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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0035.09.161961-5/003 Númeração 1619615-


Relator: Des.(a) Armando Freire
Relator do Acordão: Des.(a) Armando Freire
Data do Julgamento: 07/11/2017
Data da Publicação: 16/11/2017

EMENTA: <ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. APELAÇÕES


PRINCIPAL E ADESIVA. PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA
CEMIG. REJEIÇÃO. INSTALAÇÃO DE SISTEMA ELÉTRICO. IMÓVEL
RURAL. OBRA E EQUIPAMENTOS CUSTEADOS PELO CONSUMIDOR.
REEMBOLSO. DEVER DA CONCESSIONÁRIA. DANO MORAL. NÃO
CABIMENTO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. IMPOSSIBILIDADE. LITIGÂNCIA
DE MÁ-FÉ NÃO COMPROVADA. PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS
PEDIDOS. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSOS DESPROVIDOS. 1. A
CEMIG ostenta legitimidade para figurar no polo passivo de ação movida por
particular fundada no inadimplemento de obrigação legal e contratual, de
reembolso, firmada entre as partes. 2. Havendo previsão legal expressa
acerca do reembolso do montante despendido pelo autor para a realização
das obras necessárias à implementação do sistema de energia elétrica em
seu imóvel, a manutenção da sentença que condenou a concessionária a
restituir os valores despendidos na empreitada é medida que se impõe,
sobretudo diante de cláusula contratual no sentido de que os materiais e
equipamentos utilizados na construção seriam incorporados ao exclusivo da
CEMIG. 3. Embora demonstrado o inadimplemento contratual da obrigação
de reembolso, tal fato não supera o limite de um contratempo, dissabor ou
aborrecimento experimentado pelo autor, não havendo falar em pagamento
de indenização a título de danos morais. 4. Não sendo o caso de cobrança
indevida, mas sim de inadimplemento de obrigação decorrente de lei e de
acordo, adequada a determinação contida no decisum, no sentido de que os
valores custeados pelo particular devem ser reembolsados de forma simples.
5. Descabe a condenação da CEMIG por litigância de má-fé se não restou
comprovada a ocorrência de nenhuma das hipóteses previstas no art. 17 do
CPC/73.>

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0035.09.161961-5/003 - COMARCA DE ARAGUARI


- APTE(S) ADESIV: RUBENS DE LIMA ESPÓLIO DE, REPDO P/ INVTE
NERVA GERBI MAGRINI DE LIMA - 1º APELANTE: CEMIG DISTRIBUIÇÃO
S/A - APELADO(A)(S): RUBENS DE LIMA ESPÓLIO DE, REPDO P/ INVTE
NERVA GERBI MAGRINI DE LIMA, CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em <NEGAR PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS>.

DES. ARMANDO FREIRE

RELATOR.

DES. ARMANDO FREIRE (RELATOR)

VOTO

<Cuida-se de recursos de apelação, principal e adesivo, aviados contra


sentença de f. 338/341 que, nos autos da ação ordinária, movida pelo
ESPÓLIO DE RUBENS DE LIMA em desfavor da CEMIG DISTRIBUIÇÃO
S/A e da ELETRO EPCEL LTDA., extinguiu o feito, sem resolução do mérito,
em relação à segunda requerida (art. 267, VI, do CPC/73), e julgou
parcialmente procedente o pedido inicial para condenar a concessionária a
ressarcir ao autor o valor de R$ 23.133,05 (vinte e três mil, cento e trinta e
três reais e cinco centavos), corrigido monetariamente desde a data do
efetivo

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pagamento (20/10/2008 - f. 44), de acordo com os índices da CGJ/MG, e


acrescido de juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a partir da citação.

Nas razões de f. 439/445, a CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A argúi a sua


ilegitimidade para figurar no polo passivo da demanda. Afirma que não é
responsável pelo financiamento das obras necessárias à implementação do
programa de universalização do fornecimento de energia elétrica. Esclarece
que o ressarcimento dos valores pagos para realização das obras, além de
carecer de necessária regulamentação pela ANEEL, é devido apenas em se
tratando de pessoas de baixa renda residentes na zona rural, cujo
atendimento é prioritário, além de se vincular ao cumprimento de requisitos
objetivos. Sustenta que o acordo celebrado entre as partes não estabeleceu
prazo para o reembolso do montante despendido pelo particular. Salienta
que não há falar em mora no pagamento. Pontua que a data do ajuizamento
da ação deve constituir o termo inicial para a incidência da correção
monetária. Requer, ao final, o provimento do recurso.

Por sua vez, no apelo adesivo de f. 449/459, o ESPÓLIO DE RUBENS


DE LIMA assevera que a conduta da CEMIG, ao constituir inúmeros
advogados nesta ação e apresentar recurso reiterando as mesmas
afirmações que foram aduzidas na contestação, reveste-se de má-fé.
Sustenta que precisou contratar empréstimos financeiros para custear a
concretização das obras em seu imóvel, e que a falta de reembolso pela
concessionária do valor despendido lhe acarretou prejuízo material e moral,
os quais foram agravados em decorrência da sua idade e de problemas de
saúde. Pugna pela condenação da primeira ré ao pagamento de indenização
a título de danos morais. Assinala que a restituição em forma simples não
representa uma penalidade à primeira requerida. Pleiteia, por fim, o
provimento do apelo.

Contrarrazões apresentadas às f. 481/491 e f. 555/561, pelo autor e pela


CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A, respectivamente.

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Este, o relatório.

Conheço dos recursos interpostos, eis que atendidos os pressupostos de


admissibilidade.

APELAÇÃO PRINCIPAL

1. Preliminar

Sustenta a CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A a sua ilegitimidade para figurar


no polo passivo.

Com a devida vênia, melhor sorte não lhe socorre.

Isso porque, pelo que se extrai da petição inicial, a pretensão do


demandante encontra amparo em acordo e em acerto contábil/financeiro
realizado diretamente com a CEMIG, cujo objeto alude à extensão de rede
de energia e instalação de subestação no imóvel rural de titularidade do
particular.

Desse modo, considerando que a primeira recorrente, concessionária de


energia elétrica, celebrou os mencionados instrumentos, patente o
reconhecimento de que ela ostenta legitimidade para figurar no polo passivo
da presente ação.

Com esses breves fundamentos, REJEITO a prefacial aventada.

2. Mérito

RUBENS LIMA, posteriormente representado pelo seu espólio, ajuizou a


presente ação ordinária em face da CEMIG DISTRIBUIÇÃO visando ao
recebimento da importância de R$ 23.133,05 (vinte três mil, cento e trinta
três reais e cinco centavos), relativa ao custo da

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obra que foi realizada em seu imóvel para fins de implantação do


fornecimento de energia elétrica, com lastro no Programa Federal de
Universalização de Energia Elétrica, bem como à condenação da requerida
ao pagamento de indenização pelos danos morais que alega ter sofrido, em
virtude da falta de reembolso da quantia despendida.

O d. Juízo, como relatado, julgou parcialmente procedente o pleito


inaugural para condenar a concessionária a ressarcir ao autor o valor de R$
23.133,05 (vinte e três mil, cento e trinta e três reais e cinco centavos),
corrigido monetariamente desde a data do efetivo pagamento (20/10/2008 - f.
44), de acordo com os índices da CGJ/MG, e acrescido de juros de mora de
1% (um por cento) ao mês, a partir da citação. Condenou a ré, ainda, ao
pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios arbitrados
em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação.

Do exame dos autos, verifica-se que a sentença não merece reparos.


Vejamos.

Inicialmente, a Lei n.º 10.438/02 - que dispõe sobre a expansão da oferta


de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária extraordinária, cria o
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a
Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), dispõe sobre a universalização
do serviço público de energia elétrica -, com objetivo de que as respectivas
concessionárias promovessem a universalização do serviço público de
energia elétrica, assim determinou, em seu art. 13:

Art. 13 - Fica criada a Conta de Desenvolvimento Energético - CDE, visando


o desenvolvimento energético dos Estados e a competitividade da energia
produzida a partir de fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas,
biomassa, gás natural e carvão mineral nacional, nas áreas atendidas pelos
sistemas interligados e promover a universalização do serviço de energia
elétrica em todo o território nacional, devendo seus recursos, observadas as
vinculações e limites a seguir prescritos, se destinarem às seguintes
utilizações (...).

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Por sua vez, o art. 14, caput e §5°, do mencionado diploma normativo,
com a redação conferida pela Lei n.º 10.762/03, estabeleceram metas às
concessionárias de energia elétrica para implementarem a universalização
do serviço em comento, prevendo a possibilidade de o consumidor antecipar
os custos para a realização de obras imprescindíveis à implantação do
sistema, cominando, em contrapartida, à concessionária, a obrigação de
reembolsar o valor despendido, in verbis:

Art. 14 - No estabelecimento das metas de universalização do uso da energia


elétrica, a Aneel fixará, para cada concessionária e permissionária de serviço
público de distribuição de energia elétrica:

(...)

§5º - A ANEEL também estabelecerá procedimentos para que o consumidor


localizado nas áreas referidas no inciso II do caput possa antecipar seu
atendimento, financiando ou executando, em parte ou no todo, as obras
necessárias, devendo esse valor lhe ser restituído pela concessionária ou
permissionária após a carência de prazo igual ao que seria necessário para
obter sua ligação sem ônus. (g.n.)

In casu, é de se ver que o postulante é proprietário do imóvel rural


denominado "Fazenda Colibri", localizado no Município de Estrela do Sul,
que, pelo fato de não possuir a estrutura necessária para o recebimento de
energia elétrica, foi beneficiado com o programa de universalização de tal
serviço público.

Compulsando os autos, não bastasse a obrigação preconizada pela


norma supratranscrita, constata-se que as partes celebraram o Instrumento
Particular de Acordo DO/ET/02428/2008 (f. 93/97), com a anuência e a
interveniência da empresa ELETRO EPCEL, tendo por

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objeto a realização de obra com vistas à implantação de sistema elétrico no


imóvel rural de propriedade do apelado, nos termos a seguir:

DO OBJETO

CLÁSULA PRIMEIRA: Constitui objeto do presente ACORDO o


estabelecimento de condições a serem observadas para a realização da
EXTENSÃO 1.610 KM DE RDR MONOFÁSICA, COM INSTALAÇÃO DE
UMA SUBESTAÇÃO DE 1-15 KVA, NA FAZENDA COLIBRI NA REGIÃO DE
CHAPADA DE MINAS NO MUNICÍPIO DE ESTRELA DO SUL - MG - PS
(...), de propriedade da CEMIG D para utilização pelo CONSUMIDOR.

Parágrafo Primeiro: A obra, incluindo todos os equipamentos e materiais nela


instalados, desde a construção e ou instalação referida no "caput" desta
Cláusula, é de propriedade exclusiva da CEMIG D e constitui parte integrante
de seu sistema elétrico, nos termos do art. 143, do Decreto n. 98.335, de 26
de outubro de 1989.

A participação financeira na referida empreitada foi pactuada da seguinte


forma (f. 93-v):

DA PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA

CLÁSULA SEGUNDA: O orçamento estipulado pela INTERVENIENTE -


ANUENTE, da obra objeto deste ACORDO é de R$ 27.000,00 (VINTE E
SETE MIL REAIS), abaixo discriminado:

Materiais e Equipamentos R$ 18.900,00

Materiais e Equipamentos fornecidos R$

pela CEMIG D

Mão de obraR$ 8.100,00

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Da análise do acerto contábil e financeiro de f. 37/39, extrai-se que a


CEMIG assumiu os custos dos materiais e da mão de obra que foram
empregados na obra, equivalente a R$ 23.133,05 (vinte três mil, cento trinta
três reais e cinco centavos), e que foram pagos exclusivamente pelo
particular, conforme se vislumbra das notas fiscais de f. 44/47.

Nesse contexto, diante da previsão legal expressa acerca do reembolso


do montante gasto pelo consumidor, aliado ao acordo firmado entre as
partes, a manutenção da sentença que condenou a CEMIG a restituir os
valores despendidos pelo requerente é medida que se impõe.

Por certo, considerando a previsão contratual no sentido de que os


materiais e equipamentos utilizados na obra seriam incorporados "aos bens e
instalações da CEMIG D" (f. 93), o inadimplemento contratual por parte da
concessionária viola o princípio da boa-fé, consagrado no art. 422, do Código
Civil.

Com efeito, além da comprovada antecipação dos valores por parte do


autor para fins de construir o mencionado sistema elétrico, o qual se
incorporou ao patrimônio exclusivo da CEMIG, a não restituição do montante
despedido implicaria em evidente enriquecimento ilícito da concessionária, o
que é vedado pelo ordenamento jurídico pátrio.

A respeito da matéria, este eg. TJMG já se manifestou:

APELAÇÃO CÍVEL - OBRA DE EXTENSÃO DE REDE DE ENERGIA


ELÉTRICA - FINANCIAMENTO POR PARTICULAR - OBRA QUE É
INCORPORADA AO PATRIMÔNIO DA CONCESSIONÁRIA - NEGATIVA DE
RESTITUIÇÃO PREVISTA EM CONTRATO E NO ART. 11 DA
RESOLUÇÃO 233/03 DA ANEEL - OFENSA AO PRINCÍPIO DA BOA FÉ -
VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA -RESTITUIÇÃO DOS
VALORES ADIANTADOS PELO PARTICULAR - NECESSIDADE. Celebrado
contrato cujo objeto é a realização de obras para extensão de rede de
energia

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elétrica nas proximidades das propriedades dos autores, que seriam de


responsabilidade da concessionária, mas que foram financiadas pelos
particulares com intuito de celeridade, nos termos do art. 11 da Resolução
233/203 da ANEEL, é cediço o dever de restituição contratualmente e
legalmente previsto, mormente porque a obra realizada é incorporada ao
patrimônio da concessionária, devendo, entretanto, tal restituição observar os
valores efetivamente expendidos pelos autores e não o valor global da obra.
Recurso provido em parte. (TJMG - Apelação Cível 1.0040.11.005856-3/001,
Relator(a): Des.(a) Judimar Biber , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
12/02/2015, publicação da súmula em 06/03/2015)

APELAÇÃO CÍVEL. IMPLANTAÇÃO DE REDE DE ENERGIA ELÉTRICA


PELO USUÁRIO. INCORPORAÇÃO AO PATRIMÔNIO DA
CONCESSIONÁRIA. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. DANOS MATERIAIS.
POSSIBILIDADE. Comprovada a realização de implantação de rede elétrica
pelo usuário em sua propriedade e a respectiva incorporação do patrimônio
pela concessionária ré, deve o montante reembolsado ser restituído, sob
pena de enriquecimento ilícito. O deferimento de danos materiais somente se
justifica pela comprovação cabal dos gastos, e não apenas pela alegação de
dano hipotético Recurso conhecido e não provido. (TJMG - Apelação Cível
1.0338.12.007251-1/001, Relator(a): Des.(a) Albergaria Costa , 3ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 13/03/2014, publicação da súmula em 28/03/2014)

Não há dúvidas, portanto, quanto ao dever da CEMIG de ressarcir o


demandante, na esteira do consignado pelo i. Magistrado, devendo a
sentença ser confirmada, inclusive, quanto ao termo a quo de incidência da
correção monetária (desde a data do efetivo pagamento - 20/10/2008 - f. 44),
eis que em consonância com o disposto na Súmula 43 do STJ, segundo a
qual "incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do
efetivo prejuízo".

APELAÇÃO ADESIVA

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O autor apelou adesivamente almejando (a) à condenação da ré ao


pagamento de indenização por danos morais; (b) ao reconhecimento de que
a litigância da CEMIG se revestiu de má-fé; (c) fosse declarado o seu direito
de receber, em dobro, os valores gastos com a empreitada.

Todavia, razão não lhe assiste.

A meu ver, não obstante o comprovado inadimplemento contratual, a


ausência de reembolso, a tempo e modo, por parte da concessionária, não é
apta a ensejar, por si só, a sua condenação a título de danos morais,
sobretudo porque o instrumento particular celebrado entre as partes não
estabeleceu um termo/data certa relacionada à restituição dos valores
alusivos à obra.

Como sabido, o ônus da prova do dano moral é de quem o alega (art.


333, I, do CPC/73), cumprindo, ao postulante, a incumbência de comprovar o
efetivo dano, o que não restou evidenciado nos autos.

A propósito:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESSARCIMENTO - CONCESSIONÁRIA


DE ENERGIA ELÉTRICA - PROGRAMA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL -
EXTENSÃO DE REDE - FINANCIAMENTO DA OBRA PELO CONSUMIDOR
- CUSTO TOTAL DA OBRA INFERIOR AO MONTANTE ANTECIPADO -
RESSARCIMENTO DEVIDO - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO -
PROVIMENTO PARCIAL. (TJMG - Apelação Cível 1.0134.12.014061-8/001,
Relator(a): Des.(a) Carlos Levenhagen , 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
10/07/2014, publicação da súmula em 22/07/2014)

Por outro lado, no que tange à tese de que o montante despendido deve
ser devolvido em dobro, observa-se que o art. 42, parágrafo único, da Lei n.º
8.078/90, prevê a restituição em dobro apenas em se tratando de valores
cobrados indevidamente do consumidor, hipótese diversa da versada na
demanda sub exame.

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Nessa linha, não sendo o caso de cobrança indevida, mas sim de


inadimplemento de obrigação decorrente de lei e de acordo, adequada a
determinação contida no decisum, no sentido de que os valores custeados
pelo recorrente adesivo devem ser reembolsados de forma simples.

Noutro giro, no que concerne à litigância de má-fé, o art. 17 do CPC/73


prevê:

Art. 17 - Reputa-se litigante de má-fé aquele que;

I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei, ou fato


incontroverso;

II - alterar a verdade dos fatos;

III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;

V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;

VI - provocar incidentes manifestamente infundados;

VII - impuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Do exame do processado, verifica-se que não restou comprovada a


ocorrência de nenhuma das hipóteses previstas no art. 17 do CPC, pelo que
descabida a condenação da CEMIG ao pagamento de multa por litigância de
má-fé.

Em outras palavras, ao ter constituído vários advogados durante a


tramitação do feito, e ter reprisado, em suas razões recursais, os

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mesmos fundamentos contidos na contestação, a concessionária agiu em


consonância com o seu direito de defesa, não havendo indícios de que a
CEMIG tenha atuado com o intuito de protelar o regular andamento do feito,
tampouco que tenha agido em descaso para com o Poder Judiciário.

Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência do col. STJ:

ADMINISTRATIVO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FUNDEF. VERBAS


PARA EDUCAÇÃO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 284
DA SÚMULA DO STF. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E IMPROVIDO. (...) III - A jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça é pacífica no sentido de que a condenação por litigância de má-fé
depende da comprovação da intenção da parte em postergar ou perturbar o
resultado do processo, o que não ocorre no presente caso. Precedentes:
REsp 1.381.655/SC, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 13/8/2013, DJe 6/11/2013; AgInt no AgRg no AREsp
793.589/SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em
27/10/2016, DJe 2/12/2016. IV - Agravo interno improvido. (AgInt no REsp
1629619/PB, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 16/05/2017, DJe 24/05/2017)

CONCLUSÃO

À luz do exposto, NEGO PROVIMENTO a ambos os recursos.

Cada parte deve arcar com as custas de seu apelo, observada a


gratuidade judiciária concedida ao apelante adesivo à f. 56.

É como voto.>

DES. ALBERTO VILAS BOAS - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. BITENCOURT MARCONDES - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS."

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