Você está na página 1de 49

UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE DIREITO

GRUPO ESTUDANDO IUS

Material de apoio de Finanças Públicas e


Direito Financeiro

Por: Grupo Estudando IUS

Luanda, Setembro de 2021.


GRUPO ESTUDANDO IUS

Material de apoio de Finanças Públicas e


Direito Financeiro

Material elaborado pelo Grupo Estudando


IUS como manual de apoio para o grupo e
para à comunidade académica em geral,
que sirva para dar uma primeira visão e
suscitar a vontade de aprofundar os
diferentes assuntos que o manual aborda.

Luanda, Setembro de 2021.


“Com contínuas pesquisas
alcançaremos o equilíbrio da
justiça e venceremos a ignorância
jurídica”.

Grupo Estudando IUS


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 4
1. FINANÇAS PÚBLICAS.............................................................................................................. 6
2. MEIOS DE FINANCIAMENTO DO ESTADO ............................................................................. 7
2.1. Vistos na perspectiva financeira ................................................................................... 8
2.2. Vistos na perspectiva jurídica........................................................................................ 8
2.3. Duas notas importantes sobre os meios de financiamento do Estado......................... 9
3. DISTINÇÃO ENTRE FINANÇAS PÚBLICAS E FINANÇAS PRIVADAS .......................................... 9
4. FINANÇAS NEUTRAS E FINANÇAS INTERVENCIONISTAS ..................................................... 10
5. CIÊNCIAS QUE SE OCUPAM DO FENÓMENO FINANCEIRO.................................................. 11
6. DIREITO FINANCEIRO........................................................................................................... 12
6.1. Natureza jurídica e autonomia do Direito Financeiro ................................................. 12
6.2. Relação do Direito Financeiro com outros ramos de Direito ...................................... 13
6.3. Fontes do Direito Financeiro ....................................................................................... 13
6.4. Interpretação e aplicação das normas financeiras ..................................................... 14
7. ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO ....................................................................................... 14
7.1. Elementos do OGE....................................................................................................... 14
7.2. Orçamento de gerência e orçamento de exercício ..................................................... 14
7.3. Processo de elaboração do OGE ................................................................................. 15
7.4. OGE e as suas Funções ................................................................................................ 17
7.5. Natureza Jurídica do Orçamento ................................................................................ 18
7.6. Orçamento e figuras afins ........................................................................................... 19
7.6.1. O Orçamento Geral do Estado e o Balanço ......................................................... 20
7.6.2. O Orçamento Geral do Estado e a Conta Geral do Estado .................................. 20
7.7. Regras/Princípios de Organização do OGE.................................................................. 20
7.8. Excepções das regras/princípios de elaboração do OGE ............................................ 25
7.9. Discussão e aprovação do OGE ................................................................................... 25
7.10. Execução do OGE..................................................................................................... 27
7.11. Alterações orçamentais........................................................................................... 29
7.12. Controlo da execução orçamental .......................................................................... 30
7.12.1. Níveis de controlo da execução orçamental ....................................................... 30
8. DESPESAS PÚBLICAS ............................................................................................................ 33
8.1. Classificação orçamental das despesas públicas......................................................... 34
8.2. Despesa pública e Despesa nacional ........................................................................... 35
8.3. Aumento das despesas públicas ................................................................................. 35
8.4. Causas do aumento mais que proporcional das despesas.......................................... 36
8.5. Efeito do aumento das despesas públicas .................................................................. 36
9. RECEITAS PÚBLICAS ............................................................................................................. 38
9.1. Receitas patrimoniais .................................................................................................. 38
9.2. Receitas tributárias ..................................................................................................... 39
9.2.1. Impostos .............................................................................................................. 39
9.2.2. Taxas .................................................................................................................... 40
9.2.3. Contribuições especiais ....................................................................................... 41
9.3. Receitas creditícias ...................................................................................................... 42
9.3.1. Crédito público .................................................................................................... 42
9.3.1. Razões de ordem financeira e económica do recurso ao crédito público ................ 43
9.4. Classificação das receitas ............................................................................................ 43
9.4.1. Classificação legal ................................................................................................ 43
9.4.2. Classificação doutrinal......................................................................................... 43
9.5. Regime jurídico das receitas públicas ......................................................................... 44
9.6. Avaliação das receitas ................................................................................................. 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................... 47
INTRODUÇÃO
Na caminhada académica, no contexto da formação, existem várias dificuldades, das
inúmeras formas de solucioná-las adoptamos o associativismo como a melhor estratégia
para enfrentar os vários constrangimentos que esta longa estrada nos apresenta,
juntamos forças e criámos o grupo Estudando IUS1.

O presente trabalho enquadra-se no âmbito de um compromisso assumido pelo grupo de


produzir a cada ano lectivo pelo menos um material com o conteúdo programático
resumido de uma disciplina, para o segundo ano a escolha foi a disciplina de Finanças
Públicas e Direito Financeiro.

Na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, a disciplina de Finanças


Públicas e Direito Financeiro é semestral e até certo ponto é dotada de alguma
complexidade. O craquejo2 dos docentes e a vasta bibliografia que acompanha a
disciplina vêm com o intuito de diminuir a complexidade na percepção dos assuntos.
Porém, os livros, fruto do preço e outras condições de disponibilidade, nem sempre são
acessíveis a todos, sendo que muitos estudantes por vezes têm grandes dificuldades em
adquiri-los. Com o objectivo de (i) induzir os estudantes a mergulharem no campo das
Finanças Públicas e Direito Financeiro buscando interesse pelas várias outras
bibliografias e manuais e (ii) compilar as anotações que fazíamos das aulas e auxiliar ou
subsidiar os materiais de leitura obrigatória da disciplina, decidimos elaborar este
manual.

Trata-se de um trabalho não acabado, mas sim subsidiário, que é susceptível de erros,
razão pela qual aconselhamos a todos os leitores a consultarem outros manuais para

1
O grupo Estudando IUS foi fundado aos 15 de Abril de 2019, actualmente é composto por 12
membros. Foi constituído em primeiro, por iniciativa dos próprios estudantes e em segundo, por uma
orientação pedagógico-académica do corpo docente para com a turma no sentido de incentivar os
estudos em grupo.
2
Termo usado para se referir a uma técnica engenhosa, aqui fizemos recurso a ela para se referir a
grande habilidade de ensinar dos docentes.
4

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


além deste de modo a enriquecerem os conhecimentos e a preencherem as possíveis
lacunas de informação que podem encontrar ao longo do manual.

Este material foi elaborado, a princípio, com base nas anotações e resumos que
fazíamos das aulas presenciais leccionadas pelos professores da cadeira. Em segundo
plano, sempre que possível, recorríamos aos materiais que podem ser vistos nas
referências bibliográficas, mas fundamentalmente o da professora Doutora Elisa Rangel
- Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro. 6a edição. Por isso, alertamos,
mais uma vez, que este material não é principal, mas subsidiário, ou seja, deve ser
utilizado em segundo plano.

Tentamos ao máximo sistematizar o trabalho de acordo a ordem do programa semestral


da disciplina, porém nalguns casos, fizemos ajustes em função do que entendemos ser
mais lógico. Nesta senda, o nosso manual está organizado em nove pontos, sendo que
vários destes têm subpontos.

A todos que terão contacto com o manual desejamos boa leitura.

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


1. FINANÇAS PÚBLICAS
Falar de Finanças públicas é falar da actividade desempenhada pelo Estado que visa
satisfazer as necessidades colectivas através da arrecadação de receitas, realização das
despesas e o controlo do bem público, ou seja, estamos a falar da gestão da coisa
pública, das atividades financeiras, do modo como o Estado arrecada valores para a
satisfação das necessidades. Isso pode ser visto em três sentidos:

a) Sentido orgânico: refere-se aos órgãos do Estado que vão arrecadar receitas
para satisfazer as necessidades da colectividade. Ex.: AGT;
b) Sentido objectivo: refere-se à actividade que o Estado vai realizar para
satisfazer as necessidades colectivas ou sociais. Ex.: cobrança de impostos;
c) Sentido subjectivo: refere-se às disciplinas e aos princípios que estudam a
actuação do Estado, um dos princípios fundamentais para a actividade do Estado
é o princípio da legalidade.

A actividade financeira do Estado acaba por ser o conjunto de acções que o Estado
pratica para adquirir bens para a satisfação das necessidades pública. Na verdade, tudo
anda a volta do Estado para satisfazer as necessidades colectivas ou individuais tendo
como limite o Princípio da Legalidade.

Quanto as necessidades, elas dividem-se em duas:

a) Activa: são aquelas que visam um comportamento ou esforço individual para


alcançarmos a satisfação desta necessidade, são passíveis de exclusão.
Ex.: a necessidade de vestir. Temos que fazer um esforço para satisfazer essa
necessidade.
b) Passiva: são aquelas que não são necessário nenhum esforço para a
consumirmos, basta que exista, não são passíveis de exclusão.
Ex.: a defesa do território. Não necessita de esforço para beneficiar da defesa do
território proporcionada pelo bem exército, basta que ele exista.

As necessidades são satisfeitas com os bens e os mesmos têm a seguinte característica:

a) Inexcluibilidade;
6

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


b) Irrivalidade;
c) Indivisibilidade.

Se os bens forem produzidos pelo Estado estamos perante a um bem público no


verdadeiro sentido da palavra, se forem produzidos pelo privado podem gerar algum
desconforto, ou seja, poder-se-á dar um preço tornando alcançável para uma franja
minoritária da sociedade, os que podem pagar este preço.

Interessa também falarmos sobre a externalidade que se refere aos efeitos externos do
comportamento do indivíduo. Ela pode ser negativa, quando prejudica um terceiro e
positiva quando beneficia este mesmo terceiro. Ou seja, a presença de terceiro é
indispensável para que haja externalidade, pois o mesmo é quem sofre ou beneficia do
acto.

Vale ainda falar sobre os bens públicos e a sua divisão. Temos, assim, bens públicos
propriamente ditos e bens semi-públicos, sendo que é importante que saibamos a
diferença destes e dos bens de domínio público.

2. MEIOS DE FINANCIAMENTO DO ESTADO


Os impostos, os preços e os empréstimos são os meios de financiamento do Estado.

Preço: refere-se à participação social que o Estado tem em diversas empresas privadas.
O Estado (administração, executivo (P.R.)) detém parcelas em determinadas empresas,
elas vendem bens/serviços e no final de cada exercício os acionistas reúnem para
analisar o relatório de gestão e repartem os dividendos. O Estado recebe o seu dividendo
na proporção da sua participação e este valor é depois encaminhado para o OGE. Ex.: a
participação que o Estado tem na Unitel.

Os preços normalmente não satisfazem todas as necessidades ou planos feitos pelo


Estado. Numa perspectiva percentual, o preço chega a cobrir apenas cerca de 5% das
necessidades do Estado. Não podendo o preço cobrir todas as necessidades de
financiamento do Estado, o mesmo lança mão aos empréstimos.

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


Empréstimos: trata-se de um meio não recomendável, pois, apesar de receber e alocar
o dinheiro do empréstimo, o Estado deve devolver com juros o dinheiro emprestado. Os
Liberais eram de opinião que os Estados não deviam contrair empréstimos, só em
situações excepcionais. Numa perspectiva percentual, o empréstimo chega a cobrir
apenas cerca de 20% das necessidades do Estado.

Impostos: nos impostos o Estado não assume um carácter imediato, ou seja, não
assume uma obrigação (de devolver) como no empréstimo ou como aquisição de um
património como é o caso dos preços. O meio mais viável de que o Estado se serve são
os impostos. Numa perspectiva percentual, o imposto chega a cobrir cerca de 75% das
necessidades do Estado.

O imposto embora seja o meio privilegiado de financiamento do Estado também


conhece limite. O limite é a paciência das pessoas de continuarem a pagar.

2.1. Vistos na perspectiva financeira


Do ponto de vista financeiro procura-se olhar ou buscar a natureza da relação
económica que está subjacente naquele meio. Por isso, no preço o Estado aparece como
vendedor (de bens ou serviços), no empréstimo o Estado aparece como devedor e nos
impostos o Estado aparece de forma unilateral e no exercício do seu poder de autoridade
e impõe aos cidadãos a necessidade de contribuírem ou comparticiparem aos encargos
públicos.

2.2. Vistos na perspectiva jurídica


Do ponto de vista jurídico procura-se aferir a natureza consensual ou não consensual e
legal da fonte da receita.

Quando olharmos para o preço veremos que é consensual, pois é regido pelo princípio
da igualdade. Do ponto de vista jurídico, o preço é uma receita voluntária. Do mesmo
jeito é o empréstimo, ou seja, há um consenso entre o credor e o devedor. Os impostos
não são receitas voluntárias, pois o Estado quando entende que quer cobrar um imposto
o faz de qualquer jeito. Os impostos são de carácter coactivo porque decorrem de uma
imposição legal.

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


2.3. Duas notas importantes sobre os meios de financiamento do Estado
1a. Determinados autores, sobre os preços, entendem que as taxas são verdadeiros
preços autoritariamente fixados. Segundo o professor Teixeira Ribeiro, este argumento
busca fundamento no facto de o valor da taxa ser determinado por lei e apenas pelo
órgão que a cria.

A posição acima referida não é a normalmente adoptada, pois a taxa não obedece o
custo de produção como acontece com os preços e nem obedecem ao critério ou
realidade do mercado.

2a. Geralmente o Estado cobra receitas para realizar despesas, outras vezes o Estado
cobra receitas não para realizar despesas em primeira instância, por vezes para aumentar
e proteger a produção nacional.

3. DISTINÇÃO ENTRE FINANÇAS PÚBLICAS E FINANÇAS


PRIVADAS
Para diferenciarmos as finanças públicas das privadas temos 3 elementos distintivos:

1o. O tipo de meio de financiamento – em finanças públicas vamos encontrar o


Estado, cujo seu meio de financiamento privilegiado é o imposto, ao passo que, nas
finanças privadas vamos encontrar as Empresas Privadas, cujo seu fundamental meio de
financiamento são os preços.

2o O segundo elemento de distinção centra-se no facto de que nas Finanças Privadas são
as receitas que determinam as despesas, ao passo que nas Finanças Públicas não são as
receitas que determinam as despesas nem tão pouco as despesas que determinam as
receitas, mas sim os objetivos do Estado.

3 o Objectivos que se propõem atingir – uma Empresa Privada quando produz bens,
fá-los com o objetivo de vender esses bens visando a obtenção de lucro, já nas Finanças
Públicas o objetivo é a satisfação das necessidades colectivas.

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


4. FINANÇAS NEUTRAS E FINANÇAS INTERVENCIONISTAS
As finanças neutras surgiram nos finais do século XIX e início do século XX. Tiveram
como percursores os Clássicos que entendiam que o Estado devia abster-se das
actividades económicas, ou seja, devia deixar os privados desenvolver esta actividade.
Os Clássicos tiveram como expoentes máximos Adam Smith, João Baptista Say e David
Ricardo.

As finanças neutras têm as seguintes características:

a) Princípio da privatização: defende a iniciativa privada onde o Estado não deve


ser agente económico deve apenas limitar-se em estimular e defender a iniciativa
privada;
b) Redução do sector público: em função desta abstenção do Estado na actividade
económica não se pode falar em sector público empresarial. Para os Clássicos, a
actividade do Estado limitar-se-ia a segurança, justiça e diplomacia;
c) Princípio do mínimo: a actividade do Estado devia absorver a menor parcela do
rendimento nacional, em função das responsabilidades ínfimas que o Estado
tinha.
d) As finanças públicas deviam ser simples: em função da simplicidade das
funções do Estado.

Esta concepção neutra sofreu uma mutação para a teoria intervencionista (o Estado
deixou de ser neutro), na base disto tem os seguintes aspectos/factores:

1. Factor Político: o Estado passou a ser mais intervencionista e não abstrato (mão
invisível), passou a ser um agente económico, ou seja, passou a produzir bens e
serviços, bem como a regular a própria economia. Este factor foi precedido pelos
seguintes processos:
a) Passagem do sufrágio censitário para o sufrágio universal;
b) Surgimento dos partidos trabalhistas, socialistas e da doutrina social da igreja;
c) As guerras mundiais.
2. Factor Económico:
a) Redistribuição das riquezas;
10

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


b) Surgimento de novas teorias económicas;
c) Choques petrolíferos.

Com esta transição, de Estado neutro para Estado intervencionista, o Estado passou a ter
as seguintes características:

1. Passou a ter um papel mais activo na actividade económica, e isso traduziu-se no


seguinte:
a) Passou a ser um agente económico, isto é, passou a produzir bens e serviços;
b) Passou a regular a actividade económica, o que fez surgir as entidades públicas
voltadas para a regulação do sector produtivo para a actividade económica. Ex.:
BNA.
c) O princípio do mínimo passou a ser o princípio do óptimo social e fez surgir
consequências como: o crescimento do sector público, o sector público
empresarial e sector público administrativo.

5. CIÊNCIAS QUE SE OCUPAM DO FENÓMENO FINANCEIRO


Algumas ciências que também têm como objecto de estudo o fenómeno financeiro são:

Economia financeira: estuda a actividade financeira nas relações com a economia.

Psicologia financeira: estuda a actividade financeira concernente ao comportamento do


indivíduo. Ex.: como o indivíduo adquire e gasta o seu dinheiro, de acordo as suas
necessidades.

Sociologia financeira: estuda a actividade financeira do ponto de vista dos grupos


sociais. Ex.: como os grupos sociais se organizam em torno dos processos de aquisição
e aplicação das suas finanças.

Técnicas financeiras: estuda os meios mais adequados para se atingirem os fins da


actividade financeira.

11

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


6. DIREITO FINANCEIRO
É o conjunto de normas jurídicas que regulam a obtenção, a gestão, o dispêndio e o
controlo dos meios financeiros públicos.

Para o professor Jean Patrício da Silva é o Direito que organiza as finanças do Estado,
do qual deriva o Direito Tributário.

6.1. Natureza jurídica e autonomia do Direito Financeiro


No exercício das suas funções e com vista a satisfação das necessidades colectivas, o
Estado estabelece relações com terceiros (sejam pessoas públicas ou privadas). Por
vezes esta relação é regulada pelo Direito Público (relações tributárias, por exemplo),
outras vezes o Estado desenvolve ou estabelece relações que são reguladas pelo Direito
Privado (os empréstimos ou receitas vindas dos preços, por exemplo).

O Direito Financeiro é um ramo do Direito público porque as normas que hão de regular
as relações do Estado com terceiros são do Direito público, apesar de nalguns casos
serem regulados por Direito Privado.

Um aspecto importante cinge-se na distinção entre direito das receitas, das despesas e da
administração financeira ou fazendeira.

O direito das receitas refere-se ao conjunto de normas que regulam a obtenção das
receitas. Aqui devemos prestar atenção ao direito tributário que estuda os tributos
(impostos e taxas). Dentro deste (direito tributário) vamos encontrar o direito fiscal que
se autonomizou e estuda apenas os impostos.

O direito das despesas refere-se ao conjunto de normas que regem o dispêndio das
despesas. O direito da administração financeira ou fazendeira estuda o funcionamento
dos órgãos da administração financeira.

O Direito financeiro é um ramo autónomo do Direito. A autonomia de um ramo de


Direito é relativo devido o regime de subsidiariedade, ou seja, alguns ramos de Direito
vão buscar normas noutros ramos. Ex.: o Direito Civil é a regra, o mais alargado, mas

12

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


acaba por ter ramos de direito especial (direito do trabalho e direito do comércio), estes,
em alguns aspectos recorrem ao direito comum.

Por outro, o Direito financeiro tem um objecto de estudo próprio que é a obtenção,
gestão, dispêndio e controlo dos meios financeiros públicos (atividade financeira do
Estado). Tem um método próprio que é o arbitramento ou separação dos interesses
públicos e tem um fim próprio que é a satisfação dos interesses colectivos.

6.2. Relação do Direito Financeiro com outros ramos de Direito


a) Estabelece relações com o Direito Constitucional na medida em que algumas
normas têm dignidade constitucional. Ex.: artigo 104.°; 120.° alínea c) todos
da CRA, etc.;
b) Estabelece relações com o Direito Administrativo na medida em que a
actividade financeira é essencialmente administrativa. Ex.: cobrança de
impostos.
c) Estabelece relações com o Direito das Obrigações na medida em que o
imposto é uma obrigação (decorre da lei);
d) Estabelece relações com o Direito Penal no sentido de que a violação das
normas financeiras são penalmente puníveis;
e) Estabelece relações com o Direito Internacional Público na medida em que
existem relações de direito financeiro que envolve mais de um Estado e que
se não forem acauteladas pode originar uma dupla tributação ou invasão
fiscal, para isso não acontecer, os Estados recorrem aos instrumentos de
Direito Internacional (os tratados) para evitar estas situações.

6.3. Fontes do Direito Financeiro


São fontes do Direito financeiro:

1. A Constituição;
2. As Leis de Base e da Assembleia Nacional;
3. Os Decretos Legislativos Presidenciais;
4. Os Decretos Presidenciais e outros actos normativos do Titular do Poder
Executivo;
13

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


5. Os actos normativos financeiros do Banco Nacional de Angola.

6.4. Interpretação e aplicação das normas financeiras


As normas financeiras são interpretadas e aplicadas nos mesmos termos consagrados no
Código Civil (do artigo 9° ao artigo 13°). É importante dizer que vigora o princípio da
territorialidade no âmbito da aplicação das normas financeiras.

7. ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO


O Orçamento Geral do Estado é um documento onde se prevêem as receitas e se fixam
as despesas autorizadas para vigorar durante um período financeiro que, em regra, é de
um ano. Deste conceito é possível extrair aqueles que são os elementos do OGE.

7.1. Elementos do OGE


1. A Previsão: tem que ver com o que se pretende fazer, ou seja, refere-se às
actividades financeiras que o Estado pretende realizar.
2. Autorização: apesar de a proposta do OGE caber ao Presidente da República,
esta não pode ser executada sem a autorização da Assembleia Nacional, tal
como consagra a alínea e) do artigo 161.° da Constituição.
3. Limitação no tempo: significa que a actividade financeira do Estado deve
ocorrer dentro de um tempo, normalmente um ano, sendo o ano civil que
coincide com o ano financeiro.

7.2. Orçamento de gerência e orçamento de exercício


O orçamento de gerência entende-se como sendo o documento em que se prevêem as
receitas a cobrar e as despesas que o Estado irá realizar durante um período financeiro.
É uma previsão de receitas e despesas na sua fase terminal de cobranças e de
pagamento. Já o orçamento de exercício entende-se como sendo o documento em que se
prevêem as receitas a cobrar e as despesas que o Estado irá realizar. É uma previsão de
receitas e despesas na sua fase inicial, surgimento de créditos e dívidas.

Para a nossa realidade é adoptado o orçamento de gerência, que implica que no


orçamento das receitas têm de se inscrever as cobranças a efectuar a cada ano e no

14

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


orçamento das despesas, os pagamentos a realizar a cada ano, tenham estas despesas
nascidas nos anos anteriores ou no ano corrente.

7.3. Processo de elaboração do OGE


Segundo o artigo 19.° da Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado, a elaboração da
proposta orçamental faz-se com base nas instruções emanadas pelo Presidente da
República, normalmente em Maio. Este processo compreende dois prazos:

1. O período longo: desde o momento que o Presidente emana as instruções


(artigo 19.° da LQOGE), não existe uma data específica, mas geralmente tem
sido em Maio, até o dia 31 de Outubro, completando assim 5 meses, tal como
consagra o n°1 do artigo 24.° da Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado. A
razão de ser do período longo é para permitir a elaboração com calma, pois
estamos a falar de um documento extenso e com complexidade técnica, sob pena
de termos um orçamento que não seja exequível.
2. O período curto: corresponde ao tempo desde a entrada à Assembleia Nacional
até a sua votação final a 15 de Dezembro, tal como consagra o n°3 do artigo 24.°
da Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado. A razão de ser do período curto
visa aproximar o período de previsão com o período de execução.

Apesar de o OGE ser uma proposta do Presidente, não quer dizer que é ele quem senta e
o elabora, ocorre da seguinte forma:

1° passo: o Presidente emana as instruções sendo as unidades orçamentais as


destinatárias (artigo 19.° da LQOGE). As unidades orçamentais vêm definidas no n°2
do artigo 14.° da LQOGE;

2° passo: é feita a consolidação, de primeiro nível, pelos órgãos do Executivo e


Governos Provinciais que consolidam as propostas preliminares elaboradas pelas
unidades orçamentais e órgãos dependentes a elas subordinadas (alínea a) do artigo 20.°
da LQOGE). O que quer dizer que todas as instituições que foram consignadas são
unidades orçamentais, apresentam propostas.

15

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


3° passo: o órgão central consolida as propostas, em segundo nível, (alínea b) do artigo
20.° da LQOGE). Segundo a alínea c) do artigo 21.° do Decreto Presidencial 31/18 de 7
de Fevereiro que aprova a Lei Orgânica do Ministério das Finanças, o órgão responsável
pela consolidação de segundo nível do OGE é a Direcção Nacional do Orçamento do
Estado.

A votação e aprovação do OGE é feito em três momentos: (i) na generalidade, (ii) na


especialidade e (iii) na generalidade (final).

Em caso de não aprovação tempestiva, ou seja, se a Assembleia Nacional não votar ou


tendo votado não aprovar a proposta de orçamento até o dia 15 de Dezembro (n°3 do
artigo 24.° da LQOGE), há uma recondução do Orçamento do ano anterior, vigorando
as regras duodecimais3, tal como consagra o n°4 e 8 do artigo 24.° da Lei Quadro do
Orçamento Geral do Estado. Tal recondução tem que ver com a autorização concedida
ao Presidente de cobrar as receitas do ano anterior. Caso haja recondução do Orçamento
anterior, deve-se, enquanto se vota e se aprova o novo OGE, realizar as despesas
correntes (como pagamentos de salários) e não as pluri-anuais ou outras que requeiram
autorização orçamental.

Diz-se que o orçamento está a ser executado quando está a se cobrar as receitas e a se
efectuar as despesas. O orçamento de receitas é efectuado quando se cobram as receitas,
para isso foi criado o SIGFE (Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado), sendo
constituído pelo Tesouro Nacional (que está domiciliado no Banco Nacional de Angola,
que é o banqueiro do Estado), pelas Delegações provinciais das Finanças e pelo BPC,

3
A regra do duodécimo quer dizer que os serviços não podem, em cada mês, gastar mais do que a verba
correspondente a duodécima parte (1/12) da dotação anual, acrescida dos duodécimos anteriores
vencidos e não gastos. Ou seja, se o orçamento é anual (12 meses), imaginemos que a cabimentação
orçamental é de 120 milhões para o ano. A regra duodecimal orienta que a unidade orçamental deve
gastar a cada mês 10 milhões, para que quando terminar o ano a unidade orçamental tenha gasto os
120 milhões no total e 10 milhões a cada mês. Porém, esta regra tem uma exceção, conhecida como
programação financeira que está consagrada no artigo 28.° da LQOGE.
16

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


para melhor compreensão deste assunto é importante que tenhamos o Decreto
Presidencial 223/18 de 26 de Setembro.

É importante que esclareçamos um equívoco comum, a Assembleia Nacional não reduz


o dinheiro de nenhum Ministério, esta é uma competência do Presidente, pois o mesmo
é o responsável pelo Orçamento Geral Estado, a Assembleia Nacional pode, no
máximo, sugerir e votar ou não em sentido favorável.

7.4. OGE e as suas Funções


As Finanças Públicas diferenciam-se das Finanças Privadas no sentido de que em sede
das finanças públicas, as receitas não definem as despesas, nem as despesas as receitas,
o que determina as duas são os objectivos que o Estado estabelece.

Função económica: permite que se estabeleça a relação entre as receitas e as despesas,


esta relação decorre da necessidade de se acautelar que as despesas fixadas tenham
receitas para as cobrir. Desta relação surge a seguinte ideia: enquanto as receitas são
estimadas, as despesas são fixadas, ou seja, há um limite na fixação das despesas. Não
há previsão de despesas, há uma fixação. Esta fixação visa evitar a assunção de
encargos, com isso, só se realizam despesas que estão previstas no OGE e somente no
montante previsto.

A função económica visa fundamentalmente:

 Relacionar as despesas com as receitas;


 Fixar as despesas;
 Constituir o plano financeiro do Estado, que quer dizer que todo o plano
financeiro está espelhado ou contido no OGE, isto porque se fica a saber quanto
é que o Estado se propõe a gastar com a organização e funcionamento de cada
serviço.

Função Política: esta divide-se em duas garantias, nomeadamente:

a) Garante a observância dos Direitos Fundamentais dos cidadãos: está ligado


ao facto de que os cidadãos só devem pagar os impostos que forem aprovados

17

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


pelos seus representantes (Assembleia Nacional - Deputados), caso não forem
aprovados estes podem exercer o direito de resistência, isto no âmbito do
princípio da legalidade tributária.
b) Garante o equilíbrio de poderes: tem que ver com a autorização política que o
Parlamento faz ao OGE e exerce, sobre o executivo, um papel de controlo e
gestão do que o Titular do Poder Executivo se propôs.

Função Jurídica: o OGE provém de uma autorização do Parlamento, sem a mesma o


Titular do Poder Executivo não pode cobrar receitas nem realizar despesas. A função
jurídica vem nos mostrar que há uma limitação do Presidente, ou seja, só pode cobrar as
receitas e realizar as despesas autorizadas pela Assembleia Nacional.

7.5. Natureza Jurídica do Orçamento


A questão da natureza jurídica do orçamento tem que ver com a qualificação que é dada
ao orçamento. Para isto, vários autores deram o seu parecer a respeito. Existem os que
olham para o orçamento como um todo e outros que fazem a divisão do orçamento das
receitas e do orçamento das despesas.

Começando pelo grupo dos que vêem o orçamento como um todo, temos:

1. Hanel, Zorn e Ingrosso, que para estes o orçamento é uma lei em sentido
material, isto porque por meio desta lei o Estado adquire o direito de cobrar
receitas e realizar despesas.
2. Augusto Graziani, Gianini e Louis, que para estes o orçamento é uma lei em
sentido formal, isto porque apesar de ser uma lei não tem conteúdo legislativo
por não estabelecer regras fundamentais e permanentes.
3. Paul Laband e Otto Mayer, que para estes o orçamento é um acto administrativo,
isto porque a seu ver o orçamento é um simples plano de gestão financeira do
Estado, não contendo qualquer punição, ordem ou norma jurídica.
4. Jellinek, que para este o orçamento é um acto-condição, isto porque o orçamento
é condição para que o Estado desenvolva a sua actividade financeira.

O grupo dos que fazem a separação do orçamento em partes, temos:

18

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


1. Deguit, que para este o orçamento das despesas é um acto administrativo e o
orçamento das receitas é uma lei em sentido material. Sobre o orçamento das
receitas, Deguit, faz uma divisão:
a) Se forem impostos: estaremos em presença de uma lei em sentido material;
b) Se forem as demais receitas: seriam simples operações administrativas.
2. Jèze, que critica a posição de Deguit afirmando que o orçamento nunca pode ser
visto como lei em sentindo material. Este por sua vez diz que quanto as receitas
estas podem ser:
a) Tributárias: o orçamento aqui é um acto-condição;
b) Se forem as demais receitas: são qualificadas como simples avaliação financeira.

No caso das despesas estas podem ser:

a) Despesas novas: são vistas como acto-condição;


b) Despesas permanentes: são qualificadas como matérias sem qualquer significado
jurídico.

O posicionamento adoptado tem sido o defendido pela professora Elisa Rangel que nos
diz que, tal como se pode verificar na alínea e) do artigo 161.° e alínea d) do artigo
166.° ambos da Constituição, o orçamento é uma lei. Entretanto, o orçamento por conter
também o plano financeiro do Estado é também um acto político. Conjugando as duas
questões (ser uma lei e um acto político) chega-se a conclusão que o orçamento é uma
lei em sentido material especial, isto porque é o Presidente que tem a competência de
elaborar e executar o orçamento, mas este não o pode executar sem a autorização da
Assembleia Nacional. Mesmo após a aprovação, tal lei só tem validade num
determinado período de tempo. Em conclusão, é um plano financeiro aprovado sobre a
forma de lei em sentido material especial.

7.6. Orçamento e figuras afins


Quando falamos de figuras afins do orçamento nos referimos aos institutos que são
próximos e têm alguma relação com o Orçamento Geral do Estado, mas que não se
confundem, são o Balanço e a Conta Geral do Estado.

19

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


7.6.1. O Orçamento Geral do Estado e o Balanço
Enquanto o orçamento respeita o futuro (previsão), o balanço respeita o presente. Outro
elemento de distinção tem que ver com o objecto, o OGE representa a actividade
financeira do Estado, o Balanço tem por objecto a avaliação da situação patrimonial do
Estado num determinado momento. Quando nos referimos em situação patrimonial do
Estado, estamos a olhar para o que o Estado tem de activo e passivo.

Entende-se por activo as posições e ou relações jurídicas em que o Estado aparece com
a faculdade de exigir a terceiros determinada prestação. Entende-se por passivo aquelas
posições em que o Estado é susceptível de prestar a terceiros.

7.6.2. O Orçamento Geral do Estado e a Conta Geral do Estado


Tal como no instituto anterior, aqui também, o critério de distinção é o tempo. Enquanto
o OGE é uma previsão (actividade que o Estado pretende realizar), a Conta Geral do
Estado é aquilo que o Estado fez. Podemos então afirmar de forma conclusiva que, o
OGE é para o futuro (receitas e despesas a realizar) e a Conta Geral do Estado aponta
para o passado (as receitas cobradas e despesas realizadas).

7.7. Regras/Princípios de Organização do OGE


O Orçamento Geral do Estado além de ser um documento extenso é também dotado de
grande complexidade técnica. Por isso, para permitir a sua melhor elaboração,
compreensão e controlo é preciso que se faça com base em regras próprias que são:

1. Princípio da anualidade: o OGE tem vigência anual (vigora no período de um


ano), tal princípio decorre do n°1 do artigo 104.° da Constituição e do artigo 4°
da Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado (LQOGE).

Existem fundamentalmente duas razões para que o orçamento seja anual:

a) O orçamento aponta para o futuro e o futuro é incerto, existe a necessidade de se


acautelar a incerteza do futuro limitando o período do orçamento;
b) A grande necessidade de conferir facilidade de controlo, quanto maior for o
período que determinado facto ocorrer, maior serão as dificuldades em lembrar o
ocorrido.
20

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


Quando falamos em princípio da anualidade não devemos pensar apenas na vigência do
orçamento, mas também no facto de que todos os anos deve se aprovar o OGE.

2. Princípio da plenitude orçamental: este princípio traz duas regras;


2.1. Princípio da unidade: deve haver apenas um orçamento, tal como consagra a
primeira parte do n°2 o artigo 104.° da CRA (“O orçamento Geral do Estado é
unitário...”).
2.2. Princípio da universalidade: todo o universo de receitas e despesas devem
estar inseridas no OGE, ou seja, o Estado só deve cobrar o que está escrito no
OGE, tal como consagra a segunda parte do n°2 do artigo 104.° da CRA
(...”estima o nível de receitas a obter e fixa os limites de despesas autorizadas,
em cada ano fiscal, para todos os serviços, institutos públicos, fundos autónomos
e segurança social, bem como para as autarquias locais”...) e o artigo 5.° da
LQOGE. Esta regra terá reflexo quando abordarmos do controlo do OGE, desde
já fica a observação de que se uma instituição financeira recebe fundos públicos
esta estará sujeita à jurisdição do Tribunal de Contas.
3. Princípio da discriminação orçamental: este princípio é concretizado por três
regras.
3.1. Princípio da especificação: as receitas e as despesas devem ser
suficientemente individualizadas. Na descrição das receitas não se deve fazer
afirmações genéricas, mas não se deve ser extremista a ponto de fazer menção
de coisas mínimas, tal como consagra os artigos 9.° e 10.° da LQOGE.
3.2. Princípio da não compensação ou regra do orçamento bruto: as receitas e
despesas devem ser descritas de forma bruta, sem qualquer presunção, tal como
consagra o n°5 do artigo 8.° da LQOGE.
3.3.Princípio da não consignação: todas as receitas devem ser afectadas para todas
as despesas, ou seja, não se pode afectar receitas para a cobertura de despesas
especiais, tal como consagra a alínea b) do n°1 do artigo 21.° da LQOGE.
4. Princípio da publicidade: segundo esta regra, o orçamento é aprovado sobre a
forma de lei e deve merecer publicação oficial como condição da sua vigência,

21

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


tal como consagra o n°1 do artigo 3.° da LQOGE e o n°1 do artigo 5.° do
Código Civil.
5. Princípio do equilíbrio orçamental: o equilíbrio orçamental desdobra-se em
três relações:
a) Receitas = despesas = equilíbrio;
b) Receitas > despesas = superávit;
c) Receitas < despesas = défice.

O equilíbrio a que se refere a alínea a), resultante da igualdade entre as receitas e


despesas, trata-se do equilíbrio formal de que se refere o n°1 do artigo 7.° da LQOGE,
este que é a regra.

Formalmente não existem orçamentos deficitários, há sempre um equilíbrio. Apesar


desse equilíbrio do ponto de vista formal, nem sempre acontece isso do ponto de vista
material. O equilíbrio não se basta à simples igualdade numérica ou aritmética entre as
receitas e despesas, mas também com a suficiência de certas receitas para fazer face as
despesas, aqui trata-se do equilíbrio substancial/material que está consagrado no n°2 do
artigo 7.° da LQOGE. Do ponto de vista do equilíbrio substancial o orçamento pode
estar equilibrado ou não.

O n°3 do artigo 7.° da LQOGE, desde o princípio até a palavra “défice” constitui a
excepção, nestes casos o Estado poderá recorrer aos empréstimos ou aumentar a base
tributária (agravamento dos impostos), o limite da excepção está na parte final deste
mesmo número “... sem recorrer à criação de moeda”. A razão de ser do limite da
excepção é o de evitar a inflação que pode ser causada com a criação de moeda. .

Nesta ordem de ideias surge a seguinte pergunta: que tipo de receitas e despesas são
necessárias para que se verifique ou tenhamos equilíbrio substancial?

Para dar resposta a esta pergunta surgiram quatro concepções sendo:

1. Concepção clássica: para estes o orçamento estaria equilibrado quando as


despesas totais fossem cobertas pelos rendimentos normais. Por rendimentos
normais devemos entender como sendo aquelas receitas patrimoniais e
22

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


tributárias, nomeadamente os impostos. Como já vimos anteriormente, para os
Clássicos, era proibido o recurso aos empréstimos, entretanto, existia uma
excepção, ou seja, os empréstimos só eram permitidos em casos de guerra.
2. Activo de tesouraria: também são da época clássica, mas estes já admitiam o
empréstimo, desde que esse servisse para pagar outros empréstimos
anteriormente contraídos. Segundo esta corrente, haveria equilíbrio quando as
despesas efectivas fossem cobertas pelas receitas efectivas e podendo as
despesas não efectivas serem cobertas pelas receitas não efectivas.
a) Receita efectiva: aquelas que se traduzem no aumento do património monetário
do Estado. Ex.: Impostos.
b) Despesa efectiva: aquela que se traduz naquilo que diminui o património
monetário do Estado. Ex.: pagamento dos salários da função pública.
c) Receita não efectiva: traduz-se naquelas que aumentam o património monetário
do Estado, mas também aumenta o passivo do Estado. Ex.: Empréstimo.
d) Despesa não efectiva: traduz-se naquelas que diminui o património monetário do
Estado, mas também diminui o passivo do Estado. Ex.: Reembolso ou
pagamento de um empréstimo.

Para esta corrente haveria desequilíbrio quando as receitas não efectivas cobrissem as
despesas efectivas.

As duas correntes que acabamos de ver limitam a sua abordagem nas despesas e receitas
patrimoniais. Foi necessário que se adoptasse uma corrente que admitisse os
empréstimos por causa dos investimentos que o Estado passou a fazer. A seguir
abordaremos as correntes que viam os empréstimos como receitas a constarem no
orçamento.

3. Neoclássicos ou Orçamento ordinário: o orçamento está equilibrado sempre


que as receitas ordinárias cobrissem as despesas ordinárias e as receitas
extraordinárias cobrissem as despesas extraordinárias ou se o excedente das
receitas ordinárias cobrissem as despesas extraordinárias.

23

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


a) Receitas e Despesas ordinárias: são as que se repetem qualitativamente em todos
os orçamentos;
b) Receitas e Despesas extraordinárias: são as que não se repetem qualitativamente
em todos os orçamentos.

Na prática, a corrente neoclássica quer chamar a atenção de que as receitas e despesas


que se repetem quer dizer que se esgotam naquele mesmo período financeiro (com a
realização das mesmas). Ex.: quando o Estado paga o salário aos funcionários, o efeito
útil daquela despesa esgota-se com a sua realização. Diferente disto é quando o Estado
constrói uma escola, estradas, etc. O efeito útil dessa despesa permanece ou se prolonga
no tempo.

Neste caso, as despesas ordinárias (ex.: pagamento de salários) deve ser coberta com as
receitas ordinárias (ex.: impostos). As despesas cujos efeitos se prolongam no tempo,
devem ser cobertas com as receitas ordinárias ou extraordinárias (ex.: empréstimos).
Esta corrente chama atenção que o Estado não deve recorrer as receitas extraordinárias
para cobrir despesas ordinárias.

A corrente neoclássica sofreu várias críticas, uma delas e a que mais vincou é a que
questionava a forma como seriam definidas e que critérios seriam usados para
definir uma receita ordinária e uma receita extraordinária?

Por não existir estes critérios esta teoria sofreu várias críticas e alguns Estados foram
esforçados a abandonarem esta posição, pois seriam os Estados a definir o que seria
ordinário e extraordinário, esforçando assim sempre um orçamento equilibrado.

4. Orçamento corrente ou activo patrimonial do Estado: em função do acima


exposto, ensaiou-se outra posição que é a das finanças modernas, nesta
perspectiva deve-se olhar para o impacto das finanças sobre o aforo e o
consumo. O orçamento está equilibrado quando as receitas correntes financiam
as despesas correntes e quando as receitas de capital cobrem as despesas de
capital ou ainda quando as despesas de capital são cobertas pelo excedente.

24

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


Segundo esta corrente, cada geração tem que pagar os encargos que assume. Se um
encargo assumido por uma geração se estender até outra geração, então os benefícios
devem também se estender até esta geração.

7.8. Excepções das regras/princípios de elaboração do OGE


1. Regra da anualidade: o orçamento deve ser aprovado todos os anos para
vigorar num único ano. A excepção podemos encontrar no n°1 do artigo 104.°
da Constituição, quando traz a possibilidade do orçamento ser “plurianual”.
2. Regra da plenitude orçamental: um só orçamento (regra da unidade) e tudo
num orçamento (regra da universalidade). No entanto, não apenas o Estado tem
a faculdade de cobrar receitas e realizar despesas. Existem outros entes com a
mesma prerrogativa pelo facto de a norma que os criou conferir a estes
autonomia financeira (princípio da legalidade), ex.: As conservatórias, os
notários (as taxas que cobram pelos serviços), os Tribunais (as taxas de justiça),
etc.

A excepção acontece pelo facto destas unidades orçamentais terem receitas e despesas
próprias, o que resulta no duplo orçamento (o valor do OGE e os valores arrecadados
nos orçamentos próprios).

3. Regra da não consignação: todas as receitas financeiras cobrem todas as


despesas. A excepção desta regra está na alínea b) do artigo 21.° da LQOGE, o
que quer dizer que só haverá certas receitas a cobrirem certas despesas quando
decorrerem de financiamentos ou doações. Ex.: Se uma Organização
Internacional doar um valor para a Educação (construção de escolas), este valor
deverá ser usado, exclusivamente, para este fim, não cobrindo outras despesas.

7.9. Discussão e aprovação do OGE


Este assunto gira, fundamentalmente, em torno da Lei 13/17 de 6 Junho que é a Lei
Orgânica que aprova o Regimento da Assembleia Nacional, doravante LOARAN. Neste
dispositivo consta o tempo de apreciação, votação e aprovação da proposta do OGE
(nomeadamente nos anos em que ocorrem eleições ou não).

25

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


Tal como consagra o artigo 24.° da LQOGE e o n°1 do artigo 264.° da LOARAN, o
Presidente da República deve remeter a proposta do OGE à Assembleia Nacional até o
dia 31 de Outubro, relativa ao ano subsequente. Todavia, o n°2 do artigo 264.° da
LOARAN estabelece que nos anos em que se realizem eleições, o Presidente deve
remeter à Assembleia Nacional a proposta do OGE até 15 de Dezembro. O n°3 do
mesmo artigo vem nos dizer que a proposta do OGE é entregue por uma delegação
mandatada pelo Presidente da República ao Presidente da Assembleia Nacional.

Seguidamente, o Presidente da Assembleia Nacional ordena a sua publicação no Diário


da Assembleia Nacional e a sua imediata distribuição aos grupos parlamentares e
Deputados, em conformidade com o n°1 do artigo 265.° da LOARAN. Depois disto, a
proposta orçamental é remetida às Comissões de Trabalho Especializadas em razão da
matéria, tal como consagra o n°2 do artigo 265.°.

Posteriormente, estabelece-se um prazo da apresentação das declarações políticas


(artigo 266.° da LOARAN). Após isso, é agendada a discussão da proposta orçamental
na generalidade nas reuniões plenárias, tal discussão e votação ocorre com a presença de
representantes do Poder Executivo, para os esclarecimentos necessários (artigo 267.°).

Segue-se depois a discussão e votação na especialidade. Tal como o nome diz, esta
discussão acontece nas Comissões de Trabalho Especializadas e que em regra dispõem
do prazo de vinte dias. Esta abordagem é detalhada nos artigos 268.° e 270.°.

Após a elaboração e apresentação do relatório dos pareceres conjuntos das comissões


especializadas, o Presidente da Assembleia Nacional agenda no prazo de 8 dias a sua
apreciação e votação final pelo plenário (artigo 271.°).

Depois, segundo o artigo 272.°, a proposta orçamental, é apresentada para a votação


final global em reunião plenária até 15 de Dezembro do ano anterior ao que o
Orçamento disser respeito. Porém, a proposta do OGE e a proposta de lei que o aprova,
são remetidas à Assembleia Nacional nos anos em que se realiza eleições gerais sendo
objecto de votação final global até 15 de Fevereiro do ano em que o orçamento disser
respeito.

26

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


7.10. Execução do OGE
Quando falamos da execução do orçamento, queremos nos referir, efetivamente, aos
gestores das unidades orçamentais e os órgãos dependentes começarem a cobrar receitas
e a realizar despesas e, são os mesmos (titulares destes organismos com dotação
orçamental própria) que executam.

Assim como para a elaboração do OGE o Presidente emana instruções, para a execução
também elabora regras que os gestores destas unidades deverão observar na execução
do orçamento. Isso quer dizer que se o titular da unidade orçamental não observar as
regras ou instruções no processo de execução do orçamento poderá ser responsabilizado
politicamente (exoneração), disciplinarmente (redução salarial, mudança de posto e
outros), civilmente (indemnização), financeiramente (devolução dos valores desviados,
normalmente impostos pelo Tribunal de Contas) e até mesmo criminalmente (pena
privativa de liberdade). As regras emanadas são consagradas em diploma próprio
emanado pelo Presidente da República (para o exercício económico de 2020 foram
consagradas no Decreto Presidencial 141/20 de 25 de Maio) e se o titular da unidade
orçamental e dos órgãos dependentes executar o orçamento no seu organismo
inobservando essas regras ele está sujeito a ser responsabilizado, tal como dissemos
anteriormente.

Para conferir maior controle do OGE, foi criado o SIGFE (Sistema Integrado de Gestão
Financeira do Estado), esse sistema integra um conjunto de entidades como o Tesouro
Nacional (com a responsabilidade de coordenar a Conta Única do Tesouro), o Banco
Nacional de Angola (enquanto banqueiro do Estado e é onde está sedeada a Conta
Única do Tesouro), as Delegações Provinciais das Finanças, o BPC (na qualidade de
Banco operador), os Gabinetes de Estudos e de Planeamento ou similares dos órgãos da
administração central do Estado, tal como está consagrado no artigo 2.° do Decreto
n°73/01 de 12 de Outubro.

Neste SIGFE são registados todos os movimentos da actividade financeira do Estado,


mas para que esses movimentos (a crédito ou a débito) sejam registados existem um
conjunto de documentos que permitem a movimentação neste sistema e cada um atende

27

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


a sua especificidade. Por exemplo, quando o Estado cobra tributos emite um documento
de cobrança, o contribuinte pega neste documento e procede o pagamento, volta a
repartição fiscal que vai lhe dar um segundo documento, que é o documento de
cobrança pago, é com este documento que depois se vai registar a cobrança daquela
receita e este movimento fica registado no sistema.

O Decreto Presidencial n°223/18 de 26 de Setembro que aprova o Regulamento do


Sistema de Arrecadação de Receitas Públicas, nos termos deste diploma no artigo 9.°
com relevância nas alíneas a) e e), demonstra os documentos de arrecadação de receitas
públicas e também o artigo 10.° do mesmo diploma, bem como o artigo 14.° (extrato da
conta única do tesouro). A finalidade do extrato, para além de saber das movimentações
que nos possibilita actualizar, também nos permite conferir, comprovar, confrontar os
documentos de arrecadação com as receitas creditadas.

O orçamento das receitas está sendo executado quando o Estado cobra receitas e o
orçamento das despesas está sendo executado quando o Estado realiza despesas, mas no
que respeita ao orçamento das receitas, por ser susceptível de onerar o Estado, está
sujeito a regras mais apertadas, obedece a três etapas:

1. Cabimentação: aqui procura-se verificar se aquela despesa consta no orçamento


ou não (artigo 31.° da LQOGE).
2. Liquidação: o sentido de liquidação aqui tem que ver com o apuramento do
montante da despesa. Visa também apurar a importância exacta da despesa e a
quem se deve pagar (n°2 do artigo 32.° da LQOGE).
3. Pagamento: consiste no desembolso dos valores (artigo 33.° da LQOGE). Só
depois de se verificar os dois primeiros processos é que se passará ao
pagamento. Para realizar movimentos a débitos, o documento que suporta este
processo, segundo a alínea g) do n°2 do artigo 5.° do Decreto Presidencial
141/20 que dita as Regras de Execução do OGE para o exercício económico de
2020 e o n°2 do artigo 33.° da LQOGE é a Ordem de Saque.

28

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


7.11. Alterações orçamentais
Como já falamos anteriormente o orçamento é uma previsão e estas podem se realizar
tal como foram estimadas, porém existem situações que podem fazer com que o que foi
planificado não ocorra tal como se previa. Existem algumas situações que tendem a
fazer com que o orçamento seja alterado, nesta ordem de ideias estas situações são as
seguintes:

1. Insuficiência de receitas: trata-se da insuficiência de receitas alocadas para


desenvolver as despesas, sendo necessário um acréscimo de valores. Aqui fala-
se de reforço para que as despesas sejam realizadas;
2. Não previsão de despesas ou despesas não previstas: estamos a falar de
despesas não previstas, mas que devem ser realizadas, para este efeito, surge a
necessidade de se criar uma nova despesa;
3. Desnecessidade da despesa: acontece quando no momento da elaboração do
orçamento uma despesa seja necessária, porém durante o exercício do orçamento
a despesa deixa de existir.

Segundo o artigo 26.o LQOGE fazem-se alterações orçamentais através da abertura ou


solicitação de créditos orçamentais adicionais. São adicionais por serem despesas não
previstas ou insuficientemente orçamentadas na OGE estão previstos dois tipos de
créditos que são:

1. Os créditos iniciais: são aqueles inscritos na lei fundamental (LQOGE);


2. Os créditos adicionais: são aqueles abertos em consequência de alterações que
se verifiquem, após a aprovação da lei orçamental. São autorizações de despesas
não previstas ou insuficientemente orçamentadas e segundo o n.o 2 do artigo 26.o
classificam-se em:
a) Créditos adicionais suplementares: quando destinados ao reforço da dotação
orçamental;
b) Créditos adicionais especiais: quando destinados a atender despesas para as
quais não haja dotação orçamental específica na lei orçamental;

29

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


c) Créditos adicionais extraordinários: quando destinados a atender despesas
urgentes e imprevistas. Ex.: em situações de guerra, perturbação interna ou
calamidade pública.

Estes créditos são abertos por decreto presidencial devendo o Presidente dar a conhecer
imediatamente a Assembleia Nacional. Nestas situações não se impõem um limite ao
Presidente para pôr mão aos recursos considerando a gravidade do momento.

Uma das diferenças entre os créditos iniciais e os adicionais é o período em que um e


outro são instituídos.

7.12. Controlo da execução orçamental


A nível doutrinal existe uma vasta discussão se o que é feito no âmbito da execução do
orçamento é um controlo ou uma fiscalização. No nosso caso o legislador (LQOGE)
trata dos dois conceitos como se fossem sinónimos. Na visão do Professor Sousa
Franco, a fiscalização refere-se apenas à observação da legalidade, já o controlo, além
de englobar a fiscalização, inclui também a responsabilização. Esta última, a
responsabilização, que já vimos que pode ser financeira, politica, civil, disciplinar e ou
criminal. Sendo assim, afirmamos que no nosso caso a expressão a ser aplicada é o
controlo.

O controlo é exercido sobre a execução do orçamento e também sobre os resultados do


exercício da actividade financeira durante certo período, que aparecem condensados na
Conta Geral do Estado.

7.12.1. Níveis de controlo da execução orçamental


Segundo o no 1 do artigo 63.o da LQOGE, o controlo é feito a dois níveis:

a) Controlo interno: este controlo é feito por entidades que integram a estrutura
administrativa. Isto traduz a ideia de que o órgão que executa é parte da estrutura
administrativa que controla.

A última parte do no 1 do artigo 63.o da LQOGE diz que “(...) o controlo interno é feito
pelo Presidente da República, através dos seus órgãos especializados”. À luz do decreto

30

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


presidencial no 242/20, o órgão (especializado) com competência para fazer o controlo
interno é o IGAE (Inspecção Geral da Administração do Estado), tal como consagra o
artigo 1.o do mesmo diploma (decreto presidencial no 242/20).

b) Controlo externo: é o controlo que é feito à execução do orçamento por


organismos que não pertencem à estrutura administrativa. É realizado pela
Assembleia Nacional e o pelo Tribunal de Contas.

O controlo feito pela Assembleia Nacional é um controlo de natureza política que


assenta no jogo político (conquista, exercício e manutenção do poder), ou seja, quem
está no poder procura passar a ideia de que são os mais aptos para governar e a oposição
tenta passar a ideia de que o adoptado não é o mais adequado. O controlo que a
Assembleia faz acontece em três momentos:

1. Antes da execução (a priori): é realizado por altura da discussão e aprovação


da proposta orçamental (ver alínea e) do artigo 161.o da CRA e o artigo 24.o da
LQOGE).
2. Durante a execução (concomitante): é feito por altura da execução do
orçamento. A LQOGE no no3 do artigo 63.o orienta que após 3 meses, passados
45 dias, o Presidente da República deve apresentar um relatório de execução
trimestral à Assembleia Nacional, é por este relatório que é feito o controlo
concomitante.
3. Depois da execução (a posteriori): é o que a Assembleia Nacional faz por
altura da Conta Geral do Estado tal como consagra a alínea b) do artigo 162 da
CRA e o no2 do art. 63.o da LQOGE.

Tal como já dissemos a Conta Geral do Estado respeita para o passado e corresponde a
atividade financeira desenvolvida pelo Estado. A CRA na alínea b) do artigo 162.o nos
diz que compete a Assembleia Nacional “receber e analisar a conta geral do Estado (...)
«podendo» as mesmas serem acompanhadas (...)”. O termo podendo traz a ideia de ser
facultativo e não imperativo. Mas esta questão é suprida com o no2 do artigo 7.o da Lei
Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas.

31

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


O controlo do Tribunal de Contas é técnico-jurídico e tendo em conta a natureza das
despesas. Pois, não basta a despesa estar fixada é preciso que respeite as regras dos
“3Es”4. A actividade do Tribunal de Contas não se limita aos departamentos
orçamentais, ou seja, à Administração Directa do Estado, estende-se a todos aqueles que
beneficiam dos fundos públicos. Ocorre, o controlo financeiro e a fiscalização feita pelo
Tribunal de Contas, em três momentos:

1. Antes da execução (a priori): é o controlo preventivo que vem consagrado no


art. 8.o da Lei Orgânica e do Processo do Tribunal de Contas.
2. Durante a execução (concomitante): determinados actos pela sua natureza
implicam um controlo e fiscalização na medida em que são executados (artigo
63.o no5, artigo 6.o alínea k) da LALOPTC (Lei que altera a Lei Orgânica e do
Processo do Tribunal de Contas); artigo 2.o no 2.o alínea a) da LOPTC).
3. Depois da execução (a posteriori): é um controlo sucessivo e está consagrado
nos artigos 9.o, 72.o e 79.o da LOPTC.

Todos os órgãos que integram o OGE devem constar na Conta Geral do Estado tal como
consagra o no1 do artigo 58.o da LQOGE. À luz do no2 do artigo 104.o da CRA as
Autarquias integram o OGE então as mesmas e os demais organismos (empresas
públicas, etc.) são passíveis de fiscalização e integram a Conta Geral do Estado.
Segundo o artigo 20.o do Estatuto do Ministério das Finanças, a entidade a quem
compete elaborar a Conta Geral do Estado é a Direcção Nacional de Contabilidade
Pública.

Tal como existe o orçamento de gerência e o orçamento de exercício, o mesmo acontece


com a Conta Geral do Estado, tendo a Conta de Gerência e a de Exercício. Segundo no4
do artigo 63.o da LQOGE o Presidente da República deve fazer chegar a Conta Geral do
Estado à Assembleia Nacional até 30 de Setembro do ano seguinte àquele a que diga
respeito. Já o no6 do mesmo artigo vem nos dizer que a Assembleia Nacional deve
apreciar e votar a Conta Geral do Estado até 30 de Junho do ano seguinte.

4
A regra dos 3E's, vem nos dizer que a despesa tem de ser o mais Económica possível, Eficaz e Eficiente.
32

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


8. DESPESAS PÚBLICAS
Doutrinalmente a despesa pública é entendida como o gasto de dinheiro ou dispêndio de
dinheiro ou dispêndio de bens por uma entidade pública para a satisfação de
necessidades públicas.

Podemos identificar três elementos que abrangem todas as realidades que devem ser
vistas como despesas, estes elementos são elemento objectivo, subjectivo e teleológico.

1. Tipo de operação (objectivo): refere-se a afectação de recursos disponíveis à


uma determinada finalidade.
2. Sujeito da operação (subjectivo): refere-se a entidade que procede ao gasto de
dinheiro, tal entidade que deverá estar dotada de poder de autoridade.
3. Fim da operação (teleológico): visa a satisfação das necessidades públicas.

As despesas públicas aparecem consagradas no artigo 12.° da LQOGE. O conceito que


está consagrado nesta lei é mais restrito, pois refere-se apenas aos gastos do Estado
enquanto Administração (sector público administrativo). Por esta razão distingue-se a
despesa pública da despesa do sector público.

Para entender a diferença temos que saber que o sector público é mais abrangente.
Sendo que as despesas públicas abarcam:

1. Sector Administrativo do Estado, este que é composto por:


a) Estado-Administração;
b) Institutos Públicos;
c) Associações Públicas;
d) Autarquias Locais.
2. Sector Empresarial do Estado, que é composto por:
a) Empresas públicas e afins5.

5
Os afins que nos referimos são as sociedades comerciais em que o Estado detém participações.
33

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


As despesas do sector público abarcam apenas o sector Administrativo do Estado, já as
despesas públicas abarcam tanto o sector administrativo do Estado bem como o sector
empresarial do Estado.

8.1. Classificação orçamental das despesas públicas6


Do ponto de vista legal e com base na regra da especificação que o artigo 13.° da
LQOGE, classifica as despesas em:

1. Classificação institucional (artigo 14.° da LQOGE): atende aos sujeitos ou


entidades que procederão os gastos do dinheiro.
2. Classificação funcional-programática (artigo 15.° da LQOGE): o legislador
vincula/relaciona o gasto de dinheiro às metas e projectos traçados.
3. Classificação económica (artigo 16.° da LQOGE): esta classificação aborda
sobre as despesas correntes e as de capital. Tal como já dissemos, as despesas
correntes são aquelas cuja utilidade se esgota com a sua realização, já as despesa
de capital são aquelas que se estendem no tempo.

Tal como já dissemos mais atrás, com o advento do intervencionismo as despesas


públicas tornaram-se um instrumento de intervenção do Estado na economia. Do ponto
de vista doutrinal as despesas classificam-se em:

1. Despesas de investimento e despesas de funcionamento7.


a) Despesas de investimento: são os gastos efectuados na formação de capital;
b) Despesas de funcionamento: são os gastos necessários para garantir o normal
funcionamento da máquina administrativa. Ex.: pagamento dos salários da
função pública.
2. Despesas-compra ou em bens de serviços e despesas-transferências.

6
Esta matéria está dentro do âmbito das avaliações das despesas.
7
Não se deve confundir esta classificação com a que agrupa as despesas em corrente e de capital, pois
existem despesas de capital que não correspondem a despesas de investimento, como é o caso do
reembolso de um empréstimo e há despesas correntes que não correspondem a despesas de
funcionamento, como é o caso do pagamento de juros da dívida pública.
34

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


a) Despesas-compras ou em bens de serviço: são gastos que asseguram a criação
de utilidade através de aquisição de bens e serviços. O Estado efectua este tipo
de despesa quando adquire um equipamento, material de consumo ou quando
paga o vencimento a um funcionário.
b) Despesas-transferência: são gastos que se limitam a proceder a uma
redistribuição de recursos, transferindo poderes de compra a entidades que se
situam no sector público ou privado, não implicando qualquer contrapartida
directa a quem financia. Ex.: quando o Estado concebe bolsa de estudo ou
subsídio de desemprego.
3. Despesas produtivas e despesas reprodutivas.
a) Despesas produtivas: limitam-se a criar utilidades, trata-se de gastos
simplesmente produtivos. Ex.: gastos feitos com o Exército e a Polícia Nacional.
b) Despesas reprodutivas: representam gastos que contribuem para aumento da
capacidade produtiva, gerando utilidade no futuro (investimentos em estradas,
transporte e meio de comunicação).

8.2. Despesa pública e Despesa nacional


Em termos macro-económicos, a despesa pública é considerada uma parcela da despesa
nacional. A despesa nacional pode ser vista do ponto de vista institucional, quando
realizada por indivíduos, famílias e outros sujeitos privados ou pelo Estado e outros
sujeitos públicos. Ou do ponto de vista da sua natureza (consumo, investimento ou
transferência).

8.3. Aumento das despesas públicas


Como já foi dito várias vezes, as funções do Estado aumentaram desde que este passou
a ter um carácter intervencionista na economia e isto aumentou nas sociedades
modernas. Nos finais do século XIX Adolfo Wagner enunciou a lei do aumento das
despesas públicas, também conhecida como lei de Wagner. Esta lei diz que “à medida
que o rendimento e a produção por habitante aumentam nas Nações industrializadas, o
respectivo sector público administrativo cresce necessariamente mais do que
proporcionalmente à actividade económica total”.

35

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


Esta lei sofreu várias críticas, das quais destaca-se a feita pelo professor Teixeira
Ribeiro que alegou precisar de demonstração, tornando-a empírica. Com o passar do
tempo foi-se verificando a efectivação da lei de Wagner, constatando-se o aumento
crescente das despesas públicas. O aumento das despesas públicas nem sempre é real,
por vezes é aparente. É aparente no sentido de que não pressupõe aumento de facto.

8.4. Causas do aumento mais que proporcional das despesas


As despesas públicas têm aumentado mais que proporcional em relação às despesas
privadas por vários factores, dentre os quais destacamos os seguintes:

1. Transformação dos sistemas e das estruturas económico-sociais do século XX


com fundamento na assunção de novas funções, mesmo no plano produtivo, por
parte do Estado, que passou a satisfazer necessidades que já antes eram sentidas
pelos particulares.
2. A alteração do papel do Estado que em razão de novas ideologias e de novas
doutrinas económicas adquire uma postura mais intervencionista, seja
assumindo propósitos e políticas de regulação de conjunturas económicas, seja
tentando concretizar o Estado de bem-estar.

Para além destas existem outras causas como as transformações demográficas, a


influência das guerras, sobretudo as duas guerras mundiais.

8.5. Efeito do aumento das despesas públicas


Os efeitos das despesas públicas são vistos por meios de instrumentos que permitem
analisar os efeitos económicos das mesmas, estes instrumentos são:

1. Multiplicador: é o coeficiente que mede o aumento do rendimento imputável à


realização de um investimento inicial. Ex.: A é empreiteiro e contratado para
fazer uma obra, quando for fazer as compras dos materiais na loja de B, B dono
da loja, fruto das compras que A fez, terá de fazer compras a C para repor o
stock, C, fruto do que vendeu a B terá de fazer compras também e assim
sucessivamente.

36

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


No multiplicador, a partir do investimento inicial vai se verificar uma multiplicidade de
acções. O efeito multiplicador poderá ser maior tendo em conta a propensão marginal
para o consumo.

2. Acelerador: é o coeficiente que permite relacionar o aumento de consumo com


o aumento de investimento dele resultante. Ex.: Fruto do aumento de pessoas
interessadas em ingressar ao ensino superior aumentou-se o número de
instituições de ensino superior.

O funcionamento do acelerador implica a verificação de certos pressupostos8, como:

a) A plena utilização dos bens de equipamentos;


b) A previsão por parte do empresariado de que a procura de bens de consumo ou
de serviços não é puramente ocasional;
c) A dimensão suficiente das empresas para comportar, razoavelmente, o
crescimento determinado pela procura;
d) A ausência de entraves técnicos.
3. Propulsor: tenta fazer a combinação conjugada dos efeitos do multiplicador e
do acelerador numa economia concreta.

Por vezes surgem causas externas que impedem o funcionamento destes instrumentos
ou, pelo menos, que determinam que os seus efeitos sejam inferiores aos esperados.
Essas causas derivam de um fenómeno de filtrações ou fugas que limita ou anula o
efeito pleno do multiplicador, do acelerador ou do propulsor. Ex.: as importações, a
propensão para a poupança e o rendimento de subsistência.

8
Se um destes pressupostos não estiver presente, o consumo adicional não induz aumento de
investimento. Quando muito poderá determinar um acréscimo de emprego ou uma melhor utilização
dos equipamentos.
37

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


9. RECEITAS PÚBLICAS9
A receita pública pode ser entendida como qualquer recurso obtido por um período
mediante o qual o sujeito público pode satisfazer as despesas públicas a seu cargo – isto
significa que tudo que o Estado recebe, a partida é receita pública. As receitas públicas
são aquelas que permitem ao Estado agir, produzir ou contratar os bens públicos que
servem para a satisfação das necessidades colectivas.

As receitas públicas são atribuições definitivas de dinheiro ou em bens de uma entidade


pública ou equiparada. Toda receita pública é um recurso financeiro, porém, nem todo
recurso financeiro é uma receita pública. O conceito de recurso financeiro é mais amplo,
pois pode abarcar as receitas em regime transitório e as definitivas.

Neste sentido, quanto a estrutura, as receitas mais importantes10 são as patrimoniais,


tributárias e creditícias.

9.1. Receitas patrimoniais11


Eram as primeiras, isto no Estado estamental, onde as receitas derivavam das terras e da
propriedade. Posteriormente houve uma evolução para as receitas tributárias. As receitas
patrimoniais resultam também do património mobiliário.

As receitas patrimoniais decorrem da normal administração do Estado ou da alienação


do património do Estado. Quando falamos das receitas patrimoniais temos que ter em
conta que só é possível se o Estado tiver património. O património do Estado pode ser
visto do ponto de vista jurídico e económico-financeiro, mas nenhuma destas
perspectivas nos permite ter uma noção clara do que é património do Estado. Mas de
forma genérica, o património do Estado é o acervo de bens susceptíveis de satisfazer

9
Ficam de fora do leque das receitas públicas, as receitas que o Estado antecipa para regime transitório.
Um exemplo de uma receita ou recurso em um regime transitório seria um empréstimo a curto prazo
para cobrir um défice de tesouraria.
10
Para além destas existem outras receitas como as transferências, contas de ordem, as multas, etc.
11
As receitas patrimoniais e as tributárias são efectivas porque aumentam o património monetário do
Estado. Contrário destas são as receitas não efectivas que diminuem o património monetário do Estado.
38

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


necessidades económicas, estes são titulados pelo Estado. O Estado também é
responsável pelas obrigações que recaiam sobre estes bens.

Do ponto de vista do conteúdo do património é possível distinguir o património


imobiliário ou mobiliário que se encontram nos artigos 204.° e 205.° do Código Civil,
geral ou especial, sendo que aqui o legislador fez recurso a técnica de exclusão de
partes.

Outra classificação é a dominial do Estado, a que difere bens de domínio público e


privado. Os bens de domínio público são aqueles que tendo em conta a sua utilidade
social, a própria lei os retira a possibilidade de serem objectos de negócios jurídicos, tal
como consagra a Constituição no seu artigo 94.° e 95.° e em vários artigos da Lei 18/10
de 6 de Agosto (Lei do Património Público).

Existem ainda os bens integrados no domínio privado do Estado, estes bens podem sim
ser alienados e devem obedecer ao princípio da concorrência, outras vezes não
obedecerá esta regra, quando estivermos em regime de monopólio, por isso existe a Lei
das Cláusulas Gerais dos Contratos para evitar as cláusulas abusivas. Nesta senda, a lei
do sector empresarial do Estado não permite a extinção de uma empresa pública por via
do instituto da falência, para evitar que os bens de domínio público passem para a esfera
de privados.

9.2. Receitas tributárias


Nestas destacam-se os impostos, taxas e as contribuições especiais.

9.2.1. Impostos
É uma prestação patrimonial definitiva12, estabelecida por lei ou coactiva, sem contra-
prestação imediata, a favor de entidades que exerçam tarefas ou funções públicas, sem
carácter sansonatório e em prol das necessidades colectivas.

12
O termo prestação definitiva significa que uma vez pago não há qualquer reembolso. Porém, existem
casos em que, por algum erro, o contribuinte acabou por pagar mais do que o exigido, nestes casos não
há reembolso, há uma reposição.
39

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


O imposto vem de qualquer sujeito passivo e é cobrado pelo Estado, o pagamento não é
voluntário, é obrigatório e serve para a satisfação das necessidades colectivas.
Diferentemente do passado em que o rei impunha a cobrança e com excessos, hoje em
dia temos consciência que não tem carácter ilícito, nem tem como finalidade punir ou
sancionar. Estão consagrados na CRA no artigo 102.°.

A natureza patrimonial do imposto é que este é normalmente pago em dinheiro. Porém,


é válido o pagamento de forma subsidiária. Não é válido o pagamento em espécie, mas
de forma excepcional, existem impostos que podem deixar de ser pagos em dinheiro
(ex.: o imposto de selo).

9.2.2. Taxas
É uma prestação patrimonial definitiva, estabelecida por lei ou coactiva, a favor de
entidades que exerçam funções públicas como contra-prestação individualizada de uma
actividade pública da utilização individual de bens de domínio público ou remoção de
um limite jurídico à actividade dos particulares. Estão consagradas no artigo 103.° da
CRA e na Lei 7/11 de 16 de Fevereiro que estabelece o Regime Geral das Taxas.

A taxa aparece normalmente ligada a uma utilidade, ou seja, o contribuinte tira da taxa
uma utilidade, é esta utilidade que coloca o contribuinte na obrigação de pagar a taxa.

9.2.2.1. Fundamentos do pagamento da taxa


1. Utilização de um serviço público. Ex.: as custas judiciais, pelo facto do
indivíduo entrar em contacto com os serviços judiciais deve suportar os
encargos.
2. Utilização de um bem de domínio público. Ex.: a taxa de circulação;
pagamento das portagens.
3. Remoção de um obstáculo jurídico à actividade dos particulares. Ex.: a
licença de uso e porte de arma; licença fiscal pela posse de aparelho de
radiodifusão.

40

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


9.2.2.2. Critérios para afixação do montante das taxas
Em função do objectivo do Estado para com o serviço, limita-se o valor/montante da
taxa.

1. Critério estimulante: quando o Estado pretende que os cidadãos procurem os


serviços públicos estabelece uma taxa relativamente baixa. Ex.: as taxas que se
pagam para o registo civil (Bilhete de Identidade).
2. Critério moderador: quando o estado pretende impedir que os cidadãos
acorram precipitadamente aos serviços públicos o valor é relativamente alto, ou
seja, visa impor disciplina aos cidadãos na procura daqueles serviços. Ex.: as
custas judiciais (taxa de justiça).
3. Critério Redistributivo: quando o Estado fixa o montante da taxa na
perspectiva da distribuição da riqueza, ou seja, busca-se repartir os encargos
daquele serviço de maneira proporcional. Ex.: taxa para o registo predial (no
registo dos imóveis os mais caros pagam mais, os mais baratos pagam menos).

Segundo o n°1 do artigo 12.° da Lei sobre o Regime Geral das Taxas, as taxas são
criadas por via de um acto administrativo. O artigo 8.°, 9.°, 10.° e 11.° abordam sobre
os princípios para se criar uma taxa.

9.2.3. Contribuições especiais


Para que não confundamos as contribuições especiais com os impostos temos de ver na
perspectiva económica e não jurídica. Existem fundamentalmente duas razões para a
criação das contribuições especiais:

1. Utilidade que uma despesa pública vai criar ao particular, ou seja, por se
repercutir de forma directa e imediata na esfera/vida do particular.
2. Pela actividade que o particular desempenha criar maiores encargos ao Estado.
Ex.: o caso dos caminhões cisternas que tratam das fossas. Essa actividade cria
maior despesa ao Estado, por degradar o ambiente e fazem com que o Estado dê
outro tratamento àquele resíduo.

41

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


9.3. Receitas creditícias
Resultam dos créditos, têm como base a relação sinalagmática. Falar das receitas
creditícias é falar daquelas que derivam do crédito público.

9.3.1. Crédito público


O crédito de forma geral pode ser entendido como uma troca de um bem, dentro de um
horizonte temporal, com base na confiança de dois ou mais sujeitos, sendo que o sujeito
passivo fica com a obrigação de reembolsar a coisa ao outro sujeito.

Temos que ter em conta que só estamos a falar de crédito público sempre que um dos
sujeitos dessa relação é uma entidade pública. Estritamente falando, existe crédito
público sempre que o sujeito público encontra-se na posição passiva numa relação de
crédito. Já de forma ampla, resume-se ao conjunto de operações e esforços que o Estado
faz para obtenção de meios para cobrir as suas responsabilidades ou encargos, deste
conjunto, a mais significativa é o empréstimo público.

Nesta relação é possível encontrarmos dois elementos:

1. Subjectivo: visa falar sobre as características de que o sujeito público surge


revestido, sendo que numa relação jurídica de crédito simples pode ser credor ou
devedor, mas num crédito público surge como devedor gozando do poder de
autoridade que permite que este introduza alterações tanto originárias como
supervenientes ao regime normal de nascimento, vida e cumprimento da relação
obrigacional do crédito público.
2. Objectivo: está em causa a natureza da operação, pautando pelo modo e a que
título é feita a intervenção do Estado numa relação creditícia. Assim, numa
relação creditícia mantida directamente entre o Estado e o credor, o Estado surge
como devedor principal, fruto da não intervenção de outros sujeitos nesta
relação. Por outro lado, o Estado pode ser devedor subsidiário 13 quando este

13
O Estado geralmente assume o papel de devedor subsidiário quando o devedor principal, não tendo
meios para liquidar a dívida, constitui um grande parceiro para o Estado, sendo que este último fica com
a responsabilidade de reembolsar o Estado posteriormente – a este tipo denominamos empréstimo com
reembolso de encargos. Nos casos em que o Estado se compromete apenas a pagar, caso o devedor não
cumpra – a este tipo denominamos aval do Estado.
42

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


responde pelas dívidas contraídas por outras entidades, sendo pagador de dívidas
acessórias. Ou seja, do ponto de vista objectivo que tem que ver natureza da
operação, o Estado só pode ser devedor principal ou devedor subsidiário.

9.3.1. Razões de ordem financeira e económica do recurso ao crédito público


1. De ordem Financeira:
a) Necessidade de proceder a cobertura do défice de tesouraria;
b) Necessidade de cobertura do défice do orçamento, quando se verifica um
excesso de despesas correntes sobre as receitas correntes.
2. De ordem económica: acontece quando o Estado recorre ao crédito não com o
intuito de financiar despesas públicas, mas por vezes para evitar a realização de
despesas privadas.

9.4. Classificação das receitas

9.4.1. Classificação legal


A classificação legal agrupa as receitas em:

1. Económica (artigo 10.° da LQOGE):


a) Receitas correntes;
b) Receitas de capital.
2. Por fonte de recurso (artigo 11.° da LQOGE):
a) Quanto à origem;
b) Quanto ao destino.

9.4.2. Classificação doutrinal


A classificação doutrinal organiza as receitas em:

1. Correntes e de capital.
2. Ordinárias e extraordinárias.
3. Coercivas e não coercivas14.

14
As receitas coercivas resultam da imposição lega. Ex.: Impostos. Já as receitas não coercivas resultam
de uma relação obrigacional (contrato). Ex.: Contrato de compra e venda.
43

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


4. Originárias e derivadas15.
5. Efectivas e não efectivas.

As receitas públicas podem ser de direito público, quando o Estado as arrecada munido
do seu poder de autoridade. Ex.: os impostos. Podem também ser de direito privado,
quando o Estado as arrecada como se de privado se tratasse. Ex.: os preços.

9.5. Regime jurídico das receitas públicas


Falar do regime jurídico das receitas públicas pressupõe falar dos princípios e regras a
que estão subordinadas as receitas públicas no nosso ordenamento jurídico e são:

1. Princípio da legalidade: segundo o qual as receitas públicas devem ser regidas


por lei e hão de ser criadas por lei ou com base nelas (artigo 102.° da CRA).
Buscamos aqui o princípio da legalidade tributária, no sentido de que a princípio
só a Assembleia Nacional pode criar impostos e deve ser interpretado com a
alínea o) do artigo 165.° da CRA.
2. Princípio da renovação anual: sem a renovação orçamental anual não podem
ser cobradas receitas (artigo 24.° da LQOGE).
3. Princípio da previsão: segundo o qual a receita deve encontrar-se
integralmente prevista no orçamento (artigo 5.° da LQOGE).
4. Princípio da não compensação: não se deve deduzir das receitas as despesas a
realizar (n°5 do artigo 8.° da LQOGE).
5. Princípio da não consignação: todas as receitas devem servir para cobrir todas
as despesas (alínea b) do n°1 do artigo 21.°, artigo 39.° e 40.° da LQOGE).

9.6. Avaliação das receitas


Em matéria de receitas, os serviços da administração podem avaliá-las de acordo com
um dos métodos seguintes:

15
As receitas originárias são as que derivam da actividade de produção própria do Estado. Ex.: receitas
patrimoniais do Estado. Já as receitas derivadas representam a participação do Estado na riqueza gerada
por outras entidades. Ex.: Impostos.
44

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


1. Método de avalição directa: é aquele que é aplicado nas receitas cobradas pela
primeira vez, podendo serem cobradas as mesmas receitas, mas em condições e
circunstâncias diferentes do ano anterior.
2. Método do penúltimo ano: consiste em estabelecer a regra do passado. Ex.: em
preparação do OGE de 2022 aplicam-se as regras de 2020.
3. Método do penúltimo ano corrigido: implica cobrar mais receitas em relação
aos anos anteriores e dos impostos não existentes nos outros anos. Ex.: o
surgimento do IVA.
4. Método do rendimento médio: consiste em saber o rendimento dos últimos 5
anos, sendo o resultado disto aplicado no orçamento actual.

45

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
A caminhada ainda é longa, mas se chegámos até aqui é porque ainda podemos ir muito
mais distante e atingir a meta.

Todos os assuntos abordados nesta manual são de cariz introdutórios, sendo certo que
devem ser aprofundados e acompanhados com os materiais obrigatórios e com as leis
actualizadas. Esperamos que este material não limite os estudantes ou qualquer
interessado, pelo contrário, que os estimule a procurarem desenvolver mais os assuntos
aqui abordados.

Por não ser um material elaborado por experts na matéria, de certeza que tem várias
lacunas e assuntos bastantes resumidos que os aprofundar constituem vantagens para o
estudante.

Conseguimos notar que ainda há muito por se abordar e as Finanças Públicas e Direito
Financeiro é um assunto interessante que nos permite perceber muitos assuntos actuais e
actuantes da vida do Estado, fundamentalmente sobre o Orçamento Geral do Estado
enquanto maior instrumento de governação. Muitos assuntos que eram alheios e
passavam despercebidos para nós, com o estudar desta disciplina tornam-se familiares e
apreciáveis.

Por ser uma matéria que está sujeita a vinculações legais é fundamental que estejamos
atentos a toda a legislação que é aprovada e entra em vigor, pois só assim saberemos das
normas que entram em vigor e das que perdem a vigência. Por outro, todo o conjunto de
matérias estudadas anteriormente noutras disciplinas como Introdução ao Estudo do
Direito, Ciência Política e Direito Constitucional, Economia Política e outras, bem
como as disciplinas contemporâneas a esta, principalmente Direito Administrativo,
serão fundamentais para a percepção desta disciplina.

Esperamos que a leitura ou consulta tenha sido boa e servido para ajudar nalgum
aspecto, desejamos força e tudo de bom, independentemente do caminho que esteja a
traçar e trilhar.

46

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DA SILVA, Patrício Jean. Manual de Introdução ao Direito. São Paulo, 2014.

FRANCO, Sousa. Finanças Públicas e Direito Financeiro. 4a edição, Edições Almeida,


Coimbra, Portugal, 2010.

NUNES, Rangel Elisa. Lições de Finanças Públicas e de Direito Financeiro. 6a edição.


Luanda, 2019.

47

Elaborado pelo Grupo Estudando IUS, constituído por: Aires Munhingana, Anita Senda,
Dalton de Carvalho, Danilson de Castro, Daniel Matetele, Honoré Kangala, Joaquim Vicente,
Ismael Job, Marinela Brandão, Márcia Lelo, Telmo Tchitanga e Santos dos Santos.

Luanda, Setembro de 2021.

Você também pode gostar