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Direito Tributário II-

Garantias, Privilégios do
Crédito tributário e
Administração Tributária
Profª. Msc Anna Dolores Sá Malta
Introdução

 As garantias e privilégios estão previstas nos arts. 183 a 193 do CTN.


 O rol do CTN é não taxativo, pois podem ser criadas outras garantias e
privilégios em razão da natureza e das particularidades de cada tributo, desde
que seja por lei.
 O fato de ser atribuída ao crédito uma garantia ou um privilégio não altera a sua
natureza (crédito não deixará de ser tributário.)
 Responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das
rendas de qualquer origem ou natureza do sujeito passivo, seu espólio ou massa
falida, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou
impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus, excetuados os
bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.
Garantias tributárias
• São instrumentos que vão assegurar determinados direitos. É o modo de assegurar o
direito, de dar eficácia ao cumprimento de uma obrigação. Confere segurança e
estabilidade ao crédito tributário, ou regularidade ou comodidade ao recebimento do
tributo. Segundo alguns doutrinadores, somente a Lei Complementar Federal pode
instituir garantias e privilégios do crédito tributário. Outros entendem que, com base
em sua competência complementar, os Estados e Municípios podem legislar sobre a
matéria.
 Ex.: habeas corpus –– garantia para assegurar a liberdade de locomoção.
Art. 183 do CTN: Art. 183. A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao
crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente previstas em lei, em
função da natureza ou das características do tributo a que se refiram.
Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não altera a
natureza deste nem a da obrigação tributária a que corresponda.
 Pode ser lei ordinária ou lei complementar, principalmente a lei ordinária que
especifique o tributo.
Presunção relativa de fraude

 Art. 185, do CTN: “(...) por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.”
Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo,
por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente
inscrito como dívida ativa.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados,
pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita.
ATENÇÃO: Se o contribuinte está em débito com a Fazenda Pública e este débito estiver
regularmente inscrito, não se poderá mais alienar bens ou dissipar o patrimônio. Qualquer ato
de alienação em face da Fazenda, uma vez inscrito o débito, será ineficaz, salvo o que prevê o
parágrafo único.
Indisponibilidade de bens e direitos

 Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à
penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de
seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades
que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às
autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas
atribuições, façam cumprir a ordem judicial.
 § 1º A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á ao valor total exigível, devendo o juiz
determinar o imediato levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que excederem esse limite.
 § 2º Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de que trata o caput deste artigo enviarão
imediatamente ao juízo a relação discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houverem
promovido.
• Súmula n. 560 do STJ: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do CTN,
pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando
infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do
domicílio do executado, ao Denatran ou Detran.
 É o ônus da Fazenda encontrar o seu devedor e fazer com que a execução seja efetiva pelos meios ordinários.
Se isso não for feito, adotar-se-á medidas mais gravosas de invasão não apenas da propriedade, mas da
própria privacidade do contribuinte.
Privilégio

 Deve ser entendido como regalia que a lei concede a determinado crédito de ser
pago com preferência dos outros.

 Os privilégios se relacionam com a posição do crédito tributário em execuções


coletivas de dívidas frente a outros créditos de natureza diversa, a exemplo do
processo falimentar.
Preferência
 Prioridade legal de solvência. É o pagamento prioritário de um crédito em desfavor daqueles que com eles
concorrem. O crédito tributário prevalece sobre os demais créditos, com exceção dos créditos trabalhistas.
Art. 186 do CTN: Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo
de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.
Parágrafo único. Na falência:
I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis
de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem
gravado.
II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos decorrentes da legislação do
trabalho; e
III – a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados.
 A Fazenda Pública tem prioridade de ser solvida, de receber os seus créditos, porque, ao final,
 serão receitas que vão custear o Estado.
 O crédito tributário, via de regra, prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou tempo de
constituição. Exceção: créditos de natureza trabalhista ou decorrentes de acidente do trabalho.
 No caso de falência, haverá a seguinte ordem:
• Créditos extraconcursais;
• Crédito de natureza do trabalho ou de acidente do trabalho;
• Créditos com garantia real;
• Créditos tributários;
• Concurso de preferências.
Concurso de preferência

 Art. 187, parágrafo único, do CTN: O concurso de preferência somente se verifica


entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
• União;
• Estados, DF e territórios, conjuntamente e pro-rata;
• Municípios, conjuntamente e pro-rata.
 Art. 29, parágrafo único, da LEF:
• União e suas autarquias;
• Estados, DF e territórios, e suas autarquias, conjuntamente e pro-rata;
• Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro-rata.
Administração Tributária-
Fiscalização
 ART. 194 A 200, DO CTN
 O contribuinte e o responsável têm que se sujeitar à fiscalização tributária. Cabe à legislação tributária
regular, em caráter geral ou específico, a competência e os poderes das autoridades administrativas em
matéria de fiscalização e de aplicação da legislação tributária (art. 194 do CTN).
 A legislação tributária regula o que está na lei. A lei é que estabelece os parâmetros básicos, assim como o CTN
faz e, a partir daí, a lei (lei ordinária que institua o tributo) poderá estabelecer outras hipóteses, e a legislação
infralegal, outras obrigações a serem cumpridas pelo contribuinte.
 A autoridade fiscal, no que diz respeito ao objeto de fiscalização, tem acesso amplo aos registros do
contribuinte ou responsável.
 O contribuinte terá que manter o registros pelo prazo de 5 (cinco) anos, que é o prazo da Fazenda Pública para
constituir o lançamento ou cobrar, por meio da ação de cobrança, que é a execução fiscal.
• Súmula n. 439 do STF: “Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, desde
que limitado ao ponto objeto de fiscalização.” Isso significa que a autoridade fiscal não deve abusar de seu poder,
sob pena de invadir a privacidade de contribuinte para além do necessário.
• Jurisprudência STF: a apreensão de documentário fiscal é lícita, mas não se pode fazê-la após ingresso ilícito no
domicílio. Só se faz por meio de ordem judicial, nos termos do que dispõe a Constituição Federal. No conceito de
domicílio está inserido o local onde a pessoa a ser fiscalizada exerce as suas atribuições ou explora a sua atividade
econômica sem autorização para tal.
Constrição oblíqua para
pagamentos de tributos

 A Fazenda Pública, no intuito de cobrar o tributo que o contribuinte deve, ao invés de


executá-lo e se valer das vias próprias para tanto, começa a instituir e estabelecer
sanções que, ao final, vão viabilizar um direito fundamental.
• O STF e o STJ assim já se manifestaram: É vedado que haja constrição indireta ou
oblíqua, como a apreensão da mercadoria que está em trânsito, fechamento do
estabelecimento e proibição do exercício normal da atividade comercial. Ex.: não autorizar
abertura de filial.
• Atenção – jurisprudência do STJ e STF: A apreensão de mercadorias é aceita como forma
de sedimentação probatória do ilícito tributário. Comprovação de materialidade e
autoria do delito.
 A retenção da mercadoria até a comprovação da posse legítima daquele que a
transporta também é possível e não configura coação ou constrição indireta. A
intenção não é fazer com que o contribuinte pague o tributo.
 Não configura coação a retenção temporária para fazer fiscalização, principalmente
nos postos que ficam em estradas.
Termo inicial da ação fiscal

• Art. 196 do CTN


 - Fiscalização – prazo certo!
 - A pessoa jurídica que tem de se sujeitar à fiscalização tributária não poderá ficar “com a faca no
pescoço” ad eternum. A fiscalização tem prazo certo. Às vezes ela pode, inclusive, atrapalhar as
atividades da empresa.
 - É possível verificar se o prazo está correto por meio da documentação do início do procedimento.
• Consequências:
- Antecipa o início do prazo decadencial do lançamento tributário;
- Preclui a denúncia espontânea. Se o contribuinte sabe que estava devendo a Fazenda, não poderá mais
exercer a sua confissão, ele terá que arcar com o que a Fazenda lhe cobrar.
 • Súmula n. 555 do STJ: Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal
para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN [do
primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado], nos casos
em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da
autoridade administrativa.
 - Essa situação decorre da denúncia espontânea.
Sigilo Tributário
 Art. 198 do CTN
 A Fazenda Pública tem poderes, mas também tem responsabilidades. O auditor fiscal tem acesso a informações de
natureza privada daquele que está sendo fiscalizado e, por essa razão, possui o dever de sigilo.

RESPONSABILIZAÇÃO

• Administrativa, civil e penal.

• Crime de violação de sigilo funcional - art. 325 do Código Penal:


 Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
revelação:
 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.

NÃO SUBMISSÃO AO SIGILO TRIBUTÁRIO


 • Foge à regra do caput:
 • §§ 1º e 3º do art. 198:
 §1º: I - A requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça; II - As solicitações de autoridade administrativa
no interesse da Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo
com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de infração administrativa.
 § 3º I - representações fiscais para fins penais; II - inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; III - parcelamento ou
moratória
 É dever do servidor público, de ofício, comunicar a quem deve apurar a prática do crime quando tomar
 conhecimento de condutas dispostas no § 3º.
Sigilo Bancário

 LC 105/01: o sigilo das operações das instituições financeiras é inoponível ao fisco. O fisco pode ter
acesso aos dados bancários, identificando patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do
contribuinte.
 STF: não há quebra de sigilo, mas tão somente uma transferência de informações sigilosas no âmbito
da administração pública, sendo essa uma previsão constitucional.
 Há que se rememorar, ainda, o art. 198, do CTN. O fato da autoridade fiscal ter acesso a essas
informações, por si só, não significa que haja uma quebra do sigilo e, consequentemente, uma invasão
de privacidade do indivíduo, porque o fiscal tem o dever de manter o sigilo. Ele tem a
responsabilidade de não divulgar os dados sigilosos aos quais ele tem acesso por meio de sua
fiscalização.
REQUISIÇÃO DE FORÇA POLICIAL NA FISCALIZAÇÃO
 A autoridade fiscal pode solicitar diretamente força policial para poder cumprir suas funções.
 Art. 200, do CTN:
 Estende-se a autoridades estaduais, distritais e municipais.
 Se o indivíduo não dá acesso à autoridade fazendária, esta não poderá invadir por si só, terá que
solicitar ordem judicial para tanto, conforme prevê a CF/88.

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