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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE DIREITO
EXECUÇÃO TRABALHISTA

PROF. MARCELO FREIRE SAMPAIO COSTA.

AULA: EXECUÇÃO TRABALHISTA: LEGITIMAÇÃO, GRUPO


ECONÔMICO E DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
OBJETIVOS DA AULA:

- LEGITIMAÇÃO NA EXECUÇÃO

- GRUPO ECONÔMICO;
DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA
JURÍDICA

- INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA
1. LEGITIMIDADE NA EXECUÇÃO

- legitimação na fase de conhecimento tem relação


com titularidade do direito material

- legitimação na execução tem relação com o título


executivo

- possibilidade de responsabilização de terceiros fora


do título judicial (art. 790 CPC)

- dissociação entre devedor e responsável pela dívida

- responsável pelo cumprimento da obrigação


Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
II – do sócio, nos termos da lei; III – do devedor,
ainda que em poder de terceiros; IV – do cônjuge ou
companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou
de sua meação respondem pela dívida; V – alienados
ou gravados com ônus real em fraude à execução; VI –
cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido
anulada em razão do reconhecimento, em ação
autônoma, de fraude contra credores; VII – do
responsável, nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica.
i. legitimidade ativa e passiva originária:

-credor e devedor constante originariamente no título


(art. 778 CPC)

- não se aplica à possibilidade de o terceiro responder


pelas dívidas; responsabilidade patrimonial (art. 789 a
796 CPC)

- questão da aplicação ou não art. 513, §5º do CPC


(cumprimento da obrigação não poderá ser promovido
em face do fiador, coobrigado ou do responsável que
não tiver participado da fase de conhecimento) voltará
a ser discutida posteriormente
ii. legitimidade ativa ordinária superveniente:

-mudança na formação do título em razão de


autorização do direito material (art. 778,§1º)

1. do espólio do devedor: sucessão causa mortis; regra


simples da Lei 6858.80 (dependentes inscritos na
previdência social e, na ausência, sucessores da
legislação civil); 2. cessão de crédito: disponibilização
negocial do crédito; instituto da lei civil material;
processo civil autoriza (art. 778, §1º, III);
jurisprudência trabalhista vem admitindo, salvo
hipótese de fraude (AGAIRR 172-43.2013)

3. legitimação exec. coletiva (art. 778,§1º, I)


iii. legitimidade passiva ordinária originária:
responsabilização patrimonial do devedor plasmada
no título executivo (art. 779, I)

iv.legitimidade passiva ordinária superveniente:


devedor não consta no título executivo, porém poderá
ser carimbado como devedor em razão de uma relação
de direito material com o executado

1. do espólio, herdeiros e sucessores: (art. 779, II: A


execução pode ser promovida contra o espólio,
herdeiros e sucessores do devedor...); ex. sucessão
causa mortis havida após a formação do título
executivo
2. legitimidade superveniente ordinária do novo
devedor: modificação superveniente título (art. 779,III.
novo devedor que assumiu, com consentimento do
credor, a obrigação do título); credor deve aquiescer
com o ajuste

v. legitimidade superveniente decorrente de


responsabilização de novo devedor: novo devedor
incluído posteriormente como responsável pela dívida;
não possuía relação de direito material com a dívida;

- art. 790. São sujeitos à execução os bens: II . do


sócio; III. do devedor, em poder de terceiros; IV. bens
de meação de cônjuge; V. fraude à execução; VII.
desconsideração da responsabilidade jurídica...
- v.1 grupo econômico: execução será redirecionada a
outra empresa do grupo

- grupo econômico vertical ou por subordinação: art.


2º, §2º, CLT; relação de hierarquia entre as empresas
do grupo; sociedade-mãe no comando das empresas

- grupo econômico horizontal ou por coordenação; art.


2º, § 3º, CLT; atuação integrada das empresas;
comunhão de interesses e atuação conjunta

-TST não admitia a integração de empresa de grupo


posteriormente à formação do título; Súmula 205
cancelada em 2003.
- v.1.
v grupo econômico. cont:
- não se confunde com desconsideração da
personalidade jurídica (sócio)

- decisão do STF (ARE 1.160.361) determinando que o


TST volte a julgar determinada questão observando o
art. 513, §5º do CPC; críticas ao cancelamento da
Súmula 205 TST; decisão sem efeito vinculante

- decisão do TST posterior (2021), afastando


configuração de grupo econômico, em razão do
precedente do STF (RR 1001625-96.2018, Ives
Gandra)

- apreciação suspensa pelo STF; RE 1387795


RR. FASE DE EXECUÇÃO. RECONHECIMENTO
DE GRUPO ECONÔMICO. ALEGAÇÃO DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.
INCLUSÃO, NA FASE DE EXECUÇÃO, DE
EMPRESA INTERGRANTE DE GRUPO
ECONÔMICO SEM QUE TENHA PARTICIPADO
DA FASE DE CONHECIMENTO –
CANCELAMENTO DA SÚMULA 205 DO TST –
PRECEDENTE DO ARE 116361/SP DO STF. 4. Ora,
de acordo com o art. 513, § 5º, do CPC.... Ademais, o
STF, no ARE 1160361/SP cassou decisão proferida por
Turma do TST que admitia a possibilidade da inclusão
de empresa pertencente a grupo econômico, mesmo
que não tivesse participado da fase de conhecimento.
(RR 1001625-96.2018, Ives Gandra, 2021)
v.2 desconsideração da personalidade jurídica de
sócios e administradores:

- pessoa jurídica não se confunde com a figura dos


sócios (art. 49-A, C.C);

-regra geral; em determinadas situações é possível a


desconsideração da personalidade jurídica, visando
garantir solvabilidade da dívida

-TEORIA MAIOR – desconsideração dependerá de


desvio de finalidade e confusão patrimonial (civilista);
TEORIA MENOR – é suficiente que existam
obstáculos para o cumprimento da obrigação
(consumidor)
- desconsideração prevista art. 28 CDC (garantir
quitação dívida - menor) e art. 50 do Código Civil
(confusão patrimonial - maior)

- legislação laboral não possuía dispositivo sobre o


assunto até a Reforma de 2017 (art. 10-A) – único
dispositivo que trata de direito material e hipótese
específica

- poderá ser discutida pelo devedor por intermédio de


embargos de terceiro

- desconsideração é medida extraordinária em caso de


insolvência da pessoa jurídica; primeiro deve-se
buscar responsabilidade do sócio atual, depois do
retirante - se houver (art. 10-A, CLT)
REGRA ESPECÍFICA DE DIREITO MATERIAL:

Art. 10-A. O sócio retirante responde


subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas
da sociedade relativas ao período em que
figurou como sócio, somente em ações
ajuizadas até dois anos depois de averbada a
modificação do contrato, observada a seguinte
ordem de preferência: I - a empresa devedora; II -
os sócios atuais; e III - os sócios retirantes. P. ú.
O sócio retirante responderá solidariamente com
os demais quando ficar comprovada fraude na
alteração societária decorrente da modificação
do contrato

-
2. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA

- distinção entre pessoa física e a jurídica

- previsão da técnica processual do incidente no CPC


(art. 133-137) e CLT (art. 855-A)

- admite-se clássicas teorias maior e menor do direito


empresarial (Fábio Ulhoa Coelho);

- teoria maior - responsabilização do sócio somente em


caso de desvio de finalidade ou confusão patrimonial
da sociedade e sócios; teoria menor – obstáculos ao
cumprimento da dívida (art. 28, §5º CDC)
- insolvência da pessoa jurídica é suficiente para se
admitir a desconsideração (CDC)

- processo do trabalho segue a linha da


desconsideração mais ampla; basta a inexistência de
bens da sociedade (art. 855-A CLT); responsabilidade
subsidiária

- desconsideração inversa construção da doutrina; art.


133, §2º CPC; patrimônio da sociedade responde por
dívidas do sócio

- desconsideração inversa é o efeito contrário


(excepcional); se o patrimônio dos sócios pode
responder por dívidas da sociedade o caminho inverso
também será possível
-IDPJ suspende processo principal (art. 134, S3o CPC)
e art. 855-A, §2 CLT;

- art. 855-A CLT faz remissão expressa ao CPC

- IDPJ instaura um contraditório (art. 135 CPC);


pessoa jurídica ou sócio tem prazo de 15 d. para
contraposição; possibilidade de instrução probatória;
resolvido por decisão interlocutória; IDPJ acolhido –
eventual venda de patrimônio será considerada fraude
à execução (art. 137), marco temporal é a citação do
sócio

- TST vem admitindo instauração de ofício (IN


39/2016, art. 6º), porém medidas constritivas não
podem ser determinadas de ofício
MS. RO EM AI. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO
INICIAL. ATO COATOR QUE DETERMINA A
INSTAURAÇÃO DE IDPJ INVERSO DE OFÍCIO.
DISTINÇÃO ENTRE A DECISÃO QUE INSTAURA E A
DECISÃO QUE O DECIDE PARA FINS DE
RECORRIBILIDADE IMEDIATA. INSTAURAÇÃO DO
IDPJ COM ADOÇÃO SIMULTÂNEA DE MEDIDAS
CONSTRITIVAS. CABIMENTO DO MANDADO DE
SEGURANÇA QUANDO O ATO COATOR CONSISTIR
EM DECISÃO QUE INSTAURA O IDPJ E PROMOVE
CONSTRIÇÃO PATRIMONIAL ANTES DE
OPORTUNIZAR O EXERCÍCIO AO CONTRADITÓRIO
E À AMPLA DEFESA DE QUEM NÃO É PARTE E NÃO
INTEGRA O POLO PASSIVO DA LIDE. NECESSIDADE
DE EXAME DA FUNDAMENTAÇÃO DO ATO COATOR
PARA VERIFICAR SE EFETIVAMENTE A RAZÃO DA
CONSTRIÇÃO CAUTELAR ESTEVE PAUTADA NO
PODER GERAL DE CAUTELA.
I. Trata-se de mandado de segurança impetrado
contra decisão prolatada pelo Juízo da 1.ª Vara do
Trabalho de Taguatinga, que determinou a
instauração do incidente de desconsideração inversa
de personalidade jurídica na Reclamação Trabalhista
n.º 0000955-30.2014.5.10.0101, e, em sede de tutela
provisória cautelar, determinou a inclusão da parte
impetrante no polo passivo da execução e o bloqueio,
via BACEN-Jud, da quantia de R$24.000,00 (vinte e
quatro mil reais), correspondente ao quantum debeatur
... III. Sem embargo, apresentei voto divergente, tendo
sido acompanhado pela maioria desta Colenda SDI II.
Desse modo, foi fixada a seguinte tese no vertente MS:
1) Quando o ato coator consistir em decisão de juiz de 1o
grau que instaura o IDPJ e, incontinenti, promove atos de
constrição patrimonial, atingindo a esfera jurídica da parte
impetrante, cabe MS, tendo em vista a distinção entre a
decisão que instaura e a que decide o IDPJ, de modo que,
apenas da decisão que efetivamente julga o IDPJ, cabe AP,
que prescinde da garantia do juízo. 2) Havendo bloqueio
cautelar antes de adotado na integralidade o rito pertinente
ao IDPJ legalmente previsto, é imperiosa a admissão do
MS, para que se verifique o conteúdo do ator coator, se está
pautado, efetivamente, no poder geral de cautela do
magistrado e, ainda, se se encontra substancialmente
fundamentado em razões como: fraude, ocultação
patrimonial, insolvência notória da parte cuja legitimidade
está sendo discutida no IDPJ. ROT 305-82.2020.5.10.0000
, 04.03.2022
AI. RR. PROCESSO EM FASE DE EXECUÇÃO.
RESPONSABILIDADE. CITAÇÃO APENAS NA
FASE DE EXECUÇÃO ... De fato, a inclusão dos
sócios no polo passivo da demanda é entendimento
pacificado no processo trabalhista, em que prevalecem
os princípios da simplicidade, da efetividade e da
celeridade. A desconsideração da personalidade
jurídica pode ser feita de ofício pelo Juiz (CLT, arts.
765 e 878) nos próprios autos do processo principal,
sem que com isso haja qualquer mácula ao devido
processo legal, contraditório e ampla defesa, que
poderão ser exercidos com as medidas processuais ali
disponíveis (embargos à execução, embargos de
terceiro, agravo de petição, etc.).AIRR 172100-87.2005
,DJ18.10.2013

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