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PARECER
I. RELATÓRIO
Trata-se de processo administrativo instaurado, nos termos da Lei nº 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor), bem como do art. 33 e seguintes do Decreto Federal nº
2.181/97, pelo Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON), órgão integrante do
Ministério Público do Estado do Piauí, visando apurar indício de perpetração infrativa às
relações de consumo por parte do fornecedor ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO DO PIAUÍ.
O Consumidor, no dia 16/01/14, principiou reclamação, por intermédio da ficha
de atendimento supra (fls. 03), alegando, por intermédio de sua procuradora, que, no dia
19/04/13, ocorreu uma queda de energia na área onde reside, ocasionando a queima de quatro
aparelhos elétricos, sendo que somente dois deles foram recuperados. Citou que a Televisão e o
Vídeo Game não foram reparados. Assinalou que entrou com recurso junto à ELETROBRÁS e
à ANEEL, a fim de solicitar a indenização, todavia, apesar de seguir todos os trâmites legais,
não obteve êxito. Posto isso, com amparo no Código de Defesa do Consumidor, requereu o
ressarcimento dos valores dos citados itens, conforme documentos juntados aos autos.
Juntada de documentos pelo autor (fls. 04/13).
Na audiência conciliatória ocorrida no dia 05/02/14 (fls. 14/15), o autor
ratificou os termos da inicial. Por sua vez, o reclamado averbou que o pleito de ressarcimento
por danos elétricos fora indeferido, por inexistir na data da ocorrência (dia 06/09/13 das 19:00
horas às 19:30 horas) pertubação de energia. Em réplica, o autor assim se manifestou:
Discordou do posicionamento da empresa, porquanto a oscilação de
energia ocorreu no dia 20/04/13 às 01:00 horas da madrugada, de
modo que na semana posterior se dirigiu ao posto de atendimento,
todavia o funcionário não formalização a reclamação, sob a alegação
da existência de débito. Assinalou que, em meados de maio de 2013,
após regularização o débito, novamente se dirigiu à empresa, sendo
que o empregado apenas lhe orientou a buscar os orçamentos.
Ademais, mencionou que, em razão da demora na emissão dos
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orçamentos, procurou a empresa, de sorte que neste ato que houve a
formalização da reclamação. Solicitou a efetivação do ressarcimento
dos valores dos produtos, porquanto os laudos são unânimes em
mencionar que o problema fora ocasionado por descarga de energia.
A seu turno, o PROCON/MP-PI requisitou da ELETROBRÁS informações
acerca de eventual oscilação de energia no dia 20/04/13 às 01 horas da madrugada, bem como,
em todo caso, a apresentação de documento técnico pericial comprobatória de sua arguição.
Remarcou-se novo encontro para o dia 13/02/14. Nesta audiência, conforme fls.
16/17, o representante da empresa reiterou não possuir proposta de acordo.
Constatou-se, inclusive, pelo Ilustre Conciliador que o demandado não
comprovou a inexistência de registro de “pane”, tampouco juntou o documento técnico pericial
solicitado na audiência anterior.
Diante da impossibilidade de composição amigável, o autor foi orientado a
buscar o Poder Judiciário. Sua arguição em face da ELETROBRÁS fora classificada como
Fundamentada Não Atendida. Determinou-se a instauração do Processo Administrativo nº
151/2014 (fls. 18).
Regularmente notificada, a concessionária apensou defesa intempestiva, a qual
será analisada em homenagem aos princípios do contraditório e ampla defesa. Em resguardo,
conforme fls. 19/27, limitou-se a sustentar que não houve oscilação de energia no local,
rompendo o nexo causal entre o dano e o ato ilícito. Requereu então o arquivamento do feito.
Empós, vieram os autos conclusos para análise.
II. DA FUNDAMENTAÇÃO
Antes de se adentrar nos fatos propriamente ditos, alguns pontos devem ser
esclarecidos quando o assunto é o respeito aos Direitos dos Consumidores. Pois então, passamos
à sua análise.
A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, estabelece normas de proteção e
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso
XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas disposições transitórias, sendo
um sistema autônomo dentro do quadro Constitucional, que incide em toda relação que puder
ser caracterizada como de consumo.
O Código de Defesa do Consumidor, como lei principiológica, pressupõe a
vulnerabilidade do consumidor, partindo da premissa de que ele, por ser a parte econômica,
jurídica e tecnicamente mais fraca nas relações de consumo, encontra-se normalmente em
posição de inferioridade perante o fornecedor, conforme se depreende da leitura de seu art. 4º,
inciso I, in verbis:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito
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à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado
de consumo. (grifos acrescidos)
Neste diapasão, sedimenta o Professor RIZZATTO NUNES:
O inciso I do art.4º reconhece: o consumidor é vulnerável.
Tal reconhecimento é uma primeira medida de realização da isonomia
garantida na Constituição Federal. Significa que o consumidor é a
parte mais fraca na relação jurídica de consumo. Essa fraqueza, essa
fragilidade, é real, concreta, e decorre de dois aspectos: um de ordem
técnica e outro de cunho econômico1.
A Insigne Professora CLÁUDIA LIMA MARQUES, por sua vez, ensina que
esta vulnerabilidade se perfaz em três tipos: técnica, jurídica e econômica.
Na vulnerabilidade técnica o comprador não possui conhecimentos
específicos sobre o objeto que está adquirindo e, portanto, é mais fa-
cilmente enganado quanto às características do bem ou quanto à sua
utilidade, o mesmo ocorrendo em matéria de serviços.”2 (grifado)
Outro, portanto, não é o entendimento da Jurisprudência pátria:
O ponto de partida do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabili-
dade do Consumidor, mecanismos que visa a garantir igualdade formal
material aos sujeitos da relação jurídica de consumo. (STJ – Resp.
586.316/MG) (grifei)
Inscritas estas breves considerações, insta passar para o caso em análise. Toda a
problemática do presente processo administrativo consiste em analisar a comprovação da
existência de oscilação de energia que ocasionou danos elétricos aos itens citados na inicial,
bem como a respectiva responsabilidade da concessionária de energia elétrica ELETROBRÁS
pela reparação pelos danos.
NUNES, Rizzatto. Curso de Direto do Consumidor. 4. Ed. Saraiva: São Paulo, 2009, p. 129.
2
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. Revista dos Tribunais. 3.
ed, p. 148/149.
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§ 4º A distribuidora, em nenhuma hipótese, pode negar-se a receber
pedido de ressarcimento de dano elétrico efetuado por titular, ou
representante legal, de unidade consumidora citada no art. 203.
Vale dizer, a concessionária aparentemente impõe, para abertura do processo,
condições não previstas no art. 204 da indigitada Resolução, de forma a dificultar o exercício
dos direitos dos clientes.
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do nexo causal, igualmente não se olvida que esta prova deve se dar através de documentos
robustos, embasados em análise técnicas e pericias da inexistência da oscilação de energia.
In casu, o demandado não cumpriu o ônus que lhe incumbe, de sorte que
desrespeito a determinação do PROCON-PI de apresentar “documento técnico pericial de
sua arguição”.
Aplica-se, mesmo que por analogia, o constante no art. 333, inciso II, do
Código de Processo Civil, cujo teor segue abaixo:
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
PROGRAMA DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR
Rua Álvaro Mendes, 2294 - Centro - CEP nº 64000-060 – Teresina – PI
DECISÃO