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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE DIREITO

2° Módulo do Material de apoio de Ciência


Política e Direito Constitucional
II semestre

Por: Grupo de Estudo "Estudando Ius"

Luanda, Novembro de 2019.

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
Grupo de Estudo "Estudando Ius"

2° Módulo do Material de apoio de Ciência


Política e Direito Constitucional
II semestre

Material elaborado pelos integrantes


do grupo de estudo "estudando ius"
como manual de apoio para o grupo e
para à comunidade académica em
geral, que sirva para dar uma primeira
visão e suscitar a vontade de
aprofundar sobre os diferentes
assuntos que o presente manual
aborda.

Luanda, Novembro de 2019.

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 6
1. PODER CONSTITUINTE............................................................................................................... 7
a) Poder Constituinte Originário ........................................................................................... 7
i. Inicial ............................................................................................................................. 7
ii. Autónomo ..................................................................................................................... 7
iii. Omnipotente ................................................................................................................. 7
b) Poder Constituinte Derivado ............................................................................................. 8
c) Poder Constituinte Decorrente ......................................................................................... 8
1.1. Limites da Revisão Constitucional .......................................................................................... 8
a) Limites Formais ................................................................................................................. 8
b) Limites Temporais ............................................................................................................. 9
c) Limites Materiais ............................................................................................................... 9
d) Limites Circunstanciais ...................................................................................................... 9
1.2. Teoria da Relevância Relativa dos Limites Materiais ......................................................... 9
1.3. Teoria da Irrelevância dos Limites Materiais ................................................................... 10
1.4. Teoria da Relevância Absoluta dos Limites Materiais ...................................................... 10
2. CONSTITUCIONALISMO ........................................................................................................... 10
2.1. Constituição...................................................................................................................... 11
2.2. Classificação da Constituição ........................................................................................... 11
2.2.1. Quanto ao Conteúdo ................................................................................................. 11
2.2.2. Quanto a Forma ........................................................................................................ 12
2.2.3. Quanto ao modo de Elaboração ............................................................................... 12
2.2.4. Quanto a Origem ....................................................................................................... 12
2.2.5. Quanto a Estabilidade ............................................................................................... 13
2.2.6. Quanto a Extensão e Finalidade ................................................................................ 13
2.3. Diferença entre a constituição e o Direito constitucional............................................ 14
2.4. Sentido da Constituição ............................................................................................... 14
3. CATÁLOGO TÍPICO DA INTERPRETAÇÃO JURIDICO – CONSTITUCIONAL ................................ 15
4. CONSTITUCIONALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE ........................................................... 16
4.1. Tipologias das Inconstitucionalidades.............................................................................. 17
4.2. Sistema de Fiscalização da Inconstitucionalidade............................................................ 18
4.3. Objecto da Fiscalização (227º Da CRA) ............................................................................ 19

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4.4. Classificação da Fiscalização............................................................................................. 20
Quanto ao modo de impugnação ....................................................................................... 20
Quanto ao momento em que é feito .................................................................................. 20
4.5. Classificação dos Efeitos da decisão de Inconstitucionalidade ........................................ 20
a) Efeitos Gerais ou com força obrigatória geral............................................................. 21
b) Efeitos particulares...................................................................................................... 21
c) Efeitos retroactivos ou ex tunc ................................................................................... 21
d) Efeitos prospectivos ou ex nunc.................................................................................. 21
e) Inexistência.................................................................................................................. 21
5. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ...................................................................... 22
5.1. Perspectiva histórica que estiveram na base da criação dos direitos humanos .............. 22
5.2. A Dupla Natureza dos Direitos Fundamentais ................................................................. 23
5.3. As Gerações/Dimensões dos Direitos Fundamentais ...................................................... 23
1ª Geração ........................................................................................................................... 23
2ª Geração ........................................................................................................................... 24
3ª Geração:.......................................................................................................................... 24
4ª Geração:.......................................................................................................................... 24
5ª Geração:.......................................................................................................................... 24
5.4. As Funções dos Direitos Fundamentais ........................................................................... 25
5.5. Deveres Fundamentais ..................................................................................................... 25
5.6. Garantias de Protecção aos Direitos Fundamentais ........................................................ 26
a) Garantias jurisdicionais ou contenciosas .................................................................... 26
b) Garantias não Jurisdicionais ou administrativa∕graciosas .......................................... 26
c) Garantias Internacionais ............................................................................................. 26
5.7. Regime Jurídico dos Direitos Fundamentais .................................................................... 27
6. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO....................................................................................... 27
6.1. Princípio do Estado de Direito .......................................................................................... 27
6.1.1. Juridicidade ............................................................................................................... 28
i. Matéria, procedimento e forma ................................................................................. 28
6.1.2. Princípio da Constitucionalidade............................................................................... 29
6.1.3. Garantia da administração autónoma local ........................................................ 31
6.1.4. Sistema de direitos fundamentais....................................................................... 32
6.1.5. Divisão de poderes .............................................................................................. 32
6.2. Sub-princípios concretizadores do Princípio do Estado de Direito .................................. 32

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a) Princípio da legalidade da administração ................................................................... 32
b) Princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança dos cidadãos ............... 32
c) Relativamente aos actos normativos: ......................................................................... 33
d) Princípio da proibição do excesso ............................................................................... 33
e) Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais e procedimentais .......... 34
f) O Princípio da Garantia da via judiciária ..................................................................... 35
6.3. Caracterização do Princípio Democrático ........................................................................ 35
6.3.1. Princípio da Soberania Popular: ................................................................................ 35
6.3.2. Princípio da Representação Popular: ........................................................................ 35
6.3.2. Direito de Sufrágio: ................................................................................................... 36
7. ESTADO DE EXCEPÇÃO CONSTITUCIONAL .............................................................................. 37
7.1. Sistema Constitucional das Situações de Crise ................................................................ 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 39

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INTRODUÇÃO
O presente trabalho resulta da iniciativa do grupo de estudo "Estudando Ius", que com
o objetivo de tornar mais fácil a compreensão das matérias jurídico-constitucionais
produziu este material de estudo, que além de manual interno do grupo sirva também
para a comunidade académica em geral.

O grupo "Estudando Ius" é composto por 10 elementos (homens e mulheres) que


formou-se, em primeiro, por iniciativa dos próprios estudantes e em segundo, por uma
orientação pedagógico-académica do corpo docente para com a turma.

O trabalho em apresentação é uma produção dos estudantes do primeiro ano do Curso


de Direito pós-laboral, turma única. Trata-se de um trabalho não acabado, que é
susceptível de erros, razão pela qual aconselhamos a todos os leitores a consultarem
outros manuais para além deste de modo a enriquecer os conhecimentos e a preencher
as possíveis lacunas de informação que podem encontrar ao longo do trabalho.

Após o lançamento do primeiro módulo, correspondente ao primeiro semestre, achamos


ser fundamental colocar a disponibilidade o segundo módulo que compreende apenas as
matérias do segundo semestre da disciplina de Ciência Política e Direito Constitucional.

Este material foi elaborado com alguma pressa tendo em conta a proximidade dos
exames, razão pela qual poderá encontrar, além de alguns erros ortográficos e outros,
uma falta de cientificidade.

Esperamos que seja proveitoso para todos nós.

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1. PODER CONSTITUINTE
É o poder de elaborar as normas constitucionais, a faculdade de um povo definir as
grandes linhas do seu futuro colectivo através da feitura da constituição.1

O Poder Constituinte reside no povo que não podendo exercê-lo directamente, fá-lo
através de representantes eleitos numa assembleia. É o poder que um povo tem de
elaborar a sua própria constituição.

O Poder Constituinte pode ser Originário, Derivado e Decorrente.

a) Poder Constituinte Originário: é lógica e cronologicamente anterior à


Constituição pelo que não lhe está vinculado, é o poder de criar uma
constituição ex-novo para um Estado que nunca a teve ou já não a tem em
virtude de uma desagregação social.

Esse poder se dá quando há uma ruptura na ordem constitucional ou um golpe de


Estado, a não ser que a constituição admita a revisão total, ou seja, não estabeleça
limites. Ex.: Em Angola, em 1975 (estivemos numa fase de secessão de Estado), pois
deixamos de ser uma colónia ou província ultramarina e passamos a ser um Estado
soberano.

As características do poder constituinte originário são:

i. Inicial: por não existir antes dele qualquer poder que lhe sirva de fundamento.
Uma crítica que tem se feito a esta característica é que na verdade não é ex-
novo, porque tem sempre uma ideia como base que só é formalizada.
ii. Autónomo: por ser independente, só a ele competirá decidir se, como e quando
elaborar a constituição.
iii. Omnipotente: por não estar subordinado a nenhuma regra de fundo ou de
forma. Há quem diz que não é omnipotente porque não pode tudo, tem algumas
pré-condições.

Os limites a que se associa o poder constituinte originário são: transcendência, imanente


e heteronomia.

1
SOUSA, Marcelo Rebelo. Apud MAGALHÃES, Maria Manuela & ALVES, Dora Resende. Noções de Direito
Constitucional e Ciência Política.
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b) Poder Constituinte Derivado: é também conhecido como poder de revisão.
É o poder de alterar ou rever normas da constituição, ele respeita os limites
consagrados na constituição vigorante, não sendo inicial nem autónomo, mas
sim dependente e condicionado.

O poder constituinte derivado terá de se mover dentro dos quadros constitucionais e é


uma faculdade concedida pela constituição, decorre dela. Como tal, é um poder
constituído, tal como são todos os restantes criados pelo poder constituinte originário: o
legislativo, executivo e judicial. É o poder de rever a constituição existente para corrigir
imperfeições ou colmatar lacunas ou para a adoptar à evolução da sociedade.

c) Poder Constituinte Decorrente: É próprio dos Estados federados. Tem


atenção não só a sua constituição, mas também a constituição do Estado federal,
ou seja, em casos de alteração constitucional, não se respeita apenas os limites
da constituição do Estado federado, mas também os da constituição do Estado
federal. Ex.: se o Estado de Nova York pretender rever a sua constituição não
respeitará apenas os limites consagrados nesta mesma constituição, também
terá que respeitar os limites consagrados na constituição dos Estados Unidos.

1.1. Limites da Revisão Constitucional


Os limites devem ser entendidos como mecanismos de defesa da constituição, evita que
o legislador faça a revisão da constituição desorganizadamente. "A iniciativa de revisão
compete ao Presidente da República ou a 1/3 dos Deputados em efectividade de
funções" (233º da CRA- limite formal).

a) Limites Formais: A reforma da Constituição deve observar o devido processo


legislativo especial de elaboração da emenda. Esse processo, por ser mais
dificultoso do que o ordinário, caracteriza-se como um limite à alteração do
texto constitucional. Em outras palavras, para que uma emenda seja aprovada, os
requisitos serão mais rígidos do que os da aprovação de uma lei ordinária. Sobre
os limites procedimentais ou formais, assinala a doutrina. No nosso caso, a
Constituição, para a iniciativa de revisão constitucional, legitima apenas o
Presidente da República e 1∕3 dos Deputados à Assembleia Nacional em

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efectividade de funções, ou seja, é uma competência orgânica, cabendo apenas
aos órgãos de decisão política (conferir artigo 233° da CRA).
b) Limites Temporais: Algumas constituições estabelecem que o seu texto não
pode ser alterado em um prazo pré-estabelecido. No contexto de Angola, a nossa
Constituição consagra dois períodos, um ordinário e um extraordinário (conferir
artigo 235° da CRA).
c) Limites Materiais: Determinados temas são intangíveis ou imodificáveis na
Constituição. São cláusulas pétreas, que não podem sofrer alteração,
modificação e, por isso, são também denominadas núcleos eternos da
constituição. Os limites materiais funcionam como o coração, o motor da
Constituição, por isso merecem uma atenção especial e não podem ser mexidos
à toa, por isso, qualquer alteração à constituição deve respeitar os limites
materiais consagrados no artigo 236° da CRA.
d) Limites Circunstanciais: a Constituição é o texto legal mais importante
existente no ordenamento jurídico. Por isso, só pode ser alterada se a sociedade
estiver estável. Não pode ser alterada nos momentos de intranquilidade, de
instabilidade. Estes limites trazem um conjunto de situações que perante elas
não pode haver revisão constitucional fruto da instabilidade que se vive, estando
assim perante uma situação de exceção constitucional (conferir artigo 237° da
CRA).

1.2. Teoria da Relevância Relativa dos Limites Materiais

Esta teoria, defende que os limites materiais não podem por si só impedir alteração que
atinjam a si próprio. Obrigam a adopção de processos de revisão que se denomina dupla
revisão. Numa primeira fase, elimina-se o limite que impede o que se quer consagrar e,
na segunda revisão consagra-se o que se pretendia. Ex.: se quiséssemos alterar a forma
de Estado para um Estado complexo, fazíamos uma revisão que eliminaria a forma
unitária do Estado como limite material e na segunda revisão consagrava-se o Estado
complexo. Esta teoria é defendida pelo professor Jorge Miranda.

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1.3. Teoria da Irrelevância dos Limites Materiais

Essa teoria é defendida pelo prof. Marcelo Caetano, segundo o qual tudo que a
constituição escrita contém pode ser objecto de revisão. Não pode ser congelada num
dado momento histórico, não pode ser limitada pelo legislador que age num dado
momento histórico. Se assim fosse, teria de se apelar para um golpe de Estado sempre
que a constituição deixasse de responder a realidade.

1.4. Teoria da Relevância Absoluta dos Limites Materiais

Defendida pelo professor Joaquim Gomes Canotilho, segundo a qual deve se respeitar
na íntegra os limites materiais, sob pena de gerar uma nova ordem constitucional e
consequentemente um novo Estado.

2. CONSTITUCIONALISMO
É como se denomina o movimento social, político e jurídico e até mesmo ideológico a
partir do qual emergem as constituições nacionais.

É preciso não esquecer que o constitucionalismo é precedido pelos seus antecedentes


históricos tidos como certos documentos de inegável importância e relevância onde era
já evidenciado a intenção de limitar o poder político e proteger os direitos dos cidadãos,
tais como:

 1215 – A Magna Carta, de 15 de Julho impostas a João Sem Terra pelos barrões
ingleses;
 1620 – O compacto celebrado a bordo do Mayflower;
 1628 – A Petição do Direito de 07 de Junho de 1628, imposta pelo parlamento a
Carlos I° de Inglaterra;
 1639 – As fundamental Ordens of Connecticut;
 1689 – Bill of Right, ou declaração de direito, após a deposição de Carlos Stuart.

Para falar do surgimento das Constituições, deve se falar da declaração do direito do


Estado de Virgínea em 1776, que teve ligado ao condão da constituição escrita, e isso
fez com que em 1781 o EUA aprovasse a primeira constituição confederal dos Estados

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Americanos. Em 1787 é aprovado a primeira constituição de Filadélfia. Posteriormente
chegou à Europa pela França em 1791.

2.1. Constituição: é um conjunto de normas jurídicas que definem a estrutura, os fins,


as funções, a organização, a titularidade, o exercício e o controlo ou fiscalização do
poder político.

A constituição apresenta três partes:

 1º Parte – Regulamento o funcionamento do Estado enquanto poder;


 2º Parte – Dos direitos, liberdades e garantias;
 3º Parte – É a parte de auto-defesa da constituição, ela esclarece que todos os
actos devem estar conforme a constituição.

2.2. Classificação da Constituição

2.2.1. Quanto ao Conteúdo:

a) Material – são conjuntos de normas substancialmente constitucionais, escritas


ou costumeiras, que podem ou não estar inseridas num texto constitucional. Isto
porque nem todas as normas materialmente constitucionais estão no texto
constitucional, ou seja, é o conjunto de normas que vêm na constituição e
aquelas mesmo que não estando têm dignidade de normas constitucionais. Ex.:
Normas referentes a nacionalidade angolana, que estão numa lei ordinária (lei n
2-16 de 15 de Abril, Lei da nacionalidade);
b) Formal – refere-se as normas que estão apenas na constituição escrita, ou seja,
são documentos escritos e solenes que apenas podem ser alterados mediante
procedimentos constitucionais estabelecidos na lei fundamental. A constituição
no seu sentido formal tem três elementos essenciais:
i. a intencionalidade na formação: as normas constitucionalmente formais com a
intenção de serem constitucionais, elaboradas por um poder com legitimidade
para este fim, de acordo com um processo específico de formação.
ii. consideração sistemática: significa que as normas formalmente integram-se
num conjunto sistemático co uma unidade e coerência própria, dentro da unidade

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e da coerência gerais do ordenamento jurídico entende-se colocadas no topo
deste ordenamento jurídico.
iii. força jurídica própria ou superior: as normas formalmente constitucionais
gozam de um estatuto ou regime imposto por tais características pela função que
exerce, o que é notório na sua interpretação, integração e aplicação e garantia.

2.2.2. Quanto a Forma:

a) Escrita ou Instrumental – é o conjunto de regras sistematizadas e organizadas


em um único documento estabelecendo as normas fundamentais de um Estado.2
São os casos das leis constitucionais de 1975, 1991, 1992, a constituição da
República de Angola de 2010.3
b) Não Escrita ou Costumeiras – são aquelas em que as normas constitucionais
não estão reunidas num documento formal e solene, mas estão distribuídas em
diversos documentos legais4. É o caso, p. Ex.: como é o caso da Inglaterra.

2.2.3. Quanto ao modo de Elaboração:

a) Dogmática: é a elaborada por um órgão constituinte, e sistematiza os dogmas ou


ideias fundamentais da teoria política e do direito dominantes momento. Ex.: a
Constituição angolana de 2010.
b) Histórica: é o fruto da lenta e contínua síntese do processo de formação da
história, das tradições e da cultura de um determinado povo. Ex.: a constituição
Inglesa.

2.2.4. Quanto a Origem:

a) Promulgada: resulta de um trabalho do poder constituinte que tem como dever


elaborar uma constituição, tendo a possibilidade de serem precedidas de um
referendo populacional.
b) Outorgada: são elaboradas e estabelecidas através da imposição de um poder,
sem representação do povo (poder constituinte).

2
ARAÚJO, Raul. Introdução ao Direito Constitucional Angolano. p.40, 2018.
3
LUÍS, Pedro Manuel. Curso de Direito Constitucional Angolano. p.78, 2014
4
ARAÚJO, Raul. Introdução ao Direito Constitucional Angolano. p.40, 2018.
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c) Cesarista: é aquela formada por plebiscito popular sobre um projeto elaborado
por um imperador (plebiscito Napoleonicos) ou um ditador (plebiscito de
Pinochet). A participação popular, nesses casos, não é democrática, pois apenas
ratificar a vontade do detentor do poder;
d) Pactuadas: surgem através de um pacto, são aquelas em que o poder
constituinte originário se concentra nas mãos de mais de um titular. Ex.: a
Magna Carta de 1215.

2.2.5. Quanto a Estabilidade:

a) Imutáveis: são uma relíquia histórica, não admitem alterações.


b) Rígidas: é aquela que só pode ser modificada mediante um processo específico
mais solene e dificultoso, nela previsto e distinto do processo legislativo
ordinário, ou seja, do processo de alteração das normas não constitucionais. São
aquelas em que se estabelecem procedimentos especiais para a sua aprovação ou
alteração. É a própria constituição que estabelece o ritualismo para a sua
alteração, que compreende a observância dos chamados limites de revisão
constitucionais (limites materiais, formais, temporais e circunstanciais). Por
exemplo, a Constituição da República de Angola apresenta um processo
especial para a sua alteração (artigo 233° a 237°). De acordo com o
estabelecido no artigo 234°, as alterações à Constituição são aprovados por 2/3
dos deputados em efectividade de funções.
c) Flexíveis: pode ser livremente revista ou modificada pelo legislador segundo o
mesmo processo adoptado para a elaboração e revisão de leis ordinárias, não
existindo hierarquia entre constituição e lei infra-constitucional.
d) Semi-Rígidas: é aquela que tanto é rígida como flexível (mista), ou seja, só
pode ser modificada pelo processo legislativo ordinário por um lado, e, por
outro, somente mediante um processo específico solene e dificultoso. Agrava o
procedimento de algumas normas, já para outras não é tão rígido.

2.2.6. Quanto a Extensão e Finalidade:

a) Analítica ou Longas: em sentido distinto encontramos constituições longas,


analiticas, que são amplas e minunciosas. São mais detalhadas, têm mais artigos

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e consequentemente são mais volumosas. Ex.: A constituição de Angola de 2010
que tem 244 artigos.
b) Sintética ou Curtas: quando abrange apenas princípios gerais ou enuncia regras
básicas de organização e funcionamento do sistema jurídico estatal, deixando a
parte de pormenorizar à legislação complementar ou orgânica. São aquelas
enxutas, veiculadoras apenas dos princípios fundamentais e estruturais do
Estado. Não descem às minúcias, motivo pelo qual, são mais duradouras, na
medida em que os seus princípios estruturais são interpretados e adequados aos
novos anseios pela atividade da suprema corte. Ex.: A constituição Americana
de 1787 que possui apenas 7 artigos e ainda continua em vigor.

2.3. Diferença entre a constituição e o Direito constitucional

Constituição ≠ Direito Constitucional


É um documento; É um ramo do Dto Público;
Em regra documento escrito; É um ramo do Dto público interno;
É de natureza normativa; Estuda muito mais do que a constituição;
É o objecto de estudo da ciência do Dto
Constitucional.

O sentido da Constituição é diferente da classificação da Constituição.

2.4. Sentido da Constituição

Tem a ver com a forma que olhamos para um determinado ordenamento, face ao modo
de produção, execução das normas, em função do contexto que elas nasceram.

1- Sentido Formal: tem a ver com o modo de solidificação das forças normativas.
Ou seja, estamos a nos referir daquelas nações que têm uma constituição,
estando num único documento. A que considerar aqui factores como a
intencionalidade constituinte, ou seja, as pessoas que aprovam essa constituição
devem estar conscientes do acto; a que considerar também a força normativa
superior e por fim a consistência própria das normas constitucionais.
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2- Sentido Material: O seu interesse prático é mais abrangente em relação ao
sentido formal, pois este engloba um conjunto de documentos que têm validade
constitucionais. Ex.: Lei dos Partidos Políticos, Lei da Nacionalidade etc.
3- Sentido Instrumental: Do latim Instrumentum, que tem a ver com o suporte
que assegura a constituição, ou seja, estabilizada numa base a que se pode
indicar como sendo constituição.

3. CATÁLOGO TÍPICO DA INTERPRETAÇÃO JURIDICO –


CONSTITUCIONAL
1º - Princípio da Unidade da Constituição

Este princípio tem especial importância quando se considera que a interpretação da


constituição deve ser feita de forma a evitar contradições. Obriga o interprete a
considerar a constituição na sua globalidade e procurar harmonizar os espaços de tensão
existentes entre as normas constitucionais a concretizar.

Portanto, o interprete deve considerar as normas constitucionais como preceitos


integrados num sistema interno unitário de normas e princípios, considerados na sua
globalidade como um todo e procurar harmonizar os espaços de tensão e evitar as
antinomias que possam existir.

2º - Princípio do efeito integrador

É o princípio pelo qual na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, deve dar-se


primazia aos critérios que favoreçam a integração política. Assim, este princípio é
aquele que arranca da conflitualidade constitucionalmente racionalizada para conduzir
as soluções pluralisticamente integradoras.

3º - Princípio da máxima efectividade ou da eficiência

É o princípio pelo qual o sentido da norma constitucional deve ter a mais ampla
efetividade social. Pois, a uma norma constitucional deve ser atribuido o sentido que
maior eficacia lhe der. É hoje, sobretudo, invocado no âmbito dos direitos
fundamentais, sendo que nem todas as normas são perceptivas, podendo algumas serem
programáticas.

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4º - Princípio da Justeza ou da conformidade

É aquele princípio que tem em vista impedir a alteração da repartição de funções


constitucionalmente estabelecidas, ou seja, os órgãos encarregados da interpretação da
norma constitucional não poderão chegar a uma posição que subverta, altere ou perturbe
o esquema organizatório funcional constitucionalmente estabelecido pelo legislador
constituinte originário.

5º - Princípio da concordância prática ou da harmonização

É aquele princípio que impõem a coordenação e integração dos bens jurídicos em


conflito, de forma a evitar o sacrifício de uns em relação aos outros. Ex.: Direitos
Fundamentais.

6º - Princípio da força normativa da Constituição

Na solução de problemas jurídicos constitucionais, deve dar-se prevalência aos pontos


de vista que contribuem para uma eficácia óptima da lei fundamental. Todavia, deve
dar-se primazia às soluções hermenêuticas constitucionais que possibilitam a
actualização normativa garantindo a sua eficácia e permanência.

7° - Princípio da interpretação das leis conforme a Constituição

No caso de normas polissémicas deve dar-se preferência a interpretação que lhe dê um


sentido em conformidade com a constituição, ou seja, as leis ordinárias devem ser
conforme à constituição e nunca o contrário.

4. CONSTITUCIONALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE
A constitucionalidade é a conformidade de uma norma ou um acto praticado por
órgãos do poder político com o texto da constituição (conferir artigo 226º da CRA).

A inconstitucionalidade é a desconformidade de uma norma ou de um acto praticado


por órgãos do poder político com o texto da constituição.5

5
MAGALHÃES, Silva & ALVES, Resende. Noções de Direito Constitucional e Ciência Política. p.173, 2011.
Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
Entretanto, se uma norma regulamentar violar directamente a lei, estamos em presença
de um vício de ilegalidade. E se uma norma jurídica violar directamente a constituição
estamos perante a um vício da inconstitucionalidade.

Não são susceptíveis de apreciação quanto à sua constitucionalidade os actos de


entidades privadas vinculadas ao cumprimento da constituição, mas apenas os actos ou
omissões dos órgãos do poder político.

Para se verificar uma Inconstitucionalidade tem que haver, uma violação a uma norma
constitucional. As inconstitucionalidades, nunca vêm em tese, em geral, há sempre um
enquadramento exacto, e só faz sentido falar de inconstitucionalidade quando na relação
jurídica em causa um dos sujeitos em causa for um órgão de soberania ou um órgão
público que exterioriza um acto que não devia, ou deixa de exteriorizar o que devia.

4.1. Tipologias das Inconstitucionalidades

Implica dizer, que sempre que se verificar uma inconstitucionalidade, a que saber, qual
o tipo e por quê? Entretanto, a inconstitucionalidade pode se verificar das seguintes
maneiras:

Directa: quando uma norma infraconstitucional viola directamente a constituição ou


seus princípios nos termos do número 2 do artigo 226° da CRA.

Indirecta: quando uma norma viola normas interpostas (formalmente não são
constitucionais, materialmente são, ou seja, tem matéria que interessa a constituição).
Uma norma infraconstitucional contraria a constituição pelo facto de contrariar uma
norma a que a Constituição atribui um valor superior ao da primeira.

Omissão: É o não cumprimento da constituição, por omissão das medidas legislativas


necessárias para tornar exequíveis as normas constitucionais. Resulta da não actuação
de um órgão legislativo ou pela sua actuação insuficiente. Verifica-se no caso de não
desenvolvimento das normas constitucionais não exequíveis por si próprias (conferir
artigo 232º da CRA).

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
Por Acção: verifica-se quando a desconformidade resulta de uma actuação de um órgão
do Estado, nos termos do artigo 226° da CRA. Portanto a inconstitucionalidade
material, formal e orgânica são inconstitucionalidade por acção.

Consequente ou derivada: resulta da elabotação de um documento com base num


originário que também viola a constituição.

Material: ocorre quando a inconstitucionalidade resulta da contradição entre um acto


normativo e o conteúdo de uma norma ou princípio constitucional. Em regra a
inconstitucionalidade material é sempre inconstitucionalidade parcial.

Procedimental e Formal: quando o acto normativo adopta uma forma ou um processo


diferente do constitucionalmente prescrito. A falta de uma formalidade ou a sua prática
fora do tempo certo. São os vícios que incidem sobre o acto normativo enquanto tal,
independentemente do seu conteúdo e tendo em conta apenas a forma da sua
exteriorização. Em regra essa, é sempre uma inconstitucionalidade total.

Orgânica: quando o acto normativo provém de um órgão constitucionalmente


incompetente para o efeito. Em regra essa, é sempre inconstitucionalidade total.

Total: é total se abrange todo o acto normativo.

Parcial: é parcial se abrange só parte do acto normativo, algum ou alguns artigos.

Em regra a inconstitucionalidade material é parcial enquanto a inconstitucionalidade


formal e orgânica é total.

Originária: surge quando uma norma infraconstitucional contraria uma norma de uma
constituição que lhe é anterior.

Superveniente: ocorre quando uma norma ordinária, inicialmente constitucional, passa


a inconstitucional por, entretanto entrar em vigor uma norma constitucional que a
contraria. Só se revela se for material.

4.2. Sistema de Fiscalização da Inconstitucionalidade

Trata-se de escolher o modo pelos quais os órgãos competentes vão policiar as normas
constitucionais. Os sistemas de fiscalização da constitucionalidade podem ser:

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
1º Sistema Difuso: em que a competência para fiscalização é atribuída a vários órgãos.
É o modelo americano, significa que qualquer juíz, ou qualquer tribunal pode recusar
uma norma que considere inconstitucional num letígio que tenha que dirimir, porém as
suas decisões não são definitivas, pois têm sempre recurso aos tribunais da mesma
jurisdição ou a um tribunal superior.

2º Sistema Concentrado: em que a competência para a fiscalização é atribuída a


apenas um órgão. É um sistema Austríaco. Hans Kelsen dizia que devia existir um
tribunal especializado para fiscalizar as questões constitucionais, no caso o tribunal
constitucional, ou haver um outro que não tendo o mesmo nome, se encarregue
exclusivamente para esse fim.

3º Sistema Misto: em alguns países como Portugal e Angola, por exemplo, vigora um
sistema misto de controlo da constitucionalidade. Os Tribunais de jurisdição comum
podem, sempre que surja um incidente de inconstitucionalidade, decidir sobre o mesmo,
sem prejuízo do recurso para o tribunal constitucional. Este, por sua vez, conhece e
decide, em regime de monopólio, os processos de fiscalização abstrata preventiva e
sucessiva da constitucionalidade, para além de decidir, em última instância, os
processos de fiscalização sucessiva concreta da constitucionalidade.

É a opção de modelo escolhido por Angola, fundamentado legalmente nos artigos 177º
e 180º da CRA.

4.3. Objecto da Fiscalização (227º Da CRA)

São passíveis de fiscalização da constitucionalidade, todos os actos que


consubstanciassem violações de princípios e normas constitucionais, nomeadamente.

a) os actos normativos;

b) os tratados, convenções e acordos internacionais;

c) a revisão constitucional;

d) o referendo.

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
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Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
4.4. Classificação da Fiscalização

Quanto ao modo de impugnação os principais são:

Por via Incidental ou por via da excepção: a incontitucionalidade do acto normativo,


só pode ser invocada no decurso de uma acção submetida à apreciação dos tribunais. A
questão de inconstitucionalidade é levantada por via de incidente, por ocasião e no
decurso de um processo comum, sendo discutida na medida em que seja relevante para
a solução do caso concreto. Isto é, há um processo que corre em tribunal e sendo
levantada a questão da inconstitucionalidade de uma norma, o processo principal fica
suspenso até essa questão ser decidida, que corre em processo incidental. Trata-se da
fiscalização sucessiva.

Por via Principal: As questões de inconstitucionalidade podem ser levantadas, a título


principal, mediante processo constitucional autónomo, junto de um tribunal com
competências para julgar da desconformidade dos actos das autoridades públicas. Aqui,
o único processo a ser dirimido é o da fiscalização da constitucionalidade. É permitido
aos cidadãos ou a certas entidades a impugnação de um acto normativo inconstitucional
independentemente da existência de qualquer litígio.

Quanto ao momento em que é feito, os principais são:

Preventiva: é o acto de controlo anterior ao momento da entrada em vigor do acto


normativo, isto é, feita antes da norma ser publicada no jornal Oficial (Diário da
República), quando a norma vai para a promulgação pelo Presidente da República ou
assinatura pelo Representante da República. Ou seja, esse tipo ocorre quando a norma
foi aprovada, porém não promulgada, nem publicada pelo P.R não entrando
consequentemente em vigor (conferir artigo 228º da CRA).

Sucessiva: é o exame de fiscalização posterior ao momento da entrada em vigor do acto


normativo, ou seja, feita depois de a norma ser publicada no Jornal Oficial (Diário da
República), independentemente de já ter ou não entrado em vigor (conferir artigo 230º
da CRA).

4.5. Classificação dos Efeitos da decisão de Inconstitucionalidade

Essa classificação pode se dar da seguinte maneira:


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Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
a) Efeitos Gerais ou com força obrigatória geral: são o sistema em que o órgão
competente para a questão da constitucionalidade anula o acto com eficácia erga
omnes; ou seja, uma vez declarada inconstitucional deixa de produzir efeitos, o
acto, deixa de produzir efeitos para todas as pessoas, isto é, é eliminado do
ordenamento jurídico.
b) Efeitos particulares: são o sistema em que o órgão competente para a
fiscalização da constitucionalidade anula o acto com eficácia interpares. O acto
normativo reconhecido como inconstitucional é desaplicado no caso concreto
submetido à cognação do juiz, mas continuará em vigor até que seja anulado,
revogado ou suspenso pelos órgãos competentes.
c) Efeitos retroactivos ou ex tunc: são os efeitos próprios da nulidade em sentido
técnico, quando a eficácia invalidante abrange todos os actos, mesmo os
praticados antes da declaração da inconstitucionalidade, quando a declaração de
inconstitucionalidade faz com que a norma inconstitucional deixe de produzir
efeitos ex tunc, isto é, retroactivos, próprios da nulidade e ao mesmo tempo que
define a repristinação de qualquer norma eventualmente revogada pelo acto
normativo ora declarado inconstitucional. Nos termos do artigo 231° da CRA.
d) Efeitos prospectivos ou ex nunc: se a declaração de inconstitucionalidade faz
com que a norma inconstitucional deixe de produzir efeitos ex nunc, ou seja, a
partir do momento da sua declaração.
e) Inexistência: quando o acto normativo não produz quaisquer efeitos desde a
origem, mesmo que publicado, independentemente da sua declaração por
qualquer órgão, e os cidadãos não lhe devem obediência, podem opor-se-lhe por
desobediência ou resistência defensiva (não execução).
Nulidade, se a norma declara a data da sua entrada em vigor, por força da
decisão de não aplicação.
Anulabilidade, a norma declarada inconstitucional deixa de produzir efeitos a
partir do momento da declaração.

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Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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5. TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Direitos fundamentais nascem de uma base que se chama, direitos humanos. Não se
pode falar de direitos fundamentais sem falar de direitos humanos, aquele que é inerente
a pessoa humana desde que tenha nascido.

Os direitos humanos são as faculdades, liberdades e reivindicações inerentes a cada


pessoa, unicamente com fundamento da sua condição humana. Trata-se, por isso, de
direitos inalienáveis (ninguém, sobre algum pretexto, pode privar outro sujeito desses
direitos, para além da ordem jurídica existente) e independentes de qualquer factor
particular (raça, nacionalidade, religião, género…). Os direitos humanos também são
irrevogáveis (não podem ser abolidos) intransferíveis (uma pessoa não pode «ceder» os
direitos a outrem) e irrenunciáveis (ninguém pode renunciar aos seus direitos básicos).
Ainda que se encontrem protegidos pela maioria das legislações internacionais, os
direitos humanos representam uma base moral e ética, que a sociedade considera
fundamental respeitar para proteger a dignidade das pessoas (conferir artigo 66º do
Código Civil).

Os direitos humanos têm por objetivo, a proteção da personalidade humana na sua


dimensão social e impõem limites à autoridade e soberania dos Estados Modernos.

A condenação generalizada da pena de morte, da tortura e da prisão por motivos


políticos ou religiosos, do racismo e da xenofobia, do genocídio e da violação do
princípio da auto-determinação dos povos, constitui expressão do combate universal em
prol da promoção dos direitos humanos.

5.1. Perspectiva histórica que estiveram na base da criação dos direitos


humanos

1 – perspectiva ius naturalista ou filosófica: defende o facto de os direitos humanos


serem um direito natural que nasce com a existência do ser humano, estiveram na base
instrumentos jurídicos como a declaração dos direitos dos homens e aqui em função da
guerra, alguns direitos humanos ainda estavam mitigados.

2 – perspectiva universalista ou internacionalista: nesta perspectiva além de alguns


diplomas a ideia que se tinha é que não havia preconceitos em volta dos direitos
humanos, estiveram na base instrumentos e diplomas que vieram intensificar esse
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conceito, a Carta Africana dos Direitos dos Homens e do Povo aprovada em Nairobi
(Quénia em 1981), factores internacionais de Direito fundamental, aqui os direitos
humanos devem ser respeitados a nível internacional, vem defender o princípio da não
discriminação;

3 – perspectiva estadual ou constitucional: traz a constitucionalização dos direitos


humanos para os direitos fundamentais, não basta que existam os direitos humanos é
importante que cada Estado consagre os mesmos. E são consagrados na constituição
porque as normas constitucionais, são normas vinculativas, pois vinculam o Estado,
quando eles são consagrados na constituição por si só tornam-se limites materiais que
têm um papel que se violem normas primordiais da constituição, vem batizar o conceito
de direitos humanos nos direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais do Homem são a consagração dos direitos humanos garantida


pelos Estados aos seus cidadãos através das respectivas constituições ou leis
fundamentais. São os direitos humanos em vigor no ordenamento jurídico concreto num
dado momento histórico.

5.2. A Dupla Natureza dos Direitos Fundamentais

1 – perspectiva subjetiva/direito subjetivo propriamente dito: vem dizer que é um


direito inerente à pessoa humana que dá prerrogativa de alguém sendo titular do mesmo,
exigir de outrem ou do Estado um comportamento negativo (omissão – non facere) ou
positivo (acção - facere).

2 – perspectiva objetiva: serve como irradiação de todo ordenamento jurídico,


estaremos a falar do direito potestativo que consiste, em um acto voluntário ou
integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos que se impõem a outra parte, ainda
que esta não queira. Ex.: O direito de propor uma ação de divorcio desde que
respeitados os requisitos legais.

5.3. As Gerações/Dimensões dos Direitos Fundamentais

1ª Geração: abarca uma perspectiva histórica que veio proporcionar ideias mais abertas
que mudaram a vida das pessoas nas épocas da segunda guerra mundial. Nascem como

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Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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consequências das práticas vistas no tempo do iluminismo. Estes direitos são aplicados
directamente, são as chamadas normas prossecutivas. Alguns direitos de primeira
geração são:

 Direito à vida;
 Direito à Lliberdade;
 Direito à Propriedade;

2ª Geração: carecem de outros direitos para a sua aplicabilidade, são os chamados


direitos económicos, sociais e culturais, para a sua aplicação o Estado deve criar
políticas e leis para a sua aplicação. São direitos programáticos, não são de aplicação
directa. Normalmente quando se viola um destes direitos estamos perante a uma
inconstitucionalidade por omissão. Alguns destes direitos são:

 Direito ao trabalho;
 Direito à habitação;
 Direito à saúde;

3ª Geração: cujo o modelo é a solidariedade e fraternidade, materializa os direitos de


titularidade coletiva. Alguns destes direitos são:

 Direito ao meio ambiente;


 Direito ao desenvolvimento.

4ª Geração: que na acepção predominante refere a existência humana, em relação ao


risco da pesquisa biológico, sendo discutido temas relacionados com a engenharia
genética.

5ª Geração: de configuração recente, cujos direitos resguardados se diferenciam


conforme a perspectiva dada.

 Direito à paz;
 Direito ao cuidado e amor;
 Direito a todas as formas de vida;
 Direito de defesa contra a dominação biofísica.

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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5.4. As Funções dos Direitos Fundamentais

1ª- Função de prestação social: que visa exige que o Estado adote medidas
económicas e sociais para garantir os direitos sociais e económicas e culturais de cada
cidadão.

2ª Função de prestação perante terceiro: esta visa exigir que o Estado garanta a
protecção do cidadão perante acto de terceiros na relação interpessoal.

3ª Função da não discriminação: Todos são iguais perante a lei no modo de


tratamento seja interna ou externamente.

4ª Função de defesa e da liberdade: é tarefa do Estado assegurar a defesa do modo de


actuação, de modos que ela não possa ser violada. Ela é positiva na medida em que o
cidadão exige do Estado a adopção de determinados comportamentos e passa a ser
negativa nas circunstâncias em que o próprio cidadão obriga que o titular do poder
público adopte um comportamento negativo que visa proteger e não sancionar os
direitos e liberdades fundamentais do cidadão.

a) Positiva: quando o cidadão exige do Estado a adopção de um determinado


comportamento, através de critérios razoáveis.
b) Negativa: Dá-se quando o cidadão exige um comportamento negativo do Estado
para a não violação dos direitos fundamentais.

5.5. Deveres Fundamentais

1º- Deveres fundamentais conexos aos direitos fundamentais- são dependentes um


ao outro, o dever não anda indissociável, há uma conexão entre o direito e o dever. EX.:
O cidadão tem o direito à educação e o Estado tem o dever de construir mais
escolas.Um outro exemplo é que o cidadão tem o direito de se registrar e o dever de
votar.

2º- Deveres Fundamentais autónomos: São deveres fundamentais que estão implícitos
ao cidadão, mas não necessita de os exercer. Aqui, o exercício do direito não exige
necessariamente um dever. Ex.: O cidadão tem o direito à liberdade religiosa e não
deve necessariamente ir à igreja.

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Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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5.6. Garantias de Protecção aos Direitos Fundamentais

Rigorosamente, as clássicas garantias são também direitos, embora muitas vezes se


salientasse nelas o carácter instrumental de protecção dos direitos. As garantias
traduziam-se quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a protecção dos
seus direitos, quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa finalidade.
Ex.: direito de acesso aos tribunais para defesa dos direitos, princípios do nullum
crimen sine lege e nu/La poena sine crimen, direito de habeas corpus, princípio non bis
in idem).

a) Garantias jurisdicionais ou contenciosas: refere-se a garantia ao acesso aos


tribunais (conferir artigo 29º CRA). Aquilo que entra nos tribunais, que terá uma
apreciação jurisdicional, que será o objecto da apreciação dos tribunais.
b) Garantias não Jurisdicionais ou administrativa∕graciosas: entende-se que o
Estado é uma pessoa de bem., tanto é que a constituição da República, diz que
“o Estado não pode ser responsabilizado criminalmente” salvo o titular em
representação do Estado que pratique um acto desconforme a lei a
responsabilidade é apenas civil para o Estado (conferir artigo 75º da CRA).

Como o Estado não comete crimes, por isso, existe mecanismos para a defesa dos
direitos que esse representante violou e um dos mecanismos é a garantia não
jurisdicional ou administrativa.

Ela pode ser: o Direito a Resistência – Artigo 67º da CRA, Direito de Petição artigo 69º
da CRA, Reclamação, Recurso Hierárquico, Recurso Hierárquico Impróprio. Essas
também chamadas garantias graciosas; são as garantias que ocorrem junto da
administração pública.

c) Garantias Internacionais: é uma garantia segundo a qual, o Estado deve


também proteger os cidadãos relativamente a questões jurídico-internacionais
(conferir artigo 26°, nº3 da CRA). É a garantia dos Direitos dos cidadãos onde
quer que eles estejam, não apenas através do texto constitucional, como em
outros diplomas internacionais.

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Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
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5.7. Regime Jurídico dos Direitos Fundamentais

 Do art 22º ao 29º são disposições gerais;


 Do art 30º ao 75º são disposições em concreto do que são direitos, liberdades e
garantias fundamentais;
 Do art 76º ao 88º são disposições em concretos do que são deveres e direitos
económicos e sociais;

6. ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO


O Estado democrático de direito tem características próprias que o distinguem de outros
tipos de Estado. Este tipo de Estado funda-se em dois grandes princípios: Principio do
Estado de Direito e o Princípio do Estado Democrático, que por sua vez, têm
determinados pressupostos caracterizadores, como se verá de seguida.

6.1. Princípio do Estado de Direito

O conceito de Estado de direito é relacionado ao poder do Estado. É quando esse poder,


em relação às decisões que podem ser tomadas pelos governantes, é limitado pelo
conjunto das leis, pela ideia de direito.

O Estado de direito transmite a ideia de um Estado que se fundamenta e alicerça na


ideia de direito olhando nesta perspectiva, os princípios ou sub-princípios
concretizadores do Estado de direito servem como elementos necessários à existência
do Estado de direito.

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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O Estado de Direito apresenta como pressupostos formais e materiais os seguintes
princípios:

6.1.1. Juridicidade

i. Matéria, procedimento e forma

O princípio do estado de direito é, fundamentalmente, um princípio constitutivo, de


natureza material, procedimental e forma, que visa dar resposta ao problema do
conteúdo, extensão e modo de proceder da actividade do Estado. Ao «decidir-se» por
um Estado de direito a constituição visa conformar as estruturas do poder político e a
organização da sociedade segundo a medida do direito.

O direito compreende-se como um meio de ordenação racional e vinculativa de uma


comunidade organizada e, para cumprir esta função ordenadora, o direito estabelece
regras e medidas, prescreve formas e procedimentos e cria instituições. Articulando
medidas ou regras materiais com formas e procedimentos, o direito é, simultaneamente,
medida material e forma da vida colectiva (K. Hesse).

Forma e conteúdo pressupõem-se reciprocamente: como meio de ordenação racional, o


direito é indissociável da realização da justiça, da efectivação de valores políticos,
económicos, sociais e culturais; como forma, ele aponta para a necessidade de garantias
jurídico-formais de modo a evitar acções e comportamentos arbitrários e irregulares de
poderes públicos. Como medida e forma da vida colectiva, o direito compreende-se no
sentido de uma ordem jurídica global que «ordena» a vida política (especificamente
através do direito constitucional), regula relações jurídicas civis e comerciais (através do
direito civil e comercial), disciplina o comportamento da administração (direito
administrativo), sanciona actos ou comportamentos contrários ou «desviantes» da
ordem jurídica, designadamente por lesões graves dos bens constitucionalmente
protegidos (direito criminal), cria formas, procedimentos e processos para «canalizar,
em termos jurídicos», a solução dos conflitos de interesses públicos e privados (direito
processual, direito procedimental).

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Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
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6.1.2. Princípio da Constitucionalidade

a) Princípio do Estado constitucional: o Estado de direito é um Estado


constitucional. Pressupõe a existência de uma constituição normativa
estruturante de uma ordem jurídico-normativa fundamental vinculativa de todos
os poderes públicos. Só há um Estado Constitucional ou princípio do Estado
Constitucional quando a Constituição num Estado funciona como princípio de
acção e critério de sanção, ou seja, a constituição deve ser normativa. Do
princípio da constitucionalidade e da supremacia da constituição deduzem-se
vários outros elementos constitutivos do princípio do estado de direito:
b) Vinculação do legislador à constituição: a vinculação do legislador à
constituição sugere a indispensabilidade de às leis serem feitas pelo órgão, terem
a forma e seguirem o procedimento nos termos constitucionalmente fixados. Sob
o ponto de vista orgânico, formal e procedimental as leis não podem contrariar o
princípio da constitucionalidade. A constituição é, além disso, um parâmetro
material intrínseco dos actos legislativos, motivo pelo qual só serão válidas as
leis materialmente conformes com a constituição. A proeminência ou
supremacia da constituição manifesta-se, em terceiro lugar, na proibição de leis
de alteração constitucional, salvo as leis de revisão elaboradas nos termos
previstos pela própria Constituição (conferir artigos 6º nº2; 226º nº2 todos da
CRA).
c) Vinculação de todos os actos do Estado à constituição: o princípio da
conformidade dos actos do Estado com a constituição é mais amplo que o
princípio da constitucionalidade das leis. Ele exige, desde logo, a conformidade
intrínseca e formal de todos os actos dos poderes públicos (em sentido amplo:
Estado, poderes autónomos, entidades públicas) com a constituição (conferir
artigo 226º nº1 da CRA). Mesmo os actos não normativos directamente
densificadores de momentos políticos da constituição - actos políticos - devem
sujeitar-se aos parâmetros constitucionais e ao controlo (político ou jurídico) da
sua conformidade com as normas da Constituição. Ex.: violação do artigo 112º
nº1 da CRA. O princípio da constitucionalidade não é apenas uma exigência de
que actos dos poderes públicos não violem por acção as regras e princípios
constitucionais; também a omissão inconstitucional, por falta de cumprimento
Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga, Santos dos Santos e Sandra Fernandes.
Luanda, Novembro de 2019.
de deveres jurídicos de legislar contidos em normas constitucionais, constitui
uma violação do princípio da constitucionalidade (conferir artigo 232º da CRA).
Como corolário lógico do princípio da constitucionalidade e do princípio da
legalidade deve registar-se o dever da administração revogar os actos ilegais que
eventualmente tenha praticado.
d) O princípio da reserva da constituição: o princípio da supremacia da
constituição exprime-se também através da chamada reserva de constituição. Em
termos gerais, a reserva de constituição significa que determinadas questões
concernentes a organização, relacionamento e funcionamento dos órgãos de
soberania e mais órgãos estruturantes não devem ser reguladas por leis
ordinárias, mas sim pela constituição. Esta reserva de constituição articula-se
com a liberdade de conformação do legislador, ou seja, um espaço de
conformação atribuído ao legislador e que significa não ter querido a
constituição remeter para o órgão legiferante apenas tarefas de mera execução de
normas constitucionais. A reserva de constituição concretiza-se, sobretudo
através de dois princípios:
i. O princípio da tipicidade constitucional de competências: Na definição do
quadro de competências, as funções e competências dos órgãos constitucionais
do poder político devem ser exclusivamente constituídas pela constituição, ou,
por outras palavras, todas as funções e competências dos órgãos constitucionais
do poder político devem ter fundamento na constituição e reconduzir-se às
normas constitucionais de competência. O princípio fundamental do Estado de
direito democrático não é o de que o que a constituição não proíbe é permitido
(transferência livre ou encapuçada do princípio da liberdade individual para o
direito constitucional), mas sim o de que os órgãos do Estado só têm
competência para fazer aquilo que a constituição lhes permite (conferir artigo
105º nº2 da CRA).
ii. O princípio da constitucionalidade de restrições a direitos, liberdades e
garantias: No âmbito dos direitos, liberdades e garantias, a reserva de
constituição significa que as restrições de direitos só devem ser feitas
directamente pela constituição ou através de lei, mediante autorização

Elaboarado pelo grupo de estudo "estudando Ius", constituído por: Aires Munhingana,
Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente, Ismael Job, Marinela
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constitucional expressa e nos casos previstos pela constituição (conferir artigos
29º; 33º; 34º; 57º; 58º; 164º; 186º alínea d); 174º; todos da CRA).
e) Força normativa da constituição: O sentido prático deste princípio é o que
quando existe uma normação jurídico-constitucional ela não pode ser postergada
(deixar pra trás) quaisquer que sejam os pretextos invocados. Assim, o princípio
da constitucionalidade postulará a força normativa da constituição contra a
dissolução político-jurídica eventualmente resultante: (1) da pretensão (é o
direito de exigir de outrem, que faça ou deixa de fazer certo ato) de prevalência
de «fundamentos políticos», de «superiores interesses da nação», da «soberania
da nação», do «realismo financeiro» sobre a normatividade jurídico-
constitucional; (2) da pretensão de, através do apelo ao «direito» ou à «ideia de
direito», querer neutralizar a força normativa da constituição, material e
democraticamente legitimada, e substituir-lhe uma superlegalidade ou legalidade
de duplo grau ancorada em «valores» ou princípios transcendentes revelados por
instâncias desprovidas de legitimação política e jurídica (conferir artigo 6º e 28º
da CRA).

6.1.3. Garantia da administração autónoma local

A garantia da administração municipal autónoma é um elemento constitutivo do Estado


de direito. A história mostra ser o problema da administração autónoma uma questão
estreitamente conexionada com o princípio democrático. A democracia começa da base
para o topo e não o contrário. O princípio da garantia da autonomia local terá a ver com
o Estado de direito sobretudo nas dimensões de autonomia normativa e de garantia
institucional que assegura aos municípios um espaço de conformação autónoma cujo
conteúdo essencial não pode ser destruído pela administração estadual. Partindo da ideia
de que o nível mais desenvolvido de democracia é o local e não o central, significa que
num determinado Estado deve haver administração local autónoma, o Estado deve ficar
pela tutela, quando não há isso, a democracia é meramente formal (conferir artigos 213º,
217º, 218 e 224 da CRA).

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6.1.4. Sistema de direitos fundamentais

Um Estado de direito democrático basea-se no respeito e na garantia de efectivação dos


direitos e liberdades fundamentais. Os direitos fundamentais servem de limite na
actuação do Estado, uma vez que os mesmos são o estatuto jurídico da pessoa humana.

6.1.5. Divisão de poderes


As três dimensões anteriormente analisadas - juridicidade, constitucionalidade, direitos
fundamentais - indiciam já que o princípio do estado de direito é informado por duas
ideias ordenadoras:

(1) ideia de ordenação subjectiva, garantindo um status jurídico aos indivíduos


essencialmente ancorado nos direitos fundamentais;

(2) ideia de ordenação objectiva, assente no princípio da constitucionalidade, que, por


sua vez, acolhe como princípio objectivamente estruturante o princípio da divisão de
poderes. Estas duas dimensões não se divorciam uma da outra, mas o acento tónico
caberá agora à ordenação funcional objectiva do Estado de direito.

6.2. Sub-princípios concretizadores do Princípio do Estado de Direito


a) Princípio da legalidade da administração

O princípio da legalidade postula dois princípios fundamentais:


i. o princípio da supremacia ou prevalência da lei - significa que a lei
deliberada e aprovada pelo Parlamento tem superioridade e preferência
relativamente a actos da administração (regulamentos, actos administrativos,
actos pararegulamentares, actos administrativos gerais como circulares e
instruções);
ii. princípio da reserva de lei - afirma que as restrições aos direitos, liberdades e
garantias só podem ser feitas por lei ou mediante autorização desta.

b) Princípio da segurança jurídica e da protecção da confiança dos cidadãos

Na verdade são dois princípios, o da segurança jurídica e o da protecção da confiança


dos cidadãos. A segurança e a protecção da confiança exigem, no fundo: (1) fiabilidade,
clareza, racionalidade e transparência dos actos do poder; (2) de forma que em relação a
eles o cidadão veja garantida a segurança nas suas disposições pessoais e nos efeitos
jurídicos dos seus próprios actos. Todos os actos normativos têm de inspirar ou prever
segurança jurídica.
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i. Princípio geral da segurança jurídica - é o facto de dar a conhecer o que é
permitido e proibido;
ii. Princípio da segurança jurídica - o da determinabilidade, ou seja, não deve
haver variadíssimas interpretações das normas.

c) Relativamente aos actos normativos:

i. Precisão ou determinabilidade das normas jurídicas - a segurança


jurídica postula o princípio da precisão ou determinabilidade dos actos
normativos, ou seja, a conformação material e formal dos actos normativos
em termos linguisticamente claros, compreensíveis e não contraditório.
ii. Proibição de pré-efeitos jurídicos: o sentido prático é o de que quando uma
norma ainda não entrou em vigor os seus efeitos não podem ser já aplicáveis.
iii. Proibição∕excepcionalidade de normas retroactivas: as normas não são
feitas para o passado, mas para o futuro. Mas há uma excepção, os chamados
ex tunc, em casos de fiscalização a favor dos sujeitos. Uma das questões é a
das normas transitórias. A constituição determina o sentido ex nunc, o
sentido ex tunc só pode ser feito com permissão constitucional através das
normas transitórias.

d) Princípio da proibição do excesso

O princípio da proibição do excesso é um modo de controlar os actos administrativos e


do Estado em geral de modo que não ultrapassem os limites previstos na lei. Este
princípio nasce do contexto de jurisdicionalização no sentido de tornar o conteúdo mais
conforme, visando criar parámetros para os aspectos administrativos. Nasce ainda no
sentido de evitar medidas que restrinjam a liberdade, este princípio se concretiza por
meio de alguns sub-princípios:

i. Princípio da conformidade ou edequação: quando a administração vai


actuar, a medida que o Estado vai tomar deve ser adequada ou proporcional à
medida que se pretende alcançar.
ii. Princípio da exibilidade ou da necessidade: significa que a medida tomada
pela administração deve gerar a menor desvantagem possível no plano
material, espacial e temporal.

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iii. Princípio da proporcionalidade em sentido restrito: significa que depois
de prevista a medida, ainda não executada, a administração deve avaliar se
os possíveis resultados desta medida são justas, ou seja, medir se a força que
vai aplicar não é desproporcional com o particular.

e) Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais e


procedimentais

Este princípio tem uma componente processual e procedimental muito forte.

i. Garantias processuais e procedimentais: procedimentos referem-se a


regras que a lei ou o regulamento prevê que têm que ser exigido no âmbito
da administração. Ex.: Quando se recorre a quem decidiu estamos perante
uma reclamação. Se recorrermos para o superior de quem decidiu aí
estaremos perante um recurso gracioso, tendo em conta que se dá na
administração pública. É diferente se o caso for ao tribunal, pois as regras
para o caso ir à tribunal estão na constituição e na lei e aí já estaremos a
falar de garantias processuais e não procedimentais.
O princípio da tutela jurisdicional é o conteúdo prático deste princípio e o
efectiva em alcance menor, ou seja, quando a constituição ou a lei
consagram um direito, a mesma constituição e o legislador ordinário devem
criar condições (materiais, formais e procedimentais) de que se esses forem
violados terem condições de efectivarem a realização destes direitos, ou seja,
deve haver meios para proteger esses direitos (meios humanos e
processuais).
 Judiciais: tem a ver com o princípio a citação sob pena de nulidade do processo.
 Processuais penais: são raras. As garantias penais estão na constituição, fazem
parte dos direitos fundamentais (conferir artigo 56° ao 69°).
 Procedimento administrativo: A exigência de um procedimento juridicamente
adequado para o desenvolvimento da actividade administrativa considera-se
como dimensão insubstituível da administração do Estado de direito
democrático.

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f) O Princípio da Garantia da via judiciária

A abertura da via judiciária é uma imposição directamente dirigida ao legislador no


sentido de dar operatividade prática à defesa de direitos. Esta imposição é de particular
importância nos aspectos processuais. Comporta dimensões materiais, funcionais e
organizatórias.

6.3. Caracterização do Princípio Democrático

A Constituição da República de Angola, ao abraçar o Estado democrático de direito,


prescreve como limite ao exercício do poder político a existência de uma legitimidade
democrática.

Assim sendo, apenas podem exercer o poder político os que foram eleitos pelos
cidadãos através de processos eleitorais livres e periódicos. A Constituição considera
ilegítimo e criminalmente punível o exercício do poder político com base em meios
violentos ou por outras formas não previstas e conformes com a CRA e a lei (conferir
artigo 4º CRA com maior profundeza no nº2 do artigo 52 da CRA), e determina que o
poder político apenas pode ser exercido por quem obtenha legitimidade mediante
processo eleitoral livre mediante processo eleitoral livre e democraticamente exercidos,
nos termos fixados da CRA e na lei.

O princípio democrático tem como essência da democracia a fórmula de Lincoln, que


defendia que a democracia é “o governo do povo, pelo povo e para o povo”.

O princípio democrático apresenta os seguintes princípios formais caracterizadores:

6.3.1. Princípio da Soberania Popular: a legitimação do domínio político só pode


derivar do povo e nunca de qualquer outra entidade.

6.3.2. Princípio da Representação Popular: assenta em postulados que estabelecem


que o exercício jurídico de funções de domínio, constitucionalmente autorizado, é feito
em nome do povo, por órgãos de soberania do Estado, que há uma derivação directa da
legitimação de domínio do princípio da soberania popular e que o exercício do poder
tem em vista prosseguir os fins ou interesses do povo.

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6.3.2. Direito de Sufrágio: manifesta-se no direito de voto para a escolha de
representantes que exercem o poder político. O sufrágio nos termos da Constituição
(artigo 3º da CRA) e da lei é universal, livre, igual, directo, secreto e periódico.

1. Justificação do princípio democrático. A "formula de Líncoln".

1.1. A democracia como princípio normativo;

É conhecida a formulação de Lincoln quanto à "essência" da democracia: "governo do


povo, pelo povo e para o povo". Designamos aqui a fórmula de Lincoln como um modo
de justificação positiva da democracia. A Constituição, ao consagrar o princípio
democrático, não se «decidiu» por uma teoria em abstracto. Da mesma forma que o
princípio do estado de direito, também o princípio democrático é um princípio jurídico-
constitucional com dimensões materiais e dimensões organizativo-procedimentais.

2. O princípio democrático-normativo como princípio complexo;

Só encarando as várias dimensões do princípio democrático (proposto das chamadas


teorias complexas da democracia) se conseguirá explicar a relevância dos vários
elementos que as teorias clássicas procuravam unilateralmente transformar em ratio e
ethos da democracia. Em primeiro lugar, o princípio democrático acolhe os mais
importantes postulados da teoria, à saber:

i. democrática representativa - órgãos representativos, eleições periódicas,


pluralismo partidário, separação de poderes;
ii. democracia participativa, isto é, a estruturação de processos que ofereçam aos
cidadãos efectivas possibilidades de aprender a democracia, participar nos
processos de decisão, exercer controlo crítico na divergência de opiniões,
produzir inputs políticos democráticos.

3. A democracia como processo dinâmico;

A democracia é um processo dinâmico inerente a uma sociedade aberta e activa,


oferecendo aos cidadãos a possibilidade de desenvolvimento integral e de liberdade de
participação crítica no processo político em condições de igualdade económica, política
e social.

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4. O princípio democrático como princípio informador do Estado e da sociedade;

5. O princípio democrático como princípio de organização;

O princípio democrático não elimina a existência das estruturas de domínio, mas


implica uma forma de organização desse domínio. Daí o caracterizar-se o princípio
democrático como princípio de organização da titularidade e exercício do poder. Como
não existe uma identidade ente governantes e governados e como não é possível
legitimar um domínio com base em simples doutrinas fundamentantes é o princípio
democrático que permite organizar o domínio político segundo o programa de
autodeterminação e autogoverno: o poder político é constituído, legitimado e controlado
por cidadãos (povo), igualmente legitimados para participarem no processo de
organização da forma de Estado e de governo.

7. ESTADO DE EXCEPÇÃO CONSTITUCIONAL


Conscientes que as sociedades também ficam com alguma instabilidade, a doutrina
constitucional elaborou um conjunto de normas para o Estado respeitar quando há crise.
É importante ter conta duas notas:

1. O Estado democrático e de direito tem por objectivo limitar o livre arbítrio dos
órgãos públicos e fazer com que os mesmos sigam a Constituição (princípio da
legalidade e o princípio da constitucionalidade);
2. Evitar que os poderes públicos aproveitam as situações de crise para violar os
direitos fundamentais dos cidadãos.

Tudo isso tem a ver com a segurança jurídica dos administrados (direitos e garantias
fundamentais).

Tendo presente estes dois pressupostos, as crises podem ser de natureza económica
(crises financeiras), de natureza natural (catástrofes naturais), ameaças externas
(situações de guerra). Essas são algumas situações chamadas de situação de crise.

Paul Leloy agrupou as situações de crise em três tipos:

1. Tem a ver com a pretensão de destruir a independência ou a integridade


territorial do Estado;

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2. Inverter a ordem a ordem política constitucionalmente instituída;
3. Crises económico-financeiras.

Achamos que essa classificação deixa de fora as crises que têm a ver com as crises
físicas (da mãe natureza – seca, catástrofes, etc).

Há uma necessidade de se constitucionalizar estas situações de crise. Estabelecendo um


conjunto de normas que impedissem a violação da constituição nestas situações.
Estamos perante ao direito de crises ou medidas de excepção que fazem com que em
casos de crises as coisas devem acontecer de forma especial.

Decretando-se estado de crise, o chefe de Estado deve estabelecer limites, medidas de


garantias e o alcance dos mesmos. Estas medidas não podem ser quaisquer, devem ser,
não só necessárias, mas adequadas e proporcionais a gravidade da situação de crise que
se vive (princípio da proporcionalidade dos actos do Estado com a situação que se vive).

O objectivo do Estado perante isso é o Status Quo Ante (colocar a normalidade


constitucional). O estabelecimento da orgânica funcional do Estado é repor o respeito
do catálogo pelos direitos e garantias dos cidadãos.

7.1. Sistema Constitucional das Situações de Crise

É o conjunto de normas, princípios e regras constitucionalmente estruturadas, ordenadas


e coerentes fundado nos princípios da necessidade e da temporaneidade, ou seja, são
como os princípios informadores que visam estabelecer o Status Quo Ante.
O princípio da temporaneidade e da necessidade tem a ver com o estabelecimento dos
limites de garantia temporais do estado de excepção.
Regra geral, o estado de excepção é de responsabilidade do executivo (Presidente da
República). Tem a responsabilidade de reunir todo o processo. Uma das vantagens é o
controlo do processo que visa o desenrolar da ordem.
A declaração do estado de excepção está consagrada na constituição como um acto do
Presidente da República enquanto chefe de Estado (conferir artigo 119.º alíneas m), o) e
p) todos da CRA).
Os direitos e garantias são consagrados e restringidos na Constituição nos artigos 56.º e
57.º da CRA. A Constituição também consagra como limite de revisão constitucional
algumas situações (conferir artigo 237.º).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7a edição.
Coimbra editora, Outubro, 1997.

LUÍS, Pedro Manuel. Curso de Direito Constitucional Angolano. 2014

ARAÚJO, Raul. Introdução ao Direito Constitucional Angolano. 2018.

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