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FACULDADE CATHEDRAL

Direito Tributário e Financeiro I

Professor: Ronilson M. Cavalcante


Aluno: Anderson Oliveira das Neves RA: 43423- 8B

Relações que o Direito Tributário tem com outros ramos do direito

O direito é uno, não havendo, destarte, ramos isolados, estanques, da ciência jurídica. Por
formar um sistema, o direito deve ser entendido por meio da relação existente entre os seus diversos
ramos, que se interligam, compartilhando princípios e conceitos.
O direito tributário, como não poderia deixar de ser, possui relações com diversos outros
ramos do direito. Assim é que a legislação tributária traz, em seu bojo, diversos conceitos de direito
civil (“personalidade”, “posse”, “capacidade”, por exemplo), de direito administrativo (“ato
administrativo”), direito comercial (“falência”, “fundo de comércio” etc.), que devem ser
entendidos de acordo com a sua caracterização nas respectivas origens.
A lei tributária não estabelece, normalmente, situações concretas de dever jurídico ou
obrigação, mas sim meros tipos de realidade de fato que, quando ocorrem, implicam o nascimento de
uma obrigação tributária concreta. Como é de domínio comum, toda realidade de fato que constitua
objeto de direito ou interesse das pessoas é disciplinada pelo direito civil e, em algumas situações,
pelo direito comercial. E, como é evidente, essa qualidade civilista acompanha tal realidade em
qualquer ramo de direito especial que a avoque.
Daí o sistema precisar, até, normas de inter-relação, como o próprio Código Tributário
Nacional – CTN, que, em seu art. 110, estabelece uma nítida relação entre o direito tributário e os
ramos do direito privado que possuem conceitos utilizados na legislação tributária:

Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance
de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou
implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados,
ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir
ou limitar competências tributárias.

A autonomia do direito tributário, bem como dos demais ramos do direito, entretanto, deve
ser entendida como meramente didática, uma vez que, devido à unicidade da ciência jurídica, não
se pode falar em autonomia científica ou jurídica.
Nesse entendimento o direito tributário guarda íntima relação com quase todos os ramos do
direito. E, como todos os outros, é parte do Sistema Jurídico. Aliás, há muito já se desmitificou a ideia
de que se poderia ter qualquer ramo marcado por uma autonomia que se pudesse confundir com
isolamento ou independência. O direito é um só, ainda que contemple tratamento específico das
diversas áreas por ele regidas.
O domínio do direito constitucional é fundamental para a compreensão do direito
tributário, absolutamente condicionado constitucionalmente no que diz respeito às possibilidades de
tributação e ao modo de tributar, bem como aos princípios que regem a tributação. Temas como o
sigilo bancário, o direito de petição, o direito a certidões e as cláusulas pétreas repercutem
frequentemente na esfera tributária.
A própria consideração da obrigação de pagar tributo como dever fundamental e a
projeção do Estado social e da solidariedade para o campo tributário evidenciam as relações
entre o direito Constitucional e o direito tributário. A legislação tributária tem de ser
reconduzida ao texto constitucional para a análise da sua constitucionalidade, para a construção
das interpretações e de aplicações válidas. São, pois, de elevada importância os textos de direito
constitucional tributário.
O direito civil projeta-se com evidência para o âmbito tributário já quando da análise das
normas de competência, em que se tem de considerar na sua própria dimensão os conceitos, formas
e institutos de direito privado, conforme orientação expressa do próprio art. 110 do CTN. Ademais,
o tributo é obrigação pecuniária, servindo-lhe de referência toda a disciplina das obrigações.
Revela-se, ainda, um direito administrativo tributário, porquanto a tributação é exercida pelo
Estado, sendo o tributo cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Toda a
temática dos atos administrativos, do exercício do poder de polícia e, ainda, do processo
administrativo se projeta para o direito tributário com tratamento específico.
O direito financeiro, por sua vez, guarda relação estreita com o direito tributário. E isso
principalmente em razão da funcionalização da tributação, a exigir a análise da finalidade quando
da instituição das contribuições e empréstimos compulsórios, bem como da efetiva destinação do
seu produto, como critério de validação constitucional de tais tributos.
O direito comercial mantém relação íntima com o direito tributário, envolvendo os tipos
de sociedade, a responsabilidade dos sócios, dos representantes e dos adquirentes de fundo de
comércio, a apuração do lucro, a função social da empresa, o intuito negocial, os diversos
contratos, a falência e a recuperação judicial.
O direito do trabalho igualmente aparece com frequência nas lides tributárias, pois da
caracterização ou não de relação de emprego depende a incidência de contribuições previdenciárias
sobre a folha ou a incidência de contribuições sobre o pagamento a autônomos, bem como da
caracterização ou não de determinadas verbas como salariais ou indenizatórias depende a incidência
de imposto de renda.
O direito internacional ganha relevo em face dos tratados e convenções internacionais em
matéria tributária, estabelecendo mercados comuns (como a União Europeia e o Mercosul) ou
evitando a bitributação em matéria de imposto de renda (como a Convenção Brasil Suécia para evitar
a dupla tributação), e da extraterritorialidade estabelecida para alguns tributos federais. Isso sem falar
no acordo sobre subsídios e medidas compensatórias no âmbito da Organização Mundial do Comércio
(OMC).
O direito processual civil também se apresenta intimamente relacionado com o direito
tributário como instrumento tanto para a satisfação dos créditos do Fisco como para a proteção,
defesa e ressarcimento dos contribuintes. Há o que se pode chamar de um direito processual tributário,
em que inúmeras ações assumem contornos específicos, como é o caso da execução fiscal e da ação
cautelar fiscal, de um lado, e do mandado de segurança, da ação anulatória, da ação declaratória, da
ação de repetição de indébitos tributários, da ação de consignação em pagamento e da medida cautelar
de caução, de outro.
O direito penal mantém relações estreitas com o direito tributário como decorrência da
criminalização de diversas condutas vinculadas ao descumprimento de obrigações tributárias, de que
é exemplo o descaminho, com a internalização de mercadorias mediante ilusão dos tributos devidos,
e a apropriação indébita de valores retidos pelo substituto tributário e não recolhidos ao Fisco.
Ademais, seus princípios e institutos contribuem para a compreensão e aplicação dos dispositivos da
legislação tributária que impõem penalidades, como multas e perdimento de bens.

Relação com a economia


O problema central da economia é a geração de riqueza num contexto de bens escassos e
aplicações alternativas.
A tributação implica custo para a atividade econômica, de modo que é elemento
importantíssimo para qualquer iniciativa empresarial ou profissional. Carga tributária demasiada pode
tornar proibitivos certos negócios, comprometendo a livre iniciativa. Os benefícios tributários, por
sua vez, quando subjetivos, podem causar violação à isonomia e à livre concorrência e, quando
objetivos, desonerar determinados setores em detrimento de outros.
Ademais, em um sistema econômico, a viabilização das operações está sujeita aos chamados custos
de transação. A complexidade da legislação tributária influi nesses custos, seja por força dos esforços
necessários ao correto cumprimento das obrigações acessórias e principais (custos de conformidade),
seja em razão dos riscos relacionados ao planejamento fiscal.

Relação com a contabilidade

A contabilidade permite que se tenha transparência quanto às operações e à situação


patrimonial das pessoas jurídicas, fornecendo elementos para a análise do seu desempenho e para a
gestão e planejamento das suas atividades, tenham fins lucrativos ou não. Interessa, assim, num
primeiro momento, aos administradores, aos sócios e ao mercado. Mas também constitui ferramenta
indispensável para a tributação, permitindo a identificação da ocorrência de fatos geradores e o
dimensionamento dos tributos devidos. Inúmeros conceitos contábeis são recorrentes na legislação
tributária, como regimes de competência e de caixa, lucro líquido, patrimônio líquido etc.

Questões de Direito Tributário - Relação do Direito Tributário com os demais ramos do


Direito
(Prova: CESPE / CEBRASPE - 2021 - Prefeitura de Aracaju - SE - Auditor de Tributos Municipais -
Tecnologia da Informação)

1- Determinado contribuinte entrou com recurso contra notificação de lançamento recebida que
lhe cobrava valores decorrentes da prestação de determinados serviços que haviam sido objeto de
tratado internacional celebrado entre o Brasil e os Estados Unidos da América, o qual isentava o
tributo no âmbito das partes celebrantes. Até pouco tempo atrás, as autoridades administrativas
entendiam que as obrigações tributárias referentes às referidas operações estavam isentas, mas, com
a mudança da titularidade do órgão de administração tributária, o entendimento foi modificado,
seguindo-se a orientação de autuar e multar todos os contribuintes que não tinham recolhido o tributo
sob o fundamento da vigência do referido tratado internacional, respeitando-se o prazo decadencial.

Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta, considerando a jurisprudência dos tribunais
superiores e as disposições do CTN.

A - A atuação da administração tributária está correta, porque não há isenções heterônomas no atual
sistema tributário nacional.

B - O contribuinte que obedeceu ao entendimento anteriormente vigente, ainda que este possa
serconsiderado ilegal quanto à isenção, não deve ser apenado com juros e multa.

C - Como o tratado internacional, no caso, previu a não incidência do tributo municipal, não se
aplica o preceito que veda a concessão de isenções heterônomas.

D - As manifestações das autoridades fiscais na interpretação das normas tributárias, por serem de-
claratórias, alcançam fatos geradores passados, respeitado o prazo decadencial.

E - Os tratados internacionais de direito tributário apenas obrigam a União, não alcançando os entes
tributantes subnacionais.

2 - De acordo com o Código Tributário Nacional, a lei tributária que deve ser interpretada da maneira
mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto à capitulação legal do fato, e quanto a outras
situações previstas, é aquela que

A - tenha sido declarada parcialmente inconstitucional, sem redução de texto, em controle concen-
trado de constitucionalidade.
B - define infrações ou que comina penalidades ao infrator.
C - tem cunho expressamente interpretativo e que produz efeitos retroativos.
D - estabelece os efeitos e o alcance da decadência e da prescrição tributárias.
E - identifica, de modo impreciso, o contribuinte do tributo ou o respectivo responsável.
Referências:

PAULSEN. Leandro. Curso de Direito Tributário completo. 11ª edição, revisada e atualizada.
Saraiva Educação, p45-50, 2020.
ROCHA, Roberval. Direito Tributário. Coleções Sinopses para concurso 28. 8ª edição. Editora
Juspodivm, p28-29. 2021.

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