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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
DIREITO

BRUNA PELEGRINI SEIXAS

ANÁLISE DA ELISÃO FISCAL E EVASÃO FISCAL PELA ÓTICA


DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL E DOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS PARA DEFINIÇÃO DAS
FERRAMENTAS DE UM PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO LÍCITO

RIO DE JANEIRO
2023
2

ANÁLISE DA ELISÃO FISCAL E EVASÃO FISCAL PELA ÓTICA DO CÓDIGO


TRIBUTÁRIO NACIONAL E DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS
PARA DEFINIÇÃO DAS FERRAMENTAS DE UM PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO
LÍCITO.

Bruna Pelegrini Seixas1

RESUMO. O presente trabalho tem como objetivo investigar e analisar o conceito de elisão e
evasão fiscal, e de planejamento tributário lícito, sob a perspectiva dos princípios
constitucionais e do Código Tributário Nacional, levando em consideração, também, o que diz
a doutrina, artigos científicos e a jurisprudência. Serão abordadas as principais ferramentas de
um planejamento tributário lícito, examinando sua fundamentação jurídica e os limites
impostos pela legislação. O trabalho será dividido em diversas seções que abordarão os
seguintes temas: introdução ao direito tributário e aos princípios constitucionais, conceito
fundamental de elisão e evasão fiscal e outras ferramentas lícitas para um planejamento
tributário, análise de casos práticos, perspectivas doutrinárias e jurisprudenciais, e, uma
conclusão que consolidará os principais pontos discutidos ao longo do estudo. O objetivo
principal deste trabalho é contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre o
planejamento tributário lícito, fornecendo subsídios teóricos e práticos para compreensão dos
mecanismos legais disponíveis aos contribuintes. As questões de pesquisa que serão
abordadas são: Quais são as principais ferramentas do planejamento tributário lícito? Como a
elisão fiscal se diferencia da evasão fiscal? Quais são os princípios constitucionais e
disposições legais relevantes para o planejamento tributário lícito? Qual a importância da
busca pela eficiência de um bom planejamento fiscal?

Palavras-chave: Direito Tributário. Código Tributário Nacional. Elisão Fiscal. Evasão Fiscal.
Planejamento Tributário.

SUMÁRIO. Introdução. 1. O Direito Tributário. 1.1. Princípios Constitucionais do Direito


Tributário. 1.2. Importância dos princípios constitucionais no planejamento tributário lícito. 2.
Analise da diferença entre os conceitos de elisão e evasão fiscal. 2.1. O planejamento
tributário lícito. 3. Ferramentas e estratégias de planjemanensto tributário lícito que podem
serem adotadas pelos contribuintes, e os possíveis resultados a serem alcançados em
conformidade com a legislação tributária vigente. Conclusão. Referências.

1
Bacharel em Direito na Facul Estácio de Sá
3

INTRODUÇÃO

O Direito Tributário é uma área de extrema relevância para as sociedades, uma vez
que regula as relações entre o Estado e os contribuintes no que tange à arrecadação de
tributos. Nesse contexto, a elisão fiscal e a evasão fiscal surgem como conceitos
fundamentais na busca por uma gestão adequada de carga tributária.
A elisão fiscal, também conhecida como planejamento tributário lícito, consiste na
utilização de estratégias e mecanismos previstos na legislação tributária. Trata-se de uma
prática em que o contribuinte, respaldado pelo código tributário nacional e pelos
princípios constitucionais tributários, busca utilizar de forma eficiente os beneicios
fiscais e as brechas legais existentes, sem violar a essência da legislação.
Por outro lado, a evasão fiscal caracteriza-se como uma prática ilícita, em que o
contribuinte busca evitar o pagamento dos tributos devidos através da sonegação,
omissão de inormações ou atos fradulentos. A evasão fiscal é expressamente proibida
pela lei e sujeita o contribuinte a sanções administrativas, civis e penais.
Diante desse contexto, é fundamental compreender a distinção entre elisao fiscal e
evasão fiscal, bem como explorar outras ferramentas lícitas de planejamento tributário.
Essas ferramentas incluem a escolha do regime tributário mais vantajoso, a utilização de
incentivos fiscais, a reorganização societária, entre outras estratégias que visam otimizar
a carga tributária dentro dos limites legais.
O objetivo principal deste trabalho é analisar o planejamento tributário lícito à luz
dos pricípios constucionas e do codigo tributário nacional, utilizando argumentos
embasados na doutrina em artigos científicos e na jurisprudência. Para alcançar esse
objetivo, o trabalho será estrututurado em diferentes tópicos. No primeiro capítulo,
abordar-se-á o Direito Tributário e a análise dos conceitos entre a diferença entre os
conceitos de elisão e evasão fiscal. Serão explorados os fundamentos legais que
respaldam a elisão fiscal, bem como suas limitações e requisitos para sua aplicação de
forma legal.
No segundo capítulo, será feita uma nálise do planejamento tributário lícito à luz
dos princípios constitucionais e o do código tributário: Nesta seção, será desenvolvido o
argumento principal do trabalho, que consiste em examinar o planejamento tributário
lícito considerando os princípios constitucionais e as disposições legais pertinentes.
3
4

Serão utilizados argumentos embasados na doutrina especializada, em artigos cientificos


e em jurisprudências relevantes para sustentar a importância e a legalidade do
planejamento tributário lícito como uma forma legítima de otimizar a carga tributária.
Por fim, o terceiro capítulo, trará estudos de casos que ilustrarão a aplicação das
ferramentas de planjemanensto tributário lícito, discutindo as estratégias adotadas pelos
contribuintes, os resultados alcançados e a conformidade com a legislação tributária
vigente, e as perspectivas doutrinárias e jurisprudenciais.
A metodologia adotada neste artigo será uma abordagem de pesquisa bibliográfica,
combinada com análise qualitativa e quantitativa por meio de levantamento de referências,
documentos, artigos científicos e meios eletrônicos.

1. O DIREITO TRIBUTÁRIO

O Direito Tributário é uma disciplina jurídica que estuda as normas e os princípios


relativos à instituição, arrecadação e fiscalização dos tributos. É uma área fundamental do
Direito, pois está diretamente relacionada à organização financeira do Estado e ao exercício
da cidadania. O Direito Tributário envolve uma série de conceitos fundamentais que são
essenciais para compreender sua natureza e funcionamento.
Dentre esses conceitos, destacam-se a tributação, os tributos, as espécies tributárias
(impostos, taxas e contribuições), a competência tributária, a obrigação tributária, a
incidência, a base de cálculo e a alíquota. Cada um desses elementos desempenha um papel
crucial na compreensão do sistema tributário e na definição das estratégias de planejamento
tributário.
Nos moldes do art. 4º CTN, a natureza jurídica de cada tributo é verificada de acordo com
seu fato gerador, não importando: o nome dado a esta; suas características formais; a
destinação estabelecida para a sua arrecadação. E conforme o art. 96 do CTN, a expressão
“legislação tributária” compreende as leis, decretos e as normas complementares que versem,
no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

1.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

Os princípios constitucionais são base do sistema tributário, estabelecendo os limites e


as diretrizes para a atuação do Estado na instituição e na cobrança de tributos. Dentre os
4
5

princípios constitucionais do Direito Tributário, destacam-se a legalidade, a igualdade, a


capacidade contributiva, a anterioridade, a irretroatividade, a vedação ao confisco e a não
cumulatividade. Esses princípios garantem a segurança jurídica, a justiça fiscal e a proteção
dos direitos dos contribuintes.
O princípio da legalidade é um dos pilares do Direito Tributário. Ele estabelece que
nenhum tributo pode ser instituído, modificado ou extinto sem que haja previsão legal
específica. Isso significa que a criação e a alteração de tributos devem ser feitas por meio de
lei, garantindo transparência, previsibilidade e limites claros para a atuação do Estado. Para
Mello (2013):

A legalidade é o princípio capital para a configuração do regime jurídico-


administrativo [...] Com efeito, enquanto o principio da supremacia do interesse
publico sobre o interesse privado e da essência de qualquer Estado, de qualquer
sociedade juridicamente organizada com fins políticos, o da legalidade e específico
do Estado de Direito, e justamente aquele que o qualifica e que lhe da à identidade
própria.2

O princípio da igualdade, também conhecido como princípio da isonomia, determina


que a tributação deve ser aplicada de forma igualitária a todos os contribuintes que se
encontrem em situação equivalente. Isso implica que não se pode estabelecer tratamento
diferenciado injustificado entre contribuintes, assegurando a equidade e a justiça fiscal. Para
Carraza (2015):

O princípio da igualdade no Direito Tributário exige que a tributação seja imposta


de forma equânime, sem discriminação arbitrária entre os contribuintes, assegurando
a efetiva isonomia fiscal. A lei tributária deve conter critérios idôneos e suficientes
para coartar quaisquer arbitrariedades do Fisco. Tais critérios devem
necessariamente apontar: a) os destinatários do tributo (os contribuintes), porquanto
não se admite fique relegada ao arbítrio da Fazenda Pública a inclusão ou a exclusão
de determinadas categorias de contribuintes; e) os pressupostos do tributo, isto é, a
coisa, o ato, o fato, a situação ou a qualidade da pessoa que constitui o pressuposto
objetivo da tributação, e, também, a relação em que se deve achar o sujeito passivo
da prestação [...] 3

O princípio da capacidade contributiva estabelece que a tributação deva levar em


consideração a capacidade econômica do contribuinte. Isso significa que aqueles que possuem
maior capacidade econômica devem arcar com uma maior carga tributária, enquanto aqueles

2
MELLO, Celso Antônio Bandeira de, 2013, p. 102
3
CARRAZA, Roque Antônio, 2016, p. 299

5
6

que possuem menor capacidade devem ser menos onerados. Esse princípio busca promover
um sistema tributário mais justo e proporcional. A capacidade contributiva é o princípio base no
direito tributário, responsável pela concretização da igualdade no âmbito das normas impositivas
(ÁVILA, 2012, p. 432).
O princípio da anterioridade determina que qualquer aumento ou criação de tributo só
pode ser aplicado no exercício financeiro seguinte ao da sua instituição ou majoração. Esse
princípio visa proporcionar aos contribuintes um período de tempo para se planejarem diante
de mudanças tributárias, garantindo a segurança jurídica e evitando surpresas fiscais.

Os princípios da anterioridade e da irretroatividade no Direito Tributário têm por


finalidade garantir a segurança jurídica, impedindo que o Estado altere as regras
tributárias de forma repentina e retroativa, afetando os direitos dos contribuintes. .
Trata-se, na realidade, a semelhanca dos demais postulados inscritos no art. 150 da
carta politica, de princípio que - por traduzir limitação ao poder de tributar 4

O princípio da irretroatividade estabelece que a lei tributária não pode retroagir para
atingir fatos geradores ocorridos antes de sua vigência. Isso significa que o contribuinte não
pode ser penalizado retroativamente por mudanças na legislação tributária, garantindo a
estabilidade e a segurança jurídica.
O Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento da ADI nº 712-DF, reconheceu
que a observância das regras impostas pelas limitações constitucionais ao poder de tributar
possui caráter de direito e garantia. Afirmou-se que tais limitações são fundamentais para
assegurar a proteção dos direitos dos cidadãos e garantir o equilíbrio entre o poder do Estado
em arrecadar tributos e os direitos individuais e coletivos dos contribuintes.

O princípio da irretroatividade da lei tributaria deve ser visto e interpretado, desse


modo, como garantia constitucional instituida em favor dos sujeitos passivos da
atividade estatal no campo da tributação - e tão-somente oponivel pelo contribuinte a
ação do estado. - em princípio, nada impede o poder público de reconhecer, em texto
formal de lei, a ocorrencia de situações lesivas a esfera jurídica dos contribuintes e
de adotar, no plano do direito positivo, as providencias necessarias a cessação dos
efeitos onerosos que, derivados, exemplificativamente, da manipulação, da
substituição ou da alteração de indices, haja tornado mais gravosa a exação tributaria
imposta pelo Estado.5

O princípio da vedação ao confisco proíbe a tributação excessiva que possa


comprometer o patrimônio do contribuinte de forma desproporcional. Ele impede que o
Estado utilize os tributos como instrumento de confisco ou punição, assegurando a proteção

4
AMARO, Luciano, 2020, p. 112
5
ADI 712 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/1992
6
7

do patrimônio privado. Segundo Sabbag (2012):

O princípio constitucional da vedação ao confisco preconiza que é vedada a


utilização do tributo com efeito de confisco, ou seja, ao Estado é imposto um
impedimento, para que diante do argumento de cobrar tributo, não se aposse
indevidamente de bens dos contribuintes. A Constituição da República de 1988, ao
organizar as bases da ordem tributária, instituiu as limitações ao poder de tributar,
que se comparam aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Entre as
referidas limitações aflora o princípio da vedação ao tributo com efeito de confisco. 6

O princípio da não cumulatividade busca evitar a cobrança em cascata de tributos


sobre uma mesma operação ou atividade econômica. Ele permite que o contribuinte possa
deduzir o valor dos tributos já pagos nas etapas anteriores da cadeia produtiva, evitando a
oneração excessiva e promovendo a neutralidade fiscal.

A não cumulatividade é um princípio basilar do sistema tributário moderno, que


busca evitar a incidência em cascata de tributos sobre uma mesma operação,
permitindo que o contribuinte possa compensar o valor dos tributos pagos nas etapas
anteriores da cadeia produtiva, assegurando a neutralidade fiscal e promovendo a
competitividade das empresas.7

O princípio da anterioridade determina que qualquer aumento ou criação de tributo só


pode ser aplicado no exercício financeiro seguinte ao da sua instituição ou majoração. Esse
princípio visa a proporcionar aos contribuintes um período de tempo para se planejarem
diante de mudanças tributárias, garantindo a segurança jurídica e evitando surpresas fiscais.

O princípio da anterioridade no Direito Tributário estabelece que qualquer aumento


ou criação de tributo só pode ser aplicado no exercício financeiro seguinte ao da sua
instituição ou majoração. Esse princípio visa proporcionar aos contribuintes um
tempo mínimo para se adaptarem às mudanças tributárias, preservando a segurança
jurídica e evitando surpresas fiscais.8

1.2. IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NO PLANEJAMENTO


TRIBUTÁRIO LÍCITO

O planejamento tributário é uma prática legítima que visa à redução da carga tributária
de forma lícita, respeitando os limites e as diretrizes estabelecidos pela legislação e pelos
princípios constitucionais. A compreensão dos princípios constitucionais é essencial para
6
SABBAG, Eduardo, 2012, p. 234
7
MACHADO, Hugo de Brito. 2004, p. 56
8
CARRAZA, Roque Antônio, 2015, p. 99
7
8

orientar a tomada de decisões no planejamento tributário, evitando práticas abusivas,


fraudulentas ou ilegais. Os princípios da legalidade, da capacidade contributiva e da não
cumulatividade, por exemplo, podem direcionar a escolha de estratégias de redução de
tributos em conformidade com a lei e com os valores fundamentais do sistema tributário.

O planejamento tributário lícito requer uma análise cuidadosa dos princípios


constitucionais do Direito Tributário. Esses princípios funcionam como balizas que
delimitam os limites e as possibilidades do planejamento, garantindo que as
estratégias adotadas estejam em conformidade com a lei e que não configurem
abusos ou fraudes fiscais. 9

2. ANALISE DA DIFERENÇA ENTRE OS CONCEITOS DE ELISÃO E EVASÃO


FISCAL

Tanto a elisão fiscal quanto a evasão fiscal têm como fim a redução dos impostos, mas
a doutrina os diferencia e os consideram majoritariamente como sendo: elisão, a redução
lícita, e evasão, a redução ilícita. Tanto no direito pátrio como no internacional a linha
divisória entre um instituto e outro é muito tênue, o que dificulta sobremaneira a visão do
empresário sobre o que é lícito e o que não é, e a aplicação da lei por parte do fisco nas ações
de fiscalização.
A Elisão fiscal refere-se à redução lícita de impostos. É uma prática em que todos os
contribuintes utiizam estratégias legais para minimizar a carga tributária, aproveitando
brechas ou incentivos fiscais, previstos na legislação. A Elisão fiscal é considerada uma
prática legítima, uma vez que está dentro dos limites da lei.
Por outro lado, a evasão fiscal é a redução ilícita de impostos. Neste caso, os
contribuintes utilizam métodos ilegais ou fraudulentos para evitar o pagamento de tributos
devidos. A evasão fiscal envolve atividaddes como sonegação de impostos, falsificação de
documentos, omissão de informações relevantes ou qualquer outra conduita ilegal com o
propósito de evitar o pagamento de tributos.
Para o jurista Hugo de Brito Machado (Machado, 2004), elisão é a ação ilícita, pois
para ele só é possível elidir ou suprimir aquilo que já existe. Para esse grande mestre a elisão
suprime o fato gerador (fato imponível) e não os fatos que antecedem o fato gerador. No
mesmo viés evasão é a ação lícita, pois foge, evita, o fato gerador e logo não se torna devedor

9
AMARO, Luciano, 2006, p.234
8
9

da obrigação tributária.

2.1. O PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO LÍCITO

O planejamento tributário lícito é uma ferramenta importante para garantir que as


empresas paguem apenas os impostos necessários. A elisão fiscal é uma das principais
ferramentas do planejamento tributário lícito e pode ser decorrente de lei ou lacunas na
legislação. A reorganização societária também é uma ferramenta útil para reduzir a carga
tributária por meio da eliminação da dupla tributação ou da utilização das perdas fiscais
acumuladas. Para Tovar (2014):

O planejamento tributário constitui uma atividade em que se considera a


complexidade negocial, contábil-econômica e jurídica da empresa. Fica evidenciado
que um planejamento adequado deve ser dotado de multidisciplinaridade, até para
que se tenha uma real perspectiva da verdadeira essência econômica dos atos ou
negócios praticados e firmados. O que é também nítido é a estreita relação, em tema
de planejamento tributário, das ciências do direito, da contabilidade e da
administração. Esta é, com efeito, a orientação doutrinária, muito embora firmada
em meio ao amplo tema da gestão tributária e não especificamente ao planejamento
tributário. A interseção existente entre ramos científicos diversos tais como,
economia, contabilidade e direito, tem reflexos, notoriamente, no planejamento
tributário.10

A elisão fiscal se diferencia da evasão fiscal porque a primeira é um conjunto de atos


lícitos, praticados pelo contribuinte ou sujeito passivo da obrigação, no intuito de diminuir ou
excluir o encargo tributário, em regra, antes da ocorrência do fato gerador, isto é, antes do
nascimento da obrigação tributária. Já a evasão fiscal é uma prática ilícita ou artificiosa que
muitas vezes é considerada crime e passível de punição. Para Abraham (2007):

Assim, não se pode confundir o verdadeiro planejamento fiscal ou economia fiscal,


amplamente denominado de elisão fiscal lícita, de acordo com as normas expressas
na legislação, assim também de acordo com os valores da sociedade e do próprio
ordenamento jurídico, enquanto sistema axiológico, da hoje tão combatida elisão
fiscal ilícita, que na sua implementação, abusa-se das formas e dos meios, na
maioria das vezes manipulados e artificiais, para atingir seus fins, nem sempre
ortodoxos, acarretando diversas consequências maléficas à economia e ao
ordenamento jurídico, especialmente pela redução das receitas públicas e a
consequente ampliação do ônus tributário sobre os demais contribuintes, frustrando
os princípios da igualdade, da capacidade contributiva e do dever fundamental de
pagar tributos, violando os valores sociais, de solidariedade e do interesse público,
sem mencionar os aspectos concorrenciais negativos dali decorrentes (pela violação
à isonomia), expressando-se por um desequilíbrio competitivo, que naturalmente

10
TOVAR, Leonardo Zehuri, 2014, p. 259.
9
10

acaba por gerar um efetivo desestímulo aos novos investimentos (especialmente os


estrangeiros), a redução do número de empregos, a baixa utilização do parque
industrial e o elevado percentual da capacidade ociosa, redundando, ao fim, em uma
contração do mercado ou em uma consequente sonegação fiscal.11

3. FERRAMENTAS E ESTRATÉGIAS DE PLANJEMANENSTO TRIBUTÁRIO


LÍCITO QUE PODEM SEREM ADOTADAS PELOS CONTRIBUINTES, E OS
POSSÍVEIS RESULTADOS A SEREM ALCANÇADOS E A CONFORMIDADE COM
A LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA VIGENTE

Estudo de Caso 1: Uma montadora de veículos sediada no Brasil deseja aproveitar os


incentivos fiscais oferecidos pelo programa Rota 2030 para melhorar sua competitividade no
mercado e investir em inovação.
Estratégias Adotadas:
A empresa realiza um diagnóstico interno para garantir que seus veículos atendam a
todos os requisitos do programa, como eficiência energética, inovação tecnológica e padrões
ambientais.
A montadora reestrutura seus processos produtivos para se adequar às exigências do
Rota 2023, garantindo assim a redução das alíquotas do IPI em até 2% para os veículos que se
enquadram nos critérios do programa.
A empresa intensifica seus esforços em P,D&I para atender ás exigências do
programa, buscando não apenas cumprir as obrigações mínimas, mas também inovar em
tecnologias que beneficiem tanta o meio ambiente quanto os consumidores.
A montadora realiza uma reorganização societária para otimizar a estrutura de
tributação, eliminando a dupla tributação e aproveitando as perdas fiscais acumuladas,
garantindo assim uma redução adicional na carga tributária.
Como resultado da aplicação dessas estratégias, a montadora consegue beneficiar-se
das reduções de alíquotas do IPI, economizando significativamente nos impostos sobre a
produção de veículos que atendem aos padrões do Rota 2030 Além disso, ao investir em
P,D&I de forma mais robusta, a empresa não apenas atende às exigências do programa, mas
também aumenta sua capacidade de inovação e melhora a qualidade de seus produtos.

11
ABRAHAM, Marcus, 2007, p. 233.
10
11

Este caso prático ilustra como uma empresa na indústria automobilística pode aplicar
estratégias de planejamento fiscal lícito para aproveitar os incentivos fiscais oferecidos pelo
Programa Rota 2030, melhorando sua competitividade e contribuindo para o desenvolvimento
tecnológico e sustentável do setor.
Duas empresas brasileiras. A e B enfrentam prejuízos fiscais acumulados devido a
dificuldades econômicas no passado. Ambas as empresas decidem fundir-se para aproveitar
os prejuízos fiscais acumulados e reduzir sua carga tributária.

Estudo de caso 2: Fusão beneficiando-se de Prejuízos Fiscais Acumulados


Situação:
Duas empresas brasileiras, A e B, enfrentam prejuízos fiscais acumulados devido a
dificuldades econômicas no passado. Ambas as empresas decidem fundir-se para aproveitar
os prejuízos fiscais acumulados e reduzir sua carga tributária.
Fusão Legal e Ética:
As empresas A e B decidem fundir-se seguindo todos os procedimentos legais
estabelecidos pelas autoridades brasileiras. Elas asseguram que a fusão seja conduzida de
acordo com a legislação coma legislação tributária, respeitando todos os requisitos éticos e
legais.
Após a fusão, a empresa resultante (AB Fusão S.A.) tem o direito de utilizar os
prejuízos fiscais acumulados das empresas A e B para compensar lucros futuros. Isso reduzirá
substancialmente a carga tributária da AB Fusão S.A. nos anos subsequentes.
Após a fusão, a empresa resultante (AB Fusão S.A.) tem o direito de utilizar os
prejuízos fiscais acumulados das empresas A e B para compensar lucros futuros. Isso reduzirá
substancialmente a carga tributária da AB Fusão S.A. nos anos subsequentes.
Como resultado da fusão e do aproveitamento dos prejuízos fiscais acumulados, a AB
Fusão S.A. pode reduzir significativamente seus pagamentos de impostos sobre o lucro,
inovação e expansão, contribuindo para o crescimento econômico.
A fusão é realizada em conformidade com todas as leis e regulamentação fiscais
brasileiras. Todos os benefícios fiscais são obtidos de acordo com a disposições legais
vigentes. A empresa adere estritamente aos princípios éticos e legais, garantindo que seu
planejamento fiscal seja licito e transparente.
Este exemplo prático demonstra como duas empresas podem realizar uma fusão de
forma legal e ética, aproveitando os prejuízos fiscais acumulados para reduzir sua carga
11
12

tributária. É fundamental observar que, em qualquer situação de planejamento fiscal, a


legalidade e a ética devem sempre ser priorizadas para evitar problemas legais futuros.

CONCLUSÃO

Ao longo deste artigo, buscou-se analisar a complexidade do Sistema Tributário


Nacional, assim como os conceitos, elementos e critérios que envolvem o planejamento
tributário e as questões de legalidade e ilegalidade relacionadas à elisão e evasão fiscal.
Foi possível constatar que a complexidade do Sistema Tributário Nacional decorre da
diversidade de normas presentes no ordenamento jurídico nacional. Todas as leis estão
subordinadas à Constituição Federal, estabelecendo uma hierarquia em forma de pirâmide, na
qual as leis inferiores devem estar em conformidade com as leis superiores, e todas devem
seguir o que determina a Carta Magna.
O critério hierárquico do ordenamento jurídico nacional não é totalmente negativo.
Pelo contrário, por meio desse critério, é possível resolver eventuais conflitos que possam
surgir. Caso uma lei vá de encontro a outra, prevalecerá aquela que possui superioridade
hierárquica.
Também se verifica a necessidade de o direito tributário se adaptar às demandas da
sociedade moderna, que é cada vez mais globalizada. Essas adaptações são necessárias para
garantir políticas sociais mais justas, visando atender aos interesses coletivos e,
consequentemente, proteger os interesses individuais.
Observa-se que o planejamento tributário é uma forma legal para os contribuintes
alcançarem economia fiscal desejada, desde que sigam os critérios e elementos estabelecidos
na legislação. Existe uma linha tênue entre a legalidade do planejamento tributário e sua
ilegalidade.
Os critérios orientadores para essa distinção são a temporalidade dos atos e sua
licitude. Na maioria dos casos, os atos realizados antes do surgimento do fato gerador do
tributo, com o objetivo de redução ou isenção, são considerados legítimos. Por outro lado, os
atos realizados após o surgimento do fato gerador, com a mesma finalidade de isenção ou
redução, são considerados ilegítimos.
A elisão fiscal pode ser definida como uma ação preventiva, sempre baseada em
processos legítimos, que visa evitar, reduzir ou adiar a ocorrência do fato gerador. É um
12
13

instituto juridicamente válido, não havendo dúvidas quanto à sua legalidade. Por ser um
procedimento complexo, o planejamento tributário exige mais tempo por parte do
contribuinte. Como requer o envolvimento de todas as áreas da empresa, o planejamento
tributário se torna um processo extremamente criterioso, no qual todos os envolvidos devem
se dedicar ao máximo para alcançar o resultado desejado pelo contribuinte.
Por outro lado, a evasão fiscal é caracterizada como fraude à lei, sonegação de
impostos e evasão de divisas, uma vez que seus atos ocorrem após a ocorrência do fato
gerador e têm sempre a intenção de agir ilegitimamente. É um instituto juridicamente
ilegítimo, pois seus atos são caracterizados pela ilicitude.
É evidente que, devido à sua simplicidade e, por vezes, ao desconhecimento, a evasão
fiscal é um ato praticado com certa frequência pelos contribuintes. No entanto, a maioria dos
contribuintes que praticam a evasão de impostos está ciente do que estão fazendo, sabem que
o ato é ilegal e mesmo assim continuam a praticá-lo, simplesmente porque estão obtendo
economia fiscal.

REFERÊNCIAS

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