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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO

ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DA CAPITAL REGIONAL DE CAMPO


GRANDE/RJ.

MARCOS ANTONIO DA CONCEIÇÃO, brasileiro, solteiro, pedreiro,


portador do RG: 12465977-2, inscrito no CPF: 084713217-00, residente na rua
Dois, nº 417, Campo Grande, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 23042-500, por seu
procurador conforme instrumento de mandato em anexo, dirige-se
respeitosamente perante Vossa Excelência para propor a presente...

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS c/c REPETIÇÃO DE


INDÉBITO E DANOS MORAIS COM PEDIDO LIMINAR.

Em face de LIGHT SERVICOS DE ELETRICIDADE S/A, empresa privada,


inscrita no CNPJ/MF nº. 60.444.437/0001-46, com endereço comercial à
Avenida Marechal Floriano, nº. 168, Centro, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 20.080.002,
pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

PRELIMINARMENTE
DAS PUBLICAÇÕES E INTIMAÇÕES:

Inicialmente, requer que as futuras publicações sejam publicadas no diário


oficial em nome do advogado Dr.º Paulo Gomes Tinoco, inscrito na OAB/RJ sob o
n.º 199.030, com escritório profissional situado Rua Nanita Lutz, nº 16, Campo
Grande, Rio de Janeiro, CEP: 23042-800, e-mail: paulogomest@hotmail.com.

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DA JUSTIÇA GRATUITA.

Requer a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, nos


termos da do artigo 98 e seguintes do CPC e artigo 5°, LXXIV da CF, uma vez que
a autora não possui condições financeiras de arcar com os encargos do processo
sem prejuízo da própria subsistência e de sua família, conforme declaração em
anexo.

DOS FATOS.

A Autora que é pobre e no momento está passando forte crise financeira,


vem sendo cobrada por irregularidades que jamais cometeu (medição errada de
energia elétrica/desvio de energia); todavia, mesmo após lutar fortemente para
provar sua boa-fé e honestidade, vem sendo castigada com acusações que abalam
sua paz, pois, tais irregularidades poderão resultar numa catastrófica lesão
financeira de difícil reparação; senão vejamos:

Em 11/06/2018, a parte autora recebeu uma punição injusta da empresa


ré, isto é, foi castigada com o Termo de Ocorrência de Irregularidade 8589689, no
qual a empresa demandada acusa a parte autora de desviar energia, afirmando
que o medidor esta com desvio de ramal de ligação, deixando de registrar o
consumo real.

Assim, por conta deste mal explicado desvio de ramal que a Autora não
sabe a que se refere e que originou o abusivo TOI, a empresa ré vem cobrando,
consequentemente, a quantia de R$ 7.969,80 (sete mil novecentos e sessenta e
nove reais e oitenta centavos) em 60 parcelas de R$132,83, sendo que, tal como
se infere, a Autora já pagou ao menos 10 parcelas desse abusivo TOI.

Todavia, a parte autora jamais teve qualquer tipo de conduta ilegal ou


irregular, bem como questionou os valores cobrados, as alegações de desvio
feitas, não tendo em nenhum momento a possibilidade de acompanhar o
procedimento que a empresa ré porventura fizesse, bem como observar a
idoneidade do método, eis que foi surpreendida com a cobrança de referida
quantia sob a alegação de suposto desvio no ramal.

Completamente indignada com a situação, a autora travou diversos


contatos com a empresa ré, visando solucionar esta falsa acusação (protocolos:
2018816165/ 2018844110/ 2018971740), entretanto, não obstante ter relatado
detalhadamente sua boa-fé e inocência, foi golpeada com o descrédito de suas
razões e sofrimento.

Nestes contatos e intervenções junto a ré, foi informada que deveria


comparecer a um posto de atendimento e apresentar uma carta recurso, visando
obter a retificação deste problema; entretanto, não obstante ter feito a carta e
relatado detalhadamente sua boa-fé e inocência, foi golpeado com o indeferimento
do pedido, bem como pelo descrédito de suas razões e sofrimento.
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A parte autora tem plena convicção de que suas instalações estão
perfeitamente adequadas, pois, os prepostos da empresa ré sempre fizeram
medição de sua energia durante anos e jamais relataram ao menos um mero
indício de haver algum problema sequer, quanto mais desvio tão gigantesco de
energia através do tempo.

Dolorosa para a parte autora toda essa situação de falsa acusação de


desvio e ilicitude de sua parte. Convém informar que a parte autora jamais foi
comunicada que haveria qualquer vistoria pelos prepostos da ré, sendo certo que
somente teve ciência de que houve no momento do recebimento da injusta
cobrança. Assim, a autora acredita que não houve sequer realização de perícia a
fim de constatar as irregularidades alegadas, pois, jamais utilizou-se de técnicas
ilegais para o desvio de energia elétrica, sempre consumindo a mesma média e
pagando a fatura corretamente.

Assim, completamente indignada, bate as Portas do Poder Judiciário,


visando obter a justiça no caso concreto, consubstanciando-se esta na declaração
de nulidade do TOI 8589689 (termo de ocorrência de inspeção), na devolução das
quantias indevidamente cobradas e pagas, bem como uma indenização pelos
danos morais que sofreu.

DO DIREITO.

DA RELAÇÃO DE CONSUMO – APLICAÇÃO DO CDC – INVERSÃO DO ONUS DA


PROVA

A Constituição Federal de 88, em seu artigo 1º, inciso IV, tem como
fundamento os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; assim, consagra o
capitalismo como sistema econômico. Todavia, em busca da harmonização do
capitalismo, consagrou em seu artigo 5º, inciso XXXII que o Estado promoverá,
na forma da lei, a defesa do consumidor, em contraponto ao capitalismo
exacerbado.

Assim, foi elaborado uma série de normas de proteção para as relações de


consumo, sendo a lei principal o CDC, perfeitamente aplicável ao presente caso.
Neste sentido, no caso em tela, verifica-se claramente tratar-se de uma relação de
consumo, por estarem presentes de um lado do polo da relação, o consumidor
(autor) e de outro lado o fornecedor (Réu) na presente demanda.

Consumidor, à luz do artigo 2º da lei 8078/90, “é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final”.
Portanto basta saber a definição legal e doutrinária da palavra destinatário final
para uma melhor compreensão.

Assim, perfeitamente aplicável as disposições contidas no CDC, pelo que


requer desde já a inversão do ônus da prova, com fulcro no art. 6º, inciso VIII da
Lei 8.078/90, face à verossimilhança das alegações ora aduzidas, e a
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hipossuficiência técnica da autora, para que a ré prove por todos os meios de
provas admitidas em direito, considerando os fatos aqui narrados, que a parte
autora esta ou esteve desviando energia ilegalmente ou fazendo “gato”, bem como
agindo de maneira ou forma irregular/ilegal em prejuízo da Requerida.

Entende a jurisprudência majoritária que o consumidor lesado não é


obrigado a esgotar as vias administrativas para poder ingressar com ação
judicial, mas sim, pode fazê-lo imediatamente após deflagrado o dano.

Mesmo assim a autora, conforme se viu, fez jus a uma conduta parcimônia
e amigável com a requerida e procurou resolver administrativamente seu direito.
Passado todo esse tempo, a falta de eficiência para resolução do conflito somada
a sensação de ter sido violada em sua moral, só gerou mais perturbação e
desgaste emocional.

DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA

Verificada a presença dos requisitos para a satisfação antecipada do direito


pleiteado pela autora, demonstrando o dano real, eis que está sendo cobrada por
dívida em valor considerável, tornando-se imperativo o deferimento da
antecipação de tutela para que este juízo determine a ré que se abstenha de
efetuar cobranças do TOI nº 8589689 da parte autora, imediatamente, até final
decisão.

A medida antecipatória, objeto de liminar na própria ação principal,


representa providências de natureza emergencial, executiva e sumária, adotadas
em caráter provisório, eis que a parte autora está sendo impelida a pagar por
valores que entende serem indevidos, justamente de um serviço primordial para a
vida em sociedade nos dias atuais, estando assim totalmente desamparada e
dependente da forte mão do Poder Judiciário.

Conforme alude o artigo 300 do Código de processo Civil, in verbis:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.”

Os valores cobrados indevidamente serão perseguidos de todas as formas e


de maneira feroz pela Requerida, fato que claramente lhe trará grave abalo
econômico, com a possibilidade de restrições de crédito em seu nome, quiçá um
corte de energia, tendo em vista a lamentável crise financeira vivenciada pela
Requerente e os atos que a Ré é capaz de praticar.

Assim, se tal cobrança persistir, nem mesmo a energia que gasta a autora
conseguirá pagar corretamente, sofrendo o risco e a humilhação de ser
considerada mau pagadora, mesmo estando de boa fé e certa de que está agindo
com honestidade. Justificado, pois, o perigo da demora.

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Por sua vez, a fumaça do bom direito se mostra na medida em que a autora
sempre pagou corretamente sua conta de luz, estando totalmente adimplente com
estas obrigações, cujo histórico de consumo, tal como se infere, traz médias
semelhantes todos os meses; desta forma, a empresa ré, não obstante a autora
estar em dia com suas contas, quer cobrar, mês a mês, nas faturas enviadas na
residência da parte autora, supostas dívidas de irregularidades que só foi tomar
conhecimento no ato de recebimento da carta, ferindo de morte o contraditório e
a ampla defesa.

Diante de todo o exposto, requer a concessão da tutela de urgência, nos


termos do artigo 300 do Código de Processo Civil, para fins de determinar que a
Ré se abstenha de efetuar cobranças do TOI nº 8589689 em face da parte autora,
no prazo de 48h, sob pena de, se cobrar, ser condenada a pagar multa diária de
R$300,00 (trezentos reais), até que a determinação seja cumprida;

DA ILEGALIDADE DO TOI – NULIDADE E INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS –


DEVOLUÇÃO DAS QUANTIAS

Conforme exposto anteriormente, a ré emitiu em 2018, indevidamente e de


maneira unilateral, o TOI 8589689, alegando que a parte autora estaria
supostamente desviando energia/ medidor falseando o consumo real, isto é,
pagando menos do que consumiu.

Ocorre que as referidas emissões são totalmente ilegais, ferindo princípios


constitucionais como o devido processo legal, direito de defesa, contraditório,
dentre outros, pois, a parte autora não foi comunicada para poder participar do
procedimento.

O TOI não informa nada sobre a pesquisa feita e como foi alcançado o
resultado que a ré sustenta, bem como a verificação da suposta irregularidade
foram feitas unilateralmente e sem a realização da devida perícia, pois, se esta foi
feita, a parte autora nem viu e nem teve qualquer notificação de sua realização.

Vale ressaltar que a demandada é empresa privada, concessionária de


serviço público, razão pela qual seus atos não possuem presunção de
legitimidade, ao contrário do que ocorre com aqueles praticados pela
Administração Pública.

Neste sentido, o entendimento da melhor jurisprudência do E. TJRJ,


conforme podemos verificar abaixo

(...) 4. As concessionárias de serviço público são simples pessoas jurídicas de direito


privado, que não se confundem com a Administração de quem recebem, por delegação
contratual, a incumbência de desempenhar determinada atividade de interesse público.
Seus atos, pois, não gozam da presunção de legitimidade típica dos atos
administrativos. Seria uma aberração quer às normas de Direito Administrativo, quer
aos mais basilares princípios do direito das obrigações, quer ainda às normas
protetivas do consumidor (que se presume parte vulnerável no mercado, conforme
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diretriz estabelecida pelo art. 4º, inciso I, do CDC), imputar ao usuário o ônus de
provar que a apuração técnica da distribuidora de energia estivesse equivocada. 5.(...).
A imposição de confissão de dívida superior a mais que o décuplo do devido, sob ameaça de
interrupção de fornecimento de serviço essencial, constitui forma de cobrança abusiva,
configurando o constrangimento de que trata o art. 42, caput, do CDC, o que caracteriza o
dano moral. Se seria ilegal a interrupção do serviço, que não chegou a concretizar-se, ilícita
também foi a ameaça de efetuá-la. 9. Parcial provimento do recurso (TJ-RJ - APL:
00119814620098190021 RJ 0011981-46.2009.8.19.0021, Relator: DES. MARCOS
ALCINO DE AZEVEDO TORRES, Data de Julgamento: 05/02/2014, VIGÉSIMA SÉTIMA
CÂMARA CIVEL/ CONSUMIDOR, Data de Publicação: 21/03/2014 00:00)

Ademais, a jurisprudência do Tribunal fluminense, em consonância com


a tese sustentada pelo autor entende que, sendo realizada unilateralmente a
vistoria que gerou a lavratura do TOI e diante da inexistência mínima de
participação do consumidor, este é ilegal, verbis:

DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS


E MORAIS C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LAVRATURA DE TERMO DE
OCORRÊNCIA DE IRREGULARIDADE - TOI, EFETUADO DE FORMA
UNILATERAL PELA RÉ. PROVA PERICIAL DISPENSADA PELA PARTE RÉ QUE
SERIA CAPAZ DE CONSTATAR A POSSÍVEL EXISTÊNCIA DE
IRREGULARIDADES. INEXISTÊNCIA DE BOLETIM DE OCORRÊNCIA
POLICIAL. TOI QUE DEVE ASSEGURAR AO CONSUMIDOR AS GARANTIAS
CONSTITUCIONAIS INERENTES AO DEVIDO PROCESSO LEGAL EM SEDE
ADMINISTRATIVA (ARTIGO 5º, LV, CRFB). PAGAMENTO DE DÉBITOS
REFERENTES À DIFERENÇA DE ENERGIA COMPROVADO, DAÍ NECESSÁRIA A
SUA DEVOLUÇÃO. INCONFORMISMO DA RÉ. Existência de relação de consumo com
aplicação do CDC. Ainda que houvesse a constatação de irregularidade no medidor da
residência do consumidor, esta deveria se demonstrar através de laudo pericial ou
registro de ocorrência policial, o que não se deu, eis que efetuado apenas termo de
ocorrência e de forma unilateral pela ré. Valor indenizatório fixado em observância os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade, pois tal importância compensa a Autora, e,
ao mesmo tempo, desestimula a Ré a proceder de modo abusivo. Busca da efetividade á
teoria do desestímulo sem que sob a sua invocação se materialize enriquecimento sem causa.
Recurso a que se nega provimento na forma do art. 557, caput, do CPC (TJ-RJ - APL: 22678
RJ 2009.001.22678, Relator: DES. MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO, Data de
Julgamento: 02/06/2009, DECIMA SEXTA CÂMARA CIVEL, Data de Publicação:
05/06/2009)

Diante do exposto, requer seja declarada a nulidade do TOI nº 8589689;


requer, ainda, a declaração de inexistência do débito de R$ 7.969,80 (sete mil
novecentos e sessenta e nove reais e oitenta centavos), cobrados indevidamente
da parte autora, bem como também a condenação da Ré na devolução em dobro
de todas as quantias pagas pela Autora em decorrência da aplicação do TOI no
total de R$2.656,60, sem prejuízo daquelas que se vencerem no curso do
processo e que forem eventualmente quitadas pela Autora, determinando que
cesse definitivamente a cobrança sob pena de multa diária de R$300,00,
confirmando, pois, a tutela de urgência requerida.

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Caso assim não entenda Vossa Excelência, pugna pela devolução de forma
simples do valores eventualmente cobrados em razão do TOI nº 8589689 na
quantia de R$ 1.328,30.

DA IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA POR ESTIMATIVA

Ainda que não se reconheça a ilegalidade do TOI, o que se admite apenas


por amor ao debate, necessário se faz o evidente reconhecimento da
impossibilidade de cobrança realizadas por estimativa, pois, os valores que devem
ser cobrados são os reais valores de consumo.

Portanto, não pode a gananciosa concessionária a qualquer momento


alegar suposta irregularidade a seu bel prazer e cobrar por todo o período em
que, segundo seu entendimento viciado e torpe, houve supostas e fantasiosas
fraudes. Ainda mais se esta não foi devidamente comprovada por meios
idôneos, transparentes e constatáveis, principalmente pela consumidora,
principal prejudicada nesta conduta lesiva.

Neste sentido, possui a ré a obrigação de, mensalmente, verificar a possível


irregularidade quanto à variação de valores, se existirem, para, imediatamente,
restabelecer a normalidade (somente se existirem). Indubitável de que tal fato
não ocorreu. Não foi demonstrado o desvio e não foi apurado o valor real da
suposta diferença de pagamento (pois, nunca jamais houve).

A jurisprudência acolhendo a tese segundo a qual é impossível a cobrança


por estimativa, assim se pronuncia:

ENERGIA ELÉTRICA. CÁLCULO DE RECUPERAÇÃO DE CONSUMO.


ILEGALIDADE DA RESOLUÇÃO Nº 456 DA ANEEL. Ilegalidade da forma de cálculo
adotada, seja porque embasada em mera resolução emanada da agência reguladora e,
portanto, sem força de lei, seja porque eventual critério de cálculo que se venha a
adotar a fim de alcançar uma decisão equânime nem sempre a tal conduzirá. Inovação
no ordenamento jurídico que somente pode se dar, como decorrência do Estado
Democrático de Direito (artigo 1º da Constituição Federal), através de lei, assim
entendido o ato emanado do Poder Legislativo. Tanto é assim que por força do
Princípio da Legalidade ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei (inciso II do artigo 5º da Constituição Federal). Hipótese em
que a posição do fornecedor se revela absolutamente cômoda ao lançar mão do cálculo
de recuperação de consumo, uma vez que não apenas cria o seu próprio título com base
em critérios sabidamente irreais, seja ao estabelecer o período de recuperação, seja ao
apurar o consumo não medido, porque a adoção do maior consumo que se verificou
nos últimos doze meses, como ocorre no caso posto em exame é sabidamente artificial,
notadamente porque o consumo, conforme as peculiaridades de cada unidade não é
uniforme nas diferentes estações do ano. Como se não bastasse isso, ainda pode impor o
pagamento do denominado custo administrativo no percentual correspondente a 30%,
submetendo, ao depois, o consumidor ao jugo da autotutela que, não obstante a condição de
mero concessionário do serviço público exercita sem qualquer pejo. Possibilidade de o
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fornecedor buscar, porém na via adequada, indenização por eventual locupletamento.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA AUTORA E IMPROVERAM O
DA RÉ. (Recurso Cível Nº 71000760280, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Luiz Antônio Alves Capra, Julgado em 05/10/2005) (TJ-RS - Recurso
Cível: 71000760280 RS , Relator: Luiz Antônio Alves Capra, Data de Julgamento:
05/10/2005, Segunda Turma Recursal Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
22/11/2005).

Assim, também por este motivo, ou seja, pela ilegalidade, deve ser
considerado nulo o termo de ocorrência baseado em estimativa, bem como
declarada a inexistência do débito tal como já requerido, uma vez que os valores
correspondentes aos consumos foram devidamente pagos pela Requerente.

DO DANO MORAL

A Constituição, em seu artigo 1º, inciso III, estabelece como seu


fundamento, a dignidade da pessoa humana; assim, é fato que toda ação
idealizada pelas normas e ações no Estado Brasileiro, devem privilegiar este
fundamento, bem como os direitos fundamentais.

Todavia, o que se viu no caso em tela, foi o descaso e a abusividade


evidente realizada pela empresa ré, pois, estando completamente prejudicada
pelas cobranças excessivas por conta das alegações de desvio de
energia/alterações nos medidores, que jamais aconteceram, imputando a parte
autora fatos totalmente fantasiosos e mentirosos.

Desta forma, a insensibilidade da empresa ré se mostra grandiosa, e


completamente sem sentido, tendo em vista que a parte autora sempre tentou
resolver estas questões com bom senso e boa-fé, bem como sempre pagou
pontualmente suas contas e faturas junto a ré. Nunca agiu de má-fé.

Resta claro que a situação ultrapassou, e muito, a esfera do mero


aborrecimento/dissabor, na medida em que a autora além de ser acusada, de
forma velada, de desviar energia, ainda sofre com cobranças indevidas e com o
risco de ser taxada de mau pagadora.

Além disso, perdeu muito de seu tempo livre para resolver problema que a
empresa ré mesmo criou, estando a autora até a presente data sem nenhuma
solução, não obstante haver ligado diversas vezes e ido até a empresa ré
pessoalmente, sendo rotulada como devedora por um débito que nunca deu
causa e foi imputado de forma unilateral pela Ré.

Assim, além de estar sendo prejudicada por irregularidades que jamais


cometeu, a parte autora ainda perdeu um grande tempo tentando resolver
pacificamente toda esta situação embaraçosa, entretanto, mais uma vez a
empresa ré dá claras mostras de que quer se enriquecer injustamente com o
prejuízo da autora, fazendo incidir, pois, as disposições insculpidas nos artigos
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186 e 927 do CC. Por sua vez, o art. 14 do CDC dispõe que:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

No caso em comento, deve ser aplicada a Teoria do Risco do


Empreendimento, respondendo a ré por eventuais vícios e/ou defeitos dos
produtos ou serviços postos à disposição dos consumidores.

A simples cobrança indevida é capaz de gerar o dever de indenizar.


Neste sentido jurisprudência do C. STJ se posicionou em casos análogos:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COBRANÇA INDEVIDA DE DÍVIDA. DANO MORAL.
INEXISTÊNCIA DE INSCRIÇÃO NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO OU
DE QUALQUER OUTRA PUBLICIDADE. REDUÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO, FIXADO EM R$ 87.004,00 PARA R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS).
1.- Quem obtém o encerramento de conta corrente bancária tem direito à tranquilidade
ulterior, de modo que o acréscimo de débitos a ela e o envio de missivas com ameaças
de cobrança constitui dano moral indenizável. 2.- Na fixação do valor da indenização
por dano moral por ameaça de cobrança tratando-se de débitos inseridos em conta
encerrada deve ser ponderado o fato da inexistência de publicidade e de anotação no
serviço de proteção ao crédito, circunstâncias que vêm em desfavor de fixação de valor
especialmente elevado, mormente se considerados os valores que vêm sendo fixados por
esta Corte. 3.- Recurso Especial provido em parte, reduzindo-se a R$ 10.000,00, em moeda
do dia deste julgamento, o valor de R$ 87.004,00, fixado no caso de cobrança indevida de
débito de R$ 870,00 (STJ - REsp: 731244 AL 2005/0038841-9, Relator: Ministro SIDNEI
BENETI, Data de Julgamento: 10/11/2009, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 23/11/2009).

A melhor jurisprudência do Nobre Tribunal de Justiça do Estado do Rio de


Janeiro posiciona-se no sentido de responsabilizar as empresas em casos desta
natureza, conforme se observa nas ementas abaixo transcritas:

APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA. LAVRATURA DE TOI.


UNILATERALIDADE. NULIDADE. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. ENCARGOS DE SUCUMBÊNCIA. INVERSÃO.
1. A relação jurídica que ora se examina é de consumo, pois o demandante é o destinatário
final da energia elétrica fornecida pela ré, daí a necessidade de se resolver a lide dentro da
norma consumerista prevista no Código de Proteçâo e Defesa do Consumidor. 2. Da leitura
do art. 14 do CPDC, verifica-se que a responsabilidade do fornecedor de serviços é
objetiva e somente não responderá pela reparação dos danos causados ao consumidor se
provar que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou o fato é exclusivo do
consumidor ou de terceiro. 3. Outrossim, segundo a teoria do risco do empreendimento,
aquele que se dispõe a fornecer bens e serviços tem o dever de responder pelos vícios
resultantes dos seus negócios, independentemente de sua culpa, pois a responsabilidade
decorre do simples fato de alguém se dispor a realizar atividade de produzir, distribuir e
comercializar ou executar determinados serviços. 4. Dessa forma, incumbe à

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concessionária demonstrar que a lavratura do TOI se deu de forma regular e em plena
observância aos critérios e procedimentos previstos na Resolução 456/2000 da ANEEL,
ônus do qual não se desincumbiu. 5. Incidência do enunciado de nº 5 do II Encontro de
Desembargadores, com competência em matéria cível, realizado no dia 16 de junho de
2011, constante no Aviso do Tribunal de Justiça nº 51 de 2011. 6.Nulidade do TOI que
decorre da irregularidade de sua lavratura, fulminando a recuperação do consumo
elaborada. Precedentes do TJRJ. 7. Dano moral in re ipsa. Fixa-se o valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), pois atende às peculiaridades do caso, as condições do
ofensor e do ofendido, o tipo de ofensa e as repercussões provocadas pelo ato ilícito da
concessionária de energia. 8. Correção monetária que deverá incidir a contar desse
decisum, com juros de mora fluindo a partir da citação, diante da relação contratual
entabulada entre as partes. 9. Honorários advocatícios fixados nos termos do artigo 20, §
3º, do Código de Processo Civil. Precedente. 10. Recurso provido (TJ-RJ - APL:
00281390720118190087 RJ 0028139-07.2011.8.19.0087, Relator: DES. JOSE CARLOS
PAES, Data de Julgamento: 27/03/2015, DÉCIMA QUARTA CÂMARA CIVEL, Data de
Publicação: 31/03/2015 12:19)

DECLARATÓRIA CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO DE


ENERGIA ELÉTRICA. COBRANÇA BASEADA EM TERMO DE OCORRÊNCIA
DE IRREGULARIDADE - TOI. DOCUMENTO UNILATERAL NÃO
CORROBORADO POR OUTRAS PROVAS. NULIDADE. DANO MORAL
CONFIGURADO NA HIPÓTESE. MANUTENÇÃO DO JULGADO. 1 - O Termo de
Ocorrência de Irregularidade (TOI), lavrado unilateralmente pela concessionária, e
não corroborado por outras provas nos autos, não serve de suporte à cobrança da
dívida. Ausência de realização de perícia no local e não participação do usuário na
apuração do alegado débito. Ausência de prova da existência de irregularidade no
medidor ou de efetivo consumo pelo demandante. Declaração de inexistência do
débito objeto do TOI. Precedentes. 2 -Dano moral configurado. Imputação de fraude
ao consumidor sem mínima prova nesse sentido. Violação a direitos da personalidade.
Verba arbitrada adequadamente, considerando os princípios atinentes à matéria e as
particularidades do caso concreto. Manutenção. DECISÃO MONOCRÁTICA.
NEGATIVA DE SEGUIMENTO AO RECURSO (TJ-RJ - APL: 1493565220098190001
RJ 0149356-52.2009.8.19.0001, Relator: DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA, Data
de Julgamento: 25/04/2011, NONA CÂMARA CIVEL)

Salienta-se que o art. 6º, VI, do Código de Defesa do Consumidor diz ser
direito básico a reparação pelos danos materiais e morais sofridos. Não é demais
ressaltar que a indenização por dano moral possui duas vertentes, a saber:
reparar o abalo psicológico causado e servir como punição (natureza educativa),
com o fito de evitar que o causador do dano volte a cometer a infração.

A empresa ré deu pouca ou nenhuma importância para todas as razões da


parte autora, fazendo as coisas como bem quis, ferindo brutalmente o contrato, a
boa-fé, a dignidade humana e diversas e preciosas normas do nosso querido CDC
(artigos 6º, inciso III e IV c/c artigo 7º c/c artigo 14 todos do CDC), como o direito
à informação correta e respeito aos limites contratuais, bem como a lealdade e
respeito nestes tipos de transações; todavia, nada disso fez a empresa ré,
preferindo ignorar os preceitos atinentes à espécie e causar abalo moral à Autora

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(ferindo o artigo 1, inciso III da CRFB c/c artigo 5 inciso V, X e XXXII da
CRFB/88).

Desta forma, a autora tem plena convicção e fé inabalável, que este juízo
julgará o seu caso com JUSTIÇA, trazendo para o seu coração a alegria de uma
sentença equânime e imparcial, isenta e legítima, proferida por um Magistrado
conhecedor das leis e da sabedoria da vida.

Diante do exposto, requer que Vossa Excelência indenize a parte autora


pelos danos morais que sofreu, pois, os equívocos se deram exclusivamente por
culpa da ré, devendo esta arcar pela sua má prestação dos serviços, bem como
pela sua irresponsabilidade, na quantia de R$ 12,000,00 (doze mil reais) ou ao
Arbítrio de Vossa Excelência.

DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, vem requerer a Vossa Excelência:

A) Requer a concessão da tutela de urgência, nos termos do artigo 300 do


Código de Processo Civil, para fins de determinar que a Ré se abstenha de efetuar
cobranças do TOI nº 8589689 em face da parte autora, no prazo de 48h, sob
pena de, se cobrar, ser condenada a pagar multa diária de R$300,00 (trezentos
reais), até que a determinação seja cumprida;

B) O julgamento procedente da presente ação para que seja declarada a


nulidade do TOI nº 8589689 ante a sua flagrante ilegalidade, bem como a
declaração de inexistência do débito de R$ 7.969,80 (sete mil novecentos e
sessenta e nove reais e oitenta centavos), cobrados indevidamente da parte
autora, determinando que esta cesse definitivamente a cobrança sob pena de
multa diária de R$300,00, confirmando, pois, a tutela de urgência requerida.

C) Requer a condenação da Ré na devolução em dobro de todas as quantias


pagas pela Autora em decorrência da aplicação do TOI 8589689, que somadas até
o momento totalizam o importe de R$2.656,60, sem prejuízo daquelas que se
vencerem no curso do processo e que forem eventualmente quitadas pela Autora.
Caso assim não entenda Vossa Excelência, pugna pela devolução de forma
simples do valores cobrados em razão do TOI nº 8589689 no valor de R$
1.328,30.

D) Inversão do ônus da prova, com fulcro no art. 6º, inciso VIII da Lei
8.078/90, face à verossimilhança das alegações ora aduzidas, bem como a
hipossuficiência técnica da autora, para que a ré prove por todos os meio em
direito admitidos que a parte autora está desviando ou desviou energia, bem
como praticando ou praticou qualquer ato ilegal, e ainda que estas quantias são
devidas e foi feita analise coerente dos valores cobrados;

E) Que seja determinada a citação da empresa ré no endereço fornecido,


para comparecer em audiência a ser designada por este juízo, e apresentar sua
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contestação, sob pena de lhe ser aplicados os efeitos da revelia;

F) Condenar a empresa ré a indenizar a parte autora pelos danos morais


que sofreu na quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais) ou ao Arbítrio de Vossa
Excelência, bem como ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios a serem arbitrados por Vossa Excelência.

G) Reitera-se aqui o pleito de concessão dos benefícios da justiça gratuita.

DAS PROVAS:

Requer a produção das provas por todos os meios admitidos em direito,


especialmente depoimento pessoal da ré, testemunhal e juntada de novos
documentos como prova superveniente.

DO VALOR DA CAUSA:

Dá-se a causa, para efeito de custas e alçada o valor equivalente a R$


19.969,80 (dezenove mil novecentos e sessenta e nove reais e oitenta centavos).

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2019.

PAULO GOMES TINOCO


OAB/RJ 199030

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