As garantias e privilégios do crédito tributário são medidas que asseguram ao
Fisco o direito de receber do contribuinte uma prestação pecuniária, afim de angariar recursos para a consecução de políticas públicas e programas sociais, previstos na Constituição Federal ou em leis infraconstitucionais. Os privilégios decorrentes das garantias e preferências enumeradas no CTN decorrem da supremacia do interesse público. Por isso, são meramente exemplificativas, não excluindo outros previstos na legislação específica de cada ente federativo. Pode-se elencar as garantias em um rol que assegura o recebimento do crédito tributário pelo fisco: Nos termos do art. 183, do CTN, as garantias previstas para o crédito tributário não são exaustivas, ou seja, não exclui outras que sejam expressamente previstas em lei. Desta forma, pode o legislador ordinário, prevê outras hipóteses de garantias não previstas no CTN, desde que por meio de lei. Como observa: Art. 183. A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente previstas em lei, em função da natureza ou das características do tributo a que se refiram (...) Em seu parágrafo único dispõe que o fato de o devedor ter garantido a execução fiscal com uma fiança, por exemplo (instituto que é disciplinado pelo direito privado), não altera a natureza do crédito tributário: Art. 183. (...) Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não altera a natureza deste nem a da obrigação tributária a que corresponda.
O Fisco atua numa relação de verticalidade em relação ao contribuinte, ou
seja, goza de prerrogativas e privilégios em detrimento do particular. É neste sentido que o art. 184 do CTN, deixa claro a superioridade do Fisco em relação ao contribuinte. Eis: Art. 184. Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, se espólio ou sua massa falida, inclusive os gravados de ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis. Por força desse dispositivo, responde pelo crédito tributário todos os bens do sujeito passivo, inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade, excetuados tão somente os bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis. O artigo 185 do CTN versa sobre a fraude à execução fiscal: Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.(Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) Como se pode observar do dispositivo, o marco temporal utilizado pela Lei para caracterização da fraude à execução é a inscrição do crédito em dívida ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da ação de execução fiscal. Assim, o regramento aplicável ao fisco com relação aos créditos tributários é mais favorável do que o existente em favor dos credores privados. Com relação a estes últimos, incide o disposto no artigo 792 do CPC, que pressupõe para o reconhecimento da fraude à execução a existência de uma demanda judicial ou de uma constrição judicial. O Código Tributário Nacional disciplina o grau de preferência atribuído ao crédito tributário quando comparado com os créditos provenientes de outras fontes, como de relações trabalhistas ou contratuais. A regra geral que disciplina o tema se encontra inserida no caput do artigo 186 do Código Tributário Nacional, que dispõe no seguinte sentido: Art. 186. O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) Portanto, como regra geral, o crédito tributário prefere a qualquer outro, independentemente da natureza ou do tempo da sua constituição, ressalvados apenas os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. Prevista no parágrafo único do artigo 186 e no artigo 188 do CTN. Na falência o crédito tributário prefere a todos, mas tem várias exceções, quais sejam, não preferem aqueles decorrentes da legislação do trabalho ou acidente do trabalho, aos denominados créditos extraconcursais e importâncias passiveis de restituição, como também não preferem aos créditos com garantia real. As multas tributárias somente preferem aos créditos subordinados. O parágrafo único do artigo 187 estabelece uma ordem de preferência entre os créditos tributários das entidades federativas: Art. 187. (...) Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem: - União; - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata; III - Municípios, conjuntamente e pró rata. Por força desse dispositivo, existindo penhoras de entidades federativas diversas sobre o mesmo bem, deve-se pagar em primeiro lugar os créditos tributários da União, depois os créditos tributários dos Estados, Distrito Federal e Territórios, e por último os créditos tributários dos Municípios. Casos os entes federativos concorrentemente sejam credores do mesmo sujeito passivo deverá ser aplicada a regra de preferência entre eles, prevista no artigo 187 do CTN e no artigo 29 da Lei de Execuções Fiscais, que estabelece que a primeira a ter preferência é a União, seguida dos Estados e Municípios. Já os créditos extraconcursais são os encargos decorrentes de fatos geradores ocorridos no curso do processo de falência (encargos da massa falida) e parte daqueles decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, nos termos dos arts. 67 e 84 da Lei n. 11.101/2005. Esses créditos, de acordo com o artigo 188 do CTN gozam de preferência absoluta, ainda que não vencidos e para contestá-los é preciso garantir a instância o que pode ser feito com depósito do valor ou reserva de bens suficientes à extinção total do crédito e seus acréscimos. O representante da Fazenda Pública sempre deve ser ouvido. Os créditos extraconcursais são pagos prioritariamente sobre todos os créditos concursais. Assim, por exemplo, entre o pagamento do IPTU que incidiu após a falência e os valores provenientes das obrigações trabalhistas geradas antes da quebra, deve-se pagar em primeiro lugar o crédito do IPTU. Em existindo mais de um crédito extraconcursal, deve-se observar a ordem prevista pelo artigo 84 do Código Tributário Nacional, e dentro do inciso V do artigo 84, a ordem prevista pelo artigo 83, no caso de obrigações surgidas após a falência ou recuperação judicial. O inventariante é pessoalmente responsável pelos tributos devidos pelo espólio (tributos gerados após abertura da sucessão), de modo que, deve declarar todas as dívidas do autor da herança e de seu espólio. O crédito tributário tem preferência geral e absoluta nos processos de inventário e arrolamento conforme parágrafo único do artigo 189 do CTN. Da mesma maneira, conforme regra do artigo 190 do CTN o crédito tributário tem preferência nos processos de liquidação judicial/voluntária de pessoas jurídicas, regra essa que vincula os sócios, que somente conseguirão eximir-se de responsabilidades se comprovarem a regular liquidação da pessoa jurídica. Os artigos 189 e 190 se aplicam nos casos de inventário e liquidação, quando o sujeito passivo for solvente, ou seja, consegue adimplir com todas as suas obrigações. Nesse caso, o pagamento do crédito tributário deve ser realizado com prioridade sobre os demais créditos. A exigência de quitações trata-se de uma garantia, exigida pelo CTN em seu artigo 191 a 193. Portanto, exige-se a quitação de todos os tributos: para que seja declarada a extinção das obrigações do falido, para a consumação da formalidade da transmissão de bens do autor da herança a seus sucessores e para a celebração de contrato ou proposta em concorrência pública da União, Estado, Distrito Federal, Municípios e autarquias, podendo neste último caso, a lei autorizar a dispensa da prova da quitação. Também para concessão da recuperação judicial é preciso a prova da quitação dos débitos tributários junto à Fazenda Nacional através da apresentação de certidão negativa. A exigência é especifica quanto aos tributos relativos à atividade mercantil. A exigência é excepcional, não podendo ser ampliada através de lei ordinária, sendo cabível portanto somente nas hipóteses expressamente elencadas no Código Tributário Nacional. O artigo 193, por sua vez, afirma que, salvo quando expressamente autorizado por lei, a celebração de contrato ou a aceitação de proposta em concorrência pública só podem ser realizadas mediante comprovação do interessado de que realizou a quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada, no que tange à atividade em cujo exercício contrata ou concorre. Assim, o artigo 193 impõe apenas a comprovação da quitação dos tributos com relação à Fazenda Pública interessada, e desde que relativos à atividade a que pretende ser contratado.