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0565 – Gestão Financeira

Apontamentos de: Fernando Algarvio


E-mail: fernando.algarvio@gmail.com
Data: 2006/07

Livro: Princípios de Gestão Financeira, H. Caldeira Menezes

Nota: Aconselho o estudo da parte teórica para enquadramento mas é fundamental a realização de
muitos exercícios práticos para preparação do exame.

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas.
O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não
pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

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Índice
Estudo Complementar da Rendibilidade e dos Fluxos Financeiros..................................................5
As Rendibilidades de Exploração, Global e do Capital Próprio da Empresa....................................6
Os Meios Libertos Brutos (MLB)....................................................................................6
Os Resultados de Exploração (RE) ou Resultado Operacional (RO)..........................................7
Os Resultados Líquidos.............................................................................................8
Os Meios Libertos Líquidos (MLL).................................................................................9
Os Meios Libertos Líquidos Retidos (MLLR) ou Autofinanciamento.........................................10
Pirâmide de Rácios................................................................................................10
O Efeito da Fiscalidade no Custo Financeiro e o Custo Financeiro Efectivo..................................13
O Ponto Morto Financeiro............................................................................................16
A Demonstração de Resultados na Óptica da Relação da Empresa com o Exterior e o Mapa dos Fluxos
Financeiros.............................................................................................................18
A Demonstração de Resultados na Óptica da Relação da Empresa com o Exterior......................18
O Mapa dos Fluxos Financeiros...................................................................................19
A demonstração dos fluxos de caixa........................................................................21
A Tesouraria de Exploração..................................................................................24
A Tesouraria Extra-Exploração...............................................................................24
A Tesouraria Global............................................................................................25
A Rendibilidade e a Inflação.........................................................................................26
Introdução..........................................................................................................26
Os Efeitos Económicos da Inflação..............................................................................27
Os Efeitos Financeiros da Inflação..............................................................................28
Os Efeitos Globais da Inflação...................................................................................28

A Gestão das origens e Aplicações Financeiras, a Curto Prazo.....................................................31


A Gestão do Activo Circulante.......................................................................................32
Introdução..........................................................................................................32
A Gestão do Disponível............................................................................................33
Os Títulos em Carteira (Títulos Negociáveis)..................................................................34
A Gestão do Realizável............................................................................................35
Clientes – Títulos a Receber..................................................................................35
Clientes, c/c....................................................................................................35
A Cedência de Créditos (factoring).............................................................................36
Devedores Diversos................................................................................................37
As Provisões Para Cobranças Duvidosas.........................................................................37
A Gestão das Existências..........................................................................................38
As Provisões para a Depreciação das Existências.............................................................39
Os Custos Diferidos................................................................................................39
Acréscimos de Proveitos..........................................................................................39
A Gestão do Exigível a Curto Prazo.................................................................................41
Introdução..........................................................................................................41
Os Trabalhadores..................................................................................................41
Os Adiantamentos dos Clientes..................................................................................41
Os Fornecedores...................................................................................................42

Gestão Financeira 2
Os Financiamentos Bancários....................................................................................42
Introdução......................................................................................................42
Os Empréstimos em Conta-Corrente........................................................................43
O Desconto de Títulos.........................................................................................43
O Desconto de Facturas.......................................................................................44
O Desconto de Warrants......................................................................................44
Aberturas de Crédito e Créditos Documentários..........................................................44
O Papel Comercial.............................................................................................44
As Garantias Bancárias........................................................................................44
O Estado e Outros Entes Públicos...............................................................................45
Os Credores Diversos e Outros Empréstimos...................................................................46
Provisões Para Riscos e Encargos................................................................................46
Os Proveitos Diferidos.............................................................................................46
Os Acréscimos de Custos..........................................................................................47
O Planeamento Financeiro a Curto Prazo..........................................................................49
Introdução..........................................................................................................49
O Dinamismo do Fundo de Maneio Necessário de Exploração...............................................49
O Nível da Actividade.........................................................................................49
A Sazonalidade da Actividade................................................................................50
A Inflação.......................................................................................................50
O Orçamento Anual de Tesouraria..............................................................................50
Introdução......................................................................................................50
O Orçamento de Tesouraria de Exploração................................................................51
O Orçamento dos Investimentos.............................................................................52
O Orçamento Financeiro......................................................................................53
O Orçamento de Tesouraria..................................................................................54
O Balanço Previsional.........................................................................................54
As Políticas Financeiras de Curto Prazo....................................................................55
O Controlo do Orçamento de Tesouraria...................................................................55

O PLANEAMENTO FINANCEIRO A MÉDIO E LONGO PRAZOS...........................................................56


Introdução..............................................................................................................57
A Estruturação dos Capitais Permanentes Adequados........................................................57
As características da empresa...............................................................................58
As Características dos Mercados Financeiros..............................................................58
A Tesouraria de Exploração..................................................................................58
A Rendibilidade dos Capitais Próprios......................................................................59
A Inflação.......................................................................................................59
O Risco e a Reserva Financeira Estratégica................................................................59
As Principais Políticas Financeiras..................................................................................60
A Política de Desenvolvimento...................................................................................60
A Política de Amortizações.......................................................................................60
A Política de Distribuição de Dividendos.......................................................................61
A Política de Transformação do Capital Social................................................................62
A Política e os Limites do Endividamento......................................................................62
As Fontes de Financiamento a Médio e Longo Prazos............................................................63
Introdução..........................................................................................................63
As Prestações Suplementares de Capital.......................................................................64

Gestão Financeira 3
O Autofinanciamento..............................................................................................65
Os Suprimentos.....................................................................................................65
Os Empréstimos Obrigacionistas.................................................................................66
A Elaboração dos Documentos Financeiros Previsionais.........................................................67
As Contas de Exploração e Resultados..........................................................................67
O Plano Financeiro.................................................................................................67
Os Balanços Previsionais..........................................................................................68

Gestão Financeira 4
Estudo Complementar da Rendibilidade e dos
Fluxos Financeiros

Gestão Financeira 5
As Rendibilidades de Exploração, Global e do Capital
Próprio da Empresa

Os Meios Libertos Brutos (MLB)

Os meios libertos brutos de exloração anuais (MLB) representam os excedentes financeiros brutos gerados
ela exploração da empresa e que, portanto, não são absorvidos pela cobertura dos custos totais de
exploração, incluíndo os custos financeiros de funcionamento.
Têm uma origem exclusivamente económica, pois dependem unicamente do nível de custos e dos
proveitos de exploração e da eficiência da gestão económica da empresa nos diversos estádios do seu ciclo
de exploração e nos vários níveis hierárquicos, sobretudo nos de natureza operacional (aprovisionamento,
produção, tecnologia e comercialização). Observe-se que as amortizações e as provisões de exploração
não afectam o nível dos meios libertos brutos, pois estas não representam pagamentos.

MLB = RE + PR + AR
MLB – Meios Libertos Brutos
PR – Provisões
AR – Amortizações

Os MLB de exploração, além do seu relevante significado económico, constituem a base da própria
tesouraria de exploração anual da empresa.
São o mais importante indicador absoluto para a análise económica comparativa de diversas empresas do
mesmo sector de actividade, desde que possuam idênticas estruturas produtivas, pois:
● as políticas de amortização do imobilizado e de constituição das diversas provisões dependem de
vários factores de apreciação naturalmente subjectiva;
● os custos financeiros de financiamento resultam da estrutura e das políticas financeiras praticadas
pela empresa, o que obviamente transcende completamente o horizonte puramente económico;
● o imposto sobre o rendimento do exercício varia de acordo com a possibilidade concreta de as
empresas poderem (ou não) colher todos os benefícios fiscais vigentes em determinado momento;
● os resultados líquidos têm, como consequência dos aspectos referidos, uma natureza residual.
A comparação inter-empresas de outros indicadores – v.g., resultados líquidos – que não atendam ao
carácter aleatório dos factores que transcendem a área estritamente económica certamente pecará pela
sua carência de validade...

Os Meios Libertos Brutos Totais anuais (MLBT) correspondem ao somatório dos resultados antes de custos
financeiros de financiamento e imposto sobre o rendimento (RAJI) e das amortizações e provisões de
exploração e extra-exploração, identificando-se, portanto, com os resultados anuais antes de
amortizações, provisões, custos financeiros de financiamento e imposto sobre o rendimento (RAJIAR).
Os meios libertos brutos de exploração anuais (MLB) identificam-se, matematicamente, com o RAJIAR, na
hipótese de não existirem outros custos ou resultados inorgânicos, isto é:

Gestão Financeira 6
MLB = RAJIAR = AR + PR + CFF + IRC + RL

A evolução temporal do indicador seguinte tem um enorme interesse, pois permite-nos analisar a parcela
das vendas líquidas que corresponde aos excedentes financeiros brutos:

MLB
× 100
Vendas Líquidas

Os Resultados de Exploração (RE) ou Resultado Operacional (RO)

Os resultados de exploração anuais da empresa (RE) resultam dos meios libertos brutos de exploração
anuais e são afectados pelas políticas de:
● amortização do imobilizado de exploração
● constituição das provisões para cobertura dos diversos riscos e encargos associados à sua
actividade operacional1
São um indicador de natureza exclusivamente económica, tal como acontece com os meios libertos brutos
de exploração, embora sejam influenciados por factores de natureza subjectiva e que norteiam as
políticas anteriormente citadas.
Os meios libertos brutos anuais da empresa devem ser, ao longo da sua vida, sistematicamente positivos,
sob pena de esta não atingir o limiar mínimo absoluto da sua própria viabilidade económica. Para que a
empresa ultrapasse o seu limiar mínimo de viabilidade económica, é necessário que o nível anual dos
meios libertos brutos de exploração seja sistematicamente suficiente para permitir adequadas políticas de
amortização das imobilizações utilizadas para fins operacionais e de constituição das provisões para a
cobertura de todos os riscos e encargos resultantes da sua exploração.
A ocorrência esporádica (um ou dois anos) de resultados de exploração negativos pode não colocar a
empresa numa situação económica difícil, desde que a situação preexistente tenha sido normal e as
origens da negatividade dos resultados sejam meramente conjunturais e facilmente resolúveis.
Os resultados de exploração anuais são essencialmente influenciados pelos seguintes factores de natureza
predominantemente económica:
1. Mercados e políticas comerciais
1.1. Quota de mercado da empresa (quantidades vendidas).
1.2. Nível dos preços de venda líquidos: preços de venda brutos, descontos comerciais,
comissões e descontos financeiros.
1.3. Nível dos stocks dos produtos acabados: a elevação dos stocks acima dos níveis normais
origina uma redução dos resultados de exploração (eventual acréscimo das respectivas
provisões) e pode apresentar efeitos negativos do ponto de vista financeiro (redução dos
recebimentos de exploração resultante da diminuição das vendas).
2. Nível dos diversos custos e produtividade
2.1. Custos industriais, eficiência técnico-produtiva, produtividade dos diversos factores, em
especial do trabalho, e nível dos stocks de produtos em vias de fabrico e semiacabados.

1 Referimo-nos às provisões adequadas para depreciação ou desvalorização do capital circulante de exploração e do


imobilizado total de exploração e, ainda, para diversos riscos e encargos de exploração, que são criadas em
determinado exercício económico, líquidas de eventuais utilizações anuais. A2. B12.

Gestão Financeira 7
2.2. Custos de distribuição e eficiência dos circuitos de distribuição.
2.3. Custos administrativos e eficácia dos sistemas de informação e controlo.
2.4. Custos financeiros de funcionamento: além dos descontos financeiros concedidos, há que
maximizar os descontos financeiros obtidos e minimizar os custos resultantes do desconto das
letras a receber.

Para além dos factores especificamente económicos, a qualidade da organização, da gestão e do controlo
globais da empresa nas diversas áreas funcionais e nos diversos níveis hierárquicos, exerce uma influência
muito especial sobre o nível dos resultados de exploração anuais.
Os resultados de exploração devem situar-se a um nível adequado e que permita a cobertura do custo do
capital, i.e., do custo da dívida (custos financeiros de financiamento) e do custo dos capitais próprios.

Rácio de cobertura dos custos financeiros (RCF), expressa a relação entre os resultados de exploração
(RE) e os custos financeiros de financiamento (CFF):

RE
RCF =
CFF

Este rácio não deve situar-se abaixo de determinados patamares sob pena da empresa vir a revelar-se
incapaz de remunerar os capitais próprios e de se assistir ao pronunciamento do risco financeiro. Observe-
se que a adequabilidade deste rácio varia com o risco sectorial e que o seu empirismo resulta do facto da
verdadeira capacidade de endividamento da empresa depender não dos resultados de exploração
contabilísticos mas sim da aptidão dos cash flows futuros para satisfazerem a totalidade do serviço da
dívida (capital e juros).

Taxa de Margem de Exploração – a análise da evolução deste indicador tem bastante interesse,
revelando-se a sua maximização muito importante para a empresa:

RE
× 100
Vendas Líquidas

Os Resultados Líquidos

São um dos indicadores absolutos da rendibilidade global mais importantes, pois constituem a base da
remuneração dos capitais próprios (dividendos ou lucros distribuídos) ou, quando retidos, contribuem para
aumentar o valor contabilístico da empresa e consolidar a sua autonomia financeira.
São essencialmente influenciados pelos seguintes factores:
● Nível dos meios libertos brutos de exploração
● Política de amortizações
● Política de constituição de provisões
● Nível dos resultados inorgânicos líquidos
● Nível dos custos financeiros de financiamento

Gestão Financeira 8
● Nível da taxa de impostos sobre lucros

Os resultados de exploração anuais pressupõem a amortização técnica e economicamente mais adequadas


das imobilizações de exploração e a correcta constituição de provisões para a cobertura de todos os riscos
e encargos decorrentes das actividades operacionais e constituem a base mais sólida dos resultados
líquidos. Efectivamente, os resultados extra-exploração revelam geralmente características acidentais ou
excepcionais e, por isso, não devem constituir a razão da pretendida positividade permanente dos
resultados líquidos anuais da empresa.
A existência de resultados líquidos positivos ao longo do tempo graças aos resultados extra-exploração
oculta geralmente uma realidade económica endémica que os gestores não querem (ou não podem)
ultrapassar. Em condições normais estas situações não são de aceitar.

Os Meios Libertos Líquidos (MLL)

Os meios libertos líquidos totais anuais (MLL) são o somatório:


amortizações exploração e extra-exploração + provisões líquidas exploração e extra-exploração +
resultados líquidos

São um indicador de natureza simultaneamente económica e financeira pois são afectados,


respectivamente:
● pela exploração (proveitos e custos de exploração);
● pela estrutura e política financeiras (custos financeiros de financiamento);
● enquadramento fiscal da empresa (nível da taxa de impostos sobre lucros2);
● actuação de outros factores (nível dos resultados extra-exploração).

Os meios libertos brutos de exploração constituem a base dos meios libertos líquidos, pois os resultados
inorgânicos têm geralmente uma reduzida expressão e em condições normais de rendibilidade os custos
financeiros de financiamento não são suficientes para absorver a totalidade dos meios libertos brutos de
exploração.
Embora os meios libertos líquidos sejam muito influenciados pela exploração, transcendem largamente o
seu âmbito, o que confere ao conceito de meios libertos líquidos de exploração um reduzido significado.
Acresce que este conceito geralmente pressupõe uma certa arbitrariedade na imputação às actividades
orgânicas e inorgânicas dos custos financeiros de financiamento e do imposto sobre o rendimento do
exercício.
Os meios libertos líquidos anuais da empresa representam os excedentes financeiros líquidos gerados pela
sua exploração e por outras actividades e que, portanto, não foram absorvidos pela cobertura de todos os
seus custos anuais desembolsáveis, isto é, com excepção das amortizações e provisões.
Os meios libertos líquidos anuais constituem um contributo positivo para a tesouraria global da empresa,
ou seja, representam o mais significativo dos seus recursos financeiros anuais (meios líquidos) destinados a
diversas finalidades:
● remuneração dos capitais próprios;
● simples consolidação da situação financeira;
● reembolso de débitos de financiamento (ciclo das operações financeiras);
● financiamento dos investimentos em fundo de maneio necessário;

2 Considerado por este autor como um custo extra-exploração.

Gestão Financeira 9
● financiamento dos investimentos em capital fixo (ciclo das operações de investimento);
● etc.

A observação da evolução do seguinte indicador tem um significado importante, pois representa a parcela
relativa das vendas líquidas que gera excedentes financeiros líquidos:

MLL
× 100
Vendas Líquidas

Os Meios Libertos Líquidos Retidos (MLLR) ou Autofinanciamento

São compostos pelos meios libertos líquidos anuais deduzidos dos resultados (preferenciais ou comuns)
distribuídos aos sócios (accionistas), trabalhadores e orgãos sociais (RD).
É influenciado por:
● factores económicos (os mesmos que afectam os meios libertos brutos de exploração);
● factores financeiros (os que se reflectem nos meios libertos líquidos);
● factores fiscais (idem);
● factores legais (obrigatoriedade da constituição da reserva legal);
● pacto social da empresa (constituição de reservas estatutárias);
● política de distribuição de dividendos.

Do ponto de vista da tesouraria, os MLLR têm o mesmo significado que os meios libertos líquidos totais,
apenas com a diferença de que a remuneração dos capitais próprios (lucros distribuídos – RD) já se
encontra coberta.

Pirâmide de Rácios

Rendibilidade do Capital Próprio

RLE RLE + EF EF
= −
CP CP CP

RLE + EF RLE + EF IT
= ×
CP IT CP

RLE + EF RLE EF
= +
IT IT IT

Gestão Financeira 10
RLE RLE VL
= ×
IT VL IT

EF EF CA
= ×
IT CA IT

EF EF CA
= ×
CP CA CP

RLE – Resultado Líquido do Exercício


CP – Capital Próprio
EF – Encargos Financeiros
IT – Investimento Total
VL – Vendas Líquidas
CA – Capital Alheio

Rendibilidade do Capital Próprio:

RLE
CP

Rendibilidade do Capital Próprio antes de Encargos Financeiros

RLE + EF
CP

Peso dos encargos financeiros no capital próprio

EF
CP

Rendibilidade do investimento total3

RLE + EF
IT

3 Atenção à crítica a esta forma de construir o rácio constante do manual de Análise Financeira

Gestão Financeira 11
Proporção do capital próprio no investimento total

IT
CP

Rendibilidade do investimento total após encargos financeiros

RLE
IT

Peso dos encargos financeiros no investimento total

EF
IT

Rendibilidade líquida das vendas

RLE
VL

Rotação do investimento total em função das vendas

VL
IT

Custo médio do capital alheio

EF
CA

Proporção do capital alheio no investimento total

CA
IT

Relação entre o capital alheio e o capital próprio


CA
CP

A cadeia de rácio supra, que pode ser aumentada através da integração de mais rácios, costuma ser
apresentada graficamente em forma de pirâmide e permite justificar os valores assumidos pelos vários
tipos de rendibilidade bem como a respectiva evolução.

Gestão Financeira 12
O Efeito da Fiscalidade no Custo Financeiro e o Custo
Financeiro Efectivo

- Custo Nominal
(decorrente da taxa de
- Custos Explícitos juro nominal)

- Outros Custos Explícitos


(Imposto do selo, despesas
- Custos Directos bancárias, ...)

Componentes do - Custos Implícitos (Derivados da perda de


descontos de pronto
custo financeiro
pagamento; da não realização
de uma empresa de aplicações financeiras.)

- Custos Indirectos (Derivados da elevação do risco financeiro proveniente do


recurso ao capital alheio; traduzindo-se, portanto, em taxas
de juro mais elevadas quando, mais tarde, a empresa voltar a
recorrer ao financiamento por capital alheio)

Os custos implícitos e indirectos configuram-se como custos de oportunidade. Não são revelados em
termos contabilísticos e, nomeadamente os últimos, são de difícil ou, até, impossível quantificação. Por
isso são frequentemente ignorados na análise financeira das empresas (e só nestas condições tal atitude é
desculpável).
Os capitais próprios têm sempre custos implícitos ou explícitos não fiscalmente aceites para efeitos de
determinação da matéria colectável. Os capitais alheios geralmente têm custos explícitos – os custos
financeiros – que são fiscalmente aceites: este facto reflecte-se no custo dos capitais alheios, como é
ilustrado pelo exemplo apresentado.

Gestão Financeira 13
Hipótese A Hipótese B
1. Vendas anuais 120.000 120.000
2. Custos Variáveis Totais 70.000 70.000
3. Custos Fixos Totais 20.000 20.000
4. Resultados de Exploração (RE) 30.000 30.000
5. Custos Financeiros de Financiamento (CFF) - 10.000
6. Resultados Antes de Impostos (RAI) 30.000 20.000
7. Impostos sobre o rendimento (40%) 12.000 8.000
9. Resultados Líquidos (RL) 18.000 12.000

Na hipótese A, a Empresa F foi exclusivamente financiada durante o ano X por capitais próprios e os seus
resultados líquidos atingiram 18.000 contos. Na hipótese B, a Empresa F recorreu a um empréstimo de
50.000 contos, no início do ano X, à taxa de juro anual de 20% e os seus resultados líquidos situaram-se em
12.000 contos.
O custo nominal do empréstimo corrigido dos efeitos fiscais (KNTC) foi, não de 20%, mas apenas de 12%.
Na verdade e na perspectiva dos titulares do capital social, os resultados líquidos na hipótese B sofreram
uma redução de 6.000 contos e não de 10.000 contos (montante dos custos financeiros nominais).
Assim:
6.000
KNTC = × 100 = 12%
50.000

O custo total dos capitais alheios é susceptível de ser assim desagregado:


● KN - custo nominal (correspondente à taxa de juro nominal)
● KX - outros custos explícitos (despesas diversas, impostos, custos de garantias, etc.)
● KI - custos implícitos (por vezes de difícil quantificação)

● KNT - custo nominal total (KN + KX + KI)


● KNTC - custo nominal total corrigido dos efeitos fiscais

O custo nominal total corrigido pode ser facilmente obtido (t é a taxa anual de impostos sobre os lucros):

KNTC = KNT .(1 − t )

Aplicando a expressão ao exemplo, teremos:

KNTC = 0, 20 × (1 − 0, 40) = 12, 0%

A taxa de juro efectiva anual (KE) pode ser facilmente obtida através da seguinte fórmula, onde r
representa a taxa de juro nominal total anual e m o número de períodos (2 semestres, 3 quadrimestres, 4
trimestres, etc.):

Gestão Financeira 14
m
 r
KE =  1 +  − 1
 m

Supondo que se contrai um empréstimo à taxa de juro de 15% e que os juros são semestralmente pagos, o
seu custo efectivo é de:

2
 0,15 
 1+  − 1 = 15, 6%
 2 

Gestão Financeira 15
O Ponto Morto Financeiro
Os conceitos de ponto morto financeiro de exploração e ponto morto financeiro total de exploração
permitem-nos avaliar o risco financeiro da empresa numa perspectiva de tesouraria.
O ponto morto financeiro de exploração (PMF) corresponde (dentro de todos os pressupostos
económicos da teoria do CVR4) ao nível de actividade da empresa em que os recebimentos de exploração
igualam os pagamentos de exploração.
A determinação algébrica do valor do ponto morto financeiro de exploração é idêntica à do ponto morto
económico de exploração, embora se devam deduzir dos custos fixos de exploração periódicos (CF), os
custos fixos não desembolsáveis periódicos (CND); i.e., os que não envolvem pagamentos (amortizações e
provisões de exploração).

CF − CND
PMF =
P − CVu
P

CF – Custos fixos de exploração periódicos


CND – custos fixos não desembolsáveis periódicos (amortizações e provisões de exploração)
P – Preço
Cvu – Custo de Venda Unitário

Quando o nível de actividade da empresa se situa no ponto morto financeiro de exploração não são
gerados quaisquer excedentes financeiros e os resultados negativos de exploração correspondem ao
somatório das amortizações e provisões para cobertura de riscos e encargos de exploração.
Os pressupostos para a determinação do ponto morto financeiro de exploração decorrem da teoria do CVR,
a que acrescem dois outros de natureza financeira:
● a igualdade entre as receitas (vendas) e os recebimentos
● a igualdade entre os custos de exploração totais (deduzidos os custos fixos periódicos não
desembolsáveis) e os pagamentos totais.
Assim, dever-se-á verificar a invariância do crédito obtido junto dos fornecedores correntes e organismos
estatais e do crédito concedido aos clientes.
Os pressupostos financeiros adicionais afastam-se razoavelmente da realidade. Considerando, porém, as
limitações práticas resultantes de todos os seus pressupostos económicos e financeiros, o conceito de
ponto morto financeiro de exploração constitui um importante instrumento de gestão da tesouraria da
empresa (gestão financeira a curto prazo), pois permite a equacionação directa ou indirecta de alguns dos
principais elementos determinantes do equilíbrio do orçamento de tesouraria. Desta forma, e por
exemplo, em períodos de profunda recessão económica e em que não seja possível atingir o equilíbrio
mínimo da empresa, dever-se-á procurar a todo o custo a consecução do ponto morto financeiro.
As atenções dos responsáveis pela empresa dever-se-ão então concentrar sobre os seguintes aspectos:
1. Manutenção dos níveis dos preços de venda unitários, dos custos variáveis unitários e dos custos
fixos de exploração totais. Qualquer variação de um destes parâmetros deverá ser compensada
pelo(s) restante(s).
2. Os stocks de produtos acabados e em vias de fabrico não deverão aumentar: quando o mercado
4 Custo-Volume-Resultados (ver página 54 do manual recomendado)

Gestão Financeira 16
não absorver totalmente a produção, será preferível estudar a imediata redução do grau de
utilização da capacidade de produção instalada.
3. O volume de crédito concedido aos clientes também não deverá aumentar: se esta facto for
inevitável, deve-se tentar proceder à titulação das vendas, repercutindo sobre oos clientes o custo
total do desconto dos títulos.
4. O volume do crédito oneroso obtido dos fornecedores correntes não deverá elevar-se sob pena dos
custos financeiros de financiamento revelarem um comportamento negativo e porem em causa a
tesouraria global da empresa.

O conceito de ponto morto financeiro de exploração permite-nos relacionar aspectos económicos e


financeiros de empresas estruturalmente distintas. Assim pense-se nas diferentes repercussões sobre o
equilíbrio de tesouraria de duas empresas (I e J), originadas por variações bruscas e sensíveis dos
respectivos níveis de actividade:
● A Empresa I, de capital intensivo, tenderá a apresentar uma maior rigidez económica, devido ao
elevado nível dos seus custos fixos de exploração totais, mas talvez apresente uma mais
acentuada flexibilidade de tesouraria dado o seu maior volume de custos periódicos não
desembolsáveis (amortizações).
● A Empresa J,de trabalho intensivo, tenderá a revelar uma maior flexibilidade económica, dado o
fraco nível dos seus custos fixos de exploração totais, mas poderá apresentar uma mais
pronunciada rigidez de tesouraria, atendendo ao seu mais baixo montante de custos periódicos
não desembolsáveis.

O conceito de ponto morto financeiro de exploração ignora a ocorrência dos custos financeiros de
financiamento. Desta forma, muitas vezes assiste-se na vida prática à determinação do ponto morto
financeiro total (PMFT) através da inclusão dos custos financeiros de financiamento nos custos fixos
desembolsáveis.
O conceito de ponto morto financeiro total (tal como o conceito de ponto morto económico total)
pressupõe a constância temporal dos custos financeiros de financiamento, o que já vimos constituir uma
simplificação muito acentuada da realidade.
Ver exemplo na página 82

Gestão Financeira 17
A Demonstração de Resultados na Óptica da Relação
da Empresa com o Exterior e o Mapa dos Fluxos
Financeiros

A Demonstração de Resultados na Óptica da Relação da Empresa com


o Exterior

O património ou riqueza de uma economia é constituído por:


● uma forma não humana, materializada em capital físico (máquinas, edifícios, existências, ...) e
em recursos naturais;
● uma forma humana, materializada em conhecimentos acumulados (o vulgarmente denominado
know-how).
Em termos de contabilidade nacional consideramos que o know-how vai sendo incorporado no capital
físico através do progresso técnico e da melhoria das formas de organização (social, em geral; do
trabalho, em particular); e, daí, a não autonomização da forma humana do património ou riqueza de uma
economia.

O cálculo do PIBcf pode ser feito por dois métodos:


● o dos produtos finais, que consiste em somar o valor dos bens e serviços, produzidos em
determinado período e não incorporados no valor de outros bens e serviços durante esse período
(ou, sendo-o, tal facto ocorra fora do espaço económico nacional);
● o do valor acrescentado, que consiste em somar o valor incorporado pelas unidades produtivas
aos bens e serviços, ao longo do processo produtivo destes últimos e durante um determinado
período.

Reportando-nos ao segundo método, a determinação do PIBcf exige que o valor incorporado não seja
deduzido da depreciação sofrida pelos activos fixos que participaram no processo de produção. Ou seja,
exige que se considere o valor acrescentado bruto (VAB). Nestas condições, VAB=PIBcf.
O VAB empresarial pode ser determinado por dois métodos:
● o subtractivo, que consiste em subtrair ao “valor bruto da produção (VBP)” o valor do consumo de
bens ou serviços adquiridos externamente pela empresa;
● o aditivo, que consiste em somar as remunerações dos proprietários dos factores produtivos
responsáveis pelo VAB da empresa.
Esta determinação do VAB acaba por possibilitar a elaboração de uma demonstração de resultados da
empresa. Os dois métodos estão ilustrados na página 38 do caderno de apoio.

Gestão Financeira 18
O Mapa dos Fluxos Financeiros

O mapa dos fluxos financeiros (mapa dos fluxos de tesouraria, demonstração dos fluxos de caixa ou mapa
do cash flow) é um documento dinâmico,, que nos permite analisar a evolução histórica ou previsional da
tesouraria da empresa durante um certo período de tempo (ano, mês, quinzena ou semana).
O mapa apresentado merece as seguintes observações5:
1. O crédito concedido aos clientes durante o período de referência abrange as variações positivas
das contas Clientes, c/c; e Clientes, Títulos a Receber (-) ou as variações negativas (+) das
mesmas rubricas.
2. O crédito obtido compreende as variações positivas das contas Fornecedores, c/c; e Fornecedores,
Títulos a Pagar (-) ou as variações negativas (+) das mesmas contas.
3. Os recebimentos extra-exploração integram todas as receitas extra-exploração (líquidas de
eventuais variações de crédito concedido) e outros recebimentos resultantes do ciclo das
operações financeiras - v.g., empréstimos bancários obtidos.
4. Os custos financeiros de financiamento pagos durante o horizonte temporal de referência não
obedecem ao princípio da especialização económica dos exercícios, pois não têm em atenção as
respectivas regularizações (antecipação ou postecipação do pagamento dos juros).
5. A rubrica investimentos (capital fixo e outros) compreende os respectivos pagamentos e não as
despesas correspondentes.
6. A rubrica impostos sobre o rendimento e outros (impostos directos ou indirectos insusceptíveis de
repercussão sobre as vendas) também se refere aos respectivos pagamentos, e não ao seu valor
anual estimado (IRC).
7. Os lucros distribuídos reportam-se ao período em que são pagos e não ao momento da sua
distribuição.
8. O disponível inicial compreende o conjunto das disponibilidades existentes no início do período de
referência.

5 Mapa está na página 94 do manual adoptado.

Gestão Financeira 19
Mapa dos Fluxos Financeiros

Contos
1 Vendas Líquidas 240.000
2 Variação do Crédito concedido 20.000
3 Recebimentos de exploração 220.000
4 Custos das existências vendidas e consumidas 120.000
5 Outros custos de exploração 80.000
6 Custos de exploração totais (4+5) 200.000
7 Amortizações (exploração) 15.000
8 Variação das existências totais 5.000
9 Despesas de exploração [(6-7)-8] 180.000
10 Variação do crédito obtido -7.500
11 Pagamentos de exploração (9-10) 187.500
12 TESOURARIA DE EXPLORAÇÃO (3-11) 32.500
13 Recebimentos extra-exploração 10.000
14 Custos financeiros de financiamento 10.000
15 Impostos sobre o rendimento do exercício 16.000
16 Reembolso de empréstimos 10.000
17 Lucros distribuídos 2.000
18 Pagamentos extra-exploração (14+15+16+17) 38.000
19 TESOURARIA EXTRA-EXPLORAÇÃO (13-18) -28.000
20 TESOURARIA GLOBAL (12+19) 4.500
21 DISPONÍVEL INICIAL 2.500

O mapa dos fluxos financeiros reúne num só documento todas as informações importantes sobre a
evolução económica e financeira da empresa durante u certo período de tempo. Efectivamente e muito
embora ressalte fundamentalmente do mapa do cash flow uma perspectiva de tesouraria, é possível obter-
se informações sobre:
● As vendas líquidas
● A política de concessão de crédito
● Os custos de exploração
● A rendibilidade de exploração (resultados de exploração)
● A política de formação de stocks
● A política de obtenção de crédito
● A política de investimento em capital fixo (óptica financeira)
● A política global de financiamento
● A política de distribuição de lucros

O mapa dos fluxos de tesouraria põe em relevo a vida financeira da empresa numa perspectiva dinâmica,
ao contrário do mapa de origem e aplicação de fundos que essencialmente acentua num ângulo estático-
comparativo os aspectos jurídico-contabilísticos caracterizadores do balanço tradicional.
A riqueza do mapa dos fluxos financeiros, como instrumento de análise e de gestão, resulta da clara
separação das operações que afectam a tesouraria de exploração das que se repercutem sobre a
tesouraria extra-exploração.

Gestão Financeira 20
A demonstração dos fluxos de caixa
A directriz contabilística nº 14 da Comissão de Normalização Contabilística veio introduzir no nosso país a
demonstração dos fluxos de caixa.
Objectivos:
● possibilidade de saber como foi gerado e utilizado o dinheiro no período em análise
● permitir aos seus utilizadores um melhor conhecimento:
○ das variações ocorridas na estrutura financeira (incluindo a liquidez e solvabilidade);
○ capacidade de gerar meios de pagamento e em que tempo;
○ capacidade de adaptar-se a situações de mudança e de oportunidade de mercado
(flexibilidade financeira).

Os fluxos de caixa (recebimentos, pagamentos e saldos) devem ser classificados de acordo com o tipo de
actividades que os originou, i.e., actividades:
● operacionais;
● de investimento;
● de financiamento.

Actividades Operacionais – são as que constituem o objecto das actividades da empresa e outras que não
sejam de considerar como actividades de investimento ou de financiamento,
constituindo os fluxos líquidos um indicador da capacidade da empresa gerar meios de
pagamento suficientes para manter a capacidade operacional, reembolsar
empréstimos, pagar dividendos e fazer investimentos de substituição sem ter de
recorrer a capitais alheios.
Os fluxos das actividades operacionais também compreendem os impostos sobre o
rendimento, a menos que estes se relacionem com as outras actividades, e a aquisição
de títulos para fins de transacção e resultantes, por exemplo, da aplicação de
excedente temporários de tesouraria.

Actividades de Investimento – «compreendem a aquisição e alienação de imobilizações corpóreas e


incorpóreas e aplicações financeiras não consideradas como equivalentes a caixa» e a
sua relevância resulta do facto de representarem a «extensão dos dispêndios feitos
para obtenção de recursos que tenham em vista gerar resultados e fluxos de caixa
futuros». O que é saliente é a natureza e o objectivo do investimento e não a sua
duração.
São considerados como componentes positivos dos equivalentes a caixa os «outros
depósitos bancários e os investimentos de curto prazo cuja conversão em numerário
possa efectuar-se sem grandes riscos de alterações de valor no prazo máximo de três
meses a contar da data da sua constituição ou aquisição», e os descobertos bancários
são considerados como componentes negativos dos equivalentes a caixa.
Exemplos:
● Pagamentos relacionados com custos capitalizados (imobilizados) e com activos
fixos autoconstruídos.
● Os desembolsos e os recebimentos decorrentes de empréstimos concedidos.
● Os recebimentos e os pagamentos inerentes a contratos de futuros (futures),
opções (options) e swaps, excepto se estes contratos constituírem uma
actividade operacional ou forem classificados como actividades de
financiamento.

Gestão Financeira 21
Actividades de Financiamento - «são as que resultam de alterações na extensão e composição dos
empréstimos obtidos e do capital próprio da empresa» e permitem «estimar as
necessidades de meios de pagamento e de novas entradas de capital, bem como
proporcionar aos financiadores informação sobre a capacidade de serem
reembolsados».
Apenas observamos que num quadro relativamente estabilizado das políticas de
investimento da empresa, a sua capacidade de reembolso decorre, não das actividades
de financiamento, mas sim da tesouraria de exploração.
Exemplos:
● pagamentos resultantes da aquisição de acções (quotas) próprias. Observe-se
que esta perspectiva é de índole marcadamente contabilística, pois e numa
perspectiva financeira, a recompra de acções (quotas) deve integrar as
actividades de investimento.
● Reembolsos relativos aos contratos de locação financeira.

A directriz 14 refere dois métodos para apresentar a demonstração dos fluxos de caixa operacionais:
● o método directo
● o método indirecto

O método directo «é aquele em que são divulgados os principais componentes dos recebimentos de caixa
e dos pagamentos de caixa, em termos brutos, permitindo aos utentes compreender o modo como a
empresa gera e utiliza os meios de pagamento». «É desejável que as empresas utilizem o método directo
na elaboração dos fluxos de caixa das actividades operacionais, dado que este proporciona informações
mais detalhadas e completas» e «facilita a preparação de estimativas sobre futuros fluxos de caixa que
não são possíveis pela mera utilização do método indirecto».
O método indirecto «é aquele em que o resultado líquido do exercício é ajustado por forma a excluírem-
se os efeitos de transacções que não sejam a dinheiro, acréscimos ou diferimentos relacionados com
recebimentos ou pagamentos passados ou futuros e contas de proveitos ou custos relacionados com fluxos
de caixa respeitantes às actividades de investimento ou de financiamento». O método indirecto é muito
utilizado na análise de investimentos.

«As operações de investimento e financiamento que não sejam a utilização de caixa e seus equivalentes
devem ser excluídas da demonstração dos fluxos de caixa», pois estas operações, embora podendo afectar
«a estrutura do capital e do activo da empresa» não têm qualquer impacte «directo nos fluxos de caixa».
Exemplos: compra de uma empresa através da emissão de acções e a conversão de dívidas em capital
social.

Gestão Financeira 22
Método Directo

ACTIVIDADES OPERACIONAIS
Recebimentos de clientes 220.000
Pagamentos a fornecedores 187.500
Fluxo gerado pelas operações 32.500
Pagamento do IRC 16.000
Fluxo das actividades operacionais 16.500
ACTIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Recebimentos provenientes de:
Rubricas extraordinárias 10.000
Pagamentos respeitantes a:
Empréstimos obtidos 10.000
CFF 10.000
Dividendos 2.000
22.000
Fluxo das actividades de financiamento -12.000

Variação de caixa e seus equivalentes 4.500


Caixa e seus equivalentes no início do período 2.500
Caixa e seus equivalentes no fim do período 7.000

Método Indirecto

ACTIVIDADES OPERACIONAIS
Resultado líquido do exercício 24.000
Ajustamentos
Amortizações 15.000
Aumento das dívidas de terceiros -20.000
Diminuição das existências 5.000
Diminuição das dívidas a terceiros -7.500
Fluxos das actividades operacionais 16.500
ACTIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Recebimentos provenientes de:
Rubricas extraordinárias 10.000
Pagamentos respeitantes a:
Empréstimos obtidos 10.000
Dividendos 2.000
CFF 10.000
Fluxo das actividades de financiamento -12.000

Variação de caixa e seus equivalentes 4.500


Caixa e seus equivalentes no início do período 2.500
Caixa e seus equivalentes no fim do período 7.000

Gestão Financeira 23
A Tesouraria de Exploração
A tesouraria de exploração (operacional cash flow) consiste na diferença entre os recebimentos e os
pagamentos de exploração ocorridos durante um certo período de tempo (ano, mês, quinzena, etc.).
Assim a tesouraria de exploração identifica-se com as variações monetárias (excedentes ou insuficiências)
originadas pelas operações do ciclo de exploração da empresa.
A tesouraria de exploração é exclusivamente afectada:
● pelas vendas líquidas6
● pelas variações de crédito (ΔCC)
● pelos custos de exploração totais e pelas variações dos stocks (∆SO)
● pela variação do crédito obtido (∆CO)
A tesouraria de exploração reportada a um determinado período de tempo (regra geral o ano civil) pode
ser assim obtida:

TE = MLB −  ( ∆ CC + ∆ SO ) − ∆ CO 

A tesouraria de exploração é profundamente influenciada pela rendibilidade da empresa [nível dos meios
libertos brutos de exploração (MLB)], independentemente das políticas de amortização das imobilizações
de exploração e de constituição de provisões para a cobertura dos riscos operacionais.
As amortizações não se reflectem sobre a tesouraria de exploração e a sua influência sobre a tesouraria
extra-exploração é apenas indirecta (através dos impostos sobre o rendimento). No que se reporta às
provisões para a cobertura dos riscos de exploração, verifica-se uma situação semelhante, embora a
ocorrência dos factos que originaram a sua criação (redução dos recebimentos ou aumentos dos
pagamentos de exploração) possa exercer uma influência directa sobre a tesouraria de exploração7.

A tesouraria de exploração não é, portanto, afectada pela:


● estrutura financeira da empresa (nível dos custos financeiros de financiamento)
● fiscalidade (nível dos impostos sobre o rendimento)
● fluxos financeiros resultantes dos ciclos das operações financeiras e de investimento.

A expressão utilizada para a quantificação da tesouraria de exploração real da empresa tem o grande
mérito de, para além da sua simplicidade, chamar a atenção para os parâmetros económicos e financeiros
que realmente exercem uma importância decisiva na criação dos necessários excedentes monetários de
exploração.

A Tesouraria Extra-Exploração
A tesouraria extra-exploração (non-operacional cash flow) resulta da diferença entre os recebimentos e os
pagamentos extra-exploração verificados durante um determinado período de tempo (ano, mês, quinzena,
etc.).
6 Vendas líquidas de descontos, mas ilíquidas do IVA
7 Está-se a supor a aceitação fiscal das amortizações e provisões como custos do exercício.

Gestão Financeira 24
A tesouraria extra-exploração decorre:
● das actividades inorgânicas da empresa (outros resultados);
● da sua situação financeira (nível dos custos financeiros de funcionamento);
● da actuação da fiscalidade (nível dos impostos sobre o rendimento);
● da política de distribuição dos dividendos;
● de outros fluxos financeiros associados aos ciclos das operações financeiras e de investimento.
Os reflexos financeiros (em termos de fluxos) das políticas de investimento em capital fixo e de
financiamento da empresa são particularmente importantes, sendo notória a interdependência existente
entre a tesouraria de exploração e a tesouraria extra-exploração. Um nível inadequado da tesouraria de
exploração influencia a capacidade da empresa para remunerar e reembolsar os recursos financeiros
utilizados e, inversamente, uma incorrecta política de investimentos em capital fixo pode reflectir-se
negativamente na rendibilidade de exploração e, consequentemente, sobre a tesouraria de exploração.
As políticas de investimento em capital fixo e de financiamento são essenciais para o desenvolvimento da
empresa a longo prazo. A tesouraria global é, a curto prazo, fortemente condicionada pela tesouraria de
exploração, como o conceito de viabilidade financeira claramente evidencia.

A Tesouraria Global
A tesouraria global (cash flow total) decorre da diferença entre os recebimentos e os pagamentos de
exploração (tesouraria de exploração) e os recebimentos e os pagamentos extra-exploração (tesouraria
extra-exploração) ocorridos durante um certo lapso de tempo (ano, mês, etc.).
A tesouraria global resulta, então, da tesouraria de exploração, profundamente marcada pela qualidade
da gestão corrente, e da tesouraria extra-exploração, mais influenciada por factores estruturais e
externos à empresa.
A variação periódica da tesouraria global da empresa pode ser positiva ou negativa:

Sn − Sn− 1 = TEn + TFEn

Sn - Saldo anual do disponível no termo do período n


Sn-1 - Saldo anual do disponível no termo do período n-1
TEn - Tesouraria de exploração no período n
TFEn - Tesouraria extra-exploração no período n-1

Os conceitos de enriquecimento anual e de empobrecimento anual da tesouraria da empresa podem não


traduzir, respectivamente, quaisquer mutações patrimoniais positivas ou negativas. Realmente uma
empresa pode ter resultados líquidos negativos (empobrecimento patrimonial) e assistir a um
enriquecimento anual da sua tesouraria global, pois tudo dependerá dos níveis das variações anuais dos
créditos concedidos, obtidos e dos stocks e das políticas de investimento e financiamento.

Gestão Financeira 25
A Rendibilidade e a Inflação

Introdução

A inflação consiste na perda do poder de compra da moeda como consequência da subida do nível geral
interno dos preços.
As consequências empresariais (microeconómicas) da inflação podem variar, dentro do mesmo sector de
actividade, de empresa para empresa, de acordo com o nível e a estrutura das suas aplicações e origens
de fundos.
Os conceitos de rendibilidade nominal (aparente) e real da empresa estão precisamente relacionados com
a inflação e a desvalorização da moeda. A rendibilidade nominal (meios libertos brutos, resultados de
exploração, rendibilidade do activo total líquido de exploração, resultados líquidos e rendibilidade dos
capitais próprios) decorre dos documentos contabilísticos e financeiros, elaborados com base nos
princípios geral e internacionalmente aceites, com especial relevância para o princípio do custo histórico.
A rendibilidade real (os mesmos indicadores) resulta dos documentos contabilísticos e financeiros
tradicionais, corrigidos dos efeitos da inflação e desvalorização da moeda.
Muito embora seja reconhecida a necessidade da implementação de um método objectivo e simples para a
contabilização sistemática dos efeitos da inflação, a realidade internacional mostra-nos que, salvo raras
excepções, na maioria dos países se continua a adoptar a contabilidade tradicional, embora e com
finalidades meramente informativas, se adopte um ou outro dos métodos referidos no livro.
As razões que explicam esta situação apresentadas pelo autor são:
1. A sistemática contabilização dos efeitos da inflação pressupõe a existência da normalização das
contabilidades (geral e analítica) e dos critérios valorimétricos dos diversos elementos
patrimoniais e também de um sistema estatístico nacional, sectorial e regional verdadeiro,
completo e oportuno. Ora estes pressupostos não são de fácil concretização e podem levantar
problemas diversos a nível de controlo, por parte do poder político central.
2. Os economistas, analistas financeiros e contabilistas não são unânimes na escolha de um dos
métodos conhecidos para a contabilização da inflação.
3. A aceitação governamental da contabilização sistemática da inflação pode conduzir ao
agravamento da própria taxa anual da inflação e, consequentemente, contribuir para a agudização
dos seus aspectos globais negativos.
4. A adesão do poder político à contabilização da inflação poderia originar uma substancial redução
das receitas fiscais (imposto sobre o rendimento) o que não é de ignorar numa óptica política...

Governos de diversos países têm consentido a reavaliação esporádica ou periódica do imobilizado corpóreo
das empresas ou a imobilização dos efeitos monetários negativos resultantes da desvalorização da moeda
e associados aos financiamentos externos destinados sobretudo a aquisição de imobilizações.

A constituição das reservas de reavaliação merece as seguintes referências:


● À reavaliação do imobilizado corpóreo corresponderão custos de exploração anuais futuros mais
elevados e fiscalmente aceites (acréscimo das amortizações), o que eventualmente se reflectirá
numa melhoria da situação financeira da empresa.
● A constituição das reservas de reavaliação das imobilizações corpóreas repercute-se
imediatamente sobre o nível dos capitais próprios, o que traduz uma melhoria formal da
capacidade de endividamento da empresa (autonomia financeira ou solvabilidade total). Contudo,

Gestão Financeira 26
só assistiremos a uma elevação da capacidade de reembolso futura da empresa (tesouraria global)
se o acréscimo dos custos fiscalmente aceites (amortizações) tiver como contrapartida uma
redução do imposto sobre o rendimento.

Os Efeitos Económicos da Inflação

A rendibilidade real das empresas (e mesmo a nominal) pode ser afectada, em períodos de inflação ou
desvalorização da moeda, pelas seguintes razões:
1. Os naturais aumentos dos custos de exploração totais (industriais, de distribuição, administrativos
e financeiros de funcionamento) não são, regra geral, imediata e totalmente repercutidos sobre
os preços de venda dos produtos acabados. Observe-se, por outro lado, que, em épocas de
instabilidade monetária, os custos de estrutura não apresentam o grau de fixidez que
teoricamente se lhes atribui.
2. As amortizações anuais das imobilizações são geralmente calculadas com base no seu preço de
compra ou no valor resultante de reavaliações legalmente consentidas. Ora acontece que, quer na
primeira quer na segunda hipótese8, os custos correspondentes à depreciação das imobilizações
são inferiores àqueles que corresponderiam à prática de amortizações calculadas com base no
preço de substituição das amortizações.
O exemplo apresentado no livro (página 115-116) mostra que se os gestores pretenderem definir
as políticas de preços de venda com base em amortizações mais próximas da realidade, deverão
também salvaguardar a transferência de rendimentos para o Estado, operada através da elevação
do imposto sobre o rendimento. Observe-se, por outro lado, que a prática de políticas de
amortização decrescentes (e fiscalmente aceites) não é, só por si, susceptível de evitar a
transferência de rendimento para o Estado, que geralmente ocorrem em períodos de inflação.
3. Os riscos comerciais resultantes da concessão de crédito aos clientes tende a aumentar em
períodos inflacionistas, pelo que se torna aconselhável proceder à constituição de adequadas
provisões para dívidas duvidosas e repercutir estes custos adicionais sobre os preços líquidos de
venda.
4. Em períodos de desvalorização monetária, os créditos obtidos dos fornecedores correntes
estrangeiros revelam uma tendência para a degradação (prejuízos cambiais), pelo que é
conveniente a adopção de políticas de pronto pagamento ou a criação de provisões para a
cobertura dos riscos cambiais. Em contrapartida, as empresas exportadoras podem registar ganhos
cambiais mais ou menos significativos com as vendas e a concessão de crédito a entidades
externas.

Os efeitos económicos da inflação e desvalorização da moeda exigem um controlo sistemático dos preços
de aquisição de todos os factores produtivos, de forma a que a sua repercussão sobre os preços de venda
dos produtos acabados seja total e imediata. Observe-se que a não repercussão dos aumentos dos preços
dos factores sobre os preços de venda pode resultar de deficiências existentes na gestão das empresas, do
comportamento da concorrência ou de limitações de natureza legal (v.g., preços controlados), o que
obrigará os gestores a concentrarem-se na reorganização e melhoria do controlo das suas empresas, assim
como na obtenção de todos os ganhos de produtividade possíveis, como forma compensatória da não
actuação do referido mecanismo de repercussão.

8 A reavaliação legal das imobilizações geralmente baseia-se nos índices gerais de preços, que muitas vezes não
traduzem a efectiva evolução dos preços de reposição das imobilizações.

Gestão Financeira 27
Os Efeitos Financeiros da Inflação

Os efeitos financeiros da inflação e desvalorização da moeda mais importantes são os seguintes:


1. As taxas de juro são geralmente indexadas à taxa da inflação, o que se reflecte numa elevação dos
custos financeiros de financiamento e na consequente necessidade da sua imediata e total
repercussão sobre os preços de venda. Ora e na medida em que as estruturas financeiras das
empresas do mesmo sector de actividade são geralmente diferentes (níveis dos custos financeiros
de financiamento), verifica-se que na vida prática é muito difícil ocorrer a actuação do
mecanismo de repercussão de uma forma que seja considerada razoável...
2. Em períodos de desvalorização monetária, os empréstimos externos podem revelar-se
extremamente onerosos, importando proceder à constituição de provisões anuais para a cobertura
dos riscos cambiais.
3. Em épocas de instabilidade monetária, as disponibilidades e os créditos concedidos aos clientes
geralmente registam uma redução de valor (prejuízo latente), passando-se o inverso com os
valores das existências e do crédito corrente obtido (lucros latentes). Desta forma, assumem
especial importância as reduções criteriosas do nível das disponibilidades e do prazo médio de
recebimento e o cuidadoso alargamento do prazo médio de pagamento.
4. A constante vigilância da gestão das disponibilidades e das existências e das políticas de concessão
e obtenção de crédito pode não produzir os efeitos financeiros desejados, o que se reflectirá
numa incessante elevação do fundo de maneio necessário de exploração (aumentos dos créditos
concedidos e dos stocks, não compensados por idêntica elevação dos créditos de exploração
normalmente obtidos), mesmo que se mantenha o grau de utilização da capacidade de produção
instalada. Assim, assistiremos a uma inevitável elevação dos recursos financeiros necessários e,
consequentemente, dos custos financeiros de financiamento (explícitos ou implícitos).
5. As necessidades financeiras resultantes dos investimentos de substituição ou manutenção em
capital fixo são geralmente crescentes, o que apresenta um efeito financeiro idêntico ao
anteriormente referido.
6. Os capitais próprios das empresas tendem a degradar-se, o que apenas se evitará através da
constituição de provisões anuais para a reconstituição destes capitais, obviamente, no pressuposto
de que a empresa é rendível.

Os Efeitos Globais da Inflação

A redução real do nível dos resultados líquidos anuais tem os seguintes efeitos:
● Diminuição da rendibilidade dos capitais próprios
● Redução do nível de autofinanciamento anual.

A rendibilidade real dos capitais próprios é afectada:


● diminuição do nível real dos resultados líquidos
● pela efectiva necessidade da sua reconstituição, de acordo com a perda anual do poder de compra
da moeda.

O nível real de autofinanciamento anual (meios libertos líquidos retidos):


● decorre da redução da rendibilidade
● pode ser agravado pela eventual distribuição de dividendos meramente nominais ou fictícios.

Gestão Financeira 28
A tesouraria global da empresa pode ser afectada através:
● das operações de exploração:
○ redução do nível dos meios libertos brutos;
○ aumentos do crédito concedido aos clientes
○ aumentos das existências
● das operações de extra-exploração:
○ aumentos dos custos financeiros de financiamento
○ transferência de rendimentos para o Estado

Exemplo de uma conta normativa de exploração e resultados que salvaguarde os efeitos prejudiciais da
inflação. Para a elaboração atendeu-se aos seguintes aspectos:
➔ A provisão para a reconstituição dos capitais próprios (supondo que eram 50.000 no inicio do ano)
foi calculada com base em 10% deste valor.
➔ Os resultados líquidos «normativos» foram inflacionados também em cerca de 10%.
➔ A taxa de impostos sobre o rendimento (40%) incidiu sobre os resultados antes de impostos,
acrescidos dos custos não aceites fiscalmente (acréscimo de 3000 contos nas amortizações e
provisão para a reconstituição dos capitais próprios)

Previsional Real Normativa


Vendas líquidas 120.000 137.000 149.000
Custos das existências vendidas e consumidas 70.000 84.000 84.000
Amortizações 10.000 13.000 13.000
Outros custos fixos 20.000 20.000 20.000
RAI 20.000 20.000 32.000
Provisões para capitais próprios - - 5.000
IRC 8.000 9.200 14.000
RL 12.000 10.800 13.000

O exemplo mostra que em períodos de inflação e desvalorização da moeda as empresas devem dar uma
particular atenção:
● às políticas de definição dos preços de venda e, em especial, repercutir total e imediatamente os
aumentos de todos os custos (industriais, administrativos, de distribuição e financeiros) sobre os
preços de vendas;
● salvaguardar a actuação nociva da fiscalidade (transferência de rendimentos para o Estado);
● proteger a erosão dos capitais próprios;
● salvaguardar o nível real dos resultados líquidos.

Afirmação: «a inflação beneficia sempre os devedores e consequente prejudica os credores»


Falsa.
O endividamento da empresa, em contextos inflacionistas, pode revelar-se como particularmente
atractivo, pois o capital mutuado raramente é indexado à taxa de inflação. Todavia e como o mesmo não

Gestão Financeira 29
acontece com a taxa de juro, os efeitos positivos («ganhos de capital») podem ser completamente
anulados pelos mais elevados custos financeiros de financiamento. A questão fulcral reside na
possibilidade de a empresa poder repercutir sobre os preços de venda os aumentos dos custos financeiros,
preservando (ou não) a rendibilidade real e a tesouraria.
O mesmo tipo de análise (unitária ou global) não deve ser seguido em relação às aplicações
individualizadas de natureza financeira.
A Rendibilidade Real (RR), ou corrigida dos efeitos da inflação, é-nos dada pela seguinte expressão:

1 + KN
RR = −1
1+ α
RR - Rendibilidade Real
KN - Taxa de juro nominal
α - Taxa anual de inflação

KN = ( RR + 1) ( α + 1) − 1

Exemplo: Taxa de juro anual de 10%, taxa de inflação anual de 5%

1 + 0,10
RR = − 1 = 4,8%
1 + 0, 05

KN = ( 0, 048 + 1) ( 1 + 0, 05 ) − 1 = 10%

Repare-se que a simples subtracção da taxa anual de inflação à taxa de juro nominal anual constitui uma
mera aproximação do cálculo da rendibilidade real.

Gestão Financeira 30
A Gestão das origens e Aplicações Financeiras, a
Curto Prazo

Gestão Financeira 31
A Gestão do Activo Circulante

Introdução

Gerir uma empresa ar uma constante preocupação por três parâmetros essenciais:
● rendibilidade
● segurança (risco global)
● ritmo de crescimento (desenvolvimento)
Na gestão do capital circulante e da gestão da dívida a curto prazo, as preocupações focalizam-se sobre o
binómio rendibilidade versus segurança. O desenvolvimento será objecto de atenção especial no estudo
dos investimentos de capital fixo e planeamento financeiro a longo prazo.
A rendibilidade das empresas industriais é essencialmente gerada pelas imobilizações corpóreas de
exploração, pois os activos circulantes resultam de factores tecnológicos e económicos e têm, só por si,
uma relativamente mais reduzida aptidão para gerarem lucros. Todavia uma gestão eficaz do capital
circulante e da dívida a curto prazo pode contribuir, de uma forma significativa, para a rendibilidade e
para a saúde da situação de tesouraria.
● Quanto maior for o peso relativo do capital circulante de exploração mais elevada será a
propensão da empresa para gerar menores lucros e correr menores riscos financeiros;
● Quanto menor for a participação relativa do capital circulante de exploração, mais elevada será a
aptidão da empresa para gerar maiores lucros mas, paralelamente, correr maiores riscos
financeiros.

A gestão do activo circulante de exploração e do passivo circulante de exploração assenta em quatro


regras basilares:
1. Reduzir, no máximo possível, as disponibilidades totais9.
2. Receber dos clientes o mais rapidamente possível, mas sem prejudicar a rendibilidade, o nível de
actividade da empresa e a sua quota de mercado.
3. Acelerar, no máximo possível, a rotação dos diversos stocks, mas sem prejuízo dos ritmos normais
de aprovisionamento, produção e comercialização.
4. Atrasar, no máximo possível, os pagamentos aos fornecedores correntes, mas sem afectar a
rendibilidade e a imagem de crédito da empresa10.

9 Aplica-se essencialmente às rubricas “caixa” e “depósitos à ordem”


10 Segundo o caderno de apoio, esta refere-se à gestão do exigível a curto prazo

Gestão Financeira 32
A Gestão do Disponível

Na óptica da Gestão Financeira, o disponível tem uma amplitude maior do que para a Contabilidade Geral,
pois abrange:
● Caixa
● Depósitos à Ordem
● Depósitos com Aviso Prévio
● Depósitos a Prazo
● Clientes, Títulos a Receber (desde que facilmente mobilizáveis junto da banca)
● Empréstimos Bancários (já negociados e não utilizados)
● Obrigações e Outros Títulos com um mercado vasto e rapidamente acessível (títulos negociáveis)

O disponível identifica-se, portanto, com os activos líquidos por excelência (dinheiro) e com aqueles que
apresentem uma elevada aptidão para rapidamente se converterem em disponibilidades, além dos
elementos que, embora não figurando no balanço, revelam as mesmas características (uma conta-corrente
bancária para apoio à tesouraria já negociada e não utilizada).
A detenção de disponibilidades na empresa decorre das mesmas motivações macroeconómicas apontadas
por Keynes:
● transacção
● especulação
● precaução (reserva de segurança de tesouraria)

O ciclo financeiro de exploração inicia-se com a aquisição das matérias-primas (despesas) e conclui-se
com a ocorrência dos recebimentos efectivos dos clientes. O ciclo da tesouraria de exploração inicia-se
com os pagamentos e também finaliza com os recebimentos respectivos.

Compras Pagamentos Vendas Recebimentos

0 30 60 90 120

0
Ciclo da Tesouraria

Tempo (dias)

O esquema mostra uma empresa com um prazo médio de pagamento aos fornecedores de 30 dias, uma
rotação global de stocks de 90 dias e um prazo médio de recebimento dos clientes de 30. O cilco da
tesouraria de exploração é de 90 das.
A rotação anual do disponível é de 4 vezes, i.e., o quociente entre o ano comercial (360 dias) e a duração

Gestão Financeira 33
do ciclo da tesouraria de exploração.
Os conceitos de ciclo da tesouraria de exploração e de rotação anual do disponível são importantes para a
definição da reserva de segurança de tesouraria (RST):

Pagamentos Anuais
RST =
Rotação Anual do Disponível

Continuando com o exemplo, se os pagamentos de exploração anuais foram de 120.000 contos, a reserva
de segurança de tesouraria situar-se-á no elevado montante de 30.000 contos. Existem, no entanto,
modelos mais sofisticados para a quantificação da reserva de segurança de tesouraria (em termos de
disponibilidades, stricto sensu).
A RST representa o volume de disponibilidades necessárias para se evitarem rupturas de tesouraria.
Observe-se que a fixação da RST deve ser feita com base nos pagamentos de exploração anuais
previsionais, cuja quantificação é sempre menos aleatória do que a dos recebimentos de exploração.
A gestão do disponível exige uma permanente procura de equilíbrio entre dois parâmetros fundamentais,
mas antitéticos: a segurança e a rendibilidade. Quanto maiores forem as disponibilidades, menor será o
risco financeiro, mas, simultaneamente, menor será o contributo destes elementos activos para a
rendibilidade total da empresa.
A adequada composição da RST deve ter em consideração:
● Os valores das contas Caixa e Depósitos à Ordem devem ser reduzidos ao mínimo.
● Os depósitos a prazo podem proporcionar receitas financeiras (líquidas de impostos) interessantes,
mas que importa comparar com outras aplicações alternativas.
● A retenção das letras em carteira, como alternativa ao desconto bancário sistemático, evita que a
empresa suporte elevados custos financeiros, muitas vezes não repercutíveis sobre os clientes.
● A aquisição de títulos facilmente negociáveis (p.e., obrigações cotadas na Bolsa, obrigações do
Tesouro, bilhetes do tesouro, etc.) pode proporcionar à empresa a necessária segurança de
tesouraria e a obtenção de receitas financeiras líquidas não desprezíveis (atenda-se à isenção
fiscal de que beneficiam certos títulos).
● A atempada negociação de empréstimos bancários pode proporcionar a necessária segurança e
evitar o recurso a outras modalidades de crédito bancário mais onerosas ou à posse de outras
disponibilidades com custos de oportunidade mais elevados.

A RST de exploração (ou extra-exploração) será considerada como uma necessidade financeira de
exploração (ou extra-exploração) para efeitos de cálculo do fundo de maneio necessário de exploração (ou
extra-exploração). Tal não é adoptado por muitos autores.

Os Títulos em Carteira (Títulos Negociáveis)

Os títulos que possuírem um mercado vasto e rapidamente acessível podem constituir uma forma segura e
rendível de aplicar excessos temporários de disponibilidades, ou mesmo uma forma de constituição parcial
da reserva de segurança de tesouraria. As participações financeiras caracterizadas por um reduzido grau
de disponibilidade (estratégicas ou mantidas para reservas ou fruição) devem integrar o imobilizado
financeiro, pois representam investimentos muito especiais e que, por isso, estão sujeitos a um
tratamento analítico diferenciado.

Gestão Financeira 34
Principais aplicações financeiras de curto prazo:
● Bilhetes do tesouro
● Fundos de tesouraria
● Certificados de depósito
● Papel comercial

A Gestão do Realizável

Os componentes mais comuns do realizável a curto prazo são os seguintes:


● Clientes – Títulos a Receber (letras)
● Clientes, c/Gerais
● Diversos devedores, ligados ao ciclo de exploração (Fornecedores, c/c, Adiantamentos a
Fornecedores, Estado, etc.)
● Outros devedores, não ligados ao ciclo de exploração (Empréstimos a Associadas; Outros
Empréstimos Concedidos; Estado; Sócios, c/Gerais; Associadas, c/Gerais; Fornecedores, c/c;
Adiantamentos a Fornecedores; etc.)

Clientes – Títulos a Receber


Na vida prática, e considerando-se que o desconto dos títulos a receber «produz» recursos financeiros de
exploração, considera-se como custos financeiros de funcionamento os juros e as demais despesas
resultantes do desconto bancário, além dos descontos de pronto pagamento concedidos aos clientes e
deduzidos dos obtidos dos fornecedores.
Se o custo do desconto de títulos é relativamente elevado e as necessidades globais de tesouraria da
empresa são determinantes para a política de desconto, há um último aspecto a considerar: a
possibilidade de mobilização dos próprios títulos.
O conjunto dos títulos em carteira é susceptível de ser desagregado em dois grandes grupos: os títulos
com elevado grau de disponibilidade (susceptíveis de imediato desconto bancário) e os títulos com
reduzido grau de disponibilidade.
O primeiro conjunto compõe as disponibilidades da empresa, em sentido lato. O segundo representa
necessidades financeiras de exploração que devem ser consideradas para efeitos de cálculo do fundo de
maneio necessário de exploração (FMN).

Clientes, c/c
O saldo desta conta exprime, em dado momento, o conjunto de créditos não titulados da empresa sobre
os seus clientes. O grau de disponibilidade é geralmente muito reduzido excepto se tiver havido um
alargamento temporário e controlado desse crédito ou se existira possibilidade da sua rápida titulação e
desconto bancário. Por outro lado, o crédito concedido aos clientes tem sempre custos 11 (explícitos ou
implícitos) e envolve a assunção de riscos económicos e financeiros.

11 Ver exemplo ilustrativo nas páginas 151-152 do manual

Gestão Financeira 35
A gestão comercial e administrativa do crédito a conceder aos clientes compreende o seguinte conjunto
de normas e procedimentos, com vista a reduzir o seu volume, maximizar a sua rotação e reduzir o risco,
sem prejuízo da rendibilidade das vendas:
1. A correcta e clara definição das condições de venda.
▪ os descontos de pronto pagamento - constitui uma forma de redução do prazo médio de
recebimento e do risco da concessão de crédito, mas o seu nível não deve ser dissociado das
taxas de juro vigentes no mercado para operações de prazo idêntico.
▪ titulação das vendas – facilita o procedimento judicial dos clientes e, por outro lado, permite
à empresa elevar o grau de disponibilidade do crédito concedido.
2. A permanente selecção de clientes.
▪ Acompanhamento da sua solvabilidade
3. A constante ligação entre os responsáveis pela gestão comercial e financeira da empresa.
▪ Análise conjunta de todos os casos concretos de alargamento (ou redução com descontos) dos
prazos de recebimentos.
▪ Racionalização dos circuitos de documentos e informações entre os departamentos.
4. A eficaz gestão administrativa dos créditos concedidos.
▪ conjunto de procedimentos que visam encurtar o período de tempo que medeia entre a
emissão da guia de saída (remessa) e o efectivo recebimento da factura.
▪ Controlar a idade dos créditos e as responsabilidades individuais dos clientes.

O saldo da conta «Clientes, c/c» geralmente representa o crédito permanente e renovável não titulado
concedido aos clientes, como resultado do enquadramento de mercado da empresa e das suas condições
reais de organização e gestão. Assim, os volumes de créditos anormais (temporários ou estruturais) devem
ser cuidadosamente analisados para efeitos de determinação do fundo de maneio necessário de
exploração (FMN).
O crédito temporário em excesso (em relação aos prazos teóricos negociados) normalmente resulta de
dificuldades esporádicas de tesouraria dos clientes e, porque o seu grau de disponibilidade é de curto
prazo, não deve ser contemplado na determinação do FMN. Inversamente, o crédito estrutural em excesso
geralmente decorre de insuficiências orgânicas e gestivas internas à empresa, não superáveis a curto
prazo e, por essa razão, deve ser considerado no cômputo do FMN.

A Cedência de Créditos (factoring)

Consiste na transferência (cessão) dos inerentes direitos de crédito para um terceira sociedade («factor»),
mediante o pagamento de terminadas despesas. As sociedades «factor» também praticam, tal como os
bancos, o desconto de títulos comerciais a receber.
As características do contrato são as seguintes:
● Os créditos a transferir são rigorosamente delimitados:
○ Na sua natureza (apenas os comerciais)
○ Extensão (montante)
○ Idade (geralmente excluem-se os créditos antigos)
● A cessão dos direitos de crédito para a sociedade pode ser acompanhada da transferência dos
riscos comerciais resultantes da não cobrança das facturas ou letras (cláusula da garantia do
pagamento), mas esta sociedade reserva-se o direito de seleccionar previamente os clientes da

Gestão Financeira 36
empresa cujos débitos serão objecto de futuras transacções (cláusula da autorização prévia).

Vantagens:
● Proporciona recursos financeiros imediatos.
● Eventual libertação de plafonds para desconto de títulos a receber negociados com os bancos.
● Redução dos custos administrativos inerentes à cobrança dos créditos transferidos.
● Reduz os riscos económicos (não efectivação de provisões para cobranças duvidosas) e financeiro
(não recebimento das facturas ou letras) que se encontram associados à concessão do crédito
comercial.

Desvantagens:
● Um custo relativamente elevado que compreende:
○ juros idênticos às taxas correntes de mercado antecipadamente pagos
○ prémio de risco
○ comissão da sociedade «factor»
● Possibilidade de deterioração da imagem de crédito da empresa

Devedores Diversos

A análise da natureza dos devedores diversos constitui um aspecto prévio para o seu enquadramento na
gestão da tesouraria. Deve analisar-se:
● a origem dos débitos diversos (associados ou não ao ciclo das operações de exploração)
● grau de permanência (renovabilidade)

Os créditos dos devedores diversos associados ao ciclo da exploração, quando resultantes de condições de
pagamento negociadas e inalteráveis a curto prazo, geralmente revelam um acentuado grau de
renovabilidade e, como tal, devem integrar o fundo de maneio necessário de exploração (FMN).
Inversamente, os débitos aos mesmos devedores que resultarem de factor anormais (esporádicos)
constituem elementos activos de tesouraria (EAT) e, portanto, não devem ser contemplados no cálculo do
FMN.
As necessidades financeiras extra-exploração representadas devedores diversos não ligados ao ciclo de
exploração (p.e., empréstimos aos sócios, trabalhadores, associadas, adiantamentos aos fornecedores de
imobilizações, etc.) podem, ou não, revelar uma certa rotatividade na empresa. Na hipótese afirmativa,
essas necessidades integram o fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE) e, na alternativa
negativa, constituem elementos activos de tesouraria (EAT).

As Provisões Para Cobranças Duvidosas

Destinam-se a cobrir os riscos futuros (certos e incertos) resultantes da eventual incobrabilidade dos
créditos comerciais concedidos.
O exemplo apresentado no livro mostra que o crédito concedido aos clientes a ter em consideração para o

Gestão Financeira 37
cômputo do fundo de maneio necessário de exploração e da tesouraria da empresa deve ser líquido das
correspondentes provisões, que devem ser anualmente constituídas ou reforçadas.
Recorde-se, por outro lado, que a constituição de provisões dentro dos limites fiscais se traduz numa
redução dos impostos sobre o rendimento e num consequente aumento do autofinanciamento anual da
empresa e da tesouraria extra-exploração.
A liquidez anual da empresa resulta da sua rendibilidade líquida global (nível de autofinanciamento) e a
simples constituição das provisões anuais apenas reflecte a preocupação dos gestores registarem
formalmente os riscos económico e financeiro futuros da empresa e de não empolarem indevidamente os
seus capitais próprios, para além da obtenção das naturais vantagens fiscais.

A Gestão das Existências

As existências compreendem os stocks de:


● matérias-primas
● matérias subsidiárias
● produtos em vias de fabrico
● produtos semi-acabados
● produtos acabados
● mercadorias
● embalagens comerciais retornáveis
● subprodutos

A minimização dos investimentos nos diversos stocks tem três importantes consequências:
1. redução dos custos explícitos ou implícitos dos recursos mobilizados para o seu financiamento.
2. Melhoria da tesouraria de exploração.
3. Diminuição da reserva de segurança de tesouraria.

Os critérios de valorização das existências de matérias-primas (FIFO, LIFO, custo médio ponderado, etc.) e
dos produtos em vias de fabrico e acabados (custo directo, custo industrial, preço de venda, etc.)
influenciam, obviamente, o nível do fundo de maneio necessário de exploração, sem contudo afectarem a
tesouraria da empresa.
Os stocks a considerar para a determinação do fundo de maneio necessário de exploração são os stocks
reais, incluindo as existências estrutural e anormalmente altas. Por outro lado, quando as existências reais
forem inferiores aos stocks básicos – situação geralmente temporária -, dever-se-á considerar estes
últimos para efeitos de cálculo do FMN.
Os stocks anormais e duradouros, i.e., provenientes de deficiências estruturais existentes na empresa,
devem integrar o fundo de maneio necessário de exploração, a não ser que se encontre em curso algum
processo de reestruturação que venha a provocar, num curto prazo de tempo, desinvestimentos nas
existências. Se este facto ocorrer, os excedentes dos stocks reais em relação aos stocks básicos ideais
constituirão elementos activos de tesouraria.
Os stocks anormais e temporários – v.g., os stocks especulativos – podem resultar de correctas medidas de
gestão e não compõem o fundo de maneio necessário de exploração, pois são elementos activos de
tesouraria.

Gestão Financeira 38
As Provisões para a Depreciação das Existências

Destinam-se a cobrir futuros (certos e incertos) decorrentes de eventuais depreciações físicas ou valóricas
dos diversos stocks.
O seu papel financeiro e a sua forma de consideração para efeitos de cálculo do fundo de maneio
necessário de exploração são idênticos ao das provisões para cobranças duvidosas.

Os Custos Diferidos

Resultam do consagrado princípio das especialização económica dos exercícios e abrangem as despesas ou
pagamentos já contabilizados cujos custos apenas ocorrerão nos exercícios seguintes.
Os custos diferidos ligados ao ciclo das operações de exploração que forem renováveis (rotativos) devem
integrar o fundo de maneio necessário de exploração (FMN). Os custos diferidos não associados ao ciclo de
exploração que apresentem um razoável grau de rotatividade (renovabilidade) devem ser considerados
como um dos componentes do fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE).

Acréscimos de Proveitos

Abrange os proveitos contabilizados no exercício, cujos recebimentos apenas se verificarão nos exercídios
seguintes. Tal como com os custos diferidos, importa considerar a sua renovabilidade.

Gestão Financeira 39
A Gestão do Activo Circulante

A.1.1. - Normais
A.1. - Renováveis
A - Necessidades Financeiras A.1.2. - Anormais
de Exploração

A.2. - Não Renováveis (Temporárias)

B.1.1. - Normais
B.1. - Renováveis
B - Necessidades Financeiras B.1.2. - Anormais
Extra-Exploração

B.2. - Não Renováveis (Temporárias)

De uma forma simplificada, e se não nos preocuparmos com a reserva de segurança de tesouraria, temos:
1. O fundo de maneio necessário de exploração (FMN) integra o conjunto das necessidades
financeiras renováveis (A.1.), a não ser que as deficiências internas de organização e gestão que
estão na origem das necessidades anormais (A.1.2.) sejam susceptíveis de correcções a curto
prazo que provoquem resultados concretos (acréscimos dos recebimentos ou redução dos
pagamentos).
2. O fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE) engloba o somatório das necessidades
financeiras renováveis (B.1.) e, no que se reporta às necessidades anormails (B.1.2.), aplica-se o
critério anteriormente referido.
3. As necessidades financeiras não renováveis (A.2. e B.2.) são elementos activos de tesouraria
(EAT), pois a sua presença temporária na empresa significa que, a curto prazo, darão origem a
fluxos positivos de tesouraria (recebimentos).

Gestão Financeira 40
A Gestão do Exigível a Curto Prazo

Introdução

A dívida a curto prazo constitui uma das principais fontes de financiamento a curto prazo da empresa. A
escolha das fontes de financiamento (curto, médio e longo prazos) fundamenta-se num conjunto de
parâmetros comuns, de onde se destaca:
1. O custo total.
2. A natureza das aplicações.
3. O risco financeiro.
O custo dos recursos financeiros varia de acordo com a natureza (exploração e extra-exploração) e a
situação de tesouraria global, além de outros factores.
Os recursos financeiros de exploração podem ser normais ou anormais. Os normais, por oposição aos
anormais, são praticamente gratuitos, i.e., não têm custos explícitos, pois, por corresponderem aos
prazos de pagamento legais (Estado) ou pré-negociados (fornecedores correntes), são incessantemente
renováveis. Ou seja, apresentam um elevado grau de permanência na empresa. Observe-se que estes
recursos financeiros podem originar custos implícitos e ser (ou não) integralmente utilizados.
O facto da empresa beneficiar, em regra e permanentemente, de um determinado volume de recursos
financeiros de exploração quase gratuitos contribui para que o custo do passivo circulante de exploração
seja geralmente inferior ao custo dos capitais permanentes (a não ser que a situação de tesouraria global
se encontre manifesta e estruturalmente desequilibrada – p.e., excessivo peso do crédito bancário a curto
prazo).

Os Trabalhadores

Não sendo de uma forma geral remunerados à hora ou ao dia, i.e., na exacta medida em que contribuem
para a formação dos proveitos da empresa, mas sim semanal, quinzenal ou mensalmente, facultam um
determinado volume de crédito completamente gratuito.
Para o cálculo do fundo de maneio necessário de exploração são, todavia e na prática, geralmente
ignorados os recursos financeiros resultantes do crédito facultado pelos trabalhadores, o que significa a
introdução de uma margem de segurança no cálculo deste indicador de tesouraria.

Os Adiantamentos dos Clientes

Os adiantamentos dos clientes são vulgares nos sectores de actividade que se caracterizam por uma
elevada duração do ciclo de produção (construção naval, fabricação de equipamentos, etc.) ou por
situações monopolistas de mercado.

Gestão Financeira 41
Os adiantamentos normais dos clientes devem ser considerados como um recurso financeiro de exploração
para o cálculo do fundo de maneio necessário de exploração (FMN). Inversamente, os adiantamentos
anormais, geralmente decorrentes de problemas de tesouraria da empresa (conjunturais ou estruturais)
constituem um elemento de tesouraria (EPT).

Os Fornecedores

Os fornecedores correntes (matérias-primas e materiais diversos) geralmente proporcionam à empresa um


determinado volume de crédito normal (titulado ou não titulado), que não origina quaisquer custos
explícitos e revela um elevado grau de permanência (renovabilidade).
A política de pagamentos aos fornecedores correntes encontra-se fortemente condicionada pelos seguintes
factores:
1. O custo efectivo do crédito.
2. A situação estrutural da tesouraria e a possibilidade de recurso a fontes de financiamento
alternativas.
O volume de crédito normal obtido dos fornecedores correntes (titulado ou não titulado) representa
recursos financeiros de exploração que devem ser considerados para o cômputo do fundo de maneio
necessário de exploração. Estes recursos financeiros podem ou não estar integralmente utilizados.
O volume de crédito anormal obtido dos fornecedores correntes (titulado ou não titulado) origina custos
explícitos e geralmente resulta de problemas financeiros estruturais ou de deficiências de gestão. Assim,
estes recursos financeiros são elementos passivos de tesouraria (EPT).

Os Financiamentos Bancários

Introdução
Os financiamentos bancários abrangem os empréstimos directos e indirectos e a concessão de garantias,
podendo assumir as seguintes modalidades:
● Empréstimos em conta-corrente (usualmente conhecidos por descobertos bancários)
● Desconto de títulos:
○ Crédito por desconto de livranças
○ Crédito por desconto ao cedente
○ Crédito por desconto ao fornecedor
○ Crédito por aceite
● Desconto de facturas
● Desconto de warrants
● Créditos documentários
● Garantias prestadas (responsabilidades)

Os empréstimos bancários directos envolvem, do ponto de vista financeiro, a intervenção de duas

Gestão Financeira 42
entidades fundamentais: a empresa beneficiária do crédito e o banco. Os empréstimos bancários
indirectos pressupõem, também numa óptica financeira, a intervenção de três entidades: a empresa
compradora (beneficiária da dilação do pagamento), a empresa vendedora (beneficiária do crédito
bancário) e o próprio banco.
Os empréstimos directos não têm subjacente qualquer ligação directa com o cilco de exploração e
dependem, em muito, da sua situação financeira e capacidade de negociação. Desta forma, os créditos
bancários directos são recursos financeiros extra-exploração e integram o ciclo das operações financeiras.
Os empréstimos indirectos (crédito por desconto ao cedente e crédito por desconto ao fornecedor)
revelam uma ligação directa com o ciclo de exploração e não são exclusivamente dependentes da
capacidade de recurso ao crédito da empresa. Assim, são recursos financeiros de exploração.

Os Empréstimos em Conta-Corrente
Os empréstimos bancários em conta-corrente são recursos financeiros extra-exploração e, desde que a sua
renovabilidade se encontre previamente assegurada, devem ser integrados no cálculo do fundo de maneio
necessário extra-exploração (FMNFE). Os saldos por utilizar das contas-correntes constituem um
importante elemento para a gestão das disponibilidades e a constituição da reserva de segurança de
tesouraria.

O Desconto de Títulos
As modalidades mais comuns para o desconto de títulos são as seguintes:
● Crédito por desconto de livranças
● Crédito por desconto ao cedente
● Crédito por desconto ao fornecedor
○ crédito à produção e venda a prazo
○ crédito à exportação
● Crédito por aceite

Os recursos financeiros extra-exploração resultantes do crédito bancário por desconto de livranças


podem ou não integrar o fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE). Se a sua renovabilidade
anual se encontrar garantida (negociada), serão um componente do FMNFE. Na hipótese contrária
representarão um elemento passivo de tesouraria (EPT).
Os recursos financeiros do crédito por desconto ao cedente (desconto de letras ou extractos de facturas,
sacados pela empresa sobre os seus clientes e, regra geral, com vencimentos máximos de 180 dias a
contar da data da apresentação da operação ao banco) são de exploração.
Os recursos financeiros obtidos através do crédito por desconto ao fornecedor são de exploração e devem
ser integrados no cálculo do fundo de maneio necessário de exploração (FMN).
Os recursos financeiros extra-exploração obtidos através de créditos por aceite não devem ser
considerados para cálculo do fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE), pois geralmente não
são renováveis.

Gestão Financeira 43
O Desconto de Facturas
Quando assumirem um certo grau de renovabilidade – v.g., existência de plafonds para desconto de
facturas pré-negociados com os bancos -, devem ser considerados para efeitos de cálculo do fundo de
maneio necessário de exploração (FMN). Quando for casuístico, os respectivos recursos financeiros (anorais
e temporários) são autênticos elementos passivos de tesouraria (EPT).

O Desconto de Warrants
Faculta à empresa determinados recursos financeiros extra-exploração, que geralmente não são
renováveis, e por isso não devem ser integrados no cálculo do fundo de maneio necessário extra-
exploração (FMNFE). Os referidos recursos são autênticos elementos passivos de tesouraria (EPT).

Aberturas de Crédito e Créditos Documentários


<descrição do que é>12
Suponho que não entre para cálculo do fundo de maneio necessário de exploração.

O Papel Comercial
<descrição do que é>13

As Garantias Bancárias
As garantias bancárias embora não constituindo directamente um empréstimo são geralmente
consideradas uma forma de financiamento da empresa pois facultam-lhe a obtenção de recursos
financeiros extra-exploração adicionais ou evitam a efectivação imediata de determinadas desspesas de
exploração.
As garantias bancárias associadas aos recursos financeiros de exploração e extra-exploração originam
custos implícitos, além e naturalmente dos custos nominais ou de outros custos explícitos. Assim, estes
recursos financeiros são, por via de regra, elementos passivos de tesouraria (EPT). 14

12 Página 182 do manual


13 Página 185 do manual
14 Ver exemplo sobre os financiamentos bancários na página 187 do manual

Gestão Financeira 44
O Estado e Outros Entes Públicos

Os recursos financeiros facultados pelo Estado abrangem o crédito concedido:


● pelo próprio Estado
● Segurança Social
● Autarquias Locais

A empresa pode encontrar-se em duas situações distintas perante o Estado e entidades públicas: concede
crédito ou obtém crédito, o qual depende da natureza das obrigações, do tipo de actividade e da situação
fiscal da empresa.

Impostos directos:
● IRS (devido pelos trabalhadores, retido pela empresa)
● Impostos sobre aplicações financeiras
● Impostos sobre propriedades
● IRC

Impostos indirectos:
● IVA
● Imposto de selo
● etc.

O nível dos impostos sobre o rendimento (IRC), embora influenciado pela rendibilidade de exploração
(resultados de exploração), também depende da estrutura e política financeira da empresa, além de
outros factores (resultados extraordinários e a nível da própria taxa de imposto). Desta forma, os recursos
financeiros decorrentes deste tipo de crédito revelam uma natureza híbrida (exploração e extra-
exploração), mas o autor prefere considerá-los como recursos financeiros extra-exploração (não esquecer
que em determinado exercício a empresa poderá estar a conceder crédito ao Estado e nesta situação
estaremos perante uma necessidade extra-exploração).
Os recursos financeiros extra-exploração proporcionados à empresa pelo tipo de crédito estatal em apreço
(IRC), são um elemento passivo (eventualmente activo) de tesouraria e, como tal, não fazem parte do
fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE).
O IRS devido ao Estado pelos trabalhadores é cobrado pela empresa e nela retido durante um determinado
período de tempo. Assim, o Estado concede um certo volume de crédito gratuito que, dada a sua natureza
(recursos financeiros de exploração), deve ser considerado no cálculo do fundo de maneio necessário de
exploração.
O IVA não constitui um custo da empresa. Todavia e ao contrário do que acontece sob o ponto de vista
económico, as consequências financeiras do IVA são relevantes.
Os investimentos que a empresa realiza em capital fixo, no crédito concedido aos clientes e nos stocks de
matérias-primas e restantes materiais são geralmente majorados devido à incorporação do IVA. Por outro
lado e em contrapartida, os créditos obtidos dos fornecedores correntes e das imobilizações também
compreendem o IVA, e o Estado igualmente faculta à empresa um certo volume de crédito gratuito15.

15 O IVA é pago no termo do segundo mês a que se reporta (crédito médio de 75 dias) e resulta da diferença entre o
imposto debitado aos clientes (recebido ou não) e o imposto debitado pelos fornecedores (pago ou não).

Gestão Financeira 45
O resultado final das divergentes consequências financeiras pode ser favorável ou desfavorável à empresa,
pois tudo depende dos seguintes factores:
● Volume e destino das vendas e prazo médio de recebimento
● Volume e origem das compras e prazo médio de pagamento
Os recursos financeiros resultantes da dilação consentida pelo Estado para pagamento do IVA podem estar
relacionados com a exploração (matérias-primas, serviços e fornecimentos de terceiros ligados ao ciclo de
exploração, etc.) ou com as imobilizações. Assim, os recursos financeiros respectivos deverão ser
contemplados no cálculo do fundo de maneio necessário de exploração (1ª hipótese) ou no fundo de
maneio necessário extra-exploração (2ª hipótese).

O crédito concedido pela Segurança Social compreende as contribuições da empresa que constituem
custos e as contribuições dos trabalhadores que são cobradas e retidas durante um certo período de
tempo. Desta forma a empresa beneficia de um conjunto de recursos financeiros de exploração gratuitos
que devem ser um componente do fundo de maneio necessário de exploração16.

Os Credores Diversos e Outros Empréstimos

As rubricas Credores Diversos (Accionistas, Associadas, Fornecedores de Imobilizado e Credores Diversos) e


Outros Empréstimos (Accionistas, Associadas, etc.) abrangem um conjunto de recursos financeiros extra-
exploração cujo grau de renovabilidade (rotatividade ou permanência) importa analisar.
Quando o grau de permanência for acentuado deverão ser contemplados no cálculo do fundo de maneio
necessário extra-exploração (FMNFE). Inversamente e quando a renovabilidade for frágil ou incerta,
deverão ser considerados como elementos passivos de tesouraria (EPT).

Provisões Para Riscos e Encargos

Respeitam a custos ou riscos de exploração e extra-exploração que se prevê virem a efectivar-se no


futuro.
As provisões que representarem recursos financeiros renováveis de exploração ou extra-exploração devem
fazer parte, respectivamente, do fundo de maneio necessário de exploração (FMN) ou do fundo de maneio
necessário extra-exploração (FMNFE). As restantes provisões constituem elementos passivos de tesouraria
(EPT).

Os Proveitos Diferidos

Os proveitos diferidos, tal como os custos diferidos, decorrem do princípio da especialização económica
dos exercícios e podem afectar, de acordo com a sua natureza, o fundo de maneio necessário de
exploração e o fundo de maneio necessário extra-exploração, ou constituir apenas um elemento passivo
de tesouraria.

16 As contribuições para a Segurança Social vencem-se no dia 15 do mês seguinte, a que respeitam (crédito médio de
cerca de 30 dias).

Gestão Financeira 46
Os Acréscimos de Custos

Referem-se aos custos a contabilizar no próprio exercício,mas cujas despesas apenas se virão a concretizar
no(s) exercício(s) seguinte(s) – por exemplo, subsídios de férias, seguros a pagar, custos financeiros
vendidos e a pagar, etc.
Dependendo da sua natureza, os acréscimos de custos podem integrar o FMN ou o FMNFE, ou constituir
elementos passivos de tesouraria.

Gestão Financeira 47
A Gestão do Exigível a Curto Prazo

A.1.1. - Normais
A.1. - Renováveis
A - Necessidades Financeiras A.1.2. - Anormais
de Exploração

A.2. - Não Renováveis (Temporárias)

B.1.1. - Normais
B.1. - Renováveis
B - Necessidades Financeiras B.1.2. - Anormais
Extra-Exploração

B.2. - Não Renováveis (Temporárias)

Temos assim:
1. O fundo de maneio necessário de exploração (FMN) abrange o conjunto dos recursos financeiros
renováveis e normais (A.1.1.). Observe-se que estes recursos não têm custos financeiros explícitos
e também compreendem os plafonds bancários para desconto de títulos comerciais e os créditos
bancários por desconto ao fornecedor ligados ao ciclo das operações de exploração.
2. O fundo de maneio necessário extra-exploração (FMNFE) integra os recursos financeiros extra-
exploração renováveis e normais (B.1.1.).
3. Os recursos financeiros de exploração renováveis e anormais (A.1.2.), não renováveis (A.2.), os
recursos financeiros extra-exploração renováveis e anormais (B.1.2.) e não renováveis (B.2.) são
elementos passivos de tesouraria.

Gestão Financeira 48
O Planeamento Financeiro a Curto Prazo

Introdução

O planeamento financeiro a curto prazo insere-se no planeamento financeiro a médio prazo, que
materializa os objectivos da empresa para um horizonte temporal geralmente variável entre três a cinco
anos.
As políticas financeiras de curto prazo são uma função dos diversos objectivso globais anuais (vendas e
crédito a conceder aos clientes, compras e crédito a obter dos fornecedores correntes, etc.) e dependem
dos próprios fluxos financeiros previsionais.
O objectivo financeiro fundamental a curto prazo traduz-se geralmente na elevação da tesouraria global
com a preocupação simultânea de preservação de um razoável equilíbrio entre a redução do custo do
capital e a minimização do risco financeiro.
Existem dois aspectos de índole estrutural que influenciam o nível de fundo de maneio necessário de
exploração das empresas:
● a natureza da actividade
● as condições globais de organização e gestão
A natureza da actividade exercida pela empresa (agrícola, industrial, comercial ou de prestação de
serviços) tem uma profunda influência sobre o nível do fundo de maneio necessário. Efectivamente é um
factor determinante da duração do ciclo de exploração e do nível e estrutura dos custos totais e do valor
acrescentado bruto.
O ciclo de exploração é fortemente influenciado pela duração do ciclo de produção e pela natureza dos
produtos fabricados pela empresa, o que se repercute nos níveis dos stocks de matérias-primas, de
produtos em vias de fabrico e de produtos acabados ou do crédito concedido aos clientes.
O nível e a estrutura do valor acrescentado também se reflectem na sua tesouraria de exploração. Quanto
mais elevado for o valor acrescentado, menor será o montante de compras de materiais e, portanto,
menor será o nível de crédito permanente e renovável dos fornecedores correntes. Por outro lado, e
relativamente à estrutura do valor acrescentado, quanto mais elevadas forem as amortizações das
imobilizações de exploração menor será o nível do fundo de maneio necessário de exploração.

O Dinamismo do Fundo de Maneio Necessário de Exploração

O Nível da Actividade
As variações do nível de actividade (variações dos ritmos da produção ou das vendas) reflectem-se,
imediata ou mediatamente, no nível do fundo de maneio necessário de exploração, podendo, assim,
originar insuficiências ou excedentes de tesouraria.
Os aumentos do nível de actividde da generalidade das empresas industriais geralmente implicam
elevações do crédito concedido aos clientes e das existências, que não são compensadas pelo natural

Gestão Financeira 49
incremento do crédito (dito normal) obtido dos fornecedores correntes e do Estado, o que pode estar na
base de «pressões« sobre a tesouraria de exploração.
As variações do fundo de maneio necessário de exploração (FMN) não são, por via de regra, rigorosamente
proporcionais às variações do nível de actividade da empresa, pois os graus de rotação do activo e passivo
circulantes tendem a modificar-se.

A Sazonalidade da Actividade
O comportamento do fundo de maneio necessário de exploração (FMN) não é geralmente constante ao
longo de um determinado exercício económico, pois existem diversos factores de natureza conjuntural
que afectam o nível dos recebimentos e dos pagamentos de exploração. De entre esses factores é vulgar
destacar-se a natureza eventualmente sazonal da actividade da empresa quer em termos de produção
(concentrado de tomate), quer em termos de vendas e recebimentos (produção de luvas).

A Inflação
A inflação geralmente contribui para elevar o nível do fundo de maneio necessário de exploração (FMN), a
não ser que sejam alterados os graus de rotação do activo e passivo circulantes. Por outro lado, se a
evolução do autofinanciamento e do fundo de maneio não compensar adequadamente a referida
tendência do FMN, certamente se assistirá à degradação da situação de tesouraria da empresa.
Os efeitos da inflação sobre o FMN naturalmente serão tanto mais pronunciados quanto maior for o seu
ritmo anual, e são independentes do nível real da actividade da empresa.
As consequências negativas da inflação sobre a tesouraria da empresa não só podem advir da elevação do
nível do fundo de maneio necessário total (sobretudo do de exploração), como também da degradação do
próprio fundo de maneio, através da redução do autofinanciamento anual.

O Orçamento Anual de Tesouraria

Introdução
O orçamento anual de tesouraria materializa, em termos de fluxos financeiros previsionais, todos os
objectivos e políticas de curto prazo da empresa.
A elaboração do orçamento anual de tesouraria decorre de um conjunto de pressupostos económicos e
financeiros de curto prazo, consubstanciados no plano de desenvolvimento a médio prazo:
● contas de exploração previsionais
● plano de investimentos
● plano financeiros
● balanços previsionais
e é também condicionada pela situação preexistente ou momentânea da empresa que se encontra
reflectida no balanço do exercício económico imediatamente anterior àquele a que se refere o próprio
orçamento de tesouraria.
A materialização do planeamento financeiro a curto prazo é representada pelo orçamento de tesouraria e,

Gestão Financeira 50
devendo ser inserido no planeamento global a médio e longo prazo, envolve a elaboração de três
documentos essenciais:
● orçamento de exploração
● orçamento dos investimentos
● orçamento financeiro

O planeamento financeiro a curto prazo decorre de uma forte interdependência das funções principais da
empresa.

O Orçamento de Tesouraria de Exploração


Resultada fundamentalmente:
● da conta de exploração previsional anual
● da definição preliminar de diversas políticas de curto prazo
Tem geralmente como ponto de partida uma determinada situação relativamente a algumas das rubricas
de exploração:
● crédito concedidos
● stocks
● crédito obtido

A elaboração da conta de exploração previsional envolve a clara definição dos seguintes parâmetros:
● Vendas e custos devidamente temporalizados (no mínimo mensalmente):
○ quantidades
○ preços de venda unitários
○ vendas totais
○ impostos sobre o valor acrescentado
○ descontos comerciais
○ descontos financeiros
○ stocks de produtos acabados
○ custos de distribuição e dos departamentos vendas
○ etc.
● Produção e custos industriais correctamente demarcados no tempo (idem):
○ rendimentos fabris
○ custos por natureza
○ stocks de produtos em vias de fabrico e semiacabados
○ etc.
● Compras, despesas das compras e stocks de materiais (idem)
● Previsão das despesas administrativas e dos orgãos sociais (idem)

Elaborada a conta de exploração previsional anual, na base dos objectivos de curto prazo enquadrados na
estratégio de desenvolvimento da empresa, importa definir perliminarmente as seguintes políticas de

Gestão Financeira 51
curto prazo, cujos resultados devem igualmente ser quantificados e temporalizados:
● Forma de recebimento das vendas e concessão de crédito aos clientes (pronto pagamento,
créditos titulados e não titulados e adiantamentos normais dos clientes)
● Descontos das letras a receber. Este aspecto irá influenciar os custos financeiros de
funcionamento e a tesouraria de exploração.
● Constituição de stocks de produtos acabados.
● Obtenção de créditos dos fornecedores correntes e do Estado.
● Montantes esperados dos créditos bancários por desconto ao fornecedor (créditos à produção,
vendas a prazo e exportação).

As políticas referidas serão posteriormente reponderadas, em função das necessidades e recursos


financeiros decorrentes dos diversos orçamentos parcelares consubstancias no orçamento de tesouraria.
Desta forma e tal como acontece no planeamento financeiro a médio prazo, o planeamento a curto prazo
também se efectua por aproximações sucessivas.

O modelo de orçamento de exploração a seleccionar para cada empresa depende das suas características,
organização e necessidades efectivas. O modelo apresentado é meramente indicativo e merece as
seguintes explicações:
1. A previsão dos recebimentos de exploração é geralmente mais aleatória do que a das pagamentos,
o que justifica uma atitude de maior prudência na sua quantificação. Por outro lado, importa ter
bem presente os efeitos previsíveis da inflação e sazonalidade da actividade sobre os
recebimentos e pagamentos.
2. Os «recebimentos» provenientes das letras em carteira a descontar deverão ser registados pelos
valores nominais e as respectivas despesas na rubrica de custos financeiros de funcionamento. No
que se reporta às reformas das letras a receber, também deverão ser previstos os recebimentos
das amortizações – v.g., na rubrica outros recebimentos -, dos custos financeiros repercutidos
sobre os clientes (receitas financeiras correntes) e do desconto dos novos títulos, de forma
idêntica à anteriormente indicada para o desconto das letras em carteira.
3. Os pagamentos aos diversos fornecedores reportam-se ao crédito não titulado, encontrando-se a
regularização total ou parcial do crédito titulado na rubrica letras a pagar. Recorde-se que a
reforma das letras a pagar pode originar elevados custos financeiros de financiamento que,
certamente, figurarão no orçamento de tesouraria.
4. As remunerações do trabalho a pagar e os encargos fiscais a reter na fonte (IRS dos trabalhadores)
foram devidamente separados devido à sua distinta natureza.
5. A rubrica Segurança Social compreende os pagamentos dos encargos sociais da empresa e dos
trabalhadores a reter na fonte.
6. A rubrica Custos Financeiros de Funcionamento contempla os descontos financeiros concedidos aos
clientes e os custos do desconto de letras a receber que poderão ser parcialmente compensados
pelas receitas financeiras correntes.
7. A construção do orçamento de exploração de um determinado exercício é influenciada pelas
rubricas ligadas ao ciclo de exploração e reflectidas no balanço do exercício imediatamente
anterior – p.e., o crédito concedido aos clientes em Dezembro de um certo ano certamente
originará recebimentos nos primeiros meses do ano seguinte.

O Orçamento dos Investimentos


O orçamento dos investimentos (e desinvestimentos) em capital fixo contempla todos os pagamentos (e
recebimentos) respectivos, e tem como ponto de partida o plano global dos investimentos a médio prazo,
que quantifica e temporaliza em períodos anuais sucessivos a política de investimentos da empresa.

Gestão Financeira 52
O orçamento dos investimentos distingue-se do plano anual dos investimentos por duas razões primordiais:
● a amplitude
● a óptica de elaboração

A amplitude do orçamento dos investimentos é geralmente mais restrita do que a do plano anual dos
investimentos, pois o primeiro documento não abrange, ao contrário do segundo, os investimentos em
fundo de maneio necessário total (exploração e extra-exploração).
A óptica de elaboração do orçamento dos investimentos é exclusivamente financeira (datas de realização
dos pagamentos e recebimentos), enquanto a perspectiva de elaboração do plano anual de investimentos
é eminentemente económica (datas da realização material dos investimentos).

O Orçamento Financeiro
O orçamento financeiro compreende todos os recebimentos e pagamentos resultantes das operações
financeiras efectuadas no passado ou a realizar no período do próprio orçamento.
As operações financeiras realizadas no passado encontram-se reflectidas no balanço e anexos do termo do
período imediatamente anterior àquele a que o orçamento financeiro se reporta – v.g., um empréstimo
dos sócios já contraído ou um aval bancário obtido. As operações financeiras a realizar a curto prazo
encontram-se espelhadas no plano financeiro a médio prazo ou no próprio orçamento de tesouraria – p.e.,
a realização de um novo aumento do capital social ou a contracção de um empréstimo bancário a curto
prazo para financiamento do défice previsional de tesouraria.
O modelo-tipo apresentado merece os seguintes comentários:
1. As transformações do capital social, os suprimentos (consolidados ou não) e as presstações
suplementares de capital serão estudados nas fontes de financiamento a médio e longo prazos.
2. A rubrica dos subsídios diversos compreende os recebimentos de fundos, reembolsáveis ou não, de
entidades estatais nacionais ou internacionais.
3. As receitas financeiras extra-exploração decorrem das aplicações temporárias ou estratégicas
efectuadas pela empresa.
4. Os custos financeiros de financiamento, incluindo o custo das garantias (avales, fianças ou
cauções), são susceptíveis da seguinte desagregação:
a) os custos relativos às operações existentes no início do período do orçamento financeiro e às
novas operações financeiras a médio e a longo prazos que, geralmente, constam do plano
financeiro, e apenas necessitam de uma reapreciação;
b) os custos das novas operações financeiras de curto prazo, sobretudo das que se destinam à
cobertura de eventuais défices de tesouraria, só poderão ser determinados após a elaboração
do orçamento anual de tesouraria17.
5. O imposto sobre o rendimento tem como sustentáculo a respectiva estimativa que, todavia, se
poderá vir a revelar insuficiente ou excessiva.

A elaboração do orçamento financeiro também é interdependente da dos restantes orçamentos. O


orçamento anual de tesouraria constitui o documento-chave para a concepção final dos próprios
orçamentos que estão na sua origem e são essenciais para uma melhor definição das políticas financeiras
de curto prazo.

17 Este facto explica a razão pela qual, na vida prática, os custos financeiros de financiamento e as chamadas
operações de repartição dos excedentes gerados pela empresa (imposto sobre o rendimento e distribuição de
dividendos), não são consideradas no orçamento financeiro, mas sim e apenas no orçamento de tesouraria.

Gestão Financeira 53
O Orçamento de Tesouraria
O orçamento anual de tesouraria contempla todos os fluxos financeiros previsionais de exploração e extra-
exploração, independentemente da sua origem ou destino (ciclos das operações de exploração, das
operações de investimentos e das operações financeiras).
O orçamento anual de tesouraria agrega, com maior ou menor síntese, os orçamentos de exploração, de
investimentos e financeiro. O saldo acumulado de tesouraria (disponibilidades finais) resulta do somatório
da tesouraria global (tesouraria anual) e do saldo de tesouraria inicial (disponibilidades iniciais), i.e., do
saldo existente no início do período a que o orçamento anual se refere e necessariamente reflectido no
respectivo balanço.

O Balanço Previsional
O planeamento financeiro a curto prazo supõe a elaboração de um conjunto de documentos:
● conta de exploração e orçamento de exploração
● plano anual de investimentos e orçamento dos investimentos
● orçamento financeiro
● orçamento anual de tesouraria
Ora, a conta previsional de exploração necessita, na fase final, de ser complementada através da
consideração dos resultados extra-exploração, dos custos financeiros de financiamento e da provisão para
imposto sobre o rendimento, de forma a ser construída a conta previsional de exploração e resultados.
Os resultados extra-exploração podem ter origem nos desinvestimentos ou noutras receitas e despesas
(mais ou menos valias). O orçamento financeiro mostra-nos os recebimentos e pagamentos extra-
exploração (não forçosamente as receitas e despesas).
Os custos financeiros de financiamento que constam do orçamento financeiro traduzem os pagamentos
prováveis do respectivo exercício e importa ter em atenção o princípio da especialização económica dos
exercícios para o seu cálculo rigoroso.
Conhecidos os resultados antes de impostos (RIA), fácil será obter o imposto sobre o rendimento e os
resultados líquidos previsionais.
O balanço previsional resulta:
● do balanço inicial (último balanço real);
● da conta previsional de exploração e resultados;
● do plano de investimentos;
● do orçamento de tesouraria18.
Naturalmente que a consideração dos efeitos resultantes da interdependência dos exercícios não poderá
ser esquecida, sob pena de se cometerem erros por omissão ou duplicação.

As contas do balanço de natureza económica – v.g., as amortizações acumuladas, resultados líquidas, etc.
- decorrem essencialmente da situação inicial e das mutações anuais reflectidas pela conta previsional de
exploração e resultados.
Paralelamente, as contas do balanço de natureza financeira resultam basicamente da situação
preexistente e da evolução previsional materializada no orçamento de tesouraria.

18 Está-se a considerar a identidade entre o plano financeiro anual e o orçamento financeiro, como muitas vezes
acontece na vida prática.

Gestão Financeira 54
As Políticas Financeiras de Curto Prazo
A preparação da conta previsional de exploração e resultados, e do orçamento anual de tesouraria
pressupõe a definição de um conjunto de objectivos e políticas de curto prazo, quer de natureza
económica, quer de índole financeira. Contudo, a validação final desses objectivos e políticas apenas
deverá ser realizada após o conhecimento dos fluxos financeiros previsionais e que se encontram
quantificados no próprio orçamento de tesouraria.
Salvaguardada a base económica da tesouraria de exploração, importará maximizar os resultados obtidos
(grau de disponibilidade versus custo efectivo), através da ponderação individualizada e conjunta dos
seguintes aspectos:
● Política de gestão das disponibilidades.
● Política de concessão de crédito aos clientes.
● Política de desconto das letras a receber.
● Política de constituição dos diversos stocks.
● Política de adiantamento dos clientes.
● Política de pagamento aos fornecedores correntes.
● Política de reforma das letras a pagar.

O Controlo do Orçamento de Tesouraria


A metodologia interna para a elaboração e o controlo de todos os orçamentos deve encontrar-se
claramente definida e prever a revisão obrigatória, no mínimo semestral e alargada aos principais
responsáveis funcionais da empresa, de todos os pressupostos económicos e financeiros que constituem a
essência dos orçamentos de exploração, de investimentos e financeiro.
Importará igualmente que o gestor financeiro proceda a reanálises regulares do orçamento de tesouraria,
sendo «frequente usar-se a técnica de mensalmente corrigir as previsões para os três meses seguintes,
desenvolvendo em quinzenas ou semanas o primeiro mês considerado».
A determinação dos desvios semanais (ou quinzenais) do orçamento de tesouraria deve ser acompanhada
da análise das suas causas originadoras e da introdução das necessárias medidas correctivas.
Os valores mensais reais das rubricas do orçamento de tesouraria dão origem a um outro importante
documento, mapa dos fluxos financeiros, cujo interesse para a gestão da tesouraria já foi desenvolvido.

Gestão Financeira 55
O PLANEAMENTO FINANCEIRO A MÉDIO E
LONGO PRAZOS

Gestão Financeira 56
Introdução
O estudo da situação financeira da empresa abrange dois aspectos distintos, mas interdependentes: a
tesouraria e a estrutura financeira.
O estudo da tesouraria abrange essencialmente a gestão do capital circulante e da dívida a curto prazo e a
análise dos fluxos financeiros (históricos e previsionais) de curto prazo. Mas o equilíbrio estrutural da
tesouraria apenas se encontrará assegurado quando os capitais permanentes reais (CP) se situarem ao
nível dos capitais permanentes ideais ou adequados (CPA):

CPA = ITL + FMNT

ITL - Imobilizado total líquido de amortizações e provisões


FMNT - Fundo de maneio necessário total

A estrutura financeira (estrutura do capital) da empresa abrange fundamentalmente a análise e a


composição dos capitais permanentes (capitais próprios versus capitais alheios exigíveis a médio e longo
prazos).
O fundo de maneio necessário total é profundamente influenciado pelo comportamento dinâmico do fundo
de maneio necessário de exploração, sendo este muito marcado pela natureza e sazonalidade da
actividade da empresa e pela própria conjuntura sectorial e global. Assim, a fixação do nível dos capitais
permanente reais depende da política financeira a utilizar pela empresa, em relação ao nível do fundo de
maneio efectivo.
A análise da estrutura financeira da empresa encontra-se naturalmente ligada à problemática do seu
valor, do risco financeiro e do custo do capital.

A Estruturação dos Capitais Permanentes Adequados

A estruturação dos capitais permanentes adequados da empresa é influenciada por um conjunto de


factores, de entre os quais se salientam:
● As características da empresa
● As características dos mercados financeiros
● A tesouraria de exploração
● A rendibilidade dos capitais próprios (por sua vez influenciada pela rendibilidade da exploração e
pelo custo do capital alheio)
● A inflação
● O risco e a reserva financeira estratégica

Gestão Financeira 57
As características da empresa
A estruturação dos capitais permanentes adequados da empresa depende:
● da sua capacidade de recurso ao crédito
● do seu acesso aos mercados de capitais
● da possibilidade jurídica e financeira dos sócios alterarem o capital social

Estes aspectos são influenciados por diversos factores, de onde se destaca:


● A mentalidade dos detentores do capital social
● A forma jurídica da sociedade
● A dimensão da empresa e a natureza dos activos19
● Os ónus existentes sobre o património da empresa

As Características dos Mercados Financeiros


É necessário a existência de mercados de capitais (empréstimos por obrigações e emissão de novas acções)
e de intermediário financeiros (instituição bancárias e outras):
● eficazes
● não restritivos nas suas actuações
● competitivos
● não sujeitos a regimes fiscais muito apertados
A solidez e o racionalismo do funcionamento dos mercados secundários de capitais (Bolsa de Valores)
podem facilitar sobremaneira a emissão de novas acções das sociedades anónimas.
As restrições genéricas ou específicas à concessão de crédito a médio prazo ou ao funcionamento das
Bolsas de Valores, muitas vezes impostas pelos governos e bancos centrais podem redundar numa maior
necessidade de comparticipação de capitais próprios.

A Tesouraria de Exploração
Veja-se o exemplo das Empresas N, O e P com a mesma dimensão, as mesmas políticas de concessão de
crédito aos clientes (CC), de formação de stocks (SO) e de obtenção de créditos de exploraçao (CO), mas
distintos níveis de rendibilidade de exploração:

Empresa N Empresa O Empresa P


1 – MLB (exploração) 50.000 75.000 100.000
2 - ∆ CC 40.000 40.000 40.000
3 - ∆ SO 20.000 20.000 20.000
4 - ∆ CO 10.000 10.000 10.000
5 – TE {1-[(2+3)-4]} 0 25.000 50.000

19 Os activos imateriais (incorpóreos), devido à sua irreprodutividade, são essencialmente financiados por capitais
próprios.

Gestão Financeira 58
As empresas dotadas de frágeis tesourarias previsionais de exploração apresentam maiores riscos
financeiros e deverão, por esta razão, não só estruturar os seus capitais permanentes adequados à base de
capitais próprios, como também manifestar uma profunda atenção à sua gestão de tesouraria e ao seu
ritmo de crescimento.

A Rendibilidade dos Capitais Próprios


O nível da rendibilidade global da empresa (RAJI) e a política de endividamento a médio e longo prazos
podem influenciar a rendibilidade dos capitais próprios (RC'P).

A Inflação
A inflação contribui decisivamente para incrementar o nível dos capitais permanentes adequados das
empresas, pois os investimentos em capital fixo (substituição, expansão ou inovação) tornam-se mais
onerosos e o nível do fundo de maneio necessário também se eleva. Desta forma e na medida em que o
nível dos capitais permanentes adequados é influenciado pela inflação, também a sua estrutura (capitais
próprios versus capitais alheios), o será.

O Risco e a Reserva Financeira Estratégica


O risco económico resulta da aleatoriedade dos resultados de exploração futuros da empresa, o que
naturalmente também se pode reflectir na rendibilidade dos capitais investidos. Os factores tecnológicos
(ritmo da evolução do progresso tecnológico, surgimento de novos produtos, grau de especialização dos
equipamentos, etc.) e comerciais (quota de mercado, concentração regional dos clientes, etc.) exercem
para além do nível e composição dos capitais investidos, uma influência determinante sobre o risco
económico da empresa.
O risco financeiro (perspectiva estrutural) decorre do risco económico e da estrutura financeira da
empresa (capitais alheios exigíveis a médio prazo versus capitais alheios) e repercute-se sobre a
rendibilidade dos capitais próprios.
Os riscos económico e financeiro da empresa redundam, na vida prática, na necessidade de manutenção
de uma determinada participação dos capitais próprios no conjunto dos capitais utilizados (solvabilidade
total) ou no financiamento do activo total líquido (autonomia financeira).

A reserva financeira estratégica visa essencialmente preservar a independência financeira da empresa com
o objectivo de permitir o aproveitamento de todas as oportunidades de investimento que venham a surgir
no futuro e materializa-se geralmente através de investimentos financeiros caracterizados por um certo
grau de disponibilidade.

Gestão Financeira 59
As Principais Políticas Financeiras
As principais políticas financeiras são:
● a política de desenvolvimento
● as políticas de amortizações e de constituição de provisões
● a política de distribuição de resultados
● a política de transformação do capital social
● a política e os limites do endividamento

A Política de Desenvolvimento

A política de desenvolvimento pressupõe a definição dos objectivos e estratégias a médio e longo prazos e
materializa-se essencialmente através da política de investimentos.
A análise de investimentos exige a ponderação individualizada de:
● rendibilidade (decisão económica)
● financiamento (decisão financeira)
● risco
É aconselhável uma reponderação final aravés do estudo do seu impacto conjunto sobre a situação global
da empresa, o que é possível através dos documentos previsionais essenciais:
● as contas de exploração e resultados
● os planos de investimento e de financiamento
● os balanços previsionais

Na definição do ritmo de crescimento da empresa o factor essencial consiste na necessidade de


preservação de um constante equilíbrio entre dois aspectos cujo comportamento é intrinsecamente
antitético: o próprio crescimento e a autonomia financeira da empresa.

A Política de Amortizações

As amortizações e as provisões anuais são custos do exercício e sob o aspecto financeiro podem não ter
exactamente o mesmo significado.
O nível anual das amortizações das imobilizações corpóreas depende fundamentalmente de três factores:
● a depreciação real
● a obsolescência tecnológica
● a inflação

Gestão Financeira 60
a correcta determinação das amortizações anuais revela-se como um elemento fundamental da
rendibilidade da empresa e, muito especialmente, para a fixação da política de venda dos seus produtos
(nomeadamente os preços).
Do ponto de vista financeiro, as amortizações não traduzem quaisquer fluxos financeiros negativos
(pagamentos) e portanto integram o autofinanciamento anual da empresa. Por outro lado, o nível anual
das amortizações não afecta a tesouraria da empresa, a não ser indirectamente e através de eventuais
ganhos (perdas) fiscais resultantes da sua aceitação total (ou não) coo custos fiscais do exercício.

O objectivo financeiro das amortizações não se traduz, regra geral e como muitas vezes se afirma, na
criação de disponibilidades destinadas à substituição das imobilizações – as mesmas ou outras
tecnologicamente mais evoluídas – no termo da sua vida útil. Efectivamente, sendo certo que as
amortizações anuais geram, quando a empresa é rendível, excedentes financeiro (liquidez), não é forçoso
assistir-se a um incremento das disponibilidades, pois essa liquidez pode materializar-se numa elevação do
crédito concedido aos clientes ou num aumento das existências.
Relativamente à forma de financiamento das imobilizações, a política das amortizações deve ser
independente da maneira como as imobilizações ou a empresa são financiadas. Embora interdependentes,
as aplicações e as origens de fundos da empresa constituem duas realidades distintas, que importa não
confundir.

As provisões (créditos duvidosos, depreciação das existências, desvalorização das imobilizações,


desvalorização da moeda – créditos ou débitos, etc.) devem traduzir os riscos efectivos e futuros que o
exercício da actividade da empresa sempre encerra. Assim e tal como as amortizações, as provisões
traduzem custos do exercício, do ponto de vista económico, podendo (ou não) integrar o
autofinanciamento anual, pois tudo depende da não ocorrência (ou ocorrência) dos riscos para que as
provisões foram criadas.

A Política de Distribuição de Dividendos

A política de distribuição de dividendos encontra-se ligada a um conjunto de aspectos de natureza diversa,


onde se salienta:
● legais e estatutários
● estratégicos
● económicos
● financeiros

A adequabilidade de uma política de remuneração clara e directa dos capitais próprios (capitais de risco)
envolve necessariamente a correcta ponderação de dois outros aspectos:
● o nível da remuneração
■ a remuneração real (sem risco e inflação) desejada pelos titulares do capital social
■ prémio de risco (é de natureza subjectiva e influenciado pelo conjuntura económica global
e sectorial)
● a consistência temporal
■ contribui para a consolidação da imagem e do valor de mercado da empresa
■ facilita o acesso aos mercados de capitais

Gestão Financeira 61
A Política de Transformação do Capital Social

A necessidade de proceder a transformações (elevações) do capital social da empresa decorre,


essencialmente, dos seguintes aspectos:
● Consolidação da situação financeira (crescimento conduz a novos investimentos em capital fixo ou
fundo de maneio necessário)
● Política de crescimento (necessidade de preservação da autonomia financeira ou a manutenção de
aceitáveis níveis de risco financeiro)
● Transformações societárias estruturais (fusões, aquisições e absorções)
● Perspectivas sectoriais (p.e., novos processos tecnológicos)
● Aspectos legais, estatutários, contratuais e fiscais

A Política e os Limites do Endividamento

O endividamento contínuo e gradual das empresas tem a sua origem em dois factores primordiais:
● a erosão do autofinanciamento
■ efeitos da inflação
■ sucessivas elevações da carga fiscal (impostos sobre o rendimento e custos sociais
obrigatórios)
● a decrescente motivação dos sócios no sentido de acorrerem a novos aumentos do capital social

Gestão Financeira 62
As Fontes de Financiamento a Médio e Longo Prazos

Introdução

Os indivíduos, as empresas e o Estado são, simultaneamente, fornecedores e utilizadores de fundos e


podem efectuar operações financeiras directas junto dos mercados financeiros ou indirectas, i.e., através
dos intermediários financeiros.
Os mercados financeiros são constituídos por «locais» intangíveis, onde se processa a oferta e a procura
de fundos e se efectuam transacções directas. Os intermediários financeiros aceitam poupanças e
colocam-nas (empréstimos ou aplicações financeiras), além de prestarem determinados serviços
especializados.
Os mercados financeiros são constituídos pelos:
● mercados monetários – as transacções financeiras directas que se efectuam são a curto prazo (até
1 ano)
● mercados de capitais – o prazo das transacções (títulos ou empréstimos) é sempre superior a 1
ano.

O conceito de mercados perfeitamente competitivos (ou mercados competitivos) pressupõe a existência


de três condições essenciais:
● acesso gratuito à informação
● toda a informação necessária para a contracção ou concessão de financiamentos encontrar-se
disponível
● nenhuma entidade individual tenha uma influência significativa sobre os preços de mercado

A eficiência dos mercados pode ser:


● forte – os preços dos títulos reflectem instantaneamente toda a informação disponível
● semiforte – os preços dos títulos reflectem instantaneamente apenas a informação publicamente
disponível
● fraca – os preços dos títulos reflectem instantaneamente toda a informação contida nos preços
históricos

Os mercados financeiros podem ser:


● primários (novas fontes de financiamento das empresas)
● secundários (as transacções contemplam títulos ou direitos já existentes)

As principais fontes de financiamento a médio e longo prazos são as seguintes:

1. - Capitais Próprios

Gestão Financeira 63
1.1. - Capital Social
1.2. - Prestações suplementares de capital
1.3. - Autofinanciamento

2. - Capitais Alheios20
2.1. - Créditos renováveis dos fornecedores correntes e do Estado
2.2. - Créditos dos fornecedores de imobilizações
2.3. - Empréstimos bancários internos a médio e longo prazos
2.4. - Empréstimos externos
2.5. - Locação financeira mobiliária e imobiliária (leasing)
2.6. - Papel comercial
2.7. - Empréstimos obrigacionistas
2.8. - Empréstimos dos sócios
2.9. - Outras fontes de financiamento – v.g., empréstimos estatais reembolsáveis (gratuitos ou
onerosos), subsídios estatais, etc.

As principais características genéricas das fontes de financiamento a médio e longo prazos são:
1. Os custos nominais totais, directos, indirectos ou futuros
por exemplo, os resultantes da oneração do património (penhores mercantis ou hipotecas);
aceitação de cláusulas contratuais limitativas (não distribuição de dividendos ou obrigações
concretas de realização de investimentos sociais)
2. O grau de exigibilidade e a forma de reembolso
3. O impacte sobre o risco financeiro

As Prestações Suplementares de Capital

Representam financiamentos dos sócios nas sociedades por quotas e apenas podem ser efectuadas por
expressa disposição dos estatutos e pelo montante global neles fixado. O pacto social deverá igualmente
referir os sócios que ficam obrigados a efectuar as referidas prestações e o critério de repartição entre
eles, sob pena de todos eles ficarem vinculados à sua realização na proporção das respectivas quotas.
Do ponto de vista financeiro, as prestações suplementares de capital revelam as seguintes características:
● Não originam quaisquer custos explícitos (vencimento de juros), mas naturalmente originam custos
implícitos idênticos aos dos capitais próprios.
● Considerando os condicionalismos legais para a sua restituição aos sócios (prévia liberação das
quotas e o facto de a situação líquida não poder ficar inferior ao somatório do capital social e da
reserva legal), as prestações suplementares são correctamente consideradas como um
componente dos capitais próprios.
● Podem contribuir para a redução do risco financeiro estrutural da empresa.

20 Excluíram-se as garantias (avales, fianças e cauções)

Gestão Financeira 64
O Autofinanciamento

A tesouraria global real previsional identifica-se com o autofinanciamento disponível ao longo do quadro
temporal do planeamento financeiro e desempenha um papel de relevo na definição das principais
políticas financeiras: política de desenvolvimento, política de distribuição de dividendos, política de
transformação do capital social e política de endividamento.
O autofinanciamento disponível no futuro a médio ou longo prazo constitui um meio condicionante do
equilíbrio que deve existir entre as diversas políticas financeiras e um importante objectivo de gestão,
uma vez que é susceptível de ser melhorado através de adequadas medidas de gestão nas áreas económica
e financeira.

Principais vantagens e desvantagens:


1. Pode contribuir para a melhoria da estrutura financeira (redução do risco) através do reforço do
fundo de maneio (elevação dos capitais próprios com a retenção de lucros) ou da redução do
imobilizado total líquido (efeito das amortizações). Além da melhoria da solvabilidade total e
autonomia financeira, poderá ocorrer uma redução do custo do capital e uma elevação da
capacidade de recurso ao crédito.
2. Níveis muito elevados de autofinanciamento, associados a políticas de distribuição de dividendos
demasiado conservadoras podem redundar num menor endividamento (redução dos custos
financeiros de funcionamento) e, consequentemente, na afectação negativa da rendibilidade dos
capitais próprios.
3. Quando o autofinanciamento for demasiado elevado, poder-se-á assistir à realização de
investimentos em capital fixo sumptuosos e mal estudados ou, ainda, a uma certa tendência para
se descurar a gestão da tesouraria.
4. Níveis elevados de autofinanciamento, baseados em políticas penalizantes de distribuição de
dividendos, podem originar aumentos desnecessários dos custos implícitos dos capitais próprios.
5. Níveis reduzidos de autofinanciamento, acompanhados de incompreensíveis receios de qualquer
endividamento, podem traduzir-se na obsolescência do aparelho técnico produtivo, sobretudo
quando o desenvolvimento tecnológico for muito vivo, ou na perda de boas oportunidades de
realização de novos investimentos.

Os Suprimentos

Os suprimentos são empréstimos21 efectuados pelos sócios e têm como objectivo complementar
insuficiências, estruturais ou relativamente duradouras, dos capitais próprios e deverão permanecer na
empresa, expressa ou consentidamente, por um prazo superior a um ano.
Por vezes acontece que os suprimentos são consolidados, i.e., os sócios comprometem-se
contratualmente, perante a própria sociedade ou terceiros, a não exigir o seu reembolso durante um
período de tempo razoavelmente alargado, o que é frequente quando a empresa contrai empréstimos a
prazo junto de instituição financeiras e estas considerem indispensável (muitas vezes para evitar as
despesas adicionais resultantes de aumentos do capital social...) a manutenção temporária e controlada
dos suprimentos.
Os suprimentos constituem, portanto, uma forma especial, flexível e relativamente fácil (versus aumento
do capital social ou realização de prestações suplementares) de financiamento da empresa 22, mas devem

21 Os suprimentos, ao contrário das prestações suplementares de capital, podem ser realizados em dinheiro e outros
valores. A expressão é muito contestada para os empréstimos efectudas pelos sócios das sociedades anónimas,
embora, na prática, seja vulgarmente aceite.
22 Observe-se que, apesar das características referidas, os suprimentos – mesmo que consolidados – são sempre um
componente especial do exigível, mas nunca dos capitais próprios.

Gestão Financeira 65
ser sempre adequadamente integrados no conjunto das suas fontes de financiamento, especialmente
através da ponderação dos seguintes parâmetros:
● Afectação condicionada da estrutura (risco financeiro da empresa)
● Possibilidade da actuação favorável do efeito financeiro de alavanca (os juros dos suprimentos
são, geral e relativamente, mais reduzidos e constituem custos fiscalmente aceites, ao contrário
dos dividendos)
● Necessidade de um correcto planeamento do seu reembolso, tendo em atenção o
autofinanciamento disponível e as políticas financeiras da empresa.

Os Empréstimos Obrigacionistas

São relativamente usuais nas sociedades de razoável dimensão (anónimas ou por quotas) e reconhecida
imagem de solidez financeira, podendo atingir montantes relativamente elevados e reembolsáveis de
acordo com um plano previamente estabelecido.
O montante não pode, em princípio, exceder o valor do capital social efectivamente realizado, nos termos
do último balanço aprovado, e o seu reembolso, normalmente realizado gradualmente, pode ser
antecipado, desde que a sociedade emissora garanta ab initio o eventual exercício desse direito.
Em períodos inflacionistas ou em conjunturas relativamente indefinidas dos pontos de vista político,
económico ou financeiro, a subscrição de empréstimos obrigacionistas pode representar um certo risco
para os investidores. Assim, têm surgido nos mercados internacionais de capitais novas modalidades de
empréstimos por obrigações, como, por exemplo, as obrigações indexadas, obrigações participativas, as
obrigações convertíveis em acções, as obrigações dos empréstimos «com janelas» e as obrigações
grupadas.

A emissão de um empréstimo por obrigações envolve geralmente as seguintes despesas e fluxos financeiros
durante a sua vida:
● As despesas iniciais de emissão e um prémio de reembolso que são amortizáveis durante a vida do
empréstimo.
● Os juros anuais sobre o montante total do capital em dívida, no termo do período anterior.
● Os reembolsos anuais do capital.
● As despesas anuais de reembolso, que são custos dos respectivos exercícios, fiscalmente aceites.
● Os pagamentos anuais não corrigidos dos efeitos da fiscalidade.
● Os custos anuais resultantes dos juros e das despesas de emissão corrigidos dos efeitos fiscais
(custos corrigidos).
● Os benefícios resultantes da aceitação fiscal das amortizações anuais das despesas iniciais de
emissão e do prémio de reembolso.
● Os pagamentos anuais efectivos, i.e., corrigidos dos efeitos fiscais.

Os empréstimos obrigacionistas podem apresentar duas relevantes vantagens para a empresa:


● Prazos de reembolso relativamente elevados.
● Custos potencialmente reduzidos, pois as taxas de juro dos empréstimos por obrigações são
geralmente mais baixas do que aquelas que vigoram no mercado bancário para operações de prazo
idêntico. Observe-se que as vantagens para os credores-obrigacionistas podem ser acrescidas
através de isenções fiscais especiais.

Gestão Financeira 66
A Elaboração dos Documentos Financeiros
Previsionais

As Contas de Exploração e Resultados

Elaboradas as contas de exploração dos projectos de investimentos «aprovados» e das actividades


tradicionais da empresa, importa proceder à sua integração, i.e., à elaboração das contas de exploração e
resultados globais (consolidadas).
Recomenda-se que as contas de exploração e resultados sejam elaboradas em duas fases distintas:
● numa primeira fase deverá proceder-se à determinação dos resultados antes de custos financeiros
de financiamento e impostos sobre o rendimento (RAJI)
● numa segunda fase e após a elaboração do plano financeiro, efectuar-se a sua conclusão.
Na verdade, o cálculo dos custos financeiros de financiamento e a consequente determinação do imposto
sobre o rendimento exigem o prévio conhecimento das necessidades financeiras líquidas anuais (ou
excedentes financeiros anuais), o que é, justamente, facultado pelo plano financeiro.
Os meios libertos brutos totais (exploração e extra-exploração) constituem portanto o elo de ligação entre
as contas de exploração e o plano financeiro. Observe-se que a articulação entre estes dois documentos
também pode ser feita através dos meios libertos líquidos, o que pressupõe a prévia determinação dos
custos financeiros de financiamento e dos impostos anuais sobre o rendimento.

O Plano Financeiro

O plano financeiro consigna todas as decisões financeiras que se espera vir a desencadear no futuro, ou
seja, é o documento que materializa todas as políticas financeiras da empresa, especialmente as opções
futuras sobre a detenção de activos (monetários, circulantes, fixos ou financeiros) e as fontes de
financiamento a mobilizar.

O modelo de plano financeiro em que os meios libertos brutos totais figuram como recursos financeiros
anuais23 merece as seguintes observações:
● Os investimentos em capital fixo resultam do orçamento dos investimentos, devendo-se, portanto,
atender às datas previsíveis para os pagamentos e não às datas de realização dos investimentos
(óptica económica).
● Os investimentos em fundo de maneio necessário total excluem a reserva de segurança de
tesouraria, pois as disponibilidades anuais são determinadas por diferença entre os recursos
financeiros e as necessidades financeiras anuais. O plano financeiro apenas reflecte os
investimentos anuais em crédito concedido e em existências líquidas das variações anuais dos
débitos normais de funcionamento.
● Os custos financeiros de financiamento e os reembolsos anuais dos empréstimos bancários a médio

23 Exemplo com dados constante da página 399 do manual.

Gestão Financeira 67
prazo resultam dos próprios contratos de empréstimo e da sua estruturação.
● Contraiu-se um empréstimo bancário a curto prazo no termo do ano x+2.
● Considerou-se que o pagamento do imposto sobre o rendimento ocorre no próprio ano.
● A remuneração dos sócios contempla os dividendos distribuídos no ano anterior, o que constitui
um fluxo financeiro negativo apenas no exercício económico em que são efectivamente
desembolsados.
● A forma de realização (não a subscrição) do capital social e a forma de contracção do empréstimo
bancário resultam dos pressupostos do exemplo prático em apreço.

Os Balanços Previsionais

Os balanços previsionais (clássicos ou esquemáticos) permitir-nos-ão analisar a evolução da situação


financeira da empresa e, muito especialmente, do risco financeiro estrutural.
Pode acontecer que um impacte negativo das políticas financeiras sobre a estrutura financeira da empresa
aconselhe à sua redefinição, até se encontrarem soluções que salvaguardem, de uma forma equilibrada,
todos os principais factores estudados.

FIM

Gestão Financeira 68

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