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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.22.160021-6/001 Númeração 0010308-


Relator: Des.(a) Edilson Olímpio Fernandes
Relator do Acordão: Des.(a) Edilson Olímpio Fernandes
Data do Julgamento: 06/09/2022
Data da Publicação: 12/09/2022

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO - PROGRAMA "LUZ PARA TODOS" - SOLICITAÇÃO DE
LIGAÇÃO DA REDE DE ENERGIA ELÉTRICA EM IMÓVEL RURAL -
EXTRAPOLAÇÃO DO PRAZO FIXADO PELA PRÓPRIA
CONCESSIONÁRIA - ATRASO INJUSTIFICADO - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - DANOS MATERIAIS NÃO CONFIGURADOS. Ausente
justificativa razoável para a demora de mais de 10 (dez) anos, desde a
primeira solicitação do autor, para a instalação de energia elétrica no imóvel
de sua propriedade, deve a concessionária ré ser compelida a finalizar as
obras de distribuição de energia para a propriedade em questão.
Considerando-se que a parte autora encontra-se privada do referido bem
essencial por conduta atribuída única e exclusivamente à ré, cabível a
reparação por danos morais. Não comprovado o nexo de causalidade entre
os danos materiais alegadamente sofridos e a conduta lesiva da
concessionária, não há que se falar na sua responsabilização.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.160021-6/001 - COMARCA DE MORADA


NOVA DE MINAS - APELANTE(S): GILVAN JOSE DOS SANTOS -
APELADO(A)(S): CEMIG DISTRIBUICAO S.A.

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO.

DES. EDILSON OLÍMPIO FERNANDES

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RELATOR

DES. EDILSON OLÍMPIO FERNANDES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso interposto contra a sentença proferida nos autos da


Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais e Materiais
ajuizada por GILVAN JOSÉ DOS SANTOS em face de CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S/A, que julgou parcialmente procedente o pedido inicial
para condenar a ré ao pagamento de danos morais no valor de R$10.000,00
(dez mil reais), que deverão ser corrigidos pela tabela da Corregedoria de
Justiça de Minas Gerais a partir do arbitramento e acrescidos de juros
moratórios no importe de 1% ao mês, a partir da citação, bem como ao
pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios
fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa
(documento n. 23, pp. 08/14).

O apelante sustenta que a ausência de energia elétrica na sua


propriedade rural é culpa exclusiva da apelada, porquanto a mesma
alimentou falsas esperanças de que atenderia aos pedidos realizados no
canal oficial de atendimento da concessionária. Alega que cabe a própria
recorrida a obtenção junto aos órgãos ambientais das autorizações
necessárias à supressão de vegetação, nada podendo fazer a empresa
Plantar a esse respeito. Salienta que a concessionária assumiu a
responsabilidade ao informar que iria solucionar a realocação da reserva
ambiental junto a Plantar, apresentando novo traçado se ambos fossem
necessários. Afirma que o Contrato Particular de Constituição de Servidão
Gratuita dispõe expressamente que é de responsabilidade da CEMIG a
obtenção junto aos órgãos

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ambientais das autorizações necessárias à supressão de vegetação e que


por parte da empresa Plantar não existe nenhuma pendência de autorização
para instituição de servidão de passagem. Ressalta que este Tribunal de
Justiça já decidiu recentemente que, por se tratar a energia elétrica de um
serviço público essencial, quando o imóvel já tiver sido enquadrado no "Plano
de Universalização" para eletrificação rural, deve a concessionária ser
responsabilizada por falha na demora da instalação. Consigna que os
prejuízos materiais devem ser suportados pela apelada, como a paralisação
da produção de leite com gado adquirido por meio de financiamento bancário
durante o período de espera da ligação de energia elétrica, bem como os
gastos com o deslocamento diário até a zona urbana do Município de
Morada Nova de Minas para refrigerar as polpas de frutas produzidas na
propriedade rural. Pugna pelo provimento do recurso (documento n. 24).

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Cuidam os autos de ação de obrigação de fazer c/c indenização ajuizada


pelo ora apelante, objetivando que seja a CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A
compelida a instalar a rede de energia elétrica na sua propriedade rural, bem
como seja a concessionária condenada ao pagamento de verba indenizatória
pela ocorrência de danos morais no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) e
materiais na quantia de R$53.024,00 (cinquenta e três mil e vinte e quatro
reais).

O autor asseverou que, em 08 de maio de 2002, requereu junto à CEMIG


o fornecimento de energia elétrica para sua propriedade rural, tendo sido
comunicado, por escrito, que a sua solicitação seria atendida até dezembro
de 2011.

Ressaltou, ainda, que "no ano de 2012 (...) realizou uma nova solicitação
(...), cujo prazo estipulado pela Concessionária ré para instalação da rede
elétrica encerrou-se em dezembro de 2014", e, por fim, após veicular
reclamação na internet, foi informado que o prazo para atendimento seria até
o dia 07 de agosto de 2016.

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Em razão da fundada expectativa, alega que preparou a propriedade e


fez investimentos financeiros para custear a produção de frutas, que,
posteriormente, seriam comercializadas em forma de polpas.

Não obstante, segundo alega, até o ajuizamento da demanda, em


setembro de 2017, a apelada não havia realizado os serviços prometidos, o
que lhe trouxe inúmeros prejuízos, de ordem material e moral, notadamente
porque o autor "vê-se obrigado a transportar as frutas para cidade
diariamente, acumulando prejuízos na sua produção, uma vez que sem
energia não possui local adequado para congelar as polpas", salientando,
ainda, "ser inviável o transporte diário devido ao alto custo de combustível e
da manutenção do veículo".

Lado outro, a CEMIG alega que nunca se negou a fornecer energia


elétrica à propriedade do apelante, tendo inclusive iniciado as obras de
instalação da rede distribuição, no entanto, "quando da execução da obra, no
início do ano de 2016, a empresa PLANTAR informou que havia averbado
algumas áreas de cerrado como reserva legal", pontuando que não possui o
Documento Autorizativo para a Intervenção Ambiental relativa ao Município
de Morada Nova de Minas, tendo parte da área a ser suprimida se tornado
reserva legal.

A concessionária salientou, por fim, que "está disposta a finalizar a obra


para instalação e fornecimento de energia elétrica à propriedade rural do pai
da parte Recorrente, dependendo tão somente de autorização da empresa
PLANTAR de passagem de rede pela faixa de servidão" (documento n. 29).

De acordo com a Comunicação de Obra Suspensa NS 1074167091,


emitida pela concessionária apelada em 20.05.2016, o prazo da obra para
viabilização do fornecimento de energia elétrica ao imóvel de propriedade do
apelante foi suspenso, nos termos do artigo 35 da Resolução Normativa
ANEEL 414/2010, uma vez que "não foi obtida a licença/autorização
ambiental junto a autoridade

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competente" (documento n. 04).

A propósito, o artigo 35 da Resolução ANEEL n. 414/2010 dispõe que:

Art. 35. Os prazos estabelecidos ou pactuados, para início e conclusão das


obras a cargo da distribuidora, devem ser suspensos, quando:

I - o interessado não apresentar as informações ou não tiver executado as


obras sob sua responsabilidade, desde que tais obras inviabilizem a
execução das obras pela distribuidora; (Redação do inciso dada pela
Resolução Normativa ANEEL Nº 670 DE 14/07/2015);

II - cumpridas todas as exigências legais, não for obtida licença, autorização


ou aprovação de autoridade competente;

III - não for obtida a servidão de passagem ou via de acesso necessária à


execução dos trabalhos; ou

IV - em casos fortuitos ou de força maior.

Parágrafo único. O interessado deve ser comunicado previamente sobre os


motivos que ensejaram a suspensão, devendo o prazo ser continuado
imediatamente após sanadas as pendências. (Redação do parágrafo dada
pela Resolução Normativa ANEEL Nº 670 DE 14/07/2015 - destaquei);

Depreende-se do dispositivo legal supracitado que os prazos


estabelecidos para conclusão de obras a cargo das distribuidoras de energia
elétrica devem ser suspensos quando não for obtida licença, autorização ou
aprovação de autoridade competente, sendo certo que,

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na hipótese, a CEMIG afirma não ter obtido a licença ambiental para


possibilitar o prosseguimento da obra pleiteada pelo recorrente.

Outrossim, a recorrida alegou, em sede de contrarrazões, que para o


atendimento da solicitação do beneficiário ora apelante, elaborou proposta à
empresa PLANTAR para a passagem de rede dentro de sua propriedade,
eliminando a necessidade de relocação da reserva ambiental e adequando-
se ao menor impacto ambiental possível, razão pela qual depende tão
somente da autorização da sociedade empresária para a passagem de rede
pela faixa de servidão, o que, consoante exposto, também demanda a
suspensão das obras a cargo da CEMIG.

Todavia, da análise dos documentos juntados, constato que a apelada


firmou Instrumento Particular de Constituição de Servidão Gratuita com a
PLANTAR S/A, no qual restou constituída "de hoje em diante e para sempre,
não só construir e passar a rede de distribuição de energia elétrica
mencionada, bem como adentrar na propriedade para fazer as devidas
manutenções, reforma, ampliação e melhoramentos nesta rede".

O referido instrumento estabelece, ainda, que a servidão gratuita


constituída é permanente e irremovível, devendo a CEMIG se responsabilizar
pela obtenção junto aos órgãos ambientais das autorizações necessárias à
supressão da vegetação, limpeza e manutenção da faixa de segurança
(documento n. 04).

Desse modo, com a devida vênia, não há que se falar em pendência de


autorização da empresa PLANTAR S/A para a finalização das obras de
distribuição de energia elétrica solicitadas pelo apelante, notadamente
porque essa já assinou instrumento particular autorizando a constituição de
servidão gratuita com o objetivo específico de construção e manutenção da
rede.

Outrossim, conforme dispõe o mencionado instrumento, é de


responsabilidade da CEMIG a obtenção das licenças ambientais necessárias
ao prosseguimento da obra, não se justificando, dessa

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forma, a demora de quase 10 (dez) anos, desde a primeira solicitação do


autor, para a instalação de energia elétrica no imóvel em questão.

Ademais, de acordo com a Resolução Normativa n. 488, de 15 de maio


de 2012, o prazo máximo para a efetivação do Plano de Universalização da
energia elétrica na área rural findou-se no ano de 2014:

Art. 4º (...)

§ 5º O ano limite de universalização na área rural em cada distribuidora será


definido pela ANEEL após a análise do plano de universalização,
considerando a vigência do Programa LUZ PARA TODOS estabelecida no
Anexo I e o prazo máximo de 2014 (destaquei).

Com efeito, a apelada é uma das grandes concessionárias de serviço de


energia elétrica do país, com consideráveis recursos para a realização do
fornecimento pretendido nos autos, e que, em sede de contrarrazões, apenas
apresentou alegações genéricas para a não instalação do citado serviço
essencial.

A respeito da condenação da ré ao pagamento de indenização pela


ocorrência de danos morais, destaco que a CEMIG, na qualidade de pessoa
jurídica de direito privado prestadora de serviço público, se sujeita à norma
prevista no artigo 37, §6º, da Constituição da República, que trata da
responsabilidade objetiva da Administração.

Registro que mesmo quando o dano decorrer de omissão do agente com


relação à prestação de um serviço público, não mais se admite a
responsabilidade subjetiva, nos termos do que decidiu o colendo SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, no julgamento do RE n. 841.526, com repercussão
geral reconhecida, no qual o mencionado Tribunal Superior firmou o
entendimento de que tanto para as condutas estatais comissivas quanto
paras as omissivas, a responsabilidade é objetiva:

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EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE DETENTO.
ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A
responsabilidade civil estatal, segundo a Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 37, § 6º, subsume-se à teoria do risco administrativo, tanto para as
condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a
teoria do risco integral. 2. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade
em relação ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder Público
ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o
resultado danoso. 3. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a
execução da pena se dê de forma humanizada, garantindo-se os direitos
fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral (artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal). 4. O dever
constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos
fundamentais, pressuposto inafastável para a configuração da
responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da
Constituição Federal. (...). 7. A responsabilidade civil estatal resta conjurada
nas hipóteses em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua
atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua
omissão com o resultado danoso. 8. Repercussão geral constitucional que
assenta a tese de que: em caso de inobservância do seu dever específico de
proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado
é responsável pela morte do detento. 9. In casu, o tribunal a quo assentou
que inocorreu a comprovação do suicídio do detento, nem outra causa capaz
de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o óbito ocorrido,
restando escorreita a decisão impositiva de responsabilidade civil estatal. 10.
Recurso extraordinário DESPROVIDO. (RE 841526, Relator: Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG 29-07-2016 PUBLIC
01-08-2016, destaquei).

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Por sua vez, inexiste o dever de indenizar no caso de culpa exclusiva da


vítima, de força maior, caso fortuito, fato de terceiro, tendo a doutrina
elencado também como rompimento do nexo causal o consentimento do
ofendido, uma vez que não se admite a teoria do Teoria do Risco Integral.

Na hipótese, é imperioso ressaltar que o Programa do Governo Federal


"Luz para Todos" foi instituído pelo Decreto n. 4.873/2003 e tem por objetivo
universalizar o acesso e o uso da energia elétrica no meio rural de modo a
contribuir para uma melhor qualidade de vida a milhares de família que vivem
e trabalham do campo, de relevante interesse social.

Referida iniciativa é coordenada pelo Ministério de Minas e Energia,


operacionalizada pela Eletrobrás e executado pelas concessionárias de
energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural em parceria com os
governos estaduais.

Todavia, consoante acima narrado, conquanto a propriedade rural do


apelante se enquadrasse nos critérios para o fornecimento de energia
elétrica, a concessionária atrasou, para mais de 06 (seis) anos do termo final
do prazo por ela próprio fixado, a realização das obras necessárias à
eletrificação no imóvel, que, ressalta-se, até o presente momento não foram
concluídas.

Como a distribuição de energia elétrica é serviço público essencial, a sua


não implantação por longo período, em desacordo o prazo estipulado pela
própria concessionária, é suficiente para configurar o dever de indenização
por danos morais, não havendo que se falar em "mero dissabor".

O valor do dano moral, por sua vez, deve atender uma dupla função:
reparar o dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor para
que não reincida.

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Inexiste um critério legal, objetivo e tarifado para a fixação do dano moral,


dependendo muito do caso concreto e da sensibilidade do Julgador.

A indenização não pode ser ínfima, de modo a servir de humilhação a


vítima, nem exorbitante, para não representar enriquecimento sem justa
causa do ofendido, devendo se levar em conta as condições econômicas das
partes, as circunstâncias em que ocorreu o fato, o grau de culpa do ofensor,
a intensidade do sofrimento da vítima e, ainda, considerar o caráter
repressivo e pedagógico da reparação.

No especial caso em julgamento, considerando os fatos comprovados, o


tempo demorado para a eletrificação - que, repisa-se, ainda não ocorreu - a
situação financeira do apelante, que litiga sob o pálio da justiça gratuita e,
ainda, o comportamento negligente da recorrida, a quantia de R$10.000,00
(dez mil reais) repara razoavelmente o abalo moral suportado, sem ocasionar
enriquecimento sem justa causa do ofendido.

No tocante aos danos materiais, o apelante sustenta que os mesmos


decorreram dos gastos com o transporte das polpas de frutas para local que
tivesse condições de refrigeração, bem como da impossibilidade de refrigerar
a sua produção de leite, sendo imperioso destacar os seguintes trechos do
recurso interposto:

Com a devida vênia das alegações recursais, as provas produzidas

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nos autos não permitem concluir pela ocorrência dos danos materiais, não
tendo sido comprovado que o autor deixou de produzir e comercializar as
polpas de fruta e o leite em decorrência da falta de energia elétrica.

Pelo contrário, de acordo com o parecer técnico emitido pela Empresa de


Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais, a receita
bruta obtida pelo recorrente, somente no ano de 2017, com a atividade
pecuária leiteira, quase supera o valor por ele pleiteado a título de danos
materiais:

Cumpre ressaltar, por seu turno, que intimado para especificar as provas
que pretendia produzir, o recorrente requereu o julgamento antecipado do
mérito, não tendo, portanto, se desincumbido do seu ônus probatório.

Nesse contexto, ausente a comprovação do nexo de causalidade entre a


suposta ocorrência dos danos materiais e a conduta lesiva por parte da
concessionária, não cabe a condenação da CEMIG na indenização
pretendida, consoante também já teve a oportunidade de decidir este egrégio
Tribunal de Justiça:

"EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS


MATERIAIS E MORAIS - PRODUTOR RURAL - CEMIG - RELAÇÃO DE
CONSUMO - APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - FALTA DE ENERGIA
ELÉTRICA - GRANJA - MORTALIDADE DE FRANGOS - DANOS
MATERIAIS PAGOS EM RELAÇÃO ÀS AVES MORTAS - AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DOS DEMAIS DANOS MATERIAIS E DOS DANOS
MORAIS - PEDIDO IMPROCEDENTE - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MAJORAÇÃO. (...) - Ausente a

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comprovação da ocorrência tanto dos danos materiais - além daqueles pagos


em razão da mortalidade de frangos no empreendimento do autor - quanto
dos danos morais, embora comprovada a conduta lesiva por parte da
concessionária, impossível a condenação desta. - O Tribunal, ao julgar
recurso, deve proceder à majoração da verba honorária de sucumbência, de
forma a remunerar o trabalho adicional realizado em grau recursal." (TJMG -
Apelação Cível 1.0335.18.001865-7/001, Relator(a): Des.(a) Maurício
Soares , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 12/12/2019, publicação da
súmula em 22/01/2020 - destaquei).

"EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - CEMIG -


CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS - DANO MATERIAL E
MORA - DEMORA NA LIGAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA - PROPRIEDADE
LOCALIZADA NA ZONA RURAL - DANOS NÃO COMPROVADOS - FALTA
DE NEXO DE CAUSALIDADE - AFASTAMENTO DA
RESPOSNSABILIDADE. Para que se possa suscitar responsabilidade civil
em quaisquer de suas modalidades, inclusive a objetiva, necessário que
entre a ação, ou inação e o resultado danoso atribuído à concessionária de
serviços públicos, haja demonstração do nexo de causalidade. No caso não
restou demonstrado o efetivo prejuízo, tampouco o nexo de causalidade
entre a conduta da requerida, demora na ligação da energia elétrica, e o
dano alegado. Recurso provido." (TJMG - Apelação Cível 1.0433.15.027421
-8/001, Relator(a): Des.(a) Judimar Biber , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 10/05/2018, publicação da súmula em 22/05/2018 - destaquei).

Em síntese, forçoso concluir que, ausente justificativa razoável para a


demora de mais de 10 (dez) anos, desde a primeira solicitação do autor, para
a instalação de energia elétrica no imóvel de sua propriedade, é imperiosa a
reforma da sentença nesse ponto, somente para compelir a concessionária
ré a finalizar as obras de distribuição de energia para a propriedade em
questão.

Pelo exposto, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO para,

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reformando parcialmente a sentença impugnada, determinar que a apelada


finalize as obras para a instalação de energia elétrica na propriedade do
apelante.

Custas recursais, 80% (oitenta por cento) pela apelada e 20% (vinte por
cento) pelo apelante, observadas as disposições do artigo 98, §3º, do CPC.

DES. JÚLIO CEZAR GUTTIERREZ - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. SANDRA FONSECA

A controvérsia a ser analisada nos autos diz respeito à possibilidade de


se compelir a CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A a instalar a rede de energia
elétrica na sua propriedade rural do recorrente, bem como ao pagamento de
danos morais no valor de R$10.000,00 (dez mil reais) e materiais na quantia
de R$53.024,00 (cinquenta e três mil e vinte e quatro reais).

Com efeito, como bem destacado, é de responsabilidade da CEMIG


promover o licenciamento ambiental da obra, não sendo tal fato, por si só,
causa apta a justificar o atraso de quase 10 (dez) anos, desde a primeira
solicitação do autor, para a instalação de energia elétrica no imóvel em
questão.

Dessa forma, incumbia à concessionária demonstrar a existência de fato


impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor e, por conseguinte,
comprovar que não foram atendidas as providências necessárias à ligação
de energia elétrica na unidade consumidora.

Demais disso, deve-se ter em mente que o serviço de fornecimento de


energia elétrica é essencial, e que sua ausência acarreta limitações ao uso
do imóvel, sendo devido o ressarcimento em razão do atraso injustificado
pela concessionária.

A propósito, o entendimento deste Eg. TJMG:

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EMENTA: APELAÇÃO - RECURSO ADESIVO - PETIÇÃO DE


CONTRARRAZÕES - IRREGULARIDADE - NÃO CONHECIMENTO - AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO - CEMIG - RELAÇÃO DE CONSUMO -
APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - INSTALAÇÃO DE TRANSFORMADOR -
SOLICITAÇÃO DEFERIDA - PRAZO PARA A CONCLUSÃO DA OBRA -
INOBSERVÂNCIA - ATO IÍCITO CARACTERIZADO - LUCROS
CESSANTES - COMPROVAÇÃO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -
MAJORAÇÃO.

- O recurso adesivo deve ser interposto por peça autônoma, com a


observância dos mesmos requisitos impostos ao recurso de apelação, sendo
irregular a sua apresentação na petição de contrarrazões.

- Nos termos do art. 14, do CDC, a concessionária de serviço público


responde objetivamente pelos danos causados aos consumidores, ou seja,
independentemente de culpa, bastando a comprovação nos autos do efetivo
prejuízo e do nexo de causalidade entre este e a conduta da Cemig.

- O fato de ser o autor pessoa jurídica não afasta a aplicação do Código de


Defesa do Consumidor, tendo em vista que é a empresa destinatária final do
serviço de energia elétrica, inserindo-se no conceito de consumidor, nos
termos do art. 2º do código consumerista.

- Comprovados os lucros cessantes, pela impossibilidade da empresa de


desenvolver toda a sua capacidade produtiva e, assim, auferir lucros
maiores, mesmo tendo adquirido maquinário de alto valor para tanto, em
razão do injustificado atraso na obra solicitada e deferida pela Cemig, que
assumiu todos os ônus dela decorrentes na comunicação enviada ao
consumidor, o ressarcimento dos prejuízos suportados é medida que se
impõe.

- O Tribunal, ao julgar recurso, deve proceder à majoração da verba


honorária de sucumbência, de forma a remunerar o trabalho adicional
realizado em grau recursal. (TJMG - Apelação Cível 1.0713.17.002671-
8/001, Relator(a): Des.(a) Maurício Soares , 3ª

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CÂMARA CÍVEL, julgamento em 23/04/2020, publicação da súmula em


23/06/2020)

De outro lado, em relação aos danos materiais, como se observa não há


comprovação de que em razão do atraso no fornecimento de energia elétrica
tenha o autor, ora recorrente, deixado de exercer suas atividades de
produção e comercialização de polpa de fruta e leite, notadamente a se
considerar que o parecer técnico colacionado aos autos, indica a percepção
de receita bruta em valor superior aos danos materiais requeridos:

Assim, com estes modestos adminículos, acompanho o il. Relator.

É como voto.

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO."

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