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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

DO FORO REGIONAL DE JACAREPAGUÁ - RJ


Nome, nacionalidade, estado civil, portador da cédula de identidade nº, expedida por E,
inscrito no CPF sob o nº, residente e domiciliado na por meio de sua advogado , inscrita na
OAB/RJ sob o nºxxx, instrumento de mandato em anexo, endereço eletrô nico x@gmail.com,
com escritó rio na, cel.: x, vem mui respeitosamente a Vossa Excelência propor:
AÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR C/C REPETIÇÃO DE INDEBITO C/C DANOS
MORAIS E TUTELA ANTECIPADA
Em face de LIGHT SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S/A, empresa concessioná ria de serviço
pú blico de energia elétrica, inscrita no CNPJ/MF Nº 60.444.437/0001-46, com sede na
Avenida Marechal Floriano, nº 168, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 20080-002, pelas razõ es
de fato e de direito que passa a expor:
I- DOS FATOS
Conforme se verifica, parte autora é consumidora dos serviços prestados pela empresa ré
através do có digo de cliente através do có digo de cliente nº, com unidade consumidora na
Rua, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 443.048.398-10.
Neste endereço acima citado é uma kitnet, com quarto, cozinha e banheiro, onde residem
duas pessoas, que trabalham fora de casa, ou sejam passam boa parte do dia no trabalho.
Ocorre que, no dia 02/04/2018 a light estava realizando inspeçã o técnica na rua do
referido imó vel e unilateralmente emitiu o Termo de Ocorrência e Inspeçã o nº, pelo
simples fato do histó rico de consumo do autor, sem levar em consideraçã o a realidade
fá tica do motivo da queda do consumo, gerando uma multa no valor de R$1.014,94 (mil e
quatorze reais e noventa e quatro centavos).
Inconformada com TOI a parte autora dirigiu-se a uma agência da empresa ré, esclarecendo
que jamais utilizou ligações clandestinas de energia elétrica, tendo sido sua
reclamaçã o gerado o protocolo nº, entretanto nã o obteve êxito na sua reclamaçã o.
A Ré neste caso está fazendo JUSTIÇA COM AS PRÓ PRIAS MÃ OS, pois acusou; nã o deu
direito de defesa; condenou e agora está aplicando ao requerente uma penalidade, quando
de forma coercitiva obriga a pagar uma dívida que nã o reconhece, parcelando a multa
aplicada na fatura de consumo de energia elétrica, sem a permissã o do autor.
Por estas razõ es, em decorrências das frustradas tentativas administrativas de solucionar
seu problema, e pelo desrespeito ao consumidor, nã o restou outra soluçã o a parte autora
senã o pleitear seus direitos judicialmente.
II- DOS REQUISITOS DA TUTELA ANTECIPADA
De acordo com o artigo 300 do Novo Có digo de Processo Civil, a tutela provisó ria de
urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a (i) probabilidade do
direito e (ii) o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Presentes tais requisitos, a tutela de urgência será deferida, desde que nã o haja perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisã o, vide o § 3º do artigo 300 do novo estatuto
processual.
Com bem ressaltado pelo eminente doutrinador Rodolfo Kronemberg Hartmann, a
probabilidade do direito implica no ô nus de o demandante demonstrar, juntamente com a
sua petiçã o, a prova suficiente da verossimilhança, o que, de certa foram equivale à
expressã o latina fumus boni iuris.
A probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipató ria para a tutela dos direitos
é a probabilidade ló gica – que é aquela que surge da confrontaçã o das alegaçõ es e das
provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo prová vel a hipó tese que encontra
maior grau de confirmaçã o e menor grau de refutaçã o nesses elementos.
Já o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do processo correspondem ao periculum in
mora, pois a demora da resposta jurisdicional gera uma situaçã o de risco. Há urgência
quando a demora pode comprometer a realizaçã o imediata ou futura do direito.
Feita esta breve explanaçã o, cumpre ressaltar que estã o presentes todos os requisitos
legais para o deferimento do pedido de tutela provisó ria de urgência em cará ter
antecedente, senã o vejamos.
Consoante as linhas traçadas, o autor, através da presente demanda, sedimentada e traz à
aná lise jurisdicional, a efetiva demonstraçã o de que a ré agiu de maneira flagrantemente
ilegal ao impor o pagamento de valores completamente aleató rios e sem qualquer base
legal.
Desta maneira, é evidentemente ilegal a cobrança realizada pela ré, já que nã o foram
observados os requisitos legais para tanto.
Muito embora o autor confie que a probidade de seus argumentos ecoe no integral
acolhimento de suas pretensõ es, fato é que a espera pelo fim do trâ mite processual pode
lhe trazer diversos prejuízos.
Afinal, apó s enviar uma cobrança de R$1.014,94 (mil e quatorze reais e noventa e quatro
centavos) e forma parcelada na fatura de consumo de energia elétrica.
Como se vê, a probabilidade do direito está demonstrada através dos documentos juntados
aos presentes autos, bem como a partir da narrativa apresentada.
Ademais, a farta jurisprudência indicada na presente petiçã o inicial ratifica a probabilidade
do direito alegado na petiçã o inicial.
Já o perigo de dano se demonstra através dos evidentes incô modos trazidos pela lavratura
de um “Termo de Ocorrência de Inspeçã o”, acusaçã o de que o autor está furtando energia.
Conforme cobranças em anexo, devido a imputaçã o unilateral da ré de irregularidade e a
cobrança do TOI, por esta razã o requer a antecipaçã o da tutela afim de que a empresa ré
abstenha-se de cobrar o parcelamento unilateral na fatura de consumo da parte autora.
Por oportuno, o autor informa que inexiste qualquer perigo de irreversibilidade dos efeitos
da decisã o, pois, caso a presente demanda seja julgada improcedente, a Ré poderá se valer
dos meios legais para cobrar a suposta dívida sem qualquer tipo de ó bice.
Destarte, estando presentes os requisitos legais, inexistindo qualquer risco de
irreversibilidade do provimento, requer o autor, antecipadamente, nos termos do artigo
294 e seguintes do Novo Có digo de Processo Civil, o deferimento do presente pedido de
tutela provisó ria de urgência em cará ter antecipado para que a empresa ré abstenha-se de
cobrar o parcelamento unilateral na fatura de consumo da parte autora; para tanto, requer-
se de Vossa Excelência, se digne determinar a expediçã o de Ofício à empresa ré, nesse
sentido.
III- DOS FUNDAMENTOS
A) DA COMPETÊNCIA DO JUÍZADO ESPECIAL CIVEL
Conforme o artigo 3º da Lei dos Juizados Especiais, o conceito objetivo sobre o que vem a
ser uma “causa de menor complexidade” coincide com as causas elencadas nos incisos I a
IV. Em nenhum momento, a norma supracitada determina que os processos que envolvam
prova pericial sejam necessariamente complexos.
Cabe ressaltar, que conforme sabiamente alegado pelo Douto Juiz que proferido a sentença
recorrida, o juízo é competente tendo em vista o vasto contexto probató rio apresentado
nos autor sendo assim desnecessá ria a produçã o de prova pericial.
“Passo a decidir Inicialmente, rejeito a preliminar de incompetência do juízo. O juízo
é competente e inexiste incompatibilidade de rito, na medida em que a produção de
prova pericial se mostra desnecessária, diante do contexto probatório apresentado”.
(DESTAQUE NOSSO)
Ademais, cumpre esclarecer que a Lei nº 9.099/95 em seu artigo 35º que é permitida a
parte a apresentaçã o de parecer técnico, in verbis:
Art. 35: Quanto a prova do fato exigir, o juiz poderá inquirir técnicos de sua
confiança, permitida às partes a apresentação de parecer técnico.
Destaca-se ainda o entendimento da relatora, ministra Nancy Andrighi do STJ, onde afirma
que:
“a Lei nº 9.099/1995, que rege os juizados especiais, não exclui de sua competência a
prova técnica, determinando somente o valor e a matéria tratada para que a questão
possa ser considerada de menor complexidade” e ainda “a menor complexidade que
confere competência aos juizados especiais é, de regra, definida pelo valor
econômico da pretensão ou pela matéria envolvida. Exige-se, pois, a presença de
apenas um desses requisitos e não a sua cumulação”.
Vale ressaltar, a vasta jurisprudência da E. Corte no que diz respeito a competência do
juizado especial cível para julgamento de demandas referentes a ilegalidades praticadas
pela empresa ré na aplicaçã o do TOI ao consumidores:
“PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO QUINTA TURMA RECURSAL
CÍVEL Recurso nº: 0002817-98.2012.8.19.0038 Recorrente: Light Serviços de
Eletricidade S.A. Recorrida: Leonilda Pimenteira de Abreu VOTO Relação de
consumo. Fornecimento de Energia Elétrica. Lavratura de TOI. Constatação
unilateral de suposta irregularidade na medição. Corte no fornecimento de energia
por inadimplência. Dano moral não configurado. A sentença recorrida declarou a
nulidade do TOI e da multa a ele relativa; condenou a ré a restituir à autora a quantia
de R$ 2.572,44, já em dobro, referente ao valor pago a título de multa do TOI e pelas
faturas de fls.17-20 e 58-59 e ao pagamento de R$ 1.500,00 a título de danos morais
(66-67). Recorre a ré, repisando preliminar de incompetência dos Juizados Especiais
Cíveis e, no mérito, pugnando pela improcedência dos pedidos. Sentença que merece
parcial reforma. Afasto a preliminar de incompetência suscitada nas razões de
recurso, tendo em vista que o valor atribuído à causa não ultrapassa o teto dos
Juizados Especiais Cíveis, sendo sabido que qualquer valor que ultrapasse o teto dos
Juizados se reputa renunciado nos termos do art. 3º, § 3º, da Lei 9.099/95. No mérito,
o débito contestado decorre da lavratura do TOI Termo de Ocorrência de
Irregularidade, pelo qual se atribui um consumo estimado, no período em que
existiria ligação clandestina. Inobservância, pela concessionária, do disposto no art.
72, II da Resolução 456/00 da ANEEL. Ausência de laudo subscrito por perito oficial
ou por profissional habilitado que constate o desvio de energia. O cálculo da dívida
foi elaborado de forma unilateral, sem contraditório e ampla defesa. O procedimento
adotado pela ré viola os princípios da transparência e informação estabelecidos pelo
CDC pelos quais, em se tratando de relação de consumo, somente os serviços
efetivamente prestados podem ser cobrados do usuário. Irretocável a sentença ao
determinar o cancelamento do TOI e da multa a ele vinculada. Nulo o TOI, impõe-se
que a empresa ré restitua, de forma simples, toda quantia, comprovadamente paga,
relativa ao contrato de confissão de dívida proveniente do Termo de Ocorrência de
Irregularidade, não devendo incidir a dobra, posto que havia previsão em resolução
permitindo a cobrança (Súmula n.º 85, TJRJ). Quanto a danos morais, não vislumbro,
na hipótese, lesão a direitos da personalidade. Como bem salientado pela
sentenciante monocrática, o corte ocorreu um ano após a lavratura do TOI e teve
como causa o inadimplemento da fatura vencida em agosto/2011. Corte que foi
precedido de prévio aviso na conta de consumo (fls.17). Exercício regular de direito.
Concessionária que não está obrigada a prestar o serviço gratuitamente. Não houve
interrupção do serviço por força do TOI. A reclamante não instruiu a inicial com
nenhuma fatura de consumo anterior à lavratura do TOI a comprovar que o consumo
em sua residência era regular e não zerado, ônus que lhe incumbia. Prova de fácil
produção e que estava ao seu alcance, não havendo falar em inversão do ônus neste
particular. Situação narrada nos autos que não foi capaz de gerar intenso
desequilíbrio psicológico. Ante o exposto, conheço do recurso interposto pela ré e
lhe dou parcial provimento para: 1- determinar que a restituição do valor de R$
1.286,22, seja feito na forma simples, com os acréscimos legais na forma já fixada na
sentença; 2- julgar improcedente o pedido de indenização por danos morais. No
mais, a sentença permanece tal como lançada. Sem ônus sucumbenciais por se tratar
de recurso com êxito. Rio de Janeiro, 04 de outubro de 2012. Marcia de Andrade
Pumar Juíza Relatora”
Diante de todo o exposto, nã o há que se falar de incompetência do juizado especial cível
para apreciaçã o da presente demanda uma vez que é prevista em lei a possibilidade de
parecer técnico em demandas de competência do juizado especial cível.
B) DA ILEGALIDADE DO TOI
Excelência, é flagrante o desrespeito que a ré vem tendo com os consumidores desse
serviço essencial, que é o serviço de fornecimento de energia elétrica.
A ré, um particular, foi quem apurou a ocorrência de irregularidade na residência da autora
e nã o a Administraçã o Pú blica. Neste sentido, o TOI lavrado nã o possui qualquer validade
jurídica para comprovar a existência de furto de energia, visto que será a palavra de um
particular (ré) contra a palavra de outro particular (autora).
O meio legal para aná lise do reló gio seria através do Instituto de Criminalística Carlos
É boli, com a lavratura de um registro de ocorrência para apuraçã o de suposta
irregularidade, mas nã o, a ré de forma completamente arbitrá ria, acusou, injuriou e
sancionou ao requerente, fazendo com que ele passasse por vexame junto aos vizinhos.
Somente os agentes da administraçã o pú blica direta ou indireta é quem podem dizer se
houve ou nã o furto de energia. A ré, por ser apenas delegatá ria de serviço pú blico, nã o
integra a administraçã o pú blica e neste sentido seus agentes nã o praticam atos
administrativos típicos.
Resta claro que os prejuízos causados pela Ré foram inú meros. Em verdade o que houve foi
uma sequência de erros e total descaso com o Autor, sendo culpa exclusiva da empresa ré.
C) DA RELAÇÃO DE CONSUMO E A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Nã o pairam dú vidas que o fato narrado classifica-se perfeitamente como relaçã o de
consumo nos ditames do art. 2º e 3º do CDC, logo deve ser analisado à luz do Có digo de
Defesa do Consumidor.
Nota-se que equiparar os litigantes na lide é mera aplicaçã o do princípio constitucional da
isonomia (art. 5º - caput, Todos são iguais perante a lei...), neste viés o consumidor como
parte reconhecidamente mais fraca, é o vulnerá vel na relaçã o de consumo, consoante o
preceito ínsito no art. 4º, I do CDC.
Desta forma é a aplicação do instituto da inversão do ônus da prova que equilibra a
lide proposta, passando a responsabilidade de provar para o fornecedor (art. 6º, VIII
do CDC).
A parte autora/consumidor é hipossuficiente pois nã o possui mecanismos para produzir
mais provas, bem como as suas alegaçõ es neste pleito sã o verossímeis, pois condizem com
a realidade.
Assim, a parte autora invoca o instituto da inversão do ônus da Prova para as
Requeridas equilibrando assim os polos na lide formulada, aplicação pratica do
Princípio da Isonomia (art. 5º, caput, CRFB), fulcro no Art. 6º incisos IV, VI, VIII do
CDC, a fim de se determinar as Requeridas a apresentaçã o de todas as provas referentes ao
pedido desta inicial.
D) DA RESPONSABILIDADE CÍVIL - NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A CONDUTA DA RÉ
E OS DANOS SOFRIDOS PELO AUTOR
A responsabilidade civil é um dever jurídico que nasce da ilicitude de conduta da
contratada, isto é, da atuaçã o que infringe dever jurídico originalmente pactuado. O ato
ilícito sempre gera o dever de ressarcir. É o que se busca com a tutela ressarcitó ria é o
restabelecimento do equilíbrio da situaçã o contratual destruída pela infraçã o da ré.
A lei nº 8.078/90, em seu artigo 22, fundado na teoria do risco, preceitua, in verbis:
“Art. 22. Os ó rgã os pú blicos, por si ou suas empresas, concessioná rias, permissioná rias ou
sob qualquer outra forma de empreendimento, sã o obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Pará grafo ú nico. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigaçõ es referidas
neste artigo, serã o as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos
causados, na forma prevista neste có digo.”(G. N.)
Isto importa dizer que a relaçã o de causalidade dispensa qualquer juízo de valor sobre a
existência ou nã o de culpa lato sensu, pois, aquele que exerce uma atividade que traz risco,
deve assumi-los e reparar os danos dela decorrentes.
Na hipó tese, nã o resta dú vidas da obrigaçã o da empresa ré de indenizar em razã o da
absurda, prepotente e ilegal atitude, que acusou o consumidor de furto de energia, porque
lhe impô s uma confissã o de dívida sem motivo, sendo certo que, ainda que assim nã o fosse,
ad argumentandum, o corte de energia nã o poderia ser feito sem o prévio aviso do
consumidor – requerente.
Dessa forma, está mais que evidenciado a conduta culposa, ou até mesmo dolosa, exclusiva
da ré e o nexo de causalidade entre seus atos (e de sus prepostos) e o prejuízo pelo
Requerente, pelo que se impõ em a obrigaçã o de indenizar os danos resultante da infraçã o
contratual praticada, tanto material como moral.
Nã o é outro entendimento da Egrégia Turma Recursal do Estado do rio de Janeiro:
“TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CONSELHO RECURSAL CÍVEL 4ª
TURMA PROCESSO 0275273-08.2014.8.19.0001 RECORRENTE: LIGHT SERVIÇOS DE
ELETRICIDADE S/A RECORRIDO: TERESA CECÍLIA DE LIMA E SÁ VOTO ENERGIA
ELÉ TRICA. TERMO DE OCORRÊ NCIA DE IRREGULARIDADE (TOI). RECUPERAÇÃ O DE
CRÉ DITO. CRITÉ RIO UTILIZADO PARA APURAÇÃ O DE CONSUMO NO PERÍODO EM QUE SE
VERIFICOU A IRREGULARIDADE. PRESUNÇÃ O DE CONSUMO COM BASE EM OUTRAS
UNIDADES CONSUMIDORAS COM ATIVIDADES SIMILARES. RÉ QUE NÃ O PRODUZ PROVAS
SUFICIENTES PARA CARACTERIZAR A IRREGULARIDADE. DANO MORAL NÃ O
CONFIGURADO. DEVOLUÇÃ O EM DOBRO QUE NÃ O SE APLICA. AUSÊ NCIA DE MÁ -FÉ .
Trata-se de Açã o na qual a autora afirma que é titular do serviço prestado pela ré, desde o
ano de 2010, e que em razã o de uma suposta vistoria realizada pelos prepostos da ré,
recebeu um comunicado de irregularidade, uma vez que foi constatado possível erro na
bobina/circuito aberto fase A, no período de outubro de 2013 a abril de 2014, tendo sido
recalculado o consumo do imó vel para o valor de R$ 3.771,94. Apó s recurso administrativo
sem êxito a ré incluiu na fatura de energia o valor de seis parcelas de R$ 628,65, nã o
solicitado pela autora. Aduz nã o concordar com o TOI 0006972921 e as cobranças a ele
relacionadas incluídas em suas faturas mensais de consumo. PLEITEIA o cancelamento do
TOI e dos débitos a ele vinculados, além de indenizaçã o por dano material, em dobro, e
moral. CONTESTAÇÃ O da ré em fls. 33/46 suscitando preliminar de incompetência do
Juizado Especial, ante a complexidade da matéria e necessidade de realizaçã o de perícia. No
mérito, sustenta inexistência de falha na prestaçã o do serviço, legalidade do TOI,
impossibilidade de inversã o do ô nus da prova, impossibilidade de devoluçã o dos valores
em dobro e inocorrência de danos morais. SENTENÇA que julga procedente em parte o
pedido, acerca do TOI 0006972921, para: 1) determinar que a ré cancele o referido
TOI, os débitos a ele vinculados e se abstenha de efetuar cobranças, no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de multa a ser arbitrada em sede de execuçã o; 2) condenar a parte
ré a restituir o valor de R$ 5.029,20 à autora, já em dobro, correspondente a quatro
parcelas pagas até outubro de 2014, bem como eventuais valores pagos apó s essa data, em
dobro; 3) condenar a ré ao pagamento do valor de R$ 2.000,00 à autora pelos danos morais
causados. RECURSO da ré, reiterando a preliminar de incompetência dos Juizados, em
razã o da necessidade de perícia técnica e, no mérito, reforçando os argumentos da
contestaçã o, requerendo a reforma integral do decisum. CONTRARRAZÕ ES apresentadas
em fls 105/110, prestigiando a Sentença. RAZÕ ES DE DECIDIR. No que diz respeito à
preliminar de incompetência do Juizado pela necessidade de perícia não pode ser
acolhida, pois, nã o obstante se tratar de discussã o a respeito de recuperaçã o de consumo,
o fato é que a recorrente nã o indicou, de forma detalhada, os meios pelos quais alcançou o
valor a ser cobrado pelo suposto defeito no equipamento. Quanto ao mérito do recurso
deve-se dar parcial provimento, no que tange a inocorrência do dano moral e quanto à
devoluçã o de valores que deve ser feita na forma simples. Cabia à ré, em sua defesa,
apresentar o relató rio de constataçã o do defeito na bobina, além da planilha com a
discriminaçã o da metodologia utilizada para o cá lculo da recuperaçã o do consumo, que
deveria ser feita de forma clara, sem presunçõ es equivocadas, provando, também, o defeito
no equipamento. Nada disso foi apresentado. No entanto, entendo que a verba a título de
dano moral foi arbitrada de forma indevida, pois a questã o apenas tratou de cobrança de
débito pretérito, sem maiores repercussõ es na esfera moral da autora. Além disso, em que
pese o fato de que seja nulo o termo de ocorrência de irregularidade lavrado, no caso em
aná lise, a parte autora nã o foi privada do serviço prestado. Assim, nã o vislumbro elementos
suficientes e capazes de configurar o dano moral. Em relaçã o à devoluçã o em dobro,
entendo que deve se dar na forma simples, eis que nã o caracterizada a má -fé, conforme
precedentes do STJ. Nesse sentido: REsp 1161411/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 10/10/2011; AgRg no AREsp 241.565/RS,
Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe
10/12/2012; AgRg no REsp 915.232/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔ AS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 28/09/2012. ASSIM, VOTO NO SENTIDO
DE CONHECER E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DA RÉ PARA EXCLUIR A
CONDENAÇÃ O À REPARAÇÃ O DOS DANOS MORAIS E PARA QUE A DEVOLUÇÃ O DOS
VALORES SEJA FEITA NA FORMA SIMPLES. FICAM MANTIDOS OS DEMAIS TERMOS DA
SENTENÇA. Sem custas por se tratar de recurso com êxito. Rio de Janeiro, 06 de Outubro de
2015. ALEXANDRE CHINI Juiz Relator”
E) DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO
Conforme se observa da documentaçã o acostada aos autos, a promovente arcou com custos
elevados que a ré lhe repassou. Destaque-se que a ré tinha conhecimento de que tais
valores foram cobrados, vez que o autor realizou diversas reclamaçõ es, ou seja, nã o é caso
de engano justificá vel, mas pura má fé, devendo tais valores serem ressarcidos em dobro.
Assim, conforme se verifica nas faturas, observa-se que a autora vem pagando R$35,11
(trinta e cinco reais e onze centavos), a título de parcelamento da multa aplicada pelo
suposto TOI, devendo receber, portanto, esta soma em dobro, devidamente corrigida e
atualizada, na forma do pará grafo ú nico do Art. 42 do CDC, verbis:
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.
Desta feita, requer-se o pagamento em dobro de toda quantia a título de multa do TOI, por
se tratar de quantia paga indevidamente, sem existir hipó tese de engano justificá vel,
devendo tal soma ainda ser atualizada com juros de mora e correçã o monetá ria, na forma
da Lei.
F) DO DANO MORAL
Diante da prá tica do ilícito pela ré, surge dever de reparar os danos morais causados aos
autores. Neste sentido, a Constituiçã o Federal de 1988, no seu artigo 5º, incisos V e X, prevê
a proteçã o ao patrimô nio moral, in verbis:
"V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenizaçã o por
dano material, moral ou à imagem.”
[...] omissis
X – sã o inviolá veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenizaçã o pelo dano material ou moral decorrente de sua
violaçã o.”
Para AUGUSTINHO ALVIM, dano, em sentido amplo, é a lesã o a qualquer bem jurídico e aí
se inclui o dano moral; em sentido estrito, é a lesã o ao patrimô nio, e patrimô nio é o
conjunto de relaçõ es jurídicas de uma pessoa, apreciá veis em dinheiro.
Por MORAL, na dicçã o de Luiz Antô nio Rizzatto Nunes, entende-se" (...) tudo aquilo que está
fora da esfera material, patrimonial do indivíduo "(O Dano Moral e sua interpretaçã o
jurisprudencial. Sã o Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).
Portanto, a definiçã o de dano moral tem que ser dada sempre em contraposiçã o ao dano
material, sendo este o que lesa bens, apreciá veis pecuniariamente, e à quele, ao contrá rio, o
prejuízo a bens ou valores que nã o tem conteú do econô mico. Assim, a citada indenizaçã o
tem a finalidade de compensar a sensaçã o de dor da vítima e, ao mesmo tempo, produzir no
causador do mal, impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo atentado.
A reparaçã o que obriga o ofensor a pagar, e permite ao ofendido receber, é princípio de
justiça, com feiçã o, puniçã o e recompensa, dentro do princípio jurídico universal que adote
que ninguém deve lesar ninguém. Desta maneira:
" Todo e qualquer dano causado à alguém ou ao seu patrimô nio, deve ser indenizado, de tal
obrigaçã o nã o se excluindo o mais importante deles, que é o DANO MORAL, que deve
automaticamente ser levado em conta. "(V. R. Limongi França, Jurisprudência da
Responsabilidade Civil, Ed. RT, 1988).
Nesta modalidade de reparaçã o, Culto Magistrado, nã o se trata de pagar o transtorno e a
angú stia causada ao autor, mas sim de dar ao lesado os meios derivativos, com que se
aplacam ou afugentem esses males, através de compensaçã o em dinheiro, o quantum satis,
a fim de se afastar os sofrimentos ou esquecê-los, ainda que nã o seja no todo, mas, ao
menos, em grande parte.
E, no caso, a verdade é que nã o se pode negar o abrupto prejuízo moral da Requerente e
sua família, um vez que foram vítimas de um ato arbitrá rio e ilegal da empresa ré, sendo
exposto ao ridículo perante seus vizinhos e colegas.
Ora, nã o se pode admitir que instituiçõ es do porte da ré, de forma descompromissada e
irresponsá vel, nã o tomem as providencias cabíveis para solucionar o problema de forma a
evitar os absurdos transtornos a que foi submetido o requerente.
É curioso e triste constatar, que por irresponsabilidade, ignorâ ncia ou mesmo por dolo,
neste pais o consumidor ainda seja tratado com desprezo, embora repleto de razã o,
assumindo as grandes empresas a posiçã o ilusó ria de instituiçã o poderosas, sem qualquer
termos a sansõ es previstas na Lei 8.078/90, pelo mister a condenaçã o da ré na reparaçã o
dos prejuízos suportados pelos autores.
Nã o conformado e o pior, sem ter dado a oportunidade do requerente se defender
conforme preceitua a Lei Magna, no seu art. 5º, inclui LV, em relaçã o ao direito do
contraditó rio e ampla defesa.
IV – DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verifica-se que a estimativa de cá lculo feita, unilateralmente, pela ré, em recuperaçã o de
capital por suposta fraude em medidor que energia elétrica que esta afirma ter sido
realizado pela autora, tudo feito com base em resoluçã o da ANAEEL, além de nã o integrar o
sistema de proteçã o ao consumidor, ainda nã o encontra respaldo na doutrina e
jurisprudência, fato que por si só já enseja o cancelamento do débito apurado pela
concessioná ria.
Por todas as razõ es acima expostas, visa a autora sentença declarató ria de conteú do
negativo que declare nã o existir o débito em questã o, eis que o consumo auferido está
correto e compatível com o uso que foi dado ao imó vel. Ademais, a tutela antecipada busca
a manutençã o de um direito que lhe assiste.
V – DOS PEDIDO
Diante do exposto, vem requerer a V. Exa. O que segue:
1. em liminar a concessã o do benefício da gratuidade da justiça face a declaraçã o na
presente inicial e na procuraçã o, nã o podendo a autora arcar com as despesas e custas
judiciais em razã o de ser pobre, e já ter de arcar com as despesas de sua família;
2. o deferimento da antecipaçã o de tutela nos termos dos artigos 294 e 300 do Novo Có digo
de Processo Civil, de sorte que seja determinada (i) a imediata suspensã o dos efeitos do
Termo de Ocorrência de Inspeçã o nº, inclusive as suspensã o da cobrança na fatura de
consumo de energia, sob pena de multa de R$ 500,00 (quinhentos reais);
3. A citaçã o da ré no endereço indicado nesta inicial para, querendo, contestar os termos
desta sob pena de revelia e confissã o quanto à matéria de fato.
4. A inversã o do ô nus da prova, com fulcro no inciso VIII, do artigo 6º, da Lei nº 8.078/90,
ante a verossimilhança das alegaçõ es e da hipossuficiência Técnica da autora.
5. Seja a parte Ré ao final condenada a declarar inexistente qualquer cobrança a título de
irregularidade decorrente do suposto “desvio no ramal”, por nã o comprovado o furto de
energia elétrica, com a emissã o de novas faturas com valor médio; o pagamento a título de
indenizaçã o por danos morais no valor de R$8.000,00, pelos prejuízos suportados pelo
Autor, tudo com juros de mora e correçã o monetá ria a contar da acusaçã o do furto de
energia elétrica;
6. e como consequência do item acima, requer a condenaçã o dos requeridos,
solidariamente, nos termos do pará grafo ú nico do artigo 42 do CDC, à devoluçã o EM
DOBRO dos valores indevidamente pagos pelo requerente, devendo a incidência de juros e
correçã o monetá ria a ser apurado em liquidaçã o de sentença;
7. a TOTAL PROCEDÊ NCIA da presente açã o nos termos acima peticionados, declarando-se
insistente o débito alegado pela ré, bem como tornando definitivo o pedido de Tutela
Antecipada tornando definitiva a medida provisó ria.
8. a condenaçã o dos requeridos ao pagamento das custas processuais e honorá rios
advocatícios no percentual de 20%.
Protesta pela produçã o de todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente
provas documentais, perícia técnica, bem como eventuais provas testemunhais.
Por força do disposto no inciso I do artigo 106 do NCPC, indica como endereço em que
serã o recebidas eventuais intimaçõ es:
Dá -se o valor da causa de R$ 8.000,00 (oito mil reais).
Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2018.
ADV
OAB/RJ Nºx

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