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AO JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE

________

AMANDA CHAGAS DE MELO, brasileira, casada,


inscrita no CPF sob nº 719.613.174-60 e RG 10.343.616
SDS PE, residente e domiciliada na Rua Tabira, 100, Boa
Vista, Recife-PE, CEP 50060-330, vem à presença de
Vossa Excelência, por meio do seu Advogado, infra
assinado, ajuizar

Ação declaratória de inexistência de débito


c/c pedido liminar

em face de CELPE – NEOENERGIA – Companhia


Energética de Pernambuco, inscrita no CNPJ sob o nº
10.835.932/0001-08, com sede na Rua João de Barros, nº
111, Boa Vista, Recife/PE, CEP: 50050-902, pelos motivos
e fatos que passa a expor.

DOS FATOS

O Autor mudou-se em 16 de novembro de 2021, solicitando no mesmo


dia a troca de titularidade e o ligamento da energia elétrica. Ocorre que teve em ambos
de seus pedidos negado em decorrência de pendências no pagamento.
Ao verificar os valores cobrados, constatou que tratam-se de valores
relativos aos meses anteriores a sua chegada na casa, ou seja, relativos ao inquilino
anterior do mesma residência.

Excelência, A contratação, em nome próprio, do serviço de


fornecimento de energia elétrica opera efeitos somente entre o consumidor e a
prestadora, tratando-se de obrigação pessoal, e não proter rem. Jurisprudência
consolidada do col. Superior Tribunal de Justiça.

Ao questionar a concessionária sobre referido valor teve a seguinte


resposta:

Resposta: O serviço foi negado pois a residência possuí débitos com a


distribuidora.

Excelência, a resposta ainda foi pior, pois a Requerente teve tal pedido
negado pela atendente pessoalmente, explico melhor, a Requerente foi até um posto da
Ré e aguardou uma fila enorme para ser atendida e pasmem, a Requerente está com um
bebê de menos de dois anos de idade, e mesmo assim não teve prioridade no
atendimento e quando foi atendida por um dos funcionários da Ré a mesma teve os seus
dois pedidos (troca de titularidade e ligação da energia) negados, a Requerente solicitou
um protocolo e mesmo assim foi-lhe negado também tal solicitação.

Resumidamente, Excelência, Aconteceu que a Requerente


compareceu a sede da Ré e a mesma negou a troca de titulaidade e a declaração
de inexistencia de débitos em nome do requerente, informou, ainda, que não
iria protocolar nenhum recurso e que o mesmo fosse procurar a justiça.

Não sendo o consumidor indicado pela concessionária


responsável pelo débito anterior, visto que comprovadamente não ocupava o
imóvel à época do apurado faturamento, é de rigor a declaração de inexistência
da obrigação em relação a este.

Aplica-se às concessionárias de serviço público a teoria da


responsabilidade objetiva pelos danos causados a terceiros.

O impedimento de se realizar a troca de titularidade e a acusação de tal


débito que não é de sua responsabilidade sendo coagido a pagar de todo jeito,
caso contrário não terá o fornecimento da energia estabelecido, apenas tais fatos
caracterizam, após a mudança de titularidade da locação do imóvel, sem
existência de débito do novo inquilino junto à concessionária, reparação pelos
danos morais sofridos pelo consumidor.

Motivos pelos quais, fundamentam o presente pedido.

DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define,


de forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado
das condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do
referido Código.
No presente caso, tem-se de forma nítida a relação consumerista
caracterizada, conforme redação do Código de defesa do Consumidor:

Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou


jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das


responsabilidades inerentes à sua atividade, dentre as quais prestar a devida
assistência técnica, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus
consumidores.

DA COBRANÇA ABUSIVA

Conforme relatado, o não fornecimento de energia elétrica se dá


por cobrança relativa a períodos anteriores à vigência do aluguel do Autor.

Dessa forma, tratam-se de cobrança totalmente indevida,


conforme precedentes sobre o tema:

CONTRATO - Prestação de serviços - Energia elétrica -


Corte no fornecimento de energia ao imóvel da autora por
débito pretérito contraído pelo anterior inquilino -
Ilicitude - Obrigação que ostenta natureza pessoal e não
"propter rem" - Responsabilidade da concessionária de
energia elétrica - Danos morais "in re ipsa" - Fixação do
"quantum" indenizatório em R$ 5.000,00 que atende aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade para o
caso concreto, devendo ser mantida - Recursos não
providos. (TJSP; Apelação 1031875-85.2017.8.26.0224;
Relator (a): Roque Antonio Mesquita de Oliveira; Órgão
Julgador: 18ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento:
14/08/2018; Data de Registro: 21/08/2018).

Dessa forma, constata-se que o débito deve ser imputado ao


consumidor que efetivamente utilizou a energia elétrica. Por conseguinte, não
sendo o autor, de nenhuma forma, responsável pelo imóvel no período a que se
refere o débito faturado pela concessionária, já que ainda não ocupava o local ao
tempo, sendo assim é de rigor a declaração de inexistência da obrigação em face
da concessionária, porquanto não se lhe pode imputar débito de terceiro.

Na verdade, a questão central que se presta a solver a lide se encerra na


consideração de que a prestação dos serviços da concessionária tem uma
natureza de relação jurídica pessoal e não real.

Neste sentido, é a jurisprudência consolidada do col.


Superior Tribunal de Justiça:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
FORNECIMENTO DE ENERGIA. ART. 535 DO CPC.
AUSÊNCIA DE VÍCIO. FRAUDE NO MEDIDOR. AÇÃO
DE COBRANÇA AJUIZADA PELA CONCESSIONÁRIA.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. OBRIGAÇÃO PESSOAL.
PRECEDENTES. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO
PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO
PROVIDO. 1. (...) 2. O entendimento firmado por
este Superior Tribunal é no sentido de que o
débito, tanto de energia elétrica como de água, é
de natureza pessoal, não se caracterizando como
obrigação de natureza propter rem. 3. (...) 4. Agravo
regimental não provido. (AgRg no AREsp 79.746/MG, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 10/06/2014, DJe 25/06/2014,
ementa parcial). Grifo nosso

ADMINISTRATIVO. SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE


ÁGUA. ARREMATAÇÃO. DÉBITO ANTERIOR.
OBRIGAÇÃO DE NATUREZA PESSOAL. SÚMULA
83/STJ. 1. A jurisprudência desta Corte pacificou a
questão no sentido de que "o débito tanto de água como de
energia elétrica é de natureza pessoal, não se vinculando
ao imóvel. A obrigação não é propter rem" (REsp 890.572,
Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 13/4/2010). 2. Agravo
regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp
466.048/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 02/04/2014)

Por tais razões requer que a ré se abstenha de suspender o


fornecimento de energia elétrica e continue, dessa forma, havendo o
fornecimento de luz e, posteriormente, sejam anuladas as cobranças
indevidamente realizadas e devidamente indenizados os prejuízos causados.

DA COBRANÇA VEXATÓRIA

Conforme demonstrado pelas faturas anteriores que junta ao


presente processo, a empresa ré ao realizar cobranças abusivas, deixou de
cumprir com sua obrigação primária de zelo e cuidado no manejo de suas
cobranças, expondo o Autor a um constrangimento ilegítimo, gerando o dever
de indenizar, conforme preconiza o Código de Direito do Consumidor:

Sabemos que o corte no fornecimento de energia elétrica é prática


abusiva que está proibida pelo CDC em seu artigo 42:

Art. 42. na cobrança de débitos o consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem
será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Ementa: Apelação. CEEE. Ação cautelar e


declaratória. Suspensão do fornecimento de
energia pelo inadimplemento de tarifa de energia
elétrica. Ilegalidade. Sentença de procedência.
Constitui procedimento ilegal a ameaça de
suspensão de fornecimento de energia ou corte,
em razão de débito do consumidor. Inteligência
do art-22, par-único, e art- 42, do CDC. Apelação
improvida. (10fls.) (Apelação cível nº 599109832,
primeira câmara cível, Tribunal de Justiça do RS,
relator: des. Fabianne Breton Baisch, julgado em
18/12/00)

Ementa: agravo de instrumento. Corte no


fornecimento de energia elétrica por empresa
sucessora da CEEE. Mostra-se indevido e injusto o
procedimento da fornecedora de energia elétrica
em cortar o fornecimento na empresa agravante,
por se tratar de serviço essencial, só se
justificando como mera forca coercitiva, com a
qual o judiciário não pode compactuar, de vez que
detém a credora de meios legais para haver o seu
credito. Agravo provido.(5fls) (agravo de
instrumento nº 70000966077, segunda câmara
cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: des.
Teresinha de Oliveira Silva, julgado em 04/10/00)

Encontra o consumidor proteção contra a prática de atos abusivos,


no art. 6º, inc. IV,

do CDC:
Art. 6º. são direitos básicos do consumidor:...

...

IV – a proteção contra a publicidade enganosa e


abusiva, métodos comerciais coercitivos ou
desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços.

Novamente Luis Carlos Rizatto Nunes: “A norma do


inciso IV proíbe incondicionalmente as práticas e as cláusulas
abusivas.

...

Pode-se definir o abuso do direito como o resultado do


excesso de exercício de um direito, capaz de causar dano a outrem.

Ou, em outras palavras, o abuso do direito se caracteriza


pelo uso irregular e desviante do direito em seu exercício, por parte
do titular.”

Está consubstanciada no CDC a inversão do ônus do


prova em favor do consumidor, o que se mostra cabível nesta
demanda.

Diz o art. 6º, inc. VIII, do Código de Defesa do


Consumidor:
...

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos,


inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu
favor, no processo civil, quando, a critério do juiz,
for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiência.

Para que fique devidamente esclarecida a posição de contrariedade


ao Direito em que a requerida se firma, é de bom alvitre a análise dos preceitos
Constitucionais que a ré despreza.

Ressalte-se que com a sua atitude de simplesmente decidir cobrar


e depois “cortar” o fornecimento de energia elétrica, a requerida toma para si,
função que cabe exclusivamente ao Judiciário. Certo está que a requerida tem
direito de punir os maus pagadores, mas isso não lhe dá amplos poderes de se
utilizar tal instituto para qualquer tipo de coação.

Em verdade, não há maus pagadores, mas sim pessoas que foram


lesadas em seu direito de usufruir um benefício que lhes é de direito.

Assim, fere a ré o preceito Constitucional contido no art. 5º, inc.


XXXV, verbis:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguinte:

...

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito;

José Afonso da Silva, comenta o inciso citado: “O


Princípio da proteção judiciária, também chamado princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional, constitui em verdade, a
principal garantia dos direitos subjetivos. Mas ele, por seu turno,
fundamenta-se no princípio da separação de poderes, reconhecido
pela doutrina como garantia das garantias constitucionais. Aí se
junta uma constelação de garantias: as da independência e
imparcialidade do juiz, a do juiz natural ou constitucional, a do
direito de ação e de defesa. Tudo ínsito nas regras do art. 5º, XXXV,
LIV e LV.”

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de


seus bens sem o devido processo legal

LV – aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes.

Quanto ao inciso LV do art. 5º, à requerente não foram dados


meios de defesa.
A requerida decidiu que a autora não teria direito a troca de
titularidade e ainda colocou a responsabilidade de um débito que não é seu para
a autora tal cobrança foi feita sem dar qualquer demonstração de que houve.

Flagrante desrespeito ao inciso.

Com a palavra Celso Ribeiro Bastos: “Por ampla defesa


deve-se entender o asseguramento que é feito ao réu de condições
que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos
tendentes a esclarecer a verdade. É por isso que ela assume
múltiplas direções, ora se traduzindo na inquirição de
testemunhas, ora na designação de um defensor dativo, não
importando, assim, as diversas modalidades, em um primeiro
momento”.

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem
será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

A doutrina ao lecionar sobre o tema estabelece algumas diretrizes


que devem ser observadas pelo fornecedor

a) a relação entre fornecedor e consumidor é pessoal, logo,


não é lícito ao primeiro dar conhecimento da
dívida, ou tratar da questão com terceiras pessoas,
como familiares, colegas de trabalho, amigos ou demais
pessoas das relações do devedor;
b) a exigência do crédito deve se dar de modo
discreto e formal, sem a exposição da situação a
terceiros, nem o constrangimento ou afetação da
credibilidade social do devedor;

c) são expressamente vedadas quaisquer ameaças físicas


ou a adoção de medidas que não estejam previstas na lei
ou no contrato, visando causar prejuízo ao devedor; e

d) não é reconhecido ao credor o direito de


perturbar o consumidor em suas atividades
cotidianas, como seus momentos de descanso ou
de desenvolvimento da atividade laboral, de modo de
causar perturbações tais que o levem a satisfazer a dívida
como modo de fazer cessar o infortúnio. (MIRAGEM,
Bruno Curso de Direito do Consumidor - Editora RT,
2016. versão e-book, 3.2.1. Limites do exercício do direito
de crédito pelo fornecedor)

Portanto, considerando-se tratar de uma atitude ilícita, que viola o


direito do Autor, tem-se o dever de indenizar, conforme clara disposição legal
clara nos Art. 186 e 187 do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

No presente caso, o dano é inequívoco, uma vez que afeta


diretamente a honra e a dignidade da pessoa. Trata-se de dano que independe
de provas, conforme entendimento jurisprudencial:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COBRANÇA
VEXATÓRIA DE DÍVIDA EM LOCAL DE TRABALHO.
OFENSAS VERBAIS. DANO MORAL OCORRENTE.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. MANUTENÇÃO. Os danos
à esfera existencial da pessoa humana,
prejudicando interesses inerentes aos direitos da
personalidade, que extrapolam meros
desconfortos e aborrecimentos, geram o dever de
indenizar, pelo abalo moral. Cobrança vexatória
feita pela funcionária da ré ao autor no local de
trabalho deste. Ofensas verbais proferidas, porquanto a
ré insultou o autor de caloteiro , sem vergonha , além de
afirmar que não tinha vergonha na cara . Dever de
indenizar caracterizado. Manutenção do quantum de R$
2.000,00 fixado a título de dano moral, em observância ao
princípio da proporcionalidade e da razoabilidade, bem
como aos parâmetros jurisprudenciais da Câmara.
Honorários advocatícios mantidos em 10%, nos termos do
art. 85, § 2º, do CPC. APELAÇÃO DESPROVIDA. (TJRS,
Apelação 70079149035, Relator(a): Catarina Rita Krieger
Martins, Décima Câmara Cível, Julgado em: 13/12/2018,
Publicado em: 21/01/2019)

* DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO


C.C. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS -
Ocorrência da coisa julgada formal e material no tocante à
inexigibilidade da dívida - Ocorrência da cobrança
vexatória dos débitos - A cobrança deve ser feita
de forma regular, mas observados os limites da
razoabilidade e ponderação - Os documentos
acostados aos autos demonstram que a instituição
financeira direcionou mensagens e ligações de cobrança
aos familiares e amigos da recorrida - Violação Ao disposto
no artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor - O
quantum indenizatório deve ser mantido, eis que
observados os limites da razoabilidade e ponderação -
Sentença mantida - Pré-questionamento - Recurso
improvido * (TJSP; Apelação Cível 1006957-
98.2017.8.26.0100; Relator (a): Carlos Alberto Lopes ;
Órgão Julgador: 18ª Câmara de Direito Privado; Foro
Central Cível - 44ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/02/2019; Data de Registro: 06/02/2019, #53285080)

E nesse sentido, a indenização por dano moral deve representar


para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido
e de infligir ao causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma
vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos causados.

DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO


Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que
desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do
problema, obrigando o ingresso da presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio que a


Requerente, mãe, que tem que dá uma atenção diferenciada a seu filho, como
alimentação, vestuário e amamenta-lo tudo isso foi impossibilitado devido a
empresa Ré ter deixado a mesma sem energia, como Excelência que a mesma
vai preparar algo no micro ondas sem energia, como a Requerente vai iluminar
o quarto do bebê e ficar de olho nele sem energia, como a Requerente vai ligar o
ventilador para ventilar seu bebê, como a Requerente vai fazer tudo isso e
outros que são essenciais a saúde de seu bebê se não tem energia, agora imagine
um bebê de menos de dois anos chorando porque está com calor, imagine o
estresse causado pela empresa Requerente que podia e devia ter evitado uma
séria de acontecimentos que geraram para Requerente e seu bebê.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de


DANO PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do
consumidor gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam
angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática


sobre o tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do
consumidor, para solucionar problema de vício
do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta forma,
desvia o consumidor de suas atividades para "resolver
um problema criado" exclusivamente por aquele. Essa
circunstância, por si só, configura dano indenizável no
campo do dano moral, na medida em que ofende a
dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé
objetiva e a função social: (...) É de se convir que o
tempo configura bem jurídico valioso,
reconhecido e protegido pelo ordenamento
jurídico, razão pela qual, "a conduta que
irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie de
dano existencial, qual seja, dano temporal" justificando a
indenização. Esse tempo perdido, destarte, quando viole
um "padrão de razoabilidade suficientemente assentado
na sociedade", não pode ser enquadrado noção de mero
aborrecimento ou dissabor." (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora
Forense, 2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a


partir de provocação doutrinária, a concessão de
indenização pelo dano decorrente do sacrifício do
tempo do consumidor em razão de determinado
descumprimento contratual,como ocorre em relação
à necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com o
serviço de atendimento do fornecedor, e outras
providências necessárias à reclamação de vícios no
produto ou na prestação de serviços."(MIRAGEM, Bruno.
Curso de Direito do Consumidor - Editora RT, 2016.
versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil


do consumidor provocada por desídia,
despreparo, desatenção ou má-fé (abuso de
direito) do fornecedor de produtos ou serviços deve
ser entendida como dano temporal (modalidade de dano
moral) e a conduta que o provoca classificada como ato
ilícito. Cumpre reiterar que o ato ilícito deve ser
colmatado pela usurpação do tempo livre,
enquanto violação a direito da personalidade,
pelo afastamento do dever de segurança que deve
permear as relações de consumo, pela
inobservância da boa-fé objetiva e seus deveres anexos,
pelo abuso da função social do contrato (seja na fase pré-
contratual, contratual ou pós-contratual) e, em último
grau, pelo desrespeito ao princípio da dignidade da
pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil
do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual
Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

O STJ, nessa linha de entendimento já reconheceu o direito do


consumidor à indenização pelo desvio produtivo diante do desperdício do
tempo do consumidor para solucionar um problema gerado pelo fornecedor,
afastando a idéia do mero aborrecimento, in verbis:

"Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo


do Consumidor, tendo em vista que a autora foi
privada de tempo relevante para dedicar-se ao
exercício de atividades que melhor lhe
aprouvesse, submetendo-se, em função do
episódio em cotejo, a intermináveis percalços para a
solução de problemas oriundos de má prestação do serviço
bancário. Danos morais indenizáveis configurados. (...)
Com efeito, tem-se como absolutamente injustificável a
conduta da instituição financeira em insistir na cobrança
de encargos fundamentadamente impugnados pela
consumidora, notório, portanto, o dano moral por ela
suportado, cuja demonstração evidencia-se pelo fato de ter
sido submetida, por longo período [por mais de três anos,
desde o início da cobrança e até a prolação da sentença], a
verdadeiro calvário para obter o estorno alvitrado,
cumprindo prestigiar no caso a teoria do Desvio Produtivo
do Consumidor, por meio da qual sustenta Marcos
Dessaune que todo tempo desperdiçado pelo consumidor
para a solução de problemas gerados por maus
fornecedores constitui dano indenizável, ao perfilhar o
entendimento de que a "missão subjacente dos
fornecedores é - ou deveria ser - dar ao consumidor, por
intermédio de produtos e serviços de qualidade, condições
para que ele possa empregar seu tempo e suas
competências nas atividades de sua preferência.
Especialmente no Brasil é notório que incontáveis
profissionais, empre sas e o próprio Estado, em vez de
atender ao cidadão consumidor em observância à sua
missão, acabam fornecendo-lhe cotidianamente produtos
e serviços defeituosos, ou exercendo práticas abusivas no
mercado, contrariando a lei. Para evitar maiores prejuízos,
o consumidor se vê então compelido a desperdiçar o seu
valioso tempo e a desviar as suas custosas competências -
de atividades como o trabalho, o estudo, o descanso, o
lazer - para tentar resolver esses problemas de consumo,
que o fornecedor tem o dever de não causar. Tais situações
corriqueiras, curiosamente, ainda não haviam merecido a
devida atenção do Direito brasileiro. Trata-se de fatos
nocivos que não se enquadram nos conceitos tradicionais
de 'dano material', de 'perda de uma chance' e de 'dano
moral' indenizáveis. Tampouco podem eles (os fatos
nocivos) ser juridicamente banalizados como 'meros
dissabores ou percalços' na vida do consumidor, como vêm
entendendo muitos juristas e tribunais."
[2http://revistavisaoj uridica.uol. com.br/advogados-leis-j
urisprudencia/71/desvio-produto-doconsumidor-tese-do-
advogado-marcos -ddessaune-255346-1. asp] .(...). (AREsp
1.260.458/SP - Ministro Marco Aurélio Bellizze)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do


tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba
sendo destinado na solução de problemas de causas alheias à sua
responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas
verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

O quantum indenizatório deve ser fixado de modo a não só


garantir à parte que o postula a recomposição do dano em face da lesão
experimentada, mas igualmente deve servir de reprimenda àquele que efetuou a
conduta ilícita, como assevera a doutrina:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função


diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se
voltam para a recomposição do patrimônio ofendido, por
meio da aplicação da fórmula "danos emergentes e lucros
cessantes" (CC, art. 402), aqueles procuram oferecer
compensação aolesado, para atenuação do sofrimento
havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva
a reparação impingir-lhe sanção, a fim de que
não volte a praticar atos lesivos à personalidade
de outrem." (BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil
por Danos Morais. 4ª ed. Editora Saraiva, 2015. Versão
Kindle, p. 5423)

Neste sentido é a lição da jurisprudência sobre o tema:

"Importa dizer que o juiz,ao valorar o dano


moral,deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o
seu prudente arbítrio,seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade
e duração do sofrimento experimentado pela
vítima, a capacidade econômica do causador do
dano, as condições sociais do ofendido, e outras
circunstâncias mais que se fizerem presentes"
(Programa de responsabilidade civil. 6. ed., São Paulo:
Malheiros, 2005. p. 116). No mesmo sentido aponta a
lição de Humberto Theodoro Júnior: [...] "os parâmetros
para a estimativa da indenização devem levar em conta
os recursos do ofensor e a situação econômico-social do
ofendido, de modo a não minimizar a sanção a tal ponto
que nada represente para o agente, e não exagerá-la,
para que não se transforme em especulação e
enriquecimento injustificável para a vítima. O bom senso
é a regra máxima a observar por parte dos juízes" (Dano
moral. 6. ed., São Paulo: Editora Juarez de Oliveira,
2009. p. 61). Complementando tal entendimento, Carlos
Alberto Bittar, elucida que "a indenização por danos
morais deve traduzir-se em montante que
represente advertência ao lesante e à sociedade
de que se não se aceita o comportamento
assumido, ou o evento lesivo
advindo.Consubstancia-se, portanto, em importância
compatível com o vulto dos interesses em conflito,
refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do
lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da
ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido.
Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em
razão das potencialidades do patrimônio do
lesante"(Reparação Civil por Danos Morais, RT, 1993, p.
220). Tutela-se, assim, o direito violado. (TJSC, Recurso
Inominado n. 0302581-94.2017.8.24.0091, da Capital -
Eduardo Luz, rel. Des. Cláudio Eduardo Regis de
Figueiredo e Silva, #13285080)

Ou seja, enquanto o papel jurisdicional não fixar condenações que


sirvam igualmente ao desestímulo e inibição de novas práticas lesivas,
situações como estas seguirão se repetindo e tumultuando o judiciário.

Portanto, cabível a indenização por danos morais. E nesse sentido,


a indenização por dano moral deve representar para a vítima uma satisfação
capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador
sanção e alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado
completo descaso aos transtornos causados, por esse fato a Ré deve indenizar a
Requerente em R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de danos morais.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, resta configurada a necessária


inversão do ônus da prova, conforme disposição expressa do Código de Defesa
do Consumidor:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a


facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade


ou grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor,
sendo amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova
implementada pelo Novo Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova
de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o


qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os
limites de sua desigualdade. Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão
do ônus da prova para viabilizar o acesso à justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA DE


REVISÃO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
CONFISSÃO DE DÍVIDA. INVERSÃO DO ÔNUS A
PROVA. POSSIBILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.
PRESENTE O REQUISITO DO ART. 6º, INCISO VIII, DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL. RECURSO
DESPROVIDO. (a) O Código de Defesa do
Consumidor adotou a teoria da distribuição
dinâmica do ônus da prova. Assim, a inversão do ônus
nesse microssistema não se aplica de forma automática a
todas as relações de consumo, mas depende da
demonstração dos requisitos da verossimilhança da
alegação ou da hipossuficiência do 16ª Câmara Cível -
TJPR 2 consumidor, consoante dispõe o art. 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Os elementos
que constam dos autos são suficientes para
demonstrar que a autora encontrará dificuldade
técnica para comprovar suas alegações em juízo,
uma vez que pretendem a revisão de vários
contratos, os quais não estão em seu poder. (b)
Insta salientar que os requisitos da verossimilhança das
alegações e da hipossuficiência não são cumulativos,
portanto, a presença de um deles autoriza a inversão do
ônus da prova. (TJPR - 16ª C.Cível - 0020861-
59.2018.8.16.0000 - Paranaguá - Rel.: Lauro Laertes de
Oliveira - J. 08.08.2018, #73285080)

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma


vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível
concessão do direito à inversão do ônus da prova, que desde já requer.
DA TUTELA DE URGÊNCIA

Nos termos do Art. 300 do CPC/15, "a tutela de urgência será


concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo."

No presente caso tais requisitos são perfeitamente caracterizados,


vejamos:

DA PROBABILIDADE DO DIREITO: Como ficou


perfeitamente demonstrado, o direto do Autor é
caracterizado pela demonstração inequívoca de excesso e
abuso da concessionária de energia elétrica em lhe cobrar
débito que não é de sua responsabilidade.

DO RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO:


Trata-se de serviço indispensável à sobrevivência do
Autor, uma vez que depende de luz elétrica para toda e
qualquer atividade do dia a dia. Ou seja, tal circunstância
confere grave risco de perecimento do resultado útil do
processo.

Trata-se de direito primário que deve ser respeitado, com a


manutenção do fornecimento de energia, conforme precedentes sobre o tema:

AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.


DECISÃO MONOCRÁTICA QUE INDEFERIU A
SUSPENSIVIDADE REQUESTADA. CORTE DE
FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.
CONSUMIDOR INADIMPLENTE PELA
CONCESSIONÁRIA DO SERVIÇO PÚBLICO DE
DISTRIBUIÇÃO DE TAL ESSENCIALIDADE.
IMPOSSIBILIDADE DE CORTE POR DÉBITOS
PRETÉRITOS CONSOLIDADOS PELO TEMPO.
SUSPENSÃO ILEGAL DO FORNECIMENTO. (...) O
Superior Tribunal de Justiça pacificou o
entendimento de que não é lícito à concessionária
interromper o fornecimento do serviço em razão
de débito pretérito; o corte de água ou energia
pressupõe o inadimplemento de dívida atual, relativa ao
mês do consumo, sendo inviável a suspensão do
abastecimento em razão de débitos antigos. 4. Assim,
mostra-se deveras indevido o eventual corte de
energia elétrica de consumidor adimplente, como
no presente caso. Portanto, andou bem o Magistrado
Singular com o referido decisum. 5. Recurso conhecido e
improvido. Decisão Interlocutória mantida. ACÓRDÃO
Acordam os Desembargadores integrantes da Segunda
Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do
recurso para negar-lhe provimento, tudo em conformidade
com o voto da e. Relatora. (TJ-CE - AGV:
06242311020178060000 CE 0624231-10.2017.8.06.0000,
Relator: MARIA DE FÁTIMA DE MELO LOUREIRO, 2ª
Câmara Direito Privado, Data de Publicação: 22/11/2017,
#93285080)

Diante de tais circunstâncias, é inegável a existência de fundado


receio de dano irreparável, sendo imprescindível a Ré se abstenha de
suspender o fornecimento de energia elétrica, ou seja, que não haja
corte de luz, nos termos do Art. 300 do CPC.

DA JUSTIÇA GRATUITA

O Requerente atualmente é do lar, anteriormente tinha um depósito de


água, porém em razão da pandemia, após a política de distanciamento social imposta o
requerente teve o faturamento drasticamente reduzido, o que lhe forçou infelizmente ao
fechamento total da sua atividade, agravando, assim, drasticamente sua situação
econômica. Então com o nascimento do bebê teve que vende tudo que tinha para
garantir o mínimo para seu bebê, como roupas, fraldas, comida, leite, entre outras, além
do mais a requerente tem sob sua responsabilidade a manutenção de sua família, razão
pela qual não poderia arcar com as despesas processuais.

Desta forma, mesmo que seus rendimentos sejam superiores ao que


motiva o deferimento da gratuidade de justiça, neste momento excepcional de redução
da sua remuneração, o consumidor se encontra em completo descontrole de suas contas,
em evidente endividamento.

Para tal benefício o consumidor junta declaração de hipossuficiência, o


qual demonstra a inviabilidade de pagamento das custas judicias sem comprometer sua
subsistência, conforme clara redação do Art. 99 Código de Processo Civil de 2015.

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de
terceiro no processo ou em recurso.

§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples,
nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos


autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o
pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos
referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz jus o
Requerente ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - MANDADO DE


SEGURANÇA - JUSTIÇA GRATUITA - Assistência Judiciária
indeferida - Inexistência de elementos nos autos a indicar que
o impetrante tem condições de suportar o pagamento das
custas e despesas processuais sem comprometer o sustento
próprio e familiar, presumindo-se como verdadeira a
afirmação de hipossuficiência formulada nos autos
principais - Decisão reformada - Recurso provido. (TJSP;
Agravo de Instrumento 2083920-71.2019.8.26.0000; Relator (a):
Maria Laura Tavares; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito
Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 6ª Vara de
Fazenda Pública; Data do Julgamento: 23/05/2019; Data de
Registro: 23/05/2019
Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do
requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas
processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda
mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja
aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos
mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que
comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se
desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e
custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora
JusPodivm, 2016. p. 60)

"Requisitos da Gratuidade da Justiça. Não é necessário que a


parte seja pobre ou necessitada para que possa beneficiar-se
da gratuidade da justiça. Basta que não tenha recursos
suficientes para pagar as custas, as despesas e os honorários do
processo. Mesmo que a pessoa tenha patrimônio suficiente, se
estes bens não têm liquidez para adimplir com essas despesas,
há direito à gratuidade." (MARINONI, Luiz Guilherme.
ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo Código
de Processo Civil comentado. 3ª ed. Revista dos Tribunais,
2017. Vers. ebook. Art. 98)
Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal
e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente.

DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, REQUER:

1. A concessão da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98 do Código de


Processo Civil;

2. O deferimento da medida liminar, para que seja obrigado o


Réu a restabelecer fornecimento de energia elétrica
imediatamente e a fazer a troca de titularidade para o nome da
Requerente;

3. A citação do Réu para responder, querendo;

4. A total procedência da ação para declarar a nulidade da cobrança


realizada e imediata continuidade no fornecimento de luz;

5. Sucessivamente, requer a condenação do Réu à indenização por danos


morais, em valor não inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais);

6. A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a


pericial;

7. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios nos


parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC;

8. Seja acolhida a manifestação do interesse na audiência conciliatória, nos


termos do Art. 319, inc. VII do CPC.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

ANEXOS

1. Prova do faturamento e comprometimento da receita

2. Prova da inscrição no Simples - se for o caso

3. Prova da liquidação - se for o caso

4. Documentos de identidade do Autor

5. Comprovante de residência

6. Procuração

7. Provas da ocorrência - Faturas da conta de luz

8. Provas da tentativa de solução direto com o réu

9. Provas da negativa de solução

Requer, desde já a continuidade do feito.


Nestes termos

Pede e espera

DEFERIMENTO

Recife, 09 de março de 2021.

ITHALA BIANCA MORAIS SUASSUNA GUIMARÃES

OAB – GO 27.518

OAB – PE 10.44-A

JOSÉ FLORENTINO PESSOA FILHO

OAB – PE 43.809

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