a extração de vários dados para
serem interpretados:

• O Custo das Mercadorias Vendidas, que foi de R$ 12.000, corresponde a 40% da


Receita com Vendas.
• O Lucro Bruto, que foi de R$ 18.000, corresponde a 60% da Receita de Vendas.
• As Despesas com Vendas, que foram de R$ 5.000, correspondem a 16,66% da
Receita com Vendas.
• As Despesas Financeiras, que foram de R$ 1.000, correspondem a 3,33% da Receita
com Vendas.
• As Despesas Gerais e Administrativas, que foram de R$ 8.000, correspondem a
26,66% da Receita com Vendas.
• O Lucro Operacional de R$ 4.000, corresponde a 13,33% da Receita com Vendas.
• O Lucro Líquido do Exercício, que foi de R$ 3.000, corresponde a 10% da Receita
com Vendas.

Comparando os dados constantes da dinâmica com os da estática patrimonial,


poderemos obter outros dados:

75
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• A Receita Líquida de Vendas, que foi de R$ 30.000, corresponde a 200% do valor
do Capital Social da empresa, que é de R$ 15.000.
• O Lucro Bruto do Exercício corresponde a 120% do Capital Social.
• O Lucro Líquido do Exercício, que foi de R$ 3.000, corresponde a 20% do Capital
Social. Se a empresa obtiver, a cada ano, Lucro Líquido correspondente a 20%
do Capital Social, no final de cinco anos a empresa conseguirá dobrar o valor do
Capital investido pelos sócios (5 anos x 20% = 100%). Isto equivale a dizer que em
cinco anos os sócios obterão de volta o valor do Capital que investiram na empresa.

A interpretação desses dados será estudada nas unidades seguintes.

2.3 EXAME DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

O primeiro passo a ser dado pelo analista para realizar as tarefas de análise, será
examinar minuciosamente cada uma das contas que compõem as demonstrações
financeiras da empresa que será analisada.
Enfim, a análise minuciosa de cada conta proporciona ao analista o conhecimento de
detalhes que serão de grande valia no momento da interpretação dos dados nos diferentes
processos de análise (quocientes, vertical, horizontal etc.).
Os saldos das contas apresentadas nas demonstrações poderão englobar vários
valores de elementos de uma mesma natureza. Exemplos:

• Saldo da conta caixa - normalmente o saldo dessa conta é composto por vales,
cheques e dinheiro. É preciso saber qual é a participação dos vales no montante
do saldo da conta, bem como se eles representam valores que serão ressarcidos
imediatamente ou não. Também é importante conhecer as datas de vencimento
dos cheques: o mais correto seria reclassificar os cheques pré-datados no grupo
das Contas a Receber. (RIBEIRO 2014).

• Conta bancos conta movimento - é importante verificar se os saldos das contas


bancárias foram devidamente conciliados, qual é o número dos estabelecimentos
bancários com os quais a empresa mantém contas correntes etc.

• Conta aplicações de liquidez imediata - deve-se verificar se correspondem a


aplicações de curtíssimo prazo, se estão contabilizadas pelo valor nominal etc.

76
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Conta clientes ou duplicatas a receber - é preciso examinar o percentual das
vendas à vista e das vendas a prazo no volume das vendas totais; o percentual
das duplicatas não recebidas; os prazos de vencimentos, bem como os valores que
vencem a 15, 30, 60 ou mais dias; os descontos previstos no caso de recebimentos
antecipados; a existência de vendas com reserva de domínio; a existência de títulos
em carteira, sendo estes descontados, caucionados ou em cobrança bancária etc.
(RIBEIRO, 2014).

• Conta estoques – esta conta é normalmente composta por:


a) bens destinados à venda (mercadorias e produtos acabados);
b) bens destinados à fabricação (matérias-primas, materiais de embalagem, materiais
secundários etc.);
c) outros materiais de uso (compreendendo os consumidos pelos departamentos
administrativo, comercial ou de produção, como material de escritório, limpeza,
combustíveis, lubrificantes etc.).

Em se tratando de mercadorias, é importante verificar os métodos utilizados para


registro: inventário periódico ou permanente; critério adotado para avaliação dos
estoques (PEPS, UEPS, custo médio), os itens obsoletos; percentual de cada item em
relação às vendas à vista e a prazo; os itens que normalmente são negociados a prazo;
estoques máximos e mínimos; prazos de rotação dos estoques etc.

• Conta fornecedores ou duplicatas a pagar – as mesmas observações feitas para


a conta clientes ou duplicatas a receber como por exemplo, volume de compras;
datas de vencimento das duplicatas; percentuais de descontos para pagamentos
antecipados etc.

• Contas reservas – importante verificar os valores que se referem a exercícios


anteriores e os cálculos no exercício atual.

2.4 PADRONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Para facilitar a análise é necessário ter um formato padronizado previamente


determinado. Para Matarazzo (2010), padronizar as demonstrações financeiras para
análise significa fazer uma crítica às contas, transferi-las quando necessário para outros

77
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
grupos de contas ou apenas adicionar o saldo de várias contas que têm o mesmo significado
para a análise. Com este objetivo obtemos informações mais claras e detalhadas para
gerentes e dirigentes de uma empresa.

VOCÊ SABIA QUE!!!


Padronizar é adequar as demonstrações a um modelo-padrão, apresentando
um número reduzido de contas, simplificando, dessa forma, a análise.

De acordo com Matarazzo (2010, p. 136) “a padronização consiste em: simplificação,


comparabilidade, adequação aos objetivos da análise, precisão na classificação de
contas, auxilia a descoberta de erros e proporciona a intimidade do analista com as
demonstrações financeiras”.
A seguir apresenta-se um comentário mais claro e detalhado a respeito das informações
mencionadas acima pelo autor.

2.4.1 Simplificação

Um balanço expresso de acordo com a Lei das S/As abrange em média 60 contas, isso
proporciona um grau de dificuldade maior na visão do balanço como um todo. Quando
comparados com três balanços com 60 valores diferentes cada um calculamos os
percentuais de variação de um período para o outro (ou seja, a análise vertical e horizontal),
atinge a 540 números, e isso complica o trabalho de um analista, proporcionando perca de
dados e a demora no processo da análise. Existem padronizações que reduz em média de
20, o número de contas do balanço proporcionando agilidade e a facilidade no processo
da análise (CAMELO et al., 2020).

2.4.2 Comparabilidade

Bancos, seguradoras etc.; ou seja, onde se tem por obrigatoriedade um plano de contas
legal com maior ou menor grau de informações e títulos de contas, no qual se torna

78
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
difícil perceber sua origem. A análise é feita através de comparação, e seu propósito é
analisar um balanço após seu enquadramento em um exemplo que se torna possível, a
comparação com outros balanços. (CAMELO et al., 2020).

2.4.3 Adequação aos objetivos da análise

Geralmente uma conta ou outra devem ser reclassificadas, como por exemplo,
duplicatas descontadas que deve constar no passivo circulante. Outras contas como
duplicatas à receber e estoques são habitualmente classificadas no ativo circulante.
(CAMELO et al., 2020).

2.4.4 Precisão nas classificações de contas

Encontramos com frequência balanços e demonstrações de resultados com erros nas


classificações de contas, como permanente que se encontra no ativo circulante, obrigações
do próprio exercício que aparecem como do exercício seguinte, etc. a padronização deve
ser rigorosa para corrigir certos tipos de erros como os mencionados acima. (CAMELO et
al., 2020).

2.4.5 Descoberta de erros

Erros propositais ou não investigados nas demonstrações financeiras.


a) Estoque final ou inicial das demonstrações do resultado do exercício não é idêntico
com os estoques dos balanços.
b) Provisão para devedores duvidosos do balanço não é igual à que foi construída na
demonstração do resultado do exercício.
c).Impossível harmonizar o patrimônio líquido final, mais os resultados do exercício
com o patrimônio líquido inicial. Uma padronização mais objetiva deveria sempre ser
precedida da preparação de um fluxo de caixa. (CAMELO et al., 2020).

79
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.4.6 Intimidade do analista com as demonstrações financeiras da
empresa

Baseada nas regras da análise e padronização, obrigatoriamente leva o analista a


refletir isoladamente em cada conta das demonstrações financeiras, e assim decidir
com a confrontação de outras contas. Com base nestas informações, podemos nos
orientar de maneira mais clara e precisa, para nos auxiliar nas tomadas de decisões. E
com isso apresentar um trabalho dinâmico no qual envolve seriedade e perfeição no
desenvolvimento da análise. (CAMELO et al., 2020).

Iudícibus (2017), alerta para o seguinte: A análise de balanços deve ser entendida
dentro de suas possibilidades e limitações. De um lado, mais aponta problemas a serem
investigados do que indica soluções; de outro, desde que convenientemente utilizada,
pode transformar-se num poderoso “painel de controle” da administração. Para isso, é
necessário atentar para os seguintes detalhes:

a) registros contábeis da empresa devem ser mantidos com esmero para que as
informações sejam produzidas com fidedignidade e sejam úteis para tomada de
decisão;

b) ainda que o Departamento de Contabilidade da empresa realize um grande esforço


para manter os registros de forma correta, é altamente desejável que os relatórios
financeiros sejam auditados por auditor independente ou, pelo menos, tenha havido
uma minuciosa revisão por parte da auditoria interna;

c) é preciso tomar muito cuidado na utilização de valores extraídos de balanços iniciais


e finais, principalmente na área de contas a receber e estoques, pois muitas vezes tais
contas, nas datas de balanço, não são representativas das médias reais de período;

d) os demonstrativos objetos de análise devem ser corrigidos tendo em vista as


variações do poder aquisitivo da moeda, muito embora não exista mais a figura
da correção monetária no Brasil desde 1995; para fins gerenciais e de análises esta
necessidade não pode ser descartada;

e) a análise de balanços limitada a apenas um exercício é muito pouco reveladora,


salvo em casos de quocientes de significação imediata. Adicionalmente, é necessário

80
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
comparar nossos quocientes e tendências com:
1 - quocientes dos concorrentes;
2 - metas previamente estabelecidas pela administração (quocientes-padrão).

Um aspecto importante a ser verificado nesse processo de análise para Ribeiro (2014)
é o confronto entre saldos de contas das diversas demonstrações financeiras. Para isso, o
analista deve estar atento se:
• os saldos das contas do patrimônio líquido do balanço patrimonial coincidem
com os respectivos saldos da demonstração das mutações do patrimônio líquido;
• os valores das provisões para contribuição social e para o imposto de renda
constantes no passivo circulante do balanço patrimonial são os mesmos da
demonstração do resultado do exercício;
• o saldo da conta lucro ou prejuízo líquido do exercício, informado na demonstração
de lucros ou prejuízos acumulados, é o mesmo constante da demonstração do
resultado do exercício;
• a inflação é um ponto importante no que diz respeito à elaboração das
demonstrações padronizadas.

Se a inflação não for considerada, a perda do poder aquisitivo da moeda poderá


distorcer os resultados da análise. Para que os resultados da análise não se distanciem
da realidade, é sempre conveniente que os valores constantes das demonstrações objeto
da análise sejam traduzidos em valores de moeda de poder aquisitivo constante, como o
dólar norte-americano.
Na vida prática, o analista deverá acompanhar as mudanças que ocorrem na Legislação
Comercial e principalmente na Tributária, para adotar os critérios em vigor em cada ano
e aplicá-los, visando a tornar o resultado de seu trabalho o mais real possível.

2.5 PREPARAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES ANTES DOS CÁLCULOS

Antes de qualquer análise das demonstrações financeiras, Montoto (2018), diz que é
necessário realizar alguns ajustes e simplificações nas demonstrações em questão.

81
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.5.1 Ajustes, simplificações e considerações no Balanço Patrimonial

• Caixa e Banco somados passam a se chamar Disponibilidades.


• Apresentar pelos totais os grupos e subgrupos do Ativo Circulante (AC), Ativo
Realizável a Longo Prazo (ARLP), Ativo Não Circulante, Investimento, Ativo Não
Circulante Imobilizado, Ativo Não Circulante Intangível, Ativo Não Circulante
Diferido, Passivo Circulante (PC), Passivo Não Circulante (PNC), Patrimônio
Líquido (PL).
• Duplicatas Descontadas devem ser apresentadas no passivo (circulante e/ou não
circulante).
• Ativo Diferido: considerar como redutor do Patrimônio Líquido.
• As receitas diferidas (antigo resultado do exercício futuro) devem ser transferidas,
somadas, ao passivo (circulante e/ou não circulante).
• Imobilizado em andamento não deve ser considerado no cálculo da rentabilidade
do ativo.
• Imobilizados, classificados no ativo circulante (ativos não circulantes disponíveis
para a venda), devem ser reclassificados no ARLP.
• Ativo Permanente (AP) = Subgrupo Investimento, Subgrupo Imobilizado e
Subgrupo Intangível.

2.5.2 Ajustes, simplificações e considerações no Demonstrativo de


Resultado

• As participações de empregados e diretores devem ser consideradas como


despesas com pessoal.
• Juros sobre Capital Próprio (JSCP) devem ser somados ao resultado do exercício,
somente considerando o benefício fiscal do lançamento desse valor como despesa
dedutível do Imposto de Renda.
• Tendo em vista a competência poderão ser necessários ajustes nas despesas
incorridas e não pagas, assim como com relação às receitas recebidas e não ganhas.
Esses ajustes terão reflexo na elaboração da Demonstração do Fluxo de Caixa.
• As despesas operacionais são apresentadas somente pelos seus grupos
representativos.

82
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.6 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA PADRONIZAÇÃO

• O Ativo apresenta apenas as contas essenciais.


• O Ativo e Passivo circulante é dividido em Operacional e Financeiro, sendo que as
Duplicatas Descontadas fazem parte deste último.
• No lado do Passivo, acha-se um subtotal representado por Capitais de Terceiros
(PC e PnC).
• No PL aparecem apenas o Capital Social já deduzido de eventuais Capital a Realizar
e somado às Reservas.
• A Demonstração do Resultado evidencia apenas os valores fundamentais para
análise.
• A Receita Líquida de Vendas está deduzida das devoluções e abatimentos e
impostos.

FIQUE ATENTO!!!
Uma das principais características da padronização das demonstrações contá-
beis para a realização da sua análise é classificar a conta Duplicatas Descontadas
no Passivo Circulante.

Essa padronização tem por objetivo ordenar a distribuição das contas contábeis de
forma a simplificar sua visualização facilitando o entendimento através da correlação
entre elas.
A padronização facilita a comparação com outros demonstrativos anteriores ou de
outras empresas, revisar a classificação das contas e identificar se não existe nenhuma
falha.
A seguir, apresentaremos, como sugestão, modelo de demonstração financeira
padronizada para facilitar a Análise de Balanços.

83
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Modelo de Balanço Patrimonial Padronizado para Análise

Quadro 8 Balanço Patrimonial da empresa


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO

ATIVO CIRCULANTE
Financeiro
Disponibilidade
Soma

Operacional
Contas a Receber de Clientes
Estoques
Outros Direitos de Curto Prazo
Soma

TOTAL DO ATIVO CIRCULANTE

ATIVO NÃO CIRCULANTE


ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
INVESTIMENTOS
IMOBILIZADO
INTANGÍVEL

TOTAL DO ATIVO NÃO CIRCULANTE

TOTAL DO ATIVO

PASSIVO

PASSIVO CIRCULANTE
Operacional
Contas a Pagar a Fornecedores

84
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Outras Obrigações de Curto Prazo
Soma

Financeiro
Empréstimos
Duplicatas Descontadas
Soma

TOTAL DO PASSIVO CIRCULANTE

PASSIVO NÃO CIRCULANTE


PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
EXIGÍVEL TOTAL

PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital
Reservas
Ajustes de Avaliação Patrimonial

TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

TOTAL DO PASSIVO
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2014)

Observações
• Na padronização foram efetuados ajustes para melhor adequar a demonstração à
Análise de Balanços.
• Não constam, na padronização, contas retificadoras, pois as contas principais já
devem ser informadas com seus saldos devidamente ajustados.
• As contas do Ativo Circulante e do Passivo Circulante foram reclassificadas em
Operacional e Financeiro.
• O total do grupo Receitas Diferidas, deve ser adicionado ao grupo de Reservas de
Lucros.
• Para facilitar a coleta de dados, pode-se, no Balanço Padronizado, englobar os
subgrupos Investimentos, Imobilizado e Intangível do Ativo Não Circulante em um

85
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
só, que poderá receber a denominação de Ativo Fixo, ou de “Ativo não Circulante
– Realizável a Longo Prazo”.

Modelo de Demonstração do Resultado do Exercício padronizado para análise

Quadro 9 Demonstração do Resultado do Exercício da empresa


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS
(-) CUSTO DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS
VENDIDOS
(=) LUCRO BRUTO
(-) DESPESAS OPERACIONAIS
Despesas com Vendas
Despesas Gerais e Administrativas
Outras Despesas Operacionais
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do Resultado
financeiro)
(+) RECEITAS FINANCEIRAS
(-) DESPESAS FINANCEIRAS
(=) RESULTADO OPERACIONAL
(+ OU -) OUTROS RESULTADOS
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA TRIBUTAÇÃO
(-) TRIBUTOS
(-) PARTICIPAÇÃO
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO
Fonte: Adaptado de Ribeiro (2014)

86
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.7 EXEMPLO PRÁTICO

Demonstrações financeiras

Tabela 9 Balanço Patrimonial da Vale Doce S.A., em 31/12/x2


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO 100.000 138.000
ATIVO CIRCULANTE 45.000 66.360
Disponibilidades
• Caixa e Bancos 5.500 5.860
• Aplicações de Liquidez Imediata 5.000 16.000
Direitos Realizáveis a Curto Prazo
• Contas a Receber de Clientes 15.000 22.000
• (-) Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa (500) (1.500)
• (-) Duplicatas Descontadas (10.000) (8.000)
• Estoques 30.000 25.000
• Investimentos Temporários a Curto Prazo - 7.000
ATIVO NÃO CIRCULANTE 55.000 71.640
Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Contas a Receber de Clientes 15.000 10.000
• Outros Direitos de Longo Prazo
• Investimentos 6.000
• Ativo Imobilizado 31.600 51.600
• (-) Depreciação Acumulada (2.400) (5.560)
• Ativo Intangível 12.000 12.000
• (-) Amortizações Acumuladas (1.200) (2.400)

PASSIVO 100.000 138.000


PASSIVO CIRCULANTE 75.000 47.000
• Obrigações a Fornecedores 26.000 20.000
• Obrigações Financeiras 30.000 5.000
• Outras Obrigações 19.000 22.000

87
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
PASSIVO NÃO CIRCULANTE -0- 35.000
• Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000
• Obrigações a Fornecedores
• Obrigações Financeiras 35.000
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 25.000 56.000
•Capital 10.000 10.000
• (-) Capital a Realizar (3.000)
• Reservas 18.000 46.000

Demonstração do Resultado do Exercício da Vale Doce S.A., em 31/12/x2


1 RECEITA OPERACIONAL BRUTA
• Vendas de Mercadorias/Serviços 300.000 430.000
2 DEDUÇÕES E ABATIMENTOS
• Vendas Anuladas (4.000) (12.000)
• Descontos Incondicionais
• ICMS sobre Vendas (49.000) (96.000)
• PIS/Cofins (7.000) (10.000)
3 RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 240.000 312.000
4 CUSTOS OPERACIONAIS
Custo das Mercadorias/Serviços Prestados (94.000) (106.000)
5 LUCRO BRUTO 146.000 206.000
6 DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) (39.000)
• Despesas Financeiras (22.400) (12.400)
(-) Receitas Financeiras 1.000 11.000
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) (55.000)
• Outras Despesas Operacionais (6.000) (9.000)
Lucro 37.600 101.600
(-) Provisões (16.000) (40.000)
(-) Participações (8.200)
Lucro Líquido 21.600 53.400
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015)

88
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.7.1 - 1ª Etapa – Exame e Padronização

Demonstrações financeiras

Tabela 10 Balanço Patrimonial Padronizado da Vale Doce S.A., em 31/12/x2


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Financeiro
• Disponibilidades 10.500 21.860
• Investimentos Temporários a Curto Prazo 7.000
Soma 10.500 28.860
Operacional
• Contas a Receber de Clientes 14.500 20.500
• Estoques 30.000 25.000
• Outros Direitos de Curto Prazo
Soma 44.500 45.500
Total do Ativo Circulante 55.000 74.360
ATIVO NÃO CIRCULANTE 55.000 71.640
• Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Investimentos 6.000
•. Imobilizado 29.200 46.040
•. Intangível 10.800 9.600
Total do Ativo 110.000 146.000
PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
Operacional
•.Contas a Pagar a Fornecedores 26.000 20.000
•.Outras Obrigações de Curto Prazo 19.000 22.000
Soma 45.000 42.000
Financeiro
•.Empréstimos 30.000 5.000
•. Duplicatas Descontadas 10.000 8.000

89
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Soma 40.000 13.000
Total do Passivo Circulante 85.000 55.000
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
•.Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000
EXIGÍVEL TOTAL 85.000 90.000
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
•. Capital 7.000 10.000
•. Reservas 18.000 46.000
Total do Patrimônio Líquido 25.000 56.000
Total do Passivo 110.000 146.000

Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial Vale Doce S.A., em 31/12/x2


RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 312.000
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS VENDIDOS (94.000) (106.000)
LUCRO BRUTO 146.000 206.000
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) (39.000)
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) (55.000)
• Outras Despesas Operacionais (6.000) (9.000)
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado financeiro 59.000 103.000
(+) Receitas financeiras 1.000 11.000
(-) Despesas financeiras (22.400) (12.400)
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 101.600
(+ ou -). Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 101.600
(-) Provisões (16.000) (40.000)
(-) Participações - (8.200)
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 53.400
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015)

90
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.7.2 - 2ª Etapa – Coleta de dados

Do Balanço Patrimonial, extrairemos os seguintes dados:

Tabela 11 Coleta de dados do Balanço Patrimonial


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
• Disponibilidades 10.500 21.800
• Estoques 30.000 25.000
• Ativo Circulante 55.000 74.360
• Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Ativo permanente 40.000 61.640
• Total do Ativo 110.000 146.000
• Passivo circulante 85.000 55.000
• Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000
•. Exigível total 85.000 90.000
• Patrimônio líquido 25.000 56.000
• Recursos não correntes 25.000 91.000
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015)

Da Demonstração do Resultado do Exercício, extrairemos os seguintes dados:

Tabela 12 Coleta de dados da DRE


CONTAS EXERCICIO X1 EXERCÍCIO X2
• Receita Líquida das Vendas 240.000 312.000
• Lucro Líquido 21.600 53.400
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015)

2.7.3 - 3ª Etapa – Análises Horizontal e Vertical

Martins, Miranda e Diniz (2018) dizem que a possibilidade de avaliar cada uma das
contas ou grupos de contas das demonstrações contábeis é concedida por meio das
análises horizontal e vertical. Nesta análise é possível comparar as contas entre si e entre

91
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
diferentes períodos de maneira rápida e simples.
Na prática é necessário utilizar o conceito matemático simples de regra de três. Essa
técnica permite que se possa chegar a um nível de detalhes que outros métodos não
permitem, pois por meio das análises horizontai e vertical é possível avaliar cada conta
isoladamente.
A análise vertical e horizontal permite segundo Assaf Neto (2015, p. 93) “[...] a
comparação dos valores entre si e com outros de diferentes períodos e oferecerá um
aspecto mais dinâmico e elucidativo à posição estática das demonstrações contábeis.”
Colabora Matarazzo (2010, p. 170) “Por intermédio desse tipo de análise podem-se
conhecer pormenores das demonstrações financeiras que escapam à análise genérica
através de índices.”

2.7.3.1 Análise horizontal (AH) ou de evolução ou de método de


percentagens horizontais

Avalia o aumento ou diminuição dos valores do resultado, em uma determinada série


histórica de exercícios (VICECONTI; NEVES, 2014).
De acordo com Bruni (2014, p. 110) “a análise horizontal estuda a evolução das contas
patrimoniais ao longo do tempo, onde o ano inicial assume um valor-base igual a 100 %e
os valores nos demais anos são calculados em relação ao valor do ano-base”.
Para Silva (2013, p. 211) “o propósito da análise horizontal (AH) é permitir o exame da
evolução histórica de cada uma das contas que compõem as demonstrações contábeis”.
Conforme Matarazzo (2010, p. 172) o objetivo da AH é “mostrar a evolução de
cada conta das demonstrações financeiras e, pela comparação entre si, permitir tirar
conclusões sobre a evolução da empresa”.

FIQUE LIGADO!!!
Análise horizontal pode ser chamada de análise da evolução ou de método de
percentagens horizontais.

Segundo Assaf Neto (2015, p. 114) AH “é a comparação que se faz entre os valores de
uma mesma conta ou grupo de contas, em diferentes exercícios sociais”. O autor ressalta,

92
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
“é basicamente um processo de análise temporal desenvolvido por meio de números-
índices, sendo seus cálculos processados de acordo com a seguinte expressão:”

Para encontrarmos o número índice é preciso utilizar um valor-data ( ) e dividi-lo pelo


valor base ( ), o valor-data representa o montante determinado que será comparado, e
o valor base representa esse mesmo valor no exercício em que será feita a comparação.
Como exemplo, será aplicada a fórmula a seguir, que contém as vendas e lucros de
uma empresa referente ao período de X5-X8:

Tabela 13 Exemplo de lucros e venda da empresa


Anos: X5 X6 X7 X8
Venda 104.899 100.434 103.044 113.925
Lucro Líquido 31.777 23.896 49.150 53.658
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015, p. 114)

Utilizando como valor base o período X5 e os demais como valor-data, obtemos os


valores da análise horizontal representados no Quadro seguinte:

Tabela 14 Resultado da fórmula


Anos: X5 AH X6 AH X7 AH X8 AH
Venda 104.899 100,0 100.434 95,7 103.044 98,2 113.925 108,6
Lucro Líquido 31.777 100,0 23.896 75,2 49.150 154,7 53.658 168,9
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015, p. 115)

ATENTOS!!!
100.434 div 104.899 x 100 = 95,7%
103.044 div 104.899 x 100 = 98,2%
113.925 div 104.899 x 100 = 108,9%

Com o resultado da aplicação da fórmula, podemos realizar a análise horizontal e


identificar os resultados durante o período, como exemplo, uma das análises realizada

93
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
pelo autor (ASSAF NETO, 2015, p. 115):

“Observa-se que as vendas de X6 diminuíram em 4,3% (100,00 – 95,7)


em relação aos valores apurados em X5. Em X7, apesar de terem crescido
em relação ao exercício imediatamente anterior, as vendas também em
relação ao ano-base”.

Pode-se também realizar a AH utilizando como base o período imediatamente


anterior, ou seja, comparar X6-X7, X7-X8 e assim em diante. (ASSAF NETO, 2015).
A seguir os resultados utilizando como base o período anterior:

Tabela 15 Números-índices do exercício


Anos: X5 X6 X7 X8
Venda - 95,7 102,6 110,6
Lucro Líquido - 75,2 205,7 109,2
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015, p. 116)

ATENTOS!!!
100.434 div 104.899 x 100 = 95,7%
103.044 div 100.434 x 100 = 102,6%
113.925 div 103.044 x 100 = 110,6%

Desse modo, podemos examinar a evolução em menores períodos de duração, Assaf


Neto (2015, p. 115) efetua a seguinte análise:
“No exercício de X8, a diferença de crescimento dessas duas medidas financeiras foi
bastante reduzida, crescendo as vendas em 10,6% (100,00 – 110,6) e o lucro em 9,2% em
relação a X7”.

Exemplo: O crescimento horizontal

Tabela 16 Exemplo de crescimento horizontal


X0 X1 X2
Receita de Vendas 8.105 9.894 12.310
Lucro Bruto 2.510 2.990 3.980
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015, p. 115)

94
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Pede-se analisar o crescimento horizontal.

Tabela 17 Análise do crescimento horizontal


X0 AH X1 AH X2 AH
Receita de 8.105 100% 9.894 122,07% 12.310 151,88%
Vendas
Lucro Bruto 2.510 100% 2.990 119,12% 3.980 158,57%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015, p. 115)

Análise:
Tomando-se por base da análise o ano de X0, o faturamento cresceu 22,07% (122,07 –
100) em X1 e 51,88% (151,88 – 100) em X2, já o Lucro Bruto cresceu 19,12% (119,12 – 100)
em X1 e 58,57% (158,57 – 100) em X2.
Uma rápida analisada baseada exclusivamente nesses valores indica que o desempenho
da empresa, no exercício encerrado em X1, esteve aquém do apresentado em X2.
Efetivamente, o resultado bruto não acompanhou a evolução verificada no faturamento
no exercício de X1, denotando-se maior consumo dessas receitas pelos custos.
Em outras palavras, as receitas cresceram mais do que os lucros, sobressaindo-se um
crescimento dos custos proporcionalmente maior que suas respectivas receitas. Esta
diferença absorveu uma parte do lucro bruto.
Em X2, porém, a situação é inversa e ocorre uma evolução proporcionalmente maior
do lucro bruto em relação às vendas. A evolução desses valores, tomando por base X1,
ratifica essa colocação, tendo o faturamento evoluído em 24,42% (R$ 12.310 div R$ 9.894
x 100 – 100) e o lucro bruto 33,11% (R$ 3.980 div R$ 2.990 x 100 – 100)

Fatores que Interferem na Análise Horizontal


Para que haja fidedignidade aos parâmetros da análise horizontal, a base escolhida é
de alta relevância, o componente deve ser “100” ou “1,00”. Se acaso for feita a opção por
um período com base a evidenciar crescimentos nos períodos seguintes, cujos dados não
tenham suficiente representatividade, todo o processo de análise fica comprometido.
Sendo assim, se o período escolhido (mês ou ano), estiver baseado em um período
totalmente atípico na vida da empresa, a grande maioria dos dados e índices obtidos
estará distorcida e não apresentará a conclusão exata de crescimento ou queda.
A inflação, quando existente, também interfere diretamente na apuração destes
indicadores e deve ser considerada para cálculo do resultado, onde o valor da análise
horizontal obtido será ainda dividido pelo índice da variação da inflação apurada no
período da análise. (LUNELLI, 2020).

95
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
2.7.3.2 Análise vertical (AV) ou de estrutura ou método de percentagens
verticais

De acordo com os autores Viceconti e Neves (2014, p. 449) a AV tem como objetivo
“medir percentualmente cada componente em relação ao todo do qual faz parte, e fazer
as comparações casos existam 2 ou mais períodos”.
Para Bruni (2014, p. 105) “estuda a estrutura de composições dos itens ao longo do
tempo”.
Segundo Silva (2013, p. 205):

O primeiro propósito da análise vertical (AV) é mostrar a participação


relativa de cada item de uma demonstração contábil em relação
a determinado referencial. No balanço, por exemplo, é comum
determinarmos quanto por cento representa cada rubrica (e grupo de
rubricas) em relação ao ativo total.

Sendo assim Assaf Neto (2015, p. 114) realça que a análise vertical “destaca a
participação de conta em relação a um total comparável do demonstrativo financeiro”.

IMPORTANTE!!!
Análise vertical é conhecida como análise de estrutura ou método de percen-
tagens verticais.

A seguir exemplo com a AV aplicada na DRE:

Tabela 18 Análise vertical


20X1 20X2 20X3
 
Mil $ AV % Mil $ AV % Mil $ AV %
Receita operacional
870.414 134,1 967.716 131,5 974.655 131,0
bruta
(-) Impostos sobre vendas 221.223 34,1 231.912 31.5 230.567 31,0
Receita operacional
649.191 100,0 735.804 100,0 744.088 100,0
líquida

96
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
(-) CPV (-depreciações,
469.960 72,4 509.419 69,2 489.680 65,8
CMV, CSP
(-) Depreciações 34.620 5,3 32.563 4,4 30.680 4,1
Lucro bruto 144.611 22,3 193.822 26,3 223.728 30,1
(-) Despesas comerciais 58.824 9,1 75.820 10,3 83.880 11,3
(-) Despesas administra-
38.650 6,0 46.644 6,3 43.674 5,9
tivas
(-) Provisão p/ devedores
1.043 0,2 607 0,1 1.440 0,2
duvidosos
Lucro operacional l 46.094 7,1 70.751 9,6 94.734 12,7
(+) Receitas financeiras 28.901 4,5 9.845 1,3    
(-) Despesas financeiras     2.133 0,3 3.557 0,5
Lucro operacional ll 74.995 11,6 78.463 10,7 91.177 12,3
(+/-) Equivalência patri-
2.352 0,4 17.460 2,4 27.381 3,7
monial
Lucro operacional lll 77.347 11,9 95.923 13,0 118.558 15,9
(+/-) Resultado não
962 0,1 309 0,0 282 0,0
operacional
Lucro líquido antes
76.385 11,8 96.232 13,1 118.276 15,9
do IR
(-) Provisão IR e CS 10.450 1,6 18.106 2,5 16.127 2,2
Lucro líquido 65.935 10,2 78.126 10,6 102.149 13,7
Fonte: Adaptada de Silva (2013, p. 209).

ATENTOS!!!
469.960 div 649.191 x 100 = 72,4%
34.620 div 649.191 x 100 = 5,3%
144.611 div 649.191 x 100 = 22,3%

A análise foi realizada utilizando o mesmo padrão de cálculo da horizontal, porém


desta vez aplicado na direção vertical e utilizando como valor base o total da operação.

97
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Com a análise aplicada, é possível observar os dados, assim como na AH mostrada
anteriormente, podemos examinar a oscilação e quanto cada resultado representa dentro
do total da operação.
A AV dimensiona a relação entre a demonstração financeira a que pertence, mostrando
a relevância de cada conta através da comparação de referências no ramo ou anos
anteriores da empresa (MATARAZZO, 2010).
Por fim, recomenda-se que os dois tipos de análises sejam usados conjuntamente,
pois cada uma complementa a outra, permitindo ampliar a visão sobre as informações,
observando mais detalhadamente e precisamente a importância dos resultados
(MATARAZZO, 2010).

Fatores que Interferem na Análise Vertical


Alguns valores podem prejudicar a correta visualização e comparação da análise
vertical, como por exemplo, valores significativos que foram incorporados nos ativos ou
passivos da empresa, ou eventuais resultados provocados por eventos específicos e não
comuns na atividade da empresa, como por exemplo:
• Reavaliações realizadas nos ativos permanentes;
• Reestruturação de passivos financeiros;
• Baixas de bens de valor relevante;
• Novas integralizações de capital de valor expressivo;
• Realização ou resgate de mútuos eventuais;
• Realização de eventos não operacionais específicos;
• Ajustes realizados em exercícios anteriores, etc.

Provavelmente estes itens serão detectados na análise horizontal ou em algum dos


indicadores e quocientes apurados da forma descrita no próximo capítulo deste livro.
O principal fator que pode prejudicar a análise vertical da demonstração de resultados e
a estrutura de custos e despesas é a evolução das receitas de vendas quando ocorrem sem
proporcionalidade com a evolução dos custos e despesas. É necessária atenção especial
neste caso, pois pode ser oriunda de receitas esporádicas que com certeza irão prejudicar a
conclusão se analisadas de forma a não contemplar tais eventos. (LUNELLI, 2020).

Análise vertical sintética e analítica.


É sintética quando e tomada a participação de cada conta em relação ao total de todos
os grupos, por exemplo, quando se divide o ativo circulante pelo total do ativo.
E analítica quando se toma o valor de cada conta e se calcula quanto ela representa do

98
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
total de seu grupo, como quando se divide a conta clientes pelo ativo circulante.

Tabela 19 Exemplo de análise vertical sintética e analítica


Estrutura do Ativo Sintética Analítica
Ativo Circulante R$ 30.000 34,88% 100,00%
Clientes R$ 18.000 60,00%
Estoques R$ 12.000 40,00%
Ativo Realizado LP R$ 15.000 17,44%
Ativo Imobilizado R$ 41.000 47,67% 100,00%
Máquinas R$ 30.000 73,17%
Veículos R$ 11.000 26,83%
Ativo Total R$ 86.000 100,00%
Fonte: Adaptada de Azzolin (2012)

Assim, a conta de clientes e de estoques corresponde, respectivamente, a 60% e a


40% do ativo circulante (analítica) que, por sua vez, corresponde a 34,88% do ativo total
(sintética).
Da mesma forma, maquinas e veículos correspondem, respectivamente, a 73,17% e a
26,83% do ativo imobilizado (analítica) que, por sua vez, corresponde a 47,67% do ativo
total (sintética).

Fazendo a Análise Vertical

Tabela 20 Análise Vertical


X0 AV X1 AV X2 AV
Ativo Circulante 3.909 54,66% 4.200 51,36% 4.210 44,72%
Realizável LP 567 7,93% 678 8,29% 995 10,57%
Permanente 2.675 37,41% 3.300 40,35$ 4.210 44,72%
Ativo=Passivo 7.151 100% 8.178 100% 9.415 100%
Passivo Circulante 2.980 41,67% 3.189 38,99% 4.100 43,55%
Passivo não Circ. 1.390 19,44% 1.569 19,19% 1.765 18.75%
Patrimônio Líquido 2.781 38,89% 3.420 41,82% 3.550 37,71%
Fonte: Adaptada de Azzolin (2012)

99
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Análise
Partindo do ativo total da empresa em cada ano, observa-se um decréscimo (menor
participação relativa) gradativo dos investimentos de curto prazo (ativo circulante), os
quais passaram de 54,66% em X0, para 51,36% em X1, e 44,72% em X2.
Nas aplicações de longo prazo (realizável e permanente), ocorre a situação inversa –
elas se elevam nos períodos considerados. Sendo evidenciada, mediante esses resultados,
a preferência (ou necessidade) da empresa por ativos de longo prazo (imobilizações|) em
detrimento dos de curto prazo (liquidez). (MAXI EDUCA BLOG, 2020).
Como contrapartida dessa situação, é de se esperar que a empresa tenha optado
também por maior participação de recursos permanentes em sua composição passiva
como forma de financiar suas aplicações mais elevadas em ativos de longo prazo. (MAXI
EDUCA BLOG, 2020).
No entanto, ao se avaliar a estrutura (composição) do passivo da empresa, denota-se
evolução na participação em seu financiamento de curto prazo (passivo circulante), o
qual de 41,67% em X0 passou a financiar 43,55% das aplicações totais processadas no
ativo em X2.

Dando continuação do nosso exemplo prático da Vale Doce SA, faremos a Análise
Horizontal e Análise Vertical da Demonstração do Resultado do Exercício.

Tabela 21 Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial Vale Doce S.A., em 31/12/x2 para Análise
Horizontal
CONTAS X1 AH% X2 AH%
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 100 312.000 130
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E
(94.000) 100 (106.000) 112,76
SERVIÇOS VENDIDOS
LUCRO BRUTO 146.000 100 206.000 141,09
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) 100 (39.000) 243,75
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) 100 (55.000) 84,61
• Outras Despesas Operacionais (6.000) 100 (9.000) 150,00
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado
59.000 100 103.000 174,57
financeiro)
(+) Receitas financeiras 1.000 100 11.000 1.100,00
(-) Despesas financeiras (22.400) 100 (12.400) 55,35

100
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 100 101.600 270,21
(+ ou -) Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVI-
37.600 100 101.600 270,21
SÕES
(-) Provisões (16.000) 100 (40.000) 250,00
(-) Participações - 100 (8.200) 8.200,00
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 100 53.400 247,22
106.000 divid 94.000 x 100 = 112,76%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 22 Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial da Vale Doce S.A., em 31/12/x2, padroni-
zada para Análise Vertical.
CONTAS X1 AV% X2 AV%
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 100 312.000 100
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS
(94.000) (39,16) (106.000) (33,97)
VENDIDOS
LUCRO BRUTO 146.000 60,83 206.000 66,02
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) 6.66 (39.000) 12,50
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) 27,08 (55.000) 17,62
• Outras Despesas Operacionais (6.000) 2,50 (9.000) 2,88
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado financeiro 59.000 24,58 103.000 33,01
(+) Receitas financeiras 1.000 0,41 11.000 3,52
(-) Despesas financeiras (22.400) 9,33 (12.400) 3,97
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 15,66 101.600 32,56
(+ ou -) Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 15,66 101.600 32,56
(-) Provisões (16.000) 6,66 (40.000) 12,82
(-) Participações - (8.200) 2,62
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 9 53.400 17,11
94.000 dividido 240.000 = 39,16%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

101
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezados!!!

Encerramos, assim, mais um conteúdo e este se refere à Unidade II em que foi


tratado sobre Análise e interpretação das situações econômica e financeira de um
determinado período, no qual nos debruçamos para o histórico, conceito, objetivos e
usuários da Análise das Demonstrações Financeiras. Você identificou os bancos como
as primeiras instituições a utilizarem a Análise das Demonstrações Contábeis como
instrumento auxiliar na tomada de decisão. Além dessas instituições financeiras,
foram identificados também usuários da Análise das Demonstrações Contábeis, os
fornecedores, administradores de empresas, investidores, sócios, acionistas, governo,
além das entidades de classes e outros.
Dando continuidade ao assunto, foi feito uma introdução à análise de balanços, suas
técnicas e etapas, padronização das demonstrações financeiras e análise horizontal e
vertical. Percebeu-se que as análises horizontal e vertical são muito importantes como
etapa preparatória à análise por quocientes propriamente dita que será tema na nossa
Unidade 3.
Portanto, algumas análises verticais já representam quocientes. Por exemplo, a análise
vertical do demonstrativo de resultados já relaciona uma série de itens de despesa e
resultados com as vendas. Como veremos na Unidade 3, o lucro líquido sobre as vendas
é um dos componentes do cálculo de retorno sobre o investimento.
Porém, não se devem tirar conclusões precipitadas a partir das análises vertical e
horizontal, tomadas isolada ou conjuntamente, e sim, o conjunto dos vários quocientes
poderá dar uma ideia mais nítida da situação da empresa.

102
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EXERCÍCIOS

1) O quadro a seguir, refere-se à evolução do passivo da Cia Ilusão S. A.:

R$ X2 X3 X4
Passivo Circulante 15.576 28.458 79.314
Passivo não Circulante 8.160 21.510 16.164
Patrimônio Líquido 12.216 25.980 55.704
Total do Passivo 35.952 75.948 151.182

Se tomarmos o exercício de X3 como data-base para a análise horizontal e o total do


Passivo como referência para a análise vertical, o índice da análise horizontal referente
ao Exigível de Longo Prazo da CIA em X4 e o índice da análise vertical correspondente ao
Passivo Circulante em X2 são, respectivamente:

A. 75; 21;
B. -25; 43;
C. -75; 43;
D. 75; 43.
E. -25; 21;

2) Abaixo a Demonstração de Resultado da Empresa Alfa


CONTAS VALOR
Receita de Vendas R$ 110.000
(-) Tributos R$ 10.000
(=) Receita Líquida R$ 100.000
(-) Custo da Mercadoria Vendida R$ 40.000
(=) Lucro Bruto R$ 60.000
(-) Despesas Operacionais R$ 25.000
(=) Lucro Operacional R$ 35.000
(-) Tributos sobre os Resultados R$ 7.000
(=) Lucro Líquido do Exercício R$ 28.000

De posse da DRE, pede-se:

103
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
a) Qual e o percentual do Lucro Bruto em relação a Receita de Vendas?
b) Qual e o percentual do Lucro Líquido em relação a Receita Liquida?
c) Qual e o percentual do Lucro Líquido do Exercício em relação a Receita de Vendas?
d) Qual e o percentual das Despesas Operacionais em relação a Receita Liquida?
e) Sabendo-se que o valor do capital investido na empresa pelos sócios foi de R$
108.000, quantos anos a empresa recuperaria seu capital investido trabalhando somente
com esse lucro líquido de R$ 28.000?

3) A Empresa Papilon apresenta as Demonstrações Contábeis abaixo:


Balanço Patrimonial da CIA PAPILON SA
ATIVO X1 X2 X3
Ativo Circulante 5.549.018 8.399.748 14.716.365
Caixa e equivalentes de caixa 257.455 230.327 3.817.994
Aplicações Financeiras 1.366.061 2.111.600 608.002
Contas a Receber 1.876.928 2.475.373 4.047.234
Estoques 1.570.863 2.827.463 4.823.768
Impostos a Recuperar 468.157 739.885 1.390.980
Despesas Antecipadas 9.554 15.100 28.387
       
Ativo Não Circulante 8.169.583 10.174.305 15.216.383
Ativo Realizável a Longo Prazo 2.046.694 2.403.704 3.398.483
Investimentos 92.724 194.227 232.540
Imobilizado 4.867.042 5.356.601 6.703.595
Intangível 1.163.123 2.219.773 4.881.765
       
TOTAIS 13.718.601 18.574.053 29.932.748

PASSIVO
Passivo Circulante 3.628.789 6.066.230 13.216.564
Obrigações Sociais e Trabalhistas 334.337 741.860 949.452
Fornecedores 2.409.501 4.004.395 5.306.349
Duplicatas Descontadas 110.234 313.672 353.894
Empréstimos 774.717 1.006.303 6.606.869
       

104
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Passivo Não Circulante 4.635.591 5.883.603 9.532.080
Financiamentos 4.635.591 5.883.603 9.532.080
       
PATRIMÔNIO LÍQUIDO 5.454.221 6.624.220 7.184.104
Capital 4.450.725 5.374.751 5.579.259
Reservas de Capital 709.031 647.232 463.148
Reservas de Lucros 294.465 602.237 1.141.697
       
TOTAIS 13.718.601 18.574.053 29.932.748

Demonstração do Resultado do Exercício da CIA PAPILON SA


Itens X1 X2 X3
Receita Líquida 18.033.110 23.192.758 32.091.674

Custo dos Produtos Vendidos 13.279.497 17.493.806 24.241.476

Resultado Bruto 4.753.613 5.698.952 7.850.198

Despesas Operacionais      
Despesas com Vendas 2.879.289 3.532.481 4.904.572
Despesas Administrativas 574.023 679.581 912.676
Outras Receitas Operacionais   24.731 89.818
Outras Despesas Operacionais 615.657 562.504 555.973
Resultado da Equivalência Patrimonial 2.922 5.412 34.499
Sub-Total 4.066.047 4.744.423 6.248.904

Resultado Operacional 687.566,00 954.529,00 1.601.294,00

Resultado Financeiro      
Receitas Financeiras 291.509 250.030 331.698
Despesas Financeiras 608.297 504.505 1.154.699
Sub-Total (316.788) (254.475) (823.001)

Resultado antes dos Tributos 370.778 700.054 778.293

105
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Provisão para IR e CS (35%) 111.006 94.015 86.558

Resultado Líquido 259.772 606.039 691.735

De posse das Demonstrações Contábeis, faça a Análise Vertical e Horizontal da Cia


Papilon SA.

106
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: Um enfoque econômico-


financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

AZEVEDO, Marcelo Cardoso de. Estrutura e análise das demonstrações financeiras.


Campinas, São Paulo: Alínea, 2012.

AZZOLIN, José Laudelino. Análise das demonstrações contábeis. Curitiba – PR: IESDE,
2012.

BEGALLI, G. A.; PEREZ JR., J. H. Elaboração e análise das demonstrações contábeis. 4.


ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BRASIL. Lei no. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por
Ações. Diário Oficial da União, 17 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
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108
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
3
unidade
ANÁLISE ECONÔMICO
FINANCEIRA DAS
DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS

109
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
INTRODUÇÃO A UNIDADE

Esta Unidade 3 contempla os procedimentos empregados na análise das demonstrações


contábeis, baseando-se na apuração de índices econômico financeiros, extraídos do
Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício. Estes índices dividem-
se em três grandes grupos: estrutura de capital, liquidez e rentabilidade.
Os índices de estrutura de capital objetivam evidenciar a relação entre o capital próprio
e capital de terceiros e como os recursos da empresa são utilizados.
Os índices de liquidez visam medir a capacidade com que os ativos de uma empresa
podem ser convertidos em caixa, ou seja, medir a capacidade de pagamento, sua
habilidade de cumprir corretamente as obrigações passivas assumidas.
Já os índices de rentabilidade são medidas de desempenho que indicam quanto a
empresa está ganhando em suas vendas ou seus ativos ou patrimônio.
Sendo assim, a unidade terá como objetivos de aprendizagem:
• Identificar a importância dos índices de estrutura de capitais.
• Aplicar os índices de estrutura de capitais no Balanço Patrimonial.
• Orientar a interpretação e uso dos referidos indicadores relacionados ao
endividamento.
• Avaliar a situação financeira da empresa de acordo com esses indicadores de
liquidez.
• Utilizando um exemplo real, aprender a calcular e a interpretar os índices de
liquidez.
• Identificar os objetivos e a importância desses indicadores de rentabilidade.
• Analisar os resultados obtidos pelos indicadores de rentabilidade, tirando
conclusões sobre a situação da empresa analisada.
• Fornecer subsídios para compreender quais são os principais indicadores e
ferramentas de análise da lucratividade, bem como orientar sobre a interpretação
e uso desses instrumentos.
• Discutir a importância da Análise por Quocientes nas Tomadas de Decisões.
• Discutir as informações contidas nos relatórios de análise.

Portanto, buscando auxiliar o processo de avaliação patrimonial e do desempenho


da empresa, essa Unidade 3 traz uma série de cálculos, traduzindo os demonstrativos
contábeis em indicadores de análise econômica financeira.
Todos os cálculos apresentados são baseados no balanço patrimonial e na
demonstração de resultados do exercício. Sabe-se, entretanto, que tais indicadores e

110
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
as técnicas de Análise de Balanço agilizam, sobremaneira, o processo de avaliação da
empresa.

Bons estudos!!!
Aproveitem!!!

3.1 ANÁLISE POR INDICADORES FINANCEIROS

3.1.1 Aspectos gerais

A análise por índices ou indicadores financeiros faz parte do processo de análise das
demonstrações contábeis e diz respeito à relação existente entre grupos, subgrupos e
contas pertencentes às demonstrações contábeis que sejam úteis na análise da situação
econômico-financeira da empresa.
Neste sentido, Padoveze (2003) observa que os indicadores financeiros têm como
objetivo detectar situações, verificar tendências dos acontecimentos e proporcionar
subsídios para que a alta administração da empresa direcione esforços corretivos
necessários ao bom desenvolvimento da organização.
Para Schmidt, Santos e Kloeckner (2006) da mesma forma que a análise vertical
e horizontal, a análise por indicadores financeiros por si só possui muitas limitações,
sendo necessário utilizá-la em conjunto com a análise vertical e horizontal, bem como
juntamente com a análise de indicadores não financeiros. Além disso, um índice não
deve ser analisado isoladamente, mas em relação a períodos anteriores e empresas que
atuam no mesmo setor econômico; estes são os denominados índices-padrão.

Figura 3: A Análise de Demonstrativos pode ser feita pelos métodos de Análise Vertical, Análise Horizon-
tal e Análise por Quocientes.
Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

111
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Estes índices financeiros são divididos em dois grandes grupos de indicadores: os de
liquidez e estrutura de capital.

VOCÊ SABIA!!!
Quocientes são índices extraídos das demonstrações financeiras por meio de
confrontos entre contas ou grupos de contas?

Dando continuação as etapas do processo de análise verificadas na Unidade 2, vamos


para 4ª etapa que é cálculo dos indicadores.

3.1.2 Índices de liquidez (Solvência)

Esses indicadores medem a capacidade da empresa em pagar suas dívidas dentro do


vencimento e mostram sua estrutura de endividamento. Tais indicadores são extraídos
tão somente do balanço patrimonial, razão pela qual de acordo com Lunelli (2020) são
considerados indicadores estáticos, já que qualquer pequena mudança no momento
imediatamente posterior ao do cálculo acarretara na alteração sumária do resultado
apurado. Quer dizer que o simples fato de comprar uma mercadoria a vista ou para
pagamento a curto prazo, bem como o recebimento de qualquer valor, irá alterar o
resultado ora obtido.
Os índices de liquidez visam fornecer um indicador da capacidade da empresa de
pagar suas dívidas, a partir da comparação entre os direitos realizáveis e as exigibilidades.
Assim, Silva (2017) diz que no geral, a liquidez decorre da capacidade de a empresa ser
lucrativa, da administração de seu ciclo financeiro e de suas decisões estratégicas de
investimento e financiamento.

ATENTOS!!!
Os índices de liquidez são indicadores estáticos ou patrimoniais. Isso porque
eles envolvem apenas os elementos patrimoniais de uma empresa.

112
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O termo liquidez significa a velocidade com a qual um ativo pode ser convertido em
dinheiro. Para Montoto (2018), uma aplicação financeira tem alta liquidez, uma vez que
pode ser convertida em dinheiro rapidamente; um veículo tem média liquidez, uma vez
que necessitamos de alguns dias para converter seu valor em dinheiro; e um imóvel
tem baixa liquidez, uma vez que o tempo para conversão em dinheiro é imprevisível e
normalmente longo.
Índices designados como de liquidez deveriam informar a capacidade imediata de
pagamento, mas na verdade informam, em sua grande maioria, a solvência da empresa
sob diversos prismas.
Para que se possa obter um diagnóstico mais completo acerca da solidez financeira
da empresa, vários aspectos precisam ser relevados na análise de acordo com Marion e
Ribeiro (2011), do qual destacam:
• alto grau de endividamento nem sempre é sinônimo de insolvência – a empresa
poderá estar endividada, mas paga seus compromissos em dia. Isso é possível,
por exemplo, nos casos em que a empresa consegue renegociar facilmente suas
dívidas;
• a empresa poderá apresentar baixo grau de liquidez em curto prazo, porém um
bom grau de liquidez em longo prazo e vice-versa; e,
• a empresa poderá contar com alto grau de liquidez, mas não dispor de dinheiro
para pagar seus compromissos imediatos.

Esses e outros aspectos poderão ser esclarecidos por meio da análise isolada e conjunta
dos Quocientes de Liquidez.
Os índices de liquidez são classificados em:
• índice de liquidez imediata (ILI);
• índice de liquidez corrente (ILC);
• índice de liquidez seca (ILS) e
• índice de liquidez geral (ILG).

Figura 4: Análise por Quocientes na modalidade referente aos índices de liquidez


Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

113
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Assim, os índices de liquidez são geralmente utilizados pela empresa para concessão
de crédito, já que não importa somente o montante de obrigações que a empresa possui,
mas também se ela será capaz de pagar o empréstimo no prazo contratado.
Para esses indicadores, quanto maior o índice de liquidez, melhor será a situação
financeira da empresa. Embora, como argumentam Sousa e Martins (2010), isso se
aplique a boa parte das situações, não é uma regra. É importante ter em mente que um
alto índice de liquidez não necessariamente representa boa saúde financeira da empresa.
O cumprimento dos compromissos nas datas previstas depende de uma adequada
administração dos prazos de recebimento e de pagamento.

ATENÇÃO!!!
Quanto maior o índice de liquidez, melhor será a situação financeira da empresa.

Para analisarmos os indicadores a seguir, utilizaremos os Balanços Patrimoniais e


a Demonstração do Resultado do Exercício da Empresa Vale Doce S.A., que usamos na
Unidade 2.

Tabela 23 Balanço Patrimonial Padronizado da Vale Doce S.A., em 31/12/x2


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Financeiro
• Disponibilidades 10.500 21.860
• Investimentos Temporários a Curto Prazo 7.000
Soma 10.500 28.860
Operacional
• Contas a Receber de Clientes 14.500 20.500
• Estoques 30.000 25.000
• Outros Direitos de Curto Prazo
Soma 44.500 45.500
Total do Ativo Circulante 55.000 74.360
ATIVO NÃO CIRCULANTE 55.000 71.640

114
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Investimentos 6.000
•. Imobilizado 29.200 46.040
•. Intangível 10.800 9.600
Total do Ativo 110.000 146.000
PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
Operacional
•.Contas a Pagar a Fornecedores 26.000 20.000
•.Outras Obrigações de Curto Prazo 19.000 22.000
Soma 45.000 42.000
Financeiro
•.Empréstimos 30.000 5.000
•. Duplicatas Descontadas 10.000 8.000
Soma 40.000 13.000
Total do Passivo Circulante 85.000 55.000
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
•.Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000
EXIGÍVEL TOTAL 85.000 90.000
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
•. Capital 7.000 10.000
•. Reservas 18.000 46.000
Total do Patrimônio Líquido 25.000 56.000
Total do Passivo 110.000 146.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

115
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 24 Demonstração do Resultado do Exercício da Vale Doce S.A., em 31/12/x2
Demonstração do Resultado do Exercício da Vale Doce S.A., em 31/12/x2
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 312.000
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS VENDIDOS (94.000) (106.000)
LUCRO BRUTO 146.000 206.000
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) (39.000)
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) (55.000)
• Outras Despesas Operacionais (6.000) (9.000)
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado financeiro 59.000 103.000
(+) Receitas financeiras 1.000 11.000
(-) Despesas financeiras (22.400) (12.400)
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 101.600
(+ ou -). Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 101.600
(-) Provisões (16.000) (40.000)
(-) Participações - (8.200)
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 53.400
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

3.1.2.1 Índice de Liquidez imediata (ILI)

É obtido pela razão entre as disponibilidades da empresa e o seu passivo circulante,


ou seja, compara os valores disponíveis em dinheiro imediatamente com as obrigações
cujo vencimento se dará em 12 meses. Esse índice possui a vantagem de que somente
são considerados ativos que se converterão em dinheiro instantaneamente, então seus
valores coincidem com os de mercado. (LIPINSKI, 2020).

IMPORTANTE!!!
O índice de liquidez imediata também é conhecido como índice de liquidez
instantânea ou absoluta.

116
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Portanto, o índice de liquidez imediata indica quantos reais existem disponíveis
imediatamente para cada 1,00 de passivo circulante.
Esse índice de fato é um índice de liquidez, mas devemos ficar atentos, porque compara
disponibilidades de hoje com dívidas que podem vencer em até um ano.
Aplicando o índice de liquidez imediata na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Disponível
PC

• X1 10.500 = 0,12 X2: 21.860 = 0,39


85.000 55.000

Conclusão: Para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo (PC), a empresa possui apenas
R$ 0,12 em X1 e R$ 0,39 em X2 de disponibilidade.
Considere que a composição monetária do numerador e denominador é
completamente distinta. No numerador, temos fundos imediatamente disponíveis. No
denominador, dívidas que, embora de curto prazo, vencerão em 30, 60, 90, 180 e até 360
dias. Assim, a comparação mais correta seria com o valor presente de tais vencimentos,
ou colocando-se no denominador o valor que pagaríamos se nos dispuséssemos a pagar
as dívidas de curto prazo hoje, de uma só vez. Provavelmente, obteríamos um desconto.
(MARION E RIBEIRO, 2011)
Schmidt, Santos e Kloeckner (2006), alertam que é primordial comparar o índice de
liquidez imediata da empresa em relação ao índice médio do setor em que a empresa
atua. Assim, supondo que o índice de liquidez imediata do setor seja de 0,5, isto significa
que a posição de liquidez imediata da empresa é menor que a média setorial, o que não é
um bom indicativo.

3.1.2.2 Índice de Liquidez Corrente (ILC)

Este quociente relaciona o quanto dispomos, imediatamente, de disponíveis e


conversíveis (de curto prazo) em dinheiro, com relação às dívidas de curto prazo. É um
índice muito divulgado e frequentemente considerado como o melhor indicador da
situação de liquidez da empresa. (WIKIPÉDIA, 2020).
Como diz Iudícibus (2017), é preciso considerar que no numerador estão incluídos

117
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
itens tão diversos como: disponibilidades, valores a receber a curto prazo, estoques e
certas despesas pagas antecipadamente. No denominador, estão incluídas as dívidas e
obrigações vencíveis a curto prazo.

FIQUE LIGADO!!!
O índice de liquidez corrente também é conhecido como índice de liquidez
comum.

Assim, é preciso tomar muito cuidado para avaliar a sinalização real de nosso quociente
de liquidez corrente (e de vários outros que envolvem prazos diferentes de vencimento
de direitos e obrigações). (IUDICIBUS, 2017).
Portanto, o índice de liquidez corrente indica quantos reais existem no ativo circulante
para cada R$ 1,00 de passivo circulante.
Aplicando o índice de liquidez corrente na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: AC
PC

• X1 55.000 = 0,64 X2: 74.360 = 1,35


85.000 55.000

Conclusão: Em X1, para cada 1,00 de dívida de curto prazo a empresa possui apenas
R$ 0,64, faltando 0,36 em que pode tomar emprestado próprio ou de terceiros. Em X2, o
AC é maior que o PC, e isto significam que, os investimentos no AC são suficientes para
cobrir as dívidas de curto prazo e ainda permitir uma folga de 35% para cada um real de
dívida do PC.
A interpretação desse quociente deve ser direcionada para verificar a existência ou
não do Capital Circulante Líquido (CCL). O CCL também pode ser apurado pela diferença
entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. Quando positivo, o CCL indica o excesso
do Ativo Circulante sobre o Passivo Circulante.
Assim seria interessante para a empresa ter sempre um capital circulante líquido
positivo, ou seja, uma liquidez corrente maior que R$ 1,00.

118
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quadro 10 Interpretação da Liquidez Corrente
SE DENOTA
Liquidez Corrente > 1,00 Capital Circulante Líquido Positivo
Liquidez Corrente = 1,00 Capital Circulante Líquido Nulo
Liquidez Corrente < 1,00 Capital Circulante Líquido Negativo
Fonte: Adaptado de Diniz, 2015

Para Diniz (2015) é importante ressaltarmos que, mesmo com o indicador Liquidez
Corrente maior que 1, a empresa pode não honrar seus compromissos de curto prazo
(passivo circulante) se uma significante parte de seus direitos de curto prazo (ativo
circulante) for composto por estoques.
Ao abordar o tema liquidez corrente Marion (2019) afirma que é importante levarmos
em conta três principais aspectos:
• O primeiro é que o índice não revela a qualidade dos itens no ativo circulante (os
estoques estão superavaliados, são obsoletos, os títulos a receber são totalmente
recebíveis?);
• O segundo é que o índice não revela a sincronização entre recebimentos e
pagamentos, ou seja, por meio dele não identificamos se os recebimentos ocorrerão
em tempo para pagar as dívidas vincendas. Assim, em uma liquidez corrente igual
a 2,5 (aparentemente muito boa), pode a empresa estar em crise de liquidez, pois
grande parte dos vencimentos das obrigações a curto prazo concentram-se no
próximo mês, enquanto a concentração dos recebimentos ocorrerá dentro de 90
dias;
• O terceiro, como um aspecto que contribui para o redimensionamento da liquidez
corrente, no sentido de elevá-la, é o estoque estar avaliado a custos históricos,
sendo que seu valor de mercado está (valor de realização, de venda), normalmente,
acima do evidenciado no ativo circulante. Portanto, a liquidez corrente, sob esse
enfoque, será sempre mais pessimista do que a realidade, já que os estoques serão
realizados a valores de mercado, e não de custo.

3.1.2.3 Índice de Liquidez Seca (ILS)

O índice de liquidez seca é obtido pela razão entre o ativo circulante deduzido dos
estoques e o seu passivo circulante, ou seja, compara os bens e direitos que se converterão
em dinheiro em até 12 meses, exceto os estoques com as obrigações com igual prazo de

119
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
vencimento.
Este indicador representa uma medida mais rigorosa em relação à liquidez da
empresa. Indica quanto a empresa possui de recursos circulantes para fazer frente aos
compromissos de curto prazo sem contar com a venda de seus estoques.

ALERTA!!!
O índice de liquidez seca também é conhecido como índice de liquidez ácida
ou teste ácido.

A questão central deste indicador para Lunelli (2020) está na análise da capacidade de
realização dos estoques, por isso não há um claro referencial para o cálculo. Assim, uma
empresa onde os estoques predominantes são os de produtos em processo (inacabados),
tem sua realização mais demorada do que uma empresa comercial que normalmente tem
estoque de mercadorias com grande facilidade de venda e alta rotatividade.
Lunelli (2020) também enfoca que, para empresas industriais é conveniente um
indicador superior a “0,70” analisado sempre em conjunto com a liquidez corrente. Para
as empresas comerciais este índice poderia chegar até “0,50” e ser considerado normal,
desde que, os estoques formem liquidez corrente superior a “1,00”.
Revela a capacidade financeira líquida da empresa para cumprir os compromissos de
curto prazo, isto é, quanto a empresa tem de Ativo Circulante Líquido para cada $ 1 do
Passivo Circulante.
A interpretação desse quociente deve ser direcionada a verificar se o Ativo Circulante
Líquido é suficiente para saldar os compromissos de curto prazo.
Dessa forma, o índice de liquidez seca indica quantos reais existem no ativo circulante
para cada R$ 1,00 de passivo circulante sem considerar a realização dos estoques, ou
quanto a empresa possui de ativo líquido (porque não entra o estoque) para cada $ 1,00
de PC (dívida de curto prazo).
Aplicando o índice de liquidez seca na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: AC – Estoque
PC

• X1: 55.000 – 30.000 = 0,29


85.000

120
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• X2: 74.360 – 25.000 = 0,90
55.000

Ou

Fórmula: Disponibilidade + Direitos Realizáveis a Curto Prazo


Passivo Circulante

• X1: 10.500 + 14.500 = 0,29


85.000

• X2: 28.860 + 20.500 = 0,90


55.000

Em X1 a empresa conseguiu pagar apenas 29% de suas dívidas correntes com o


disponível e os clientes (sem estoques). Em X2, já melhora o seu desempenho, pois paga
90% de suas dívidas de curto, somente com o disponível e os clientes (sem estoques).
Então podemos afirmar que para cada R$1,00 de dívidas no curto prazo a empresa tem
condições de saldar R$0,29 com as contas de disponível e valores a receber em X1 e R$
0,90 em X2.
O índice de liquidez seca como diz Silva (2017), busca certo aprimoramento em relação
ao índice de liquidez corrente, à medida que exclui os estoques, por considerar em sua
origem histórica que as empresas enfrentavam dificuldade financeira devido à pouca
aceitação de seus estoques.
Com relação à liquidez seca, seguem alguns aspectos qualitativos da análise de acordo
com Silva (2017):
• O passivo circulante é sempre líquido e certo, com o risco de eventuais
compromissos não serem registrados ou serem registrados a menor.
• Caixa e bancos não devem ser itens expressivos; se forem, precisam ser examinados
pelo analista.
• As aplicações financeiras de curto prazo podem ser representadas por títulos
de boa qualidade ou por papéis emitidos por instituições de alto risco, que,
caso venham a quebrar ou sofrer intervenção do Banco Central do Brasil, terão
problemas de realização.
• As duplicatas a receber líquidas apresentam o risco de crédito representado pela
carteira de clientes da empresa, sendo importante conhecermos o volume de

121
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
atrasos, os prazos de recebimento e os principais clientes.

É importante lembrar que esse quociente deve ser analisado em conjunto com o
Quociente de Liquidez Corrente.

3.1.2.4 Índice de liquidez geral (ILG).

Este índice é obtido pela razão entre o ativo circulante mais o ativo realizável a longo
prazo da empresa e o seu passivo circulante somado ao passivo exigível de longo prazo,
isto é, compara os bens e os direitos que se converterão em dinheiro a curto e longo prazo
com as obrigações com igual prazo de vencimento.

SAIBA QUE!!!
O índice de liquidez geral também é conhecido como índice de liquidez total.

Ao abordar a liquidez geral, Iudicibus (2017) diz que:

Este quociente serve para detectar a saúde financeira (no que se


refere à liquidez) de longo prazo do empreendimento. Mais uma vez, o
problema dos prazos empobrece o sentido e a utilidade do quociente, a
não ser que seja explicitamente levado em sua devida conta. Os prazos
de liquidação do passivo e de recebimento do ativo podem ser os mais
diferenciados possível, ainda mais se considerarmos que temos passivo
e ativo a longo prazo.

O índice de liquidez geral é um indicador que subtende que, se a empresa fosse parar
suas atividades naquele momento, segundo Silva (2017), deveria pagar suas dívidas com
seu dinheiro (disponibilidades) mais seus realizáveis, sem precisar envolver os ativos
fixos e os ativos intangíveis.
A interpretação deste quociente deve ser direcionada a verificar se a empresa tem
solidez financeira suficiente para cobrir os compromissos de curto e de longo prazo.
Assim, o índice de liquidez geral indica quantos reais existem nos recursos realizáveis

122
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
no Ativo Circulante e Realizável de Longo Prazo para cada $1,00 de dívida com terceiros
(Passivo Circulante e Exigível de Longo Prazo).
Aplicando o índice de liquidez geral na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: AC + RLP
PC + ELP

• X1: 55.000 + 15.000 = 0,82


85.000

• X2: 74.360 + 10.000 = 0,94


55.000 + 35.000

O índice de liquidez geral de X1, igual a 0,82, indica que para cada $ 1,00 de dívida
totais (vencíveis a curto e longo prazo) a empresa tem $ 0,82 de investimentos realizáveis
a curto prazo e longo prazo), ou seja, não consegue pagar todos as suas dívidas faltando
18% para cada $ 1,00 de dívida e em X2 possui 0,94 faltando 0,06 para cada 1,00 de dívida
em que pode pagar com capital próprio ou com financiamento (capital de terceiros), ou
seja, precisará gerar recursos futuramente para pagar suas dívidas totais.
Marion e Ribeiro, (2011), alertam para o seguinte: há casos em que o Quociente de
Liquidez Geral inferior a 1 não indica situação de insolvência. Ocorre, por exemplo,
quando, para saldar compromisso de curto prazo, a empresa toma empréstimos a pagar
em cinco anos; neste caso, haverá tempo suficiente para gerar recursos visando a saldar
esses compromissos.
Assim, torna-se o ponto especial deste indicador, além do que já foi tratado na liquidez
corrente e seca, a qualidade dos itens de longo prazo, bem como o perfil do exigível a
longo prazo. Para Lunelli (2020), se o exigível a longo prazo é apurado para os próximos
2 anos, a análise é diferente de, se por outro lado, ele for resgatado, por exemplo, em dez
anos. O que irá validar um resultado inferior a “1,00” é a capacidade de geração de lucros
da empresa que deve ser analisada paralelamente a este indicador.
Os quatro índices de liquidez (imediata, corrente, seca e geral) para Silva (2017),
completam-se entre si e permitem ao analista certo aprofundamento no exame do
risco da empresa. São parâmetros cuja observação é necessária, mas não suficiente para
conclusão acerca de robustez financeira da empresa.

123
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quadro 11 Resumo dos índices de liquidez
Discriminação Fórmula Significado Interpretação
Para cada R$ 1,00 de dívida de curto
Disponível Quanto maior,
Imediata prazo, a empresa possui R$ X,00 de
PC melhor.
disponibilidades para pagar.
Para cada R$ 1,00 de dívida de curto
AC Quanto maior,
Corrente prazo, a empresa possui R$ X,00 para
PC melhor.
pagar.
Para cada R$ 1,00 de dívida de curto
AC – Estoque Quanto maior,
Seca prazo, a empresa possui R$ X,00 para
PC melhor.
pagar sem realizar os estoques
AC + RLP Para cada R$ 1,00 de dívida total, a Quanto maior,
Geral
PC + ELP empresa possui R$ X,00 para pagar. melhor.
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

3.1.3 Índices de Estrutura de Capitais e Endividamento

Os índices de estrutura e endividamento na visão de Schmidt, Santos e Kloeckner


(2006), objetivam evidenciar a composição das origens de recursos da empresa quer
sejam de capitais de terceiros quer de capitais próprios, bem como fornecer informações
capazes de avaliar o comprometimento financeiro atual da empresa perante terceiros
e, consequentemente, a capacidade da empresa aumentar o seu endividamento. Além
disso, demonstram de que forma foi aplicado o capital próprio.
Os mesmos autores dizem que uma empresa que se utiliza de capital de terceiros é dita
alavancada financeiramente. Essa alavancagem financeira possui algumas implicações,
sendo que as principais são:
• possibilita aos acionistas aumentar os recursos da empresa sem perder o controle
da mesma;
• os credores esperam que os recursos fornecidos pelos acionistas proporcionem
uma margem de segurança, de forma que o risco seja compartilhado entre
acionistas e terceiros;
• se a empresa ganha mais do que paga de juros com investimentos financiados
com capital de terceiros, então o retorno dos acionistas é alavancado, ou seja,
expandido. (SCHMIDT; SANTOS; KLOECKNER, 2006)

Iudicibus (2017), diz que, estes quocientes relacionam as fontes de fundos entre

124
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
si, procurando retratar a posição relativa do capital próprio com relação ao capital de
terceiros. São quocientes de muita importância, pois indicam a relação de dependência
da empresa com relação a capital de terceiros.
Já para Lunelli (2020), a finalidade deste indicador é medir a estrutura de financiamento
da empresa. O número resultante evidencia o reflexo das políticas de alavancagem
financeira utilizadas pela empresa e o financiamento do capital de giro ao final de cada
período. É assim, um parâmetro de garantia dos credores.
Em outras palavras, significa quanto a empresa tem de capital de giro próprio para
garantir as dívidas contratadas e os financiamentos, por isso o confronto dos valores a
pagar é realizado diretamente com o patrimônio líquido da sociedade:
Os principais índices são:
• endividamento total;
• participação de capitais de terceiros;
• garantia aos capitais de terceiros;
• composição do endividamento;
• imobilização do capital próprio;
• imobilização dos recursos permanentes.

Figura 3: Análise por Quocientes na modalidade referente aos índices de estrutura


Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

FIQUE ATENTO!!!
Os quatro primeiros índices são também chamados índices de endividamento.

Através dos Indicadores de Endividamento torna-se possível a empresa avaliar o


montante de dívidas que possui, captada através de Recursos de Terceiros em relação
ao seu Capital Próprio - seus Recursos Próprios, pois evidenciam a dependência que a
empresa tem dos capitais de terceiros para financiar seu Ativo. (CONCEIÇÃO, 2020).
Para Assaf Neto (2015, p. 122), os índices de endividamento “fornecem, ainda,
elementos para avaliar o grau de comprometimento financeiro de uma empresa perante

125
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
seus credores (principalmente instituições financeiras) e sua capacidade de cumprir os
compromissos financeiros assumidos a longo prazo”.

3.1.3.1 Endividamento total

O endividamento total é obtido pela razão entre o passivo exigível, isto é, passivo
circulante mais passivo exigível a longo prazo, e o ativo total, ou seja, compara o capital
de terceiros sobre os ativos totais.
Este índice determina a proporção dos ativos totais financiados com recursos de
terceiros. Quanto maior o grau de endividamento total da empresa, mais arriscada ela se
torna aos credores.
Assim, o grau de endividamento total indica quantos R$ existem de dívidas totais para
cada R$ 100,00 de fontes totais de recursos.
Aplicando o índice de endividamento total na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: PC + ELP x 100


Ativo total

• X1: 85.000 + 0 x 100 = 77%


110.000

• X2: 55.000 + 35.000 x 100 = 62%


146.000

O índice de endividamento total da empresa é de 77% em X1 e isto significa que o


capital de terceiros representa 77% do total das fontes de capital, isto é, os credores
fornecem mais da metade das fontes de recursos totais da empresa e em X2 62%.
Indica que 77% do Ativo da empresa são financiados com recursos de terceiros, ou
seja, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa utilizou R$ 77 de capital de terceiros
em X1 e em X2 62%.

126
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Sousa e Martins (2010) alertam para algumas situações:

Tabela 25 Grau de endividamento


Ativo Passivo Exigível Patrimônio Líquido
Situação
(AT) (PE) (PL)
1ª R$ 100 R$ 20 R$ 80
2ª R$ 100 R$ 70 R$ 30
3ª R$ 100 R$ 1 R$ 99
4ª R$ 100 R$ 100 R$ 0
Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

1ª situação: a empresa opera com baixo grau de endividamento

ET = PE x 100 → 20 x 100 = 20%


AT 100

O grau de endividamento total indica que 20% do Ativo da empresa são financiados
com recursos de terceiros, isto é, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa utilizou
R$ 20 de capital de terceiros.
Interpretação: quanto menor o grau de endividamento, maior será a capacidade
financeira da empresa a longo prazo.

2ª situação: a empresa opera com alto grau de endividamento.


ET = PE x 100 → 70 x 100 = 70%
AT 100

O grau de endividamento total indica que 70% do Ativo da empresa são financiados
com recursos de terceiros, isto é, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa utilizou
R$ 70 de capital de terceiros.

Interpretação: quanto maior o grau de endividamento, menor será a capacidade


financeira da empresa, a longo prazo.

3ª situação: a empresa opera com grau de endividamento próximo de zero

ET = PE x 100 → 1 x 100 = 1%
AT 100

127
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O grau de endividamento total indica que 1% do Ativo da empresa é financiado com
recursos de terceiros, significando, portanto, que a empresa opera em estado de quase
autonomia financeira, isto é, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa utilizou R$
1 de capital de terceiros.

4ª situação: a empresa opera com grau de endividamento igual a 100%.


ET = PE x 100 →100 x 100 = 100%
AT 100

O grau de endividamento total indica que 100% do Ativo da empresa são financiados
exclusivamente por recursos de terceiros (PE), sendo nulo o capital acumulado dos
proprietários (PL), isto é, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa utilizou R$ 100
de capitais de terceiros.

Interpretação: quanto maior o grau de endividamento, menor será a capacidade


financeira da empresa, a longo prazo.
A empresa não possui capacidade financeira a longo prazo; é totalmente dependente
de capitais de terceiros.

3.1.3.2 Participação de capitais de terceiros

A participação do capital de terceiros é obtida pela razão entre o passivo exigível, isto
é, passivo circulante mais passivo exigível a longo prazo, e o seu patrimônio líquido, ou
seja, compara o capital de terceiros com o capital próprio da empresa.
Para Iudicibus (2017) é outra forma de encarar a dependência de recursos de terceiros.
Se o quociente, durante vários anos, for consistente e acentuadamente maior que cem,
denotaria uma dependência exagerada de recursos de terceiros. Este quociente é um dos
mais utilizados para retratar o posicionamento das empresas com relação aos capitais de
terceiros.
Grande parte das empresas que vão à falência apresenta, durante um período
relativamente longo, altos quocientes de Capitais de Terceiros/Capitais Próprios. Isto não
significa que uma empresa com um alto quociente necessariamente irá à falência, mas
todas ou quase todas as empresas que vão à falência apresentam este sintoma.

128
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
VALE LEMBRAR QUE!!!
O índice de participação de capitais de terceiros também é conhecido como
índice de endividamento ou índice de alavancagem.

Sousa e Martins (2010); dizem que o índice de participação de capitais de terceiros


varia de acordo com o ramo de atividade da empresa. Assim, empresas que apresentam
aplicações maciças em ativos fixos têm tendência a ter índices de endividamento de
longo prazo mais elevados, enquanto empresas menos dependentes de ativo fixo tem
índices menores.
Daí o cuidado que deve ser tomado conforme Iudicibus (2017), com relação à projeção
de captação de recursos quando vislumbramos uma necessidade ou uma oportunidade
de expansão. Deverão ser na medida do possível, projetados os efeitos (sobre os
demonstrativos financeiros futuros) das políticas alternativas de captação de recursos
próprios (capitais de risco) e de terceiros ou uma adequada combinação de ambos, que,
às vezes, é a melhor alternativa.
Assim, o grau de endividamento do patrimônio líquido indica quantos reais existem
de dívidas totais para cada R$ 100 de patrimônio líquido.
Aplicando o índice de participação de capital de terceiros na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Capital de Terceiros x 100


PL

• X1: 85.000 x 100 = 340%


25.000

• X2: 90.000 x 100 = 161%


56.000

Estes dois índices mostram que em X1, para cada R$ 100 de capital próprio (PL) a empresa
tomou R$ 340 e em X2 R$ 160 de capital de terceiros. Do ponto de vista estritamente
financeiro, quanto maior a relação Capital de Terceiros/PL, menor a liberdade de decisões
financeiras da empresa ou maior a dependência a estes financiadores externos, ou seja,
a empresa terá menor liberdade financeira quanto maior for sua dependência de capitais
de terceiros.
A finalidade deste indicador conforme Lunelli (2020) é medir a estrutura de

129
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
financiamento da empresa. O número resultante evidencia o reflexo das políticas de
alavancagem financeira utilizadas pela empresa e o financiamento do capital de giro ao
final de cada período. É assim, um parâmetro de garantia dos credores.
Em outras palavras, significa quanto a empresa tem de capital de giro próprio para
garantir as dívidas contratadas e os financiamentos, por isso o confronto dos valores a
pagar é realizado diretamente com o patrimônio líquido da sociedade:
Neste caso um ponto referencial é que este indicador deva ser sempre inferior a
“100,00”, pois valores superiores a este limite sugerem excesso de endividamento da
empresa através de empréstimos e financiamentos já assumidos. (LUNELLI, 2020).
O excesso de endividamento para Lunelli (2020), pode não trazer problemas em
situações normais de demanda, mas obviamente temos que analisar também o perfil
do endividamento de longo prazo juntamente com a capacidade de geração de lucros
através das vendas.

3.1.3.3 Garantia aos capitais de terceiros

O grau de garantia de capitais de terceiros é obtido pela razão entre o patrimônio


líquido e o passivo exigível, ou seja, o passivo circulante mais passivo exigível a longo
prazo, isto é, comparara o capital próprio com o capital de terceiros da empresa
Dessa forma, para Schmidt, Santos e Kloeckner (2006), o grau de garantia de capitais
de terceiros evidencia a representatividade do capital próprio em relação às dívidas
exigíveis, ou seja, o nível de garantia dos credores.
Já para Sousa e Martins (2010); representa a margem de segurança dada aos capitais de
terceiros, aplicados na empresa, em razão da existência de recursos próprios.
Assim, o grau de garantia de capitais de terceiros indica quantos reais existem de
patrimônio líquido para cada R$ 100 de dívidas totais, ou seja, quantos reais de capitais
de terceiros têm capitais próprios como garantia.
Aplicando o índice de garantia aos capitais de terceiros na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Patrimônio Líquido x 100


PC + Exigível a LP

• X1: 25.000 x 100 = 29%


85.000

130
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• X2: 56.000 x 100 = 62%
90.000

Os indicadores mostram que para cada R$ 100 de dívidas com terceiros, a empresa
dispõe de R$ 29 de capitais próprios em X1 e R$ 62 em X2. A situação é mais desfavorável
em X1, melhorando bem em X2, ou seja, a margem de garantia dada aos capitais alheios
era muito baixa em X1, ficando quase favorável em X2.
Este índice obedece à regra quanto maior melhor, pois quanto maior a existência de
recursos próprios, maior a garantia aos capitais de terceiros.

3.1.3.4 Composição do endividamento

A qualidade da dívida pode ser medida através dos índices de composição do


endividamento. Sousa e Martins (2010) dizem que a análise destes índices é bastante
significativa, pois tem como objetivo mostrar o desdobramento do endividamento em
curto e longo prazo.
a) Endividamento a curto prazo
b) Endividamento a longo prazo
a) Endividamento a curto prazo (ECP): normalmente utilizado para financiar o Ativo
Circulante (fornecedores, empréstimos para capital de giro etc.)
Enquanto o índice de participação de capitais de terceiros mostrou a representatividade
da dívida total da empresa em relação ao capital próprio, a composição do endividamento
mostra quanto da dívida total da empresa deverá ser pago no curto prazo, isto é, as
obrigações no curto prazo comparadas com as obrigações totais caracteriza o perfil da
dívida quanto ao seu vencimento. (SILVA, 2017).

ATENÇÃO!!!
Regra geral: Empresas com altos níveis de endividamento no curto apresen-
tam maiores riscos de insolvência.

Iudicibus (2017), alerta para o seguinte: a empresa em franca expansão deve procurar
financiamento, em grande parte, com endividamento de longo prazo, de forma que, à

131
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
medida que ela ganhe capacidade operacional adicional com a entrada em funcionamento
dos novos equipamentos e outros recursos de produção, tenha condições de começar a
amortizar suas dívidas.
A interpretação do índice de composição do endividamento é de que “quanto maior,
pior”, mantidos constantes os demais fatores. A razão para Silva (2017), é de que quanto
mais dívidas para pagar no curto prazo, maior será a pressão para que a empresa gere
recursos para honrar seus compromissos.
Desse modo, o Indicador informa qual o percentual de obrigações de curto prazo em
relação às obrigações totais.
Aplicando o índice de composição do endividamento na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Passivo Circulante x 100


PC + Exigível a LP

• X1: 85.000 x 100 = 100%


85.000

• X2: 55.000 x 100 = 61%


90.000

Tabela 26 Composição do endividamento


X1 = 100 p/100 P/Longo Prazo = 0 PnC
X2 = 61 p/100 P/Longo Prazo = 39 - PnC
Fonte: Assaf Neto (2015)

Tais índices indicam que em X1 a empresa tinha R$ 100 em curto prazo de dívida
referente ao capital de terceiros, ou seja, a dívida estava toda concentrada em curto prazo,
e que em X2 este percentual ficou em R$ 61 melhorando aquilo que se pode chamar perfil
de dívida, sobrou R$ 39 de dívida para longo prazo, enquanto que em X1 não tem dívida
nenhuma de longo prazo. E a conclusão que se chega é que nas dívidas de longo prazo, a
empresa dispõe de tempo para gerar recursos.

Obs: O fato isolado de a dívida estar concentrada no curto prazo, como diz Silva
(2017), não é, necessariamente, um fator negativo. É preciso conhecer a estrutura geral
da empresa, quanto à sua participação de capitais de terceiros, sua capacidade de geração
de recursos e mesmo sua condição de renovar a dívida de curto prazo junto aos credores,
se necessário.

132
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ALERTA!!!
Regra geral: Empresas com baixos níveis de endividamento no curto prazo
apresentam menores riscos de insolvência.

Quanto menor a composição do endividamento, melhor é para a empresa, pois este


indicador permite visualizar a ocorrência da renegociação de dívidas de curto prazo para
longo prazo, bem como a contratação de empréstimos, caracterizando a dificuldade da
empresa em saldar as suas dívidas de curto prazo.
Sousa e Martins (2010) exemplificam que uma empresa que possua 90% das suas
dívidas vencíveis no curto prazo, será obrigada a tomar decisões desfavoráveis do ponto
de vista econômico para honrar as suas obrigações de curto prazo, caso seja surpreendida
por uma crise econômica no ambiente em que opera, pois será obrigada a oferecer grandes
descontos na venda de seus estoques, bem como no recebimento de seus clientes, para
quitar as suas obrigações de curto prazo, incorrendo em volumosos prejuízos.
Os recursos financeiros para cobrir os compromissos de longo prazo poderão surgir em
função do desenvolvimento normal das atividades da empresa, de acordo com Marion e
Ribeiro, (2011), sem a necessidade de recorrer a operações que geram recursos imediatos,
pois nem sempre essas operações são benéficas para a saúde financeira da empresa.

3.1.3.5 Imobilização do capital próprio

Os quatro índices vistos anteriormente estavam relacionados ao nível de endividamento


e ao seu perfil quanto ao prazo e quanto à origem dos recursos.
O grau de imobilização do patrimônio líquido demonstra o montante de recursos
que a empresa aplicou no ANC (Investimentos, Imobilizado e Intangível) para cada R$
100 de capital próprio. Quanto menor este índice, melhor para a empresa, pois quanto
mais recursos a empresa investe no ANC (Investimentos, Imobilizado e Intangível), mais
dependente de capital de terceiros ela se torna para o seu capital de giro.
O índice de imobilização do patrimônio líquido indica quanto do patrimônio líquido
da empresa está aplicado no ativo não circulante nos itens de Ativo Fixo, ou seja, quanto
a empresa aplicou no ativo fixo para cada R$ 100 do PL.

133
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
VOCÊ SABIA!!!
Ativo Fixo corresponde ao Ativo não Circulante diminuindo do Ativo Realizá-
vel a Longo Prazo, que é igual a soma dos subgrupos Investimentos, Imobilizado
e Intangível.

Para melhor compreensão deste índice, será realizada análise das três situações que
podem ocorrer com Imobilização do Capital Próprio (ICP), conforme Sousa e Martins
(2010).

Tabela 27 Situações que podem ocorrer com a Imobilização do Capital Próprio


ANC (Investimen-
Passivo Circu- Passivo Exigível Patrimônio
Ativo Circulante tos, Imobilizado
Situação lante de Longo Prazo Líquido
(AC) e Intangível) ou
(PC) (PELP) (PL)
Ativo Fixo
1ª R$ 150 R$ 100 R$ 100 0 R$ 150
2ª R$ 150 R$ 100 R$ 150 0 R$ 100
3ª R$ 150 R$ 150 R$ 150 0 R$ 100
Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

1ª situação: ICP <100%


Significa que a empresa consegue financiar todo o seu ativo fixo e ainda há sobras de
recursos próprios para financiar o Ativo Realizável de Longo Prazo e o Ativo Circulante.

ICP = ANC - RLP 100 X 100 = 67%


PL 150

O índice de imobilização do patrimônio líquido mostra que a empresa investiu no


ativo fixo importância equivalente a 67% do Patrimônio Líquido; os 33% restantes foram
aplicados no Ativo Circulante.
Esta situação é ideal em termos financeiros, pois a empresa dispõe de Patrimônio
Líquido suficiente para cobrir o ANC (Investimentos, Imobilizado e Intangível), e ainda
sobra uma parcela suficiente para financiar os outros grupos do Ativo.
Por suficiente entende-se que a empresa deve dispor da necessária liberdade de
comprar e vender sem precisar sair correndo atrás de recursos oriundos de instituições

134
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
financeiras, o que sempre significa custos.

Memória de cálculo:
33% = 100% – 67%, isto é, do total dos recursos próprios (100%), 67% encontram-se
imobilizados.

2ª situação: ICP = 100%


Significa que o montante do ativo fixo, foi constituído mediante aplicação do total de
recursos próprios, não restando margem alguma para financiamento de elementos do
Ativo Circulante e do Ativo Realizável a Longo Prazo.

ICP = ANC - RLP 100 X 100 = 100%


PL 100

O índice de imobilização do patrimônio líquido mostra que a empresa investiu no ativo


fixo importância equivalente a 100% do Patrimônio Líquido. Não há sobra de Recursos
Próprios, isto é, estão todos imobilizados.

3ª situação: ICP > 100%


Significa que a empresa não consegue financiar todo o seu ANC (Investimentos,
Imobilizado e Intangível), com recursos próprios. Depende, portanto, de recursos de
terceiros para financiar parte de seu ANC (Investimentos, Imobilizado e Intangível). Neste
caso, é importante avaliar quanto ela usa de recursos de terceiros para esta finalidade.

ICP = ANC - RLP 150 X 100 = 150%


PL 100

O índice de imobilização do patrimônio líquido de 150% significa que para cada R$


100 existentes de Patrimônio Líquido a empresa aplicou R$ 150, ou seja, imobilizou
todo o Patrimônio Líquido mais parte do Passivo Circulante ou Passivo não Circulante,
equivalente a 50% do PL.
Segundo Matarazzo (2010), estes ativos, por serem permanentes, demoram muito
tempo para gerar retorno, pois dependem da sua utilização na atividade da empresa, algo
que será realizado normalmente ao longo de anos.
Para Diniz (2015), diante dessa constatação, podemos concluir que uma melhor situação
é aquela em que o ativo fixo é financiado com recursos próprios (o que nem sempre
acontece), para que a empresa não utilize recursos financeiros de terceiros (principalmente

135
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
com vencimento no curto prazo) para investir em ativos de retorno tão longo.
Nesse caso, também, quanto menor o valor encontrado para índice de imobilização
do patrimônio líquido, melhor, pois a empresa estará financiando seus ativos fixos com
recursos próprios.
Caso o índice encontrado seja inferior a 100%, indica que sobraram recursos do
patrimônio líquido para serem investidos em outros ativos, reduzindo o endividamento.
Em contrapartida, caso o índice encontrado seja superior a 100%, teremos uma situação
em que a empresa utilizou recursos emprestados de terceiros para financiar seus
investimentos em ativo fixo.
Aplicando o índice de imobilização do capital próprio na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Ativo não Circulante – Realizável a Longo Prazo x 100


Patrimônio Líquido

• X1: 55.000 – 15.000 x 100 = 160%


25.000

• X2: 71.640 – 10.000 x 100 = 110%


56.000

Ou

Fórmula: Ativo não Circulante (Investimentos, Imobilizado e Intangível). x 100


Patrimônio Líquido

• X1: 29.200 + 10.800 x 100 = 160%


25.000

• X2: 6.000 +46.040 + 9.600 x 100 = 110%


56.000

Em X1 a empresa aplicou todo seu PL no ANC deduzindo o realizável de longo prazo


e mais 60% de capital de terceiros e X2 mais 10% não sobrando capital próprio nenhum
para aplicar no AC e Realizável de Longo Prazo.
Verifica-se, portanto, que, a empresa não conseguiu financiar todo o seu Ativo Fixo
com os recursos próprios, pois os indicadores de 160% e 110% revelam que houve a
utilização de capitais de terceiros vencíveis a longo prazo.

136
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Outro detalhe importante é que a empresa não tem Capital Circulante Próprio (CCP)
ou Capital de Giro Próprio (CGP), ou seja, todo seu Ativo Circulante e Realizável de Longo
prazo é totalmente composto por capital de terceiros nos dois anos.

Observação
A parcela do PL aplicada no AC é chamada capital circulante próprio ou capital de giro
próprio.
Assim pode-se deduzir:
CCP = PL – AnC deduzindo o realizável de longo prazo ou
CCP = PL - Investimentos, Imobilizado e Intangível
CCP = Capital Circulante Próprio.
CGP = Capital de Giro Próprio
O CCP ou CGP é, portanto, a parcela do PL investida no AC.

Conclusão: quanto mais a empresa investir no ANC (Investimentos, Imobilizado


e Intangível), menos recursos próprios sobrará para o Ativo Circulante e Realizável de
Longo Prazo, e em consequência, maior será a dependência a capitais de terceiros para o
financiamento do Ativo Circulante e Realizável de Longo Prazo.
A interpretação deste quociente deverá ser direcionada a verificar a existência ou não
de Capital Circulante Próprio.
A ausência de Capital Circulante Próprio indica que todo o Ativo Circulante mais o
Realizável a Longo Prazo foram financiados somente com recursos de terceiros.
Se esse quociente for superior a 100%, indicará que a entidade aplicou, nos
Investimentos, Imobilizado e Intangível, todo o Capital Próprio e ainda uma parcela de
capitais de terceiros. Nesse caso, para saber se a empresa investiu, nos Investimentos,
Imobilizado e Intangível, recursos de terceiros tomados em curto ou longo prazos, será
necessário analisar o Quociente de Imobilização dos Recursos Não Correntes, que será o
próximo a ser estudado.
Finamente, Silva (2017), argumenta que, cabe destacar que o índice de imobilizado
envolve importantes decisões estratégicas da empresa, quanto à expansão, compra,
aluguel ou leasing de equipamentos. São os investimentos que caracterizam o risco da
atividade empresarial. Envolve também decisões relacionadas à estrutura de capitais.

Observação: Com a implantação da Lei nº 11.638/07, o grupo ativo permanente


foi extinto do ativo no balanço patrimonial. Apesar disso, para que identifiquemos o
montante que uma empresa possui em ativos permanentes, basta que somemos os
valores das contas investimentos, imobilizado e intangível. O montante também pode

137
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ser encontrado se subtrairmos o valor do realizável em longo prazo do valor do ativo não
circulante.

3.1.3.6 Imobilização dos recursos não correntes (permanentes)

O quociente de Imobilização dos Recursos não correntes, para Ribeiro (2014) revela
qual a proporção existente entre o Ativo Fixo e os Recursos Não Correntes, isto é, quanto
a empresa investiu no Ativo Fixo para cada R$ 100 de Patrimônio Líquido mais Exigível
a Longo Prazo.
Este índice de acordo com Diniz (2015) é um detalhamento maior do índice de
imobilização do patrimônio líquido. Se no índice anterior o objetivo era verificar se a
empresa está utilizando recursos de terceiros para seus investimentos no ativo fixo, ou
apenas os recursos próprios do patrimônio líquido, o índice de imobilização dos recursos
não correntes nos auxilia a observar se existem investimentos em ativos fixos com
recursos de curto prazo (passivo circulante).
Em relação à proporção entre o endividamento de uma empresa no curto e longo
prazos, Marion (2019) comenta que a proporção favorável seria de maior participação de
dívidas em longo prazo, proporcionando à empresa tempo maior para gerar recursos que
saldarão os compromissos. O autor afirma que a expansão e a modernização das empresas
devem ser financiadas com recursos em longo prazo, e não pelo passivo circulante, pois
os recursos a serem gerados pela expansão e a modernização virão em longo prazo.
Para uma empresa, é prejudicial possuir investimentos em ativos fixos superiores
aos recursos disponíveis de longo prazo, ou seja, recursos de passivo não circulante e
patrimônio líquido. É importante ressaltarmos que os termos “circulante” e “corrente”
possuem o mesmo significado, os quais estão relacionados ao tempo de giro da atividade,
dado pelo exercício social.
O índice de imobilização dos recursos não correntes será sempre igual ou inferior
ao índice de imobilização do patrimônio líquido, uma vez que o segundo considera a
divisão do ativo permanente pelo patrimônio líquido, enquanto o primeiro considera a
divisão pela soma do patrimônio com o passivo não circulante. Diante dessa constatação,
Matarazzo (2010) comenta que vale a mesma análise de que um índice de imobilização
dos recursos não correntes menor (inferior a 100%) indica a não utilização de passivos de
curto prazo, algo benéfico para a empresa.
Esse quociente revela qual a proporção existente entre o Ativo Fixo e os recursos não
correntes, isto é, quanto a empresa investiu no Ativo Fixo para cada $ 100 de Patrimônio

138
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Líquido mais Passivo Não Circulante (ELP).
Aplicando o índice de imobilização dos recursos não correntes na Vale Doce S.A.,
temos:

Fórmula: Ativo não Circulante – Realizável a Longo Prazo x 100


Patrimônio Líquido + Passivo Exigível a Longo Prazo

• X1: 55.000 – 15.000 x 100 = 160%


25.000 + 0

• X2: 71.640 – 10.000 x 100 = 68%


56.000 + 35.000
Ou
Fórmula: Ativo não Circulante (Investimentos, Imobilizado e Intangível). x 100
Patrimônio Líquido + Passivo Exigível a Longo Prazo

• X1: 29.200 + 10.800 x 100 = 160%


25.000 + 0

• X2: 6.000 +46.040 + 9.600 x 100 = 68%


56.000 + 35.000

Em X1 a empresa utilizou todo seu recurso não corrente (Patrimônio Líquido +


Passivo Exigível a Longo Prazo) para investir no Ativo Fixo (investimento, imobilizado e
intangível), não sobrando nada para o AC, ou seja, encontrou um índice de 160, significa
que para cada R$ 100 de Patrimônio Líquido, ela investiu R$ 160 em investimento,
imobilizado e intangível, isto é: imobilizou todo o Patrimônio Líquido mais recursos de
terceiros equivalentes a 60% do Patrimônio Líquido; o Ativo Circulante é todo financiado
por recursos de terceiros; e tem um Capital Circulante Próprio Negativo.
Em X2 utilizou 67% dos recursos não correntes para investir no Ativo fixo e a diferença
de 33% para o Ativo Circulante.
A parcela de recursos não correntes destinada ao AC é denominada capital circulante
líquido (CCL) ou Capital de Giro Líquido (CGL).
Os analistas de balanços recomendam que este índice não seja superior a 100%, isto
porque a empresa deve possuir um Capital Circulante Líquido positivo. Mas, o que vem a
ser o Capital Circulante Líquido ou simplesmente CCL? O CCL é o que sobra dos Recursos
não Correntes após a parcela destinada à imobilização do Ativo Fixo, ou a parcela dos

139
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Recursos não Corrente destinada ao Ativo Circulante. Matarazzo (2010, p. 167) define o
CCL como “...a folga financeira a curto prazo, ou seja, financiamentos de que a empresa
dispõe para o seu giro e que não serão cobrados a curto prazo”.
Calcula-se através da seguinte fórmula:

Capital Circulante Líquido = Recursos não Correntes (PL e PELP) - Ativo Fixo
(investimento, imobilizado e intangível)

Quadro 12 Resumo sobre os principais índices de estrutura


Discriminação Fórmula Significado Interpretação
Endividamento PE x 100 % do ativo total financiado com recursos de Quanto menor,
total (ET) AT terceiros. melhor.
Participação Indica quantos reais de capitais de terceiros
PE x100 Quanto menor,
de capitais de a empresa captou para cada real de capital
PL melhor.
terceiros (PCT) próprio.
Garantia aos
PL x100 Indica quantos reais de capitais de terceiros Quanto menor,
capitais de
PE têm capitais próprios como garantia. melhor.
terceiros (GCT)
Composição do
PC x100 % da dívida de curto prazo em relação ao total Quanto menor,
endividamento
PE das dívidas melhor
(CE))
% dos recursos próprios comprometidos
Imobilização do AF x100 Quanto menor,
no ativo fixo (investimento, imobilizado e
capital próprio PL melhor
intangível)
Imobilização
AF x100 % dos recursos permanentes (PELP e PL) Quanto menor,
dos recursos
PELP +PL comprometidos com o Ativo Fixo) melhor
não correntes
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

3.2 ANÁLISE POR INDICADORES ECONÔMICOS

A análise econômica é realizada por meio do cálculo de quocientes de rentabilidade,


que para Azzolin (2012), mostram o quanto renderam os investimentos realizados pelos
investidores, e indica qual é o desempenho e a saúde da empresa. Ela proporciona,
também, uma avaliação da situação patrimonial e indica ao investidor melhores condições
para a tomada de decisão.
A análise econômica determina os aspectos relacionados com a estrutura de capitais,
com o lucro e com a remuneração dos investidores.

140
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
3.2.1 Índices de Rentabilidade

Estes índices objetivam evidenciar os efeitos combinados da liquidez e de estrutura


e endividamento sobre os resultados obtidos pela empresa. Portanto, os índices de
rentabilidade estão intimamente relacionados ao desempenho econômico da empresa,
apresentando o retorno ou a rentabilidade dos recursos investidos e a eficiência de sua
gestão.
Na visão de Schmidt, Santos e Kloeckner (2006), estes índices têm em vista mensurar
os resultados obtidos pela empresa em relação determinados parâmetros. As principais
bases de comparação utilizadas no estudo dos resultados empresariais são o ativo total,
o patrimônio líquido e a receita de vendas. Já os resultados normalmente utilizados são o
resultado operacional e o lucro líquido do exercício.
Os índices deste grupo mostram qual a rentabilidade dos capitais investidos, isto
é, quantos renderam os investimentos, e, portanto, qual o grau de êxito econômico da
empresa.
A rentabilidade do capital investido na empresa é conhecida por meio do confronto entre
contas ou grupo de contas da Demonstração do Resultado do Exercício ou conjugando-as
com grupos de contas do Balanço Patrimonial. (REENTABILIDADE: RETORNO SOBRE O
INVESTIMENTO DO PONTO DE VISTA DA EMPRESA E DO EMPRESÁRIO, 2020).

VOCÊ SABIA QUE!!!


Índices de Rentabilidade são também denominados índices de lucratividade
ou de retorno?

A rentabilidade para Azzolin (2012), e uma medida que é obtida pela divisão do lucro
líquido pelo que se deseja medir. Por exemplo, se o objetivo é medir quanto os acionistas
lucraram com seus investimentos, divide-se o lucro líquido pelo patrimônio líquido; se
a finalidade e determinar o retorno dos investimentos realizados nos ativos, divide-se o
lucro líquido pelo ativo.
Neste grupo de informações sobre rentabilidade encontram-se dois conjuntos de
índices; eles expressam as margens de lucratividade das vendas e as taxas de retorno
sobre os recursos investidos.

141
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quadro 13 Indicadores de Rentabilidade
Margem de Lucratividade das Vendas Taxas de Retorno sobre os Recursos Investido
Quando o rendimento é relacionado com o volu- Quando o rendimento é relacionado com os capitais
me das vendas, denomina-se lucratividade. investidos na empresa, denomina-se retorno.
Margem Bruta Retorno sobre o Investimento Total
Margem Operacional Retorno sobre o Capital Próprio
Margem Líquida
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

3.2.1.1 Margem da lucratividade das vendas

Uma ferramenta popular usada para avaliar a margem de lucratividade da empresa


em relação às vendas é a análise da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) em
termos de participação ou composição dos resultados do Lucro Bruto, do Operacional e
do Líquido.

ATENTOS!!!
A margem da lucratividade das vendas também pode ser denominada taxa de
lucratividade.

Sousa e Martins (2010) dizem que, apesar dos esforços constantes para melhorar as
margens de lucro, comprimindo custos e despesas, e aumentando a eficiência, o lucro
pode ser considerado baixo ou alto de acordo com o tipo de atividade explorada pela
empresa. Assim, uma indústria automobilística normalmente apresenta margens de
lucro pequenas e valores monetários de vendas elevados. Já as empresas comerciais, de
modo geral, apresentam valores monetários de vendas menores com margens de lucro
melhores.

3.2.1.1.1 Margem Bruta (MB)


O índice de margem bruta é obtido pela razão entre o lucro bruto e a receita liquida de
vendas, isto é, compara a margem bruta da empresa com as vendas. Dessa forma, o índice

142
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
evidencia a margem bruta proporcionada por cada unidade monetária de venda, ou seja,
a margem remanescente para o pagamento das despesas operacionais e não operacionais
da empresa.
Através desse indicador, a empresa irá mensurar a percentagem de cada real de vendas
que sobrará após a dedução do Custo das Vendas.
Assim, o índice de margem bruta indica quantos R$ a empresa lucrou após a dedução
do Custo da Mercadoria Vendida (CVM) para cada R$ 100 de receita líquida.

VALE A PENA CONFERIR!!!


Custo das vendas:
• na indústria é chamado de Custo dos Produtos Vendidos (CPV)
• na empresa comercial de Custo das Mercadorias Vendidas (CMV)
• na prestadora de serviço de Custo dos Serviços Prestados (CSP)

A margem de lucro bruto mede o percentual da receita operacional líquida que sobra
após o pagamento dos custos dos produtos comercializados. Quanto mais alto for este
indicador, melhor, pois menor será o custo relativo dos produtos analisados.

IMPORTANTE!!!
Lucro bruto:
Também é chamado de Lucro Operacional Bruto.

O lucro bruto e a receita operacional líquida (conhecida como receita de vendas) serão
obtidos diretamente no demonstrativo de resultados do exercício (DRE).
Aplicando o índice de margem bruta na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: MB = Lucro Bruto x 100


Vendas Líquidas

• X1: 146.000 x 100 = 61%


240.000

143
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• X2: 206.000 x 100 = 66%
312.000

A Vale Doce S.A obteve uma margem bruta de 61% em relação à Receita Operacional
Líquida, e no ano X2 aumentou sua participação para 66%.
Este 61% significa que o resultado bruto correspondeu a 61% do faturamento líquido
(ROL) ou, em outras palavras: em cada real de vendas a empresa obteve R$ 0,61 de lucro
bruto e em X2 R$ 0,66.
Um aumento na margem bruta significa ou um crescimento das vendas em maior
proporção do que o ocorrido no custo das vendas ou decréscimo do custo das vendas.

FIQUE LIGADO!!!
Vendas Líquidas é o mesmo que Receita Operacional Líquida (ROL)

Alguns aspectos que você deverá observar na análise da margem bruta conforme
Sousa e Martins (2010):
• somente se compara a margem bruta de uma empresa com as do mesmo ramo de
atividade. Por exemplo, não se deve comparar a margem bruta de um supermercado
(bastante pequena) com a de uma indústria farmacêutica (bastante elevada);
• quando um acréscimo da margem bruta torna-se significativo, as causas
determinantes devem ser investigadas. Por exemplo, crescimento dos preços de
vendas maior do que do custo das vendas, diluição dos custos fixos em razão do
aumento da quantidade vendida (custo unitário de produção menor) etc.;
• um decréscimo significativo na margem bruta pode ser provocado por alguns
fatores como: elevação dos custos dos fatores de produção (matérias-primas, mão-
de-obra direta e custos indiretos de fabricação); do CMV; da perda de eficiência na
produção etc.

3.2.1.1.2 Margem Operacional (MO)


O índice de margem operacional ou lucratividade operacional é a proporção do lucro
operacional (também intitulado de resultado operacional) sobre a receita operacional
líquida. Este item representa o percentual de lucro que a empresa obteve depois de pagos

144
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
os custos dos produtos vendidos e as despesas operacionais, mas antes do pagamento
dos juros sobre os empréstimos e do imposto de renda.
Através desse indicador a empresa irá mensurar a percentagem de cada real de vendas
que sobrará após a dedução dos custos das vendas e das despesas operacionais (com
vendas, administrativas, financeiras líquidas e outras despesas/receitas operacionais).

ALERTA!!!!
Lucro operacional:
Também é chamado de Lucro Operacional Líquido.

Aplicando o índice de margem operacional na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: MO = Lucro Operacional x 100


Vendas Líquidas

• X1: 37.600 x 100 = 16%


240.000

• X2: 101.600 x 100 = 33%


312.000

A margem operacional (lucro operacional ou lucratividade operacional) aumentou de


16% para 33%, em relação a X1. O principal responsável por esse aumento foi à queda nas
despesas gerais e administrativas de 18.18%, aumento nas receitas financeiras de 1000%
e diminuição das despesas financeiras de 80,65%.
Dentre as Despesas Operacionais, destaque negativo para as Despesas com Vendas,
que cresceram em 143,75%.
Portanto, em X1 com o indicador de 16%, significa que o resultado operacional
correspondeu a 16% das vendas líquidas ou, em outras palavras, em cada real de vendas
a empresa obteve 16 centavos de lucro operacional e em X2, 33 centavos, dobrando o
resultado do ano anterior.
Sousa e Martins (2010) destacam alguns aspectos que você deverá observar na análise
da margem operacional:
• a elevada margem em função do controle efetivo dos custos;

145
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• o crescimento mais rápido das vendas em relação às despesas operacionais;
• se a empresa está operando de maneira eficiente ou ineficiente;
• se a empresa deverá (ou não) direcionar esforços para reduzir as despesas com
vendas, administrativas, financeiras etc.

3.2.1.1.3 Margem Líquida (ML) também chamada de Retorno sobre as vendas (RSV)
O índice de margem líquida demonstra a lucratividade das vendas. Assim, podemos
verificar que, a cada R$100,00 em vendas, a empresa obterá determinado percentual
de lucro. Ao se calcular tal índice, segundo Matarazzo (2010), é possível acompanhar a
margem líquida da empresa e verificar possíveis alterações.
Mostra o ganho final do lucro da empresa que deverá estar à disposição dos donos do
capital investido (proprietários, acionistas, cotistas). Quanto maior for o valor encontrado
para esse índice, melhor será para a empresa.
De forma simplificada, podemos dizer que o índice de margem líquida corresponde
ao percentual de lucratividade das vendas, indicando o quanto, em média, determinada
empresa obtém de lucro na venda de suas mercadorias, sendo uma medida de desempenho
de grande valia e que também varia muito de setor para setor.
Lunelli (2020) diz que é considerada a medida de sucesso da empresa, pois a margem
de lucro líquido indica qual o percentual da receita operacional líquida que restou após a
dedução de custos, despesas, impostos e juros.

VALE LEMBRAR QUE


Margem Líquida (ML) também chamada de Retorno sobre as vendas (RSV)

O valor percentual aceitável está relacionado com o setor de atuação da empresa e é


apurado mediante utilização da seguinte relação:

Fórmula: ML = Lucro Líquido x 100


Vendas Líquidas

Aplicando o índice de margem operacional na Vale Doce S.A., temos:

146
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• X1: 21.600 x 100 = 9%
240.000

• X2: 53.400 x 100 = 17%


312.000

Para cada R$ 100 vendidos sobrou para a empresa (aos proprietários) R$ 9 em X1 e R$


17 em X2. Esse 9% significa que o resultado das operações da empresa correspondeu a
9% das vendas líquidas (ROL) ou, em outras palavras, em cada real de vendas a empresa
obteve 9 centavos de lucro em X1 e 17 centavos em X2.

Alguns aspectos são destacados por Sousa e Martins (2010) que você deverá observar
na análise da margem líquida:
• cada setor da economia possui valores específicos, não é válido comparar empresas
de segmentos diferentes;
• que percentagem das despesas e receitas não ligadas à atividade operacional
afetou o resultado líquido.

Já Silva (2017) alerta os seguintes, comentários principais e gerais relativos ao lucro


líquido sobre as vendas:
• Tanto o lucro líquido do período (numerador) quanto as vendas líquidas
(denominador), no caso de uma economia inflacionaria, tende a estar
desatualizados, podendo, portanto, conter distorções no cálculo do índice se não
houver instrumento de atualização monetária dos valores.
• O lucro líquido pode conter valores expressivos relativos a despesas ou receitas
não operacionais, requerendo maior cuidado na análise qualitativa do indicador.
• O critério de avaliação dos estoques e de apropriação de custos pode interferir no
valor do custo dos produtos ou mercadorias vendidas e, portanto, no lucro.

3.2.2.1 Taxas de retorno sobre os recursos investidos

Essas taxas de retorno sobre os recursos investidos, medem o poder de ganho da


empresa e/ou dos proprietários (acionistas ou cotistas) em relação aos recursos aplicados
na empresa.
Para avaliar os índices referentes às taxas de retorno sobre os recursos investidos, que

147
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
serão apresentados a seguir, vamos utilizar, além das Demonstrações dos Resultados dos
Exercícios (DRE) e os Balanços Patrimoniais encerrados em 31 de dezembro 31/12/X1 e X2
da Vale Doce S.A.

3.2.2.1.1 Taxa de Retorno sobre Investimentos (ROI) ou Taxa de Retorno sobre o


Ativo Total (ROA)
O Retorno sobre o Ativo Total (return on total assets - ROA) é também conhecido
como retorno sobre o investimento (return on investment – ROI), e é o item que mede
o desempenho gerencial na geração de lucros com os ativos disponíveis, através do
percentual obtido pela divisão do lucro líquido pelo valor total dos ativos da empresa.
A taxa de retorno sobre investimentos evidencia o potencial de geração de lucros
por parte da empresa, isto é, quanto à empresa obteve de lucro líquido para cada real
investido no Ativo Total.

VALE A PENA CONFERIR!!!


Total Return on Total Assets (ROA) (Retorno sobre o Ativo) ou Return on Invest-
ment (ROI) (Retorno sobre o investimento)

Um número geralmente aceito como mais exato, considera no denominador, o valor


do ativo médio total que é obtido pela média aritmética dos ativos totais registrados nos
balanços dos dois últimos exercícios ou dos últimos doze meses do período de apuração.
A interpretação desse quociente também deve ser direcionada para verificar o tempo
necessário para que haja retorno dos capitais totais investidos na empresa, conhecido
como pay back.
Assim, o índice de retorno sobre os ativos totais indica quantos R$ a empresas lucrou
após a dedução de todas as despesas para cada R$ 100 investido em ativos totais.

Como já foi mencionado, você deve utilizar o Ativo Total Médio:

Ativo médio de X1 = Ativo XO + Ativo X1


2

148
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Ativo médio de X2 = Ativo X1 + Ativo X2
2

Ativo Total X0 = 95.000 (informado)


Ativo Total X1 = 110.000 (balanço)
Ativo Total médio X1 = 95.000 + 110.000 = 102.500
2

Ativo Total X1 = 110.000 (balanço)


Ativo Total X2 = 146.000 (balanço)
Ativo Total médio X2 = 110.000 + 146.000 = 128.000
2

Aplicando o índice de Retorno sobre o Investimento na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Lucro Líquido x 100


Ativo médio

• X1: 21.600 x 100 = 21%


102.500

• X2: 53.400 x 100 = 42%


128.000

• Tempo de Retorno
X1: X2:
1 ano................21% 1 ano..........................42%
x.......................100% = 4,76anos x...............................100% = 2,38 anos

Para cada R$ 100 investido, a empresa ganhou R$ 21 em X1 e R$ 42 em X2. Houve,


portanto, apreciável aumento na rentabilidade do ativo de um exercício para o outro
(quanto rendeu......).
A empresa demoraria 4,76 anos para obter de volta o seu investimento (100 : 19 = 5,26)
em X1, contando exclusivamente com o seu lucro, ou, se fosse usar o lucro para ter de
retorno os seus investimentos demoraria 4,76 anos e em x2 2,38 anos.
Provavelmente, esse é o mais importante quociente individual de toda a Análise de
Balanços para a administração.

149
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Constitui importante instrumento utilizado pelas organizações para medir o
desempenho do empreendimento.

Ribeiro (2014) faz algumas considerações importantíssimas:


• Trabalhando com Capitais de Terceiros, a empresa obviamente precisará
remunerar esses capitais com a lucratividade apurada no desenvolvimento de
suas atividades normais. Quando isto for possível, a situação será favorável; se a
lucratividade obtida não for suficiente para remunerar os Capitais de Terceiros, será
preciso buscar outras fontes para gerar recursos, aumentando o endividamento da
empresa.
• O conhecimento do tempo necessário para que haja retorno dos Capitais Próprios
e de Terceiros investidos na empresa.
• Quanto maior for este quociente, maior será a lucratividade obtida pela empresa
em relação aos Investimentos totais.

3.2.2.1.2 Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) ou Rentabilidade do PL


O índice de retorno sobre o Patrimônio Líquido (Return on Equity – ROE) indica
quanto de prêmio os acionistas ou proprietários da empresa estão obtendo em relação a
seus investimentos no empreendimento. O lucro, portanto, é o prêmio do investidor pelo
risco de seu negócio.
Esta taxa mede a remuneração dos capitais próprios investidos na empresa, ou seja,
quanto à empresa ganhou de Lucro Líquido para cada R$ 100 de capital próprio investido.

FIQUE LIGADO!!!
Retorno sobre o Patrimônio Líquido (Return on Equity – ROE)

Este indicador mede o retorno obtido no investimento do capital dos acionistas


da empresa, que é o capital próprio e está representado contabilmente nas contas do
patrimônio líquido no balanço patrimonial.
Também nesse caso, para se obter maior precisão no resultado, deve-se utilizar o valor
do patrimônio líquido médio, considerando-se dois exercícios seguintes ou doze meses
consecutivos para o primeiro ano de análise.

150
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
PL médio de X1 = PL inicial (XO) + PL final (X1)
2
PL médio de X2 = PL inicial (X1) + PL final (X2)
2

PL Inicial (X0) = 20.000 (informado)


PL Final (X1) = 25.000 (balanço)
PL médio X1 = 20.000 + 25.000 = 22.500
2

PL Inicial (X1) = 25.000 (balanço)


PL Final (X2) = 56.000 (balanço)
PL médio X2 = 25.000 + 56.000 = 40.500
2

Aplicando o índice de Retorno sobre o PL na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: Lucro Líquido x 100


PL médio

• X1: 21.600 x 100 = 96%


22.500

• X2: 53.400 x 100 = 132%


40.500

Tempo de Retorno
X1: X2:
1 ano............96% 1 ano..........................132%
x.................100% = 1,04 anos x...............................100% = 0,76 anos

A ROE referente ao ano X1, de 96%, mostra que o rendimento dos capitais próprios, a
princípio, foi bastante atraente.
Observa-se que, para cada R$ 100,00 de Capital Próprio investido, a Vale Doce SA
conseguiu R$ 96,00 de lucro e um pay back de 1,04 anos para os sócios recuperarem
através do Lucro Líquido suas aplicações na empresa.

151
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Em X2 então, foi além da expectativa, pois para cada R$ 100 investidos, os proprietários
tiveram um retorno de R$ 132 e um pay back de 0,76 anos.
Cabe ressaltar que os investimentos dos sócios na empresa representam capital de
risco, até porque nada garante que a empresa auferirá lucro, portanto, espera-se que a
ROE seja superior às taxas oferecidas no mercado.
Resumindo, para cada R$ 100 de capital próprio investido, a empresa conseguiu R$ 96
de lucro em X1 e $ 132 em x2.
Isto significa que em média demoraria 1,04 anos para que a empresa recupere seus
investimentos em X1 e 0,76 anos em X2.

Ribeiro (2014) faz as seguintes observações:


• Quanto maior for este quociente, maior será o grau de lucratividade apurado pela
empresa em relação ao Capital Próprio investido.
• Outro aspecto importante é que além de mostrar o poder de ganho dos proprietários
(acionistas ou cotistas), a ROE permite verificar se esse rendimento é compatível
com o de outros rendimentos existentes no mercado financeiro ou no mercado de
capitais.

3.2.2.2 Giro do ativo (GA) ou Rotação do ativo (RA)

O Giro do Ativo na realidade representa um indicador de atividade; no entanto, para


efeito didático, optamos por apresentá-lo junto com os índices de rentabilidade.
É um dos principais indicadores da atividade da empresa, pois estabelece uma relação
entre as vendas do período e os investimentos totais efetuados no empreendimento, que
estão representados pelo ativo total médio.
Sousa e Martins (2010), dizem que essa relação mostra a eficiência com que a
administração empresarial utilizou seus ativos para gerar receita, ou seja, a velocidade
com que o investimento total se transforma em volume de vendas. O número obtido
comprova, em unidades monetárias, quanto foi realizado de vendas para cada unidade
de ativo.
O giro do ativo para Silva (2017), expressa a produtividade dos ativos da empresa em
termos de vendas. Os ativos das empresas representam aplicações de recursos e esses
recursos (próprios e de terceiros) tem seus respectivos custos, devendo, portanto, evitar-
se ativos improdutivos.
Um indicador elevado demonstra que a empresa usou seus ativos com eficácia para

152
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
gerar vendas. Um índice baixo pode indicar que a empresa não está utilizando toda a
capacidade de seus ativos e deve aumentar esforços de vendas ou então desfazer-se de
alguns de seus ativos.
Indica quanto a empresa vendeu para cada $ 1,00 de investimento total.
Indica o tempo necessário para recuperar o total de investimentos realizados (ativo
total).

Como já foi mencionado, você deve utilizar o Ativo Total Médio.


Ativo médio de X1 = Ativo XO + Ativo X1
2

Ativo médio de X2 = Ativo X1 + Ativo X2


2

Ativo Total X0 = 95.000 (informado)


Ativo Total X1 = 110.000 (balanço)
Ativo Total médio X1 = 95.000 + 110.000 = 102.500
2

Ativo Total X1 = 110.000 (balanço)


Ativo Total X2 = 146.000 (balanço)
Ativo Total médio X2 = 110.000 + 146.000 = 128.000
2

Aplicando os índices de Giro do Ativo (GA) na Vale Doce S.A., temos:

Fórmula: : Vendas Líquidas (receita operacional líquida)


Ativo médio

• X1: 240.000 = 2,34 vezes, ou seja, 12 : 2,34 = 5 meses para recuperar o ativo.
102.500
*X1 >>> ROL = 240.000 = 102.500
2,34146

• X2: 312.000 = 2,44 vezes, ou seja, 12 : 2,44 = 5 meses para recuperar o ativo.
128.000

153
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
*X2 >>> ROL = 312.000 = 128.000
2,43750

Obs: O giro do ativo também pode ser calculado em termos de prazos, informam
quantos dias, em média, a empresa deverá levar para renovar ou girar seu ativo em
decorrência das vendas.

Fórmula: : Ativo médio x 360


Vendas Líquidas (receita operacional líquida)

• X1: 102.500 x 360 = 153 dias div 30 = 5 meses


240.000

• X2: 128.000 x 360 = 148 dias div 30 = 5 meses


312.000

A empresa vendeu em X1, R$ 2,34 para cada R$ 1,00 investido em média durante o
exercício, ou seja, o volume de vendas atingiu 2,34 vezes o volume de investimento.
Em X2, houve aumento pequeno do volume relativo de vendas; para cada R$ 1,00
investido a empresa vendeu R$ 2,44.
Em X1 a empresa auferiu um GA de 2,34 vezes, significando que vendeu, durante o
exercício, o equivalente a 2,34 vezes o valor de seu Ativo, ou, em outras palavras, cada
real investido no Ativo produziu uma receita líquida correspondente a R$ 2,34.
Em termos de prazo de renovação, a Vale Doce S.A obteve um Giro do Ativo de
aproximadamente 153 dias, o equivalente a 5 meses. Para a empresa é considerado um
prazo muito aceitável, pois seu Ativo foi renovado em decorrência das Vendas em um
período de 5 meses.
No ano X2, os índices aparecem quase que idênticos a X1, pois cada real investido no
Ativo produziu uma receita líquida correspondente a R$ 2,44, com retorno de 147 dias.

É importante destacar alguns aspectos qualitativos a serem observados no Giro do


Ativo conforme Silva (2017):
• O ativo total poderá estar subavaliados em função de inadequação ou inexistência
dos índices de atualização monetária dos ativos fixos, no caso de existência de
inflação.
• Existência de itens representativos no ativo, que não estejam relacionados
com produção e vendas, pode superavaliar o ativo e prejudicar o significado do

154
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
indicador. A rigor, deveríamos excluir os ativos que não contribuíram para a
geração da respectiva receita.
• Empresas em fase de expansão, que adquirem ativos imobilizados durante o
período, também introduzem imperfeição no índice, quando esses ativos não
forem utilizados no processo produtivo durante todo o período.

Já Sousa e Martins (2010) dizem que o sucesso de uma empresa depende, em primeiro
lugar, de um volume de vendas adequado.
Você já aprendeu que o volume de vendas deverá ter relação direta com o montante de
investimentos. Diagnosticar o sucesso ou o fracasso de uma empresa analisando apenas
se as suas vendas são elevadas ou não pode ser perigoso. Por isso, você deve sempre
conjugar este elemento (vendas) com os investimentos feitos no Ativo Total.
Quanto maior for o “giro” do Ativo pelas Vendas, maior será a taxa de lucro. Por isso, é
aconselhável manter o Ativo em um mínimo necessário.
Os mesmos autores advertem que Ativos ociosos, grandes investimentos em
Estoques, elevados valores de Duplicatas a Receber etc. prejudicam o Giro do Ativo e,
consequentemente, a rentabilidade.
Um giro lento, dependendo da atividade da empresa, pode ser justificado em indústrias
que produzam ou utilizem equipamentos pesados, como metrô, siderurgia etc. o que não
deve ocorrer num supermercado, que tem uma renovação de estoques muito rápida.

Tabela 28 Resumo sobre os principais índices de rentabilidade


Discriminação Fórmula Significado Interpretação
Margem opera- LO x 100 % do lucro operacional em relação as vendas Quanto maior,
cional VL líquidas (ROL) melhor.
Margem líquida
LL x100 Quanto maior,
ou lucratividade % do LL em relação as Vendas Líquidas (ROL)
VL melhor.
das vendas
Taxa de retorno
LO x100 Mede a rentabilidade das operações em Quanto maior
sobre o ativo
AO relação ao ativo operacional melhor.
operacional
Taxa de retorno
LL x100 Quanto maior,
sobre o Investi- % de LL em relação ao Ativo total
AT melhor
mento
Taxa de retorno LL x100 Quanto maior,
% de LL em relação aos capitais próprios
sobre o PL PL melhor
VL x100 Quantas vezes o Ativo Total foi renovado pelas Quanto maior,
Giro do ativo AM vendas. melhor
Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

155
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
3.3 RESUMO DOS INDICADORES

Tabela 29 Resumo dos Indicadores


CONTAS EXERCICIO X1 EXERCÍCIO X2
QUOCIENTES FINANCEIROS
• Estrutura de capitais
• Endividamento total 77% 62%
• Participação de capital de terceiros 340% 161%
• Garantia de capital de terceiros 29% 62%
•Composição do endividamento 100% 61%
•Imobilização do Patrimônio Líquido(capital próprio) 160% 110%
•Imobilização dos recursos não correntes 160% 68%
•Liquidez
•Liquidez geral 0,82 0,94
• Liquidez corrente 0,64 1,35
• Liquidez Seca 0,29 0.90
• Liquidez imediata 0,12 0,39
QUOCIENTES ECONÔMICOS
Rentabilidade
•Margem bruta 61% 66%
• Margem operacional 16% 33%
• Giro do Ativo 2,34 2,44
• Margem Líquida 9% 17%
• Rentabilidade do Ativo (ROI ou ROA 21% 42%
• Rentabilidade do Patrimônio Líquido (ROE) 96% 132%
Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

156
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
3.4 QUINTA ETAPA: INTERPRETAÇÃO DOS QUOCIENTES

3.4.1 Quocientes Financeiros

A seguir, será feita a interpretação dos quocientes financeiros que são as de Estrutura
de Capitais e de Liquidez.

3.4.1.1 Estrutura de Capitais

• Endividamento total – foi visto que 77% do Ativo da empresa são financiados
com recursos de terceiros, ou seja, para cada R$ 100 aplicados no Ativo, a empresa
utilizou R$ 77 de capital de terceiros em X1 e em X2 62%.
• Participação dos Capitais de Terceiros – tanto em X1 quanto em X2 a empresa
encontrava-se endividada, pois trabalhava com Capitais de Terceiros em proporção
maior do que com Capitais Próprios.
• Garantia de capital de terceiros – percebam que em X1 a empresa tinha só R$
29 de capital próprio em relação a terceiros e que em X2 este indicador melhorou
muito, passando para R$ 62 ficando quase favorável a margem de garantia dada
aos capitais alheios.
• Composição do Endividamento – no exercício de X1, a maior parte dos Capitais
de Terceiros foi tomada para pagamento a curto prazo. No exercício de X2, a
situação melhorou, pois, a proporção dos Capitais de Terceiros de Curto Prazo em
relação aos de Longo Prazo passou de 100% para 61%.
• Imobilização do Patrimônio – nos dois exercícios, o Patrimônio Líquido não foi
suficiente para cobrir os Investimentos efetuados no Ativo Permanente, e revela
que Capitais de Terceiros foram utilizados para cobrir o excesso.
• Imobilização dos Recursos Não-Correntes – a queda de mais de 100%, observada
no exercício de X2 em relação ao exercício de X1, ocorreu em função de a empresa
ter tomado empréstimos de longo prazo para pagar os compromissos de curto
prazo, revelando boa administração de suas dívidas.

157
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
3.4.1.2 Liquidez

• Liquidez Geral – o quociente revela que nos exercícios de X1 e X2 a empresa não


conseguiu pagar seus compromissos com recursos próprios.
• Liquidez Corrente – em X1 a empresa tinha, no Ativo Circulante, $ 0,64 para cada
$ 1,00 de dívidas a curto prazo, apresentando situação desfavorável. Em X2, além
de pagar os compromissos de curto prazo, a empresa possuía ainda $ 0,35 de sobra
para cada $ 1,00 de dívida.
• Liquidez Seca – no exercício de X1, o quociente indicava a existência de
dificuldades financeiras para o cumprimento dos compromissos de curto prazo;
no exercício de X2, embora o índice indicasse ainda dificuldades, revelava, porém,
situação melhor.
• Liquidez Imediata – este quociente pouco ou quase nada acrescenta às conclusões
do analista acerca da situação financeira da Entidade.

3.4.2 Quocientes Econômicos

Será feita agora a interpretação dos quocientes econômicos que são os de Rentabilidade.

3.4.2.1 Rentabilidade

• Margem Bruta – em cada R$ 100 de vendas a empresa obteve R$ 61 de lucro


bruto e em X2 R$ 66 e isto significa que o resultado bruto correspondeu a 61% do
faturamento líquido (ROL).
• Margem Operacional- este quociente de 16% em X1significa que o resultado
operacional correspondeu a 16% das vendas líquidas ou, em outras palavras, em
cada R$ 100 de vendas a empresa obteve R$16 de lucro operacional e em X2, 33
centavos, dobrando o resultado do ano anterior.
• Giro do Ativo – o desempenho comercial da empresa praticamente se manteve de
um exercício para outro.
• Margem Líquida – este quociente vem confirmar as observações anteriores acerca
dos quocientes financeiros, que revelavam tendências de melhora na situação

158
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
financeira de um exercício para outro.
• Rentabilidade do Ativo – o quociente revela que a empresa se encontra realmente
em fase de crescimento.
• Rentabilidade do Patrimônio Líquido – em X1, a empresa obteve R$ 96 de
Lucro para cada R$ 100 de Patrimônio Líquido. Em X2, essa marca melhorou
consideravelmente, pois para cada $ 100 investido no Patrimônio Líquido a
empresa obteve $ 132 de Lucro Líquido.

159
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acadêmicos!!!
Bem, encerramos mais um estudo, em que foi tratado sobre Análise econômica
financeira das demonstrações contábeis, na qual abordamos todos os indicadores da
situação financeira, englobando os índices de estrutura de capital e os de liquidez e na
situação econômica os índices de rentabilidade.
Vimos que os índices de liquidez e de endividamento evidenciam a situação financeira
da empresa cuja preocupação está na obtenção e aplicação dos recursos e os índices de
rentabilidade estão preocupados com os resultados obtidos da empresa, ou seja, mostra
a situação econômica da empresa.
Já os indicadores econômicos procuram avaliar a capacidade da empresa em gerar
valor de forma a remunerar adequadamente todos quantos nela participam, como os
seus acionistas, trabalhadores, entre outros. (KNOOW, 2020).
Acreditamos que, com todos esses conhecimentos obtidos, você tenha plenas
condições de aplicá-los com sucesso nas atividades junto às organizações em que atuará.
A partir de agora, de posse das Demonstrações Contábeis de qualquer empresa, estarás
apto a aplicar, interpretar, proceder a análise e debater as Técnicas sobre as questões
relacionadas a esse tema.

160
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EXERCÍCIOS

1º) Os dados seguintes foram extraídos do Balanço Patrimonial da Milever SA


AC = 662
Estoques = 115
ARLP = 195
PC = 396
PELP = 150

Agora, preencha as linhas pontilhadas com as informações solicitadas:

a). índice de liquidez seca: ..............


Para cada R$ 1,00 de .................................. vencíveis a ....................... prazo, a empresa
possui R$ .............., sem contar com a realização das vendas de seus estoques.

b). índice de liquidez geral: ..............


Para cada R$ 1,00 do total das .................................., a empresa dispõe de R$ .................
de recursos disponíveis e realizáveis a curto e longo prazo.

c). índice de liquidez corrente: ....................


Para cada R$ 1,00 de ................................... vencíveis a ..................... prazo, a empresa
possui R$ .............. de valores disponíveis e realizáveis no Ativo .....................

2º) Marque certo ou errado:

a) A Empresa Boguota obteve um lucro de R$ 1.800.000,00 durante X7; no mesmo


período,
a Empresa Palhoça obteve um lucro de R$ 15.750.000,00. Com base nessas informações,
podemos afirmar que a Empresa Palhoça teve maior retorno que a Empresa Boguota.
( ) certo ( ) errado

b) O ROI/ROA mostra o poder de ganho da empresa.


( ) certo ( ) errado

c) O ROE mostra o poder de ganho dos proprietários.


( ) certo ( ) errado

161
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
d) O ROI/ROA é obtido por meio da fórmula . Lucro Líquido x 100
Ativo Total médio
( ) certo ( ) errado

e) O Giro do Ativo é calculado pela fórmula . Ativo Total médio x 360


Lucro Líquido
( ) certo ( ) errado

f) Os índices de rentabilidade têm por objetivo avaliar o desempenho final da empresa.


( ) certo ( ) errado

3º ) Considerando os quocientes de três períodos consecutivos, qual a tendência mais


provável para a Empresa H.

Endividamento total = PE = 0,70; 0,60; 0,50


AT

a) ( ) A atividade econômica está sendo financiada cada vez menos por recursos
próprios;
b) ( ) Os recursos próprios estão aumentando cada vez mais em relação aos recursos
de terceiros;
c) ( ) Há indícios de aumento de recurso de terceiros aplicados em bens e direitos;
d) ( ) O endividamento total da empresa está com seu nível cada vez mais elevado.

162
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e análise de balanços: Um enfoque econômico-


financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015.

AZZOLIN, José Laudelino. Análise das demonstrações contábeis. Curitiba – PR: IESDE,
2012.

DINIZ, Natália. Análise das demonstrações financeiras. Rio de Janeiro: SESES, 2015.

IUDÍCIBUS, Sérgio de Análise de balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

LUNELLI, Reinaldo Luiz. Análise de Balanço e Demonstrações Financeiras. Curitiba –


PR: Disponível em: www.cadernodenegocios.com.br. Distribuição: Caderno de Negócios
Acesso em 02 jun. 2020.

MARION, José Carlos; RIBEIRO, Osni Moura. Introdução à contabilidade gerencial. São
Paulo: Saraiva, 2011

MARION, José Carlos. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial.


8. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

MATARAZZO, Dante Carmine. Analise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7.


ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MONTOTO, Eugenio. Contabilidade geral e avançada esquematizado.5. ed. São Paulo:


Saraiva Educação, 2018.

PADOVEZE, Clovis Luis. Controladoria Estratégica e Operacional: conceitos, estrutura e


aplicação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
RIBEIRO, Osni Moura. Estrutura e análise de balanços fácil.11. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.

SCHMIDT, Paulo; SANTOS, José Luiz dos; KLOECKNER, Gilberto. Avaliação de Empresas:
foco na gestão de valor da empresa - teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2006.

SILVA, José Pereira da. Análise financeira das empresas.13. ed. São Paulo: Cengage
Learning Edições Ltda , 2017.

SOUSA, Dayse Pereira Cardoso; MARTINS, Roberto. Análise das demonstrações


contábeis. v.2 e v 3. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.

163
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
164
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4
unidade
ANÁLISE ECONÔMICA
FINANCEIRA DAS
DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS – PARTE 2

165
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
INTRODUÇÃO A UNIDADE

Prezado acadêmico, seja bem-vindo a última unidade do nosso caderno, que é a


Unidade 4, na qual estudaremos tópicos que, de uma maneira geral, são as essências para
nossa disciplina de Análise das demonstrações financeiras e indicadores de desempenho.
Vocês sabem que o objetivo da Análise das Demonstrações Financeiras é oferecer um
diagnóstico sobre a real situação econômico-financeira da organização e neste sentido a
responsabilidade do contador é fornecer essas informações aos seus dirigentes usuários.
Apenas com o domínio das técnicas de análise das demonstrações contábeis é que se
torna possível fazer a avaliação do patrimônio da empresa e das decisões tomadas, tanto
no que se refere ao passado (já retratado nas demonstrações contábeis) quanto ao futuro
que pode ser visualizado pelo orçamento financeiro, portanto, determina-se, então, a
importância da Análise das Demonstrações Financeiras e indicadores de desempenho.
Diante ao exposto, serão discutidos todos os Índices de Atividades (PMRE, PMRV
e PMPC), além dos Índices de Giro ou Rotação (GE, GDR e GF), o Ciclo Financeiro e
Operacional e Fator de Insolvência, tão importante para a gestão apropriada dos negócios.
Na sequência, completando esta Unidade 4, temos os Quocientes padrão, o Relatório
de Análise, a Alavancagem financeira, Estrutura e Custo de Capital (custo do capital
próprio, de terceiros e o custo médio ponderado).
Completando ainda mais esse material, vamos estudar o Capital de Giro pelo modelo
tradicional e o Modelo Dinâmico também chamado Modelo de Fleuriet, as NCG, Saldo da
Tesouraria e o Efeito Tesoura.
Agregando este conteúdo temos os indicadores especiais como Análise DuPont,
EBITDA, EBIT, NOPAT, EVA MVA e Spread do acionista.
Meu desejo é que vocês curtam cada tópico, porque foi escrito com muito carinho,
pensando no aprendizado e sucesso de todos.
Neste sentido, a Unidade terá como objetivos de aprendizagem:
• Apresentar e aplicar a técnica de Análise por Quocientes na modalidade
denominada índices de atividade.
• Interpretar os resultados dos quocientes de atividade, sinalizando algumas
conclusões sobre eles.
• Dar subsídios para compreender o ciclo operacional e financeiro.
• Descrever o uso dos quocientes padrão e relatar a forma de composição desses
índices.
• Redigir um Relatório de Análise sobre a situação econômico-financeira da
empresa.

166
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Calcular o custo de capital de terceiros.
• Estimar o custo de capital próprio.
• Demonstrar o cálculo do custo médio ponderado de capital.
• Entender os principais elementos da gestão do capital de giro.
• Dimensionar a Necessidade de Capital de Giro (NCG), o Capital Circulante Líquido
(CCL) e o Saldo de Tesouraria (ST).
• Demonstrar a importância do Efeito Tesoura.
• Calcular a rentabilidade e explicar seu comportamento através da Análise DuPont.
• Identificar como o EBITDA pode auxiliar no desempenho operacional da
organização.
• Calcular o NOPAT e mostrar que é um indicador medirá a capacidade da empresa
em gerar lucro.
• Reconhecer o Economic Value Added (EVA) como ferramenta de gestão.
- Analisar o método de cálculo do Market Value Added (MVA).

Além de fixar os conceitos, serão apresentados cálculos extremamente práticos e de


aplicação imediata, de forma a capacitar os futuros profissionais a conhecer as técnicas
utilizadas na elaboração dos indicadores, discutindo e analisando sua utilização para a
tomada de decisão na gestão empresarial.

Desejo a todos bons estudos!!!


Sucesso!!!

167
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.1 INDICES DE ATIVIDADES

Os índices de atividade na visão de Sousa e Martins (2010) revelam a velocidade com


que alguns elementos patrimoniais giram durante o exercício. Podem ser expressos em
períodos de tempo (dias, meses ou ano), quando são denominados índices de prazos
médios, ou em número de giros ao ano, quando são chamados índices de rotação ou giro.
Também denominados de índices de administração de ativos, os índices de atividades
segundo Schmidt, Santos e Kloeckner (2006), objetivam avaliar a eficiência com que a
empresa está gerindo seus ativos, bem como fornecer informações capazes de avaliar
o adequado dimensionamento dos ativos com base no nível de operação da empresa.
Esse dimensionamento adequado é importante porque um nível abaixo do ótimo pode
fazer com que a empresa perca vendas, e um nível acima do ótimo pode gerar despesas
financeiras excessivas, já que parte dos ativos é adquirida com capital de terceiros.

ATENÇÃO!!!
Os índices de atividade mostram os prazos em que a empresa realiza seus
ativos e os prazos em que deve saldar suas dívidas.

Conhecidos também como Índices de Eficiência, Lunelli (2020) diz que estão
relacionados com as contas resultantes da operação da empresa, obtidos tanto no balanço
patrimonial quanto no demonstrativo de resultados do exercício e buscam evidenciar a
dinâmica operacional da empresa.
Os indicadores são calculados inter-relacionando o produto das transações da
companhia e o saldo constante ainda no balanço patrimonial. De modo geral, os
indicadores devem refletir as políticas que norteiam a administração do fluxo de caixa,
bem como da capacidade da empresa em manter um fluxo de caixa contínuo. Além disso,
evidenciam ainda a produtividade dos ativos da sociedade.

VOCÊ SABIA!!!
Que os índices de atividade também são chamados de eficiência?

168
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Figura 5 Análise por Quocientes
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

Em relação à importância dos índices de atividade no processo de análise das


demonstrações contábeis, Assaf Neto (2015) comenta que eles são mais dinâmicos e
permitem que seja analisado o desempenho operacional de uma empresa, assim como
suas necessidades de investimento em giro.

ATENTOS!!!
Os indicadores de atividade permitem que seja analisado o desempenho ope-
racional da empresa, bem como as necessidades de investimento em giro.

4.1.1 Índices de prazos médios

Os indicadores de prazos médios demonstram quantos dias à empresa demora, em


média, para receber as suas vendas a prazo, pagar as suas compras a prazo e renovar os
seus estoques.
A situação financeira da empresa para Sousa e Martins (2010) será tanto melhor quanto
maior for à velocidade de recebimento de vendas, de renovação de estoques e quanto
mais lento for o pagamento das compras, desde que isso não corresponda a atrasos.
Os mesmos autores alertam que esses índices de prazos médios não devem ser
analisados individualmente, mas sempre em conjunto, a fim de poder-se verificar se os
prazos vêm sendo favoráveis ou desfavoráveis à empresa.

169
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O QUE SIGNIFICA PRAZOS MÉDIOS?
É o tempo médio com que a empresa realiza seus ativos ou paga suas dívidas.
Por exemplo, em relação às Duplicatas a Receber, não significa que a empresa só
receberá todos os recursos de uma só vez em tantos dias, mas sim que ela, em média, receberá
os recursos ao longo de tantos dias, podendo receber uma parte deles a cada dia.

A análise desses indicadores tem como objetivo, permitir ao analista conhecer a


política de compra e venda adotada pela empresa e, a partir dela, constatar a eficiência
com que os recursos em estoques, duplicatas a receber e fornecedores estão sendo
administrados, bem como conhecer suas necessidades de investimento em giro.

São índices de rotatividade:


• prazo médio de renovação de estoque (PMRE);
• prazo médio de recebimento de vendas (PMRV);
• prazo médio de pagamento de compras (PMPC).

Figura 6 Indicadores de atividade


Fonte: Adaptada por Sousa e Martins (2010)

FIQUE DE OLHO!!!
O analista externo deve tomar muito cuidado na análise dos prazos médios,
devendo utilizá-la somente quando souber que o ramo de atividade oferece razoá-
vel regularidade. (SOUSA; MARTINS, 2020).

Para analisarmos os indicadores a seguir, utilizaremos os Balanços Patrimoniais e as


Demonstrações do Resultado do Exercício da Empresa Vale Doce S.A., que usamos na
Unidade 2 e na Unidade 3.

170
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 29 Balanço Patrimonial Padronizado da Vale Doce S.A., em 31/12/x2
CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Financeiro
• Disponibilidades 10.500 21.860
• Investimentos Temporários a Curto Prazo 7.000
Soma 10.500 28.860
Operacional
• Contas a Receber de Clientes 14.500 20.500
• Estoques 30.000 25.000
• Outros Direitos de Curto Prazo
Soma 44.500 45.500
Total do Ativo Circulante 55.000 74.360
ATIVO NÃO CIRCULANTE 55.000 71.640
• Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Investimentos 6.000
•. Imobilizado 29.200 46.040
•. Intangível 10.800 9.600
Total do Ativo 110.000 146.000
PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
Operacional
•.Contas a Pagar a Fornecedores 26.000 20.000
•.Outras Obrigações de Curto Prazo 19.000 22.000
Soma 45.000 42.000
Financeiro
•.Empréstimos 30.000 5.000
•. Duplicatas Descontadas 10.000 8.000
Soma 40.000 13.000
Total do Passivo Circulante 85.000 55.000
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
•.Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000

171
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EXIGÍVEL TOTAL 85.000 90.000
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
•. Capital 7.000 10.000
•. Reservas 18.000 46.000
Total do Patrimônio Líquido 25.000 56.000
Total do Passivo 110.000 146.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 30 Demonstração do Resultado do Exercício da Vale Doce S.A., em 31/12/x2


RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 312.000
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS VENDIDOS (94.000) (106.000)
LUCRO BRUTO 146.000 206.000
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) (39.000)
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) (55.000)
• Outras Despesas Operacionais (6.000) (9.000)
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado financeiro) 59.000 103.000
(+) Receitas financeiras 1.000 11.000
(-) Despesas financeiras (22.400) (12.400)
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 101.600
(+ ou -). Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 101.600
(-) Provisões (16.000) (40.000)
(-) Participações - (8.200)
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 53.400
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

4.1.1.1 Prazo Médio Renovação dos Estoques

O prazo médio de renovação de estoques indica, em média, quantos dias determinada


empresa leva para vender seu estoque. Quanto menor for o resultado encontrado para
esse índice, melhor. Carneiro, Ribeiro e Borges (2014) dizem que quando esse índice

172
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
diminui de um ano para outro, significa que a empresa está sendo mais eficiente, pois
está “girando” seu estoque mais rápido.
Para Assaf Neto (2015), na maioria das vezes, na prática, não é possível identificar
separadamente os vários componentes do estoque: matérias-primas, produtos
em elaboração e produtos acabados, pois tais valores estão totalizados no balanço
patrimonial. Normalmente, este tipo de situação ocorre nas empresas do segmento
industrial. Portanto, para as empresas desse segmento, o prazo médio de renovação
de estoques revela o tempo médio que os estoques totais permanecem armazenados à
espera de ser consumidos, produzidos e vendidos.

Fórmula
PMRE = 360 Estoques
Custo das vendas

O item “estoques” pode ser encontrado no Balanço Patrimonial, dentro do Ativo


Circulante, e representa o montante de mercadorias (comércio) ou de produtos acabados
(indústria) que a empresa possui à disposição para serem vendidos. O item “custo das
vendas anuais” pode ser encontrado na Demonstração do Resultado do Exercício e
representa o custo total desembolsado durante o ano para se produzir os produtos que
foram vendidos pela empresa.
Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula
PMRE = 360 Estoques
Custo das vendas

• X1 = PMRE = 360 30.000 = 115 dias X2 = PMRE = 360 25.000 =85 dias
94.000 106.000

Observamos que a empresa demora por volta de 115 dias para vender seu estoque em
X1 e que esse prazo diminuiu para 85 dias em X2, melhorando um pouco a sua situação.

173
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.1.1.2 Prazo Médio de Recebimento de Vendas (PMRV)

Para Carneiro, Ribeiro e Borges (2014), o prazo médio de recebimento de vendas indica,
em média, quantos dias determinada empresa leva para receber as vendas a prazo que fez
para seus clientes. Quanto menor for o resultado encontrado para esse índice, melhor.
Quando esse índice diminui de um ano para outro, significa que a empresa está sendo
mais eficiente, pois está conseguindo receber as vendas feitas a um prazo mais rápido.

FIQUE DE OLHO!!!
Se as vendas da empresa forem efetuadas à vista, o PMRV é nulo.

Já Sousa e Martins (2010) dizem que este índice exprime, em média, quanto tempo a
empresa leva desde o momento das vendas totais de seus produtos ou mercadorias e o
efetivo recebimento do total de suas Duplicatas a Receber.

Fórmula
PMRV = 360 Duplicatas a Receber
Vendas brutas – Dev. e abat.

O item “duplicatas a receber” pode ser encontrado no Balanço Patrimonial, dentro do


Ativo Circulante, e representa o montante de recebimentos que a empresa possui com
seus clientes, proveniente das vendas que fez a prazo. O item “vendas anuais” pode ser
encontrado na Demonstração do Resultado do Exercício, e representa o valor total bruto
faturado pela empresa.
Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula
PMRV = 360 Duplicatas a Receber
Vendas brutas – Dev. e abat.

• X1 = PMRV = 360 14.500 = 22 dias X2 = PMRE = 360 20.500 =24 dias


240.000 312.000

174
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
No exemplo apresentado observamos que em X1 o prazo médio de recebimento das
vendas da empresa é de 22 dias, passando para 24 dias (aproximadamente) em X2. Isso
mostra que a empresa está oferecendo aos seus clientes um pequeno prazo a mais para
que possam pagar suas compras.
Para empresa vendedora, o ideal é que esse índice seja o mais baixo possível. Um
PMRV alto pode ser indício de Duplicatas a Receber em atraso (imobilização de recursos
ainda não convertidos em espécie).

4.1.1.3 Prazo Médio de Pagamento das Compras (PMPC)

O prazo médio de pagamento de compras indica, em média, quantos dias determinada


empresa leva para pagar seus fornecedores. Quanto maior for o resultado encontrado
para esse índice, melhor. Quando esse índice aumenta de um ano para outro, Carneiro,
Ribeiro e Borges (2014), dizem que significa que a empresa está sendo mais eficiente, pois
está conseguindo prazos maiores para pagar seus fornecedores.

VOCÊ SABIA!!!
Que, se todas as compras da empresa forem efetuadas à vista, o PMPC é nulo?

Ribeiro (2014) comenta que, para efeito de apuração desse índice, devem ser
consideradas apenas as resultantes de compras de mercadorias ou matérias-primas a
prazo, geralmente representadas pelas contas “fornecedores” e “duplicatas a pagar”.

Fórmula
PMPC = 360 Fornecedores
Compras

O item “fornecedores” pode ser encontrado no Balanço Patrimonial, dentro do


Passivo Circulante, e representa o montante da dívida que a empresa possui com seus
fornecedores, proveniente das compras que fez a prazo.
Para se encontrar o item “compras”, deve-se utilizar a seguinte fórmula:

175
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CPV = EI + C - EF

Em que:
CPV = Custo dos Produtos Vendidos
EI = Estoque inicial
C = Compras
EF = Estoque final
Assim:
CPV = EI + C – EF
C = EF + CPV – EI

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Obs: As compras para X1 foram informadas no valor de R$ 104.000 devido à falta de


informações que é o Balanço de X0, que não trabalhamos.

Para X2 calcula-se pela fórmula acima, com informações do balanço e da DRE da Vale
Doce S.A

Compras em X2
C = EF + CPV – EI
C = 25.000 + 106.000 – 30.000 =
C = 101.000
Achando o saldo de compras para 20x2 e 20x3, teríamos:
Fórmula
PMPC = 360 Fornecedores
Compras

• X1 = PMPC = 360 26.000 = 90 dias X2 = PMPC = 360 20.000 = 71 dias


104.000 101.000

Com os dados observamos que o prazo médio de pagamento das compras em X2 era
de em média 90 dias e em X3 baixou para 71 dias.
Comparando com os índices de recebimento de clientes para o ano de X2 concluímos
que a empresa concede prazo para os seus clientes de 22 dias para que paguem suas
mercadorias e ganha um prazo de fornecedores de 90 dias para saldar suas dívidas e em
X3, 24 dias para receber suas vendas e para pagar seus fornecedores 71 dias.

176
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Essa estratégia é muito interessante, porque a empresa tem um prazo para investir o
dinheiro em outros negócios antes de pagar seus fornecedores.
Ressalta-se, mais uma vez, que a análise de prazos médios deve ser feita em conjunto
(PMRE, PMRV e PMPC).

FIQUE LIGADO!!!
Na análise dos índices de atividade, é de fundamental importância que o
analista tenha conhecimento da qualidade dos elementos patrimoniais (existem
estoques obsoletos? Créditos duvidosos? Duplicatas a Receber e Fornecedores em atraso? etc.).
Se não detectados, o resultado da análise revela-se extremamente enganoso.

4.1.1.4 Índice de Posicionamento de Atividades (IPA) ou Quociente de


Posicionamento Relativo (QPR)

O índice de posicionamento de atividade visa identificar se determinada empresa


possui “folga” em seu fluxo de caixa, pois, para ser calculado, leva em conta três dos
principais prazos que compõem seu ciclo operacional.
Através desse quociente, o analista verifica a posição relativa da empresa em termos
de liquidez de sua capacidade de pagamento.

Fórmula

IPA = PMRE + PMRV = < menor ou igual a 1


PMPC

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

• X1 = IPA = 115 + 22 = 1,52 X2 IPA = 136 + 24 = 2,25


90 71

O resultado apresentado pelo posicionamento de atividade, de 1,52 é desfavorável,


mas em X2 piorou a situação, pois se considera que o ideal de resultado para esse índice

177
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
seja o mais próximo de 1, ou menor que 1.
Diante da situação apresentada em X2, a empresa leva para vender (PMRE) e para
receber (PMRV) as vendas realizadas um prazo considerado longo, de 160 dias (136 + 24).
No entanto, ela possui 71 dias para pagar suas compras. Nesse caso, fica evidente que a
empresa nem realizou vendas ainda, porém já desembolsou com salários de funcionários,
pagamento de fornecedores, entre outros, o que resulta em dificuldades de capital de giro.
Para melhorar a situação, tem que aumentar o prazo das compras, diminuir o prazo
dos recebimentos das vendas e diminuir o prazo dos estoques. Portanto, quanto maior
for o valor encontrado para tal índice, pior será a situação de fluxo de caixa da empresa.
Segundo Marion (2019), o ideal é que esse índice fosse próximo de 1, ou de valor
menor que 1. Dessa forma, a empresa poderia vender e receber a mercadoria adquirida
(caso do segmento comercial) para, depois, liquidá-la junto a seu fornecedor. O autor
afirma que nem sempre trazer esse índice em situação favorável (inferior a 1) é tarefa
fácil; no entanto, não resta dúvida de que melhorar esse índice deve ser uma meta que as
empresas devem estar sempre perseguindo para melhorar seu fluxo de caixa
Interpretação: Se o índice encontrado for < 1 (menor ou igual a um) representa uma
situação favorável, ou seja, a empresa não necessita de capital de terceiros ou próprio
para financiar suas operações.
O ideal seria que a empresa atingisse uma posição em que a soma do PMRE com o
PMRV fosse igual ou inferior ao PMPC. Desta forma a empresa poderia vender e receber a
mercadoria adquirida para depois liquidá-la junto ao seu fornecedor.

Exemplo:
PMRE = 30 dias
PMRV = 54 dias
PMPC = 90 dias

IPA = PMRE + PMRV


PMPC

IPA = 30 + 54 = 0,93 >>> FAV. 30 + 54 = 84


90 – 84 = 6

A empresa teria ainda em média uma folga de 6 dias

178
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
VALE LEMBRAR QUE!!!
De o IPA encontrado for < 1 (menor ou igual a um) representa uma situação
favorável, ou seja, a empresa não necessita de capital de terceiros ou próprio para
financiar suas operações.

4.1.2. Índices de giro ou de Rotação

Estes quocientes, importantíssimos, representam a velocidade com que elementos


patrimoniais se renovam durante determinado período de tempo. Por sua natureza,
têm seus resultados normalmente apresentados em dias, meses ou períodos maiores,
fracionários de um ano.
Neste sentido, Iudícibus (2017), diz que:

a importância de tais quocientes consiste em expressar relacionamentos


dinâmicos – daí a denominação de quocientes de atividade (rotatividade)
– que acabam, direta ou indiretamente, influindo bastante na posição
de liquidez e rentabilidade. Normalmente, tais quocientes envolvem
itens do demonstrativo de posição (balanço) e do demonstrativo de
resultados, simultaneamente.

O inverso de cada prazo operacional na visão de Sousa e Martins (2010) é definido por
giro, e indica o número de vezes que ocorreu determinada fase operacional.
O objetivo da análise de giro ou rotação é informar quantas vezes ao ano as Duplicatas
a Receber, Estoques e Fornecedores se renovam.
Esses índices de rotação são obtidos através dos dados das demonstrações financeiras.
São eles:
• giro dos estoques (GE);
• giro de duplicatas a receber (GDR);
• giro de fornecedores (GF).

179
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
IMPORTANTE!!!
Índices de giro ou de Rotação representam a velocidade com que elementos
patrimoniais se renovam durante determinado período de tempo.

Figura 7 Índices de Giro


Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

4.1.2.1 Giro dos estoques (GE)

Este quociente, muito divulgado, procura (mensurado pelo custo das vendas)
representar quantas vezes se “renovou” o estoque por causa das vendas. Através do uso
do indicador GE, a empresa obtém a quantidade de dias que os estoques giram ou são
renovados dentro de um período, ou seja, um ano.
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE,
2015), o giro de estoque (GE) representa um importante indicador que busca mensurar
a velocidade com que o inventário empresarial está sendo vendido. Esse indicador é um
instrumento que busca auxiliar a gestão de estoques, pois demonstra a capacidade total
dos suprimentos, considerando dos fornecedores aos clientes.

Obs:
• Quanto maior for o giro dos estoques, mais eficientemente a empresa estará
gerenciando seus estoques.
• Estoques ou estoques médios. O resultado é o número de vezes.

180
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula:

GE = Custo dos Produtos Vendidos = X1= 94.000 = 3,13 X2 = 106.000 = 4,24


Estoques 30.000 25.000

ou

GE = 360 X1 360 = 3,13 X2 = 360 = 4,24


PMRE 115 85

O giro do estoque da Vale S.A foi de 3,13 vezes em X1, melhorando para 4,24 vezes em
X2.
Iudícibus (2017), atenta para o seguinte: um acréscimo da rotação do giro não significa,
necessariamente, aumento de lucro. Além disso, alguns acréscimos de despesa derivantes
do esforço adicional de venda (como despesas financeiras para empréstimos de capital
de giro necessários para sustentar a venda adicional) não seriam incluídos no Custo dos
Produtos Vendidos, o que talvez nos leve a analisar o efeito de um acréscimo da rotação
sobre o lucro líquido, e não sobre o lucro bruto.

ATENTOS!!!
Quanto maior for o giro dos estoques, mais eficientemente a empresa estará
gerenciando seus estoques.

4.1.2.2 Giro de Duplicatas a Receber (GDR)

Conforme Assaf Neto e Silva (2011), o giro das duplicatas a receber representa a
quantidade de vezes ao ano em que as contas a receber de uma empresa são transformadas
em caixa. Este índice mede a liquidez das Duplicatas a Receber da empresa.
Para obter o resultado do GDR, é preciso considerar as informações relacionadas às
vendas a prazo realizadas pela empresa e os valores que serão recebidos.

181
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Obs:
• Quanto maior for a rotação das duplicatas a receber, melhor para a empresa.
• Duplicatas a receber ou Duplicatas a receber médias. O resultado é o número de
vezes.

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula:

GDR = Vendas brutas – Dev. e abat. = X1 = 240.000 = 16,55 X2 = 312.000 = 15,22


Duplicatas a Receber 14.500 20.500

Ou

GDR = 360 X1 = 360 = 16,36 X2 = 360 = 15


PMRV 22 24

Para a empresa tanto X1 como X2 o Giro das Duplicatas a Receber está excelente, ou
seja, um giro elevado representa maior eficiência na gestão dos fundos aplicados no
financiamento das vendas a prazo.

VOCÊ SABIA!!!
Quanto maior for a rotação das duplicatas a receber, melhor para a empresa.

4.1.2.3 Giro de Fornecedores (GF)

Esse quociente indica o número de vezes em que são renovadas as dívidas com os
fornecedores da empresa.
A finalidade desse indicador é mostrar o prazo médio que a empresa consegue para
pagar seus fornecedores de materiais e serviços. Para esta análise a empresa depende da
política de crédito adotada pelos seus fornecedores.

182
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Obs:
- Quanto menor for a rotação de Fornecedores, melhor para a empresa.
- Fornecedores ou Fornecedores médios. O resultado é o número de vezes.

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula:
GE = Compras Brutas – Dev. e abat X1 = 104.000 = 4 X2 = 101.000 = 5,05
Fornecedores 26.000 20.000
ou
GE = 360 X1 = 360 = 4 X2 = 360 = 5,07
PMPC 90 71

Observa-se que X1 foi melhor que X2, pois este último teve aumento no giro e este
aumento é devido ao PMPC que diminuiu de 90 para 71 dias, ou seja, com isso, os
fornecedores giraram mais vezes.

Quadro 13 Resumo dos índices de atividades


Prazo médio de renovação de estoques
Índices de Prazos Médios
Prazo médio de recebimento de vendas
(expressos em período de tempo)
Prazo médio de pagamento das compras
Giro de estoques
Índices de Giro
Giro de duplicatas a receber
(expressos em nº de giros ao ano)
Giro de fornecedores
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010):

Algumas considerações sobre os prazos médios e os giros.

Considerações acerca de Estoques, PMRE e GE na visão de Sousa e Martins (2010):


• O volume de estoques mantidos por uma empresa decorre basicamente de seu
nível de vendas e de sua política de estocagem.
• Estoques elevados exigem maior comprometimento de recursos da empresa (além
do custo de aquisição ou fabricação, transportes, armazenamento, seguros etc.).
• Não se devem manter estoques elevados à custa de endividamento bancário.
• Prazos médios altos não serão necessariamente piores para a empresa, desde que
ela consiga recuperar a lucratividade através da margem de lucro.
• Por outro lado, a empresa pode optar por margens menores, se tiver condições de
renovar seus estoques mais rapidamente.

183
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Do ponto de vista de análise de risco, o PMRE é do tipo quanto maior, pior.
• Do ponto de vista de análise gerencial, o GE é do tipo quanto maior, melhor.

FIQUE ATENTO!!!
Quanto menor for a rotação de Fornecedores, melhor para a empresa.

Considerações acerca de Recebimento de Vendas, PMRV e GDR para Sousa e Martins


(2010):
• Afrouxamento da exigência na análise de risco de crédito para obtenção de maior
fatia de mercado tende a acarretar maior volume de contas incobráveis e gastos
com cobrança.
• Do ponto de vista de análise de risco, o PMRV é do tipo quanto maior, pior.
• Do ponto de vista de análise gerencial, o GDR é do tipo quanto maior, melhor.
• Baixa rotatividade (maior prazo médio de recebimento) pode ter, entre outras
causas: demasiada liberalidade na concessão de créditos e deficiências do
departamento de cobrança.
• O fato de uma empresa demorar mais ou menos tempo para receber suas vendas
a prazo pode ser resultado de vários fatores, tais como: usos e costumes do ramo
de negócios, políticas de crédito, eficiência do serviço de cobrança, boa liquidez
dos clientes etc.
• É necessário agir fortemente sobre os fatores que a empresa pode influenciar, a
fim de encurtar ao máximo possível esse prazo.

Quadro 14 Resumo sobre os índices de atividades


Índice Fórmula Indica Interpretação
Estoques x 360 Quantos dias a empresa demora
PMRE Quanto maior, pior.
CPV para girar seus estoques
Duplicatas Rec x 360 Quantos dias a empresa leva para
PMRV Quanto maior, pior.
Vendas Brutas – Dev. Abat receber de seus clientes
Fornecedores x 360
Quantos dias a empresa tem para
PMPC Compras brutas – Dev. Quanto maior, melhor.
pagar seus fornecedores
Abat
CPV Número de vezes que o estoque se
GE Quanto maior, melhor.
Estoques renova no período

184
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Vendas Brutas – Dev. Abat Número de vezes que as duplicatas
GDE Quanto maior, melhor.
Duplicatas Rec a receber se renovam no período
Compras brutas – Dev. Número de vezes que as dívidas
Quanto menor,
GF Abat com fornecedores se renovam no
melhor.
Fornecedores período
Quanto mais próximo
Posição relativa da empresa em ter-
PMRE + PMRV de zero e menor que
IPA mos de liquidez de sua capacidade
PMPC 1, a posição é mais
de pagamento
favorável
Fonte: Adaptado de Sousa e Martins (2010)

Verifica-se, portanto, que a fórmula de cálculo de giro é o inverso da fórmula de prazos médios.
É importante que você saiba para fins de análise que quanto maior for à velocidade
de recebimento de vendas e de renovação de estoques, melhor. Da mesma forma, quanto
mais lento for o pagamento das compras, desde que não corresponda a atrasos, melhor.
Ressalta-se mais uma vez, que a análise de prazos médios (PMRE, PMRV e PMPC)
deve ser feita em conjunto, assim como os índices de rotação (GE, GDR e GF). (SOUSA;
MARTINS, 2020).
Para Sousa e Martins (2010), o analista deve se preocupar com as tendências dos
índices calculados e compará-los com os das empresas do setor.
Conjugando os três índices de prazos médios (PMRE, PMRV e PMPC) tem-se uma
visão do ciclo operacional e do ciclo financeiro da empresa.

4.1.3 Interpretação dos índices de atividade

Os indicadores de atividade têm o objetivo mensurar as várias etapas do ciclo de


uma empresa. Tais processos, medidos pelos indicadores de atividade, vão da gestão de
estoques até o prazo dado aos clientes a partir das vendas de mercadorias. (INDICADORES
DE ATIVIDADE: QUAIS SÃO OS MAIS IMPORTANTES E COMO CALCULÁ-LOS, 2020).

4.1.3.1 Ciclo financeiro ou ciclo de caixa (CF ou CC)

O ciclo financeiro ou ciclo de caixa compreende o período desde a data em que a


empresa realiza o pagamento das compras de mercadorias até o recebimento das vendas
a prazo.

185
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ATENÇÃO!!!
A boa gestão empresarial de uma empresa é revelada pela competência na
administração de seus prazos médios, expressos através do ciclo financeiro.

Inicia-se com o pagamento das compras da matéria-prima/mercadoria (fornecedores)


e encerra-se com o recebimento da venda do produto fabricado ou mercadoria adquirida.
De acordo com Assaf Neto (2003), ciclo de caixa é o período de tempo existente desde
o desembolso inicial de despesas até o recebimento do produto da venda.
O ciclo financeiro pode ser desfavorável ou favorável e é obtido por meio da seguinte
fórmula:

CF = PMRE + PMRV - PMPC

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

X1 = PMRE + PMRV - PMPC


CF = 115 + 22 - 90 = 47 dias Desfavorável

X2= PMRE + PMRV - PMPC


CF = 22 + 24 - 71 = (25) dias Favorável

Para a empresa em análise, percebe-se que em X1 o seu ciclo financeiro foi de 47 dias
desfavorável, significando que não terá saldo em caixa para pagar suas compras. Vejam
que a soma do PMRE com PMRV é maior que o PMPC, ou seja, a empresa demora 137 dias
para vender e receber sua mercadoria enquanto que para pagar seus fornecedores tem só
90 dias.
Ao contrário de X2, para renovar seu estoque e receber suas vendas tem 46 dias e para
pagamento 71 dias, tendo uma folga de caixa de 25 dias.

a) Ciclo financeiro desfavorável (CFD)


O ciclo financeiro desfavorável ocorre quando o prazo de pagamento das compras a prazo
é menor do que o prazo de recebimento das vendas a prazo, ou seja, a empresa tem que pagar
os fornecedores antes do recebimento das suas vendas a prazo. Nessa situação: pode ocorrer
um déficit no caixa, obrigando a empresa a recorrer a capitais de terceiros para quitar as suas
obrigações, além de efetuar o pagamento de juros decorrentes desses capitais.

186
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
b) Ciclo financeiro favorável (CFF)
O ciclo financeiro favorável ocorre quando o prazo de pagamento das compras a prazo
é maior do que o prazo de recebimento das vendas a prazo, ou seja, a empresa paga os
fornecedores depois do recebimento das suas vendas a prazo. Nessa situação, ocorre uma
folga de caixa, e a empresa tem a opção de realizar uma aplicação financeira e ganhar
rendimentos financeiros.

c) Estratégias para diminuir o ciclo financeiro:


• retardar o pagamento aos fornecedores, sem comprometer o conceito creditício
que a empresa possui junto aos mesmos;
• acelerar o recebimento das duplicatas, sem afastar os clientes por excesso de
rigor na cobrança. Desde que sejam economicamente justificáveis, os descontos
financeiros oferecidos para estimular a antecipação de pagamento facilitarão
alcançar os objetivos desta estratégia;
• manter estoques mínimos, porém sem o risco de paralização do processo produtivo
por falta de materiais e de perda de venda por falta de mercadorias.

Obs: Quanto maior for o ciclo financeiro, mais recursos próprios e de terceiros estarão
temporariamente aplicados nas operações, provocando custos financeiros e afetando a
rentabilidade.

4.1.3.2 Ciclo Operacional (CO)

O ciclo operacional compreende o período desde a data em que a empresa efetua as


compras de matérias-primas ou mercadorias até o recebimento de clientes.
O clico operacional vai da compra até o recebimento dessa venda. Inicia-se com a
compra da matéria-prima ou mercadoria e encerra-se com o recebimento da venda dos
produtos acabados. É a soma do prazo médio de renovação dos estoques e o prazo de
recebimento das vendas.

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

Fórmula:
CO = PMRE + PMRC

187
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
X1: 115 dias + 22 dias = 137 dias

X2: 85 dias + 24 dias = 109 dias

a) Ciclo operacional superavitário (COS)


O ciclo operacional superavitário ocorre quando o prazo médio de rotação de estoques
somado ao prazo médio de rotação de clientes é inferior, em dias ou meses, ao prazo
médio de pagamento a fornecedores.

COS = PMRE + PMRV < 1, em que COS é o ciclo operacional superavitário.


PMPC

Exemplo: COS = 40 dias + 50 dias = 1,52 < 1


100 dias

ATENTOS!!!
CO< 1
A empresa possui uma folga financeira, ou seja, recebe o pagamento dos
clientes antes do prazo de pagamento aos fornecedores, dispondo de um período para investir o
dinheiro e aumentar a sua rentabilidade final.

b) Ciclo operacional deficitário (COD)


O ciclo operacional deficitário ocorre quando o prazo médio de rotação de estoques
somado ao prazo médio de rotação de clientes é superior, em dias ou meses, ao prazo
médio de pagamento a fornecedores.

ATENÇÃO!!!
CO> 1
Nesse caso o recebimento de clientes só ocorre depois do prazo de pagamento
aos fornecedores, forçando a empresa a buscar novas fontes de financiamento, reduzindo a sua
rentabilidade final. Ao invés de realizar um investimento estará realizando um financiamento.

188
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
COD = PMRE + PMRV > 1, em que COD é o ciclo operacional deficitário.
PMPC

Exemplo: COD = 45 dias + 55 dias = 1,25 > I


80 dias

Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

X1 = 115 + 22 = 1,52 Ciclo deficitário


90

X2 = 22 + 24 = 0,65 Ciclo superavitário


71

4.2 FATORES DE INSOLVÊNCIA

Insolvência é a incapacidade de solver suas obrigações, ou seja, pela falta de dinheiro


no momento de vencimento de uma dívida.
Segundo Iudicibus (2015), o professor Stephen C. Kanitz, do Departamento de
Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo, desenvolveu um modelo de como prever falências, por meio
de tratamento estatístico de índices financeiros de algumas empresas que haviam falido.
Alguns resultados preliminares foram publicados num artigo da revista Exame,
de dezembro de 1974, sob o título “Como Prever a Falência das Empresas”. Na época,
construiu o chamado “termômetro da insolvência” que explicaremos rapidamente a
seguir, o qual é composto de um número reduzido de quocientes. Por outro lado, não
revelou a metodologia empregada para construir o termômetro. Somente pesquisa e
experimentação continuadas poderão testar definitivamente a validade de tais técnicas.

VOCÊ SABIA!!!
KANITZ, Stephen. Consultor de empresas e conferencista. Mestre em Adminis-
tração de Empresas pela Harvard University, foi professor da Faculdade de Econo-
mia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

189
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
No artigo citado, através de tratamento estatístico de dados de algumas empresas que
realmente faliram, conseguiu montar o que denominou de “fator de insolvência” e que
consiste em relacionar alguns quocientes, atribuindo pesos aos mesmos e somando e
subtraindo os valores assim obtidos. Conforme a soma recaia entre certos intervalos de
valor, a empresa estará na faixa de “insolvência”, de “penumbra” ou de “solvência”.
O método desenvolvido pelo professor Kanitz é semelhante a um termômetro
financeiro, onde há 3 métricas a serem observadas:

Área de solvência:
Nessa área estão às empresas que possuem o fator de insolvência maior que zero,
ou seja, são as empresas com o menor risco de falência. Conforme aumenta o fator de
insolvência, menor é a probabilidade de uma empresa quebrar. (TERMÔMETRO DE
KANITZ: SALVE EMPRESAS E CONQUISTE NOVOS CLIENTES, 2020).

Área de penumbra:
Empresas que estão entre a faixa de zero e -3, que estão com o risco muito alto de
insolvência e merecem uma análise mais criteriosa.

Área de insolvência:
Para as empresas que estão com o fator menor que -3, a probabilidade de falência é
enorme, e aumenta cada vez mais conforme o fator de insolvência diminui.
Esse termômetro, bem como a sua usabilidade nos demonstrativos financeiros, não
é somente fundamental para as empresas estarem sempre de olho na sua condição e
nas medidas que precisa tomar antes de chegar a um ponto irreversível de insolvência.
(TERMÔMETRO DE KANITZ: SALVE EMPRESAS E CONQUISTE NOVOS CLIENTES,
2020).

4.2.1 Modelo para prever falência desenvolvido pelo Professor Kanitz

A metodologia do “Fator de Insolvência” está devidamente consagrada, e este é


calculado da seguinte forma: em primeiro lugar, em encontrar o fator de insolvência da
empresa em análise. A fórmula do fator de insolvência não tendo sido explicada pelo
referido professor como se chegou a ela é a seguinte:

190
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1 – LL x 0,05
PL

2 – Liquidez Seca x 3,55

3 – Liquidez Geral x 1,65

4 – Liquidez Corrente x 1,06

5 – Exigível Total .x 0,33


PL

Fator de Insolvência = 1 + 2 + 3 - 4 – 5

Em segundo lugar investiga-se em que intervalo recai o fator de insolvência no


termômetro de insolvência.

Tabela 31 Termômetro de Insolvência


7

>>>Intervalo de Solvência (Reduzidas Possibilidades de Falência)

>>>Péssimo (Situação Indefinida)


-3

>>>Insolvência (Propensão à Falência)

-7
Fonte: Adaptado de Matarazzo (2010)

191
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para a Vale Doce S.A teríamos em X1 e X2:

X1:

1 - LL x 0,05 = 21.600 x 0,05 = 0,04


PL 25.000

2 – Liquidez Seca x 3,55 = 0,29 x 3,55 = 1,03

3 – Liquidez Geral x 1,65 = 0,82 x 1,65 = 1,35

4 – Liquidez Corrente x 1,06 = 0,64 x 1,06 = 0,68

5 – ET . 0,33 = 85.000 x 0,33 = 1,12


PL 25.000

FI = 1 + 2 + 3 - 4 – 5 = 0,04 + 1,03 + 1,35 – 0,68 – 1,12 = 0,62

Obs: Os índices de liquidez encontram-se na Unidade 3.

X2:

1 - LL x 0,05 = 53.400 x 0,05 = 0,05


PL 56.000

2 – Liquidez Seca x 3,55 = 0,90 x 3,55 = 3,20

3 – Liquidez Geral x 1,65 = 0,94 x 1,65 = 1,55

4 – liquidez Corrente x 1,06 = 1,35 x 1,06 = 1,43

5 – ET x 0,33 = 90.000 x 0,33 = 0,53


PL 56.000

FI = 1 + 2 + 3 - 4 – 5 = 0,05 + 3,20 + 1,55 – 1,43 – 0,53 = 2,84

Obs: Os índices de liquidez encontram-se na Unidade 3.

192
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Conclusão: Ao se confrontar esse resultado com os relativos ao Termômetro,
constata-se que a Vale Doce S.A em X1 está com um fator de 0,62 e significa uma situação
indefinida, ou seja estado péssimo. Já para X2 o fator aumentou para 2,84 entrando em
Intervalo de Solvência com Reduzidas Possibilidades de Falência.

Tabela 31 Resumo dos Indicadores


CONTAS EXERCICIO X1 EXERCÍCIO X2
PMRE – Prazo médio de renovação de estoques 115 85
PMRV – Prazo médio de recebimento de vendas 22 24
PMPC – Prazo médio de pagamento das compras 90 71
IPA – Índice de posicionamento de atividades 1,52 2,25
GE – Giro do Estoque 3,13 4,24
GDR – Giro de duplicatas a receber 16,55 15,22
GF – Giro dos fornecedores 4 5,05
CF – Ciclo financeiro 47 Desfavorável 25 Favorável
CO – Ciclo operacional 107 109
FI – Fator de insolvência 0,62 2,84
Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2003)

Vamos agora para a 6ª etapa do processo de análise que é comparação com padrões.

4.3. QUOCIENTES-PADRÃO

Quocientes-padrão para Ribeiro (2014) são os quocientes alcançados com maior


frequência por empresas que exercem o mesmo ramo de atividade e atuam em uma
mesma região.
Um índice padrão é um referencial de comparação. A comparação de determinado
índice de uma empresa em particular com o índice padrão indica, por exemplo, se a
empresa que estamos analisando está enquadrada no padrão ou se está melhor ou pior
que aquele referencial. (NEVES JR; FARIA, 2020).

193
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
SABIA QUE!!!!
A análise dos índices de uma empresa só adquire consistência e objetividade
quando são comparados com ÍNDICES-PADRÃO.

Marion e Ribeiro (2011), dizem que quocientes-padrão são os quocientes alcançados


com maior frequência por empresas que exercem o mesmo ramo de atividade e atuam
em uma mesma região. Conforme vimos, a interpretação isolada e conjunta dos
quocientes referentes a um ou a vários períodos poderá revelar, com precisão, os graus
de endividamento, solvência e rentabilidade alcançados por uma organização.
A organização que alcançar um Quociente de Liquidez Corrente igual a 1,20 poderá
ser considerada bem estruturada do ponto de vista de solvência, pois o quociente de 1,20
indica que no Ativo Circulante há recursos financeiros suficientes para cobrir todas as
Obrigações de curto prazo e ainda sobrar uma margem de $ 0,20 para cada $ 1 de dívida.
Mesmo com essa situação satisfatória, a empresa poderá, porém, não estar alcançando
grau de solvência ideal para o seu ramo de atividade em comparação com seus
concorrentes. Para saber se essa situação é ótima, boa ou regular, precisamos comparar o
quociente encontrado com o quociente padrão.

VALE A PENA LEMBRAR!!!


ÍNDICE S - PADRÃO
São valores médios obtidos a partir da análise de desempenho de um universo
de empresas do mesmo ramo, tamanho e região geográfica. Universo é a expressão utilizada em
Estatística para se referir a um grupo ou conjunto de objetos, elementos ou indivíduos previa-
mente definidos. (SOUSA; MARTINS 2010).

Para a determinação dos índices-padrão, é preciso obter uma amostra significativa de


empresas, do setor que se deseja definir os padrões, de maneira que são calculados todos
os indicadores financeiros vistos até agora. Após este cálculo é preciso definir os pontos
de corte onde os padrões estarão situados. De acordo com Marion (2019), o objetivo dos
índices-padrão é servir de base para comparação entre empresas que operam no mesmo
ramo de atividade.
Silva (2017) diz que os padrões podem ser visualizados em dois padrões básicos:

194
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.3.1 Padrão interno

Definido pela direção da empresa como uma meta a ser atingida e mantida. Por
exemplo, em termos de estrutura de capitais (relação da dívida total com o patrimônio
líquido), a direção define que para unidade monetária de capital próprio utilizará igual
montante de recursos de terceiros. Este padrão interno adotado por uma empresa pode
ser decorrência de sua política financeira e pode também decorrer de contatos assinados
pela empresa junto a credores, resultando em um compromisso de que a empresa
mantenha determinados níveis de indicadores (de liquidez e de estrutura, por exemplo).

4.3.2 Padrão externo

Referencial constituído a partir do conjunto de empresas que sejam representativas


das característcas que julgamos relevantes para constituição do padrão. Cada empresa
pode ser comparada com o padrão de seu segmento de atividade (podendo ser um
grande grupo de empresas) e pode também ser comparada com um grupo constituído
das melhores empresas atuantes naquele segmento.
Há três fatores que precisam ser considerados na elaboração de um padrão e que
tendem a ser relevantes nas características da empresa: região geográfica, segmento de
atuação e porte.

4.3.3 Região geográfica

Uma empresa como entidade socioeconômica estabelecida em determinada


localidade estará sujeita às características dessa região. Na visão de Silva (2017), fatores
como legislação local, clima, costumes, organização política, crenças e valores, mais os
recursos naturais, seguramente afetam a economia local e, por conseguinte, a estrutura
e a performance das empresas.
Por outro lado, para Sousa e Martins (2010), algumas atividades são menos
sensíveis às condições geográficas: à medida que a empresa vai conquistando novos
mercados, seus clientes agora não são mais apenas da localidade onde está situada,
mas de todas as regiões em que a empresa tem penetração (no município, no estado,

195
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
no Brasil ou até mesmo outros países), se aproximando a um padrão nacional ou
internacional, conforme o caso.

4.3.4 Ramo de atividade

O segmento de atuação representa para Sousa e Martins (2010), um dos fatores que
exerce maior influência na vida da empresa, determinando maior ou menor investimento
em ativos não circulantes, em ativos circulantes, prazos que irá praticar etc.
Por exemplo, o índice de imobilização dos Recursos não Correntes de 70% é
compatível para uma indústria e elevado para uma empresa comercial, uma vez que
o primeiro opera com grandes volumes de investimentos no Ativo não Circulante,
enquanto a segunda, não.

ATENTOS!!!
Só se podem avaliar bem os indicadores econômicos financeiros de empresas
do mesmo ramo de atividade.

Quanto ao setor de atividade Silva (2017) diz que as empresas são classificadas em
diferentes setores: indústria, comércio e serviços. Para concentrar as atividades mais
uniformes e específicas, cada setor pode ser subdividido em ramos, e sub-ramos,
conforme demonstrado a seguir:

Figura 8 Classificação de empresas


Fonte: Adaptada de Sousa e Martins (2010)

Além de comparar a empresa com outras do mesmo ramo, é preciso comparar cada
ramo com o setor em que ela atua, ou seja, com a indústria como um todo ou com o
comércio/serviços como um todo.

196
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.3.5 Tamanho da empresa

Cabe destacar ainda como diz Silva (2017), que dentro de um mesmo sub-ramo e de
uma mesma região geográfica os índices podem ser diferentes apenas em decorrência do
porte das empresas.
Sousa e Martins (2010), citam como exemplo, um supermercado que apresenta
necessidade de um nível de estoque elevado, enquanto uma mercearia trabalha com nível
de estoques menor. Embora atuando no mesmo segmento, assumem comportamentos
diferentes.

4.3.6 Como calcular o quociente-padrão

Para se calcular o quociente-padrão, é preciso colher dados de um maior número de


empresas que desempenhem ação no mesmo ramo de atividade, do mesmo porte, no
mesmo período e que atuem na mesma região, sob o mesmo regime econômico.
Marion e Ribeiro (2011) dizem que os cálculos necessários para se chegar ao quociente-
padrão envolvem uma série de procedimentos, que exigem do analista muito cuidado para
que possa refletir adequadamente o comportamento médio de determinada categoria de
empresas. As medidas mais utilizadas são média aritmética, moda e mediana, além de
outras, como quartis, decis etc.
Há casos em que a situação econômico-financeira da empresa não é boa, embora ela
tenha alcançado o padrão, ou é considerada ótima para o momento, mesmo estando
abaixo do padrão.
Vários fatores influem na análise e interpretação da situação econômica e financeira
de uma entidade, motivo pelo qual o caminho para se chegar ao quociente-padrão deve
ser criteriosamente decidido.
Portanto, o objetivo do presente caderno não é o estudo pormenorizado da Análise de
Balanços, deixaremos de detalhar os procedimentos relativos ao cálculo do quociente-
padrão.
Passamos agora para a 7ª e última etapa do Processo de Análise de Balanços que é a
Elaboração do Relatório.

197
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.4 ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO

Relatório de Análise é um documento, elaborado pelo analista de Balanços, que


contém as conclusões resultantes do desenvolvimento do Processo de Análise.
Portanto, calcular os índices e elaborar a análise quantitativa é somente o primeiro
passo de uma análise das demonstrações financeiras. Lunelli (2020) diz que, um
relatório que apresentasse dados em vez de informações não seria um bom relatório, pois
transforma um tipo de dado encontrado nas demonstrações em outros dados, o que para
o leitor pouco, ou nada vale. Por este motivo é que se torna necessário que o analista
tenha esta capacidade de interpretação, para então elaborar um relatório completo da
análise.
O objetivo do relatório de análise para Azzolin (2012), é demonstrar os procedimentos
usados para avaliar uma empresa e, a partir dessa avaliação, indicar aos investidores uma
alternativa segura para aplicar seus investimentos, pois quem investe quer assumir certo
risco, porém, em troca, quer um aumento no seu patrimônio ou riqueza pessoal.
Os relatórios de análise, ao contrário das demonstrações financeiras, devem ser
elaborados como se fossem dirigidos a leigos, ainda que não o sejam. A linguagem
utilizada deve ser clara ao nível de ser entendida por qualquer dirigente de empresa,
gerente de banco ou de crédito, por menor que sejam seus conhecimentos contábeis e
financeiros. (LUNELLI 2020). Assim, o relatório de análise de balanços deve assumir
também o papel de tradutor dos elementos contidos nas demonstrações financeiras.

4.4.1 Estrutura do relatório

Para que o analista faça um relatório de análise das demonstrações contábeis, é


indispensável um conjunto de informações e conhecimentos básicos, que são pré-
requisitos a correta elaboração do relatório final, dentre os quais se destacam de acordo
com Lunelli (2020):
• Conhecimento Básico de Contabilidade;
• Conhecimento de Técnicas de Análise;
• Atividade da Empresa;
• Políticas e Estratégias da Empresa;
• Perfil dos Administradores;
• Influências dos ambientes interno e externo na empresa;

198
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Capacidade de Interpretação.

Além destes pré-requisitos, é preciso entender qual é o raciocínio que o analista deve
seguir para poder analisar as demonstrações. A análise de Demonstrações Financeiras
baseia-se em raciocínio científico, tendo como objetivo a conversão das demonstrações
contábeis em relatórios de linguagem simples, clara e direta.
Depois de toda análise quantitativa elaborada, é necessário saber o que incluir no
relatório. A seguir, Matarazzo (2010), lista algumas informações importantes que devem
ser produzidas pela análise de balanços e que sugerimos fazer parte do relatório de
análise financeira.
a) Situação financeira;
b) Situação econômica;
c) Desempenho;
d) Eficiência na utilização dos recursos;
e) Pontos fortes e fracos;
f) Tendências e perspectivas;
g) Quadro evolutivo;
h) Adequação das fontes às aplicações dos recursos;
i) Causas das alterações na situação financeira;
j) Causas das alterações na rentabilidade;
k) Evidências de erros da administração;
l) Providências que deveriam ser tomadas e não foram;
m) Avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras.

Além das informações de ordem contábil e econômico financeira é importante fazer


constar informações inerentes ao histórico e características da empresa que está sendo
analisada, conforme sugerido por Lunelli (2020):
a) Caracterização da empresa;
b) Mercado;
c) Aspectos internos da empresa;
d) Aspectos contábeis;
e) Análise econômico financeira;
f) Conclusão.

Apesar de algumas limitações por ser feito com base em fatos já ocorridos, Lunelli
(2020), argumenta que tais informações proporcionam comparativos entre períodos,
preferencialmente no menor período possível, mês a mês, já que algumas informações

199
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
contábeis são apropriadas mensalmente. Com base nos fatos ocorridos torna possível
projetar os fatos futuros, avaliando os ocorridos e os projetados ou orçados.

4.4.1.1 Relatório da Comercial Vale Doce S.A

Demonstrações financeiras

Tabela 32 Balanço Patrimonial Padronizado da Comercial Vale Doce S.A., em 31/12/X2


CONTAS EXERCÍCIO X1 EXERCÍCIO X2
ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Financeiro
• Disponibilidades 10.500 21.860
• Investimentos Temporários a Curto Prazo 7.000
Soma 10.500 28.860
Operacional
• Contas a Receber de Clientes 14.500 20.500
• Estoques 30.000 25.000
• Outros Direitos de Curto Prazo
Soma 44.500 45.500
Total do Ativo Circulante 55.000 74.360
ATIVO NÃO CIRCULANTE 55.000 71.640
• Ativo Realizável a Longo Prazo 15.000 10.000
• Investimentos 6.000
•. Imobilizado 29.200 46.040
•. Intangível 10.800 9.600
Total do Ativo 110.000 146.000

PASSIVO
PASSIVO CIRCULANTE
Operacional
•.Contas a Pagar a Fornecedores 26.000 20.000

200
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
•.Outras Obrigações de Curto Prazo 19.000 22.000
Soma 45.000 42.000
Financeiro
•.Empréstimos 30.000 5.000
•. Duplicatas Descontadas 10.000 8.000
Soma 40.000 13.000
Total do Passivo Circulante 85.000 55.000
PASSIVO NÃO CIRCULANTE
•.Passivo Exigível a Longo Prazo 35.000
EXIGÍVEL TOTAL 85.000 90.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO
•. Capital 7.000 10.000
•. Reservas 18.000 46.000
Total do Patrimônio Líquido 25.000 56.000
Total do Passivo 110.000 146.000

Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 33 Demonstração do Resultado do Exercício Padronizada da Comercial Vale Doce S.A., em


31/12/x2
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 312.000
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E SERVIÇOS VENDIDOS (94.000) (106.000)
LUCRO BRUTO 146.000 206.000
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) (39.000)
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) (55.000)
• Outras Despesas Operacionais (6.000) (9.000)
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado financeiro) 59.000 103.000
(+) Receitas financeiras 1.000 11.000
(-) Despesas financeiras (22.400) (12.400)
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 101.600
(+ ou -). Outros resultados - -

201
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 101.600
(-) Provisões (16.000) (40.000)
(-) Participações - (8.200)
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 53.400
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 34 Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial Vale Doce S.A., em 31/12/x2 para Análi-
se Horizontal
CONTAS X1 AH% X2 AH%
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 100 312.000 130
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E (94.000) 100 (106.000) 112,76
SERVIÇOS VENDIDOS
LUCRO BRUTO 146.000 100 206.000 141,09
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) 100 (39.000) 243,75
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) 100 (55.000) 84,61
• Outras Despesas Operacionais (6.000) 100 (9.000) 150,00
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado 59.000 100 103.000 174,57
financeiro)
(+) Receitas financeiras 1.000 100 11.000 1.100,00
(-) Despesas financeiras (22.400) 100 (12.400) 55,35
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 100 101.600 270,21
(+ ou -) Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 100 101.600 270,21
(-) Provisões (16.000) 100 (40.000) 250,00
(-) Participações - 100 (8.200) 8.200,00
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 100 53.400 247,22
106.000 divid 94.000 x 100 = 112,76%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 35 Demonstração do Resultado do Exercício da Comercial Vale Doce S.A., em 31/12/x2, padroniza-
da para Análise Vertical.
CONTAS X1 AV% X2 AV%
RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS 240.000 100 312.000 100
(-) CUSTOS DE MERCADORIAS, PRODUTOS E (94.000) (39,16) (106.000) (33,97)
SERVIÇOS VENDIDOS
LUCRO BRUTO 146.000 60,83 206.000 66,02

202
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
DESPESAS OPERACIONAIS
• Despesas com Vendas (16.000) 6.66 (39.000) 12,50
• Despesas Gerais e Administrativas (65.000) 27,08 (55.000) 17,62
• Outras Despesas Operacionais (6.000) 2,50 (9.000) 2,88
(+) OUTRAS RECEITAS OPERACIONAIS
(=) RESULTADO OPERACIONAL (antes do resultado 59.000 24,58 103.000 33,01
financeiro)
(+) Receitas financeiras 1.000 0,41 11.000 3,52
(-) Despesas financeiras (22.400) 9,33 (12.400) 3,97
(=) RESULTADO OPERACIONAL 37.600 15,66 101.600 32,56
(+ ou -) Outros resultados - -
(=) RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DAS PROVISÕES 37.600 15,66 101.600 32,56
(-) Provisões (16.000) 6,66 (40.000) 12,82
(-) Participações - (8.200) 2,62
(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 21.600 9 53.400 17,11
94.000 dividido 240.000 = 39,16%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 36 Resumo dos quocientes financeiros e econômicos


CONTAS EXERCICIO X1 EXERCÍCIO X2
QUOCIENTES FINANCEIROS
• Estrutura de capitais
• Endividamento total 77% 62%
• Participação de capital de terceiros 340% 161%
• Garantia de capital de terceiros 29% 62%
•Composição do endividamento 100% 61%
•Imobilização do Patrimônio Líquido (capital próprio) 160% 110%
•Imobilização dos recursos não correntes 160% 68%
•Liquidez
•Liquidez geral 0,82 0,94
• Liquidez corrente 0,64 1,35
• Liquidez Seca 0,29 0.90
• Liquidez imediata 0,12 0,39
QUOCIENTES ECONÔMICOS
Rentabilidade

203
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
•Margem bruta 61% 66%
• Margem operacional 16% 33%
• Giro do Ativo 2,34 2,44
• Margem Líquida 9% 17%
• Rentabilidade do Ativo (ROI ou ROA) 21% 42%
• Rentabilidade do Patrimônio Líquido (ROE) 96% 132%
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Tabela 37 Resumo dos Indicadores de Atividades


CONTAS EXERCICIO X1 EXERCÍCIO X2
PMRE – Prazo médio de renovação de estoques 115 85
PMRV – Prazo médio de recebimento de vendas 22 24
PMPC – Prazo médio de pagamento das compras 90 71
IPA – Índice de posicionamento de atividades 1,52 2,25
GE – Giro do Estoque 3,13 4,24
GDR – Giro de duplicatas a receber 16,55 15,22
GF – Giro dos fornecedores 4 5,05
CF – Ciclo financeiro 47 Desfavorável 25 Favorável
CO – Ciclo operacional 107 109
FI – Fator de insolvência 0,62 2,84
Fonte: Adaptada de Assaf Neto (2015)

Análise dos indicadores


Após análise e interpretação das demonstrações financeiras da empresa Comercial
Vale Doce S.A. relativas aos exercícios de X1 e X2, apresentamos as seguintes informações:

Situação Financeira
a) Endividamento – A empresa apresenta alto grau de endividamento, visto que 77%
é capital de terceiros em X1, ou seja, os credores fornecem mais da metade das fontes
de recursos totais da empresa e em X2 62%. Do ponto de vista estritamente financeiro,
quanto maior a relação Capital de Terceiros/PL, menor a liberdade de decisões financeiras
da empresa ou maior a dependência a estes financiadores externos, ou seja, a empresa terá
menor liberdade financeira quanto maior for sua dependência de capitais de terceiros.
b) Liquidez – Sob o ponto de vista de solvência, a empresa encontra-se também em
situação desfavorável, pois não apresenta solidez financeira que garanta o cumprimento
dos compromissos de curto e de longo prazo. A exceção é o exercício de X2, no qual o

204
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quociente de Liquidez Corrente se encontra ligeiramente acima do com indicar de 1,35,
significando que, os investimentos no AC são suficientes para cobrir as dívidas de curto
prazo e ainda permitir uma folga de 35% para cada um real de dívida do PC.
A interpretação da Liquidez Corrente deve ser direcionada para verificar a existência
ou não do Capital Circulante Líquido (CCL). O CCL também pode ser apurado pela
diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. Quando positivo, o CCL indica
o excesso do Ativo Circulante sobre o Passivo Circulante. Assim seria interessante para a
empresa ter sempre um capital circulante líquido positivo, ou seja, uma liquidez corrente
maior que R$ 1,00.

Situação Econômica
Rentabilidade – A situação econômica no exercício de X2 foi melhor que no exercício
de X1. A boa rentabilidade alcançada no exercício de X2 decorre do esforço efetuado pela
empresa no sentido de reverter o alto grau de endividamento apresentado no exercício
de X1.

Situações Econômica e Financeira


Embora apresente, no exercício de X1, alto grau de endividamento e baixo grau de
solvência, a Comercial Rio Verde S.A. revela tendência de melhora em função de boa
política de renegociação de dívidas. Essa política permitiu reduzir compromissos de curto
prazo em troca de empréstimos de longo prazo. Além disso, houve uma boa iniciativa de
contenção de despesas e incentivo ao aumento do volume de vendas, que foi possível por
meio da tomada de medidas adequadas.

4.5 ALAVANCAGEM

Uma empresa tem as suas origens de recursos provenientes dos capitais de terceiros
(PC+ PNC) e de capitais próprios (PL). Por exemplo, uma sociedade com um Ativo no valor
de R$ 200.000,00, que apresente um capital de terceiros no montante de R$ 120.000,00
e um capital próprio de R$ 80.000,00, tem nesse caso, 60% do capital aplicado no Ativo
financiados por capitais de terceiros e 40%, por capitais próprios.
O termo alavancagem na visão de Montoto (2018), está associado a endividamento;
de forma geral em uma empresa, dívidas devem ser contratadas para trazer benefícios
econômicos para a entidade e para seus sócios.
Para Souza (2016), o termo alavancagem é uma técnica utilizada para multiplicar

205
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
a rentabilidade das entidades com a utilização de capitais de terceiros. O aumento da
rentabilidade proporcionado pela alavancagem aumenta a probabilidade de riscos na
operação e também a de uma provável insolvência.

4.5.1 Alavancagem Financeira

O volume de empréstimos e financiamentos e as taxas de juros e encargos contratadas


determinam o valor das despesas financeiras apropriadas em cada período de acordo
com o regime de competência. Desse modo, as despesas financeiras constituem custos
fixos porque dependem da composição das fontes de financiamento e não do nível de
produção de vendas.
Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2015), se por um lado a alavancagem financeira
acarreta maior endividamento por parte da empresa (elevando seu risco), por outro a
utilização de recursos de terceiros é uma modalidade importante de financiamento.

SABIA QUE!!!
A alavancagem financeira ocorre quando os capitais de terceiros (passivos)
produzem efeitos positivos sobre o patrimônio líquido e está associada à inten-
sidade com a qual a empresa utiliza recursos de terceiros, em lugar de seus próprios recursos
financeiros.

Na concepção de Viceconti (2016), alavancagem financeira representa a diferença


entre a obtenção de recursos de terceiros a um determinado custo e a aplicação desses
recursos no ativo da empresa a uma determinada taxa; essa diferença (para mais ou para
menos) provoca alteração na taxa de retorno sobre o patrimônio líquido.
Padoveze (2003) diz que, a alavancagem financeira significa a possibilidade de os
acionistas obterem maiores lucros, com o uso mais intensivo de capital de terceiros, ou
seja, de empréstimos e financiamentos. O fundamento da alavancagem financeira é que
os juros são custos fixos e, portanto, permitem o fenômeno alavancagem.
Isto significa que se pode admitir que haverá interesse no endividamento sempre que
seu custo for menor que o retorno produzido pela aplicação desses recursos.
Silva (2017) aborda que, naquelas situações em que o ROE (Retorno sobre o Capital

206
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Próprio) possa ser superior ao custo de captação de recursos junto a terceiros, teremos
que admitir que possa haver interesse no endividamento, já que a diferença proporcionará
uma elevação em mesa medida nos resultados dos acionistas, em virtude da alavancagem
da rentabilidade.

4.5.2 Grau de Alavancagem Financeira - GAF

O Grau de Alavancagem Financeira exposto por Assaf Neto (2015), deixa evidente na
própria fórmula o conceito de alavancagem: tomar recursos de terceiros a determinado
custo e aplicá-los em ativos a outra taxa de retorno. A diferença entre a taxa de captação
e a taxa de retorno vai para os proprietários e altera o ROE.
Logo, o GAF irá demonstrar a eficiência da estrutura de capitais da firma, o risco do
investimento e a potencialidade de aumento do lucro para os acionistas.
O cálculo do GAF deve ser apurado dentro de duas perspectivas:
1 – não se leva em consideração o efeito da dedutibilidade do Imposto de Renda em
relação aos custos com juros de financiamentos;
2 – considera-se o efeito desta dedutibilidade do Imposto de Renda.

Quando o GAF apurado for:

GAF > 1, GAF maior que 1


A alavancagem financeira é favorável ou positiva, pois com a utilização de capitais
de terceiros a rentabilidade do PL aumenta. Dizemos que o valor do GAF é favorável
quando o endividamento com o capital de terceiros for benéfico para a empresa em
função da rentabilidade obtida no negócio. Estaremos diante de uma situação em
que foi interessante para a empresa captar recursos junto a terceiros, já que estes
recursos impactaram positivamente o retorno do capital próprio (Patrimônio Líquido),
alavancando a rentabilidade.

GAF = 1
A alavancagem financeira é indiferente ou nula, pois com a utilização de capitais de
terceiros a rentabilidade do PL não se altera. Estaremos diante de uma situação onde
não há alavancagem financeira. Não houve um aumento de rentabilidade na captação de
recursos de terceiros.

207
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
GAF < 1, GAF menor que 1
A alavancagem financeira é desfavorável ou negativa, pois com a utilização de capitais
de terceiros a rentabilidade do PL reduz. Se for desfavorável, significa que o custo da
dívida não é benéfico e seria melhor substituir as dívidas por capital próprio. Os recursos
captados junto a terceiros não foram capazes de influenciar positivamente o retorno do
capital próprio (Patrimônio Líquido).

Quadro 15 Resumo destas considerações


Favorável?
Se Identifica Denota (sim ou não)

GAF maior que 1 ROE maior que ROI ROI maior que Custo da dívida SIM
GAF igual a 1 ROE igual a ROI ROI igual ao Custo da dívida Não há alavancagem
GAF menor que 1 ROE menor que ROI ROI menor que custo da dívida NÃO
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

LEMBRE-SE QUE FOI VISTO NA UNIDADE 3 !!!


ROE (Retorno sobre o Capital Próprio ou Patrimônio Líquido)
ROI ou ROA (Retorno sobre o Ativo ou sobre o Investimento)

Estratégias para aumentar o GAF

Silva (2017) enfatiza algumas estratégias que podem ser adotadas com o objetivo de
aumentar o GAF, cuja adoção poderá ser isolada ou conjunta:

Quadro 16 Estratégias para aumentar o GAF


Objetivo Estratégia
Aumentar a proporção de capitais próprios em
Melhorar a liquidez
relação aos capitais de terceiros.
Reduzir os custos financeiros na captação de capital Combinar as várias fontes de recursos provenien-
de giro tes de terceiros, onerosos ou não onerosos.
Aumentar a taxa de lucratividade operacional antes Aumentar o volume de receitas; adotar medidas
de serem considerados os custos financeiros que resultem na redução de custos e despesas.
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

208
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.5.2.1 GAF sem considerar o efeito dos custos com a dívida no Imposto de
Renda

É a comparação entre a Rentabilidade do Patrimônio Líquido (ROE) com a Rentabilidade


do Ativo (ROI ou ROA)

GAF = ROE Exemplo: GAF = 20,80% = 1,216


ROI ou ROA 17,10%

Lucro Líquido depois IR Rentabilidade do Patrimônio Líquido (ROE)


GAF = Patrimônio Líquido
Lucro Líquido depois IR Rentabilidade do Ativo (ROI ou ROA)
Ativo Total

O GAF de 1,216 significa que a empresa utilizando capital de terceiros tem uma
rentabilidade sobre o capital próprio de 21,6% superior a rentabilidade que teria, se todo
o Ativo fosse financiado apenas com capital próprio.

VOCÊ SABIA!!!
A alavancagem financeira é desfavorável ou negativa quando o GAF for menor
que 1?

4.5.2.2 GAF considerando o efeito dos custos com a dívida no Imposto de


Renda

Para este cálculo, será necessário mensurar a redução da carga tributária com Imposto
de Renda em razão da dedutibilidade dos custos com a dívida (juros).
Sempre é bom lembrar que, ao analisarmos o GAF de uma empresa, devemos levar
em consideração o montante que a empresa deixou de pagar de Imposto de Renda em
razão dos custos assumidos com a dívida, que indiretamente representa “lucro” para os
investidores, pois as despesas com juros (despesas financeiras) são dedutíveis do IR.

209
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para um melhor entendimento do conceito de Alavancagem Financeira, vamos utilizar
como exemplo, o modelo extraído do livro de autoria de Alexandre Alcântara da Silva
intitulado “Estrutura, Análise e Interpretação das Demonstrações Contábeis”, editado
pela Atlas, 2017 na p. 122.

Tabela 37 Balanço Patrimonial da Cia Lucro Certo em 31.12.X5


ATIVO R$ mil PASSIVO R$ mil
Ativo Circulante Passivo Circulante
Disponibilidades 4.189 Fornecedores 119.219
Aplicações Financeiras 5.000 Financiamentos 348.796
Contas a Receber de 138.352 Salários e Encargos 4.377
Clientes
Duplicatas Descontadas (5.000) Imposto de Renda 5.344
Estoques 279.307 Outros impostos a recolher 5.240
Outros Circulantes 174.401 Outros 95.944
Total Ativo Circulante 596.249 Total Passivo Circulante 578.920

Ativo não Circulante Passivo não Circulante


Realizável a Longo Prazo 125.552 Financiamentos 109.854
Investimentos 36.071 Outros 119.773
Imobilizado 502.457
Intangível 1.329
Total Ativo não Circulante 665.409 Total Passivo não 229.627
Circulante

Patrimônio Líquido 453.111

TOTAL ATIVO 1.261.658 TOTAL PASSIVO 1.261.658


Fonte: Adaptado de Silva (2017)

Tabela 38 Demonstração do Resultado do Exercício da Cia Lucro Certo em 31.12.X5


Receita Operacional Líquida 1.128.101
(-) Custo dos Produtos Vendidos (890.405)
Lucro Bruto 237.696
Receitas (Despesas) Operacionais

210
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Despesas com Vendas (216.659)
Despesas Administrativas e Gerais (32.941)
Receitas Financeiras 148.943
Despesas Financeiras (125.309)
Outras 13.091
Lucro Operacional 24.821
Resultado não Operacional 1.335
Lucro Antes do Imposto de Renda (LAIR) 26.156
Provisão para Imposto de Renda (5.344)
Lucro Líquido do Exercício 20.812
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

4.5.2.3 Identificação do valor de Investimentos e do Passivo Oneroso e não


Oneroso

A totalidade dos bens e direitos de uma empresa é compreendida com seu Ativo Total,
que no exemplo de Balanço acima perfaz R$ 1.261.658. Já o Ativo Total excluído dos
Passivos não Onerosos é definido como Investimentos.

ATENÇÃO
Passivos não Onerosos são aquelas obrigações que não possuem encargos
financeiros, como fornecedores, salários.
Passivos Onerosos são aqueles que custam à empresa mensalmente, como juros e encar-
gos bancários.

No Balanço acima, os Investimentos montam em R$ 1.031.534, conforme a seguir:

211
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Ativo Total 1.261.658
(-) Passivos de funcionamento ou não onerosos
Fornecedores 119.219
Salários e Encargos 4.377
Imposto de Renda 5.344
Outros impostos a recolher 5.240
Outros 95.944 (230.124)
= Investimentos 1.031.534

Neste mesmo Balanço os Passivos Onerosos montam R$ 458.650 conforme abaixo:


Passivos Onerosos
Circulante
Financiamentos 348.796

Não Circulante
Financiamentos 109.854
Total 458.650

Cálculo da carga tributária do Imposto de Renda


1º Passo – a primeira etapa será identificar a carga tributária que foi aplicada sobre o
resultado da empresa. Para isto, compramos o valor da provisão com o Lucro do Exercício
antes do IR.

Carga Tributária = Provisão para IR = 5.344 = 20,43%


Lucro antes IR 26.156

2º Passo – avaliar o impacto dos juros sobre financiamentos no Resultado do Exercício.

Esta etapa nos permitirá determinar o Lucro Operacional após o IR. As Despesas
Financeiras Líquidas devem ser percebidas como elemento de economia no cálculo da
carga tributária final tendo e, vista que as despesas financeiras são dedutíveis para o
cálculo do IR devido.
Deve ser considerado neste cálculo o Lucro Operacional como aquele gerado pelos
Ativos da empresa, em decorrência do desenvolvimento da atividade objeto da mesma,
sem considerar sua estrutura de financiamento.
Uma vez efetuadas as devidas reclassificações e apurações acima descritas, teríamos
a visualização da DRE abaixo.
Tabela 39 Demonstração do Resultado do Exercício ajustado da Cia Lucro Certo

212
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Receita Operacional Líquida 1.128.101
(-) Custo dos Produtos Vendidos (890.405)
Lucro Bruto 237.696
Receitas (Despesas) Operacionais
Despesas com Vendas (216.659)
Despesas Administrativas e Gerais (32.941)
Receitas Financeiras 148.943
Outras 13.091
Lucro Operacional 150.130
Resultado não Operacional 1.335
Lucro Antes do Imposto de Renda 151.465
Imposto de Renda s/ lucros gerados para Ativos (30.946)
= 20,43% x 151.465
Lucro após o Imposto de Renda 120.519
Despesas financeiras (125.309)
Economia de IR (20,43%) 25.602 (
99.707)
Lucro Líquido Exercício 20.812
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

4.5.2.4 Cálculo do Retorno sobre Investimento (ROI/ROA), Retorno sobre o


Patrimônio Líquido (ROE) e Grau de Alavancagem Financeira (GAF)

O ideal é a empresa financiar-se pagando taxas de juros inferiores ao ROI/ROA, com


vistas a não onerar a rentabilidade do capital próprio (ROE), e assim obter um GAF
positivo.
Quando o ROE é superior ao ROI/ROA, indica que a empresa toma recursos no mercado
a uma taxa de juros inferior ao retorno da aplicação desse dinheiro, o que não foi o caso
da empresa sob análise.
Se a empresa trabalhasse exclusivamente com capitais próprios, sem nenhum
endividamento, o ROE seria igual ao ROI/ROA, ou seja, o Lucro Líquido seria exatamente
igual ao Lucro Operacional após o IR.
Nesta última etapa, avalia-se o retorno sobre os Investimentos (ROI/ROA) e sobre

213
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
o Patrimônio Líquido (ROE), tendo em vista o impacto da economia de IR com a
dedutibilidade das despesas financeiras decorrentes dos financiamentos contraídos.
A seguir será apresentada a apuração da GAF após considerarmos o efeito dos juros no
cálculo do IR e apuração do valor dos Investimentos Líquidos e Passivo Oneroso.

Apuração da GAF após ajustes nas contas da DRE e Balanço Patrimonial

Investimentos 1.031.534
Passivo Oneroso 458.650
Patrimônio Líquido 453.111
Despesas Financeiras Líquidas 99.707
Lucro Operacional após IR 120.519
Lucro Líquido do Exercício (LLE) 20.812

Rentabilidade do Ativo ou ROI/ROA

ROI/ROA = Lucro Operacional 120.519 = 11,92%


Investimento – LLE 1.031.534 – 20.812

Pelo resultado apurado, a empresa obteve um ROI/ROA de 11,92% dos investimentos


mantidos em X5. A fim de verificar se o mesmo é atrativo, deve-se compará-lo com o ROE
e com o custo do endividamento.

Rentabilidade do Patrimônio Líquido ou ROE

ROE = Lucro Líquido 20.812 = 4,81%


Patrimônio Líquido – LLE 453.111 – 20.812

No caso apresentado, como a empresa trabalhou com recursos de terceiros e


apurou um ROE menor que o ROI no exercício, há uma indicação de que o custo do
endividamento é alto, portanto, superior ao ROI.

Custo da Dívida

Custo da Dívida = Despesas Financeiras Líquidas 99.707 = 21,74%


Passivos Onerosos 458.650

214
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Finalizando, observa-se que os recursos levantados no mercado, a um custo líquido
de 21,74%, foram aplicados em ativos que renderam 11,92% de retorno.

Grau de Alavancagem Financeira – GAF

GAF = ROE 4,81% = 0,4035


ROI ou ROA 11,92%

Este GAF indica que o ROE é menor que o ROI, evidenciando que o custo da dívida é
superior ao Retorno dos Investimentos (ROI). Neste caso específico, os recursos captados
não alavancaram a empresa financeiramente.

4.6 ESTRUTURA DE CAPITAL

A estrutura de capital de uma empresa para Assaf Neto e Lima (2014) refere-se à
composição de suas fontes de financiamento, oriundas de capitais de terceiros (exigível)
e de capitais próprios (patrimônio líquido).
O estudo de estrutura de capital é fundamental para as decisões financeiras. Na busca
do objetivo de maximização da riqueza, a empresa deve selecionar uma composição
das fontes de financiamento que promova a minimização do custo médio ponderado de
capital (WACC).
De acordo com Gitman (2010, p.460), a Teoria sobre Estrutura de Capital está
intimamente relacionada com o custo de capital da empresa. A importância na
determinação da melhor estrutura de capital, escolhendo a proporção ideal de capital
de terceiros (dívidas de curto e longo prazo) e de capital próprio, está associada à busca
da maximização do valor da empresa. Assim, para atingir o objetivo da empresa, a
maximização da riqueza dos proprietários, o administrador financeiro, além de ser capaz
de avaliar a estrutura de capital da empresa e entender o relacionamento entre risco e
retorno, deve buscar a estrutura ótima de capital.
Padilha (2017) salienta que a estrutura de capital de uma empresa é apresentada de
forma simples no balanço patrimonial, no qual bens, direitos (Aplicação de Recursos) e
obrigações (Origem de Recursos), são mostrados com seus respectivos valores, formando
o que chamamos de ativo (bens e direitos) e passivo (obrigações).

215
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
FIQUE LIGADO!!!
As obrigações que compõem o passivo, por sua vez, podem ser divididas em
obrigações com terceiros (de curto e de longo prazo) e obrigações de capital
próprio (com os proprietários da empresa).

A Figura 9 ilustra a relação entre origem e aplicação de recursos

Figura 9. Relação entre origem e aplicação dos recursos e fontes de financiamento.


Fonte: Adaptada de Souza (2017)

A estrutura de capital foi objeto de estudo de Franco Modigliani e Merton Miller


(Prêmio Nobel em 1958 pela criação da tese M&M), conforme Padilha (2017), para quem
qualquer benefício advindo de um maior endividamento seria rapidamente conhecido
e faria com que os acionistas elevassem as suas exigências de retorno, fazendo com que
o custo de capital se mantivesse inalterado, o que pode significar que a empresa ganha
vantagem competitiva quando possui estratégias efetivas na captação de capital de
terceiros.
O capital total de uma empresa é decomposto em duas partes: capital próprio e capital
de terceiros. Esses capitais financiam o ativo da empresa.

4.6.1 Capital Próprio

O capital próprio está ligado ao Patrimônio Líquido (PL); trata-se de recursos advindos
de dentro da própria organização, dos proprietários, sócios ou acionistas. Nesse caso,
as pessoas que investiram no negócio esperam, no mínimo, ter um retorno do valor
investido. (SOUZA, 2017)
Para Assaf Neto e Lima (2014), o capital próprio, identificado nos balanços patrimoniais

216
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
como Patrimônio Líquido, consiste nos recursos investidos pelos acionistas da empresa.
Esses fundos não têm prazo de reembolso estabelecido, permanecem na empresa por
tempo indeterminado.
Segundo Gitman (2010), os donos do capital próprio possuem direitos sobre os
resultados da organização. Porém, seu direito não pode ser exercido antes da quitação das
obrigações com os credores. Um dos fatores que mais tem impacto sobre o capital próprio
é o custo de capital, que representa a rentabilidade mínima exigida pelos detentores do
capital próprio, ou seja, acionistas ou sócios da organização.

VOCÊ SABIA QUE!!!


Para obtenção de capital próprio, segundo Gitman (2010) a organização poderá
conseguir por meio da retenção de lucros, ou externamente, lançando ações
sobre o mercado financeiro, podendo ser estas ordinárias ou preferenciais.

4.6.2 Capital de Terceiros

O capital de terceiros para Assaf Neto e Lima (2014) inclui todos os fundos levantados
pela empresa junto a credores, e representados basicamente por empréstimos e
financiamentos. A empresa contrata esses empréstimos por um prazo determinado,
pagando juros pelo seu uso.
O mesmo autor diz que o custo do capital de terceiros é mais baixo que o do capital
próprio em razão principalmente de:
a) O credor tem menos risco que o acionista, podendo assim ser remunerado por uma
taxa mais baixo.
b) As despesas de juros pagas pelos passivos são dedutíveis para efeitos de Imposto de
Renda, reduzindo em consequência o custo financeiro.

Gitman (2010) afirma que o custo com o financiamento por meio do capital próprio é
mais oneroso para a organização, uma vez que os detentores dele assumem maior parcela
de risco, haja vista que seus direitos aos resultados são subsidiários. Dessa forma, faz-se
necessário calcular, separadamente, cada um dos custos, tanto de terceiros, quanto do
capital próprio, o que pode ser realizado por meio do cálculo do CMPC.

217
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
FIQUE DE OLHO!!!
A melhor estrutura de capital para qualquer empresa é quando a relação entre
o Passivo não circulante e o Patrimônio líquido produz o menor custo de capital.

4.6.3 Custo de Capital

O custo de capital pode ser considerado como a taxa de retorno exigida pelos
fornecedores de capital do mercado, para atrair seus fundos para a empresa. Se o risco
for mantido constante, a implementação dos projetos com uma taxa de retorno acima
do custo de capital aumentará o valor da empresa e a implementação dos projetos com a
taxa de retorno abaixo do custo diminuirá o valor dela. (GITMAN 2010).
O custo do capital tem efeito sobre as operações da empresa que, subsequentemente,
afeta a sua lucratividade, e é obtido considerando todas as fontes dos recursos postos à
disposição da empresa, de acordo com a participação percentual do capital próprio e de
terceiros.
Na visão de Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010), o custo de capital é considerado, uma
taxa de retorno exigida em seus projetos de investimento tanto para remunerar o custo de
oportunidade quanto para premiar um risco percebido. Com isso, ao avaliar um projeto de
investimento, deve-se levar em consideração o quanto esse projeto custará, visto que essa
informação possibilitará, de forma mais transparente, a tomada de decisão, já que uma
decisão inadequada à estrutura e aos objetivos da empresa pode acarretar problemas futuros.
Os mesmos autores dizem que esse custo é formado com base no custo das diversas
fontes de financiamento de longo prazo, as quais podem ser: autofinanciamento (novos
recursos próprios, por meio dos acionistas atuais ou de capital decorrente de novas
subscrições); financiamentos bancários ou por meio da emissão e venda de debentures.
Da composição percentual de cada fonte de financiamento e de seus custos no caso,
capital próprio e de terceiros, surge o Custo Médio Ponderado de Capital – CPMC, também
é chamado de weighted average cost of capital (WACC), que de acordo com Megliorini e
Vallim (2009) representa, em última instância, o custo de financiamentos de longo prazo
da empresa, ou seja, o custo de capital.
Neste sentido, Gitman (2010, p. 444) aponta que: “[...] o custo médio ponderado de
capital reflete o custo futuro médio esperado dos fundos no longo prazo. Esse custo
é obtido por meio da ponderação do custo de cada tipo específico de capital por sua
participação na estrutura de capital da empresa”.

218
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ATENÇÃO!!!
O custo de capital é a taxa de retorno que uma empresa precisa obter sobre os
seus projetos de investimentos, para manter o valor de mercado de suas ações.

No estudo do custo total de capital, para Assaf Neto e Lima (2014), é necessário
inicialmente conhecer-se o custo de cada fonte de recursos (própria e de terceiros)
selecionada pela empresa e, então, mensurar-se a partir desses valores a taxa de retorno
desejada para as decisões de investimentos. O custo total de capital (WACC) reflete a
remuneração mínima exigida tanto por acionistas como por credores da empresa.

4.6.3.1 Custo de Capital de Terceiros

De acordo com Assaf Neto e Lima (2014), o custo de capital de terceiros é a remuneração
exigida pelos credores de dívidas da empresa. É o custo hoje, geralmente líquido do IR,
para se levantar recursos de empréstimos e financiamentos no mercado.

ATENTOS!!!
Custo de Capital de Terceiros é definido de acordo com os passivos onerosos
identificados nos empréstimos e financiamentos mantidos pela empresa. (BÚSSU-
LA DO INVESTIDO, 2020).

Este custo de terceiros é representado por Kd e, diante da dedutibilidade fiscal


permitida aos encargos financeiros, pode também ser apurado após a respectiva provisão
para Imposto de Renda, reduzindo seu custo final.

Assaf Neto e Lima (2014, p. 515), citam o seguinte exemplo:


Admita um financiamento de R$ 100.000,00 tomado à taxa de 12% ao ano. Sendo de
34% a alíquota de Imposto de Renda da empresa, os juros de competência do período
atingem:
Despesas financeiras brutas: R$ 100.000,00 × 12% = R$ 12.000,00

219
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Economia de IR: R$ 12.000,00 × 34% = R$ 4.080,00
Despesas Financeiras Líquidas do IR = R $ 7.920,00 (R$ 12.000 - R$ 4.080,00)

Relacionando os encargos financeiros de competência do período com o passivo


gerador dessas despesas, tem-se o custo de captação líquido do Imposto de Renda, ou
seja:

Kd = R$ 7.920,00 = 7,92%
R$ 100.000,00

Esse resultado, evidentemente, é idêntico ao apurado pela formulação abaixo, ou seja:

Kd = i . (1 - IR)

onde: Kd representa o custo da dívida, considerando o IR;


i é a taxa de juros; e
IR é a alíquota do Imposto de Renda.

Kd = 12% × (1 – 0,34) = 7,92% a.a.


Os resultados demonstram uma redução dos juros de 12% para 7,92%, determinada
pelo benefício fiscal promovido pelos encargos financeiros.

Outro exemplo
Uma empresa toma um empréstimo de R$150.000 para pagar, dentro de um ano,
R$170.000. Sem IR, a taxa de retorno é de 15% a.a., que é o custo da dívida. Com IR, à
taxa de 35%, a situação se altera. A entrada do principal não tem influência no lucro
tributável, assim como a sua amortização, porém o pagamento de R$22.500 de juros é
dedutível, e reduz em R$ 7.875 o IR a pagar. A taxa de retorno do novo fluxo de caixa é de
9,75% a.a., que é o custo da dívida, levando-se em conta o IR.

Kd = i . (1 - IR)
Kd = 15% . (1 - 0,35) = 9,75% a.a

Existe outra forma de se calcular o custo da dívida, antes ou depois do IR, de forma
direta, é pela seguinte expressão:

Kd = (1 - IR) I / D

220
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
onde:
I é a carga total anual de juros; e
D é o valor de mercado da dívida.

Exemplo:
Considere uma empresa com pagamentos de juros anuais de R$150.000, baseados
na dívida total de R$3.500.000. Determine o custo da dívida desta empresa, após o IR,
sabendo-se que sua alíquota de IR é de 35%.

Kd = (1 - IR) I / D
Kd = (1-0,35) 150.000 / 3.500.000
Kd= 0,65 x 0,04 = 2,60 % a.a.

4.6.3.2 Custo do Capital Próprio

O custo de capital próprio para Assaf e Lima (2014) revela o retorno desejado pelos
acionistas de uma empresa em suas decisões de aplicação de capital próprio. Constitui,
junto com o tema de estrutura de capital a ser apresentado no capítulo seguinte, o
segmento de estudo mais complexo das finanças corporativas, assumindo diversas
hipóteses e abstrações teóricas em seus cálculos.

VOCÊ SABE QUE!!!


O Custo capital próprio é o retorno mínimo que os acionistas exigem de seu
capital investido na empresa. Equivale ao rendimento mínimo que a empresa deve
obter para remunerar seus acionistas e manter o preço de mercado de suas ações. (BÚSSULA
DO INVESTIDOR, 2020).

Capital próprio é mais caro para a empresa que capital de terceiros. O custo do capital
de terceiros é menor comparativamente ao do capital próprio. Duas importantes razões
explicam essa diferença de acordo com Assaf e Lima (2014):

221
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
1) O retorno do acionista está vinculado ao sucesso dos negócios, à geração de lucros
em volume suficiente para remunerar o custo do capital investido. Caso a empresa apure
prejuízo, o acionista não terá direito algum de pleitear pagamento pelos recursos aplicados;
ele assume o risco do negócio. Em consequência, exige um prêmio pelo risco maior. O
credor, ao contrário, recebe garantias efetivas da devolução do capital emprestado, como
aval, hipoteca etc., e tem os pagamentos da dívida livres de qualquer relação formal com
os resultados apurados pela empresa. A empresa tomadora de recursos não tem como
justificar sua eventual inadimplência por um resultado negativo em seus negócios.

2) A outra razão que justifica ser o custo da dívida menor que o do capital próprio é o
benefício fiscal. A remuneração devida ao capital próprio é o lucro líquido, calculado após
a respectiva dedução do Imposto de Renda. Já a remuneração paga ao credor são os juros,
os quais, como demonstrado acima, são dedutíveis para cálculo de Imposto de Renda.
Em verdade, a empresa devedora usufrui de um benefício (economia) fiscal ao calcular
os encargos financeiros de suas dívidas.

Existem três formas de se avaliar o capital próprio:


1) a primeira é quando as ações já existem;
2) a segunda é quando elas serão emitidas (gerando novos recursos);
3) e a terceira é quando há lucros retidos.

4.6.3.2.1 Custo das ações ordinárias

O custo da ação ordinária é o nível de retorno que a empresa deve obter sobre esse tipo
de capital para manter o preço da ação. (CONTROLADORIACONTAB, 2010).

Técnicas para medir o custo da ação ordinária

a) Modelo de Avaliação com Crescimento Constante (Modelo de Gordon)


O modelo defende que o valor da ação é igual ao valor presente do fluxo de todos os
dividendos futuros previstos num horizonte infinito de tempo.

Ks = D1 + g
Po

222
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Em que:
Ks representa o custo do capital próprio;
Po = preço corrente da ação ordinária,
D1 = dividendo por ação esperado no ano 1
g = taxa anual de crescimento constante dos dividendos.

Exemplo:
A cotação em bolsa das ações ordinárias é de 120,00 e o dividendo previsto para o
corrente exercício é de 18,00 por ação. Nos últimos anos, os lucros e os dividendos têm
crescido a uma taxa anual de 3%.

Solução
Ks = D1 + g
Po
Ks = 18 + 0,03
120
Ks = 0,15 + 0,03 = 0,18 x 100 = 18%

b) Modelo de formação de preço de ativos (CAPM) Capital Asset Pricing Method -


CAPM, Modelo de Precificação de Ativos Financeiros

Este modelo escreve a relação entre o retorno exigido, ou custo da ação ordinária Ks, e
os riscos sistêmicos da empresa avaliados pelo coeficiente beta.
O CAPM exprime o risco sistemático (fatos como inflação, incidentes internacionais
e eventos políticos) de um ativo pelo seu coeficiente beta, identificado com o coeficiente
angular da reta de regressão linear das variações de um ativo financeiro, como uma ação,
por exemplo, sobre as variações da carteira de mercado, como o Índice Bovespa.
O beta mede a sensibilidade de um ativo em relação aos movimentos do mercado.
Desta forma, a tendência de uma ação mover-se junto com o mercado é refletida em seu
beta, que é a medida da volatilidade da ação em relação ao mercado como um todo.
Para Assaf e Lima (2014), o modelo do CAPM é bastante utilizado nas operações de
investimentos, permitindo que se apure a o custo de oportunidade em condições de
risco. O coeficiente beta, medida de risco do modelo, indica o incremento necessário no
retorno de um ativo de forma a remunerar adequadamente o seu risco. É uma medida de
risco sistemático.
O coeficiente beta quantifica o grau de reação do ativo ao comportamento do mercado.
Assim, temos de acordo com Ross, Westerfield e Jaffe (2015).

223
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Beta = 2,0 → a ação apresenta um risco sistemático maior do que o do mercado. Por
exemplo, se o mercado desvalorizar 10%, a ação desvalorizará 20%.
Beta = 1,0 → o comportamento da ação é igual ao do mercado.
Beta = 0,5 → o risco sistemático da ação corresponde à metade daquele apresentado
pelo mercado. É uma ação defensiva que valoriza ou desvaloriza menos do que a carteira
de mercado.
Beta = 0 → A ação não é afetada pelo movimento do mercado.

O CAPM básico é dado por:

Ks= Rf + β . (ERm – Rf)


onde:
Ks representa o custo do capital próprio;
Rf = taxa de retorno de ativos livres de riscos;
B = coeficiente beta, medida do risco sistemático (não diversificável) do ativo;
ERm = rentabilidade oferecida pelo mercado em sua totalidade e emprestada pela
carteira de mercado.

LEMBRANDO!!!
Existem três formas de se avaliar o capital próprio:
1) a primeira é quando as ações já existem;
2) a segunda é quando elas serão emitidas (gerando novos recursos);
3) e a terceira é quando há lucros retidos.

Exemplo:
A ação da Empresa ZX apresenta um beta igual a 1,6, ou seja, seu risco sistemático
é 60% maior que o risco do mercado como um todo. A taxa livre de risco é de 12% e a
expectativa dos investidores é de que a carteira de mercado atinja 20%. Determine a taxa
mínima exigida pelo investidor da ação da Empresa X.

β = 1,6; Rf = 12%; Rm = 20%


Ks = Rf + β.(ERm-Rf) =
Ks= 12% + 1,6×(20% -12%) ∴
Ks = 24,8%

224
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O retorno esperado desta ação deve ser, no mínimo, igual a 24,8%, que representa a
taxa mínima de atratividade para o investimento nesta ação.
4.6.3.2.2 Custo das ações preferenciais

O custo da ação preferencial deve ser apurado da seguinte maneira:

Kp = Dp
Np

Onde:
Kp = custo da ação preferencial
DP = dividendo preferencial
Np = montante a ser recebido pela emissão da ação preferencial

Obs: Cabe mencionar que não se requer nenhum ajuste fiscal para o cálculo dos
dividendos, uma vez que eles são pagos após o pagamento do imposto de renda por parte
da empresa.

Obs: No caso das ações preferenciais, o cálculo é o mesmo. Entretanto, em razão


de legislação, as ações devem receber dividendos fixos, ou seja, não haverá acréscimo
relativo aos dividendos, uma vez que este é zero.

Exemplo:
Certa empresa possui ações preferenciais no mercado no total de R$ 3.000.000. Essas
ações pagam dividendos de R$ 5,00 por ação, sendo o valor unitário da ação negociado
em bolsas no momento de R$ 30,00. O custo da ação preferencial é de?

Kp = Dp
Np
Kp = 5 = 16,67%
30

4.6.3.2.3 Custo de emissão das novas ações ordinárias e preferenciais


Através do modelo de Gordon é permitido computar diretamente os custos de colocação
das novas ações no mercado, o qual é constituído pelas comissões pagas a instituição
financeira que promove o lançamento, das ações antigas e o preço de lançamento das

225
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
novas ações.
Deste modo, o custo de emissão das novas ações ordinárias (e das ações preferenciais
com participação integral nos lucros) será obtido pela seguinte fórmula derivada do Ks
do modelo de Gordon.

Kn = D1 +g
(1 – f) x Po
Onde
Kn = custo para a empresa da nova emissão das ações
D1 = dividendo por ação esperado no ano 1
f = taxa correspondente ao deságio no preço de lançamento e as despesas de
underwriting (subscrição) expressa em relação a Po
Po = preço corrente da ação
g = taxa anual de crescimento nos lucros e dividendos.

Exemplo:
Certa empresa deseja determinar o custo de uma nova emissão de ações ordinárias.
A cotação em bolsa das ações ordinárias antigas é de R$ 180,00 e o dividendo previsto
para o corrente exercício é de R$ 24,00. Nos últimos anos, os lucros e os dividendos têm
crescido a uma taxa anual de 4%. Admitiremos que as novas ações fossem colocadas com
um deságio de 12% em relação a cotação das ações antigas, envolvendo uma redução de
R$ 14,00 sobre o Po. As comissões e outras despesas corresponderiam a R$ 10,00 por
ação.

Solução
As comissões e outras despesas corresponderiam a R$ 24,00 (10,00 + 14,00) em
relação a Po
Então Po = 180
24 dividido por 180 = 0,1333

Kn = D1 + g
(1 – f) x Po
Kn= 24 + 0,04
(1 - 0,1333) x 180

Kn= 24 + 0,04 = 19,38%


156

226
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.6.3.2.4 Custo do lucro retido
Os lucros retidos podem ser considerados, conforme Assaf Neto e Lima (2014), para
efeitos de cálculo de seu custo, como uma emissão de capital totalmente subscrita,
apresentando um custo idêntico ao calculado para esse capital. Corresponde a parcela do
lucro líquido que deixou de ser distribuída como dividendos.
Os acionistas costumam interpretar a retenção de lucros como um sinal de que a
empresa possui alternativas para ampliar esses recursos nas suas atividades a uma taxa
de retorno compatível com a rentabilidade oferecida pelo mercado para investimentos
com o mesmo nível de risco.
Portanto, se a empresa não dispusesse dessas alternativas, para Ross, Westerfield e
Jaffe (2015) deveria distribuir a totalidade dos lucros realizados financeiramente. Visto
por esse ângulo, o custo dos lucros retidos corresponde ao custo de oportunidade
suportado pelos acionistas.
Para a empresa, o efeito da retenção de lucros corresponde ao de uma nova emissão
de ações, integralizadas instantaneamente e sem nenhuma despesa decorrente das
operações de underwriting (subscrição).

Kr = Ks (1-IR)
Onde:
Kr = custo dos lucros retidos para fins do cálculo do custo de capital
Ks = taxa de retorno exigida das ações ordinárias e preferenciais (com participação
integral nos lucros)
IR = alíquota do imposto de renda

ALERTA!!!
Lucro Retido é a parte do lucro de uma empresa que não é dividida entre os
acionistas e funciona como uma reserva para a companhia. (BÚSSULA DO INVES-
TIDOR, 2020).

Exemplo
Admitindo Ks = 22% ao ano e IR 35%, determinar a taxa anual dos lucros retidos.

Kr = Ks (1-IR)
Kr = 22% (1 – 0,35)
Kr = 14,30%

227
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.6.3.3 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)

O Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) também é conhecido por WACC (Weighted
Average Cost of Capital) e é obtido pelo custo de cada fonte de capital ponderado por sua
respectiva participação na estrutura de financiamento da empresa.
É quanto custa em termos percentuais o mix do capital próprio e do capital de terceiros.
Caso o gestor não saiba qual é o CMPC da empresa, não terá como tomar decisões, pois
não saberá se algum projeto vai dar lucro ou prejuízo.
Assaf Neto e Lima (2014) dizem que esse custo total representa a taxa de atratividade
da empresa, ou seja, quanto a empresa deve exigir de retorno de seus investimentos
visando maximizar seu valor de mercado.
O cálculo do WACC é processado pelo critério da média ponderada das fontes de
financiamento, de acordo com a seguinte expressão:

WACC = Kd (1-IR) D + Ks S
D+S D+S
Onde:
Kd = custo percentual da dívida
Ks = custo percentual do capital próprio
D = valor monetário do capital de terceiros
S = valor monetário do capital próprio
IR = alíquota do Imposto de Renda

Ou ainda pode ser vista e explicada da seguinte forma:

CMPC = Kd (1 – IR) (%D) + Ks (%S)


Vejamos um exemplo extraído de Abreu (2017):

Olhando para um balancete “T”, fica mais fácil visualizar de onde vêm as informações
necessárias para calcular o CMPC.

Quadro 17 Informações para o cálculo do CMPC


ATIVOS PASSIVOS
Capital Dívidas Taxa Kd %
Ativos
Capital Sócios Taxa Ks %
Fonte: Adaptado de Abreu (2017)

228
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Então, por exemplo, vamos considerar que a empresa Energy tenha os seguintes
fornecedores de capital:

Tabela 39 Fornecedores de capital da Energy


Capital da Energy Investidor Montante Taxa
Banco Alfa R$ 1.000.000 11% a.a.
Banco Júnior R$ 2.000.000 12% a.a.
Capital Terceiros Fornecedor Abóbora R$ 1.500.000 13% a.a.
Fornecedor Amarelo R$ 1.200.000 12% a.a.
Capital Próprio Sócio R$ 3.100.000 18% a.a.
Capital Total da Energy R$ 8.800.000
Fonte: Adaptada de Abreu (2017)

Considere agora que o gestor da Energy tem de fazer um investimento “X” na empresa
e deve calcular o Valor Presente Líquido (VPL) para determinar se esse investimento “X”
será lucrativo ou não. Esse investimento “X” custa hoje R$ 100.000,00 e promete pagar
um único pagamento de R$ 120.000,00 no fim do primeiro ano. A alíquota do IR é zero.
O investimento “X” pode ser realizado?

Solução:
O gestor vai precisar saber qual é a taxa do custo do capital da Energy para poder
calcular o VPL do investimento “X”. Para facilitar o entendimento e por uma questão
didática, primeiro vamos agrupar o capital próprio e o capital de terceiros.

Calculando o custo do capital de terceiros:


1.000.000 x 11% = 110.000
2.000.000 x 12% = 240.000
1.500.000 x 13% = 195.000
1.200.000 x 12% = 144.000

110.000 + 240.000 + 195.000 + 144.000 = 689.000 juros


1.000.000 + 2.000.000 + 1.500.000+ 1.200.000 = 5.700.000 capital de terceiros

689.000 dividido por 5.700.000 x 100 = 12,0877% aproximado 12,9%


Ou usando a fórmula direta:

229
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Kd = {1.000.000(11%) + 2.000.000(12%) + 1.500.000(13%) + 1.200.000(12%)} / 5.700.000
Kd = 0,120877 = 12,0877% a.a. 12,09%

Calculando o custo do capital próprio:


Como todo o capital próprio é remunerado à taxa de 18% a.a., essa é a taxa do custo do
capital próprio, não há necessidade de calcular novamente: Ks = 18% a.a. (já informada)
Podemos agrupar os capitais que financiam a Energy da maneira a seguir, de forma a
facilitar a visualização do que é capital próprio e o que é capital de terceiros:

Tabela 40 Capitais que financiam a Energy


ATIVOS DA ENERGY PASSIVOS DA ENERGY
Capital Terceiros R$ 5.700.000 Taxa Kd 12,09 %
Ativos R$ 8.800.000
Capital Próprio R$ 3.100.000 Taxa Ks 18,00 %
Fonte: Adaptada de Abreu (2017)

Fórmula para o cálculo do custo médio ponderado do capital (CMPC) da Energy:


CMPC = Kd (1 – IR) D / (D + S) + Ks S / (D + S)
CMPC = 0,1209 (1 – 0) 5.700.000 / 8.800.000 + 0,18 x 3.100.000 / 8.800.000 = 14,17% a.a.

Ou seja:
WACC = Kd (1-IR) D + Ks S
D+S D+S
(0,1209 x 0,65) + (0,18 x 0,35)
0,078585 + 0,063000 = 14,16%
Memória de cálculo
5.700.000 dividido 8.800.000 = 0,647727 D / (D + S) = 65%
3.100.000 dividido 8.800.000 = 0,352273 S / (D + S) = 35%
0,1209 x 0,647727 = 0,078310
0,18 x 0,352273 = 0,063409
0,078310 + 0,063409 = 0,141719 x 100 = 14,17%

Outra maneira de calcular o CMPC é usando a tabela de Gitman (2010)

230
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 41 Cálculo do CMPC
Custo
Fonte Valores Peso Custo Taxa IR IR CMPC
médio
Própria 3.100.000 35% 18% 6,30% - - 6,30%
Terceiros 5.700.000 65% 12,09% 7.86% - - 12,09%
Total 8.800.000 100 14,16%
Memória de cálculo:

3.100.000 dividido por 8.800.000 = 35%


5.700.000 dividido por 8.800.000 = 65%
Se tivesse IR se deduziria
Fonte: Adaptada de Gitman (2010)

Finalmente, já tendo determinado o custo do capital (CMPC) da Energy, podemos


calcular o VPL do projeto “X” da Energy para ver se esse projeto é viável ou não:

VP = VF / (1 + taxa)n
VP = 120.000 / (1 + 0,1417)1 = 105.106,42

Investimento Inicial (II) = 100.000,00


VPL = VP – II
VPL = 105.106,42 – 100. 000,00 = 5.106,42 (positivo)
Conclusão: O projeto “X” é viável, pois apresenta um VPL positivo.

Ou

VP = VF
(1 + i) 1

VP = 120.000
(1 + 0,1417) 1

VP = 120.000 = 105.106,42
(1,1417) 1

VPL = VP – II
VPL = 105.106,42 – 100.000 = 5.10642
Conclusão: O projeto “X” é viável, pois apresenta um VPL positivo.

231
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Outro exemplo:

Um projeto da empresa OBA utilizará endividamento de longo prazo (dívidas) e


financiamento de capital ordinário (emissão e venda de ações ordinárias). Calcule o
CMPC do projeto OBA proposto com base nas seguintes informações: A taxa RF é 6% a.a.
O Beta das ações da OBA é 1,15. O prêmio de risco de mercado (Erm – RF) é 8% a.a. A taxa
de juros é 10% a.a. A dívida representa 60% do capital da empresa OBA. A alíquota do IR
é 30%.

Solução:
1º calcular o Ks

Ks = RF + Bs (Erm – RF)
Ks = 0,06 + 1,15 (0,08) = 0,1520 = 15,20% a.a.

WACC = Kd (1-IR) D + Ks S
D+S D+S

0,10 x (1-0,30) x 0,60 + 0,1520 x 0,40


0,042 + 0,0608 = 10,28%

*Obs: Não tem valores dos capitais, mas tem a porcentagem.

CMPC = Kd (1 – IR) D / (D + S) + Ks S / (D + S)
CMPC = 0,10 (1 – 0,3) (60%) + 0,1520 (40%) = 10,28%
Resposta: O CMPC da empresa OBA é 10,28% a.a.

Tabela 42 Cálculo do CMPC


Custo
Fonte Valores Peso Custo Taxa IR IR CMPC
médio
*Própria 40% 15,20% 6,08 - - 6,08
*Terceiros 60% 10% 6% 30% 1,80 4,20%
Total 100 10,28%
Fonte: Adaptada de Gitman (2010)

232
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.7 CAPITAL DE GIRO OU CAPITAL CIRCULANTE

IMPORTANTE!!!
A visão tradicional de capital de giro responde à pergunta “Caso a empresa venha a
encerrar as atividades, terá condições de saldar seus compromissos?”.
No entanto, devem-se ter informações contábeis e financeiras que nos respondam “Como a empresa
pode continuar a saldar seus compromissos, mantendo- se em funcionamento?” (CAVALCANTE, 2019)

4.7.1 Modelo Tradicional

O Capital de Giro ou Capital Circulante, na visão de Assaf Neto (2003) corresponde a uma
parcela de capital aplicada pela empresa em seu ciclo operacional, caracteristicamente
de curto prazo, a qual assume diversas formas ao longo de seu processo produtivo e de
venda. Ou seja, o capital de giro corresponde ao ativo circulante de uma empresa, que
será utilizado para saldar as necessidades circulantes durante o ciclo, desde a aquisição
de matéria-prima até a venda e o recebimento dos produtos produzidos.
Na concepção de Lunelli (2020), capital de giro é o conjunto de valores necessários
para a empresa fazer seus negócios acontecerem (girar). Existe a expressão “Capital em
Giro”, que seriam os bens efetivamente em uso.
Assaf Neto (2015) conceitua capital de giro como sendo capital circulante ou ativo
circulante, constituindo o grupo de maior liquidez, que se apresenta no ativo da empresa,
afetando ou sendo afetado, significativamente, por suas atividades operacionais. É
constituído pelo Ativo Circulante, isto é, pelas aplicações correntes, identificadas
geralmente pelas disponibilidades, valores a receber e estoques.
O termo giro, no meio financeiro para Assaf Neto e Silva (2011), refere-se aos recursos
correntes (curto prazo) da empresa, identificados como aqueles capazes de serem
convertidos em caixa no prazo máximo de um ano.
As dificuldades relativas ao capital de giro numa empresa de acordo com Lunelli
(2020) são devidas, principalmente, à ocorrência dos seguintes fatores:
• Redução de vendas;
• Crescimento da inadimplência;
• Aumento das despesas financeiras;
• Aumento de custos.

233
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ENTENDA QUE!!!
O capital de giro precisa ser acompanhado e monitorado permanentemente,
pois está sofrendo o impacto das diversas mudanças no panorama econômico
enfrentado pela empresa de forma contínua. (LUNELLI, 2020).

4.7.1.1 Capital de giro líquido (CGL) ou capital circulante líquido (CCL)

É a interpretação mais usual. Representa, de maneira geral, o valor líquido das


aplicações (deduzidas das dívidas a curto prazo) processadas no ativo (capital) circulante
da empresa. Segundo essa conceituação, a forma mais direta de obter-se o valor do
capital de giro líquido é mediante a simples diferença entre o ativo circulante e o passivo
circulante, ou seja:

CGL (CCL) = Ativo Circulante (-) Passivo Circulante

Segundo um enfoque rigoroso, o capital de giro líquido para Assaf Neto (2014),
representa normalmente a parcela dos recursos de longo prazo (recursos permanentes)
aplicada em itens ativos de curto prazo (circulante). Na realidade, essa interpretação
acurada do capital de giro líquido é processada de “baixo para cima” no balanço, isto
é, identificando-se os valores passivos de longo prazo (próprios ou de terceiros) que
estão financiando o ativo circulante da empresa. Em outras palavras, o CGL representa a
parcela do financiamento total de longo prazo que excede as aplicações também de longo
prazo. Algebricamente, o cálculo desse valor é obtido pela seguinte expressão:

CGL (CCL) = (PL + PnC) - (Ativo não Circulante)

Um parâmetro considerado para fins de análise da liquidez das empresas é o Capital


de Giro Líquido (ou Capital Circulante Líquido), que representa a diferença entre o Ativo
Circulante e o Passivo Circulante. (CAVALCANTE, 2020).

234
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.7.1.1.1 Capital de Giro Líquido Positivo

Tabela 43 Demonstração do Capital de Giro Líquido Positivo


AC 160.000 PC 120.000
AnC 140.000 PnC 80.000
PL 100.000
TOTAL 300.000 TOTAL 300.000
Fonte: Adaptado de Cavalcante (2020)

CGL = AC – PC
CGL = 160.000 – 120.000 = 40.000 (Este valor provê do PnC ou PL)

CGL = (PL + PnC) – (AnC)


CGL = (100.000 + 80.000) – (140.000)
CGL = 180.000 – 140.000 = 40.000

Conclusão da Primeira Fórmula:

Do total de 160.000 aplicados no AC, 120.000 são oriundos de créditos de curto prazo
(PC) e os 40.000 restantes que representam o CGL estão identificados nos recursos
permanentes da empresa (PnC e PL).

Conclusão da Segunda Fórmula:

Inversamente, dos 180.000 de fundos levantados a Longo Prazo (PnC e PL), 140.000
estão alocados em ativo também de longo prazo (AnC), sendo que os 40.000 excedentes
(CGL) foram destinados a financiar o ativo circulante.
Este valor representa o quanto às aplicações de curto prazo supera as origens de
recursos de curto prazo. Neste caso, denota uma liquidez satisfatória.
No exemplo acima considerou-se a existência de um capital de giro líquido positivo.

235
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Figura 10 Capital de Giro Líquido Positivo
Fonte: Adaptada de Cavalcante (2019)

ATENÇÃO!!!
Se o Capital de Giro for positivo significa que os ativos circulantes são sufi-
cientes para liquidar os passivos circulantes, o que caracteriza uma empresa de
bom nível de liquidez. (CAVALCANTE, 2020).

4.7.1.1.2 Capital de giro líquido negativo


Quando os recursos permanentes (PL e PnC) da empresa não são suficientes para
cobrir todas as suas necessidades de longo prazo (AnC), devendo ser utilizados fundos
provenientes do Passivo Circulante (curto prazo). Assim, um CCL negativo identifica a
presença de dívidas de curto prazo e financia operações com prazos de retorno maior.

Tabela 44 Capital de Giro Líquido Negativo


AC 280.000 PC 320.000
AnC (*) 860.000 PnC (**) 300.000
PL (**) 520.000
TOTAL 1.140.000 TOTAL 1.140.000
Fonte: Adaptada de Cavalcante (2020)

(*) Necessidade de longo prazo


(**) Recursos de longo prazo

236
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CGL = AC – PC =
CGL = 280.000 – 320.000 = (40.000)
CGL = (PL + PnC) – (AnC)
CGL = (520.000 + 300.000) – (860.000)
CGL = 820.000 – 860.000 = (40.000)

Figura 11 Figura 10 Capital de Giro Líquido Positivo


Fonte: Adaptada de Cavalcante (2019)

SABIA QUE!!!
Se o Capital de Giro for negativo a empresa tem um nível de obrigações que
superam seus bens e direitos de curto prazo, o que pode denotar problemas de
liquidez.

4.7.1.1.3 Capital de giro líquido nulo


Quando há total igualdade entre os prazos e os valores dos recursos captados e
aplicados pela empresa. Através dessa composição justa de valores, a empresa, na
realidade, não trabalha com recursos de longos prazos aplicados em itens circulantes. As
aplicações de curto prazo estão totalmente financiadas com fundos da mesma duração,
sendo que a liquidez não apresenta folga alguma.

237
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 45 Capital de Giro Líquido Nulo
AC 280.000 PC 280.000
AnC 860.000 PnC 340.000
PL 520.000
TOTAL 1.140.000 TOTAL 1.140.000
Fonte: Adaptada de Cavalcante (2020)

CGL = AC – PC
CGL = 280.000 – 280.000 = 0

CGL = (PL + PnC) - (AnC)


CGL = (520.000 + 340.000) – (860.000)
CGL = 860.000 – 860.000 = 0

Indica que recursos de curto prazo financiam as flutuações da NCG, dado as aplicações
permanentes se igualam as fontes permanentes.

O processo de análise de capital de giro requer atenção especial em informações e


demonstrações contábeis que se transformarão em indicadores capazes de auxiliar os
usuários externos de contabilidade na tomada de decisão.
As metodologias propostas para análise de capital de giro são a tradicional e a
dinâmica. Servem para mensurar e dar consistência aos resultados que serão obtidos.
Por esta razão, são apresentados os componentes necessários para avaliar o capital de
giro sob as duas óticas e, após, as definições e critérios que cada metodologia se municia
para sustentação de seus indicadores.
O modelo tradicional de análise tem como resultado os indicadores de liquidez de
uma empresa. Para os críticos, esse modelo se apresenta estático, tanto que os criadores
do modelo dinâmico, Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), afirmam que os índices de liquidez
nada mais são do que índices de solvência.

4.7.2 Modelo Dinâmico ou de Fleuriet

O Modelo Dinâmico de Capital de Giro, também conhecido como Modelo de Fleuriet


foi introduzido no Brasil por meio do encontro do professor e pesquisador Michel Fleuriet
e a instituição de ensino brasileira Fundação Dom Cabral, na década de 70. Foi também

238
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
adaptado às empresas brasileiras a fim de perpetuá-lo no conceito de avaliação do capital
de giro.

IMPORTANTE!!!
O Modelo de Fleuriet ou Dinâmico é fruto de pesquisas coordenadas por
Fleuriet, cujo trabalho de sua equipe resultou na publicação do livro “A Dinâmica
Financeira das Empresas Brasileiras: Um Novo Método de Análise, Orçamento e Planejamento
Financeiro”, em 1978, pela Fundação Dom Cabral.

Em 2003 de acordo com Mesquita (2008), o livro teve sua 5ª edição revisada com
alguns ajustes e inclusões, entretanto, sua essência após 25 anos permaneceu válida e de
grande utilidade para a avaliação de empresas no Brasil.
Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) defendem que no modelo proposto de análise financeira
as contas do ativo e passivo devem ser consideradas em relação à realidade da dinâmica
da empresa, onde as contas são classificadas de acordo com o seu ciclo, ou seja, o tempo
que leva para se realizar uma rotação.
Na análise tradicional não há visualização da empresa em funcionamento, ela é vista
de maneira estática, o que não é condizente com a realidade. Fleuriet, Kehdy e Blanc
(2003), mencionam que a organização deve ser visualizada de forma dinâmica, no qual,
algumas contas do ativo e do passivo apresentam constante renovação em função do
desenvolvimento operacional das empresas.
Ele partiu do pressuposto que embora a classificação horizontal da apresentação
tradicional do balanço patrimonial apresenta uma série de vantagens, ela é inadequada
no que se refere a uma análise dinâmica da situação econômico-financeira das empresas.
Dessa forma, elaborou uma nova classificação horizontal para o balanço patrimonial,
enfatizando o ciclo econômico e o financeiro de uma empresa, fornecendo dados para a
análise dinâmica em oposição à análise estática (FLEURIET; KEHDY; BLANC, 2003).
Araújo, Costa e Camargos (2010) dizem que a finalidade deste modelo é estabelecer
uma consistência na gestão e avaliação financeira das empresas brasileiras na perspectiva
da liquidez financeira, fornecendo uma visão sistêmica do impacto na decisão da
companhia.

239
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
SABIA QUE!!!
O Modelo Dinâmico ou modelo Fleuriet, proporciona explicações mais comple-
tas e articulares sobre a posição de equilíbrio e viabilidade financeira da empresa,
por meio da identificação da necessidade de investimento no giro dos negócios e do volume de
recursos de longo prazo que se encontra financiando esse giro. (SATO, 2007)

4.7.2.1 Reagrupamento das contas do Balanço Patrimonial

Segundo Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), as contas foram agrupadas por afinidade,
surgindo três grupos:
• Contas Operacionais ou Cíclicas
• Contas Não-Circulantes (não cíclicas)
• Contas Financeiras ou Erráticas

Contas Operacionais ou Cíclicas

São as que guardam estreita relação com as atividades da empresa, que de acordo com
Cavalcante (2019) são o conjunto de bens, direitos e obrigações necessárias para manter
a firma funcionando a um determinado nível de faturamento.
Podem ser denominadas cíclicas pela ideia de valores que estão sempre girando e
renovando automaticamente, no ritmo do negócio. (CAVALCANTE, 2020).

Os ativos operacionais são os bens e direitos necessários para a operacionalização da


empresa, sendo seus principais valores as contas a receber de clientes e os investimentos
em estoques de matéria-prima, produtos em elaboração e produtos acabados.
(CAVALCANTE, 2020).
Os passivos operacionais são as obrigações decorrentes diretamente das atividades
operacionais da empresa, tais como valores a pagar aos fornecedores, salários e encargos
a pagar, impostos a recolher sobre a atividade produtiva (impostos sobre o faturamento,
tais como ICMS, PIS/COFINS, IPI). (CAVALCANTE, 2020).

Contas Não Circulantes ou Permanentes (não cíclicas)


Para Cavalcante (2019), as contas não-circulantes dificilmente guardam relação com o

240
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
processo produtivo, a curto prazo, sendo de natureza permanente.
Os ativos não-circulantes englobam os valores a receber de longo prazo e o ativo
permanente, tanto investimentos, imobilizado e diferido. (CAVALCANTE, 2020).
Os passivos não-circulantes englobam as obrigações exigíveis a longo prazo e
patrimônio líquido, recursos dos sócios ou acionistas. (CAVALCANTE, 2020).

Contas Financeiras ou Erráticas


Estas contas também não guardam relação com o processo produtivo, estando ligadas
à tesouraria da empresa e daí a sua natureza financeira. (CAVALCANTE, 2019).
Os ativos financeiros são disponibilidades e aplicações de curto prazo mantidas
normalmente como precaução para reduzir o risco advindo da flutuação diária das
entradas e saídas de caixa. (CAVALCANTE, 2020).
Os passivos financeiros são empréstimos de curto prazo obtidos para cobrir
necessidades de caixa. (CAVALCANTE, 2020).

Resumo
O Ativo Circulante foi dividido em uma parte relacionada com o processo produtivo,
o Ativo Circulante Operacional (ACO) ou Cíclico, e outra relacionada com as
disponibilidades e aplicações de curto prazo, o Ativo Circulante Financeiro (ACF) ou
Errático.

O Passivo Circulante foi desmembrado em uma parte relacionada com o processo


produtivo, o Passivo Circulante Operacional (PCO) ou Cíclico; e outra que compreende
as fontes de recursos de curto prazo que não decorram de forma direta com o processo
produtivo, o Passivo Circulante Financeiro (PCF) ou Errático.

Por outro lado, as contas não-circulantes foram agrupadas, formando de um lado


o Ativo não Circulante ou Permanente, formado pelo Realizável a Longo Prazo e pelo
Ativo Permanente. O Passivo Não Circulante ou Permanente foi composto pelo Exigível
a Longo Prazo, o Resultado de Exercícios Futuros e o Patrimônio Líquido. (CAVALCANTE,
2020).

Portanto, as contas do ativo e passivo circulante do Balanço Patrimonial tradicional


foram desmembradas em duas partes conforme demonstra Cavalcante (2019):

241
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 46 Balanço Patrimonial com as contas reagrupadas
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro (ACF) 100 Passivo Circulante Financeiro (PCF) 400
Caixa/Bancos/Aplicações 100 Empréstimos/Financiamentos 400
Ativo Circulante Operacional (ACO) 1.900 Passivo Circulante Operacional (PCO) 700
Contas a Receber 900 Fornecedores 500
Estoques 1.000 Contas a Pagar (Salários, Encargos, Imp.) 200
Ativo Não Circulante 9.200 Passivo Não Circulante 10.100
Realizável a Longo Prazo 1.200 Exigível a Longo Prazo 3.900
Contas a Receber 1.200 Empréstimos/Financiamentos 3.800
Resultado de Exercícios Futuros 100
Ativo Permanente 8.000 Patrimônio Líquido 6.200
Investimentos 1.000 Capital Social 5.000
Imobilizado 6.500 Reservas 500
Intangível 500 Lucros ou Prejuízos Acumulados 700
Total do Ativo 11.200 Total do Passivo 11.200
Fonte: Adaptada de Cavalcante (2019)

Observação
No Ativo e Passivo Financeiro foram agrupadas as contas ligadas à Tesouraria. As
contas de Ativo e Passivo Operacionais são as que estão relacionadas com as atividades
da empresa. Já as contas de natureza permanente do ativo e passivo formam o Ativo e
Passivo Não-Circulante. (CAVALCANTE, 2020).

Neste sentido, Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), dizem que esta forma de classificar as
contas do Balanço permite a estruturação de três conceitos fundamentais para o modelo
da Análise Dinâmica:
• NCG – Necessidade de Capital de Giro ou IOG – Investimento Operacional em Giro
• CPL – Capital Permanente Líquido
• ST ou SD – Saldo de Tesouraria ou Saldo Disponível

Menezes et al (2005, p. 7) alertam que “essas variáveis empresariais permitem uma


análise prospectiva da verdadeira situação econômico-financeira das empresas, inferindo
sobre a real situação de liquidez das entidades”.

242
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.7.2.2 Necessidade de Capital de Giro (NCG) – IOG – Investimento
Operacional em Giro

É a diferença entre o Ativo Circulante Operacional e o Passivo Circulante Operacional.

NCG ou IOG = ACO – PCO

O IOG ou NCG pode assumir um valor positivo, quando as aplicações no ativo


operacional superam as origens do passivo operacional. Cavalcante (2019) cita como
exemplo as empresas de característica industrial, cujo negócio está na fabricação e
venda dos produtos que implicam um alto investimento em estoques (tanto de matéria-
prima como de produtos em elaboração e de produtos acabados) e em contas a receber
de clientes.

O IOG ou NCG é negativo quando as origens do passivo operacional são maiores do


que as aplicações do ativo operacional. Esta é uma característica das empresas comerciais,
que investem em estoque de mercadorias que são vendidas à vista, e normalmente pagam
os seus fornecedores a prazo. (CAVALCANTE, 2019).

VALE A PENA CONFERIR!!!


A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é o valor mínimo que uma empresa
precisa ter de dinheiro em seu caixa para garantir sua operação. (PAULA, 2020).

4.7.2.3 Capital Permanente Líquido – CPL

É a diferença entre o passivo não circulante, ou seja, as obrigações de longo prazo


e o patrimônio líquido e o ativo não circulante que engloba as aplicações em ativo
permanente e ativo realizável a longo prazo.

CPL = PNC – ANC

243
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Se o CPL for positivo significa que as origens de recursos de longo prazo superam o
valor investido a longo prazo. (CAVALCANTE, 2020).

Se o CPL for negativo implica em se ter mais aplicações em itens de longo prazo do
que origens de recursos de longo prazo, e consequentemente em aplicação em recursos
não circulantes. (CAVALCANTE, 2020).

4.7.2.4 Saldo de Tesouraria (ST) ou Saldo Disponível (SD)

É a diferença entre o Ativo Circulante Financeiro (ACF) e o Passivo Circulante


Financeiro (PCF).
SD ou ST = ACF - PCF

Se o SD ou ST for positivo, Cavalcante (2019), diz que implica em um Capital


Permanente Líquido – CPL maior do que o Investimento Operacional em Giro – IOG ou
Necessidade de Capital de Giro. Isto significa que os recursos líquidos de longo prazo
cobrem o IOG ou NCG e ainda “sobra” uma parcela para fortalecer a Tesouraria da
empresa. Neste caso, o ativo financeiro (disponibilidades e aplicações de curto prazo)
supera o passivo financeiro (empréstimos de curto prazo).
Já uma Tesouraria negativa implica que o Investimento Operacional em Giro – IOG
ou NCG supera o Capital Permanente Líquido – CPL, de acordo com Cavalcante (2019)
e ainda é necessário se ter recursos de curto prazo para financiar o giro. Neste caso, os
empréstimos superando as aplicações de curto prazo e disponibilidades.

VALE LEMBRAR QUE!!!


O Saldo de Tesouraria representa a diferença entre o Ativo Errático (Ativo
Circulante Financeiro) e o Passivo Errático (Passivo Circulante Financeiro).

244
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 47 Balanço Patrimonial com as contas reagrupadas evidenciando as variáveis acima de acordo
com Cavalcante (2019)
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante Financeiro (ACF) 100 Passivo Circulante Financeiro (PCF) 400
Caixa/Bancos/Aplicações 100 Empréstimos/Financiamentos 400
Saldo de Tesouraria (ST) ou Saldo Disponível (SD)
SD ou ST = ACF – PCF
SD ou ST = 100 – 400
SD ou ST = (300)
Ativo Circulante Operacional (ACO) 1.900 Passivo Circulante Operacional (PCO) 700
Contas a Receber 900 Fornecedores 500
Estoques 1.000 Contas a Pagar (Salários, Encargos, Imp.) 200
Necessidade de Capital de Giro (NCG) – IOG – Investimento Operacional em Giro
NCG ou IOG = ACO – PCO
NCG ou IOG = 1900 – 700
NCG ou IOG =1.200
Ativo Não Circulante 9.200 Passivo Não Circulante 10.100
Realizável a Longo Prazo 1.200 Exigível a Longo Prazo 3.900
Contas a Receber 1.200 Empréstimos/Financiamentos 3.800
Resultado de Exercícios Futuros 100
Ativo Permanente 8.000 Patrimônio Líquido 6.200
Investimentos 1.000 Capital Social 5.000
Imobilizado 6.500 Reservas 500
Intangível 500 Lucros ou Prejuízos Acumulados 700
Capital Permanente Líquido – CPL
CPL = PNC – ANC
CPL = 10.100 – 9.200
CPL = 900
Total do Ativo 11.200 Total do Passivo 11.200
Fonte: Adaptadas de Cavalcante (2019)

Análise de acordo com Cavalcante (2019)


O Investimento em Giro da empresa (IOG = Ativo Circulante Operacional menos
Passivo Operacional) é de $1.200. Como foi positivo, significa que as aplicações em giro
(estoques em contas a receber) superam as origens da atividade (fornecedores e contas a
pagar).
O Capital Permanente Líquido de $900, por ser positivo, as origens de longo prazo
(exigíveis e patrimônio dos sócios) superam o nível de aplicações (em permanente e
realizável a longo prazo). Estes recursos financiam uma parte do investimento em giro.

245
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
A Tesouraria negativa de ($300) pode ser explicada de dois ângulos. O primeiro
pela diferença entre as outras duas variáveis anteriores: IOG e o CPL. Apenas parte do
giro (IOG) é financiada com recursos de longo prazo (CPL), sendo que a grande maioria
da necessidade de giro é financiada por recursos financeiros de curto prazo (T). Como
consequência, de outro ponto de vista, os Passivos Financeiros são superiores aos Ativos
Financeiros.

4.7.2.5 O efeito tesoura

As empresas que operam com Saldo de Tesouraria negativo de acordo com Fleuriet,
Kehdy e Blanc (2003), financiam sua Necessidade de Capital de Giro (NCG) com fundos
de curto prazo. Caso esses recursos de curto prazo não sejam renovados essas empresas
podem ser levadas ao estado de insolvência, ocorrendo o efeito tesoura.

IMPORTANTE!!!
O efeito tesoura trata-se de um conceito introduzido por Fleuriet, tem início
quando o saldo de tesouraria se torna negativo, e assume uma tendência crescen-
te em termos absolutos a taxas maiores que aquelas verificadas para a NCG.

A empresa está se desenvolvendo num efeito tesoura quando este índice se eleva com
o passar do tempo. O acompanhamento cuidadoso do Saldo de Tesouraria, observado
sob o prisma do grau de alavancagem operacional e financeira, dará ao empresário uma
medida adequada de como e quanto se endividar. Nem sempre o crescimento das vendas
é um movimento sadio, nem sempre a queda nas vendas é um movimento pernicioso.
Tudo depende da relação entre a variação da NCG sobre as vendas, bem como do
autofinanciamento sobre as vendas.
Para Vieira (2005, 121) “o efeito tesoura se instala quando ocorre um descompasso
entre a evolução das fontes disponíveis de longo prazo (CDG) e as aplicações que precisam
ser financiadas (NCG)”.
O Efeito tesoura acontece quando a empresa não consegue aumentar o CDG no mesmo
ritmo de aumento da NCG.

246
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Figura 12 O efeito tesoura
Fonte: Adaptado de Silva (2017)

Os principais motivos que levam uma organização a entrar no chamado efeito tesoura,
conforme Silva (2017) são:
a) Crescimento muito elevado das vendas;
b) Investimentos elevados com retorno a longo prazo;
c) Crescimento expressivo do ciclo financeiro;
d) Baixa geração de lucros;
e) Investimentos com baixos retornos;
f) Inflação elevada;
g) Distribuição de resultados elevada com alto percentual de dividendos;
h) Redução das vendas.

Para evitar o efeito tesoura Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003) descrevem que a empresa
deve planejar a evolução do Saldo de Tesouraria, que depende de variáveis que afetam o
Autofinanciamento, a Necessidade de Capital de Giro e o Capital de Giro. Fazendo com
que o Autofinanciamento seja suficiente, pelo menos, para financiar os aumentos da
NCG.
O efeito tesoura pode ser caracterizado pelo seguinte indicador:

Efeito Tesoura = Saldo em Tesouraria (ST)


Necessidade de Capital de Giro (NCG)

Se este índice crescer negativamente, em exercícios seguidos, teremos caracterizado


o efeito tesoura.
Exemplo:

247
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 48 Característica do Efeito Tesoura
Ano ST NCG ST div NCG
X2 500 900 0,56
X3 (500) 1.800 (0,28)
X4 (1.300) 2.000 (0,65)
Fonte:Adaptada de Lunelli (2020)

Veja que o indicador “ST/NCG” está crescendo negativamente, ao longo dos anos,
neste caso a empresa está sofrendo o chamado “Efeito Tesoura”.

4.7.2.6 Tipologia de Fleuriet

O modelo da Análise Dinâmica de Fleuriet teve grande contribuição na análise do


comportamento de suas variáveis CDG, ST e NCG, permitindo que a empresa avalie
rapidamente sua situação financeira através da classificação dos balanços em um dos
seis tipos possíveis de configurações de determinados elementos patrimoniais. (BRAGA,
1991).
Essas variáveis são analisadas de acordo com os sinais positivos ou negativos e abaixo
estão definidas as possíveis estruturas financeiras.
Das seis variáveis, quatro são apresentadas por Fleuriet, Kehdy e Blanc (2003), sendo
consideradas mais comuns e duas são apresentadas por Braga (1991).

Estrutura e situação financeira

Tabela 49 Estrutura e situação financeira


Situação CDG ST NCG Posição
1 + + - Excelente
2 + + + Sólida
3 - + - Arriscada
4 + - + Insatisfatória
5 - - - Muito ruim
6 - - + Péssima
Fonte: Adaptada de Braga, Nossa e Marques (2004)

248
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Situação 1 – Excelente
Segundo Braga, Nossa e Marques (2004) o CDG positivo indica o uso de recursos de
longo prazo para financiar o AC, indicando uma relevante folga financeira. A NCG é
negativa, ou seja, o PCO financia todo o ACO, o que denota um ciclo financeiro reduzido.

Situação 2 - Sólida
A NCG é positiva, o que significa que o montante do PCO não é suficiente para cobrir o
valor de investimento no ACO. Porém, como diz Braga (1991) o CDG é positivo, os recursos
de longo prazo compensam a NCG negativa e ainda garantem um saldo positivo de ST.

Situação 3 – Arriscada
O valor negativo da NCG para Braga, Nossa e Marques (2004), supre a deficiência do
CDG negativo, de tal forma que propicia um saldo positivo de ST. Assim, o PCO por ser
maior que o ACO financia a necessidade permanente de capital de giro e o investimento
em ACF.

Situação 4 – Insatisfatória
As empresas que se enquadram nesse tipo de estrutura estão numa posição financeira
delicada, pois de acordo com Braga, Nossa e Marques (2004), dependem bastante de
empréstimos de curto prazo para financiar suas operações. O saldo negativo da ST é
ampliado à medida que a diferença entre NCG e CDG cresce, denominado efeito tesoura
(NCG>CDG>ST).

Situação 5 – Muito ruim


Conforme Braga, Nossa e Marques (2004), a situação apresenta um CDG negativo,
evidenciando que os investimentos permanentes são financiados com recursos de curto
prazo. No entanto, o saldo negativo da NCG deixa a situação financeira de curto prazo da
empresa menos grave.

Situação 6 – Péssima
Braga, Nossa e Marques (2004), sintetizam que a NCG positiva e o CDG negativo são
financiados com recursos financeiros de curto prazo. Essa situação revela um grande
desequilíbrio entre as aplicações e as fontes de recursos.

249
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.8 INDICADORES E ANÁLISES ESPECIAIS

Passaremos agora a estudar os indicadores especiais na análise de balanço que são:


Análise DuPont, EBITDA, NOPAT, EVA e MVA.

4.8.1 Análise DuPont

Azzolin (2012) informa que em 1920, surgiu um modelo de análise da rentabilidade da


empresa DuPont Powder Company, empresa americana de explosivos fundada em 1903,
que decompunha a taxa de retorno em taxas de margem de lucro e giro dos negócios,
chamado de análise do ROI (Return on Investment), também conhecido como ROA
(Return on Asset ou Retorno do Ativo).
De acordo com Weston e Brigham (2000), o modelo foi criado e implementado na
empresa DuPont por F. Donaldson Brown, um engenheiro elétrico, e, posteriormente, na
General Motors Corporation, quando a DuPont adquiriu parte das ações dessa empresa.

ATENTOS!!!
O sistema Dupont é um índice financeiro muito útil, um dos mais importantes
para a análise do desempenho econômico de uma empresa. (RAKIA, 2020).

A utilização desse modelo tem como objetivo localizar e avaliar o desempenho das
diversas divisões e dos diversos produtos da empresa e, em consequência, avaliar seus
gerentes.
Essa análise é empregada por corporações que possuem muitas fabricas ou divisões.
O gestor principal da empresa (CEO) que precisa analisar o desempenho de seus gerentes
utiliza-se da ROI de cada uma das unidades administradas para avalia-las e para
determinar a elaboração de planos visando melhorar os resultados. (AZZOLIN 2012)
Lunelli (2020) diz que o objetivo da decomposição dos componentes que propiciam
a maximização da rentabilidade do capital próprio é possibilitar o estudo de quais
componentes ainda eventualmente carecem de adequações corretivas.
Os três caminhos fundamentais para se maximizar o lucro do capital próprio são para

250
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
o mesmo autor:
a) A eficiência/produtividade do investimento, evidenciada pelo giro do ativo total,
ou seja, a capacidade que a empresa tem de faturar mais vezes com a mesma estrutura e
quantidade de recursos (ativos) a sua disposição;
b) A lucratividade sobre vendas, ou seja, o quanto a empresa consegue obter para cada
valor faturado, evidenciando a estrutura ótima de despesas e custos;
c) A estrutura ótima de passivo, ou seja, o mínimo de recursos próprios utilizados para
financiar os ativos, obtendo o máximo rendimento do capital próprio investido.
A análise DuPont, funciona como uma técnica de busca para localizar as áreas
responsáveis pelo desempenho da empresa. Este sistema funde a demonstração do
resultado e o balanço patrimonial em duas medidas-sínteses da rentabilidade dos ativos:
- a lucratividade das vendas, representada através da Margem Líquida, evidenciando o
ganho no preço; - e a produtividade, visualizada a partir do Giro do Ativo, que demonstra
o ganho na quantidade e indica qual a eficiência da empresa na utilização dos seus ativos
para geração de vendas.
As fórmulas modificadas de ROA ou ROI e ROE são conhecidas como sistema DuPont
de análise, e podem ser melhor compreendidas pela ilustração apresentada abaixo.
Graficamente o sistema de análise DuPont, fica assim representado:

Figura 13 Sistema de análise DuPont


Fonte: Adaptado de Lunelli (2020)

251
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Esta figura é como uma espécie de “mapa do lucro”, auxiliando o analista financeiro
a identificar os componentes chaves na formação do lucro e suas contribuições ou
problemas para a formação dos resultados obtidos. (LUNELLI 2020).

FIQUE DE OLHO!!!
A análise econômica e financeira de uma empresa, pelo Sistema DuPont
permite uma melhor compreensão dos fatores determinantes da taxa de retorno
sobre o capital próprio. (ANÁLISE DUPONT, 2020).

Azzolin (2012) traz o seguinte exemplo:

As Demonstrações Financeiras resumidas da Cia. Alfa são as constantes abaixo:

Balanço Patrimonial da Cia Alfa


Tabela 49 Balanço Patrimonial da Cia Alfa
ATIVO PASSIVO
Ativo Circulante R$ 333 Passivo Circulante R$ 208
Caixa e Bancos R$ 12 Fornecedores R$ 132
Clientes R$ 227 Contas a Pagar R$ 76
Estoque R$ 94 Passivo não Circulante R$ 427
Ativo não Circulante R$ 411 Total do Passivo R$ 635
Investimentos R$ 12 Patrimônio Líquido R$ 109
Imobilizado R$ 380 Capital R$ 100
Intangível R$ 19 Reserva de Lucros R$ 9
Total Ativo R$ 744 Total Passivo + PL R$ 744
Fonte: Adaptada de Azzolin (2012)

Tabela 50 Demonstração do Resultado do Exercício da Cia Alfa


Itens Valores
Vendas R$ 1.453
(-) CPV R$ 1.114
(=) Lucro Bruto R$ 339
(-) Despesas com Vendas R$ 26
(-) Despesas com Assistência Técnica R$ 59
(-) Despesas Administrativas R$ 50
(=) EBITDA R$ 204
(-) Despesas Financeiras R$ 160
(=) Lucro antes do IR R$ 44
Fonte: Adaptada de Azzolin (2012)

252
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
O cálculo da taxa de retorno, de acordo com o modelo DuPont, encontra-se a seguir:

1 - Margem Líquida = Lucro Líquido 44 3,03%


Receita Líquida 1.453

2 - Giro do Ativo = Receita Líquida 1.453 1,9530


Ativo Total 744

3 - Multiplicador de Alavancagem Financeira = Ativo Total 744 6,8257


Patrimônio Líquido 109

O multiplicador de Alavancagem Financeira MAF mostra qual é a representatividade


da dívida na estrutura de capital da empresa. Quanto maior o índice maior a
representatividade da dívida e melhor a rentabilidade sobre o patrimônio líquido.
Quando acrescentamos o MAF na análise vemos que ele exerce um efeito multiplicador
sobre o ROA dando como resultado o ROE. (MÉTODO DUPONT, 2020).

4 - ROA = Giro do Ativo x Margem Líquida


O nível de eficiência de 1,9530 faz com que uma lucratividade de 3,03% resulte em um
ROA de 5,92%.

5 - ROE = ROA x MAF


O ROA passa de 5,92% x 6,8257 para um ROE de 40,39%.

Inicialmente, a fórmula DuPont reúne a margem de lucro e o giro do ativo, indicando


a eficiência com que a empresa usa os ativos para gerar vendas (Retorno Sobre o Ativo –
ROA). Em uma segunda etapa, a fórmula DuPont relaciona o retorno do ativo ao retorno
do patrimônio líquido (Return on Equity – ROE).
Na fórmula sugerida por Gitman (2010) multiplica-se o Retorno do Ativo (ROA) pelo
Multiplicador da Alavancagem Financeira (MAF), ou seja, “e o quociente entre o ativo
total e o patrimônio líquido” e que é calculado pela seguinte fórmula:

ROE = ROA x MAF

O modelo de DuPont se utiliza de fórmulas para analisar a participação da


lucratividade e da produtividade para calcular o retorno do Ativo, o retorno do Ativo
Operacional e o retorno do Capital Próprio de uma empresa. (SOUZA 2016)

253
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
A vantagem considerável do sistema DuPont para Gitman (2010) é que ele permite à
empresa desdobrar seu retorno sobre o Patrimônio Líquido em três componentes:
• lucro sobre as vendas (margem líquida);
• eficiência no uso dos ativos (giro do ativo total) e ;
• uso da alavancagem (multiplicador de alavancagem financeira).
O retorno total para os proprietários pode ser então, analisado à luz dessas
importantes dimensões.

4.8.2 EBITDA

O EBITDA, que corresponde, em inglês, a Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation


and Amortization, nada mais é do que o Lucro Operacional Ajustado, ou seja, representa
o lucro antes dos juros, impostos (sobre o lucro), depreciações e amortizações.
No Brasil, poderíamos expressá-lo como LAJIDA (Lucro antes de Juros, Imposto de
Renda, Depreciação e Amortização). Sua divulgação no Brasil de acordo com Silva (2017),
apesar de não obrigatória, vem sendo feita pela maioria das empresas de capital aberto.

SABIA QUE!!!
O EBITDA é uma medida essencialmente operacional, desconsidera os efeitos
dos resultados financeiros, assim revelando o potencial da empresa para a gera-
ção de caixa operacional. (COLOMBO et al, 2020).

Cabe aqui salientar conforme Iudícibus (2017) que esse indicador não representa o
valor de caixa, porém a capacidade que a empresa tem para a formação de resultado
operacional. Isso porque, a priori, o cálculo está embasado nas demonstrações de
resultado que são formadas sob a ótica do Princípio Contábil da Competência.
Em linhas gerais, o EBITDA para Lunelli (2020) representa a geração operacional
de caixa da companhia, ou seja, o quanto a empresa gera de recursos apenas em suas
atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos.
A utilização do EBITDA ganha importância, porque analisar apenas o resultado final
da empresa (lucro ou prejuízo) muitas vezes tem sido insuficiente para avaliar seu real
desempenho em um dado período, já que muitas vezes é influenciado por fatores difíceis

254
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
de serem mensurados. (Lunelli, 2020).
O EBITDA corresponde a um método de análise empresarial, no entanto, se utilizado
de modo isolado e sem métodos, não é satisfatório para a análise de uma organização e
não considera os gastos financeiros.
A seguir serão apresentados os principais pontos fortes e fracos do EBITDA como
instrumento de gestão dos negócios de acordo com Ritta et al (2017).

4.8.2.1 Pontos fortes do EBITDA

• Possibilita a estimação de fluxo de caixa futuros.


• Desconsidera os efeitos financeiros que podem distorcer o resultado.
• Auxilia nas decisões de políticas gerenciais.
• Mostra o grau de cobertura das despesas financeiras para remunerar os credores.
• Pode ser utilizado como benchmark financeiro para comparar empresas.
• Evidencia a viabilidade dos negócios, por meio da aferição da eficiência
operacional.

4.8.2.2 Pontos fracos do EBITDA

• A utilidade do EBITDA é menor quando não está associada a outros indicadores e


técnicas de relação.
• Não é aplicado para Instituições Financeiras, pois desconsidera as despesas
financeiras.
• Ignora as variações do capital de giro.
• Não considera as necessidades de reinvestimento em bens operacionais.
• Pode dar a falsa ideia sobre a efetiva liquidez do negócio.
• Por excluir as despesas financeiras, pode não refletir a real situação econômico-
financeira das empresas.

Para os autores Ritta et al (2017), os pontos fortes revelam a utilidade do EBITDA para
a elaboração de estratégias gerenciais, para análise da eficiência organizacional e como
medida comparativa de desempenho entre empresas. Por outro lado, os pontos fracos
mostram que por excluir as despesas financeiras, o EBITDA não evidencia o impacto

255
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
do custo financeiro no resultado; e por isso, deve ser utilizado com cautela para análise
financeira de longo prazo; além disso, pode apontar falsa ideia de liquidez do negócio.
Este conceito surgiu devido à grande quantidade de negociações entre as empresas,
fusões, cisões, aquisições, entre outras, em diversos ramos, inclusive empresas estatais
que são privatizadas, ocorridas nos últimos anos, pois é um indicador de muita relevância
para o exercício do business valuation (avaliação de empresa).
Por meio do valor do EBITDA é possível elaborar indicadores que auxiliam na
compreensão do desempenho organizacional, conforme abaixo:

Quadro 18 Indicadores EBITDA


Indicadores Fórmula Indica
EBITDA Mostra o retorno operacional obtido pela receita
Margem EBITDA
Receita Líquida líquida de vendas. Quanto maior, melhor.
EBITDA Aponta o retorno operacional obtido pelos ativos
Retorno EBITDA/AT
Ativo Total totais. Quanto maior, melhor.
EBITDA Informa o retorno operacional obtido sobre o capital próprio.
Retorno EBITDA/PL
Patrimônio Líquido Quanto maior, melhor.
Fonte: Adaptado de Ritta et al (2017)

Os indicadores com base na relação com o EBITDA evidenciam a relação de


desempenho operacional com grupos de contas patrimoniais do Balanço Patrimonial e
contas de resultado da Demonstração de Resultado. Os indicadores do EBITDA mostram
que para cada unidade monetária, como por exemplo, de Receita Líquida; o quanto se
consegue de retorno operacional. Nessa condição, quanto maior for o resultado das
relações do EBITDA, melhor é a eficiência operacional.

4.8.2.3 Cálculo do EBITDA

Lunelli (2020) informa que o primeiro passo para o cálculo do EBITDA é apurar o
lucro operacional, que, de acordo com o critério utilizado no Brasil, é obtido como a
subtração, a partir da receita líquida, do custo dos produtos vendidos (CPV), das despesas
operacionais e das despesas financeiras líquidas (despesas menos receitas com juros e
outros itens financeiros).
Já para calcular o EBITDA, é preciso somar do lucro operacional a depreciação e
amortização inclusas no CPV e nas despesas operacionais. Isso porque essas contas
não representam saída de caixa efetiva no período. Em resumo, a depreciação de um

256
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
equipamento quantifica a perda de sua capacidade produtiva graças ao uso ou tempo,
e, portanto, a perda de seu valor para a empresa. Essa perda vale ressaltar, é econômica
e não financeira, ou seja, não há um desembolso efetivo de recursos no período.
(EBITDA: ENTENDA O CONCEITO E O CÁLCULO DESSE IMPORTANTE INDICADOR DE
DESEMPENHO, 2020).
Outra conta que deve ser acrescentada no EBITDA é a despesa financeira líquida, que
foge do escopo de análise do indicador, ou seja, de efetivo desempenho operacional. Ou
seja, para o cálculo do EBITDA, adicionam-se os juros, depreciação e amortização ao
Lucro Operacional Líquido antes dos impostos. (LUNELLI, 2020).
A CVM emitiu em 2012 por meio da Instrução nº. 527 e estabeleceu que o cálculo
do EBITDA deve ser realizado em consonância com os princípios e normas contábeis,
conforme Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1), que trata da elaboração e apresentação
das demonstrações contábeis.
De acordo com Instrução CVM nº 527, arts. 2º e 3º, alguns aspectos devem ser observados
para fins de cálculo do EBITDA (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2012):

§ 1º Não podem compor o cálculo do LAJIDA e do LAJIR divulgados


ao mercado, valores que não constem das demonstrações contábeis
referidas no caput, em especial da demonstração do resultado do
exercício.
§ 2º A divulgação do cálculo do LAJIDA e do LAJIR deve ser acompanhada
da conciliação dos valores constantes das demonstrações contábeis
referidas no caput.
Art. 3º O cálculo do LAJIDA e do LAJIR não pode excluir quaisquer itens
não recorrentes, não operacionais ou de operações descontinuadas e
será obtido da seguinte forma:
I – LAJIDA - resultado líquido do período, acrescido dos tributos sobre o
lucro, das despesas financeiras líquidas das receitas financeiras e das
depreciações, amortizações e exaustões;
II – LAJIR – resultado líquido do período, acrescido dos tributos sobre o
lucro e das despesas financeiras líquidas das receitas financeiras.

VALE LEMBRAR QUE!!!


O percentual adquirido por meio do EBITDA apresenta aos investidores de uma
organização específica se ela foi competente ou, ainda, se conseguiu elevar a sua
produtividade.

257
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Portanto, o referido indicador não pode excluir quaisquer itens não recorrentes, não
operacionais ou de operações descontinuadas (CMV, instr. n. 527, 2012). Diante de tais
recomendações com vistas à padronização de cálculo e de evidenciação do EBITDA,
nota-se a importância desse indicador como medida de avaliação de desempenho para o
mercado de capitais brasileiro.

Como exemplo citamos o de Alves (2017).


Demonstração do Resultado do Exercício em 31.12.XX
Vendas Brutas 650.000
(-) Impostos 162.500
(=) Vendas Líquidas 487.500
(-) CMV 285.000
(=) Lucro Bruto 202.500
(-) Despesas
De Vendas 25.000
Administrativas 18.000
Depreciação 32.000
Amortização 15.000
Financeiras 45.000
(=) Lucro Operacional antes IR CSLL 67.500
(-) IR e CSLL 16.700
(=) Lucro Líquido 50.800

A partir da DRE acima, podemos calcular o EBITDA da seguinte forma:


(=) Lucro Operacional antes IR CSLL 67.500
(+) Despesas Financeiras 45.000
(+) Amortização 15.000
(+) Depreciação 32.000
(=) EBITDA 159.500

Outra forma de cálculo, partindo do Lucro Líquido:


Lucro Líquido 50.800
(+) IR e CSLL 16.700
(+) Amortização 15.000
(+) Depreciação 32.000
(+) Despesas Financeiras 45.000
(=) EBITDA 159.500

258
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Já Carneiro, Ribeiro e Borges (2014) citam o seguinte exemplo:

Receitas de Vendas 17.000


CPV (9.000)
Lucro Bruto 8.000
Despesas com Vendas (800)
Despesas Gerais e Administrativas (1.200)
EBITDA 6.000
Depreciação (1.000)
Lucro Operacional antes do IR 5.000
Despesas Financeiras (900)
Lucro antes do IR 4.100
Provisão para o IR (1.400)
Lucro Líquido 2.700

Segundo Assaf Neto (2015), o EBITDA pode ser calculado somando o valor do seu
lucro operacional antes do IR com o valor das suas despesas com depreciação, que são
despesas não desembolsadas efetivamente.
EBITDA = lucro operacional antes do IR + depreciação
EBITDA = $ 5.000 + $ 6.000
EBITDA = $ 6.000

Ou
EBITDA = Lucro Líquido + Despesas Financeiras + Depreciação + Imposto de Renda
EBITDA = 2.700 + 900 + 1.000 + 1.400
EBITDA = $ 6.000

Outro exemplo de EBTIDA

Demonstração do Resultado do Exercício das CIA Z


Receita Operacional Bruta 12.000
(-) Deduções da Receita Bruta 1.500
(=) Receita Operacional Líquida 10.500
(-) Custo dos Produtos Vendidos 6.000
(=) Lucro Bruto 4.500
(-) Despesas Operacionais 2.200
Despesas com Vendas 1.200

259
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Despesas Gerais e Administrativas: 1.000
(=) Lucro Operacional 2.300

Obs: Temos já as informações necessárias para o cálculo do EBITDA.

Demonstração do Resultado do Exercício das CIA Z


Receita Operacional Bruta 12.000
(-) Deduções da Receita Bruta 1.500
(=) Receita Operacional Líquida 10.500
(-) Custo dos Produtos Vendidos 6.000
(=) Lucro Bruto 4.500
(-) Despesas Operacionais 2.200
Despesas com Vendas 1.200
Despesas Gerais e Administrativas: 1.000
(=) EBIT 2.300
(+) Depreciação e amortização 300
(=) Ebitda 2.600
(=) Ebitda em percentual da Receita Operacional Bruta 21,67%

Observe que, na mesma estrutura do DRE conseguimos, facilmente, identificar os


números necessários para o cálculo do EBTIDA, aplicando na prática esse indicador no
seu demonstrativo.

ATENÇÃO!!!
O EBIT é a sigla em inglês para Earning Before Interest and Taxes, também cha-
mado no Brasil de LAJIR, isto é, Lucro antes dos Juros e imposto de renda.

Lunelli (2020) diz que o EBITDA é a variável mestra em avaliações de empresa, uma
vez que reflete o puro desempenho do empreendimento no segmento econômico.
Existe uma tendência por parte dos analistas em recomendar negócios com empresas
que apresentam EBITDA positivo, afinal quanto maior a geração de recursos via operações
da empresa, mais atrativo é o negócio. (BLOG TECNISA, 2020).
Um EBITDA positivo indica que a empresa está, provavelmente, saudável, que os seus
produtos ou serviços estão com boa margem de vendas no mercado e que a receita da
empresa é maior que os seus custos. (COMO INTERPRETAR EBITDA, 2020).

260
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para empresas de capital aberto, é muito utilizado por investidores e acionistas, que
avaliam a capacidade do negócio de vender e lucrar, visando crescimento.

4.8.2.4 Diferença entre o EBIT e o EBITDA

EBIT é a sigla da expressão Earning before interest and taxes, também conhecido no
Brasil como LAJIR. Em português, significa “Lucro antes dos juros e imposto de renda”.
Essa ferramenta mostra o verdadeiro lucro contábil das atividades genuinamente
ligadas ao negócio, ou seja, excluindo tudo que não é auferido pela atividade fim da
empresa, como um investimento financeiro.
Em relação ao EBITDA, a diferença é muito simples: é o EBIT sem a dedução do valor
da depreciação de ativos tangíveis (máquinas, por exemplo) e da amortização de ativos
intangíveis (dívida de longo prazo, por exemplo). Ou seja, trata-se da capacidade de
geração de caixa considerando apenas a atividade fim. (EBITDA: O QUE É, PARA QUE
SERVE E COMO CALCULAR, 2020).

4.8.3 NOPAT

O NOPAT é a sigla para “Net Operating Profit After Taxes”ou, em português, Lucro
Operacional Líquido após os Impostos. É uma medida de remuneração do capital
operacional líquido, utilizado pela empresa.
Silva (2017) diz que é portanto uma medida diferente do lucro líquido contábil. De
forma semelhante, o capital operaciona líquido também é diferente do patrimônio
líquido contábil.

VALE LEMBRAR QUE!!!


O NOPAT demonstra o lucro real das empresas por se tratar de uma métrica
que, ao contrário das demais criadas com objetivo similar, desconta todos os
tributos incidentes sobre a operação de um negócio além da depreciação.

261
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quanto a depreciação é bom ser descontada, principalmente para a atividade
industrial, pois estas possuem elevados investimentos em maquinário, impactando
qualquer avaliação ligada a valor econômico de uma empresa.
Na teoria, este indicador mede o valor que poderia ser distribuído aos acionistas
se a empresa não possuísse nenhuma dívida. (PRIORITY PARTNERS STRATEGIC
CONSULTING, 2020).
Para Iudicibus (2017), no caso do NOPAT lembrar que: as despesas financeiras em
nenhum momento são consideradas as despesas financeiras no cálculo do NOPAT.
Isso porque na fórmula do EVA o percentual do custo do capital investido (%C) é
o resultado da ponderação entre o custo do capital de terceiros e próprio. Por isso, as
despesas financeiras (custo de capital de terceiros) não são consideradas a título de evitar
a duplicidade no cálculo final do EVA.
O mesmo autor também diz que quanto ao Imposto de renda – Ajuste dos impostos
economizados pelas despesas financeiras, a partir do momento em que há despesas
financeiras na demonstração de resultado ela reduz o lucro, que, por sua vez, reduz a
base de cálculo dos impostos a pagar. Assim, como há o expurgo dos juros pagos, deve-se
também desconsiderar o efeito positivo no Imposto de Renda. Em outras palavras, deve-
se adicionar ao NOPAT o valor de Imposto de Renda relacionado aos juros financeiros
pagos.
Em análises financeiras, o NOPAT aponta a exata medida da lucratividade da empresa
em uma série histórica. Para possíveis investidores, por exemplo, esse número é um
importante parâmetro de escolha. (O QUE É NOPAT?, 2020).
A origem do NOPAT é o EBIT (Earnings Before Interest and Taxes), que para nós é o
Lucro Antes dos Juros e Impostos de Renda (LAJIR)
Para calcular o NOPAT, é necessário descontar os tributos sobre a renda (IR e CSLL)
conforme abaixo:
NOPAT = EBIT (1 – t )
Em que t = Alíquota de IR e CSLL

Exemplo: Demonstração do Resultado da Cia Encantada

262
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 51 Exemplo: Demonstração do Resultado da Cia Encantada
Receita Bruta 15.000
(-) Impostos sobre a Receita 4.350
(=) Receita Líquida 10.650
(-) CMV 6.000
(=) Margem Bruta 4.650
(-) Despesas Administrativas 600
(=) Lucro Operacional (EBIT) 4.050
(-) Juros 600
(-) Imposto de Renda 1.173
(=) Lucro Líquido 2.277
Fonte: Adaptada de Iudicibus (2017)

A alíquota do IR é de 34%.

NOPAT = EBIT (1 – t )
NOPAT = 4.050 (1 – 0,34)
NOPAT = 2.673

O NOPAT examina qual é o resultado operacional da empresa menos os impostos


teóricos sobre ele como se não houvesse nenhuma dívida, portanto, a linha de Juros
estaria zerada (NOPAT, 2020), ou seja, ele mede o que seria lucro da empresa se todos os
seus ativos tivessem sido financiados com capital dos investidores.
Desse modo, anula a influência dos financiamentos dos ativos sobre o lucro medindo
a lucratividade dos ativos líquidos da empresa, independentemente da forma como eles
são financiados.

Vamos a um exemplo citado por Iudícibus (2017), de comparação entre a demonstração


do resultado e o cálculo do NOPAT:

263
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Quadro 19 Comparação entre DRE e o cálculo do NOPAT
Demonstração do Resultado NOPAT
Receita Bruta Receita Bruta
(-) Impostos e deduções (-) Impostos e deduções
(=) Receita Líquida (=) Receita Líquida
(-) Custo dos produtos vendidos (-) Custo dos produtos vendidos
(=) Lucro Bruto (=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais (-) Despesas Operacionais
(=) EBITDA (Earnings Before Interest Tax Deprecia- (=) EBITDA (Earnings Before Interest Tax Depre-
tion and Amortization) ciation and Amortization)
(-) Depreciação (-) Depreciação
(=) EBIT (Earnings Before Interest Taxes) (=) EBIT (Earnings Before Interest Taxes)
(+) Receita Financeira
(-) Despesa Financeira
(=) Lucro Operacional (=) NOPBT (Net operating profit before taxes)
(+ -) Itens extraordinários
(=) Lucro antes dos Impostos (=) NPBT ((Net profit before taxes)
(-) Imposto de Renda e CSSL (-) Imposto operacional com efeito, Caixa
(-) Participação de minoritários (-) Participação de minoritários
(=) Lucro Líquido (=) NOPAT
Fonte: Adaptado de Iudícibus (2017)

Para o NOPAT, do Lucro Líquido serão ajustados às despesas e receitas financeiras, ou


seja, como o NOPAT é operacional, deve-se eliminar o efeito da perda ou ganho financeiro
(empréstimo ou aplicação financeira).

4.8.4 EVA®

O EVA® é marca registrada e explorada pela Stern Stewart & Co., que tem como
objetivos, segundo Stewart (2005), avaliar desempenho, determinar políticas de
remuneração de executivos, comunicar-se com os investidores, decidir sobre o orçamento
de capital e realizar avaliações de qualquer natureza.
O Valor Econômico Agregado ou EVA (Economic Value Added), representa uma medida
de desempenho econômico, que nos mostra o valor gerado por uma organização.

264
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Para Assaf Neto (2014, p. 180), “o Valor Econômico Agregado (VEA) é uma medida da
criação de valor identificada no desempenho operacional da própria empresa, conforme
retratada pelos relatórios financeiros”.
Já para Ehrbar (1999), o EVA é o lucro operacional após o pagamento de tributos menos
o custo geral de capital. O EVA é o valor que a empresa agrega após remunerar todos os
recursos investidos, quer estes sejam financiados pelo uso de capital de terceiros ou uso
do capital próprio.

LEMBRE-SE QUE!!!
O EVA® é o lucro econômico que uma empresa obteve em determinado perío-
do. Também chamado de valor econômico agregado, o EVA mede o desempenho
financeiro da empresa com base na riqueza que ela efetivamente criou, após se deduzir o custo
do capital investido do seu lucro operacional. (REIS, 2020).

Iudícibus (2017) define como a medida que contabiliza de forma apropriada todas
as complexas transações envolvidas na criação de valor. É computado tomando-se a
diferença entre a taxa de retorno sobre o capital e o custo do capital.
O EVA é receita residual, ou os lucros operacionais menos o custo pelo uso do capital.
Tendo-o como uma medida de desempenho, uma empresa é, com efeito, cobrada pelos
seus investidores pelo uso do capital mediante uma linha de crédito que paga juros a uma
taxa. (STEWART 2005).
Com essa definição se percebe o conceito fundamental e inovador desse índice. É
inovador porquê de acordo com Iudícibus (2017), considera que o investimento efetuado
pelo acionista deve ser remunerado a uma taxa mínima; assim, uma empresa, além do
lucro operacional, deve haver lucro suficiente para cobrir, pelo menos, a remuneração
mínima esperada pelo acionista.
Na opinião de Cavalcante (2019), o EVA é considerado por muitos como a melhor
metodologia para avaliar negócios e serve para identificar o quanto foi efetivamente
criado de valor para os acionistas em um determinado período de tempo (mês, ano, etc.)
Uma empresa deve operar com EVA positivo para que seus acionistas continuem
se interessando em investir capital novo no negócio. Uma empresa com EVAs
sistematicamente iguais a zero ou negativos provocará as seguintes reações por parte
dos acionistas de acordo com Cavalcante (2019),

265
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
• Venda da empresa;
• Encerramento das atividades;
• Realização de uma forte reestruturação.

IMPORTANTE!!!
O EVA é uma metodologia de avaliação que todo executivo criador de valor
utiliza para informar seus acionistas. (CAVALCANTE, 2020).

Uma empresa que não remunere devidamente os seus acionistas é uma empresa que
destrói valor, fatalmente lhe faltarão investidores. Assim, o EVA® pode refletir tanto a
medida de valor da própria empresa como o desempenho dela.
Ehrbar (1999) diz que com o EVA é possível conseguir atingir vários benefícios, tais
como:
a) os objetivos da organização aparecem de um modo mais claro, mensurável e
transparente;
b) a análise de seu desempenho interno, concatenando com a gestão de seus negócios;
c) a análise referente a lançamento de novos produtos ou novos investimentos (fusões,
aquisições, incorporações, cisões, etc.);
d) políticas de remuneração ou pagamento de bônus das organizações (ora sendo
muito utilizadas nos Estados Unidos);
e) os gestores passam a perseguir, focar um único objetivo, comum a todos, trabalhando
em uma mesma base conceitual e de um mesmo raciocínio financeiro, através de uma
otimização de recursos;
f) quando utilizado, também, como uma base para efetuar uma remuneração de seus
acionistas, trará um estímulo ao fluxo futuro de dividendos, estimulando os seus
gestores a pensar e agir visualizando, em suas tomadas de decisões, o impacto que
estas poderiam causar, pois seria como se fossem, agora, acionistas.

Os índices convencionais não consideram a remuneração do acionista; com isso, vem


crescendo o número de empresas que medem o seu resultado por este indicador. Ele é a
versão moderna do lucro, pois, em resumo, o EVA® é o lucro operacional menos o custo
do capital investido.

266
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Os tópicos para a determinação do EVA, segundo Cavalcante (1999), são:
1. Ajustar a estrutura patrimonial pelos ativos não operacionais, ativos estes não
usuais como determinantes de gerenciamento, por parte de seus gestores com a
finalidade de obter retorno aos acionistas;
2. Calcular o lucro operacional (resultado operacional) depois dos impostos,
excluindo os eventos não recorrentes e devem estar incluídas as despesas e as
receitas financeiras;
3. Calcular o custo médio ponderado do capital, obtido através dos capitais próprios
e de terceiros; e por fim;
4. Determinar o EVA.

A fórmula do EVA segundo Ehrbar (1999) é a seguinte:

EVA® = NOPAT – (C% × TC)


onde:
EVA = Economic Value Added (Valor Econômico Adicionado) ou VEA
NOPAT = Net Operating Profit After Taxes (Lucro Operacional Líquido Depois dos
Impostos)
C% = Percentual do custo do capital investido
TC = Total Capital (Capital total investido)

Cavalcante (1999) desenvolve uma fórmula derivada da proposta originalmente pela


Stern & Stewart & Co., através de desenvolvimento de aplicações algébricas e de uma
matriz de indicadores orientada para o EVA

EVA® = (RAOL – CMPC) x AOL


Onde:
RAOL = retorno sobre o ativo operacional líquido. É o lucro operacional dividido pelo
ativo operacional líquido, também é expresso em percentual.
CMPC = custo médio ponderado de capital. É a média ponderada das taxas acima,
relevando o “peso” que cada uma possui perante o capital total;
AOL = ativo operacional líquido. É o resultado de todo o ativo considerado operacional
menos o passivo considerado operacional. Representa a parcela a qual a companhia terá
que buscar/captar recursos fora de suas operações casuais.

Exemplo: A estrutura patrimonial e de resultados são da Cia Ilusória SA

267
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Tabela 52 Balanço Patrimonial da Cia Ilusória SA em 31.12.X0
ATIVO PASSIVO
Circulante 71.500 Circulante 43.280
Caixa 1.500 Fornecedores 18.000
Clientes 45.000 Impostos a Pagar 2.500
Estoques 25.000 Salários a Pagar 1.024
IR a Pagar 5.956

Imobilizado Líquido 75.000 Empréstimos Conjunturais 3.800


Valor Original 85.000 Empréstimos Estruturais 12.000
Depreciação Acumulada (10.000)

Não Circulante 15.000

Empréstimos Estruturais 15.000

Patrimônio Líquido 88.220

Capital Social 68.220

Reservas 20.000

Total Ativo 146.500 Total Passivo e PL 146.500


Fonte: Adaptada de Iudicibus (2017)

Tabela 53 Demonstração do Resultado do Exercício da Cia Ilusória SA em 31.12.X


Receita Operacional Bruta 70.000
Impostos (5.200)
Receita Operacional Líquida 64.800
Custo Mercadorias Vendidas (20.000)
Lucro Bruto 44.800
Despesas Operacionais (9.500)
Lucro da Atividade 35.300
Receita Financeira 20
Despesas Financeiras (285)
Lucro Operacional Antes do Imposto de Renda 35.035
Imposto de Renda sobre o Lucro Operacional (35%) (12.262)
Lucro Operacional Após o Imposto de Renda 22.773
Juros CCT (2.025)
Economia de IR sobre os Juros (35%) 709
Juros Líquidos (1.316)
Lucro Líquido 21.457
Fonte: Adaptada de Iudicibus (2017)

268
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Reclassificação do Balanço

4.8.4.1 Ativo Operacional (AO)

São todos os investimentos necessários para que uma empresa consiga gerar receita
operacional (tais como caixa mínimo, duplicatas a receber, estoques e imobilizações
produtivas). Em resumo o ativo operacional compreende o capital de giro mais o capital
fixo. (CAVALCANTE 2019).

Ativo Operacional = Capital de giro + Capital fixo


Ativo Operacional = 71.500 + 75.000 =
Ativo Operacional = 146.500

4.8.4.2 Passivo Operacional (PO)

Representa todos os financiamentos espontâneos, aqueles que são típicos da


operação (fornecedores, impostos a pagar incidentes sobre vendas, salários e encargos a
pagar, adiantamentos de clientes, etc)., ou seja, todos os financiamentos oferecidos pela
próprios da operação. Neste caso incluem-se os financiamentos conjunturais para cobrir
os déficits momentâneos de caixa.
Passivo Operacional = 18.000 + 2.500 + 1.024 + 5.956 + 3.800 = 31.280
Passivo Operacional = 43.280 – 12.000 = 31.280

Ativo Operacional Líquido = AO – PO


Ativo Operacional Líquido (AOL) = 146.500 – 31.280 = 115.220
AOL = 115.220

Tabela 54 Nova estrutura da Cia Ilusória SA


ATIVO PASSIVO
Ativo Operacional Líquido 115.220 100,00% Capital de Terceiros 27.000 23,43%

Capital Próprio 88.220 76,57%

Total 115.220 100,00%


Fonte: Adaptada de Iudicibus (2017)

269
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Informações:
- O custo das obrigações com terceiros é de: 7,50%
CCT = Juros CCT dividido pela dívida
CCT = 2.025 div 27.000 = 7,50% (Kd)
- A alíquota do IR = 35%
- CCP = Custo do Capital Próprio informado pela empresa é de 12% (Ks)

Cálculo do CMPC/WACC

WACC = Kd (1-IR) D + Ks S
D+S D+S

CMPC = 7,5% (1 – 0,35) 27.000 + 12% 88.220


27.000+88.220 27.000+88.220
CMPC = 7,5% (0,65) (0,2343) + 12% (0,7657)
CMPC = 0,0114 + 0,0919
CMPC = 10,33%

Cálculo do EVA
EVA® = NOPAT – (C% × TC)
EVA® = 22.773 – (10,33% x 115.220)
EVA® = 22.773 – 11.902
EVA® = 10.871

Ou

EVA® = (RAOL – CMPC) x AOL

RAOL = Lucro Operacional após o IR


Ativo Operacional Líquido (AOL)
RAOL = 22.773 = 19,75%
115.220

EVA® = (RAOL – CMPC) x AOL


EVA® = (19,75 – 10,33) x 115.220
EVA® = 10.871

270
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
Portanto, a principal diferença do EVA, face às tradicionais medidas de rendimento,
reside no fato de considerar o custo total do capital e não apenas o custo do capital
de terceiros. Qualquer medida de avaliação de performance que ignore o custo do
capital próprio não demonstra o sucesso de uma empresa em criar valor para os seus
proprietários.

4.8.5 MVA®

O MVA®, que significa Market Value Adde e se traduz como Valor de Mercado
Agregado ou Adicionado, é uma ferramenta conceitual, também elaborada pela Stern
Stewart & Co, para aferir o quanto a administração agrega de valor ao capital investido na
companhia. (SANTOS; WATANABE, 2020).
Para Brigham, Gapenski e Ehrhardt (2001), o objetivo primário da maioria das
empresas, qual seja maximizar a riqueza do acionista, assegura que recursos escassos
serão alocados de forma eficiente. A riqueza do acionista é maximizada por meio de
maximização da diferença entre o valor de mercado de capital dos acionistas e o montante
de capital que eles investiram na empresa. Essa diferença é o que se chama de MVA.
É um indicador de mensuração de valor que surgiu para atender à forte demanda
por posturas gerenciais mais arrojadas no mundo empresarial. Nessa abordagem de
gerenciamento, as aspirações, técnicas de análises e processos gerenciais são totalmente
voltados para a maximização da riqueza da empresa, consequentemente, do acionista.
Segundo Ehrbar (1999) o valor de mercado agregado (MVA)® é a medida definitiva
de criação de riqueza. Supera outras medidas por ser a diferença entre entrada de caixa
e saída de caixa, ou seja, o que investidores colocam na empresa como capital e o que
poderiam receber na venda das ações no mercado corrente.
Assaf Neto e Lima (2014) dizem que, a medida do MVA® expressa a riqueza do negócio,
o valor em excesso determinado pelos seus ativos intangíveis como marca, patente,
imagem etc. É também conhecido por goodwill. Em verdade, o valor de uma empresa
está no que ela é capaz de gerar de resultados no futuro, em sua riqueza agregada, e não
no desempenho passado.
A medida do MVA® reflete a expressão monetária da riqueza gerada aos proprietários
de capital, determinada pela capacidade operacional da empresa em produzir resultados
superiores a seu custo de oportunidade. Refletem, dentro de outra visão, quanto à
empresa vale adicionalmente ao que se gastariam para repor todos os seus ativos a preços
de mercado.

271
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ATENTOS!!!
O MVA® é a mensuração da riqueza gerada por um empreendimento. Ocorren-
do uma melhora na medida do EVA®, isto tende a se refletir na melhora do MVA®
também, demonstrando uma forte correlação na prática.

O MVA® é calculado pela diferença entre o valor de mercado da empresa e o valor do


capital investido, também avaliado a preços de mercado. Ou seja:

MVA = valor de mercado – capital investido

Exemplo extraído de Cavalcante (2019)

Um investidor dispõe de R$ 100.000 aplicados na caderneta de poupança rendendo


juros de 6% ao ano. Este investidor recebeu uma proposta para comprar um posto de
gasolina pagando por ele R$ 100.000.
Analisou a projeção de resultados do negócio e ficou convicto da possibilidade de uma
retirada anual de dividendos de R$ 15.000, o que significa aplicar seu capital a uma taxa
de retorno ao ano de 15% (R$ 15.000/ R$ 100.000).
Evidentemente esta retirada anual estimada de R$ 15.000 está sujeita a variações para
mais ou para menos. Aí está o risco do negócio.
Todavia, a expectativa de retorno de 15% ao ano representa um prêmio de 9 pontos
percentuais acima dos 6% a.a. oferecidos com segurança pela caderneta de poupança.
Compensa o risco, segundo o julgamento do investidor. O posto de gasolina é comprado.
Passados 3 anos, o investidor conseguiu obter retiradas anuais de R$ 15.000. O
retorno projetado de 15% ao ano está sendo alcançado. Se não está havendo superação
de expectativas, também não está havendo frustração. Se o investidor não está mais rico,
também não está mais pobre.
Para investidores que desejam um retorno de 15% ao ano para um posto de gasolina,
o negócio continua valendo R$ 100.000 ($15.000 / 0,15) pela sua capacidade de pagar
dividendos de R$ 15.000 ao ano, sem perspectivas aparentes de melhorar ou piorar este
valor.
Portanto, não está havendo para o investidor criação nem destruição de valor no seu
negócio/investimento. O investidor dispõe de um ativo que vale R$ 100.000 e o capital
investido também foi de R$ 100.000.
O valor de R$ 100.000 (R$ 15.000 / 0,15) é resultado de uma perpetuidade sem

272
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
crescimento. Nesta conta, assume-se que o investidor irá receber R$ 15.000 infinitamente.
Considere agora que no início do 4º ano de operação do posto de gasolina, o acionista
tem como objetivo um retorno extra de 5 pontos percentuais para o negócio. A expectativa
de retorno passa de 15% ao ano (mínimo) para 20% a.a. (desejado). Para tanto, algumas
ações foram introduzidas:
• Frentistas homens foram substituídos por frentistas mulheres;
• Mudanças no mix da linha de produtos da loja de conveniência;
• Preços promocionais na lavagem rápida durante os dias úteis da semana, e,
• Promoções especiais como ducha grátis para quem encher o tanque de gasolina.

Nenhuma destas ações demandou investimentos. As novas políticas operacionais


deram resultado. As receitas aumentaram e os lucros e dividendos também.
As retiradas anuais passaram de R$ 15.000 para R$ 20.000 anuais (20% de retorno
sobre o capital investido de R$ 100.000).
Agora o negócio vale mais para o investidor. Vale R$ 133.333 (R$ 20.000 / 0,15).

Qual o EVA® da operação? R$ 5.000. Representa o retorno extra de 5% acima do


mínimo de 15% (R$ 20.000 – R$ 15.000 = R$ 5.000).
Qual o MVA? R$ 33.333. É a diferença entre o novo valor da empresa de R$ 133.333 (R$
20.000 / 0,15) e o capital investido de R$ 100.000 R$ 15.000 / 0,15).
O investidor ficou mais rico em R$ 33.333 porque possui um ativo que vale R$ 133.333
e o capital investido foi de R$ 100.000.

Portanto, o MVA corresponde à diferença entre o valor de mercado atual de uma


empresa e o capital que os investidores forneceram a ela. (MVA: ENTENDA O QUE É O
MARKET VALUE ADDED E COMO ANALISAR ESSE INDICADOR, 2020).
• Se o Valor de Mercado Adicionado é positivo, a empresa tem valor agregado;
• Se o Valor de Mercado Adicionado for negativo, a empresa destruiu seu valor.

Na visão de Assaf Neto e Lima (2014) esse resultado em excesso (valor de mercado
menos investimento total) constitui-se no valor do intangível do negócio, ou seja, no
goodwill produzido pela qualidade de sua gestão. Representa quanto a empresa foi capaz,
pelas estratégias financeiras e capacidades diferenciadoras implementadas, de agregar
riqueza a seus acionistas, objetivo básico de qualquer empreendimento.

Uma metodologia gerencial de avaliação do MVA® pode ser efetuada por meio do
valor presente do EVA®, conforme proposta por Stewart (2005). O MVA é obtido pela

273
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
divisão do EVA pelo WACC, ou seja:

MVA = EVA
WACC

Utilizando o exemplo prático desenvolvido por Assaf Neto e Lima (2014) temos:

Para ilustrar, admita que uma empresa tenha um total de investimento (capital fixo
e capital de giro) de R$ 10 milhões. Sabe-se que 40% dos investimentos são financiados
por bancos, que cobram uma taxa líquida de juros de 10% ao ano, já deduzido o benefício
fiscal, e os 60% restantes representados por recursos próprios, com uma expectativa de
retorno de 15% ao ano. A empresa apura no exercício em consideração um resultado
operacional líquido de impostos de R$ 1,5 milhão. Em resumo, a empresa apresenta a
seguinte estrutura de investimento:

Tabela 55 Estrutura de Investimento


Investimento Capital de Terceiro R$ 4.000.000
R$ 10.000.000 Capital Próprio R$ 6.000.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Lima (2014)

De forma mais simples, conforme apresentada acima, o cálculo do EVA pode ser
efetuado deduzindo-se do resultado operacional líquido do IR o custo de cada fonte de
capital selecionada pela empresa:

Tabela 56 Cálculo do EVA


Resultado Operacional Líquido R$ 1.500.000
Remuneração exigida pelos credores (4.000.000 x 10%) R$ 400.000
Remuneração exigida pelos acionistas (6.000.000 x 15%) R$ 900.000
Custo total de capital R$ 1.300.000
Valor Econômico Agregado (EVA) R$ 200.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Lima (2014)

274
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
4.8.5.1 Cálculo do Custo Total de Capital (WACC)

O custo de capital dos acionistas e credores é geralmente expresso como uma média
ponderada dos custos pela participação de cada fonte de financiamento, e conhecido na
literatura financeira por WACC. No exemplo em desenvolvimento, tem-se:

Tabela 57 Cálculo do WACC


Fontes de Financiamento Montante Custo de Capital
Patrimônio Líquido R$ 6.000.000 (Ks) R$ 900.000
Dívida com Terceiros R$ 4.000.000 (Kd) R$ 400.000
Total R$ 10.000.000 R$ 1.300.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Lima (2014)

Desta forma, o custo total ponderado de capital (WACC), atinge:


WACC = $ 1.300.000,00 / $ 10.000.000,00
= 13,0%

Por outro lado, utilizando-se a formulação do custo médio ponderado, tem-se:


WACC = (Ks × D) + (Kd × S)

onde:
Ks: custo de capital próprio
D: participação do capital próprio (patrimônio líquido)
Kd: custo do capital de terceiros (custo da dívida)
S: participação do capital de terceiros (dívidas)

Sabendo-se que:
Ks = 15%
S = 60%
Kd = 10%
S = 40%

Calcula-se o WACC:
WACC = (15% × 60%) + (10% × 40%)
WACC = 13,0% ou seja Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)
O EVA® calculado a partir do WACC:

275
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EVA = Resultado Operacional Líquido – (WACC × Investimento)
EVA = R$ 1.500.000,00 – (13,0% × R$ 10.000.000,00)
EVA = R$ 200.000,00

O WACC equivale ao custo total de capital alocado para financiar seus ativos. É
calculado pela soma do custo de cada fonte de recurso ponderado pela respectiva
participação relativa no total do investimento (Ativo Total).
O cálculo do EVA® pode também ser desenvolvido a partir do lucro líquido do
exercício, conforme demonstrado a seguir:

Tabela 58 Cálculo do EVA


Resultado Operacional Líquido R$ 1.500.000
Remuneração exigida pelos credores (4.000.000 x 10%) R$ 400.000
(=) Lucro Líquido R$ 1.100.000
Remuneração exigida pelos acionistas (6.000.000 x 15%) R$ 900.000
Valor Econômico Agregado (EVA) R$ 200.000
Fonte: Adaptada de Assaf Neto e Lima (2014)

Como o resultado operacional líquido apurado pela empresa no período (R$ 1,5
milhão) é superior ao mínimo exigido por credores e acionistas (R$ 1,3 milhão), a diferença
encontrada (R$ 0,2 milhão) é reconhecida por valor econômico agregado. Esta medida de
valor é um indicativo de que a empresa foi capaz de oferecer um retorno extraordinário
a seus investidores. As conclusões são as mesmas ao se calcular o EVA® a partir do lucro
líquido.

4.8.5.2 Cálculo do MVA

MVA = EVA
WACC

Obtêm-se os seguintes valores:


EVA = R$ 200.000,00
WACC = 13,0% a.a.

O MVA® é obtido: R$ 200.000,00/0,13 = R$1.538.461,54, revelando quanto a empresa

276
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
vale mais que o total do capital investido. Logo, o valor de mercado da empresa, com base
no desempenho do exercício, totaliza:

Investimento total: R$ 10.000.000,00


Goodwill (MVA): R$ 1.538.461,54
Valor de Mercado: R$ 11.538.461,54

Ou

MVA = valor de mercado – capital investido


MVA = R$ 11.538.461,54 - R$ 10.000.000,00
MVA = R$ 1.538.461,54

Duas observações devem ser destacadas.


• A primeira revela que o MVA®, calculado pelo modelo sugerido acima, admite
a continuidade dos resultados atuais. Ou seja, a medida de riqueza expressa
basicamente os resultados da empresa no exercício, no pressuposto de sua
manutenção futura.
• A segunda observação indica que a criação de riqueza não é dimensionada pelo
valor de mercado de uma empresa, mas pela diferença encontrada entre seu valor
de mercado e o capital investido pelos proprietários, ou seja, pelo goodwill.

4.8.5.3 SPREAD DO ACIONISTA

No cálculo do EVA® a partir do lucro líquido, Assaf Neto e Lima (2014) avisam que
deve ser destacada uma medida alternativa de valor denominada de spread do capital
próprio (acionista). A medida é calculada pela diferença entre o retorno auferido pelo
patrimônio líquido (ROE = Lucro Líquido/Patrimônio Líquido) e o custo de oportunidade
do acionista (taxa mínima de retorno exigida pelo investidor).
A atratividade econômica da empresa é admitida quando o spread do capital próprio
for positivo, indicando uma agregação de riqueza aos proprietários pela valorização do
preço de mercado de suas ações.
O resultado do spread do capital próprio deve ser idêntico ao do EVA®, pois as duas
medidas excluem o custo do capital de terceiros em seus cálculos.

277
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
ROE = Lucro Líquido: $ 1.100.000,00 / Patrimônio Líquido: $ 6.000.000,00
ROE = 18,33%
SPREAD DO ACIONISTA = ROE: 18,33% – Custo Capital Próprio: 15,0%
SPREAD DO ACIONISTA = 3,33%

278
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Amados!!!

Bem, com esta Unidade 4, encerramos nossa disciplina de Análise das Demonstrações
Financeiras e Indicadores de Desempenho e, quero dizer para vocês que foi com muito
prazer que escrevi este caderno.
Esta Unidade foi de grande valia, pois foi muito especial, porque além de tratar
dos Indicadores de Atividades, dos Índices de Giro, Ciclo Financeiro e Operacional,
Alavancagem Financeira, Estrutura e Custo de Capital, tive o prazer de trazer para vocês a
diferença que existe entre o Capital de Giro pelo Método tradicional e o Modelo Dinâmico
também chamado Modelo de Fleuriet, das Necessidades de Capital de Giro (NCG), Saldo
da Tesouraria e o Efeito Tesoura.
Para encerrar com chave de ouro ainda foi abordado os indicadores da atualidade, que
são considerados os indicadores tops como Análise DuPont, EBITDA, EBIT, NOPAT, EVA
MVA e Spread do acionista.
De posse desse material e da aprendizagem, desejo a todos sucesso e que saibam
aproveitar muito bem todo esse tempo despendido e investido, pois sem esforço não se
chega a lugar nenhum.

279
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
EXERCÍCIOS

1) Determinada empresa informou os seguintes dados que foram extraídos de suas


demonstrações financeiras:

Receitas Líquidas: R$ 135.000


Ativo: R$ 150.000
Lucro Líquido: R$ 3.450

Determinar a taxa de retorno sobre o ativo (ROA ou ROI) de acordo com a fórmula
DuPont.

2) A Empresa Omigron informou os seguintes dados:


Investimentos: R$ 30.000
Lucro operacional: R$ 4.500
Taxa de atratividade para o capital próprio de 14%
Capital de terceiros: R$ 7.500
Encargos financeiros incorridos no exercício: R$ 720
Capital próprio: R$ 22.500

Calcule:
a) a participação do capital de terceiros;
b) o custo do capital de terceiros;
c) a participação do capital próprio;
d) o custo médio ponderado do capital.

3) Dados as seguintes informações:

Estoque médio mensal X9 = R$ 150.000


PMRE = 70 dias
PMRV = 50 dias
CMV = 75% das vendas
Pede-se: O valor médio das Duplicatas a Receber para X9.

280
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E
INDICADORES DE DESEMPENHO
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