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Curso : Técnicos de Apoio à

Gestão

UFCD 8 – Princípios de
Fiscalidade

Formador: Marcus Martins


Direito Fiscal – Natureza e Fontes
Direito Fiscal, Técnica Fiscal e
Política Fiscal

 Direito Fiscal: É o conjunto de normas que regulam as


relações que se estabelecem entre o Estado e os outros
entes públicos, por um lado e os cidadãos por outro, por via
do imposto. Essas normas regulam as várias fases do
imposto: Incidência, lançamento, liquidação e cobrança.
 Técnica fiscal: É o modo (métodos e técnicas)como as
normas estabelecidas pelo Direito Fiscal são aplicadas.
 Política Fiscal: Visa o estudo dos mecanismos fiscais a
utilizar pelo governo para atingir determinados objectivos.
O Direito Fiscal como direito
público

 Critério dos interesses: O imposto destina-se


a fazer face a despesas relacionadas com a
satisfação de necessidades colectivas,
assim as normas do Direito Fiscal visão
tutelar interesses da colectividade. (Direito
Público)
O Direito Fiscal como direito
público

 Critério dos sujeitos da relação jurídica: No


Direito Fiscal a actuação do ente público
desenvolve-se num plano superior ao do
particular, permitindo-lhe inclusivamente a
execução do património do devedor, sem
que seja necessário uma declaração judicial
prévia do seu direito. Goza do chamado
benefício da execução prévia.
Constituição da República
Portuguesa

 A lei constitucional ocupa um lugar de relevo


no âmbito do Direito Fiscal, pelo seu papel
de supremacia relativamente às leis
ordinárias, mas também porque define os
termos da obediência e da legalidade do
imposto.
Relações com o Direito
Constitucional

 A Constituição da República define algumas


normas de natureza fiscal. Essas normas
definem garantias fundamentais dos
cidadãos em matéria tributária e orientam e
limitam o legislador na sua competência
fiscal.
Relações com o Direito
Constitucional

Artigo 103.º
(Sistema fiscal)
«1. O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades
financeiras do Estado e outras entidades públicas e uma
repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
2. Os impostos são criados por lei, que determina a incidência,
a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes.
3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não
tenham sido criados nos termos da constituição e cuja
liquidação e cobrança se não façam nas formas prescritas na
lei.»
Relações com o Direito
Constitucional

Artigo 104.º
(Impostos)
«1. O imposto sobre o rendimento pessoal visará a diminuição
das desigualdades e será único e progressivo, tendo em conta
as necessidades e os rendimentos do agregado familiar.
2. A tributação das empresas incidirá fundamentalmente sobre o
seu rendimento real.
3. O imposto sobre sucessões e doações será progressivo, de
forma a contribuir para a igualdade entre os cidadãos.
4. A tributação do consumo visará adaptar a estrutura do
consumo à evolução das necessidades do desenvolvimento
económico e da justiça social, devendo onerar os consumos de
luxo.»
Relações com o Direito
Internacional

 Tem sido grande a cooperação internacional


dando origem a convenções, acordos e tratados
no domínio do direito fiscal. Um exemplo são as
convenções cujo objectivo é evitar a dupla
tributação internacional (tributação do mesmo
facto tributário em mais de um Estado) e as
tendentes a evitar a evasão fiscal (fuga à
tributação de determinado facto tributário).
Relações com o Direito Criminal

 As normas fiscais impõem aos contribuintes


e terceiros o cumprimento de certos deveres
(deveres acessórios) como por exemplo:
- a apresentação de declarações na
repartição de finanças competente – Acção
- a não inutilização dos livros de registo
dentro do prazo de dez anos – Abstenção.
Relações com o Direito Criminal

 A lei fiscal confere à Administração poderes para


impor sanções pelo não cumprimento de tais
deveres. O legislador adopta, por vezes, as
soluções consignadas no Direito Criminal e outras
vezes para elas remete expressamente.
 O «Regime Jurídico das Infracções Fiscais não
Aduaneiras» foi aprovado pelo Dec.-Lei nº
20-A/90, de 15 de Janeiro e classifica as
infracções fiscais em:
- Crimes Fiscais
- Contra-ordenações fiscais
Relações com o Direito Privado

 O Direito Fiscal tem uma grande relação com


o Direito Privado (Direito Civil e Direito
Comercial), pois muitas situações que regula
têm por base entidades privadas.
 A tributação assenta em factos, actos e
direitos patrimoniais.
As fontes do Direito Fiscal

 A Lei
O art. 103 da C.R.P define que os impostos
são criados por lei, a mesma norma
constitucional define também que ninguém
pode ser obrigado a pagar impostos que não
tenham sido criados nos termos da
Constituição e cuja liquidação e cobrança se
não façam nas formas previstas na lei (lei-
diploma emanado da Assembleia da República
e decreto-lei diploma emanado do Governo).
As fontes do Direito Fiscal

 Os regulamentos
Para conveniente execução das lei o poder
executivo emana regulamentos. Os
regulamentos não podem contrariar o
exposto na lei, nem regular os elementos
fundamentais do imposto, podem apenas
regular matérias como as de: lançamento,
liquidação e cobrança.
As fontes do Direito Fiscal

 Os tratados e convenções internacionais


O art. 8.º da C.R.P. define que «as normas
e os princípios de direito internacional geral
ou comum fazem parte integrante do direito
português» e que «as normas constantes de
convenções internacionais regularmente
ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem
interna após a sua publicação oficial e
enquanto vincularem internacionalmente o
Estado Português»
Jurisprudência e doutrina

Nem a jurisprudência nem a doutrina


constituem fontes imediatas de Direito Fiscal.
Os Tribunais, normalmente, não criam
normas jurídicas através das suas sentenças
e dos seus acórdãos.
Jurisprudência e doutrina

 No entanto, a jurisprudência e a doutrina


desempenham um papel do maior relevo
como fontes mediatas de Direito Fiscal, que
é muito frequentemente influenciado pela
opinião dos doutrinadores e pelas
orientações jurisprudenciais.
Categorias de normas fiscais

a) Normas de soberania fiscal: são as que definem o


poder de tributar, separando a esfera patrimonial da
comunidade política e as esferas patrimoniais dos
particulares, determinando até onde, dentro de que
limites, podem desenvolver-se as exigências do
poder político quanto aos sacrifícios patrimoniais
daqueles que se situam na sua esfera de domínio
político-económico. Os quadros dentro dos quais se
situam os poderes tributários do Estado são
delimitados por normas de soberania fiscal.
Categorias de normas fiscais

b) Normas de incidência: definem o plano de incidência, ou seja,


o complexo de pressupostos de cuja conjugação resulta o
nascimento da obrigação de imposto, assim como os elementos
da mesma obrigação. Determinam quem é o sujeito activo da
obrigação de imposto, quem são em abstracto, os sujeitos
passivos da mesma obrigação, qual a matéria colectável, isto é,
a riqueza, os valores económicos sobre que recai a tributação,
qual a taxa do imposto, quota ou percentagem, calculada sobre
aquela matéria colectável para efeitos de fixação da colecta, da
prestação tributária a pagar e qual o facto dinamizante, gerador
que, reunindo, pondo em contacto, os pressupostos tributários,
permitirá que nasça, se constitua, uma obrigação de imposto.
Categorias de normas fiscais

c) Normas de lançamento: consiste no conjunto de


actos e operações pelos quais os serviços
fazendários, ou os contribuintes, nos casos de auto-
lançamento, determinam, em concreto, os
elementos da obrigação de imposto.
d) Normas de liquidação: operações que consistem
na aplicação da taxa de imposto à matéria
colectável, para determinação da colecta, do
quantitativo da prestação tributária.
Categorias de normas fiscais

e) Normas de cobrança ou de pagamento: conforme


a operação seja considerada do ponto de vista do
fisco ou do contribuinte, são todas aquelas que
disciplinam a cobrança ou pagamento dos impostos.
f) Normas de organização de serviços: são
nitidamente de índole administrativa, não se podendo
razoavelmente atribuir-lhes natureza diversa daquela
que corresponde às normas de organização de outros
quaisquer serviços do Estado.
Categorias de normas fiscais

g) Normas de fiscalização: entre estas à a distinguir


duas espécies: umas respeitam à fiscalização dos
serviços e essas são nitidamente de natureza
administrativa; outras respeitam à fiscalização dos
contribuintes e de terceiros, que se julgue disporem
de elementos susceptíveis de possibilitar, ou
facilitar, as operações fiscais orientadas para uma
regular percepção dos impostos.
Categorias de normas fiscais

h) Normas de sanção: destinam-se a penalizar os


contribuintes e, por vezes, também terceiros, por
actos cometidos susceptíveis de comprometer as
operações de lançamento, de liquidação ou de
cobrança dos impostos, participam da natureza das
normas penais, ou seja, punitivas.
i) Normas de contencioso: as que se encontram no
Código do Processo Tributário.
Interpretação da lei fiscal

A interpretação da lei é a determinação do


verdadeiro sentido e alcance da lei.
Os princípios gerais de interpretação das leis são:
 Quanto ao órgão donde emana:
- Autêntica – se emana do próprio órgão
legislativo.
- Doutrinal – se procede dos tribunais ou da
Administração Pública.
Interpretação da lei fiscal

 Quanto aos elementos que o interprete se


serve:
- Literal – se o interprete tem apenas em
consideração o texto.
- Lógica – se o interprete tem em
consideração o que estaria na mente do
legislador.
Interpretação da lei fiscal

 Quanto à extensão:
- Declarativa – letra do preceito está em
concordância com o que o legislador teria
em mente.
- Restritivas – letra da lei vai além do que
o legislador teria em mente.
- Extensiva – letra da lei fica aquém do
que estava na mente do legislador.
Aplicação da lei fiscal no tempo

 Teoria da não retroactividade – Não se


aplica a nova lei que altera os elementos
essenciais do imposto, desde que a
obrigação já tenha sido constituída em
momento anterior ao aparecimento desta
lei.
Aplicação da lei fiscal no espaço

Nesta matéria vigora o princípio da


territorialidade.
 A lei fiscal de um Estado abrange apenas os
factos e situações que ocorram no território
desse Estado e os rendimentos que nele
tenham a sua fonte.

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