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ILEGALIDADE NA COBRANCA DE TAXAS DE ÁGUA E ESGOTO – NÚMERO

DE ECONOMIAS, MÉDIA, LIMITE MÍNIMO E OUTRAS

Ricardo Furtado
Consultor Jurídico, Educacional, Tributário
Especialista em Ciências Jurídicas

Para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), é ilegal a cobrança de tarifa mínima


de água, multiplicada pelo número de economias existentes no imóvel, quando
houver um único hidrômetro no local.

Muitos têm sido os desafios do Poder Público com o crescimento dos grandes
centros populacionais. Um desses desafios envolve o desenvolvimento de
infraestrutura e medidas sanitárias, visando à saúde da população.

Os entes da federação brasileira têm como regra ou praxe realizarem


concessões a empresas para o gerenciamento e a exploração do serviço
público de fornecimento de água e coleta de esgoto.

Essas atividades desempenhadas pelas empresas concessionárias no


fornecimento de água e coleta de esgoto devem servir ao atendimento de
unidades residenciais, comerciais e industriais e, para a efetiva prestação
desses serviços, as concessionárias devem se autofinanciar e, dessa forma,
são autorizadas a cobrança desses serviços na forma da lei.

Ocorre que tem sido comum às concessionárias estipularem cobranças com


vários codinomes, tais como: CONSUMO MÍNIMO, MEDIDO, MÉDIA, MÉDIA
APURADA, PROJETADO E LIMITE INFERIOR que é multiplicado por
economias. Essa forma de realizar cobranças traz insegurança as relações
com os consumidores, em especial, com as escolas. Isso para não dizer
imprecisões no consumo.

Assim, várias empresas-escolas têm sofrido com as contas d´água nas alturas,
o que reflete na conta do esgoto, pois está se dá na ordem de 100%, ou seja, a
cobrança a maior realizada na conta de água, acaba refletindo na conta de
esgoto, que acaba também sendo cobrada a maior.

Diante dessa constatação, é necessário que o gestor escolar passe a observar


suas contas de água e esgoto. Pois, se sua escola tiver hidrômetro instalado, a
cobrança do fornecimento de água deverá ser pelo consumo real, que na
prática, refletirá numa cobrança menor do esgoto.

Não podemos esquecer que a relação entre a concessionária e a escola que


utiliza os serviços é uma relação de consumo, conforme preceitos insculpidos
nos arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor. Assim, a cobrança de
taxa de fornecimento de água e de coleta de esgoto, seja por estimativa, por
média, por economias ou outras qualquer é ilegal e abusiva, impondo ao
consumidor desvantagem exagerada, nos termos do art. 51, IV, do CDC 2, bem
como possibilitando vantagem excessiva à concessionária (art. 39, V, do
CDC 3), importando em verdadeiro enriquecimento ilícito.

Os demais Tribunais Regionais, segundo determinação do STJ, têm se


manifestado pela ilegalidade da tarifa de água/esgoto apurada com base em
codinomes, ou seja, se sua instituição possui hidrômetro instalado, a cobrança
deve se dar pelo consumo real e, não por médias ou estimativas

Para não ser mais extenso, podemos concluir que a ilegalidade da


cobrança das taxas de água e esgoto, para aqueles que tem hidrômetro
instalado, deve ser dar pelo consumo real. Se as cobranças das contas de
água e esgoto de sua escola são realizadas com base em algum daqueles
codinomes, está em desacordo com o ordenamento jurídico e, diante da sua
constatação, é direito de sua escola, consumidora, buscar meios de ser
ressarcido dos prejuízos sofridos pela prestação de serviço defeituoso por
parte da concessionária, podendo repetir os valores pagos a maior pelo
período de 10 anos.

_________

1 Art. 2°, lei 8.078/90. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire
ou utiliza produto ou serviço como destinatário final; Art. 3°, lei 8.078/90.
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços. 

2 Art. 51, lei 8.078/90. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV -
estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou a equidade. 

3 Art. 39, lei 8.098/90. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: (...) V - exigir do consumidor vantagem
manifestamente excessiva; 

4 Decisão STJ Resp. 1166561 - Cobrança Indevida

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