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SONEGAÇÃO, FRAUDE E CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA: ATÉ

ONDE VAI A ELISÃO FISCAL E COMEÇA A EVASÃO FISCAL

Marlise Cecília Weigel


Márcio Guimarães

RESUMO

Atualmente o Brasil tem a maior carga tributária entre os países emergentes, ficando atrás
somente dos países europeus, que em contrapartida a esses impostos altíssimos, possuem
o retorno por parte de seu governo. Dessa forma, o contribuinte na busca da menor
incidência de tributos, tem o direito de estruturar seu negócio de maneira que vise uma
menor carga tributária. No entanto, muitas vezes na busca pelo menor pagamento de
tributos, por vezes os contribuintes se veêm confusos perante nossa realidade tributária.
Apesar de haver uma linha tênue entre o planejamento tributário e a evasão fiscal, o
planejamento irá buscar formas de reduzir o pagamento de tributos preventivamente,
reduzindo parcela significativa de seu custo o saldo ao final do período será melhor que
aquele no qual a carga tributária recaíra com todo seu peso.

Palavras-Chave: Planejamento Tributário, Evasão Fiscal, Crimes contra a Ordem


Tributária.

• INTRODUÇÃO

A realidade tributária brasileira além de ser complexa, traz um alto custo financeiro
às empresas, e ainda causa constante insegurança aos empresários, por não terem certeza
de estar cumprindo com as obrigações exigidas pelo fisco. O Estado depende, para sua
sobrevivência como instituição de direito público, de recursos alocados pelos cidadãos,
alocação está que se faz ordinariamente através da cobrança de tributos e deriva do poder
de tributar.
Diante disso, surgem confrontos, onde o Estado na posição de credor, busca cada
vez mais ampliar a carga tributária, enquanto que de outro lado, os contribuintes frente a
ineficiência dos serviços estatais, sentem-se violentados ao pagar a alta carga tributária de
nosso país. Assim, de forma a amenizar o referido problema, os contribuintes recorrem de
meios como o planejamento tributário, onde o contribuinte com o dever de cumprir as
obrigações, se utiliza desse meio como forma de proteção á voracidade do Fisco,
otimizando suas atividades a fim de diminuir um pouco a carga tributária.
Tal quadro tributário e social de nosso país leva a ocorrência de maior utilização do
planejamento com o intuito de obter uma minoração tributária, como forma de resguardar
e proteger a propriedade, bem como manter a empresa competitiva no mercado. Dessa
forma, o contribuinte tem o direito de estruturar seu negócio de maneira que diminua o
encargo de impostos incidentes.

• REVISÃO TEÓRICA

2.1 A Evolução do conceito de Planejamento Fiscal no Sistema Tributário Nacional

As fontes formais do Direito Tributário encontram-se arroladas, nos arts. 2º e 96º


do Código Tributário Nacional – CTN, onde o art. 96º define legislação tributária da
seguinte forma:
“A expressão “legislação tributária” compreende as leis, os tratados e as
convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que
versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles
pertinentes”.

Conforme art. 96 da CTN, a legislação abrange além das leis em sentido restrito, os
tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que
versem sobre os tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. Além dos dispositivos
legais que regem o Sistema Tributário Nacional, o mesmo possui princípios que assumem
múltiplas funções, entre elas operar como alicerces do sistema jurídico, delineando seus
valores, bem como exercer a função de normas de conduta. São eles: Principio da
Legalidade, Principio da Tipicidade.
O Direito Tributário Nacional é regido pelo disposto na Emenda Constitucional n.
18, de 1º de dezembro de 1965, considerada como tendo sido a impulsionadora do
Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172, de 25/10/1966). Também pelos arts. 145 a 162
da Constituição de 1988, em leis complementares, em resoluções do Senado Federal e,
nos limites das respectivas competências, em leis federais, nas Constituições e em leis
estaduais e em leis municipais.
O CTN - Código Tributário Nacional - é a Lei infraconstitucional norteadora, no
Brasil, da aplicabilidade dos tributos, extensão, alcance, limites, direitos e deveres dos
contribuintes, atuação dos agentes fiscalizadores e demais normas tributárias. Segundo
MARTINS, p. 73, 2011:
“O Código Tributário Nacional é dividido em dois livros: o primeiro cuida do
sistema constitucional (imprime-lhe estrutura, define tributo, explicita as
espécies tributárias, cuida de imunidades, de empréstimo compulsório, de
impostos, taxas e contribuições de melhoria, indica os impostos federais,
estaduais e municipais); o segundo explicita as normas gerais a serem seguidas
pelo sistema, o principio da legalidade, o da vigência e aplicação das leis, as
regras de interpretação, além de identificar os sujeitos ativos e passivos da
obrigação tributária, definido seu fato gerador, a responsabilidade tributária, o
lançamento, a forma de administração tributária e como ocorre a extinção do
crédito tributário. Cuida, ainda, das isenções, da anistia, do privilégio e das
preferências do crédito tributário”.

Conforme estabelece o art. 3º do Código Tributário Nacional, “Tributo é toda


prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que
não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada”. Ainda conforme Código Tributário Nacional em
seu artigo 5º são três as espécies do gênero tributo: impostos, taxas e contribuições de
melhoria.
Em relação à competência tributária de cada um dos entes políticos diante das
espécies de tributos, a mesma é estabelecida taxativamente pela Constituição da
República em seus arts. 145 a 149-A, sendo, pois, numerusclausus as possibilidade de
tributação. Assim é que só poderão ser instituídos tributos que possam ser reconduzidos
uma das normas concessivas da competência tributária, sob penalidade de
inconstitucionalidade (PAULSEN, 2011 p. 34).
A constituição Federal determina a competência e os limites do poder de tributar.
Sobre isso, CHIMENTI destaca (p. 1, 2008):

“Competência Tributária, portanto, é o poder que a Constituição Federal atribui


a determinado ente político para que este institua um tributo, descrevendo,
legislativamente, sua hipótese de incidência, seu sujeito ativo, seu sujeito
passivo, sua base de calcula e sua alíquota”.

A lei complementar deve dispor acerca de conflitos de competência em matéria


tributária, regular as limitações constitucionais do poder de tributar e estabelecer normas
gerais em legislação tributária (Art. 146 do CTN). Cabe a lei ordinária, por sua vez, a
instituição e majoração de tributos, com exceção daqueles previstos nos arts. 148 e 154, I,
da Constituição, os quais exigem lei complementar. É também de sua atribuição dispor
sobre o fato gerador do tributo, sua alíquota e sua base de cálculo, além de determinar os
sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária.
O Código Tributário Nacional condiciona a fixação da alíquota e da respectiva base
de cálculo à observância do principio da estrita legalidade (CTN, art. 97, IV). Isso
significa que um tributo só será legitimamente instituído se a respectiva alíquota ou base
de cálculo estiverem previstos em lei ordinária federal, estadual ou municipal, observada
a competência tributária (COSTA, 1998, p. 81).
Tendo em vista a legislação que norteia o instituto do Sistema Tributário Nacional,
bem como o conceito e a competência e o limite do poder de tributar de cada um dos
entes públicos administrativos, precisa ter em mente a definição e o entendimento da
jurisprudência quanto a atividade de Planejamento Tributário, tópico principal do
respectivo Estudo.
O planejamento tributário comumente é utilizado pelas empresas e contribuintes,
que tem o nascimento da obrigação tributária, como marco limite.Em relação a essa
questão, GRECO (2008, p. 117), conceitua planejamento tributário como: “Conjunto de
condutas que o contribuinte pode realizar visando a menor carga tributária legalmente
possível”. No mesmo sentido para GUBERT (2003, p. 33): “O planejamento tributário é
o conjunto de condutas, comissivas ou omissivas, da pessoa física ou jurídica, realizadas
antes ou depois do fato gerador, destinadas a reduzir, mitigar, transferir ou postergar legas
e licitamente os ônus dos tributos”.
Com base nisso, tem-se uma linha muito tênue, entre o planejamento fiscal e os
crimes contra a ordem tributária, como a evasão e elusão fiscal, deixando o ato, de ser
uma elisão fiscal onde o contribuinte busca a diminuição de seus encargos anteriores á
incidência tributária, de modo a obter-se legitima economia de tributos através de atos
lícitos, e passa a se utilizar de atos ilícitos posterior à incidência tributária, que se
constituem de fraude, sonegação, simulação, visando não pagar, reduzir ou retardar o
pagamento do tributo devido.

2.2 Evasão fiscal, Elusão fiscal e os crimes contra a Ordem Tributária.

Tendo em vista a complexidade e onerosidade do atual Sistema Tributário


Nacional, é comum a procura dos contribuintes na busca de uma menor carga tributária
de impostos, tanto pequenos e grandes empresários. O Direito Brasileiro alberga o
Principio da Legalidade, que determina que “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude da lei” (art. 5º, II, da CF 88).
A Lei 8137/90 traz, nos artigos 1°, 2° e 3°, as condutas que configuram os crimes
contra a Ordem Tributária. No artigo 1° são descritas condutas fraudulentas através das
quais se recolhe tributos ou contribuições sociais em valor inferior ao efetivamente
devido. Esta redução ou supressão é o que efetivamente configura o crime, e deve ser
apurada na instância administrativa através de procedimento fiscal.
São considerados tributários todos os crimes que atentem contra a atividade de
arrecadação de tributo, ou seja, o crime tributário não se caracteriza somente pelo não
pagamento do tributo, mas a fraude é elementar da figura típica. A utilização desta,
presente em todas as condutas descritas pela Lei nº 8137/90, remete sobre a questão da
omissão do cumprimento da obrigação tributária.
Dessa forma, a principal diferença, exposta pelos mais diversos autores, para o fato
se caracterizar em evasão fiscal e não em elisão fiscal, seria o fato do ponto de partida
dos atos praticados pelo contribuinte. Ou seja, se este age concomitante ou posterior à
incidência tributária, encontra-se presente de forma especifica a fraude.
Segundo LOVATTO (2000, p. 145), a evasão pode ser omissiva ou comissiva:

“Na omissiva, mereceria destaque a decorrente da intenção como a sonegação,


o não recolhimento do tributo, etc. Já a comissiva, sempre intencional, tem
disso classificada como licita ou ilícita. Está seria resultante de fraude, da
simulação e do conluio, enquanto aquela, a lícita, seria a elisão em sentido
estrito, resultante da economia fiscal”.

Por fraude (CORREA, 1996, p. 26), a classifica nas seguintes categorias:

• Técnicas - elevação de tarifas, abuso de progressividade excessiva, acréscimo


de número de impostos, legislação confusa, etc.
• Psicológicas – falta de consciência fiscal, política, etc;
• Morais – má informação do contribuinte;
• Sociais – meio social;

Para o termo elusão fiscal, TÔRRES (2003, p.174) o conceitua como uma figura no
meio termo entra a evasão e elisão fiscal. Ocorreria nos casos em que o contribuinte tenha
praticados atos que, apesar de lícitos, são desprovidos de causas negociais tendo sido
realizados com fraude à lei ou abuso de direito, nos termos do art. 166 IV e 187 do
Código Civil.
Todavia, os limites entre a elisão e evasão fiscal são, por vezes, obscuros. Nesta
questão, múltiplas abordagens podem ser feitas, todas elas visando a coibir o abuso na
manipulação das formas de direito privado para os fins da evasão fiscal. Para combater a
prática de evasão fiscal foi editada a Lei Complementar nº 101, de 10/01/2001, que
inseriu um parágrafo único no art. 116 do CTN:

“Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato


gerador e existentes os seus efeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as
circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente
lhe são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja
definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou
negócios jurídicos praticados coma finalidade de dissimular a ocorrência do
fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação
tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei
ordinária”.

Em outras palavras, trata-se do uso de forma abusiva de formas jurídicas ilícitas


com a finalidade de se obter redução do imposto. Significa que o negócio assim
apresentado não corresponde aquele que a forma exige, mas o negócio travestido numa
forma inadequada (GREGO, 2008, p. 275).
Outra forma possível de descaracterizar o planejamento tributário é o abuso do
direito. Essa mesma figura encontra-se previsto no art. 187 do código Civil:

“Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede


manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes”.

O abuso do direito irá ocorrer quando o contribuinte ao exercer seu direito de


liberdade negocial, realiza atos que estão em desacordo com o fim econômico e social
daquela operação, tendo somente o fim de afastar o nascimento da obrigação tributária ou
ainda diminuir o montante de tributos devido pelo contribuinte.
Partindo dessa premissa o Fisco não pode influir na estruturação jurídico-privada
relacionada aos negócios dos contribuintes. Porém caso o contribuinte, abusando do
direito do uso de formas, empregar uma atitude jurídica anormal, inadequada na
estruturação de suas relações, com o intuito de fraudar ou ainda impedir a tributação,
estaria partindo para o campo da evasão fiscal.
A despeito disso, em relação ao descumprimento de obrigação tributária, que enseja
o desencadeamento de atos administrativos que se editou a Lei 4.729 de 14 de julho de
1965, para disciplinar o variado universo de condutas de evasão tributária, com o intuito
de emprestar força de persuasão à atividade tributante do Estado.

• Análise das decisões do Tribunal Regional Federal sobre o planejamento fiscal e a


evasão fiscal

Diante do referencial teórico levantado, será feito a análise de diversas decisões do


Tribunal Regional Federal - TRF, para apresentar a diferença entre as situações em que as
práticas dos contribuintes na busca pela redução de tributos é considerado Planejamento
Tributário e o que seria considerado evasão fiscal.
A jurisprudência analisada recai sobre a questão da utilização do planejamento
fiscal, negando o exposto conforme apresentado pelo apelante. Trata-se da apelação
criminal nº 0004812-96.2002.404.7201/SC, que possui como relator o Juiz Federal Pedro
Carvalho Aguirre Filho e tem como apelante o Ministério Público Federal e apelado Cleci
Terezinha SchanoveberCesconeto. No presente processo, foi levantado o seguinte caso:

“ O Relatório Fiscal que serve de base para a denúncia, fls. 55-70, do apenso I,
relata que não podendo a empresa Meccaville Maquinas e Equipamentos
Industriais Ltda, fundada no ano de 1987 com o nome de Meccaville Mecânica
e Caldeiraria Ltda, optar pelo regime tributário SIMPLES, em face de seu
faturamento, seus sócios, os réus Edgar Cesconeto e Cleci Terezinha
SchanoveberCesconeto, criaram outra pessoa jurídica, a Meccaville
Construções Metálicas Ltda, para burlar a legislação dividindo o faturamento
decorrente da atividade econômica entre as duas empresas e absorvendo a
última boa parte da folha de pagamento”.

Inicialmente o Ministério Público ofereceu a seguinte denúncia em face da apelado:

“ Em estreita síntese, os débitos consolidados na NFLD nº. 35.305.236-1,


lançados em desfavor da empresa Meccaville Máquinas e Equipamentos
Industriais Ltda. referem-se às contribuições sociais relativas aos fatos
geradores registrados em nome da empresa Meccaville Construções Metálicas
Ltda., posto que esta última foi criada, por meio de procedimento simulado,
para ser enquadrada no regime especial do Sistema Simplificado de Pagamento
de Impostos e Contribuições Sociais - SIMPLES.Quer dizer, apesar de, sob o
ponto de vista dos fatos as empresas em questão se confundirem, como ardil
fraudulento criado, de forma não permitida em Lei, sob o ponto de vista
prático, houve a redução e supressão de contribuições previdenciárias da
empresa Meccaville Máquinas e Equipamentos Industriais Ltda., já que parte
de sua movimentação fiscal, notadamente as questões relacionadas com a folha
de salário, faturamento e lucro, foram migradas para a empresa Meccaville
Construções Metálicas Ltda. criada para se enquadrar como empresa de
pequeno porte, tendo o recolhimento das contribuições sociais e
previdenciárias ocorrido em alíquotas diferenciadas (menores), sob o regime
SIMPLES”.

Em uma apertada síntese, a discussão dos autos se baseia em saber se a criação de


empresas, por parte dos apelados, com o objetivo de se beneficiar de alíquota menor para
o recolhimento das contribuições sociais e previdenciárias, e, com isso reduzir tributo.
No entanto, conforme apontado nos autos, nas poucas decisões existentes até o
momento no Tribunal Regional Federal, o contribuinte tem o direito de organizar sua
empresa, conforme lhe convém, buscando pagar uma menor carga tributária. Dentre essa
possibilita licita do contribuinte, encontra-se objeto jurídico, como o tipo contratual
societário. Em resumo, a liberdade fiscal permite ao contribuinte escolher a forma
jurídica lícita que melhor aprouver à condução de seus negócios. Logo, a estruturação das
empresas objetivando o recolhimento de tributos com alíquotas menores não é um
comportamento proibido, mas permitido. É o chamado "planejamento tributário".
Conforme apontado pelo relator, o comportamento fraudulento, apenas passa a
ocorrer quando a alteração da estrutura empresarial é fictícia, geralmente ocasionada pela
criação de empresas "fantasma", a fim de simular uma transferência de lucros,
faturamento, maquinário, gerenciamento e força de trabalho para um empreendimento
faticamente inexistente. A fraude ocorre quando, na verdade, todos esses fatores de
produção continuam a se concentrar na empresa original, a qual, não obstante, é
favorecida com uma menor carga tributária, sem, no entanto, licitamente fazer jus a tais
benefícios, por em realidade não ter modificado estrutura alguma, concluindo-se dessa
forma, que a alteração da estrutura empresarial, a fim de reduzir a carga tributária, está
inserta no âmbito da liberdade negocial e do planejamento tributário.
Dessa forma, o relator Pedro Carvalho Aguirre Filho, ante o exposto, vota no
sentido de negar provimento à apelação, por entender que há dúvidas razoáveis quanto à
existência de fraude ou simulação para reduzir tributos, motivo pelo qual mantenho a
absolvição dos réus Cleci Terezinha SchanoveberCesconeto e Edgar Cesconeto do crime
previsto no artigo 337-A, inciso III, do Código Penal, bem como do réu Edgar
Cesconetoem relação ao crime do artigo 1º, inciso I, da Lei 8.137/90, com fundamento no
artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal.
A segunda jurisprudência analisada trata-se do agravo de instrumento Nº 5000053-
29.2010.404.7005/PR, tendo como apelante Manica Eletro – Comércio de Móveis e
Eletroeletrônicos Ltda, onde a apelante a União – Fazenda Nacional, interpôs apelação,
aduzindo que, na realidade, não houve a prática de qualquer ato ilícito; pelo contrário,
amparada pelo art. 5º, inciso II, art. 37 e art.170, da CF/88, além das prescrições do
Código Tributário Nacional, organizou a sua atividade econômica por meio de
um planejamento tributário plenamente lícito e válido, de forma a sofrer a menor carga
tributária possível, não cabendo à Administração Pública desconsiderar
tal planejamento sob a mera afirmação de que houvera evasão de tributos.
No processo em questão, a apelante coligiu evidências consistentes e suficientes
para demonstrar que as empresas optantes do SIMPLES, pertencentes ao grupo
econômico liderado pela autora e prestadoras de serviços relacionados, quase em sua
totalidade, com a atividade fim da autora, consistiam em instrumento para a prática
de evasão tributária, visto que se destinavam a registrar formalmente os empregados da
empresa autora, com o intuito de reduzir a carga tributária incidente sobre a folha de
salários da autora. Entre os fatos apurados pelo apelante, cabe destacar:
“a) despesas lançadas na contabilidade das empresas optantes foram pagas, de
fato, pela empresa autora; b) o faturamento das empresas optantes do
SIMPLES era utilizado quase que exclusivamente para o pagamento das
despesas com mão-de-obra e encargos sociais e trabalhistas; c) várias
reclamatórias foram processadas em varas do trabalho localizadas em cidades
onde não havia estabelecimentos das empresas optantes pelo SIMPLES, mas a
empresa autora possuía filiais; d) a evolução qualitativa da mão-de-obra das
empresas demonstra que a empresa autora, mesmo com aproximadamente 20
estabelecimentos, declarava poucos empregados na sua folha de salários,
enquanto que as empresas optantes declaravam empregados em número
incompatível com as atividades econômicas realizadas; e) as empresas optantes
pelo SIMPLES não possuem autonomia financeira para realizar as atividades
empresariais de forma economicamente sustentável, sendo evidente a
desproporcionalidade entre gastos com mão-de-obra e faturamento, que, nas
empresas optantes, varia entre 70% e 199%; f) as empresas optantes não
possuem autonomia patrimonial, já que não apresentam ativo permanente, nem
registro de despesas com imóveis, aluguéis, equipamentos ou materiais
necessários à realização de seus objetivos sociais e os custos e as despesas
registrados limitam-se à mão-de-obra e encargos sociais”.

Diante dos fatos apresentados pelo apelante, o argumento central do apelo da parte
autora ampara-se na licitude do planejamento tributário realizado, que se ampara nos
princípios da legalidade e da livre iniciativa. A mesma assevera que organizou a sua
atividade econômica de forma a sofrer a menor carga tributária possível, não cabendo à
Administração Pública desconsiderar tal planejamento sob a mera afirmação de que
houve evasão de tributos. Nesse caso, a relação jurídica existente entre a empresa autora,
cuja atividade principal é o comércio varejista de móveis, e as empresas Joel Raimundo
& Cia. Ltda., Manica & Raimundo Ltda., Pivotto&Pivotto Ltda., CND Som Comércio
Automotivo Ltda. e K. P. Hernandes e Cia. Ltda., as quais prestam serviços de logística,
limpeza, carregamento, descarregamento e organização de mercadorias, instalações,
reparos, montagem, vendas, publicidade, divulgação sonora, digitação de dados,
fechamento de caixa, reposição e controle de estoque, dentre outros, para a autora.
Conforme relatório agravo de instrumento Nº 5000053-29.2010.404.7005/PR,
conquanto a autora defenda que o planejamento tributário por ela realizado não encontra
qualquer vedação legal, nos termos da Lei 9.317/1996, e que a circunstância de as
empresas terceirizadas prestarem serviços de forma exclusiva ou de fazerem parte de um
único grupo econômico não é condição suficiente para atestar a existência
de evasão fiscal.
No entanto, os elementos obtidos por meio da ação fiscal conduzem à conclusão
contrária. No caso dos autos, está devidamente comprovada a utilização de meio
fraudulento na condução dos negócios das empresas Joel Raimundo & Cia. Ltda., Manica
& Raimundo Ltda., Pivotto&Pivotto Ltda., CND Som Comércio Automotivo Ltda. e K.
P. Hernandes e Cia. Ltda., objetivando eximir a empresa autora do pagamento total das
contribuições patronais incidentes sobre a folha de salários dos segurados empregados e
contribuintes individuais. Nesse caso, conclui-se que a terceirização das atividades
consistiu apenas em um artifício usado para encobrir o vínculo jurídico entre os
segurados a serviço da autora, que apenas formalmente prestavam serviços às empresas
optantes pelo SIMPLES.
De fato, conforme § 2º do art. 2º da CLT e no inciso IX do art. 30 da Lei nº
8.212/1991, a organização sob a forma de grupo econômico não implica,
necessariamente, evasão fiscal, embora acarrete a responsabilidade solidária pelas
obrigações trabalhistas e previdenciárias. Porém, o fato de existir direção ou
administração das empresas pelos mesmos sócios e gerentes e controle de uma pela outra,
como por exemplo, a origem comum do capital e do patrimônio das empresas, comunhão
ou conexão de negócios e, principalmente a utilização da mão de obra comum ou outras
situações que indiquem o aproveitamento direto ou indireto por uma empresa da mão de
obra contratada - evidências da formação de grupo econômico - não elimina a
necessidade de que cada empresa possua estrutura autônoma, tanto formal quanto
material, ou seja, realmente exerça atividade econômica organizada de forma
independente da empresa controladora. Diante disso, se essa situação não estiver
caracterizada, não existe verdadeira empresa, mas uma filial, uma extensão da empresa
controladora.
Diante do exposto pelas duas partes, o desembargador conclui que as razões de
apelo da autora não lograram demonstrar o desacerto do lançamento fiscal, visto que se
apoiam tão somente na licitude do planejamento tributário, não trazendo qualquer prova
hábil para desconstituir a situação fática apurada na ação fiscal. Sendo que a motivação
do ato administrativo, apresentado pelo apelante, encontra-se perfeitamente exposta,
indicando de forma clara e precisa a fraude como fundamento e os dispositivos legais que
prevêem a obrigação tributária, possibilitando que a autora se valesse dos meios de defesa
inerentes ao devido processo legal. Ante o exposto, o mesmo vota no sentido de negar
provimento à apelação da autora e dar parcial provimento à apelação da União.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O trabalho é uma busca pelo conhecimento jurídico de como vem sendo aplicada as
Leis n º. 5.172/66 que dispões sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas
gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios e 8.137/90 que trata
sobre os crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo e
dá outras providências, buscando analisar qual o limite entre o planejamento fiscal, elisão
fiscal para a evasão fiscal, com uma análise quantitativa e qualitativa de julgados do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
A pesquisa a ser realizada consiste na coleta e análise de decisões do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, para identificar quais os atos praticados pelos
contribuintes que consistem em crimes contra a ordem tributária, evasão fiscal, na
buscando pela redução da carga tributária através do planejamento tributário.
Para uma melhor análise e argumentação crítica, quanto aos procedimentos de
pesquisa, o presente projeto se enquadra como estudo de caso, que se caracteriza pela
abordagem em somente um único caso ou fato, levantamento ou survey, que se utiliza da
coleta de informações, pesquisa bibliográfica, na qual se busca informações e
conhecimentos sobre um assunto sobre o qual se quer conhecer ou procurar uma resposta.
No que tange a delimitação da pesquisa quanto aos objetivos, está pode se
enquadrar em exploratória, descritiva ou explicativa. Já em relação às técnicas utilizadas
na pesquisa constituem-se de documentação indireta, sendo realizada através de
pesquisas documentais, bibliográficas e doutrinárias, com o intuito de aprofundar a
análise e construção de uma argumentação crítica através de uma cuidadosa observação
qualitativa e quantitativa dos dados coletados através da análise das decisões do Tribunal
de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no conceito levantado, legislação e análise de diversas decisões do


Tribunal Regional Federal – TRF4, sobre a evasão fiscal e a configuração do
planejamento Tributário, conclui-se que por diversas vezes ocorre à má interpretação, por
parte dos contribuintes sobre o conceito do planejamento fiscal, levando as empresas a
praticar atos de evasão fiscal, que em sua maioria, são tomadas na busca do contribuinte
pela redução de tributos.
Por conseguinte, no primeiro capítulo tentou-se, sinteticamente, abordar através do
entendimento teórico dos mais diversos doutrinadores a linha tênue entre o planejamento
tributário e a evasão fiscal, além dos crimes contra a ordem tributária.Com base nesse
referencial teórico, o segundo capítulo procurou apresentar algumas jurisprudências do
Tribunal Regional Federal da 4º Região, avaliando as situações que são consideradas
planejamento tributário ou evasão fiscal.
Nesse sentido, verificou-se que a distinção entre um planejamento tributário lícito,
elisão fiscal e ilícito, evasão fiscal, está na fuga da concretização, ou seja, do nascimento
do fato gerador.Diante do exposto, após analisar os princípios constitucionais e a
formação da relação jurídico-tributária, através de diversas decisões do Tribunal Regional
Federal,conclui-se que o limite existente para o planejamento tributário está na licitude
dos meios utilizados para obter a redução da carga tributária almejada.

REFERÊNCIAS

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