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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE SÃO JOÃO DE MERITI - RJ

TIAGO THOMAZ DO AMARAL, brasileiro, solteiro, auxiliar administrativo, portador da


identidade sob o n° 24.867.735-3, inscrito no CPF sob n° 133.157.567-24, residente e
domiciliado na Rua Doutor Gil Mota, 386, AP 102, Vila Rosali, São João de Meriti, RJ,
CEP 25510-201, vem por meio desde juízo propor a presente:

AÇÃO DE COBRANÇA INDEVIDA C/C REPETIÇÃO INDÉBITO

em face de LIGTH – SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A, CNPJ n° 60.444.437/0001-46


situada na Av. Marechal Floriano, nº 168, Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP. n° 20080-002,
pelos fatos e fundamentos a seguir:
.
I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Afirma a parte autora sob as penas da Lei 1.060/50, ser pessoa juridicamente pobre, não
possuindo condições de arcar com às custas processais e honorários advocatícios, sem
prejuízo próprio e de sua família e, portanto, solicita os benefícios da GRATUIDADE DE
JUSTIÇA.

II – DOS FATOS
A parte Autora possui um contrato com a Empresa ré e sempre honrou com seus
compromissos.
Após uma interrupção no fornecimento da sua energia elétrica, o autor, buscando entender o
motivo, entrou em contato com a parte Ré para sanar o problema. No entanto, foi lhe passado
a informação de que estava em débito com a mesma na conta de setembro no valor de R$
74,40 (setenta e quatro reais e quarenta centavos), que o Autor alega realmente não ter pago
em data correta e surpreendido com o valor da conta de outubro no valor de R$ 185,25 (cento
e oitenta e cinco reais e vinte e cinco centavos).
A Ré informou que só poderia voltar a fornecer o serviço mediante o pagamento das duas
contas em aberto, não restando alternativas ao Autor, se não arcar com as inadimplências,
tendo em vista que o corte do fornecimento de energia só é feito por falta de pagamento de
três faturas vencidas.
Ocorre que no mês de outubro a sua conta de luz veio no valor exorbitante de R$ 185,25
(cento e oitenta e cinco reais e vinte e cinco centavos) e a parte autora ao se deparar com esse
valor, entrou em contato com a ré para solicitar uma contestação da fatura, tendo em vista que
seu consumo não passava de R$ 80,00 (oitenta reais). (protocolo: 2333264639 no dia 09/10).
Em resposta a contestação, a empresa Ré informou que não encontrou nenhuma anormalidade
na fatura do Autor e relatou que no dia 09/08, um técnico visitou a residência do mesmo,
sanando uma irregularidade e trocando o medidor do Autor, tendo em vista que nenhum
desses fatos foi comunicado. A empresa Ré trocou o medidor do Autor sem sua prévia
autorização. (protocolo: 2334859149 no dia 17/09)
Ressalta-se também que a parte Autora precisou entrar em contato com a empresa Ré para
consultar a resposta da contestação, pois foi informado que após a análise a Ré entraria em
contato para o retorno e não o fez, tendo que o Autor entrar em contato.
Sem a resolução do problema, a parte Autora também abriu uma contestação na Ouvidoria.
(protocolo: 2334869343 no dia 17/09).
Em que pese a contestação da fatura do mês anterior, a do mês seguinte, novembro, também
veio com o valor acima do normal, R$ 175,03 (cento e setenta e cinco reais e três centavos).
Diante do exposto acima a parte autora se viu desamparada e resolveu recorrer ao judiciário
para resolver essa questão.

III – DO DIREITO
A proteção do Requerente/Consumidor foi agasalhada pela Constituição Federal,
consubstanciada no inciso XXXII do artigo 5o, in verbis: "O Estado promoverá, na forma da
lei, a defesa do consumidor."
Não se pode olvidar que as instituições fornecedoras de serviço de energia elétrica também
figuram no rol dos prestadores de serviços do Código de Defesa do Consumidor, e, assim
sendo, indiscutível é a responsabilidade solidária das mesmas, independentemente da
apuração de culpa, consoante os artigos 14 e 34 da Lei 8078/90, in verbis:
"Art. 14 – O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."
(Grifamos)
"Art. 34 – O fornecedor do produto ou do serviço é solidariamente responsável pelos atos de
seus prepostos ou representantes autônomos” (Grifamos)
Reprise-se, a Requerida lançou sucessivos aumentos de consumo na conta de energia elétrica
da Requerente, sem nenhuma justificativa, haja vista que a demanda da Requerente só
aumenta em alguns dias dos meses de janeiro, fevereiro e março – ocasião em que ocorre o
verão.
Assim sendo, o Suplicado, não vem operando em conformidade com os princípios que regem
as relações de consumo, especificamente o da boa-fé e o da transparência, ambos inseridos no
art. 4o do Código de Defesa do Consumidor, onde estão expressos:

Art. 4° A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I – Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e


compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores; (Negrejamos).
Quanto às práticas abusivas, o Código de Defesa do Consumidor veda-as no artigo 39. No
caso em comento, a Suplicada violou especificamente o inciso V, que considera prática
abusiva exigir do consumidor "vantagem manifestamente excessiva", vale dizer, a prática que
esteja em desacordo com as finalidades fixadas na norma do Art. 4o., pois não tomou as
medidas cabíveis para aferição e constatação de erros, principalmente no tocante a
IRREGULARIDADE que ocorreu na residência da Autora, como determina a Resolução
sobredita.
Assim, caracteriza-se a "vantagem manifestamente excessiva" como a que é obtida por má fé,
por malícia, por subterfúgios, embotamento da verdade, a fim de gerar enriquecimento ilícito
para o fornecedor.
Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
V – Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
Não podemos negar que a energia elétrica revela-se hoje num dos bens mais preciosos da
humanidade.
Trata-se de um serviço essencial a ser prestado obrigatoriamente pelo Estado, que, no caso em
tela, através de concessão, repassou a responsabilidade pelo fornecimento à Ré, porém, não se
desobrigou de zelar pela prestação do serviço.
Portanto, mais um motivo para que a Ré esteja limitada em seus atos, devendo observar da
mesma forma os ditames básico do Direito Administrativo.
E, em agindo arbitrariamente, como descrito no caso em tela, infringiu o princípio da
legalidade, além de desrespeitar o disposto no Código de Defesa do Consumidor.
Menciona tal diploma legal, em seus artigos 22 e 42 que:
“Art. 22 – Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas
neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados,
na forma prevista neste código."
“Art. 42 – Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo,
nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária
e juros legais, salvo hipótese de engano justificável."
Analisando referidos dispositivos de forma combinada, temos que os Órgãos Públicos, por si
ou suas empresas concessionários, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes,
seguros e quantos aos essenciais, contínuos, e ainda, com relação a cobrança de débitos, o
consumidor não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
Exatamente o caso dos autos, eis que, uma vez constatada a irregularidade por parte da Ré, os
meios legais para solucionar o litígio a Ré possuía.
Porém preferiu, simplesmente, através de seu poder, ameaçando cortar o fornecimento do
serviço, atribuindo pena aos consumidores, submetendo-os a enormes constrangimentos, sem
sequer bater às portas do Poder Judiciário.
Sabemos que em nosso ordenamento jurídico não é permitido exercer a justiça privada por
conta própria, assim, o ato de ameaça de corte da energia elétrica revela-se arbitrário e merece
sanção do Poder Judiciário, assegurando ao Suplicante a regular prestação do serviço. Tese
que, inclusive, é amparada pela remansosa jurisprudência pátria, encontrando-se pacificada no
Superior Tribunal de Justiça, nos termos do aresto abaixo citado:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ENERGIA ELÉTRICA.
AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE TARIFA. CORTE. IMPOSSIBILIDADE.
É condenável o ato praticado pelo usuário que desvia energia elétrica, sujeitando-se até a
responder penalmente.
Essa violação, contudo, não resulta em reconhecer como legítimo ato administrativo praticado
pela empresa concessionária fornecedora de energia e consistente na interrupção do
fornecimento da mesma.
A energia é, na atualidade, um bem essencial à população, constituindo-se serviço público
indispensável subordinado ao princípio da continuidade de sua prestação, pelo que se torna
impossível a sua interrupção.
Os arts. 22 e 42, do Código de Defesa do Consumidor, aplicam-se às empresas
concessionárias de serviço público.
O corte de energia, como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou multa,
extrapola os limites da legalidade.
Não há de se prestigiar atuação da Justiça privada no Brasil, especialmente, quando exercida
por credor econômica e financeiramente mais forte, em largas proporções, do que o devedor.
Afronta, se assim fosse admitido, aos princípios constitucionais da inocência presumida e da
ampla defesa.
O direito do cidadão de se utilizar dos serviços públicos essenciais para a sua vida em
sociedade deve ser interpretado com vistas a beneficiar a quem deles se utiliza.

Recurso improvido.
Decisão:Por unanimidade, negar provimento ao recurso.(RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA nº 8915/MA, PRIMEIRA TURMA do STJ, Rel. JOSÉ
DELGADO. j. 12.05.1998, Publ. DJU 17.08.1998 p. 00023).

V – DOS DANOS MATERIAIS E MORAIS


O direito à indenização por danos materiais e morais encontra-se expressamente consagrado
em nossa Carta Magna, como se vê pela leitura de seu artigo 5º, incisos V e X, os quais
transcrevo: "É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou àimagem" (artigo 5º, inciso V, CF).
"São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral, decorrente de sua violação" (artigo 5º,
inciso X, CF).
É correto que, antes mesmo do direito à indenização material e moral ter sido erigido à
categoria de garantia constitucional, já era previsto em nossa legislação infraconstitucional,
bem como, reconhecido pela Justiça.
O comando constitucional do art. 5º, V e X, também é claro quanto ao direito da parte autora
à indenização dos danos morais sofridos. É um direito constitucional.
E se não bastasse o direito constitucional previsto no art. 5º, é a própria Lex Mater que em seu
preâmbulo alicerça solidamente como um dos princípios fundamentais de nossa nação e, via
de conseqüência, da vida em sociedade, a defesa da dignidade da pessoa humana. Dignidade
que foi ultrajada, desprezada pela Ré.
A indenização dos danos morais e materiais que se pleiteia é direito constitucional a todos. E
no ordenamento jurídico infra constitucional, além do CDC, está o Código de Leis
Substantivas Civis de 2002 a defender o mesmo direito da parte autora. Com efeito o artigo
927 do Código Civil apressa-se em vaticinar a obrigação de reparar que recai sobre aquele que
causar dano a outrem por ato ilícito.
E o ato ilícito presente neste acidente de consumo é, conforme norma ínsita no artigo 186 do
Códex Civil, a ação ou omissão voluntária da ré que vieram a causar dano à parte autora.
É assente a doutrina no sentido da reparação do dano sofrido. Assim é que Sérgio Severo
afirma: “Dano patrimonial é aquele que repercute, direta ou indiretamente, sobre o patrimônio
da vítima, reduzindo-o de forma determinável, gerando uma menos-valia, que deve ser
indenizada para que se reconduza o patrimônio ao seu status que ante, seja por uma reposição
in natura ou por equivalente pecuniário.” (In Os Danos Extrapatrimoniais. São Paulo: Saraiva,
1996, p. 40).
“Dano moral é aquele que, direta ou indiretamente, a pessoa, física ou jurídica, bem assim a
coletividade, sofre no aspecto não econômico dos seus bens jurídicos”. (Op. Cit. p. 42).
Quanto ao valor ou critério de seu estabelecimento, já se firmou a jurisprudência: “Na
indenização a título de danos morais, como é impossível encontrar um critério objetivo e
uniforme para a avaliação dos interesses morais afetados, a medida da prestação do
ressarcimento deve ser fixada a arbítrio do juiz, levando-se em conta as circunstâncias do
caso, a situação econômica das partes e a gravidade da ofensa, de modo a produzir, no
causador do mal, impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado, sem, contudo,
significar um enriquecimento sem causa da vítima, visto que quem está enriquecendo
ilicitamente é a empresa UOL ao se apropriar indevidamente dos recursos financeiros da
Autora. (TJ-MG – Ac. da 2ª Câm. Cív. julg. em 22-5-2001 – Ap. 000.197.132-4/00-
Divinópolis – Rel. Dês. Abreu Leite; in ADCOAS 8204862).
VII - PEDIDOS
Por todo o exposto requerer:
A - A concessão de assistência judiciária gratuita, com fulcro no art.4º da Lei 1.060/50;
B - Citação da parte ré para comparecer à audiência de conciliação ou à audiência de
instrução e julgamento, sob pena de revelia (serem julgados verdadeiros todos os fatos
descritos nesta petição);
C - Inversão do ônus da prova conforme o art. 6º, VIII, do CDC que constitui direito básico
do consumidor a facilitação da defesa dos seus direitos em juízo;
D - Seja a Ré condenada à repetição do indébito cobrado da Autora em valor igual ao dobro,
consoante ao Art. 42, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor- lei 8.078/90, no
valor de R$720,56 (setecentos e vinte reais e cinqüenta e seis centavos), referente ao dano
material;
E - Seja, ao final, julgado procedente a presente demanda, a Ré a pagar a parte Autora
indenização por Danos Morais, no valor R$5.000,00, (cinco mil reais) tendo em vista prática
abusiva praticada pela Ré, a fim de responder não só a efetiva reparação do dano, mas
também ao caráter preventivo-pedagógico do instituto, no sentido de que no futuro o
fornecedor de serviços tenha mais cuidado e zelo com o consumidor sem, contudo,
caracterizar em hipótese alguma enriquecimento ilícito por parte da Autora, Pois o Princípio
da Razoabilidade das indenizações por danos morais é um prêmio aos maus prestadores de
serviços, públicos e privados. O que se reclama é uma correção do desvio de perspectiva dos
que, a guisa de impedir o enriquecimento sem causa do lesado, sem perceber, admitem um
enriquecimento indireto do causador do dano.
F - Condenação ao pagamento de honorários advocatícios no importe de 20% sobre o valor da
condenação, nos termos do artigo 20, parágrafo 3º do CPC;
VI -DAS PROVAS
A Autora protesta pela produção de todas as provas admissíveis em juízo, juntada de novos
documentos, perícias de todo gênero (se necessário), bem como pelo depoimento pessoal do
representante legal da Ré, ou seu preposto designado, sob pena de confissão, oitiva
testemunhal, vistorias, laudos e perícias – se necessidade houver, para todos os efeitos de
direito.

Dá-se a causa o valor de R$ 5.720,56 (cinco mil, setecentos e vinte reais e cinquenta e seis
centavos).

Nestes termos,
Pede deferimento.
Rio de janeiro, 21 de novembro de 2023.

Larissa de Souza Alves


OAB/RJ 250.947

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