Você está na página 1de 7

PASSO A PASSO PARA CONSTITUIR UMA HOLDING FAMILIAR

- Holding Familiar é um SISTEMA DE PLANEJAMENTO PATRIMONIAL DA FAMÍLIA


que para ser criado deve obedecer aos seguintes passos iniciais:

• Constituição da Célula Cofre (Contrato social);

• Capital Social inicial de R$ 1.000,00;

• Ter como objeto social a participação societária (Holding);

• CNAE: o que vai determinar é o objeto. Pode atribuir ou não o CNAE 6462-0/00;

• Pulo do gato: sociedade com prazo determinado.

Nota explicativa: Em se tratando de um casal que não esteja sob o regime da


comunhão universal de bens, num primeiro momento, os dois seriam sócios na
constituição da Holding. Posteriormente, ocorre a primeira alteração contratual
que diz respeito à integralização dos bens na Holding, e a segunda alteração
acontece quando o casal resolve transferir para os filhos a titularidade das cotas, e
permanecer como usufrutuários destas.

Migração do patrimônio da pessoa física para a Holding Familiar

1. Constituir uma pessoa jurídica (célula cofre):

- Contrato social simples;

- Capital social inicial de R$ 1.000,00;

- O objeto é participação societária (Holding);

2. Alteração contratual:

- Trazer os bens para a célula cofre;

- Forma de fazer:

a) Aumento de capital (integralização de capital com os bens) será feito um


novo contrato alterando o antigo contrato social, por exemplo, um apartamento
que vale um milhão será integralizado. Ou seja, como a empresa tinha mil reais, a
partir de agora a sociedade vai ter o capital social de um milhão e um mil reais;

b) Por qual valor: Não é pelo valor de mercado, é pelo valor que está na
declaração de imposto de renda;
c) Não incide ganho de capital (lucro imobiliário): art. 142 do RIR (D9580/18) - As
pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de
capital, bens e direitos, pelo valor constante da declaração de bens ou pelo valor de
mercado;

d) Por que integralização: por eficiência tributária; não tem ganho de capital; é
ato oneroso (não tem ITCMD); apesar de oneroso não incide o ITBI (imunidade
tributária), vide art. 156, §1º, inciso I, da CF/1988. Exceção: §2º, inciso I do referido
artigo.

- Inerente à exceção acima:

a) art. 37, §1º, do CTN: atividade preponderante (mais de 50% da receita


operacional da PJ), logo, perde a imunidade tributária. Não pode exercer por 3
anos a atividade constante no artigo;

b) solução para não esperar os 3 anos (pulo do gato): criar uma célula
operacional (outra PJ) para alugar os bens, ou seja, a célula cofre entrega a posse
para a célula operacional e esta aluga os bens. Ao analisar o caso concreto, pode
ser que seja melhor operar pela pessoa física – depende da alíquota + honorários
contábeis;

- Locação  direito pessoal  posse  não é propriedade;

- art. 10 da Lei de Locações: “morrendo o locador, a locação transmite-se aos


herdeiros”. Portanto, analisando o sistema jurídico brasileiro, tem-se que o direito
real é defendido pelo espólio, e o direito pessoal é defendido pelos herdeiros;

- Não faça a célula cofre ser sócia da célula operacional;

- Entre a célula cofre e a célula operacional deve ser estabelecida uma relação
onerosa (comutatividade). Observar o art. 41, §1º do Decreto 9.580/2018;

- Cessão de uso onerosa: célula cofre cede onerosamente para a célula operacional.

Planejamento Patrimonial da família com uma Holding Familiar

Sistema:

- O patrimônio é integralizado à pessoa jurídica (célula cofre);

- Doação: as quotas ficam no domínio do progenitor, porém a titularidade será


adiantada aos herdeiros;

- Através das cláusulas específicas os herdeiros não poderão se desfazer dos


imóveis enquanto o progenitor estiver vivo;
- Após a morte, um simples documento particular comunica à junta comercial,
sendo desnecessária a intervenção do poder judiciário ou dos cartorários;

- ITCMD: a base de cálculo na holding é o valor da DIRPF; no inventário a base é o


valor de mercado; as alíquotas serão menores para a pessoa jurídica;

- Doação com reserva de usufruto sobre as cotas, dotadas das seguintes cláusulas:
inalienabilidade, incomunicabilidade (proteção p/ os filhos perante o casamento,
independentemente do regime de bens), impenhorabilidade, e reversão. Todas as
cláusulas devem estar no contrato social para dar publicidade ao ato;

- Célula de barreira, exemplo: o progenitor tem uma empresa e quer que os


herdeiros sejam sócios, a melhor opção será criar outra pessoa jurídica (célula
barreira) para que os herdeiros façam parte do quadro societário através dela, a
fim de evitar que o patrimônio constituído na célula cofre seja atingido pela
desconsideração inversa da personalidade jurídica;

- Na vigência da lei da liberdade econômica é possível blindar a pessoa jurídica.

Cláusulas importantes

- Cláusula de Administração Permanente: a empresa é quem manda nos bens,


colocar os progenitores como administradores permanentes;

- Cláusula de Direitos Políticos: os progenitores continuam mandando nos


dividendos (administração das cotas);

- Cláusula de mandato: possibilidade de outorgar poderes específicos, os


progenitores são os mandatários;

- Cláusula de Call (direito de compra das cotas) e o Direito de arrependimento:


quem tem o direito sobre as cotas pode comprar tudo sem estipular preço vil. O
valor das cotas pode ser o valor de mercado ou o preço estipulado no contrato;

- Cláusula de Golden Share: definindo “quem manda em tudo”;

- O poder do acordo de sócios: “Quem fica com o que”, não precisa de condomínio
como no inventário. “Gestão de negócios”, quem vai gerir tudo.

Risco de o ITCMD aumentar

- Competência: Senado Federal, através de Resolução (CF, art. 155, §1º, IV);

- Atualmente: Resolução 9/1992 (8%) fixa a alíquota máxima. Os Estados devem


respeitar;
- Proposta do CONFAZ para aumentar o ITCMD que muda de 8 para 20%;

- Projeto de Resolução no Senado  Os Senadores representam os Estados


perante a União, para ser aprovado basta a maioria simples, ou seja, dos 81
senadores, 41 precisam estar presentes mais 21 a favor.

Como lidar com pessoas casadas em comunhão universal de bens

- Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros,
desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória. (escolha infeliz do legislador);

- Como resolver:

OBS: Em condições normais acontece o seguinte: um casal que não esteja sob o
regime da comunhão universal de bens, num primeiro momento, os dois seriam
sócios na constituição da Holding. Posteriormente, ocorre a primeira alteração
contratual que diz respeito à integralização dos bens na Holding, e a segunda
alteração acontece quando o casal resolve transferir para os filhos a titularidade
das cotas, e permanecer como usufrutuários destas.

1ª solução: Basta colocar um dos dois (marido ou esposa) como sócio único –
sociedade limitada unipessoal –, e para dar segurança pra quem ficou de fora,
coloca-se no contrato que ambos serão administradores;

2ª solução: condomínio de quotas (art. 1.056, §1º, do CC/2002), um dos dois será o
representante do condomínio.

Filhos menores, filhos fora do casamento e pessoas interditadas

- Filhos menores:

a) Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis
dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da
simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole,
mediante prévia autorização do juiz.

b) Cotas são bens móveis.

- Filhos fora do casamento: deve-se respeitar a legítima, sem choro.


- Pessoas interditadas:

a) Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de
nulidade:

II - dispor dos bens do menor a título gratuito;

Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com


as modificações dos artigos seguintes.

b) Solução pode ser descrita através do acordo entre sócios, por exemplo,
não dispor dos bens através da doação, mas deixando claro o que acontece após o
falecimento (para fugir do inventário).

Impacto da decisão do STF sobre o ITBI na Rep. Geral 796

- Há imunidade sobre o ITBI para integralização de capital social com bens imóveis
(art. 156, §2º, I, da CF/88);

- Política de incentivo fiscal da União: art. 142 do RIR (D9580/18) - As pessoas


físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a título de integralização de capital,
bens e direitos, pelo valor constante da declaração de bens ou pelo valor de
mercado. (facultativo);

- O que decidiu o STF: ‘’A imunidade em relação ao ITBI, prevista no inciso I do § 2º


do art. 156 da Constituição Federal, não alcança o valor dos bens que exceder o
limite do capital social a ser integralizado.";

- Acontece que muitos municípios continuam cobrando o ITBI de forma equivocada


na diferença entre o valor declarado e o valor de mercado;

- Fundamentação Legal (ITBI): art. 38, caput, do CTN – “A base de cálculo do


imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos.” (valor da venda ou valor
da operação);

- Valor venal não é sinônimo de valor de mercado, é o valor da venda;

- Logo, o valor da operação é o valor do capital integralizado, ou seja, está dentro


da hipótese de imunidade tributária;

- Art. 148, do CTN. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em
consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a
autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço,
sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os
esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou
pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação
contraditória, administrativa ou judicial.

- Transferir para dentro da sociedade pelo valor da DIRPF merece fé, pois não há
omissão. No mais, segundo o ERESP 1.517.492, o STJ decidiu que um ente federado
não pode intervir para atrapalhar a política de incentivo fiscal do outro, sob risco de
ofensa ao princípio federativo e à da segurança jurídica;

- O STJ já decidiu que a base de cálculo do ITBI não é sinônimo de valor de


mercado;

- O que fazer: investigar se o município está cobrando ou não. O fato gerador é o


momento do registro;

- Em todo caso: deixar claro ao cliente a possibilidade de haver sobre a diferença;

- Possível alternativa: utilizar o sistema de avaliação por valor justo. Exemplo:

a) 1 instrumento só (na integralização), e dentro dele criar momentos


diferentes. Tempo 1: o imóvel está saindo pelo valor da declaração da DIRPF.
Tempo 2: o imóvel está entrando na sociedade pelo valor da DIRPF. Tempo 3: uma
vez dentro da sociedade, avalie a valor justo e eleve para valor de mercado. Tempo
4: após a avaliação de valor justo, converta-se o resultado desta avaliação para o
patrimônio líquido. Tempo 5: pedir que o resultado seja transformado em mais
cotas. Tempo 6: 100% do valor do imóvel está sendo utilizado para integralizar o
capital social.

b) Pulo do gato: Logo, a descrição acima se torna um recado à União para não
ter ganho de capital + um recado ao Município para não ter ITBI.

Quando a Lei do ITCMD atrapalha a Holding Familiar

Sistema de 2 células:

Exemplo: Lei do ITCMD do Paraná (lei 18.573/2015)

- art. 18. A base de cálculo do imposto será:

II - no caso de ação, quota, participação ou qualquer título representativo do


capital de sociedade, bem como na falta da cotação referida no inciso I deste
artigo, tomada a partir do valor do respectivo patrimônio líquido, considerado na
data da declaração;
§ 1º O valor patrimonial da ação, quota, participação ou título representativo do
capital da sociedade será obtido no balanço patrimonial, assinado por profissional
competente, e na respectiva declaração do imposto de renda da pessoa jurídica
entregue à Receita Federal do Brasil, relativos ao período de apuração mais
próximo da data da transmissão, facultado ao fisco efetuar o levantamento de
bens, de direitos e de obrigações, quando entender pelo arbitramento.

§ 2º Na hipótese em que o capital da sociedade a que se refere o inciso II deste


artigo tenha sido integralizado em prazo inferior a cinco anos, mediante
incorporação de bens imóveis ou de direitos a eles relativos, a base de cálculo do
imposto não será inferior ao valor venal atualizado dos referidos bens imóveis ou
direitos. (problema)

- Solução: formar 2 células;

- Fazer a doação na célula que não tenha imóvel;

- Obs: princípio da literalidade no Direito Tributário;

- Exemplo: Constituiu a célula cofre e colocou nela os imóveis

Você também pode gostar