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AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE COMARCA DE SÃO MIGUEL

DO GUAPORÉ – RO.

AURI JOSÉ LISE, brasileiro, casado, agricultor, portador da RG. nº


1564501, inscrito no CPF 704.911.199-68, residente e domiciliado na linha 08, S/N,
ZONA RUAL, CEP 76.934-000, Seringueiras/RO, por intermédio de seu procurador
signatário Amarildo Gomes Ferreira, OAB/RO nº, vem propor:

AÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C PEDIDO REPARAÇÃO POR DANO


MORAL

Em desfavor da empresa ENERGISA RONDÔNIA -


DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A., CNPJ n. 05.914.650/0001-66, por meio de
seu representante legal, com endereço na av: Imigrantes, nº 4137, bairro: industrial,
com sede no município de Porto Velho-RO, CEP: 76.821-06, pelas razões adiante
delineadas

1 - DOS FATOS

O Requerente reside com sua família no imóvel que tem a Unidade


Consumidora - UC n. 20/416372-1, localizada no endereço mencionado, onde faz
uso do serviço prestado pela empresa requerida ante o caráter essencial e a
natureza privativa da prestação de serviços.

No mês de abril de 2023, o autor foi surpreendido com a notificação,


via carta ao cliente, de um valor exorbitante de recuperação de energia, havendo
alegação da parte requerida de que fora realizada inspeção na unidade consumidora

AMARILDO GOMES FERREIRA OAB/RO Nº 4204 - ELIS KARINE BOROVIEC FERREIRA


OAB/RO Nº 8866
Rua Dom Bosco, 2230, Centro, São Miguel do Guaporé/RO, Celular: (69)99975-2286; (69)-8409-4044 E-mail:
amarildo_first@hotmail.com
e contatada irregularidade que provocou faturamento inferior ao consumo
efetivamente realizado.

Além da carta ao cliente, recebeu duas faturas referentes aos


valores devidos de recuperação de consumo, uma no valor de R$2.420,10 (dois
quatrocentos e vinte reais e dez centavos) e a outra no valor de R$15.516,14
(quinze mil quinhentos e dezesseis reais e quatorze centavos), perfazendo uma
suposta dívida no montante de R$ 17.936,24 (dezessete mil novecentos e trinta e
seis reais e vinte e quatro centavos).

Ciente de que a cobrança da dívida é indevida, assim o Requerente


não efetuou o pagamento, pela visível ilegalidade no procedimento de inspeção e
recuperação de consumo feito pela Energisa de forma Unilateral, por discordar da
forma de cobrança não podendo ser lesado pela negligência da Empresa Requerida.

Vale ressaltar, que mesmo não concordando com a inspeção


realizada e o valor da suposta recuperação de energia, o Requerente continuou a
pagar suas faturas mensais de energia dentro do prazo de vencimento, conforme já
anunciado.

2 - DO DIREITO

2.1 - Da ilegalidade da recuperação de consumo

De acordo com o que foi informação na exposição dos fatos, o


Requerente foi surpreendido com a cobrança de um débito oriundo de uma inspeção
em sua unidade consumidora, sendo informado somente após receber a fatura de
que o medidor teria sido encaminhado para perícia, pois estava calculando o
consumo de forma errada, ou seja, em valor menor.

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Assim, a Empresa Requerida constatou que havia suposta alteração
na forma como o medidor registrava o consumo mensal da Requerente, ao passo
que fizeram a recuperação devido a essa suposta alteração, que pelo de termo de
ocorrência supostamente o medidor estava medindo de forma irregular.

Conforme dispõe a legislação pátria a concessionária de serviço


público da qual pertencente à relação de consumo deve prestar seus serviços com
máxima excelência na forma como preconiza a legislação consumerista.

A informação que se tem conhecimento é de que o medidor –


equipamento fornecido pela própria Requerida – apresentou alteração da qual
originou o débito, isto é, não há qualquer contribuição do Requerente para o evento,
não há qualquer evidência de fraude cometida pela Requerente.

A única prova da origem do débito é a produzida pela Empresa


Requerida de forma unilateral, de modo que o consumidor Requerente nada
contribuiu para o resultado da suposta falha no medidor.

Portanto, considerando que o consumidor não cometeu fraude; não


há violação nos lacres do medidor; não há qualquer notícia crime de furto de
energia; e não há qualquer discrepância nas instalações elétricas, o consumidor não
pode ser responsabilizado por um serviço prestado pela própria Requerida.

O que se percebe é a clara intenção da Empresa Requerida em se


beneficiar de um ato negligente seu, já que se o medidor supostamente apresentou
falha, não é ônus de o consumidor constatar e controlar o consumo, ele só usa.

No caso em comento, a Política Nacional de Consumo objetiva


harmonizar a relação consumidor/fornecedor, sendo que a vulnerabilidade do
primeiro é o princípio a nortear a relação contratual, diante de sua notória

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hipossuficiência. Daí a ensejar a intervenção Estatal, através do Poder Judiciário,
com o fito de proteger a parte mais fraca e garantir os direitos básicos do
consumidor.

Neste sentido, artigo 4º do CDC dispõe que:

Art. 4º A política nacional de relações de consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de
vida, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios: omissos; III -
harmonização dos interesses dos participantes da relação de
consumo, e compatibilização da proteção do consumidor com a
necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de
modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com
base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidor e
fornecedores.

O Código de Defesa do Consumidor, visando uma maior proteção à


parte hipossuficiente da relação de consumo, estabelece regras a serem obedecidas
pelos fornecedores ou prestadores de serviços, sendo proibidos de praticar
quaisquer atos e práticas abusivas, nesse sentido dispõe o art. 39 do CDC:

Explicita-se, a maneira arbitrária utilizada pela Reclamada na


composição de seus conflitos, onde utiliza e se favorece tanto
da fragilidade e vulnerabilidade do consumidor, bem como da
essencialidade do serviço prestado, não respeitando as
garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório,
onerando excessivamente o consumidor com o fim único de
locupletar-se a custa alheia em detrimento de seus "obrigados"
clientes, tendo em vista ser a única fornecedora de energia.

De igual forma, a concessionaria não adotou os procedimentos


legais para realização da vistoria técnica na Unidade Consumidora da parte
Requerente, considerando o que dispõe a Lei Estadual 4.986/2021, em seu artigo 2º,
ensejando a nulidade da vistoria, pois forma é garantia, e a empresa Requerida não
seguiu, veja:

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“Art. 2° As empresas concessionárias de serviços públicos
fornecedoras de energia elétrica e água, no Estado de
Rondônia, quando da realização de vistoria técnica no medidor
do usuário residencial, deverão expedir notificação pessoal
acompanhada de Aviso de Recebimento-AR a ser enviado para
o endereço do consumidor, comunicando o dia e hora da
vistoria, salvo diante da existência de registro de Boletim de
Ocorrência-BO, relativo ao crime de furto de energia e/ou água,
em unidade policial competente.”

Parágrafo único. Acrescenta-se § 1° e § 2° ao artigo 2° da Lei


n° 2.426, de 2011, com as seguintes redações:

“§ 1° A vistoria técnica deverá ser marcada em prazo superior a


48 (quarenta e oito) horas da entrega do Aviso de
Recebimento-AR pelo usuário.”

Fica claro que a constatação feita pelos agentes da Requerida, não


pode ser considerada como uma verdade absoluta, uma vez que foi realizada de
forma unilateral.

A Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia já


possui entendimento sedimentado acerca do tema, veja:

É indevida a cobrança retroativa de diferença de consumo de energia


elétrica em razão de irregularidade apontada exclusivamente pela
inspeção realizada pela própria concessionária Requerida.
RECURSO INOMINADO CÍVEL, Processo nº 7053366-
08.2021.822.0001, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Turma
Recursal, Relator(a) do Acórdão: Juiz Arlen Jose Silva de Souza,
Data de julgamento: 09/09/2022.

É indevida a cobrança retroativa de diferença de consumo de energia


elétrica em razão de irregularidade apontada exclusivamente pela
inspeção realizada pela própria concessionária Requerida.
RECURSO INOMINADO CÍVEL, Processo nº 7053366-
08.2021.822.0001, Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, Turma
Recursal, Relator(a) do Acórdão: Juiz Arlen Jose Silva de Souza,
Data de julgamento: 09/09/2022.

Percebe-se que o caso que se trata é claramente ilegítimo ante a


instrumentalidade utilizada para constatar um débito, se beneficiando a Empresa
Requerida de sua própria falha ao tentar cobrar um débito manifestamente sem
legalidade, devendo, portanto, a dívida ser declarada inexistente.

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4 - DO DANO MORAL

Em virtude de ter sido imposta cobrança indevida, a requer a tutela


jurisdiciona, com o fito de ser compensada pelo desconforto moral, bem como de
coibir a Requerida de continuar com tais atitudes.

Insta salientar o consequente desconforto e situação vexatória vivida


pelo Requerente ante a injusta cobrança, e ameaça de suspenção do fornecimento
da energia elétrica, circunstâncias as quais tornam a indevida cobrança muito mais
complicada.

Cumpre destacar que é devida a indenização, quando a fatura de


energia que originou o débito era indevida. Ademais, como corolário do princípio
constitucional da Dignidade Humana, é proibida toda e qualquer prática vexatória ao
cidadão, sujeitando-se os violadores de direitos individuais (direito à honra) à
reparação do dano.

E todo esse transtorno se deve a cobrança indevida e abusiva, a


qual é veementemente rechaçada pelo artigo 14 do CDC.

A obrigatoriedade de reparar o dano moral está consagrada na


Constituição Federal, precisamente em seu art. 5º, onde a todo cidadão é
"assegurado o direito de resposta, proporcionalmente ao agravo, além de
indenização por dano material, moral ou à imagem" (inc. V) e também pelo seu inc.
X, em que o texto assegura que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação."

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E essa reparação, conforme se lê no art. 948, do Código Civil,
consistiria na fixação de um valor que fosse capaz de desencorajar o ofensor ao
cometimento de novos atentados contra o patrimônio moral das pessoas.

Da mesma forma, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90)


também prevê o dever de reparação, posto que ao enunciar os direitos do
consumidor, em seu art. 6º, traz, dentre outros, o direito de "a efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos" (inc. VI) e
"o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados" (inc. VII).

Vê-se, desde logo, que a própria lei já prevê a possibilidade de


reparação de danos morais decorrentes do sofrimento, do constrangimento, da
situação vexatória e do desconforto em que se encontra o Requerente.

A indenização pretendida pela Requerente tem cunho satisfatório em


vista dos prejuízos sofridos, bem como, punitivos, com o fito de coibir a Requerida
de agir com a mesma conduta frente a outros consumidores.

Portanto, não resta dúvida quanto ao direito dos Requerentes de


buscar a condenação da Requerida pelos danos morais provados pela Requerida,
pelo ato ilegal praticado e ter tirado a normalidade da sua vida cotidiana e causado
prejuízos ao Requerente.

5 - DOS PEDIDOS

Mediante as razões acima expostas, em consonância com as


diretrizes constitucionais, REQUER:

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a) O recebimento da presente demanda, e a citação da Requerida,
caso queira, apresente contestação no prazo legal;

b) Seja invertido o ônus da prova, tendo em vista a verossimilhança


das alegações apresentadas e a hipossuficiência do consumidor, nos termos do art.
6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor;

c) Que seja a Requerida condenada a pagar ao Requerente uma


indenização por Danos Morais, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais); e

d) Seja ao final julgado totalmente PROCEDENTE os pedidos,


confirmando a Tutela de Urgência quando ao restabelecimento do fornecimento de
energia na UC 20/253457-6 residência do Requerente e ainda:

d.1 – Declarar a Inexistência do débito de R$ 17.936,24 (dezessete


mil novecentos e trinta e seis reais e vinte e quatro centavos), gerado pela
fatura indevida de suposta recuperação de consumo da UC 20/416372-1, por
ausência de contraditório e ampla defesa, bem como não oportunizar à consumidora
analisar a eventual irregularidade, em razão da contradição relatada na
argumentação acima, a ferir o direito fundamental da ampla produção de provas
(devido processo legal) e o reconhecimento da vulnerabilidade da consumidora;

e) Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente, prova pericial, depoimento pessoal do representante legal da
reclamada e inquirição testemunhal, cujo rol será aportado em oportuno, além de
todas as formas a demonstrar a veracidade do alegado.

Dá-se a causa o valor de R$ 27.936,24 (vinte e sete mil


novecentos e trinta e seis reais e vinte e quatro centavos).

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Termos em que,
Pede o deferimento

São Miguel do Guaporé-RO, 12 de janeiro de 2024.

AMARILDO GOMES FERREIRA


Advogado
OAB/RO nº 4204

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Advogada
OAB/RO nº 8866

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